1 HABITAR-se uma proposta projetual para a habitação de interesse social multifamiliar flexível em vitória-es sabrini r. margoto universidade federal do espírito santo departamento de arquitetura e urbanismo curso de arquitetura e urbanismo
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3 HABITAR-se uma proposta projetual para a habitação de interesse social multifamiliar flexível em vitória-es Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquite tura e Urbanismo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Ar quitetura e orientadora:Urbanismo.Prof.ªDr.ªLiziane de Oliveira Jorge. vitória, 2022
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COMISSÃO5
EXAMINADORA Prof.ª Dr.ª Liziane de Oliveira Jorge Universidade Federal do Espírito Santo
MEMBRO INTERNO Bruno Bowen Vilas Novas Arquiteto e Urbanista Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Espírito Santo
Prof.ºORIENTADORADr.ºJarryerAndrade de Martino Universidade Federal do Espírito Santo
MEMBRO EXTERNO HABITAR-se uma proposta projetual para a habitação de interesse social multifamiliar flexível em vitória-es
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Ao meu gatinho, Tony, por ter me acompanhado em diversas madrugadas dor mindo em cima da mesa (e do meu mouse) esperando para que eu fosse à cama Àdormir.minha orientadora, Liziane, pelo incentivo, por ter compartilhado tantos co nhecimentos e por semear o pensamento crítico e a sabedoria em se pensar melhor no mundo. Aos demais mestres, por ensinarem a arte da arquitetura e por compartilharem experiências enriquecedoras.
Aos amigos e colegas da UFES, pelo ombro amigo em momentos desesperados, pelas risadas soltas e pelas companhias em dias difíceis. Em especial, ao meu grupo de sempre, Gabrielly e Lyvia, pelos desabafos e parceria em madrugadas sofridas. Aos meus amigos da vida, muitas vezes distantes, por compreenderem a ausência e pelo encorajamento infindável.
imensurável e por todo amor disposto para a rea lização de um sonho. Especialmente, à minha mãe, por achar a arquitetura mais linda que eu e ter me transmitido este amor.
ÀAGRADECIMENTOSminhafamília,peloapoio
Ao meu namorado, Hugo, por ter me dado forças, carinho e ter sido tão compa nheiro e paciente na finalização deste trabalho.
À universidade pública, por ter me proporcionado experiências únicas e ines quecíveis, instigando o expandir cotidiano do conhecimento.
A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
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Eduardo Galeano “
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PALAVRAS-CHAVE: habitação de interesse social - qualidade arquitetônica ha bitacional - flexibilidade - contemporaneidade - Vitória-ES.
ARESUMOhabitação
de interesse social é um tema relevante no contexto das cidades e está ligada à luta de oportunizar moradia digna às pessoas que possuem bai xa renda. Hoje, o contexto em torno da política habitacional brasileira não é dos mais favoráveis, uma vez que a produção habitacional é, em grande parte, desprovida de aspectos qualitativos arquitetônicos e de inserção urbana. Além disso, o padrão construtivo das moradias e dos conjuntos habitacionais não fa vorecem as transformações socioculturais da contemporaneidade. Sendo assim, o objetivo do trabalho é apresentar, como resultado, um ensaio projetual que envolve conceitos e diretrizes de qualidade arquitetônica habitacional, flexibili dade e contemporaneidade, que vai de encontro a grande parte da produção de moradia social realizada no país. Para isso ser possível, fez-se uma pesquisa bi bliográfica, com finalidade de selecionar autores e obras referências principais, e um desenvolvimento projetual a partir das questões levantadas. Como resulta do, tem-se a materialização dos estudos desenvolvidos por meio da intervenção projetual no bairro de Goiabeiras, em Vitória-ES.
FIGURA 05 - Porção do Conjunto Residencial Operário de Realengo. Vista em primeiro plano da praça-jardim e ao fundo do bloco laminar de habitação coletiva mostrando os volumes das varandas de acesso às unidades habitacionais
FIGURA 08 - Propaganda difundida pelo governo federal com anúncio do BNH, responsável pelo financiamento da casa própria no período da ditadura militar
FIGURA 10 - Trecho do jornal A Gazeta (Vitória, ES 08/05/1983, p.10, cad.1, c.1-6) que retrata as más condições em que eram entregues os empreendimentos financiados pela COHAB-ES na RMGV. Vê-se ruas danificadas e unidades com péssimo acabamento
FIGURA 18 - Implantação dos conjuntos habitacionais José Maria Amaral e Florestan Fer nandes. São oito prédios, cada um possui acesso por dois patamares diferentes, devido aos desníveis topográficos existentes. Destaque para a área comum (centro comunitário) à frente do empreendimento, próximo à via, mostrando o potencial do uso do espaço para as famílias moradoras como também para os moradores do bairro
FIGURA 14 - Empreendimento Residencial Espanha realizado pelo Programa Minha Casa Minha Vida, localizado na Zona Sul de São Paulo, bairro Jardim Apurá. Vê-se a massiva pa dronização dos conjuntos habitacionais e, sobretudo, a repetição das plantas em “H”, herança do período do BNH
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 12 - Planta baixa padrão da unidade habitacional com dois dormitórios utilizada pela COHAB MINAS a partir do ano de 2016
FIGURA 15 - Área dos Portais, Osasco. Implantação dos conjuntos habitacionais em meio à cidade existente. Destaque para a diversidade das tipologias
FIGURA 20 - Síntese dos fatores de qualidade que definem a qualidade residencial
FIGURA 02 - Vista aérea da implantação do Pedregulho, inserido na topografia e paisagem existente. É possível perceber a monumentalidade do edifício e a presença dos equipamentos inseridos em conjunto com o bloco habitacional
FIGURA 07 - Nicho estudado para dois leitos a partir da escala do homem moderno
FIGURA 06 - Conjunto Residencial Operário de Realengo formado por edifícios de três e quatro pavimentos. Marcação dos volumes das varandas compostas por cobogós. O conjunto representa a ideia de modernidade e os princípios da racionalidade da Arquitetura Moderna
FIGURA 04 - Plantas das unidades habitacionais do Pedregulho, tipologias duplex e simples
FIGURA 13 - Casas unifamiliares construídas pelo Programa Minha Casa Minha Vida no bairro Vida Nova Manacá II, região centro-oeste de São Paulo. Nota-se exacerbada padroni zação das residências, ausência de qualidade urbanística, inexistência de áreas verdes, extre ma pavimentação, isolamento do centro urbano, dentre outras características que refletem os entraves da política habitacional
FIGURA 19 - Tipologias das unidades habitacionais com 58 metros quadrados. Acima, planta baixa com dois dormitórios; abaixo, possibilidade da planta baixa com três dormitórios
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FIGURA 09 - Conjunto Habitacional Eurico Sales, Serra-ES. Nota-se o padrão repetitivo de casas unifamiliares implantadas em um cenário monótono com paisagem estática
FIGURA 16 - Vista dos conjuntos habitacionais com destaque para o pátio interno entre os edifícios e a diferença entre as alturas e os gabaritos: dois, quatro e cinco pavimentos
FIGURA 17 - Empreendimentos habitacionais José Maria Amaral e Florestan Fernandes em processo de construção. Os prédios variam de oito a quinze pavimentos
FIGURA 11 - Planta baixa de um empreendimento habitacional de baixa renda da década de 1930 com padrão formato em “H”
FIGURA 01 - Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho). Vista do acesso por uma rua suspensa pelo terceiro andar, proposta que é contida nos princípios de Le Cor busier. É possível perceber o pavimento pilotis, a fachada com elementos vazados e a forma serpenteante do volume do conjunto de habitações
FIGURA 03 - Corte do bloco habitacional do Pedregulho
FIGURA 21 - Relação hierárquica entre níveis físicos que dizem respeito aos parâmetros da qualidade arquitetônica habitacional de acordo com Pedro (2000)
FIGURA 23 - Unité d’habitation de Marseille (1945-1952), França FIGURA 24 - Plantas baixas Unité d’habitation de Marseille
FIGURA 39 - Planta baixa do Studio com 10 metros quadrados, empreendimento lançado pela construtora Vitacon em São Paulo
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FIGURA 26 - Ambiente do dormitório com divisória em porta de correr
FIGURA 42 - Planta baixa pavimento térreo da habitação Quinta Monroy com previsões de espaços para futuras ampliações FIGURA 43 - Comparação a fase de entrega do projeto e a fase pós-ocupação com emprego da estratégia de ampliabilidade
31 - Categorias básicas de flexibilidade arquitetônica: flexibilidade inicial e flexibi lidade FIGURAcontínua32-Vista da implantação do Residencial Parque Novo Santo Amaro V, São Paulo-SP
FIGURA 22 - Sistema construtivo Maison Dom-ino, composto por lajes horizontais, pilares recuados das fachadas e planta livre de elementos estruturais, adequado para produção em massa. Esta disposição permite que as vedações sejam dispostas independentemente e de maneira flexível
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 38 - Opções de layouts adaptáveis no Conjunto Habitacional Yaití correlacionados com arranjos familiares diversos
FIGURA 27 - Edifício Weissenhof FIGURA 28 - Uma das configurações de planta com presença dos núcleos molhados fixos e divisórias internas flexíveis, com existência da planta livre de elementos estruturais
FIGURA 40 - Imagem 3D do apartamento multifuncional, ambiente com agregação de fun ções: cozinha e área de serviço FIGURA 41 - Imagem 3D do apartamento multifuncional, cômodo com mobiliário polifuncio nal e sobreposição de funções
FIGURA 29 - Diferentes tipologias de plantas baixas no Edifício Weissenhof, marcadas no vamente pelo estabelecimento do espaço da cozinha e do banheiro, contendo mudanças nas subdivisões dos demais ambientes
FIGURA 33 - Planta baixa do bloco 03 Residencial Parque Novo Santo Amaro V - unidades habitacionais de um pavimento FIGURA 34 - Planta baixa do bloco 03 Residencial Parque Novo Santo Amaro V - unidades habitacionais duplex (primeiro piso) FIGURA 35 - Planta baixa do bloco 03 Residencial Parque Novo Santo Amaro V - unidades habitacionais duplex (segundo piso)
FIGURA 25 - Estrutura interna da unidade habitacional composta por painéis leves e ele mentos pré-fabricados. Ambiente da cozinha caracterizado por ser “aberto” e integrado ao espaço social da sala
FIGURA 37 - Planta baixa unidade habitacional do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado: nota-se o núcleo a concentração das áreas molhadas separadamente das áreas secas
FIGURA 30 - Schröder House e sua planta livre modificável. (1) opção fechada; (2) opção FIGURAaberta
FIGURA 36 - Vista dos blocos do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado
11 LISTA DE FIGURAS
FIGURA 49 - Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado (CECAP)
FIGURA 48 - Projeto decorado da habitação social Vista da Reserva, Serra-ES. A cozinha e a sala são integrados por um balcão em marcenaria
FIGURA 55 - Foto do ambiente interno de uma unidade habitacional no CECAP: sala e cozinha
FIGURA 61 - Corte do projeto Residencial Parque Novo Santo Amaro V
FIGURA 64 - Conexão do pátio interno com o espaço interior do conjunto habitacional pre miado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021
FIGURA 46 - Modelos de plantas baixas projetadas para famílias nucleares em habitações so ciais na RMGV. Evidencia-se a hierarquização dos ambientes: à esquerda, presença do quarto de serviço como espaço secundário e de menor área útil; à direita, presença do quarto suíte, de área útil maior
FIGURA 62 - Planta esquemática da distribuição dos conjuntos habitacionais no Residencial Parque Novo Santo Amaro V
FIGURA 45 - Arranjos familiares contemporâneos plurais e seus ciclos de vida, conforme dados censitários brasileiros
FIGURA 52 - Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado (CECAP): Janelas horizontais lineares que percorrem toda a extensão da fachada
FIGURA 53 - Esquemas das plantas baixas projetadas no CECAP: unidade habitacional padrão, com divisão dos ambientes
FIGURA 56 - Foto do ambiente interno de uma unidade habitacional no CECAP: dormitório FIGURA 57 - Foto da área degradada antes da implantação do projeto Residencial Parque Novo Santo Amaro V: córrego com depósito de lixos e de esgoto sem tratamento FIGURA 58 - Foto da área degradada antes da implantação do projeto Residencial Parque Novo Santo Amaro V: moradias precárias construídas irregularmente próximas às áreas in FIGURAsalubres
FIGURA 47 - Espaço para home office compartilhado com suíte, idealizado para possibilitar rotina de trabalho confortável de casa
59 - Residencial Parque Novo Santo Amaro V: desníveis topográficos do terreno e FIGURAtipologias60
FIGURA 65 - Planta baixa do projeto - pavimento térreo
FIGURA 63 - Imagem do projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021. Relação com o espaço público externo
- Implantação da passarela metálica para melhor acessibilidade no projeto Resi dencial Parque Novo Santo Amaro V
FIGURA 66 - Corte esquemático que mostra os artifícios utilizados na proteção contra a in solação e como estratégia de sombreamento, além de outros elementos
FIGURA 67 - Esquema do sistema sustentável adotado no projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021
FIGURA 44 - Apartamento de 50 metros quadrados do tipo beach village que pode ser divi dido em dois apartamentos menores: um com sala e quarto de 33 metros quadrados, e outro sem sala de 17 metros quadrados
FIGURA 51 - Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado (CECAP): Blocos de apartamen tos interligados pelo núcleo de circulação vertical
FIGURA 50 - Implantação de todas construções no terreno de acordo com o projeto de 1967
FIGURA 54 - Modulação do bloco de apartamentos e sua simetria
FIGURA 90 - Terrenos sem uso na Zona do Parque Tecnológico
FIGURAelementos86
FIGURA 68 - Área destinada à horta comunitária no projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021
FIGURA 79 - Ofício das paneleiras em Goiabeiras, Vitória-ES
FIGURA 71 - Esquema da laje de cobertura e suas camadas empregada no projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021
FIGURA 74 - Residencial Santo André: sistema construtivo em alvenaria estrutural, fase de FIGURAobra
FIGURA 84 - Mapa com indicação do terreno escolhido para intervenção projetual FIGURA 85 - Mapa com indicação do terreno escolhido para intervenção projetual e outros
FIGURA 95 - Gráfico para flambagem FIGURA 96 - Gráfico para cargas
FIGURA 94- Esquema estrutural laje steel deck
FIGURA 72 - Residencial Santo André, Ilha das Caieiras, Vitória-ES
FIGURA 91 - Croquis de desenvolvimento da forma do projeto
FIGURA 78 - Manguezal urbano de Vitória-ES
FIGURA 76 - Residencial Resistência: planta do bloco habitacional
FIGURA 80 - Mapa do zoneamento urbano de acordo com o PDU 2018, recorte de Goiabeiras,
FIGURA 83 - Fotos que retratam os assentamentos habitacionais precário e/ou irregulares, sendo alguns deles categorizados como aglomerações subnormais, em Maria Ortiz, Vitória-ES
FIGURA 87 - Rua Ouro Preto, sem urbanização adequada e atualmente sem conexão com a outra FIGURAvia88
FIGURA 77 - Mapa de localização de Vitória-ES com a demarcação do bairro Goiabeiras
FIGURA 82 - Fotos que mostram a condição precária das vias urbanas nas adjacências do terreno, ausência de calçadas acessíveis, ínfima arborização e porção da orla do mangue sem tratamento adequado, em Maria Ortiz, Vitória-ES
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FIGURA 73 - Residencial Santo André: planta unidades-tipo com dois dormitórios
FIGURAVitória-ES81 - Mapa de aglomerados subnormais sobrepostos à ZOL e à ZEIS
- Campo de futebol à frente do terreno, muito utilizado pelos moradores
FIGURA 89 - Acesso secundário, atualmente bloqueado - Rua Osmerina Ribeiro Gomes
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 92 - Definição modular: variações a partir do 1M
- Acesso principal ao terreno: Rua Ouro Preto
FIGURA 70 - Medidas do sistema de modulação aplicado no projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021
FIGURA 93 - Definição modular dos blocos habitacionais
75 - Residencial Resistência, Vitória-ES
FIGURA 69 - Plantas baixas modulares do projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021: um, dois e três quartos, respectivamente
FIGURA 97 - Composição da vedação vertical interna do projeto em drywall
LISTA DE FIGURAS
101 - Composição da vedação horizontal: impermeabilizada
FIGURA 102 - Composição da vedação horizontal: telhado verde FIGURA 103 - Esquema de modulação dos painéis das fachadas principais compostas por placas FIGURAcimentícias104-Esquema de aberturas para as fachadas principais
FIGURA 100 - Composição da vedação horizontal: cobertura com telha metálica tipo san
FIGURA 98 - Composição da vedação vertical externa do projeto em placa cimentícia
FIGURA 105 - Índices de controle urbanístico: ZEIS 02
FIGURA 99 - Composição da vedação horizontal: piso comum
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FIGURAduíche
IAPs - Instituto de Aposentadoria e Pensões IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
GIZ - Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit HIS - Habitação de Interesse Social IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil IAPI - Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários
IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
PMCMV - Programa Minha Casa Minha Vida PMCMV-E - Programa Minha Casa Minha Vida - Entidades
LISTA DE SIGLAS
ABC - Agentes Públicos da Habitação APPs - Áreas de Preservação Permanente
PMV - Prefeitura Municipal de Vitória
ZAR - Zona Arterial ZEIS - Zona de Interesse Especial ZOE - Zona de Ocupação Específica ZOL - Zonas de Ocupação Limitada
FGTS - Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FJP - Fundação João Pinheiro
SFH - Sistema Financeiro de Habitação UH - Unidade habitacional UFES - Universidade Federal do Espírito Santo
BNH - Banco Nacional de Habitação COHAB - Companhia de Habitação Popular DINC - Duplo Ingresso, Nenhuma Criança
ZOR - Zona de Ocupação Restrita ZPA - Zona de Proteção Ambiental ZPT - Zona do Parque Tecnológico
PIB - Produto Interno Bruto
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EHIS - Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social
PCVA - Programa Casa Verde e Amarela PDU - Plano Diretor Urbano
RMGV - Região Metropolitana de Vitória
PMH - Política Municipal de Habitação
IPHAN - Patrimônio Imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
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16 introdução1 2 habitação socialbrasil:no 3 flexibilidade como princípio de projeto: 4 os formatoscontemporâneosfamiliares 1.1 HABITAÇÃO SOCIAL E IMPASSESSEUS 1.2 JUSTIFICATIVA E 1.3.11.3RELEVÂNCIAOBJETIVOSObjetivogeral 1.3.2 Objetivos específicos 1.4 METODOLOGIA 1.5 RESULTADOS ESPERADOS 2.1 HABITAR OU HABITAT? 2.2 A HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL COMO UMA POLÍTICABRASILNO 2.2.1 A política higienista e a década de 1930: construção dos IAPs 2.2.2 A produção do BNH noditatorialperíodo 2.2.3 Pós-BNH e o PMCMV 2.3 OS REFLEXOS DA PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA DE SOCIALHABITAÇÃONOPAÍS 2.4 ELEMENTOS DE QUALIDADE ARQUITETÔNICA HABITACIONAL E SEUS IMPASSES NA MORADIASOCIAL o cenário da qualidade arquitetônicahabitacional relevância e estratégias na arquiteturaresidencial 3.1 RELEVÂNCIA E RETROSPECTO HIS TÓRICO DA FLEXIBILIDADE NA AR QUITETURA RESIDENCIAL 3.2 TIPOS DE FLEXIBILIDADE ESPACIAL 3.2.1 Diversidade tipológica 3.2.2 Flexibilidade propriamente dita 3.2.3 Adaptabilidade 3.2.4 Ampliabilidade 3.2.5 Junção e desmembramento 3.2.6 Considerações gerais 3.3 A FLEXIBILIDADE COMO PRINCÍPIO QUALITATIVO DE PROJETO NA HABI TAÇÃO SOCIAL RESIDENCIALFAMILIARMULTI 4.1 AS MUDANÇAS SOCIAIS E OS PERFIS FAMILIARES CONTEMPORÂNEOS 4.2 REFLEXOS DA CONTEMPORANEIDADE NA ARQUITETURA RESIDENCIAL SUMÁRIO P. 18 P. 22 P. 34 P. 44
17 5 estudos de casos diagnóstico:6 7 o projeto 1089consideraçõesreferênciasfinaisapêndicea cidade e o terreno 5.1 CONJUNTO HABITACIONAL ZEZINHO MAGALHÃES(CECAP)PRADO 5.2 RESIDENCIAL PARQUE NOVO SANTO AMARO V 5.3 CONCURSO PÚBLICO NACIO NAL DE IDEIAS E ARQUITETURA EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA HABITAÇÃO DE INTERESSE SO CIAL 2021 - SEGUNDO LUGAR 5.4 RELEVÂNCIA DAS LEITURAS PROJETUAIS PARA O TRABALHO 6.1 O CENÁRIO CONTEMPORÂNEO DOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO SOCIAL EM VITÓRIA-ES 6.2 O CENÁRIO DA ANÁLISEINTERVENÇÃO:DOBAIRRO 6.3 O TERRENO E O SEU ENTORNO 7.1 DIRETRIZES PROJETUAIS 7.2 CONCEPÇÃO FORMAL E PROGRA MA ARQUITETÔNICO 7.3 SISTEMAS CONSTRUTIVOS7.3.1Modulação 7.3.2 Sistema estrutural 7.3.3 Vedações horizontais e verticais 7.3.4 Painéis de fachadas 7.3.5 Materiais e composição paisagística 7.4 ESTUDO 7.4.1PRELIMINARLegislação 7.3.2 Unidades habitacionais 7.3.3 Cômodos autônomos P. 48 P. 58 P. 66 P. 88 P. 90 P. 97
1INTRODUÇÃO18
A boa arquitetura, segundo definições de Pedro (2000), é aquela que propicia bons parâ metros de qualidade, ligados a três escalas diferentes: a habitação, o edifício e a vizinhança. Con forme estudos feitos por Pedro (2000, p. 99), há o desenvolvimento de um método que define o de sempenho da habitação por meio do chamado “grupo de qualidades” que leva em conta aspectos como: conforto ambiental, segurança, adequação espaço-funcional, articulação e personaliza ção. Quando, em grande parte dos casos, os projetos de habitações de interesse social não aten dem satisfatoriamente aos critérios citados, pode-se dizer que há a possibilidade de comprometer a qualidade de vida e o desenvolvimento humano dos usuários destes espaços. Em linhas gerais, tudo isso é acentuado pela conduta do mercado imobiliário e, em parte, dos agentes públicos responsáveis, tendo em vista a alta padronização de projetos seguindo critérios mínimos, seja na questão estética, tipológica ou de implantação, desconsiderando especificidades desde a escala da inserção urbana até no que tange às unidades habitacionais (FERREIRA, 2012).
A habitação de interesse social é um tema recorrente ao enfrentamento da crise de mora dias em cidades adensadas e está ligado à necessidade de propiciar o acesso à moradia digna aos indivíduos que possuem baixa renda. Entretanto, o contexto em torno da política pública ha bitacional, atualmente representada pelo Programa Casa Verde e Amarela (PCVA) que substituiu o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), não é dos mais favoráveis. O baixo padrão de qua lidade dos projetos de habitação de interesse social multifamiliar, na faixa de até 10 salários míni mos, é um problema crônico, uma vez que “valores urbanísticos e construtivos, intrínsecos à boa arquitetura, parecem ter sido abandonados, embora a promoção do que se denomina ‘moradia digna’ – para a qual a arquitetura tem papel central – é orientação programática da política urba na federal desde 2003”, conforme comenta Ferreira (2012, p. 30).
19 1.1 HABITAÇÃO SOCIAL E SEUS IMPASSES
Sob outra perspectiva, a contemporaneidade mostrou que há uma multiplicidade de for matos familiares, advindos de um processo de transformação social ocorrido a partir da segunda metade do século XX. Levando em conta fatores e alterações determinantes, como o novo papel social da mulher, o envelhecimento da população, a queda da fecundidade e a redução do tama nho da família (VILLA, 2012), surgem demandas de flexibilização dentro da moradia, seja na ocupa ção inicial dos espaços ou durante a sua utilização (BRANDÃO, 2006). Ademais, segundo Brandão (2006, p. 16), é importante dizer que “a organização do espaço e o projeto devem ser compatíveis com diferentes padrões de vida no decorrer do tempo, ou seja, com multiplicidade de usos” sendo necessário conjecturar possíveis transformações e inseri-las no processo de concepção projetual. Ainda mais, complementa-se que estes usos “estão relacionados com os estilos de vida dos mo radores e, com os seus valores, níveis culturais e singularidades, e portanto, não são universais” (ABREU; HEITOR, 2007, online), além de acompanharem a dinamicidade da vida. No contexto da arquitetura residencial multifamiliar, é importante citar que existem estraté gias de flexibilidade que podem ser aplicadas com o objetivo de dar uma resposta às necessidades dos usuários, de acordo com Jorge (2012), as quais são: a ampliação, a refuncionalização, a flexibi lidade organizacional, o cômodo autônomo, a adaptabilidade, a associação, a modulação e a fa chada flexível. Contudo, sendo os conjuntos habitacionais multifamiliares impostos em uma lógica de construção rápida e massiva, a arquitetura desses espaços sofre com a tendência repetitiva desprovida de qualidade técnica, a rigidez e a falta de atenção às condições da habitabilidade, sem dispor do cuidado com demandas de transformações espaciais pós-ocupação que surgem no decorrer do tempo. Além disso1 , vários estudos confirmam a necessidade de se enfrentar o problema habitacio nal também quanto à abordagem quantitativa, para que se abram novos caminhos no sentido de solucionar a questão. O Brasil sofre com o déficit habitacional e dados de 2019 (FJP, 2021) mostram que o déficit corresponde a, em média, 5,9 milhões de domicílios em todo o país. O Espírito Santo tem um déficit habitacional de 80.456 domicílios (1,4% do Brasil), sendo 43.131 destes situados na Região Metropolitana de Vitória (RMGV), segundo dados da Fundação João Pinheiro referentes ao ano de 2019 (FJP, 2021). De acordo com números publicados pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN, 2019), baseados apenas nas famílias inscritas no CadÚnico em 2019, o município de Vitória possuía um déficit urbano de 6.874 domicílios. No ranking total do estado, Vitória ocupa o 3º lugar, perdendo apenas para Serra e Vila Velha. Esses dados são inquietantes, já que ao mesmo tempo Vitória possui excelentes indicado res relativos à qualidade de vida. O destaque vai para o Índice de Desenvolvimento Humano Mu nicipal (IDHM), que leva em conta os aspectos de renda, de educação e de saúde, correspondente a 0,845 (IBGE, 2010) e leva Vitória a ocupar o lugar de segunda capital e de quarta cidade do país com melhor indicador. Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) percapita tem sua relevância, pois a cidade possui o terceiro maior indicador do estado, sendo R$73.632,55 (IBGE, 2018), e é a segunda capital do país com o maior índice. Por último, também é importante destacar o Índice de Bem-Es tar Urbano (IBEU), no qual Vitória encontra-se no primeiro lugar dentre todas as capitais do Brasil com o maior indicador, sendo de 0,900 (RIBEIRO; RIBEIRO, 2016). Todavia, o entrave na área habita cional é decorrente do processo de ocupação urbana da cidade que “impactou significativamente na ocupação do seu território e na questão social da moradia. Áreas periféricas foram ocupadas de forma desordenada, [...] excluindo parte da população do acesso à terra regularizada, infraes trutura e moradia digna” (MUNIZ et al 2019, p. 7).
1 Alguns dos autores tratados são: MARICATO (1997); FERREIRA (2012); DUARTE (2016); MUNIZ e MENDONÇA (2019).
20 1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA
Destarte, a qualidade da habitação de interesse social também apresenta grande relevân cia nesse cenário. Compreende-se que há um comprometimento da qualidade nestas moradias, tanto na faixa de 0 a 3 como na faixa de 3 a 10 salários mínimos, em virtude da conjuntura que opera para produzir habitações de interesse social que geralmente não atendem integralmente os critérios de qualidade já citados. O antecedente Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) passou a definir especificações mínimas de qualidade para o projeto habitacional, como inserção urbana, tamanho de quadras, dimensões de vias, infraestrutura, espaços livres, arborização, etc (LOGSDON, 2019). No que tange à unidade habitacional, tema de maior enfoque neste estudo, As especificações [do PMCMV] estabelecem que o projeto deve ter área útil mínima de 36m² (se for casa) ou 41m² (se for apartamen to), compreendendo os seguintes ambientes: sala, 1 dormitório para casal, 1 dormitório para duas pessoas, cozinha, banheiro e área de serviço. Estabelecem também algumas dimensões mínimas (pé di reito e largura de ambientes), bem como o mobiliário passível de ser instalado em cada cômodo (LOGSDON, 2019, p. 93).
No entanto, dentre outras determinações mais específicas, é possível entender que, apesar dos critérios mínimos estabelecidos, pode-se não atingir resultados suficientes quanto aos parâ metros de boa qualidade na habitação. Um dos exemplos que justifica este cenário é o valor rígido de área útil mínima para um apartamento padrão de 41 metros quadrados, com dois dormitórios, sala e áreas molhadas, que descarta os distintos modos de vida, a composição do núcleo familiar e/ou a necessidade da presença de outros espaços na organização da moradia, tendendo para a homogeneização das soluções de projeto. Além disso, os empreendimentos sociais, por via de regra, são inseridos em terrenos distantes dos centros urbanos, como nas chamadas franjas urba nas, e longe da malha urbana consolidada, onde a urbanização é carente de vitalidade urbana, o que acentua o problema qualitativo.
O conceito de habitar pode ser compreendido de modo simples, como sinônimo de “morar”, mas se encarrega de um significado muito mais subjetivo se pensado na relação do ambiente com o indivíduo. O habitar é carregado de singularidades e experiências que o morador estabelece com o espaço físico que ele habita. Por esta razão, pressupõe-se que o ambiente construído “assu me considerável importância para a qualidade de vida de seus moradores” (ELALI; PINHEIRO, 2013, p. 15).
De maneira geral, então, os empreendimentos e as unidades habitacionais do PMCMV e/ ou PCVA desconsideram os modos de vida ou as composições familiares existentes, sendo grande parte dos problemas relacionados “à falta de funcionalidade e de flexibilidade, conceitos primor diais para a garantia de qualidade espacial na habitação” (LOGSDON, 2019, p. 34). Ou seja, enten de-se que a padronização dos empreendimentos habitacionais sociais multifamiliares faz com que cada projeto não abranja sua individualidade, comprometendo a boa arquitetura. Por isso, aten tar-se à flexibilidade é importante, porque evita a obsolescência da moradia, sobretudo por conta das rápidas transformações demográficas, sociais e culturais no país, mas também quanto à sus tentabilidade. Pode-se dizer que o conceito de flexibilidade é relativo à sustentabilidade, uma vez que um dos seus princípios está ligado à conservação do edifício ao longo do tempo, atendendo as necessidades do presente sem comprometer as possíveis necessidades do futuro (LOGSDON, 2019). Em Vitória, conforme mencionado, há uma problemática em torno do déficit habitacional, pois este possui um alto índice, que é correspondente a 19,88% da Região Metropolitana de Vitória, baseado nas pessoas inscritas no CadÚnico (IJSN, 2019). É preciso dizer que o conceito de déficit habitacional está relacionado às deficiências do estoque de moradias, sendo calculado a partir de quatro componentes: habitação precária, coabitação familiar, ônus excessivo com aluguel e adensamento excessivo. A habitação precária diz respeito às moradias precárias e contempla os domicílios rústicos (locais com condições insalubres) ou improvisados (locais que não possuem fins para moradia); a coabitação familiar tem a ver com os vários núcleos familiares (famílias secundá rias) que compartilham o mesmo domicílio; o ônus excessivo com aluguel refere-se às famílias de baixa renda (até 3 salários mínimos) que gastam 30% ou mais da renda familiar com aluguel; e o adensamento excessivo é correspondente ao número excessivo de pessoas vivendo em uma mes ma moradia (três pessoas ou mais por dormitório). Na cidade de Vitória, o número mais expressivo é o índice de ônus excessivo de aluguel, que equivale a 93,51% do déficit habitacional (IJSN, 2019).
Assim sendo, no que tange a política habitacional, Vitória possui poucos programas habita cionais que desenvolvam ações suficientes para sanar os problemas da falta de moradias de quali dade para pessoas de baixa renda e também enfrentar o déficit habitacional. Uma das iniciativas é o Programa Habitar Vitória, implementado pela Prefeitura de Vitória (PMV), que compreende cinco projetos: Vitória de Todas as Cores, Projeto Moradia, Morar sem Risco, Morar no Centro e Terreno Legal (PMV, 2021). Contudo, mesmo com a elaboração destes programas, deve-se realçar que eles podem ser incapazes de suprimir plenamente a necessidade de se construir moradias sociais que abranjam todos os critérios da qualidade habitacional, perpassando a ideia somente quantitativa.
À vista disso, a intenção é estudar a problemática da qualidade da habitação de interesse social multifamiliar no contexto da cidade de Vitória-ES, devido à importância de se construir ha bitação social com parâmetros de qualidade, considerando seus reflexos na qualidade de vida do morador. Outrossim, julga-se necessário criar soluções de projetos que comportem as mudanças demográficas, sociais e culturais contemporâneas nos arranjos familiares, envolvendo os princí pios da flexibilidade arquitetônica. Entende-se que a reprodutibilidade dos projetos, associada à intencionalidade do barateamento da produção para a construção em série, prejudica os princí pios de uma boa arquitetura. Portanto, o propósito é desenvolver soluções de projeto de edifícios multifamiliares de habitação de interesse social pautadas na qualidade habitacional, flexibilidade e contemporaneidade. “
RESULTADOS ESPERADOS
1. Construir embasamento teórico sobre os conceitos da habitação social e da quali dade da habitação, para assimilar os atributos relativos à “boa arquitetura”, conforme estudos e métodos disponíveis na literatura; 2. Apontar instrumentos de flexibilidade para transpor à proposta de projeto habita cional residencial multifamiliar, sobretudo a respeito da habitação de interesse social, e coletar dados quanto aos formatos familiares contemporâneos, com intuito de entender as transforma ções sociais no recorte da cidade de Vitória-ES; 3. Analisar sistematicamente projetos de habitações sociais que possuem bons parâ metros de qualidade habitacional e que incorporem conceitos sobre flexibilidade; 4. Elaborar uma proposta projetual de um conjunto de edifícios habitacionais multifa miliares em um terreno na cidade de Vitória-ES, aplicando os instrumentos estudados.
21
OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo geral Desenvolver uma proposta projetual de arquitetura relacionada à habitação de interesse social multifamiliar, fundamentada em diretrizes da qualidade habitacional, da flexibilidade arqui tetônica e da habitação contemporânea. 1.3.2 Objetivos específicos
(a) Seleção dos projetos referências Serão selecionados pelo menos cinco projetos e/ou construções como referências, com a finalidade de depreender a estrutura organizacional do edifício e materialidade das propostas empregadas.
(b) Análise dos projetos referências Será apresentado uma análise formal que sintetize as soluções aplicadas aos projetos e/ou cons truções selecionadas, abarcando características como materiais, técnicas de construção e com posição arquitetônica, para servir como base na elaboração do programa de usos da proposta projetual. III. Projeto A última etapa constitui o desenvolvimento do projeto, a partir de todas as questões levan tadas anteriormente. Será desenvolvido um estudo preliminar de edifícios de habitação de interes se social fundamentados, sobretudo, nos princípios da flexibilidade arquitetônica.
1.4 METODOLOGIA O desenvolvimento do trabalho acontecerá em quatro etapas, conforme descritas a seguir: I. Estudo inicial Revisão bibliográfica A primeira etapa do trabalho consistirá em realizar uma pesquisa bibliográfica sistemática, com intuito de selecionar autores e obras referências principais, as quais serão norteadoras para as temáticas abordadas no projeto. Elas se subdividem em habitação social, qualidade na habita ção, flexibilidade arquitetônica e formatos familiares contemporâneos.
1.5
II. Estudo de caso Nesta etapa será realizada uma pesquisa sobre projetos e/ou construções de edifícios de habitação (se possível de interesse social) que possuem bons indicadores de qualidade e/ou que contemplem os princípios da flexibilidade arquitetônica. Sendo assim:
1.3
Na senda da habitação social, será feita uma pesquisa teórica sobre a conceituação do ter mo e qual a sua abrangência, entendendo também o cenário de desqualificação que se reproduz massivamente no país na contemporaneidade; no recorte da qualidade habitacional, irá se apro fundar nos princípios determinantes e no entendimento dos instrumentos de avaliação qualitativa desenvolvidos por autores referências; quanto à flexibilidade, será realizado um estudo sobre seus atributos e quais os principais argumentos para refletir a importância da sua aplicação na mora dia, principalmente os conceitos alinhados ao edifício multifamiliar; por fim, serão estudados os arranjos familiares contemporâneos, sobretudo os predominantes na cidade de Vitória-ES, com a intenção de assimilar as relações dos indivíduos entre si com o lar, identificar usos e atividades comuns e reverberar os entendimentos na proposta de projeto.
Como resultado, os resultados compreendem o desenvolvimento de uma proposta projetual de habitação de interesse social que reúna os princípios dos conceitos estudados, sobretudo so bre a qualidade habitacional e a flexibilidade arquitetônica. A intenção é demonstrar que, tendo em vista o baixo padrão de qualidade empregado na maior parte dos projetos habitacionais mul tifamiliares de interesse social construídos, há sim a possibilidade de criar soluções que compre endam bons parâmetros que fujam desta circunstância.
Para isso, é importante destacar que será preciso realizar o estudo teórico, categorizar as pectos positivos e negativos das construções atuais, coletar informações pertinentes dos estudos de casos, traçar diretrizes de projeto e desenvolver os estudos preliminares. Dessa forma, será possível conceber as soluções arquitetônicas que contemplem as respostas positivas para os pro blemas encontrados.
Neste capítulo será discutido o conceito de habitar e suas subjetividades, levando o olhar para além do espaço físico. Posteriormente, será apresentado o conceito de habitação de interesse social e sua história como programa no Brasil, abordando as peculiaridades de cada período a partir da década de 1920 e seus desdobramentos para a contemporanei dade. Por último, discute-se também os princípios para se alcançar bons parâmetros de qualidade arquitetônica habitacional e os desafios dentro do contexto da moradia social. o cenário da qualidade arquitetônica habitacional
HABITAÇÃO22
SOCIAL NO BRASIL:2
23 2.1 HABITAR OU HABITAT?
2.2 A HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL COMO POLÍTICA NO BRASIL
2.2.1 A política higienista e a década de 1930: construção dos IAPs
Desta maneira, no período compreendido pelo início do século XX, a iniciativa privada investiu em criar casas populares para aluguel, com o apoio do Estado, e construiu as chamadas vilas habitacionais para seus empregados, com parcelamento do solo e comercialização dos lotes, ba seadas na política higienista3 À vista disso, os operários ficavam sujeitos às normas definidas pelos patrões para usufruto das moradias. Foi apenas nos anos 20, após o descontentamento e a mobilização dos trabalhadores em virtude do aumento dos aluguéis e dos baixos salários, que o Estado decide intervir no conflito formado entre a classe trabalhadora e os proprietários criando a chamada Lei do Inquilinato, a qual é destinada para controle dos aluguéis (MARICATO, 2010).
A habitação de interesse social é uma espécie de habitação destinada à parcela da popula ção que, em virtude da baixa renda, possui dificuldade ou não consegue ter acesso à moradia por meio do mercado imobiliário formal. Autores como Maricato (2010) e Bonduki (2004) compreendem que a produção e a oferta habitacional para os setores de baixa renda devem ser de responsabi lidade do Estado, mas ressaltam que a conjuntura da política habitacional do Brasil nem sempre foi escopo dos órgãos públicos.
2 Porção da cidade considerada preponderante sobre a outra. Hegemonia é um conceito que engloba a dominação ide ológica de uma classe social e que reflete a estruturação do poder. Foi desenvolvido pelo teórico Antônio Gramsci (189131937).Apolítica higienista das cidades na década de 1920 no Brasil traduziam a preocupação com o saneamento básico e o embelezamento da cidade, mas ao mesmo tempo provocavam a segregação territorial. As casas higienistas da elite bra sileira eram divididas em funções bem definidas, sendo inspiradas no modelo europeu (MARICATO, 2010). “
O conceito de habitar pode ser enxergado de modo simples, como sinônimo de “morar”, mas se encarrega de um significado mais subjetivo porque leva em consideração a relação do ambien te com o indivíduo. Conforme Pallasmaa (2017, p. 07), “o ato de habitar é o modo básico de alguém se relacionar com o mundo”. O habitar é carregado de singularidades e de experiências que o mo rador estabelece com o espaço físico que ele habita. Desse modo, pode-se dizer que o conceito de habitação, ou habitat, diz respeito ao espaço físico que o indivíduo ocupa, enquanto o conceito de moradia, ou habitar, ultrapassa a delimitação do espaço físico e traduz também os elementos da subjetividade. Sendo assim, Visto isso, é importante frisar que o sentido do habitar distingue-se do habitat. Enquanto o habitat é representado pelo espaço físico e concreto, o habitar é relacionado às vivências, aos sentimentos, ao dia a dia e aos significados que aquele espaço físico representa ao ser humano. Habitar é a lembrança, por vezes abstrata e que perpassa a materialidade, do afeto a um lugar e das relações criadas ali. Para mais, “ habitar significa, entre outros sentidos dos quais o termo pode estar revestido, abrigar-se, como um ato de dirigir-se para o interior de um invólucro e nele permanecer” (LIMA, 2007, online). Em sua essência, o lar, em concordância com Pallasmaa (2017, p. 18), “não é um simples objeto ou um edifício, mas uma condição complexa e difusa, que integra memórias e imagens, desejos e medos, o passado e o presente. [...] Um lar não pode, portanto, converter-se em um produto comer ciável”. Contudo, o habitar, apesar de ser carregado de subjetividades, tem assumido um papel de mercado no mundo do capital. Em um país marcado pelas grandes desigualdades socioespaciais e por um urbanismo excludente desde o século XX, como é o caso histórico do Brasil, que investe e moderniza na “cidade hegemônica” 2 , há a “consequente segregação do espaço e diferenciação acentuada na ocupação do solo” (MARICATO, 2010, p. 30). Isso implica não só na habitação, mas também no lugar que o indivíduo ocupa no meio urbano e qual a relação que estabelece com a cidade (de trabalho, de lazer, de serviços essenciais). Historicamente, a classe mais baixa, formada pela massa trabalhadora pobre, ficou excluí da dos projetos de reforma urbana e do processo de urbanização/industrialização do Brasil. Sen do assim, entende-se que a desigualdade socioespacial fez com que o acesso à cidade pela classe baixa também fosse prejudicado, uma vez que “o acesso à moradia está ligado ao seu preço, que, por sua vez, depende da sua localização na cidade” (MARICATO, 2010, p. 43). Ou seja, a partir do momento que a habitação passou a ser tratada como uma mercadoria especial (a qual tem gran de período de circulação), agravou-se o problema da moradia e a classe mais baixa foi compelida a ocupar periferias, subúrbios, morros ou várzeas (MARICATO, 2010). Em outras palavras, “no ca pitalismo, o espaço se torna mercadoria e, portanto, o habitar se degrada, reduz-se em habitat” (PÁDUA, 2019, p. 484), mormente se referido à moradia que a classe trabalhadora usufrui.
Com o crescimento habitacional e o acelerado processo de urbanização ocorrido no Bra sil durante o século XX, principalmente, o governo incentivou que as empresas privadas fossem responsáveis pela produção das habitações populares destinadas à classe trabalhadora urbana.
Contudo, foi a partir da década de 1930, marcada pela Revolução de 30, que “pela primeira vez se reconhecia oficialmente que o mercado privado não tinha condições de resolver o problema da moradia e que o Estado tinha a responsabilidade de fazê-lo”, conforme comenta Maricato (2010, p. 36). Assim sendo, durante este período, o governo passou a investir na esfera da moradia social como uma política social de habitação. Alinhado a isso, é importante lembrar que havia uma pre ocupação internacional, por meio do movimento da Arquitetura Moderna, em refletir a habitação [...] a moradia é considerada um espaço de relações entre os que residem juntos, assim como das relações ao seu entorno. A moradia é o locus de onde se expressa grande parte do processo sócio-his tórico da trajetória das pessoas. Desse modo, vai além da aquisição de um domicílio [...] (KAUCHAKJE; SCHEFFER, p. 120).
FIGURA 02 - Vista aérea da implantação do Pedregulho, inserido na topografia e paisagem existente. É possível perceber a monumentalidade do edifício e a presença dos equipamentos inseridos em conjunto com o bloco habitacional Fonte: Site ArchDaily. Disponível em: -mendes-de-moraes-pedregulho-affonso-eduardo-reidy>.Fonte:-mendes-de-moraes-pedregulho-affonso-eduardo-reidy>.<https://www.archdaily.com.br/br/01-12832/classicos-da-arquitetura-conjunto-residencial-prefeitoAcessoem:23jan.2021.SiteArchDaily.Disponívelem:<https://www.archdaily.com.br/br/01-12832/classicos-da-arquitetura-conjunto-residencial-prefeitoAcessoem:23jan.2021.
““
24 de interesse social de maneira inovadora e criativa. Segundo Bonduki (2004), um dos grandes indí cios que houve o enfrentamento do problema habitacional no país após 1930 é o subsídio dado à criação dos conjuntos habitacionais pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs). Os IAPs contribuíram positivamente para a construção de habitações de interesse social (HIS) de qualidade arquitetônica e urbanística no Brasil. Embora não seja fruto da produção dos IAPs, ainda que financiado pela iniciativa pública, um dos maiores destaques da produção habita cional na arquitetura brasileira é o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, mais conheci do como Pedregulho (FIGURA 01 e 02), construído em 1947, localizado no Rio de Janeiro e projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy e pela engenheira Carmen Portinho. Para Bonduki, além do Pedregulho, as obras realizadas por Reidy não eram uma intervenção isolada, mas sim Consequentemente, entende-se que a produção de habitação social no Brasil no intervalo de tempo de 1930 a 1964 relacionou soluções propostas pelo movimento da Arquitetura Moderna, sobretudo do arquiteto pioneiro Le Corbusier, e caminhou para viabilizar financeiramente mora dias dignas e com qualidade arquitetônica para trabalhadores de baixa renda. Ressalta-se que houve a preocupação em relacionar a habitação com a cidade, levando em conta a fase de mo dernização do espaço urbano. Afinal, tanto como a produção social como a produção privada de habitação no Brasil foram expressivas neste período, quantitativamente e qualitativamente, uma vez que ambas incorporaram em seus projetos princípios como “economia, racionalidade, valori zação do espaço público, incorporação de equipamentos coletivos e estandardização” (BONDUKI, 2004, p. 144). A tipologia dos conjuntos habitacionais multifamiliares tiveram grande impacto nos anos 40 e 50, em virtude dos seus programas inovadores, sendo vinculados com equipamentos sociais e de lazer, áreas verdes, vias etc. [...] resultado de um processo de reflexão e produção coletiva sobre o tema que tivera início na década de 1930, influenciado pelo debate internacional e pelas realizações da social-democracia europeia no período entre guerras, cujos pressupostos foram explicitados nos Congressos Internacionais de Arquitetos Modernos (Ciam), no final dos anos 1920 (BONDUKI, 2004, p. 134).
FIGURA 01 - Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho). Vista do acesso por uma rua suspensa pelo terceiro andar, proposta que é contida nos princípios de Le Corbusier. É possível perceber o pavimento pilotis, a fachada com elementos vazados e a forma serpenteante do volume do conjunto de habitações
A introdução de uma nova forma de enfrentar a questão da habita ção foi bastante rápida pois, até meados dos anos 1930, ainda predo minavam no país as moradias típicas da produção rentista: as vilas [operárias] [...]. A revisão deste modelo, com a difusão das propostas modernas, mostra a importância da intervenção do Estado. Somente um decisivo apoio do Estado, no caso através dos Institutos, poderia ter sido capaz de, em tão pouco tempo, revisar de modo tão radical o modelo de habitação adequada para o trabalhador (BONDUKI, 2004, p. 163-164).
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3333 11
25
O projeto pioneiro e emblemático construído pelos IAPs foi o Conjunto Residencial Operá rio do Realengo (FIGURA 05 e 06), feito pelo arquiteto Carlos Frederico Ferreira, chefe do setor de arquitetura e desenho da Divisão de Engenharia do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI), localizado também no Rio de Janeiro e concluído em 1943. O conjunto foi com posto por 2.344 unidades habitacionais, considerando casas e apartamentos, e inserido dentro do tecido urbano interligado com a estrutura viária já estabelecida na Zona Oeste do Rio, próximo a uma linha ferroviária.
FIGURA 03 - Corte do bloco habitacional do Pedregulho Fonte: [FIGURA 03 e 04] Site ArchDaily. Disponível em: jan.raes-pedregulho-affonso-eduardo-reidy>.quitetura-conjunto-residencial-prefeito-mendes-de-motps://www.archdaily.com.br/br/01-12832/classicos-da-ar<htAcessoem:232021.
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FIGURA 07 - Nicho estudado para dois leitos a partir da escala do homem moderno Fonte: Botas (2010, p. 14)
Existe também no projeto uma diversidade tipológica das unidades habitacionais. Nos dois níveis inferiores são distribuídos apartamentos com um dormitório, enquanto nos quatro pavimen tos superiores são definidos apartamentos duplex com dois dormitórios, como mostra a FIGURA 03.
O projeto também contou com a construção de equipamentos de caráter coletivo, como escola, creche, quadra, serviços médicos, igrejas etc (BONDUKI, 2004). Houve uma preocupação em construir variedades tipológicas habitacionais, ainda que em sua maioria unifamiliares, para ser vir de ensaio para projetos futuros. As unidades apresentavam-se com diferentes soluções formais 1 2 2 3 4 5 5 3 5 4 2
FIGURA 04 - Plantas das unidades habitacionais do Pedregulho, tipologias duplex e simples 1 passarela 2 pavimento intermediário 3 galeria de acesso apartamentos duplex de dois dormitórios - níveis N5 e N7 1 galeria de acesso 2 cozinha 3 sala de estar/jantar 4 banheiro 5 dormitório apartamentos duplex de dois dormitórios níveis N4 e N6 apartamentos de um dormitórioníveis N1 e N2 N4 e tamanhos. O caminho para a tomada de soluções do arquiteto era pautado na busca por uma moradia funcional que respondesse às necessidades do homem moderno. A FIGURA 07 representa um de seus estudos, que remete ao debate sobre o “espaço para a existência mínima”, em que a escala do homem é o modelo para a definição do próprio espaço (BOTAS, 2010). Ademais, o conjunto habitacional também inovou no emprego de materiais e novas técnicas construtivas, como a construção in loco (racionalização do canteiro de obra) e o desenvolvimento de sistema de blocos prensados de concreto nas fachadas que possibilitou a aplicação direta de pintura, suprimindo custos com materiais para revestimentos externos.
As moradias são organizadas em uma extensão de bloco linear e o acesso é feito por uma circu lação perimetral larga, fechadas com elementos vazados, que possibilita a ocupação efêmera do espaço (FIGURA 04).
N3N2N1
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26 2.2.2 A produção do BNH no período ditatorial Entre os anos de 1964 e 1986 iniciou-se no Brasil o período da ditadura militar que marcou profundamente a história da habitação social no país. Foi criado o Banco Nacional de Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH), com intuito de reduzir a questão do déficit ha bitacional brasileiro, e teve suporte principalmente dos recursos provindos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Foram construídas mais de 4 milhões de unidades habitacionais no Brasil. Contudo, foi neste período que a segregação socioespacial se intensificou e a crise da mo radia se acentuou no país, porque os Durante a época ditatorial, o modelo da “casa própria” foi mais difundido pelo BNH e SFH (FIGURA 08) e qualquer outra proposta para sanar a crise habitacional foi suprimida das propos tas governamentais, sobretudo os ricos programas habitacionais já desenvolvidos nas décadas anteriores pelos IAPs. A atuação do BNH neste período foi caracterizada por ser centralizada, pois desconsiderava as especificidades urbanas, sociais e culturais da cidade para a implementação das moradias; por ser unilateral, já que não contava com a participação das camadas populares, sobretudo da classe mais baixa; e por ser financiadora de projetos de casas prontas por empreitei ras, implantados fora dos centros urbanos e com baixa qualidade arquitetônica (BONDUKI, 2004).
Afinal, “o BNH e o SFH acabaram por contribuir para a consolidação de desigualdades sociais no Brasil ao privilegiar os investimentos habitacionais para as faixas de renda média e média baixa” (FERREIRA, 2015, p. 41). As demandas do BNH eram atendidas principalmente pelas Companhias Estaduais de Ha bitação (COHABs), as quais atuavam como agentes promotores e executores de obras. Assim sen do, por meio das COHABs, definiram-se as normas reguladoras que envolviam o repasse para a produção das moradias, o financiamento e o retorno de créditos para a população com rendimen to até cinco salários mínimos (RUBIN, 2013, p. 44). A título de exemplo, o padrão dos empreendimen tos habitacionais de apartamentos da COHAB-SP possuía uma média de 45 metros quadrados por unidade habitacional, as quais eram divididas em prédios de quatro a cinco pavimentos, sendo interligadas por escadas. Sua estrutura em planta mínima era: sala, cozinha, banheiro e dois a três dormitórios por unidade (CASTILHO, 2015, p.7). investimentos [do SFH] favoreceram predominantemente as classes médias emergentes e as classes altas, sustentáculos do regime di tatorial. [...] As decisões sobre o financiamento dos empreendimen tos públicos (conjuntos habitacionais, obras de saneamento e de in fraestrutura urbana) atenderam aos interesses dos empresários da construção (MARICATO, 2010, p. 49).
Fonte: Botas (2010, p. 21).
Fonte: Botas (2010, p. 17). “
FIGURA 05 - Porção do Conjunto Residencial Operário de Realengo. Vista em primeiro plano da praça-jardim e ao fundo do bloco laminar de habitação coletiva mostrando os volumes das varandas de acesso às unidades habitacionais
FIGURA 06 - Conjunto Residencial Operário de Realengo formado por edifícios de três e quatro pavimentos. Marcação dos volumes das varandas compostas por cobogós. O conjunto representa a ideia de modernidade e os princípios da racionalidade da Arquitetura Moderna
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27 No Espírito Santo, a COHAB-ES foi criada em 1968 e atuou por mais de quatro décadas em 45 cidades do estado, mas a RMGV foi a maior beneficiada na obtenção dos recursos para tal fim, já que concentrava mais problemas urbanos voltados à questão habitacional. No período entre 1966 a 1986 a COHAB-ES produziu 26.385 unidades habitacionais na RMGV, sendo em torno 80% das tipologias casas e 80% das famílias atendidas com renda mensal de até três salários mínimos. No entanto, é preciso evidenciar o baixo padrão de qualidade das construções, por conta da repetiti vidade do modelo do padrão arquitetônico e do uso de materiais construtivos de baixa qualidade (DUARTE, 2008). Sendo assim, “esse fato fez com que um número significativo de unidades produ zidas tivesse que passar, posteriormente, a sua conclusão, por uma reforma, demandando mais tempo e recursos para a comercialização dos imóveis [...]” (DUARTE, 2008, p. 175). Para exemplificar, a FIGURA 09 mostra o Conjunto Habitacional Eurico Sales, localizado na Serra-ES, datado de 1979, marcado pela tipologia unifamiliar. Já na FIGURA 10, mostra-se um trecho do jornal A Gazeta da época, em que denuncia as más condições que os empreendimentos da COHAB-ES eram entre gues.
Fonte: Biblioteca online IJSN. Disponível em: <http://www.ijsn.es.gov.br/bibliotecaonline/Record/320535>. Acesso em: 01 mar. 2022.
Fonte: Biblioteca online IJSN. Disponível em: <http://www.ijsn.es.gov.br/bibliotecaonline/Record/7666>. Acesso em: 01 mar. 2022.
Fonte: Site Blogspot. Disponível em: os-famosos-na-publicidade-parte-i.html>.<https://designinnova.blogspot.com/2011/09/Acessoem:01mar.2022.
FIGURA 08 - Propaganda difundida pelo governo federal com anúncio do BNH, res ponsável pelo financiamento da casa própria no período da ditadura militar
FIGURA 09 - Conjunto Habitacional Eurico Sales, Serra-ES. Nota-se o padrão repetitivo de casas unifamiliares implantadas em um cenário monótono com paisagem estática FIGURA 10 - Trecho do jornal A Gazeta (Vitória, ES 08/05/1983, p.10, cad.1, c.1-6) que retrata as más condições em que eram entregues os em preendimentos financiados pela COHAB-ES na RMGV. Vê-se ruas danificadas e unidades com péssimo acabamento
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FIGURA 11 - Planta baixa de um empreendimento habitacional de baixa renda da década de 1930 com padrão formato em “H”
Este cenário se acentua quando se analisa o processo de construção dos empreendimen tos habitacionais e, consequentemente, a definição do sistema construtivo, porque impactam no preço de venda das unidades. Assim sendo, “priorizam-se sistemas construtivos mais econômicos, diminuição do tempo de execução da obra, aumento da produtividade, redução do número de fornecedores e redução da mão de obra empregada” (FERREIRA, 2012, p. 90). Ademais, com a pre dominância do emprego da alvenaria estrutural no processo de construção das habitações de
2.2.3 Pós-BNH e o PMCMV A era pós-BNH foi marcada por uma lacuna nos investimentos em políticas de habitação social no país. A partir dos anos 2000, com a criação do Ministério das Cidades, estabeleceu-se mais fortemente no Brasil a preocupação com as políticas públicas urbanas, as quais envolviam objetos como a mobilidade urbana, a habitação, o saneamento básico, a regularização fundiária e o planejamento urbano (CARDOSO; ARAGÃO, 2011). Desde então, após o encadeamento de propos tas nestas áreas, foi em 2009 que houve a criação do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), o qual “foi um marco da incorporação do subsídio como um elemento indispensável de uma política habitacional inclusiva e da retomada de uma produção massiva de moradias” (BONDUKI, 2014, p. 122). Entretanto, apesar de ser um marco na história da política habitacional do Brasil, o PMCMV construiu empreendimentos que, por muitas vezes, repetiam o equívoco dos conjuntos habitacio nais produzidos pelo BNH. Similarmente à grande crítica feita às construções do BNH, as quais eram implantadas em periferias afastadas e desprovidas de qualidade arquitetônica quanto ao projeto e à execução de obra, a maior parte da produção do PMCMV também reforçou esta cir cunstância. Em concordância com Bonduki,
Além disso, sob o olhar da unidade habitacional e para além da crítica da inserção urbana, entende-se que o exacerbado padrão tipológico das moradias também é um impasse para se al cançar bons parâmetros de qualidade arquitetônica. Com o PMCMV, de forma geral, optou-se por construir moradias com dimensões mínimas de ambientes, considerando uma tipologia “modelo” e replicável, com área inferior a 45 metros quadrados, equivalente a dois dormitórios, para com portar até cinco pessoas. Em comparação com o BNH, o qual indicava área mínima 12 metros qua drados por pessoa, o PMCMV ainda reduziu esse valor para 8,8 metros quadrados. Tal fato implica diretamente na qualidade de vida dos moradores, uma vez que acarreta a monofuncionalidade dos ambientes, pois eles acabam apenas por cumprir a função que lhes foi atribuída, e impede atender perfis familiares diversificados, que fogem do perfil da família mononuclear, devido à falta de possibilidade de mudanças nos espaços (FERREIRA, 2012).
unidades habitacionais área de circulação comum
Ademais, Bonduki (2004) comenta que o BNH buscou reduzir o custo da habitação, com o propósito de assistir à classe baixa que vinha se empobrecendo, mas fez isto a sacrifício da baixa qualidade arquitetônica aplicada aos projetos, a qual influenciou na redução do tamanho das unidades habitacionais, na precariedade das soluções arquitetônicas e na grande distância que eram inseridas na periferia urbana. A implantação dos conjuntos longe dos centros urbanos se explica pelo baixo valor que era associado aos terrenos, uma vez que se caracterizavam por serem áreas sem infraestrutura básica e carentes de serviços, na tentativa de redução de custos. O BNH foi extinto em 1986, por conta do cenário de crise econômica instaurado no país. É importante comentar que ao longo das décadas de 60 a 80, em que já se havia instalado um quadro de crise econômica, a classe trabalhadora urbana viu-se obrigada a recorrer à ocupa ção de territórios irregulares e/ou ilegais, tendo em vista os baixos salários pagos aos trabalha dores somados ao crescimento populacional das cidades e à necessidade de se ter uma moradia na zona urbana. Segundo Maricato (2010, p. 50), “sem poder aquisitivo para comprar a moradia no mercado imobiliário privado, sem oferta significativa de moradia subsidiada financiada pelas políticas públicas, [...] a massa trabalhadora urbana recorre à compra do terreninho irregular, ou constrói no terreno de parentes ou invade terras que em geral são públicas”.
Fonte: Lucini (2003, p. 27).
Embora existam exceções - projetos habitacionais de qualidade e inseridos na malha urbana -, a grande maioria dos empreendimen tos do PMCMV está localizada na periferia das cidades, distante dos empregos, desarticulada da malha urbana existente ou de planos de expansão urbana, com projetos de moradias sem qualidade arqui tetônica nem identidade com as comunidades locais (BONDUKI, 2014, p. 123). “
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Lucini (2003) expõe que o nível de padronização da moradia social no período da ditadura militar era tanta que já não havia a necessidade de projetos arquitetônicos e/ou urbanísticos para construí-las, pois instaurou-se e replicou-se um modelo característico de casas com telhado “meia água” ou prédios em formato “H” com quatro unidades de apartamentos por andar. Ele mostra também que, mesmo após décadas, desde os anos 1930, a tipologia não mudou, conforme compa rativo da FIGURA 11 e FIGURA 12.
Fonte: Site COHAB MINAS. Disponível em:
dormitóriosFIGURAC3%B4nico-01-08.pdf.>.gov.br/wp-content/uploads/2019/06/MG-24-AP-2-47-Arquitet%<http://www.cohab.mg.Acessoem:01mar.2022.12-PlantabaixapadrãodaunidadehabitacionalcomdoisutilizadapelaCOHABMINASapartirdoanode2016
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29 interesse social (por razões de custo, de produtividade, de baixa manutenção, dentre outras) (FER REIRA, 2012), acentua-se a padronização dos projetos e inviabiliza-se ainda mais a possibilidade de adequação às mudanças ao longo do tempo. Este cenário reflete um pouco do impasse que ainda se encontra a política habitacional do Brasil. Num retrospecto histórico, a produção dos conjuntos habitacionais realizada pelos IAPs, apesar de pouco estudada, ganha destaque por ter sido tratada como um problema social e pela sensibilidade em ter sido propostas moradias adequadas ao modo de vida operário correlacio nadas aos princípios da Arquitetura Moderna, os quais são, de acordo com Bonduki (2004): eco nomia, racionalidade, valorização do espaço público, incorporação de equipamentos coletivos e estandardização. Por outro lado, a era BNH, apesar de ter contribuído de modo significativo quan titativamente, aprofundou o problema da moradia causando impactos na segregação espacial e exclusão social, como já visto. Embora mais promissor, O PMCMV também se atentou mais aos re sultados quantitativos do que qualitativos, seja na escala da unidade habitacional ou da inserção urbana, obstaculizando o enfrentamento das lacunas que existem na política habitacional do país. Por fim, o que se pode observar é que a habitação social tem sido reduzida a uma mercadoria, pois progressivamente se constroem espaços homogêneos, padronizados e impessoais, sem distinção dos seus usuários e/ou grupos familiares, e destituídos de conexão com a cidade e o urbano.
2.3 OS REFLEXOS DA PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA DE HABITAÇÃO SO CIAL NO PAÍS A produção contemporânea de habitação social no Brasil é representada pelo Programa Casa Verde e Amarela (PCVA) desde janeiro de 2021. No entanto, o PMCMV, política habitacional que vigorou de 2009 até 2021, contribuiu substancialmente para o panorama atual da produção de moradias sociais no país. Ele foi visto, na prática, como um programa muito amplo, que atendeu as faixas de renda de 0 a 10 salários mínimos e se diferenciou em dois cenários: subsídio público em parceria com municípios para financiamento das moradias de pessoas de baixa renda, de 0 a 3 salários mínimos; e oferta de recursos onerosos ou não onerosos por meio do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para as faixas de até 10 salários mínimos (FERREIRA, 2012).
Para tentar sanar o déficit habitacional, o governo investiu neste período massivamente no quesito quantitativo. Contudo, ao passo que se almejava sanar o déficit de moradias sociais no Brasil, valorizou-se muito mais a produção numerosa das unidades habitacionais, propagan deada pela “casa própria”, do que os aspectos que envolvem a qualidade urbana e a qualidade arquitetônica. A implantação dos empreendimentos de habitação social distante dos centros ur banos, onde a terra possui um valor mais barato, gerou encargos negativos para os moradores e o próprio Estado. A longa distância dos grandes centros urbanos sujeita os indivíduos a terem um tempo maior de deslocamento na cidade, seja para melhores oportunidade de emprego e/ou acesso aos serviços básicos (como hospitais, escolas, supermercados), e necessita que o Estado invista, como custo adicional, em infraestrutura e serviços básicos aos locais que são desprovidos de uma boa urbanização e de baixa densidade urbana.
Além da questão urbana, a qualidade arquitetônica é um ponto de discussão nos projetos de habitação de interesse social do PMCMV. Como já comentado, o programa cometeu descuidos ao reproduzir o insucesso das produções realizadas pelo BNH no período do regime militar. Por um lado, a produção do PMCMV herdou a péssima qualidade arquitetônica construída pelo BNH (FIGURA 13 e 14), quando sequer os conjuntos eram considerados “arquitetura”, e gerou como pro dutos empreendimentos [...] sem projeto, de grande impacto ambiental (geralmente pela abu siva movimentação de terra), com casinhas idênticas ou prédios em formato de H reproduzidos infinitamente, péssima qualidade cons trutiva, conjuntos monofuncionais, que se tornaram imensas, dis tantes e desagradáveis cidades-dormitórios (FERREIRA, 2012, p. 56).
FIGURA 13 - Casas unifamiliares construídas pelo Programa Minha Casa Minha Vida no bairro Vida Nova Manacá II, região centro-oeste de São Paulo. Nota-se exacerbada padronização das residências, ausência de qualidade urbanística, inexistência de áreas verdes, extrema pavimentação, isolamento do centro urbano, dentre outras características que refletem os entraves da política habitacional
FIGURA 14 - Empreendimento Residencial Espanha realizado pelo Programa Minha Casa Minha Vida, localizado na Zona Sul de São Paulo, bairro Jardim Apurá. Vê-se a massiva padronização dos conjuntos habitacionais e, sobretudo, a repetição das plantas em “H”, herança do período do BNH Fonte: Site Folha de São Paulo. Disponível em: tacao/residencial_espanha/index.php?p=264960>.Fonte:da-so-para-familias-que-ganham-ate-r-6986.shtml>.<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/06/governo-quer-minha-casa-minha-viAcessoem:01mar.2022.SitePrefeituradeSãoPaulo-SecretariadeHabitaçãoDisponívelem:<https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habiAcessoem:01mar.2022. “
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Como um paradoxo, Ferreira (2012) comenta que, por outro lado, a partir de novas experiên cias das políticas habitacionais, houve maior participação profissional de arquitetos nos projetos após o período de redemocratização do país no final do século XX. Uma amostra é a intervenção e a política de ações em espaços da periferia, como as favelas, promovendo projetos de qualidade urbanística e com certa qualidade habitacional. A título de exemplo, apresenta-se o projeto da reurbanização de uma porção da favela inserida na área de Colinas D’Oeste/Morro do Socó, em Osasco, São Paulo, realizado pelo escritório Vigliecca e Associados em 2010, como mostram as FI GURAS 15 e 16. Foram construídos conjuntos habitacionais de várias tipologias, levando em conta fatores como a insolação, a declividade do terreno e a configuração das áreas públicas, com a intenção de garantir a legibilidade do espaço.
Outro bom exemplo é a produção do PMCMV-Entidades, o qual teve objetivo de “viabilizar o acesso à moradia em área urbana às famílias com renda familiar bruta de até R$ 1.600,00 (Faixa 1) organizadas sob forma coletiva cooperativas, associações e entidades da sociedade civil [sem fins lucrativos]” (BUZZAR et al., 2014, p. 1590). Seu diferencial está em permitir que os futuros mora dores participem do projeto e da obra, conhecendo suas características relacionadas à inserção urbana, como na escolha do terreno, e opinando na concepção (RIZEK, 2014, p. 539). Nesse sentido, vê-se a materialização da autogestão habitacional, em que as entidades sociais assumem o papel de acompanhar a gestão da obra e contribuem para a aproximação dos usuários com a constru ção da sua moradia.
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FIGURA 15 - Área dos Portais, Osasco. Implantação dos conjuntos habitacionais em meio à cidade existente. Destaque para a dasdiversidadetipologias
Fonte: Site Vigliecca&Associados. Disponível em: <http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/portais-area>. Acesso em: 01 mar. 2022.
Fonte: Site Vigliecca&Associados. Disponível em: <http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/portais-area>. Acesso em: 01 mar. 2022.
Os Conjuntos Habitacionais José Maria Amaral e Florestan Fernandes, localizados na Cida de Tiradentes-SP, fazem parte do PMCMV-E e se destacam pela qualidade do projeto e pela par ticipação popular. Foram construídos entre 2009 e 2018, sendo administrados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra Leste 1. Os empreendimentos foram implantados num bairro periférico consolidado, mas com infraestrutura urbana precária. São 396 unidades habitacionais, divididas em oito edifícios de oito a quinze pavimentos (FIGURA 17). Sobre a aproximação do usuário com o processo de projeto, Aguiar (2021) conta que as famílias discutiram o projeto de implantação dos edifícios (FIGURA 18) e das unidades habitacionais (FIGURA 19), levantando questões pertinentes e problematizando elementos importantes sobre a casa própria para a classe trabalhadora. Especi ficamente sobre a unidade habitacional, Todavia, embora haja exemplos de intervenções de destaque, pode-se dizer que a produ ção das moradias sociais de maneira geral ainda não possui atributos que garantem uma boa qualidade arquitetônica e, afinal, “a habitação popular tornou-se sinônimo de baixa qualidade [no Brasil]” (FERREIRA, 2012, p. 56). Mesmo assim, é possível perceber que programas como o PMCMV -Entidades atuam positivamente na contramão dos projetos sociais padrões construídos no Brasil. O desenho da unidade habitacional, o apartamento, foi amplamente discutido e modelado para atender, dentro das limitações, aos an seios da maioria das famílias pertencentes ao grupo, o que não isen tou esse processo de diversas e longas jornadas de debates, conflitos, tensões e aprendizagens de uma experiência que se pretende coleti va. Diferentemente das unidades padrões para H.I.S, produzidas pelo mercado imobiliário e pelo próprio poder público, o apartamento desses mutirões tem 58 m², uma lavanderia bem definida, sacada com jardineira, área de cozinha e sala sem paredes, delimitando a divisão dos ambientes e a possibilidade de execução do terceiro dormitório. [...] Ainda que o apartamento não se tornasse maior, pois a área total construída não seria alterada, a possibilidade de fazer mais um dormitório (de 2 para três) de maneira planejada, sem ne cessitar de soluções improvisadas e sem acompanhamento técnico [...] (AGUIAR, 2022, p 90).
“
FIGURA 16 - Vista dos conjuntos habitacionais com destaque para o pátio interno entre os edifícios e a diferença entre as alturas e os gabaritos: dois, quatro e cinco pavimentos
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Fonte: Site Ambiente Arquitetura. Disponível em: <http://ambientearquitetura.com/trabalhos/condominios-florestan-fernandes-e-jo se-maria-amaral/>. Acesso em: 01 mar. 2022.
Fonte: Site Lei da Autogestão já. Disponível em: ria-amaral/>.gestaoja.org.br/o-mapa/mutiroes-florestan-fernandes-e-jose-ma<https://leidaautoAcessoem:01mar.2022.
Fonte: Adaptado do site Lei da Autogestão já. Disponível em: -jose-maria-amaral/>.leidaautogestaoja.org.br/o-mapa/mutiroes-florestan-fernandes-e<https://Acessoem:01mar.2022.
FIGURA 18 - Implantação dos conjuntos habitacionais José Maria Amaral e Florestan Fernandes. São oito prédios, cada um possui acesso por dois patamares diferentes, devido aos desníveis topográ ficos existentes. Destaque para a área comum (centro comunitário) à frente do empreendimento, próximo à via, mostrando o potencial do uso do espaço para as famílias moradoras como também para os moradores do bairro
2 1 3 4 5 6 7 1 área comum 2 viário 3 pedestres 4 infraestrutura 5 edificação 6 lote 7 APP setor varandasocialsetoríntimo dois possibilidadedormitórios+1cômodo áreas molhadas “
Pedro (2000) examina o conceito de qualidade residencial e o de qualidade arquitetônica habitacional. Para ele, quanto à definição de qualidade residencial, “a habitação é um produto com características particulares” (PEDRO, 2000, p. 9) e pode ser determinada por meio de três pers pectivas: adequação a longo prazo; adequação social e cultural; inovação. Além disso, a qualidade residencial está ligada a seis fatores de qualidade, como mostra a síntese apresentada no esque ma da FIGURA 20. Já a definição da qualidade arquitetônica habitacional é limitada ao campo da arquitetura. Ela perpassa a série de elementos apresentados e constitui-se em um conceito amplo, envolvido por uma rede entrelaçada de disciplinas. Em suma, entende-se que pode ser avaliada a partir da [...] adequação das características espacio-funcionais, sócio-cultu rais e estéticas da habitação e da sua envolvente às necessidades imediatas e previsíveis dos moradores, compatibilizando as neces sidades individuais com as da sociedade, e incentivando a intro dução ponderada de inovações que conduzam ao desenvolvimento (PEDRO, 2000, p. 10).
FIGURA 20 - Síntese dos fatores de qualidade que definem a qualidade residencial Fonte: Adaptado de Pedro (2012).
O conceito de qualidade é amplo e envolve várias dimensões. Segundo Fabrício, Ornstein e Melhado (2010, p. 4), “a qualidade do projeto pode ser vista por meio da perspectiva particular de cada disciplina e agente envolvido. [...] A qualidade é vinculada à soma das qualidades intrínsecas a cada especialidade de projeto [...]”. Isto significa que a qualidade global do projeto deve ser en tendida em uma dimensão coletiva com contribuição de vários agentes envolvidos.
31 2.4 ELEMENTOS DE QUALIDADE ARQUITETÔNICA HABITACIONAL E SEUS IMPASSES NA MORADIA SOCIAL
FIGURA 17 - Empreendimentos habitacionais José Maria Amaral e Florestan Fernandes em processo de construção. Os prédios variam de oito a quinze pavimentos
FIGURA 19 - Tipologias das unidades habitacionais com 58 metros quadrados. Acima, planta baixa com dois dormitórios; abaixo, possi bilidade da planta baixa com três dormitórios
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os critérios apresentados, é importante compreender o cenário da quali dade arquitetônica na habitação social. Como já visto, no período do PMCMV houve uma intensa produção de moradia social, com intuito de reverter o déficit habitacional do país, mas com pouca preocupação com os instrumentos qualitativos. Nesse sentido, a política habitacional gerou con sequências negativas em maior parte, por conta da implantação de empreendimentos em regiões periféricas, de difícil acesso a equipamentos, a serviços básicos e à infraestrutura urbana. A adoção de projetos padrões e replicáveis desfavorece o quadro da qualidade habitacio nal arquitetônica. Em grande parte, os edifícios e as unidades habitacionais seguiam, rigorosa mente, a configuração de um “projeto” limitado em suas especificações mínimas e regulamentos e/ou leis pré-estabelecidas pelo programa habitacional. Sendo assim, os parâmetros listados na FIGURA 21 foram sendo lesionados e impactam, sobretudo, na qualidade de vida dos usuários des tes espaços. 4 Termo retirado da bibliografia em português de Portugal.
FIGURA 21 - Relação hierárquica entre níveis físicos que dizem respeito aos parâmetros da qualidade arquitetônica habitacional de acordo com Pedro (2000) Fonte: Autora (2022).
32 Para ser possível traçar parâmetros de qualidade arquitetônica habitacional, tem-se como referência os estudos desenvolvidos por Pedro (2000), o qual desenvolveu um “Método de Avalia ção da Qualidade Arquitectónica Habitacional”. Entende-se que a boa arquitetura é aquela que propicia bons parâmetros de qualidade e existe um grande número de critérios que podem ser le vados em conta em um diagnóstico. Pedro (2000) constrói uma metodologia representada por uma “árvore de pontos de vistas” que contém cinco níveis hierárquicos de análise, mas que aqui cabe-se explorar os dois primeiros. Em primeiro plano encontram-se os níveis físicos, assim denominados, que representam diferentes escalas do habitat São eles: a habitação, que diz respeito aos espaços individuais re presentados pela residência e as suas dependências, o edifício, que contempla os espaços indivi duais, os espaços comuns e as outras zonas não habitáveis, e a vizinhança , que se constitui pelo espaço externo e locais que se constrói a relação de vizinhança. Em segundo nível, tal qual é o mais relevante neste estudo, encontram-se os chamados “grupos de qualidades” que estão rela cionados com os três níveis físicos apresentados. Os aspectos são: conforto ambiental, segurança, adequação espacio-funcional4 , articulação e personalização. Desta forma, são estes parâmetros e seus respectivos subitens que direcionam a avaliação da qualidade habitacional, como mostra a FIGURAConsiderando21.
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33
Neste capítulo serão abordadas temáticas relacionadas à flexibilidade. Discute-se, ini cialmente, qual a importância da flexibilidade na arquitetura residencial e sua difusão no âmbito arquitetônico. Mostram-se também os tipos de flexibilidade e os instrumentos mais utilizados. De forma complementar, apresentam-se diretrizes para projetos resi denciais flexíveis e entende-se como podem ser considerados atributos para a qualidade habitacional
34
A FLEXIBILIDADE COMO PRINCÍPIO DE PROJETO:3
relevânciaarquitetônica.eestratégias na arquitetura residencial
O entendimento sobre a flexibilidade não é recente. No contexto internacional, no período compreendido pelo movimento moderno, a datar o início dos anos 20 na Europa, houve a preocu pação com as demandas de produção em massa, relacionadas à urbanização e à industrialização.
Ainda no início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial, é importante ressaltar que a habitação passou a ser tema de destaque em discussões dos arquitetos da época, “incorporando avanços técnicos, prescrições higienistas, ideologias reformadoras sociais e demandas sócio-po líticas” (BRANDÃO, 2002, p. 102). Além disso, os avanços tecnológicos, propiciados pela influência da Revolução Industrial na arquitetura, conduziram para o princípio da pré-fabricação dos elementos construtivos (BRANDÃO, 2002) que tiveram forte influência no desdobramento de projetos flexíveis.
O movimento da Arquitetura Moderna surge a partir das mudanças ocorridas após revolu ções e guerras ocorridas no decorrer do século XX. Assim sendo, o modernismo veio para enfren tar os problemas gerados pela urbanização maciça e a habitação passou a ser tema relevante neste contexto. Foi necessário formular propostas para sanar o quadro higiênico das cidades e para resolver a carência de moradias para os trabalhadores urbanos (RUBIN, 2013). As novas expe riências da arquitetura moderna foram possibilitadas por conta da difusão do concreto armado, do uso de estruturas metálicas e da pré-fabricação dos materiais. Mestres como Le Corbusier, Mies van der Rohe e Rietveld adotaram princípios da flexibilidade nos seus projetos como forma de resposta para lidar com alguns impasses na habitação. Para exemplificar alguns ensinamentos e experiências com a flexibilidade, destacam-se al guns projetos dos autores modernistas citados, os quais apresentam estratégias projetuais rele vantes. Os exemplares também são encontrados em estudos realizados por outros autores refe rências, como Brandão (2002); Digiacomo (2004); Finkelstein (2009); e Jorge (2012). Durante o século XX, Le Corbusier (1887-1965) foi o precursor modernista e trouxe grandes contribuições para o tema da habitação coletiva e colaborou para o tema da arquitetura flexível, levando em consideração sua visão futurista e a influência da escola Bauhaus que se difundia na Alemanha e na Europa. Em 1914-1917, em seu protótipo de sistema construtivo para as chamadas Maison Dom-ino (FIGURA 22), conseguiu ilustrar a intenção de se produzir em série estruturas com pletamente independentes das vedações e/ou das divisões internas, tornando a organização da planta livre, que poderiam ser concebidas a partir da pré-fabricação dos elementos (BRANDÃO, 2002). Similarmente, as fachadas assumem um papel importante no protótipo de Le Corbusier. Por não cumprirem com a função estrutural, elas tornam-se livres para assumir novas estéticas e variadas formas, possibilitando também atender necessidades especiais dos usuários (BRANDÃO, 2002) e assim permitir um leque de arranjos organizacionais internos e externos.
Fundação Le Corbusier. Disponível em: <http://www.fondationlecorbusier.fr/>. Acesso em: 01 fev. 2022.
FIGURA 22 - Sistema construtivo Maison Dom-ino composto por lajes horizontais, pilares recuados das fachadas e planta livre de elementos estruturais, adequado para produção em massa. Esta disposição permite que as vedações sejam dispostas independentemente e de maneira Fonte:flexívelSite
35 3.1 RELEVÂNCIA E RETROSPECTO HISTÓRICO DA FLEXIBILIDADE NA AR QUITETURA RESIDENCIAL
A relevância da flexibilidade na arquitetura residencial está associada à questão da qua lidade espacial habitacional (BRANDÃO; HEINECK, 1997), uma vez que seu conceito se relaciona com a capacidade de se adaptar às mudanças e permitir que a arquitetura não pereça ao longo do tempo (LOGSDON, 2019). Entendendo que o relacionamento entre usuário e moradia deve ser o mais próspero possível, é fundamental projetar uma arquitetura que pense em criar espaços flexíveis e de qualidade. Além disso, Logsdon (2019, p. 127) afirma que a importância da flexibilidade na habitação perpassa o argumento qualitativo, pois também é enxergada, por diversos autores, como “uma resposta à obsolescência dos edifícios, às dinâmicas internas familiares, à satisfação dos usuários e, além disso, tem sua importância respaldada por argumentos financeiros e de sus tentabilidade”.
Houve também um interesse maior na questão da habitação coletiva, o qual impulsionou o desen volvimento de soluções de transformações do espaço por meio da flexibilidade (LOGSDON, 2019).
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FIGURA 23 - Unité d’habitation de Marseille (1945-1952), França Fonte: Site Fundação Le Corbusier. Disponível em: <http://www.fondationlecorbusier.fr/>. Acesso em: 01 fev. 2022. Em termos de configuração espacial das unidades, as plantas apresentam o esquema de divisão de funções mais tradicional: zona de estar e de dormir, sem grande viabilidade de alter nância de atividades (FIGURA 24). Assim sendo, o que se apresenta em vínculo com o conceito de flexibilidade é a existência de várias tipologias habitacionais e as novas alternativas em como se usar a casa: na zona de estar, integração da sala de estar com a cozinha, comumente chamada de cozinha-americana, como mostra a FIGURA 25; e na zona de dormir, associação ou isolamen to entre os quartos por conta da divisão por portas de correr entre cômodos, visto na FIGURA 26 (FINKELSTEIN, 2009).
Fonte: Site Fundação Le Corbusier. Disponível em: <http://www.fondationlecor busier.fr/>. Acesso em: 01 fev. 2022. Fonte: Site ArchDaily. Disponível em:
portaFIGURAde-de-habitacao-le-corbusier>.daily.com.br/br/783522/classicos-da-arquitetura-unida<https://www.archAcessoem:01fev.2022.26-Ambientedodormitóriocomdivisóriaemdecorrer
FIGURA 25 - Estrutura interna da unidade habitacional composta por painéis leves e elementos pré-fabricados. Ambiente da cozinha caracterizado por ser “aberto” e integrado ao espaço social da sala
Fonte: Adaptado de Costa (2017, p. 15). setor social setor íntimo A: planta de apartamento tipo superior B: planta de apartamento duplex altenado C: planta de apartamento tipo inferior 1: indicação da FIGURA 25 2: indicação da FIGURA 26 áreas molhadas A 1CB 2 2 1
Outro projeto referencial de Le Corbusier e de grande escala é o conjunto habitacional de uso misto Unité d’habitation de Marseille (FIGURA 23), localizado na França e concluído em 1956. Neste projeto, um dos aspectos mais relevantes é a organização interna das unidades habitacio nais, pois tratou-se de uma resposta arquitetônica inovadora à época e ainda é considerado hoje um modelo de habitação coletiva mundial. O edifício apresenta o ideário rigidamente moderno: modularizado, retilíneo e racional. Construído em concreto armado aparente, explora o concei to de modulação (a relação de proporções métricas estabelecidas pelo Modulor) e possui uma composição estética como uma série coordenada, caracterizada pelas cores primárias: azul, ver melho e amarelo. Dividido em 337 apartamentos com pé-direito duplo em 17 pavimentos e com 23 tipologias de unidades habitacionais, ele foi destinado a comportar diferentes arranjos familiares, “desde solteiros, casais sem filhos e casais com até oito filhos” (FILKELSTEIN, 2009, p. 35). Sua planta é independente de elementos estruturais e organizada com vedações leves e elementos pré-fabri cados (JORGE, 2012).
FIGURA 24 - Plantas baixas Unité d’habitation de Marseille
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ambientesFIGURA 28 - Uma das configurações de planta com presença dos núcleos molhados fixos e divisórias internas flexíveis, com existên cia da planta livre de elementos estruturais
FIGURA 31 - Categorias básicas de flexibilidade arquitetônica: flexibilidade inicial e flexibilidade contínua
Fonte: Adaptado de Jorge (2010, p. 50). Outro arquiteto relevante neste contexto é Mies van der Rohe Em suas obras, o maior desta que é para o conceito da flexibilidade funcional em seus espaços. Em seus escritos, defendeu que a complexidade das necessidades humanas requer flexibilidade. Sendo assim, teve como princípio que a construção de uma estrutura independente, chamada de “esqueleto”, é a solução de sistema estrutural mais apropriada para tal fim. Mies entendia que o princípio da flexibilidade era moderno e estabeleceu em seus projetos os elementos fixos essenciais, permitindo que fosse possível obter liberdade para mudanças iniciais e posteriores ao projeto, de acordo com a vontade do próprio usuário (FINKELSTEIN, 2009). Ademais, os atributos da flexibilidade incorporados aos seus projetos eram, sobretudo, marcados pela presença de grandes vãos livres, pela livre organização da planta e pela distinção entre elementos estruturais ou não-estruturais (JORGE, 2012).
FIGURA 29 - Diferentes tipologias de plantas baixas no Edifício Weissenhof marcadas novamente pelo estabelecimento do espaço da cozinha e do banheiro, contendo mudanças nas subdivisões dos demais
FIGURA 27 - Edifício Weissenhof Fonte: Jorge (2010, p. 12). Fonte: Autora (2022). Fonte: Jorge (2010, p. 12). Fonte: Adaptado de Jorge (2010, p. 17).
FIGURA 30 - Schröder House e sua planta livre modificável. (A) opção fechada; (B) opção aberta
3.2 TIPOS DE FLEXIBILIDADE ESPACIAL O conceito de flexibilidade remete “à capacidade de adaptação da moradia, incluindo o potencial de realizar mudanças e adequações antes da sua ocupação e também durante o tempo de permanência ou uso” (LOGSDON et al., 2019, p. 1553). Todavia, é importante complementar que a flexibilidade não está relacionada somente à adaptação, mas também à sobreposição de funções que são exercidas no determinado espaço (BRANDÃO, 2002). Para Brandão (2002), existem duas categorias básicas de flexibilidade arquitetônica, as quais norteiam quanto à fase de uso: flexibili dade inicial e flexibilidade contínua ou posterior (FIGURA 31).
Um dos projetos mais notáveis do Mies é o edifício Weissenhof localizado em Stuttgart, na Alemanha, de 1927. Trata-se de uma construção de moradias de aluguel, em que havia o limitador de gastos por conta da pouca disponibilidade de recursos. O projeto se deu a partir de uma estru tura de “esqueleto” invisível, acobertado pelo fechamento externo em alvenaria. No interior, con tava com núcleos fixos de instalações sanitárias, correspondentes aos banheiros e às cozinhas, e os demais ambientes eram tratados de maneira independente e diferenciados, separados por divisórias móveis, como mostra a FIGURA 27, FIGURA 28 e FIGURA 29 (FINKELSTEIN, 2009). Tanto nos seus projetos residenciais realizados quanto nos seus projetos de edifícios, “a questão da flexibili dade do espaço, através do uso da estrutura independente e da planta livre, seria uma constante” (FINKELSTEIN, 2009, p. 105). O arquiteto Gerrit Rietveld também teve muita contribuição nos interiores adaptáveis. Com sua influência holandesa, projetou um ícone de residência em 1924, chamado Schröder House, localizado em Utrecht, sendo que “liberdade e independência foram premissas que conduziram o desenvolvimento do projeto da residência transformável” (JORGE, 2012, p. 115). A intenção do pro jeto foi dar voz ativa ao usuário, para intervir nas transformações do espaço de acordo com suas intenções. A planta é caracterizada por ser livre, flexível, modificável, sem elementos estruturais no seu interior e sem restrições das esquadrias (FIGURA 30). Desta forma, divisórias móveis permi tem modificar a configuração dos ambientes, fazendo com que se integrem ou se isolem, criando inúmeras possibilidades. Afinal, o projeto é considerado um exemplo clássico do instrumento de adaptabilidade possibilitado pela existência da planta livre e divisórias móveis.
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Fonte: Brandão (2002, p. 357). setor social núcleos de áreas molhadas fixas áreas molhadas fixas: banheiro e cozinha circulação piso superior - opção A piso superior - opção B 1. estar e jantar 2. trabalhar/dormir 3. dormir 4. banho 5. wc 6. circulação 7. armários 8. varanda ocorre antes da ocupação ou no início da cons trução, oferecendo possibilidades de escolha do projeto e/ou personalização da moradia para os futuros moradores. ou seja, corresponde à fase de concepção do projeto e permite que o usuá rio participe de algumas decisões técnicas (BRANDÃO, 2002; LOGSDON, 2019)
FLEXIBILIDADE INICIAL FLEXIBILIDADE CONTÍNUA ocorre após a ocupação da moradia, oferecendo possibilidades de modificar o espaço por meio de estratégias durante o seu uso, a partir de reformas ou de adaptações (BRANDÃO, 2002; LOGSDON, 2019)
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Ainda de acordo com Brandão (2002), existem diversas formas de agrupar as tipologias de flexibilidade, mas muitas são equivalentes. Assim sendo, o autor estabelece cinco grupos funda mentais, os quais serão norteadores neste trabalho: diversidade tipológica, flexibilidade propria mente dita, adaptabilidade, aplicabilidade e possibilidades de junção/desmembramento. Estes tipos de aplicação da flexibilidade podem ser encontrados em conjunto ou separadamente nos projetos. Enquanto um projeto pode apresentar instrumentos relacionados a um grupo, outro pro jeto pode apresentar instrumentos ligados a vários deles. Destarte, pode ser determinado o grau de flexibilidade de um projeto e traçar comparativos com outros numa análise crítica (LOGSDON, 2019).
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da moradia popular, o projeto Residencial Parque Novo Santo Amaro V (FI GURA 32), do escritório Vigliecca & Associados, é um destaque neste quesito de flexibilidade. Lo calizado na zona sul de São Paulo-SP, o empreendimento possui prédios de cinco a sete andares, totalizando 201 unidades habitacionais de onze tipologias diferentes, variando entre 52,5 a 76,5 me tros quadrados (GONÇALVES et al., 2019), as quais possuem dois a três dormitórios, apartamentos duplex e alternativas adaptáveis para deficientes físicos. A FIGURA 33, 34 e 35 mostram dois tipos de plantas das moradias, sendo: a FIGURA 33 demonstra unidades de apenas um andar, enquanto a FIGURA 34 e 35 exemplificam a tipologia do apartamento duplex.
Fonte: Site ArchDaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/623191/residencial-parque-novo-santo-amaro-v-slash-vigliecca -and-associados>. Acesso em: 09 mar. 2022.
3.2.1 Diversidade tipológica A diversidade tipológica é um tipo de flexibilidade que pode ser aplicada em qualquer pro jeto habitacional, seja casa ou apartamento. Relaciona-se com a pré-concepção de um empreen dimento com várias tipologias de plantas, sobretudo no que diz respeito ao número de quartos e a diferenciação das áreas privativas, com o intuito de atender uma maior diversidade de arranjos familiares que demandam necessidades diferentes da moradia. Geralmente, este tipo de flexibi lidade é mais adotado em empreendimentos de médio a alto padrão e/ou em construções com grande número de unidades habitacionais, por conta dos custos gerados (BRANDÃO, 2002; LOGS DON, 2019).Nosegmento
FIGURA 32 - Vista da implantação do Residencial Parque Novo Santo Amaro V, São Paulo-SP
FIGURA 33 - Planta baixa do bloco 03 Residencial Parque Novo Santo Amaro V - unidades habitacionais de um pavimento
FIGURA 34 - Planta baixa do bloco 03 Residencial Parque Novo Santo Amaro V - unidades habitacionais duplex (primeiro piso)
FIGURA 35 - Planta baixa do bloco 03 Residencial Parque Novo Santo Amaro V - unidades habitacionais duplex (segundo piso)
Fonte: [FIGURA 33, 34 e 35] Adaptado de site ArchDaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/623191/residencial-parque-novo -santo-amaro-v-slash-vigliecca-and-associados>. Acesso em: 09 mar. 2022.
3.2.2 Flexibilidade propriamente dita A flexibilidade propriamente dita é regida por estratégias que permitem ter uma planta mais livre e dá a liberdade do usuário em definir seu layout (LOGSDON, 2019). De acordo com os estudos de Logsdon (2019), são cinco diretrizes da flexibilidade que podem ser aplicadas a qualquer tipo de moradia (casa ou apartamento): (1) planta livre, possibilitada pela ausência de divisórias ou adoção de divisórias móveis e pela modulação da estrutura; (2) compartimentação interna marcada pelo uso de divisórias e/ou de mobiliários removíveis, os quais oportunizam novas organizações espa ciais; (3) adoção de formas geométricas simples ou padronizadas nos quartos; (4) não locação de pontos centrais de iluminação; (5) posicionamento das aberturas (portas e janelas) estratégico de maneira a viabilizar mudança de layout sem comprometê-las. unidades habitacionais
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Além destes, tem-se outras seis diretrizes que podem ser usadas em projetos de apartamen tos: (1) minimização da estrutura, estrutura independente e/ou existência de grandes vãos para proporcionar ambientes mais livres; (2) definição do núcleo central, chamado core, com intenção de agrupar áreas molhadas em um núcleo comum, como cozinhas, áreas de serviço e banheiros, e separá-las das áreas secas; (3) desvinculação das instalações especiais das alvenarias, dando preferência para o uso de shafts ou alternativas similares; (4) concentração das instalações em locais específicos de forma organizadas, de modo que facilite sua fácil substituição ou alteração; (5) instalação dos condutos sobre forros ou pisos elevados; (6) concepção do invólucro exterior independente da concepção interior, potencializando o conceito de fachada livres, neutras e dinâ micas (LOGSDON, 2019). Um projeto que exemplifica esta categoria é o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, projetado pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha, com o intuito de criar um modelo de habitação social de grande escala no país (FIGURA 36). O projeto tem como característica a planta livre, a estrutura independente e o conceito de fa chada livre. A planta da unidade-tipo possui 64 metros quadrados, conforme mostra a FIGURA 37, e possui a concentração dos equipamentos hidráulicos e de serviços na mesma zona, formando um núcleo central com parede em alvenaria. Os demais espaços são constituídos por divisórias de nove centímetros que permitem modificações e possibilidades de novos layouts internos, represen tando o conceito de flexibilidade propriamente dita (CERÁVOLO, 2007).
FIGURA 36 - Vista dos blocos do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado Fonte: Site Nelson Kon. Disponível em: <http://www.nelsonkon.com.br/conjunto-habitacional-cecap/>. Acesso em: 09 mar. 2022.
FIGURA 37 - Planta baixa unidade habitacional do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado: nota-se o núcleo da concentração das áreas molhadas separadamente das áreas secas Fonte: Adaptado de Maia (2008, p. 69). 3.2.3 Adaptabilidade A adaptabilidade é um conceito que se relaciona com assegurar a polivalência do ambien te, mesmo com a sua descaracterização funcional (BRANDÃO, 2002). Segundo Brandão (2002, p. 132), neste critério “a ênfase está em possibilitar funções simultâneas para o mesmo ambiente ou, ainda, a troca de função, com facilidade e rapidez, sem construção, por meio de divisórias móveis ou, simplesmente, pela versatilidade na utilização do mobiliário”.
Podem ser adotadas as seguintes estratégias, de acordo com os estudos de Logsdon (2019): (1) compartimentação ambígua, neutralidade espacial e baixa hierarquia: quando os ambientes possuem formas e dimensões semelhantes, sem usos pré-determinados e comportam atividades alternativas sem grandes modificações; (2) junção ou sobreposição de funções nos ambientes: pro porcionado pela versatilidade da mobília e/ou adoção de divisórias móveis entre cômodos, permi tindo que o espaço seja modificado a qualquer momento, em qualquer hora do dia, para contem plar a atividade desejada; (3) uso de mobiliário polifuncional; (4) alternância das relações entre os espaços: possibilidade de fazer alterações previstas e reversíveis entre os ambientes, que pode ser obtida por meio dos elementos deslocáveis. setor social áreas molhadas fixas circulação 1. sala 2. dormitório 3. cozinha 4. banheiro 5. serviços 6. acesso 4 5 6
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Um exemplo que sinaliza este conceito é o Conjunto Habitacional Yaití, localizado em Bogo tá, Colômbia, do escritório MGP Arquitectura y Urbanismo. A estratégia adotada tem como objetivo tornar a zona habitável flexível, com possibilidade de diversos arranjos de layout e correlações possíveis com o espaço. O projeto “aplicou o conceito de organização periférica dos núcleos hi dráulicos de cozinha e de dois sanitários, com apenas um cômodo fixo dedicado à suíte princi pal da habitação, e um amplo ambiente indefinido habitável que permite abrigar o uso social [...]” (JORGE, 2012, p. 257). A planta apresentada na FIGURA 38 mostra a condição plural da habitação, relacionando aos diversos arranjos familiares que se correlacionam.
FIGURA 38 - Opções de layouts adaptáveis no Conjunto Habitacional Yaití correlacionados com arranjos familiares diversos
FIGURA 41 - Imagem 3D do apartamento multifuncional, cômodo com mobiliário polifuncional e sobreposição de funções
Fonte: Jorge (2012, p. 258). Outro exemplo que chamou a atenção foi o lançamento de microapartamentos com di mensão de 10 metros quadrados na cidade de São Paulo no ano de 2017, como mostra a planta na FIGURA 39. No projeto é previsto espaço para banheiro, sofá-cama, TV, guarda-roupa, pequena bancada e mesa, mas isso só é possível por conta da sobreposição de funções dos ambientes e da polivalência dos mobiliários, que garantem a adaptabilidade do espaço. Conforme mostram as FIGURAS 40 e 41, o sofá-cama é dobrável, alternando-se entre cama e sofá, e o armário embutido possui diversas finalidades, como painel de TV, mesa dobrável e roupeiro. Apesar da polivalência planejada ao espaço, entende-se que o uso deste artifício ao extremo assume riscos para a er gonomia de uma boa arquitetura. Respeitar o espaço ergonomicamente significa propiciar o con forto, a segurança e a eficiência das atividades tendo em vista os espaços mínimos de circulação, necessidades e limitações físicas.
FIGURA 39 - Planta baixa do Studio com 10 metros quadrados, empreendimento lan çado pela construtora Vitacon em São Paulo
OPÇÕES DE DISTRIBUIÇÃO INTERIOR CONJUNTO HABITACIONAL YAITÍ núcleos hidráulicos periféricos suíte permanente zonas habitáveis flexíveis cômodo próximo à entradabanheiro adaptado
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FIGURA 40 - Imagem 3D do apartamento multifuncional, ambiente com agregação de funções: cozinha e área de serviço
Fonte: Site Veja. Disponível em: nor-apartamento-do-pais-custa-r-100-mil/>.<https://veja.abril.com.br/economia/com-10m2-meAcessoem:09fev.2022.
Fonte: Site Veja. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/economia/com-10m2-menor-apartamento-do-pais-custa-r-100-mil/>. Acesso em: 09 fev. 2022.
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41 3.2.4
3.2.5 Junção e desmembramento Esta última tipologia é aplicada exclusivamente para habitações multifamiliares. A junção ou desmembramento difere-se da ampliabilidade porque, neste caso, juntam-se duas unidades residenciais para formação de uma ou desmembra-se uma para a criação de duas, enquanto na outra junta-se ou desmembra-se apenas uma parte. Para ser possível aplicar o conceito, é preciso prever soluções de projeto que possuam uma quantidade maior de acessos e de ligações entre as unidades, para que não prejudique a entrada e a saída dos usuários (BRANDÃO, 2002). FIGURA 42 - Planta baixa pavimento térreo da habitação Quinta Monroy com previsões de espaços para futuras ampliações
Fonte: Adaptado de site ArchDaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-28605/quinta-monroy-elemental>. Acesso em: 09 mar. 2022.
Fonte: Site ArchDaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-28605/quinta-monroy-elemental>. Acesso em: 09 mar. 2022. unidades habitacionais zonas reservadas para futuras ampliações
FIGURA 43 - Comparação a fase de entrega do projeto e a fase pós-ocupação com emprego da estratégia de ampliabilidade
Ampliabilidade A ampliabilidade pode ser vista em duas possibilidades: externa ou interna, sendo que a externa tem relação com a adição de peças e a interna com a disponibilidade de espaços internos que podem ser aproveitados futuramente (BRANDÃO, 2002). Ambas podem ser aplicadas em casas, mas em apartamentos é possível a interna aplicada por meio de terraços, sacadas ou ambien tes vazios pré-concebidos que podem ser incorporados e usados pelo morador. Entretanto, uma das alternativas para aplicar a ampliabilidade externa para projetos multifamiliares é oportunizar condições para que uma peça da habitação seja agregada à unidade habitacional adjacente (LO GSDON,Desse2019).modo, portanto, tem-se duas estratégias para ampliabilidade para apartamentos, sobretudo: (1) projetar sacadas, terraços ou estruturas que possam ser posteriormente incorpora das à moradia pelo morador e adaptadas conforme sua preferência; (2) pensar o projeto para que seja possível incorporar peças da unidade habitacional vizinha na própria unidade (LOGSDON, 2019). Brandão (2002, p. 144) cita um exemplo que, “em apartamentos contíguos, um é privado de um dormitório o qual é agregado à outra planta adjacente. É uma solução que depende obviamente da redução das necessidades do usuário da unidade cedente ou da diminuição de seu núcleo fa miliar”. Ademais, há a possibilidade de se prever aberturas ou divisórias, para agregar ou separar apartamentos. O exemplo da FIGURA 42 mostra uma planta do projeto de habitação de interesse social Quinta Monroy, localizado no Chile, que foi concebida pelo arquiteto Alejandro Aravena. Trata-se de um projeto que teve como intenção entregar apenas uma parte da habitação, correspondente a 30 metros quadrados (contendo os ambientes: banheiro, cozinha, escadas e paredes divisórias), prevendo espaços que podem ser incorporados à moradia como peças e elementos definidos pelo próprio usuário, alcançando uma área de até 70 metros quadrados. A FIGURA 43 mostra a com paração entre o edifício habitacional pré-concebido e o resultado do projeto após a aplicação da estratégia de ampliabilidade.
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FIGURA 44 - Apartamento de 50 metros quadrados do tipo beach villa ge que pode ser dividido em dois apartamentos menores: um com sala e quarto de 33 metros quadrados, e outro sem sala de 17 metros quadrados
3.2.6 Considerações gerais De maneira geral, após a elucidação das tipologias e das formas de aplicação da flexibili dade, Brandão (2006) apresenta outras seis diretrizes que permitem maximizar a versatilidade dos ambientes em habitações, inclusive nas habitações de interesse social. Elas podem ser combina das e são divididas em: (1) cômodos ou ambientes reversíveis; (2) cômodos multiuso; (3) alternância em isolar e integrar; (4) pequena hierarquia entre ambientes; (5) inserção de acessos e comunica ções adicionais; (6) mobiliário planejado e desvinculado da estrutura.
Complementarmente, Brandão (2002) apresenta em seus estudos um resumo com treze re quisitos básicos que contribuem para a moradia resistir à obsolescência e responder positivamen te às transformações e às demandas dos usuários, os quais são importantes citar. São eles:
42 O exemplo apresentado pela FIGURA 44 é uma planta de um apartamento de praia localiza do em Florianópolis-SC. Em sua configuração possui dois acessos distintos, conforme mostram as setas, sendo um deles direto para a porção maior e outro para a porção menor. Entre eles, existe uma porta de ligação que, dependendo de como for utilizado, pode ser considerado um aparta mento com dois dormitórios ou dois com um dormitório. A alternativa criada pode ser uma opção para o proprietário usar uma parte do apartamento enquanto pode alugar a outra em momentos oportunos do ano.
Fonte: Brandão (2002, p. 148). (1) ambientes devem evitar tamanhos extremos na unidade habitacional; (2) as formas dos ambientes devem ser neutras, ou seja, simples; (3) as aberturas (portas e janelas) devem ser previstas para poder oportunizar uma variedade de usos; (4) os pontos de iluminação ou semelhantes devem fugir da centralidade dos ambientes, com intuito de evitar demarcação do espaço; (5) evitar extrema variações dos tamanhos das aberturas em fachadas; (6) o planejamento do todo deve prever diferentes funções das peças/ambientes; 3.3 A FLEXIBILIDADE COMO PRINCÍPIO QUALITATIVO DE PROJETO NA HABITAÇÃO SOCIAL RESIDENCIAL MULTIFAMILIAR A flexibilidade pode ser entendida como um mecanismo que permite transformar a moradia no decorrer do tempo, para que seja compatível com o usuário e com a diversidade dos modos de vida existentes. A crescente demanda por moradias flexíveis se explica por conta do surgimento de novos arranjos familiares, da diversificação demográfica, do novo papel social da mulher, da queda de fecundidade e do envelhecimento da população (VILLA, 2012). Ademais, “a casa exerce um papel crucial na definição da identidade pessoal e social das pessoas” (BRANDÃO, 2011, p. 74) e comumente os usuários tendem a caracterizar os espaços conforme costumes e comportamen tos pessoais. Todavia, os empreendimentos habitacionais, sejam eles privados ou públicos, qua se sempre replicam plantas que possuem “excessiva compartimentação e tripartição de setores” (BRANDÃO, 2011, p. 76), reprimindo fazer facilmente alterações desejadas. Somando a questão da flexibilidade à da qualidade habitacional, entende-se que ambas são substanciais e complementares para um bom projeto de habitação. Enquanto a flexibilidade objetiva acomodar no espaço as mudanças da vida e dos usuários (BRANDÃO, 2004), o conceito de qualidade representa adequar as necessidades e os desejos dos usuários tendo em vista os meios técnicos oferecidos (DIGIACOMO, 2004). Baseado nas exigências de qualidade estudadas por Pedro (2000), os itens de qualidade fundamentais são: habitabilidade, segurança, adequação espaço-funcional, articulação, personalização, estética e economia. O destaque neste trabalho vai para a personalização, pois diz respeito aos espaços que permitem a apropriação e a adapta ção (BRANDÃO, 2011). Sendo assim, conclui-se que, em suma, para garantir um atributo da qualida de habitacional é essencial pensar na flexibilidade.
(7) as cozinhas e os banheiros devem ter dimensões suficientes para uso, consi derando equipamentos móveis e fixos; (8) a instalação de shafts ou de núcleos centrais devem estar previstos na estru tura básica do edifício, considerando também facilidade de acesso e de inspe ção;
(12) é interessante prever uma sala “reserva” para comportar possíveis ativida des, como segunda sala de estar, sala de estudos, escritórios, novo dormitório, etc.;
(9) o planejamento da forma deve prever uma variedade de conexões entre as (10)peças;não incluir nenhum mobiliário na estrutura do edifício;
(11) tratar a circulação do interior da unidade como uma “sala” e não apenas como um acesso ou distribuição entre cômodos, pois podem servir como peças;
(13) o tipo de construção deve admitir menores custos para alterar ou modificar peças, sendo as alternativas possibilitadas a custos mínimos.
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Em termos de programa arquitetônico mínimo, Digiacomo mostra que Além disso, “a habitação é um produto que está sujeito a uma gama de mudanças” (LOGS DON, 2019, p. 127). Caso o espaço não seja adaptável para comportá-las, a moradia tende a ser obsoleta ou inflexível, comprometendo a qualidade arquitetônica habitacional. Neste aspecto, é importante observar que a chamada “obsolescência programada” faz parte de uma estratégia de mercado que influencia as pessoas a, de tempos em tempos, procurarem adquirir novos produtos, tendo em vista a inutilidade do seu bem após atingir o seu tempo de vida útil determinado.
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[...] para cada situação particular os projetistas devem prever o nú mero de ambientes, tipologia, forma do lote, implantação da unidade e quantidade de pavimentos do programa mínimo. Mas este deve ser suficiente para que seus ocupantes se instalem com dignidade quando for chegado o momento (DIGIACOMO, 2004, p. 122). “
No que diz respeito aos empreendimentos de habitação popular, é ainda mais limitado pen sar em se projetar moradias flexíveis e com bons parâmetros de qualidade, pois historicamente se construiu mais espaços rígidos e modelos replicáveis. Mais do que isso, muitas vezes a flexibilidade na habitação de interesse social foi tratada unicamente com a ideia de casa mínima ou habitação -embrião na moradia unifamiliar, sendo que há inúmeras possibilidades a serem exploradas. Con tudo, apesar do padrão das unidades habitacionais e das áreas mínimas construídas na mora dia social, as formas de aplicação da flexibilidade que foram apresentadas anteriormente devem ser mais exploradas, porque não dependem apenas delas (diversidade tipológica, flexibilidade, adaptabilidade, ampliabilidade, junção, desmembramento e suas diretrizes) para serem aplicadas (BRANDÃO, 2006).
FORMATOS
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4
Este capítulo apresentará as mudanças socioculturais e demográficas do Brasil a partir do século XX, em que o modelo patriarcal de família sofre rupturas e evidenciam-se ou tros arranjos familiares, chamados de contemporâneos. Mostra-se que diversos fatores influenciam nesse aspecto, como a emancipação feminina e o aumento da longevidade no país. Sendo assim, reflete-se como as mudanças contemporâneas influenciaram na dinâmica familiar e seus desdobramentos no espaço doméstico.
OS CONTEMPORÂNEOSFAMILIARES
Fonte: Dados extraídos do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa Nacional por Amos tragem de Domicílios/PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1995-2015. Elaboração da autora.
4.1 AS MUDANÇAS SOCIAIS E OS PERFIS FAMILIARES CONTEMPORÂNEOS
Além da queda da taxa de fecundidade, a redução da taxa de mortalidade e o aumento da esperança de vida são fenômenos que impactam diretamente na diminuição do tamanho das fa mílias (VILLA, 2012). Com os avanços tecnológicos, “o Brasil apresenta uma quantidade expressiva de idosos ativos e saudáveis, participativos social e economicamente, com um grau de autonomia que pode ser prorrogada através de um espaço físico que facilite as tarefas domésticas cotidianas e a acessibilidade” (JORGE, 2012, p. 90-91). Oferecidas boas condições que favoreçam a qualidade de vida dos idosos acima de 60 anos, garantindo autonomia e ampliando sua participação na vida econômica e social, surgem mudanças na posição familiar destes. De acordo com Villa (2012), cada vez mais as mulheres idosas aposentadas ocupam a posição de chefe de família, sendo provedo ras de filhos e/ou de netos, contribuindo com grande parte das despesas domésticas ou, como apresenta Jorge (2012), também tendem a constituir famílias unipessoais.
Outro fator relevante para as mudanças nos arranjos familiares foi a redução do número de casamentos, o aumento do número de separações e de divórcios e o crescimento de uniões não le galizadas (BERQUÓ, 1998). Isso faz com que se eleve o número de unidades domiciliares, sobretudo na cidade, pois demanda que os ex-cônjuges procurem outras residências para morar e, conse quentemente, constituem um novo grupo de família (VILLA, 2012). Ao mesmo tempo, outros tipos de grupos familiares surgem no cenário de transformação contemporânea, como é o caso de casais que procuram viver juntos na mesma residência, mesmo sem contratos sociais.
Os indicadores mostram que, no Brasil, esse processo de alteração na estrutura familiar foi significativo nos últimos 50 anos. Um dos principais indicadores é a taxa de fecundidade, que diz respeito à estimativa do número médio de filhos que uma mulher tem durante seu ciclo repro dutivo. Na década de 70 no Brasil, a taxa de fecundidade era de 5,8 filhos por mulher, caindo para 4,3 na década de 80 e para 3,5 na década de 90, o que representa uma queda de quase 40% em 20 anos (VILLA, 2012). Conforme os dados do IBGE (2021), ao longo dos últimos anos a taxa de fecundi dade manteve-se em declínio, chegando a 1,76 filhos por mulher no ano de 2020 (GRÁFICO 02).
A segunda metade do século XX e, sobretudo, o início do século XXI foram marcados por grandes mudanças socioculturais e demográficas no Brasil, as quais determinaram a composição de novos formatos familiares contemporâneos. A crise do modelo patriarcal de família (casais com filhos) contribuiu para a consolidação de outros grupos domésticos que, estatisticamente, come çam a ter participação mais expressiva na sociedade contemporânea (GRÁFICO 01). Além disso, há uma tendência “à passagem de uma família hierárquica para uma família mais igualitária” (BER QUÓ, 1998, p. 415). Assim sendo, certamente as significativas transformações impactaram direta mente no âmbito da arquitetura e do urbanismo, no modo de pensar o habitat e a cidade, pois são estes espaços, em diferentes escalas, que proporcionam a socialização entre indivíduos (VILLA, 2012). De acordo com Villa (2012), as transformações na sociedade continuam em curso e ainda afetam profundamente as estruturas familiares. As revoluções sociais, principalmente no que diz respeito à luta e à conscientização pela emancipação feminina na sociedade, contribuem para a desestruturação da família nuclear que por muito foi consagrada e aceita socioculturalmente como modelo (JORGE, 2012). As três revoluções determinantes são: (i) revolução contraceptiva , com a difusão da pílula anticoncepcional e outros métodos contraceptivos, dissociando a sexualidade da reprodução; (ii) revolução sexual , com a distinção da sexualidade e do casamento, onde o ca samento passou a ser apenas articulado ao afeto e à felicidade conjugal; (iii) revolução do papel social da mulher, com a inserção da mulher no mercado de trabalho, consequente independência financeira e perda da função de “dona de casa” consagrada historicamente (VILLA, 2012).
Fonte: Dados extraídos do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 20062020. Elaboração da autora.
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GRÁFICO 02 - Taxa de fecundidade (filhos por mulher), Brasil - 2006 a 2020. Constata ção do decréscimo do índice e consequente redução do número de filhos por mulher ao longo dos anos e do tamanho das famílias
GRÁFICO 01 - Distribuição percentual dos tipos de composições familiares, segundo sexo do/a chefe de família, Brasil - 1995/1999/2005/2009/2015. Constatação do decréscimo do arranjo familiar tradicional (família nu clear - casal com filhos) e ascensão dos outros formatos
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Além dos dados já mencionados, é importante evidenciar os números relacionados às fa mílias em situação de pobreza e extrema pobreza na Região Metropolitana do Espírito Santo, con tabilizadas a partir das famílias inscritas pelo CadÚnico7 (IJSN, 2021). De acordo com os dados do IJSN (2021), são 179.868 famílias nessa situação, sendo 81,7% chefiadas por mulheres. Este índice pode sugerir, além da crescente emancipação feminina na sociedade, a dupla jornada de trabalho exercida pelas mulheres: o trabalho remunerado fora do lar e o trabalho doméstico não remune rado. Apesar das mudanças contemporâneas, percebe-se que o espaço do habitat e a instituição família continuam sendo um território prioritariamente feminino. Se, por um lado, a participação da mulher no mercado se intensificou, por outro, este aumento não foi acompanhado de uma dimi nuição das atividades realizadas no lar. Nesse contexto, as mulheres chefes de família costumam se dispor mais ao trabalho, ao mesmo tempo que ocupam empregos de menor prestígio social que os homens, sendo, consequentemente, muito mais mal pagas (PACHECO, 2005). Assim sendo, em maior número, são chefes de famílias integrantes de programas e/ou benefícios sociais por conta da situação de vulnerabilidade econômica em que se encontram.
É importante dizer também que a família brasileira era composta por, em média, 5 pessoas em 1960 e 3,87 pessoas em 1990 (VILLA, 2012). A partir dos anos 2000, o tamanho médio da família continuou a decair, sendo em 2002 composta por 3,62 pessoas, em 2008 por 3,3 e em 2018 por 3 pessoas (IBGE, 2019). Os arranjos familiares contemporâneos são: família nuclear, unipessoal, mo noparental, extensa ou reconstituída, casais DINC, casais homoafetivos (FIGURA 45).
FIGURA 45 - Arranjos familiares contemporâneos plurais e seus ciclos de vida, conforme dados censitários brasileiros
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GRÁFICO 03 - Proporção de famílias chefiadas por mulheres/homens, Brasil - 1995/1999/2005/2009/2015. Constatação do aumento do índice e quase equiparação
Fonte: Jorge (2012, p. 92). Fonte: Dados extraídos do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa Nacional por Amos tragem de Domicílios/PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1995-2015. Elaboração da autora.
6 Considerando os municípios de Aracruz, Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória.
Sendo assim, por conta dos processos de mudança dos modos de vida das pessoas, há o fortalecimento de novos formatos familiares, chamados contemporâneos, sobretudo na área ur bana. Como comenta Villa (2012, p. 12) “os valores tradicionalmente associados à família apoiados no princípio que atrelava sexualidade, reprodução e casamento passam a gradativamente serem transformados” e, por isso, atingem a estrutura familiar doméstica. Mesmo que ainda haja um nú mero majoritário de famílias nucleares (casais com filhos), dados, como demonstra o GRÁFICO 01, mostram que houve uma redução deste arranjo no Brasil e indicam também, no GRÁFICO 03, que houve aumento expressivo da chefia feminina neste núcleo familiar.
GRÁFICO 04 - Distribuição percentual das tipologias das famílias na Região Metropolitana da Grande Vitória, Espírito Santo - 2010, à esquerda; Distribuição percentual das tipologias das famílias nucleares na Região Metropolitana da Grande Vitória, Espírito Santo - 2010, à direita Fonte: Dados extraídos do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. Elaboração da autora.
Na RMGV6 , segundo dados do último Censo Demográfico (IBGE, 2010), o número de domicílios é de 1.101.394, dos quais 12,08% representam as famílias unipessoais, 69,30% as nucleares, 16,36% as estendidas e 2,25% as compostas. Dentre as famílias nucleares, o maior índice corresponde ao ca sal com filhos, sendo correspondente a 42,49% desse total (GRÁFICO 04). Dentro da família nuclear, outro índice representativo é a taxa de mulheres com filhos, sendo 10%, e a taxa de homens com filhos, representado por 1,52%. Numa comparação com o cenário brasileiro, apresentado no GRÁ FICO 01, vê-se uma similaridade entre as taxas e a continuidade do cenário a nível metropolitano.
7 Famílias com renda mensal per capita de até ½ salário mínimo ou renda mensal total de até três salários mínimos.
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FIGURA 47 - Espaço para home office compartilhado com suíte, idealizado para possibilitar rotina de trabalho confortável de casa
Em um país marcado pelo modelo familiar patriarcal, como é o caso do Brasil, a habitação socioculturalmente refletiu a hierarquização dos espaços por conta da estrutura familiar tradicio nal. Quartos com banheiros exclusivos (quartos suítes), ambientes com áreas menores e/ou espa ços secundários dentro da moradia comumente são projetados (FIGURA 46). Entretanto, Montaner et al. (2011) comentam que a diversidade dos grupos e das suas relações demandam o mecanismo de desierarquização arquitetônica e nas relações entre os indivíduos. Consequentemente, estas soluções não são adequadas para o lar de uma família contemporânea. Os modos de vida contem porâneos já não possuem a mesma estabilidade da família burguesa do século XIX, a qual requisi tava seus espaços rigidamente hierárquicos, e passam por reestruturações constantes, até mesmo para readequação das necessidades ao longo da vida, as quais são indeterminadas (espaços para abrigar bebês, crianças/adolescentes em crescimento, idosos, pessoas com necessidades especiais…).Anão
hierarquia entre os espaços é tida como critério qualitativo essencial para a casa do século XXI, tanto como a previsão de espaços para trabalhos produtivos e a adaptabilidade dos ambientes (MONTANER; MUXÍ, 2010). A desierarquização dos espaços favorece a individualidade de cada membro familiar, enquanto a previsão de espaços para trabalhos (FIGURA 47) também têm se tornado indispensáveis na configuração da sociedade contemporânea, sobretudo após as consequências advindas da pandemia da COVID-19. Para Montaner et al. (2011), a habitação deve possibilitar a realização de inúmeras tarefas, combinando o individual e o coletivo, como momen tos juntos versus individuais; momentos de descanso versus trabalho. Uma das alternativas a ser incentivada é a partilha dos ambientes, com intuito de evitar tarefas domésticas solitárias ou indi viduais. A integração dos ambientes sala e cozinha (FIGURA 48) representa bem este processo, pois torna-se um espaço de tarefa e de lazer que pode ser partilhado por todos (MONTANER et al., 2011). MONTANER et al. (2011) evidenciam que o racionalismo tentou projetar a habitação social aos moldes do padrão da família burguesa do século XIX, individualista, e apostou pouco em es paços mais comunitários, a exemplo de áreas de lazer e de tarefas comuns. De certo, a figura do homem ou de família ideal já não se sustentam na contemporaneidade do século XXI, uma vez que a pós-modernidade mostrou que não é possível ver a moradia sob a ótica de apenas uma tipologia familiar ou de uma pessoa ideal, especialmente às classes de renda baixa. É possível afirmar que a sociedade contemporânea é diversa, composta por várias identidades e estruturas familiares. Portanto, em termos de arquitetura, reafirma-se que a flexibilidade tem sido resposta às transfor mações socioculturais e ao desabrochar da multiplicidade de famílias, como forma de solucionar as lacunas habitacionais recentes.
FIGURA 48 - Projeto decorado da habitação social Vista da Re serva, Serra-ES. A cozinha e a sala são integrados por um balcão em marcenaria
47 4.2 REFLEXOS DA CONTEMPORANEIDADE NA ARQUITETURA RESIDENCIAL
Fonte: Site Morar Construtora e Incorporadora. Disponível em: <https://morar.com.br/imoveis/vista-de-bicanga/>. Acesso em 03 abr. 2022.
FIGURA 46 - Modelos de plantas baixas projetadas para famílias nucleares em habitações sociais na RMGV. Evidencia-se a hierarquização dos ambientes: à esquerda, presença do quarto de serviço como espaço secundário e de menor área útil; à direita, presença do quarto suíte, de área útil maior
Fonte: Site Morar Construtora e Incorporadora. Disponível em: <https://morar.com.br/blog/decorado-vista-da-reserva/>. Acesso em 03 abr. 2022.
As mudanças contemporâneas e o surgimento de novos arranjos familiares mudaram a di nâmica familiar no espaço doméstico. Como afirma Brandão (2006, p. 16), “a organização do espaço e o projeto devem ser compatíveis com diferentes padrões de vida no decorrer do tempo, ou seja, com multiplicidade de usos”, e a arquitetura tem grande responsabilidade neste processo. Solu ções de projeto que conduzem à obsolescência das moradias não são interessantes, uma vez que há evidências da constante evolução da sociedade e há a necessidade da criação de espaços po livalentes. Desse modo, portanto, remete-se à flexibilidade como objetivo de projeto para garantir soluções adequadas às transformações familiares ao longo dos tempos. A necessidade de se projetar habitações mais flexíveis se explica por diversos fatores: 1) diversificação demográfica e modos de vida contemporâneos; 2) mudança do perfil feminino na sociedade; 3) coexistência do morar e do trabalho no mesmo espaço (sobretudo após o início do período pandêmico em 2020); 4) avanço da tecnologia, surgimento de novos equipamentos, tecno logias e mídias que dispõem o lar para muitas outras funcionalidades (BRANDÃO, 2006).
Fonte: Site Habitare. Disponível em: -classico-e-o-contemporaneo/>.com.br/decoracao/suite-com-espaco-para-home-office-une-o<https://www.revistahabitare.Acessoem03abr.2022.
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48 5 Este capítulo tem como objetivo analisar projetos que manifestam instrumentos, concei tos ou princípios apresentados anteriormente, com intuito de servirem como base para intervenção ESTUDOSprojetual. DE CASOS
0706 08 08 08 08 08 08 08 08 08 02 02 02 02 02 02 020201 0101 0101 0101 01010101 0101
01.
Fonte: Adaptado de Cerávolo (2007, p. 70). 05 04 habitação 02. comércio da freguesia 03. centralcomércio 04. centro esporte
ARQUITETOS: João Batista Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha ANO: LOCALIZAÇÃO:1967 Guarulhos, São Paulo, Brasil A proposta dos arquitetos para o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado (FIGURA 49) foi de esta belecer um novo modelo de habitação social em larga escala, retratando a arquitetura modernista e os princípios corbusianos por meio dos espaços. A preocupação se pautava nos aspectos da autonomia, da flexibilidade e da mutabilidade do sistema arquitetônico. Por conta da grande escala do empreendimento, houve também a previsão de espaços para outras atividades, como equipamentos comunitários e serviços coletivos. As habitações foram projetadas em blocos de três pavimentos sob pilotis, sendo eles dispostos em duas fitas lineares sem corredores, conectados por um núcleo de circulação vertical e horizontal. O projeto é formado pelas chamadas “freguesias”, corroborando com a identidade da superquadra modernista, em que, para cada uma, projetou-se um conjunto de edifícios com seus equipamentos urbanos (MEDEIROS, 2014).
O CONJUNTO A área inicial do conjunto utilizada para o projeto era cerca de 1.780.000 metros quadrados, com previsão de 10.680 unidades para 55.000 habitantes, organizados em edifícios de três pavimen tos sob pilotis, dispostos em freguesias, totalizando 32 edifícios. Cada setor abrangeria um raio de 150 metros. Para atender a este raio, foram previstos serviços coletivos, como equipamentos de ensino, de saúde e de lazer (FIGURA 50). Nesse sentido, a ideia era valorizar o conceito moderno de unidade de vizinhança ou superquadra. Cada fita linear era formada por dois blocos de aparta mentos interligados por um núcleo de circulação com jardim sombreado (FIGURA 51). Entretanto, a área prevista não foi usada em sua totalidade durante a construção (CERÁVOLO, 2007).
FIGURA 49 - Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado (CECAP)
01 03 04 04 04 04 04 04
49 5.1 CONJUNTO HABITACIONAL ZEZINHO MAGALHÃES PRADO (CECAP)
FIGURA
Fonte: Site Nelson Kon. Disponível em: <http://www.nelsonkon.com.br/conjunto-habitacional-cecap/>. Acesso em: 01 mai. 2022. 50 - Implantação de todas construções no terreno de acordo com o projeto de 1967
arena07.06.05.educacionalhospitaligrejateatrode 08
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Site Nelson Kon. Disponível em: <http://www.nelsonkon.com.br/conjunto-habitacional-cecap/>. Acesso em: 01 mai. 2022.
FIGURA 51 - Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado (CECAP): Blocos de apartamentos interligados pelo núcleo de circulação vertical
FIGURA 52 - Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado (CECAP): Janelas horizontais lineares que percorrem toda a extensão da fachadaFonte:
importante da obra é a preocupação em reduzir o custo de construção, por meio do planejamento racional e industrialização, adotando princípios modulares. Cerávolo (2007, p. 75) mostra que “o projeto do Conjunto é apresentado como a expressão do paradigma de um modo de ver a racionalidade produtiva, vinculada aos processos industriais, propiciando melho rias sociais”. A intenção de se construir unidades habitacionais multifamiliares e não unifamiliares à época fazia com que houvesse ganho no espaço físico e economia no tamanho do terreno.
50
Como mostra a FIGURA 52, os edifícios habitacionais eram caracterizados por janelas hori zontais lineares em toda extensão da fachada, cobertura não aparente e distância entre edifícios pensada para receber a incidência solar de forma adequada nos apartamentos. A área do con junto também foi reservada para implantação de extensas áreas verdes (praças, parques, jardins), com intuito de contribuir para a manutenção do conforto ambiental (FIGURA 50). Além disso, a elevação dos blocos habitacionais do térreo sob pilotis permitiu criar eixos de circulação de ar para proporcionar a ventilação natural cruzada entre os edifícios, criando também espaços para recreação e circulação livre. A inexistência de corredores internos entre os blocos também favore ceu a iluminação e a ventilação nas unidades, uma vez que foi possível inserir aberturas nas duas faces doOutroedifício.ponto
Fonte: Site Nelson Kon. Disponível em: <http://www.nelsonkon.com.br/conjunto-habitacional-cecap/>. Acesso em: 01 mai. 2022.
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FIGURA 55 - Foto do ambiente interno de uma unidade habitacional no CECAP: sala e cozinha
FIGURA 54 - Modulação do bloco de apartamentos e sua simetria 1 1. sala 2. cozinha 3. banho 4. área de serviço 5. dormitórios 2 3 4 555
Fonte: Site Nelson Kon. Disponível em: <http://www.nelsonkon.com.br/conjunto-habitacional-cecap/>. Acesso em: 01 mai. 2022.
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A UNIDADE A unidade habitacional do projeto reflete significativamente o conceito de flexibilidade. As moradias foram pensadas de forma que tivessem uma planta de uso flexível, para que cada mo rador pudesse criar suas adaptações de acordo com seus hábitos ou tamanho do núcleo familiar. Para isso, as unidades habitacionais foram padronizadas com 64 metros quadrados, onde o nú cleo de instalações sanitárias, composto por cozinha, banheiro e lavanderia, foi concentrado em uma faixa vertical do bloco em alvenaria (FIGURA 53). Ademais, a planta dos blocos são simétricas, diferenciadas apenas pelos lances de escadas. A modulação é adotada no projeto como artifício da flexibilidade (FIGURA 54). Conceitualmente, houve a separação das áreas secas e das áreas molhadas. A planta bai xa do apartamento também foi pensada racionalmente para evitar perda com espaços, a exem plo do espaço mínimo perdido para a circulação, da especificação de paredes divisórias de nove centímetros de espessura e da previsão dos armários como caixas que sobressaem nas fachadas laterais, possibilitando maior aproveitamento do espaço interno. Observa-se também as formas neutras dos ambientes internos, o aproveitamento da sala como espaço de circulação e a padro nização das aberturas nas fachadas, por meio da janela em fita. Destaca-se que, ainda que 64 metros quadrados representam, em área, um tamanho maior em relação à média universal de área para moradia de famílias compostas por cinco pessoas, Vilanova Artigas comentou que, no Brasil, o tamanho não deveria ser menor devido ao possível ajuntamento de pessoas nas unidades. Ademais, Paulo Mendes da Rocha defendeu que a intenção do projeto era fazer render ao máximo o espaço, tendo em vista os costumes do povo brasileiro, e que ao mesmo tempo proporcionasse uma boa condição de habitabilidade, relacionando o espa ço interno com o espaço externo do conjunto. As áreas de circulação e de acesso, com a presença das áreas verdes, foram projetadas voltadas à sala da unidade, para que este ambiente recebesse luz controlada ao longo do dia (FIGURA 55). Já a fachada dos quartos (FIGURA 56) foi pensada para receber uma incidência solar mais aberta em contato com o exterior (CERÁVOLO, 2007).
FIGURA 53 - Esquemas das plantas baixas projetadas no CECAP: unidade habitacional padrão, com divisão dos ambientes Fonte: Cerávolo (2007, p. 79). Fonte: Cerávolo (2007, p. 91).
FIGURA 56 - Foto do ambiente interno de uma unidade habitacional no CECAP: dormitório
Fonte: Site Nelson Kon. Disponível em: <http://www.nelsonkon.com.br/conjunto-habitacional-cecap/>. Acesso em: 01 mai. 2022.
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Fonte: Site Vigliecca&Associados. Disponível em: <http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/parque-novo-santo-amaro-v>. Acesso em: 01 mai. Fonte:2022.
FIGURA 57 - Foto da área degradada antes da implantação do projeto Re sidencial Parque Novo Santo Amaro V: córrego com depósito de lixos e de esgoto sem tratamento FIGURA 58 - Foto da área degradada antes da implantação do projeto Re sidencial Parque Novo Santo Amaro V: moradias precárias construídas ir regularmente próximas às áreas insalubres
O conjunto habitacional foi inserido na paisagem urbana e procurou criar uma nova re alidade para os moradores da comunidade. O projeto social contou com prédios de cinco a sete pavimentos, intercalados e de acordo com os desníveis topográficos (FIGURA 59), que foram com postos por 201 unidades habitacionais de onze tipologias. Além disso, foram previstos um clube, associação de moradores, escola estadual e campo de futebol como área de lazer, que já existia antes da implantação e foi mantido por conta da valorização dada pela comunidade (FIGURA 60) (GONÇALVES et al., 2019).
O verde foi recuperado após a implantação do parque linear, que é considerado o eixo central de intervenção, pois ao longo dele se distribuiu a estrutura de todo o projeto, como as mo radias e os equipamentos comunitários. Anterior à intervenção, era preciso atravessar o córrego poluído ou percorrer grandes distâncias para acessar equipamentos e serviços. Sendo assim, cria ram-se passarelas metálicas suspensas de conexão entre as centralidades existentes e as novas centralidades, para que os pedestres pudessem ter um melhor deslocamento dentro do território e entre as encostas, solucionando a questão da acessibilidade (FIGURA 58). Ademais, o córrego foi canalizado e foi criada uma via ao longo do fundo do vale para passeio, onde foram criados es pelhos d’água (GONÇALVES et al., 2019). Após a revitalização do local, as famílias foram relocadas para as unidades habitacionais criadas na mesma área.
52 5.2 RESIDENCIAL PARQUE NOVO SANTO AMARO V ARQUITETOS: Vigliecca & Associados ANO: LOCALIZAÇÃO:2012
-associados>. Acesso em: 01 mai. 2022.
O CONJUNTO
Site ArchDaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/623191/residencial-parque-novo-santo-amaro-v-slash-vigliecca-and
São Paulo, São Paulo, Brasil O projeto é implantado na zona sul de São Paulo, próximo à área dos mananciais da represa Guarapiran ga. Antes da intervenção, o esgoto sem tratamento era depositado ao longo do córrego e as moradias precárias eram implantadas nas encostas de grande declividade e de solo pouco resistente. Ademais, a área era carente de vegetação nativa e de equipamentos públicos. Sendo assim, o objetivo do projeto foi revitalizar a área do fundo de um vale, criando moradias dignas para as famílias que viviam irregularmente e de maneira precária ao longo do córrego, em áreas de risco que eram sujeitas a desabamentos e enchentes (FIGURAS 57 e 58). O intuito do projeto foi também melhorar a condição urbana para os moradores recuperando a vegetação nativa ao longo do curso d’água, transformando o espaço em um eixo verde e estruturando um parque linear de uso público com caráter paisagístico e de lazer. Foram removidas 210 habitações para a implantação do projeto, o que correspondeu a 54% do total dos domicílios existentes (GONÇALVES et al. 2019).
FIGURA 59 - Residencial Parque Novo Santo Amaro V: desníveis topográficos do terreno e tipologias
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A UNIDADE O projeto é formado por onze tipologias diferentes de moradias, como apartamentos de dois a três dormitórios, duplex e/ou adaptáveis para pessoas com deficiência física, as quais va riam entre 52,5 a 76,5 metros quadrados. A maioria das unidades possui dois dormitórios, cozinha, sala, banheiro e área de serviço. Os blocos são implantados de acordo com a declividade do terreno, conforme mostra a FIGURA 61. Desse modo, a fachada ganha ritmo e volumes diferentes, considerando também as diversas tipologias empregadas.
Fonte: Site ArchDaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/623191/residencial-parque-novo-santo-amaro-v-slash-vigliecca-and-associados>.Acessoem:01mai.2022.
53
De acordo com estudos de Gonçalves et al. (2019), 18,55% do terreno corresponde à área de implantação dos edifícios e 81,45% às áreas livres e coletivas. Isso indica o protagonismo do espaço público na reestruturação da área, mesmo com a proposta da inserção de novas moradias. Por isso, entende-se que a habitação e o espaço público estabelecem relações de “interdependência e hierarquias” e ambos assumem papéis relevantes na reestruturação do espaço urbano.
FIGURA 61 - Corte do projeto Residencial Parque Novo Santo Amaro V
FIGURA 62 - Planta esquemática da distribuição dos conjuntos habitacionais no Residencial Parque Novo Santo Amaro V Fonte: Veras (2013, p. 90).
Fonte: Site ArchDaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/623191/residencial-parque-novo-santo-amaro-v-slash-vigliecca-and-as sociados>. Acesso em: 01 mai. 2022.
As unidades habitacionais são divididas em três conjuntos: conjunto 01 - composto por qua tro blocos com 92 apartamentos; conjunto 02 composto por três blocos e 84 apartamentos; con junto 03 composto por um bloco com 24 apartamentos (FIGURA 62). Toda estrutura é composta por alvenaria estrutural com blocos de concreto, apresentando então uma planta inflexível. Ape sar da diversidade tipológica adotada no projeto, nota-se que não são empregadas outras dire trizes de flexibilidade, como a previsão de modificações do projeto, por conta de uma solicitação determinada pela prefeitura local (VERAS, 2013).
FIGURA 60 - Implantação da passarela metálica para melhor acessibilidade no projeto Residencial Parque Novo Santo Amaro V
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54 5.3 CONCURSO PÚBLICO NACIONAL DE IDEIAS E ARQUITETURA EM EFI CIÊNCIA ENERGÉTICA NA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL 2021 - SE GUNDO LUGAR EQUIPE: Gsr Projetos E Consultoria Empresarial
ANO DO CONCURSO: 2021 O projeto é fruto do Concurso Nacional de Ideias em Arquitetura para Eficiência Energética em Habitação de Interesse Social, adaptáveis às diferentes Zonas Bioclimáticas do Brasil denominado “Habitação de Interesse Sustentável”, com colaboração da Associação Brasileira de COHABs e Agentes Públicos da Habitação (ABC). A en tidade promotora foi a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) e a entidade organizada foi o Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Distrito Federal (IAB/DF). A iniciativa foi contribuir para o melhoramento da qualidade dos projetos de habitação social no país, junto com a aplicação de boas práticas construtivas e sustentáveis. O trabalho conquistou o segundo lugar na premiação com a proposta de 70 unidades habitacionais, sendo 21 de um quarto, 38 de dois quartos e 11 de três quartos. Além disso, possui áreas para uso coletivo no térreo (comunitário, serviços e comércio), áreas verdes e permeáveis, áreas de espaços de convivência e hortas comunitárias e áreas de cobertura para implantação de artifícios que contribuem para eficiência ener gética, como painéis solares e sistemas de reaproveitamento da água. A imagem final do projeto é apresentada na FIGURAS 63 e 64.
Fonte: Site do Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável. Disponível em: <http://www.habitacaodeinteressesustentavel.org/resultado>.Acessoem:01mai.2022.
FIGURA 65 - Planta baixa do projeto - pavimento térreo
O CONJUNTO O conjunto habitacional foi pensado para comportar uma diversidade de usos, contando com a inserção de espaços coletivos no térreo e a conexão com o meio urbano, por meio de es paços ativos e permeáveis no terreno. A proposta consistiu em manter os estacionamentos nas bordas do terreno, dando prioridade para as pessoas na apropriação do espaço interior com o estabelecimento de pátios internos, pequenas praças, hortas comunitárias, espaços lúdicos, bici cletários e espaços sombreados (FIGURA 65). Fonte: Site do Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável. Disponível em: <http://www.habitacaodeinteressesustentavel.org/resulta do>. Acesso em: 01 mai. 2022.
FIGURA 63 - Imagem do projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021. Relação com o espaço público externo
FIGURA 64 - Conexão do pátio interno com o espaço interior do conjunto habitacional premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021
Fonte: Site do Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável. Disponível em: <http://www.habitacaodeinteressesustentavel.org/resulta do>. Acesso em: 01 mai. 2022.
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FIGURA 67 - Esquema do sistema sustentável adotado no projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021
FIGURA 68 - Área destinada à horta comunitária no projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sus tentável, 2021 Fonte: Site do Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável. Disponível em: <http://www.habitacaodeinteressesustentavel.org/resulta do>. Acesso em: 01 mai. 2022. Fonte: Site do Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável. Disponível em: <http://www.habitacaodeinteressesustentavel.org/resulta do>. Acesso em: 01 mai. 2022.
FIGURA 66 - Corte esquemático que mostra os artifícios utilizados na proteção contra a insolação e como estratégia de sombreamento, além de outros elementos Fonte: Site do Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável. Disponível em: <http://www.habitacaodeinteressesustentavel.org/ resultado>. Acesso em: 01 mai. 2022.
55 Para que o conceito de eficiência energética fosse atingido, adotaram-se premissas como: não implantar áreas de permanência prolongada na orientação oeste, utilizar elementos som breadores conforme orientação solar, recuo das aberturas em relação ao plano de fachada para criar sombreamentos, criar aberturas dimensionadas nas fachadas para permitir boa iluminação natural e propiciar a ventilação cruzada, dentre outras. Percebe-se no projeto que o uso das va randas foi um artifício bastante utilizado, pois estão presentes nas salas de estar como também nos quartos. Junto com a previsão dos elementos sombreadores, atuam como elemento facilitador da flexibilidade dos espaços, porque proporcionam maior liberdade aos interiores, já que diferen tes atividades podem ocorrer ali, e também colaboram para o controle da insolação, como mostra do na FIGURA 66 (BARBOSA, 2016). As lajes de cobertura dos blocos de quatro pavimentos do conjunto foram projetadas para receberem placas solares fotovoltaicas, sistemas de aquecimento de água e de reaproveitamento das águas pluviais (usadas na irrigação das hortas comunitárias e jardins), como contribuição para o tema de sustentabilidade (FIGURA 67). Além disso, parte dos efluentes de esgoto dos sanitá rios foi prevista para ser tratada nos canteiros verdes e hortas comunitárias (FIGURA 68), utilizada por meio dos leitos de evapotranspiração.
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1. inserido na PAISAGEM URBANA mesclando com a comunidade; 2. criação de ESPAÇOS COMUNITÁRIOS como clube, escolas, associação de moradores.
1. ótima relação com o espaço público externo, pois está associado a AMPLAS ÁREAS VERDES (jardins, praças e parques) e a EQUIPAMENTOS COMUNITÁRIOS distribuídos no próprio terreno. 2. tem-se uma ideia de aplicação do conceito da super quadra modernista.
1. criação de MORADIAS DIGNAS para os usuários;
3. MODULAÇÃO é um ponto forte no projeto, uma vez que estabelece a forma estrutural do conjunto.
1. unidades habitacionais foram projetadas para que o usuário pudesse ter a LIBERDADE DE ADAPTAR OS ESPA ÇOS conforme as necessidades; 2. concentração das ÁREAS MOLHADAS EM UM NÚCLEO ÚNICO padronização das aberturas das fachadas, pro posição da sala como circulação e modulação das peças das unidades habitacionais.
3. o PARQUE atua como agente transformador do espaço e impulsiona as relações para além do edifício.
Fonte: Site do Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável. Disponível em: <http://www.habitacaodeinteressesustentavel.org/ resultado>. Acesso em: 01 mai. 2022.
Fonte: Site do Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável. Disponível em: <http://www.habitacaodeinteressesustentavel.org/re sultado>. Acesso em: 01 mai. 2022. FIGURA 71 - Esquema da laje de cobertura e suas camadas empregada no projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021 conjunto habitacional zezinho magalhães prado residencial parque novo santo amaro V projeto do concurso público na cional de ideias e arquitetura em eficiência energética na his 2021 qualidade habitacional comrelação
1. fachadas preparadas para receber a INCIDÊNCIA SOLAR CONTROLADA e para promover a VENTILAÇÃO CRUZADA nos ambientes internos; 2. ÁREAS VERDES EXTERNAS contribuem para a boa qualidade do ar e arejamento dos espaços.; 3. uma boa ADEQUAÇÃO ESPAÇO-FUNCIONAL com a previsão de ambientes funcionais, como também a possi bilidade de PERSONALIZAÇÃO
FIGURA 69 - Plantas baixas modulares do projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021: um, dois e três quartos, respectivamente
2. MELHORIA DO ENTORNO degradado existente; 3. conjunto habitacional foi projetado para garantir MAIS SEGURANÇA aos moradores, os quais viviam em condições precárias e em situações de risco. 1. DIVERSIDADE TIPOLÓGICA das unidades habitacionais: onze tipologias de plantas diferentes, de dois e três dormitórios;
1. presença dos ESPAÇOS EXTERNOS COLETIVOS no térreo e na cobertura, como pequenas praças, espaços lúdicos e hortas comunitárias; 2. conceito de ruas e ESPAÇOS ATIVOS com espaços permeáveis e diversidade de usos; 3. estacionamento de carros é localizado nas bordas do terreno com intenção de liberar o INTERIOR PARA USO COMUNITÁRIO de pessoas.
FIGURA 70 - Medidas do sistema de modulação aplicado no projeto premiado como segundo lugar no Concurso Nacional de Habitação de Interesse Sustentável, 2021
flexibilidadepúblicoespaço
A modulação, a racionalização e a utilização de componentes pré-moldados no sistema construtivo também foram estratégias de projeto aplicadas para reduzir custos de construção e manutenção. A estrutura foi prevista em componentes pré-fabricados de concreto armado, por conta do menor custo, da maior facilidade em manutenção, da boa adequação às diferentes zo nas bioclimáticas do país, dentre outros aspectos. O módulo estrutural básico foi definido por pórticos de pilares e vigas pré-moldadas com vãos de nove metros, espaçados a cada 6,60 metros e seus múltiplos (FIGURA 70). As lajes, responsáveis por travamento do sistema estrutural modular, foram especificadas como painéis alveolares pré-moldados (FIGURA 71). É importante observar que o princípio da modulação está associado ao conceito de flexibilidade, uma vez que age como elemento facilitador na criação dos espaços. A modulação coordena as dimensões dos segmentos de um edifício, permitindo a combinação de elementos, a facilidade na produção das peças e a certeza na especificação dos componentes (BARBOSA, 2016), como exemplificado neste projeto.
1. diversidade tipológica das unidades habitacionais: concepção de apartamentos de um, dois e três quartos; 2. viabiliza a utilização por diversos grupos familiares;
56 5.4
A UNIDADE A premissa do projeto foi garantir unidades habitacionais com áreas maiores, para garantir níveis desejados de acessibilidade, conforto e eficiência. Destaca-se a incorporação do instrumen to de flexibilidade caracterizado pela diversidade tipológica, com o intuito de promover a diversi dade de moradias e de escalas para diversos grupos familiares, com unidades de um, dois e três quartos modulares (FIGURA 69). Outro artifício de flexibilidade empregado foi a setorização das áreas molhadas (cozinha, banheiro e área de serviço) concentradas em uma parede hidráulica ao longo do circulação externa, com a intenção de facilitar o encaminhamento dos sistemas de insta lações prediais em um núcleo próprio e desimpedir a adaptabilidade dos outros ambientes. Além disso, é importante mencionar a presença dos shafts que viabilizam o encaminhamento vertical das instalações hidrossanitárias e elétricas, reduzindo custos e facilitando manutenções.
1. proposição de um conjunto habitacional sustentável associado à EFICIÊNCIA ENERGÉTICA; 2. ideia do reaproveitamento da água e da geração de energia se destacam; 3. possibilidade de PERSONALIZAÇÃO dos ambientes, a FUNCIONALIDADE e a DIVERSIFICAÇÃO são estratégias expressivas.
RELEVÂNCIA DAS LEITURAS PROJETUAIS PARA O TRABALHO
2. permite ATENDER DIVERSOS ARRANJOS FAMILIARES num mesmo conjunto, ponto positivo sob a ótica da contemporaneidade e transformações sociais constantes.
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57
6DIAGNÓSTICO:58Nestecapítuloserádiscutidoocenáriodaproduçãodehabitação
social em Vitória-ES, identificando alguns exemplos implantados e suas características. Ademais, apresenta-se o bairro escolhido para a intervenção projetual, Goiabeiras, contextualizando os aspectos históricos da área e fazendo o diagnóstico do terreno e do entorno, justificando as de cisões para a escolha. a cidade e o terreno
Observa-se que, apesar de diferentes, ambos empreendimentos possuem plantas baixas semelhantes, com dois dormitórios e com o mesmo padrão de divisão dos cômodos, demonstran do hierarquização bem demarcada entre os ambientes. Isso mostra que, geralmente, os projetos seguem as especificações mínimas estabelecidas, mas que não necessariamente são satisfatórias para abrigar nas residências a multiplicidade dos arranjos familiares existentes. A elaboração des ta tipologia de planta, que tem como característica a monofuncionalidade dos ambientes (cum prem apenas a função atribuída), não tem como preocupação atender a diversidade dos perfis familiares, sobretudo da classe baixa, já que são nestas famílias que se tende a ter maior número de pessoas por cada núcleo familiar dividindo o mesmo espaço. Além do mais, a rigidez do siste ma construtivo impede a possibilidade de mudanças espaciais e a adequação para outros usos, o que pode influenciar diretamente na qualidade de vida dos moradores a longo prazo, devido às prováveis transformações familiares no decorrer da vida. O CENÁRIO CONTEMPORÂNEO DOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO SOCIAL EM VITÓRIA-ES A Política Municipal de Habitação (PMH) da cidade de Vitória entrou em vigor a partir de 2002 e tem como diretrizes a melhora do acesso à terra e à moradia digna, com prioridade às de baixa renda, manutenção das condições de habitabilidade, de preservação am biental e de qualificação dos espaços urbanos. Uma das iniciativas é o Programa Habitar Vitória, implementado pela Prefeitura de Vitória (PMV), que engloba os projetos Vitória de Todas as Cores, Projeto Moradia, Morar sem Risco, Morar no Centro e Terreno Legal (PMV, 2021). O Habitar Vitória é um programa que está presente no Plano Plurianual do município e tem como público-alvo famílias com renda de até cinco salários mínimos (MUNIZ et al. 2019).
Fonte: Disponibilizado pela PMV (2022).
FIGURA 76 - Residencial Resistência: planta do bloco habitacional
Outro exemplo de projeto desenvolvido é o Residencial Resistência (FIGURA 75), que conta com 16 unidades habitacionais de 43 metros quadrados, em média, com dois quartos, sala, ba nheiro, cozinha e área de serviço, distribuídas em um único bloco (FIGURA 76). O sistema estrutural empregado é também o de alvenaria estrutural.
FIGURA 73 - Residencial Santo André: planta unidades-tipo com dois FIGURAdormitórios75-Residencial
Entretanto, mesmo com a elaboração dessas iniciativas, ressalta-se que a produção das moradias sociais pode ser incapaz de alcançar bons parâmetros quanto às melhorias nas con dições de habitabilidade e na qualificação urbana. Como critério de análise, apresentam-se dois projetos desenvolvidos pelo programa Habitar Vitória na cidade. O primeiro refere-se ao Resi dencial Santo André (FIGURA 72), localizado no bairro Ilha das Caieiras, destinado a 48 famílias. São quatro blocos de três pavimentos, com doze apartamentos em cada. A unidade habitacional possui média de 52 metros quadrados e possui planta padrão com dois quartos, sala, banheiro, cozinha, área de serviço e varanda, apresentada na FIGURA 73. A alvenaria estrutural é o sistema estrutural adotado (FIGURA 74), em que a estrutura e a vedação são executadas em conjunto, dis pensando o uso de pilares uma vez que os blocos estruturais desempenham a função portante do edifício (PMV, 2014).
6.1
FIGURA 74 - Residencial Santo André: sistema construtivo em alve naria estrutural, fase de obra
populações
Resistência, Vitória-ES Fonte: Disponibilizado pela PMV (2022).
Fonte: Site Prefeitura de Vitória. Disponível em: <https://www.vitoria.es.gov.br/noticia/contagem-regressiva-para-entrega-do-residencial -resistencia-20391>. Acesso em: 18 mai. 2022.
59
FIGURA 72 - Residencial Santo André, Ilha das Caieiras, Vitória-ES
Fonte: Site Prefeitura de Vitória. Disponível em: <https://www.vitoria.es.gov.br/noticia/emocao-toma-conta-da-entrega-dos-apartamentos-do-residencial-santo-andre-14186>.Acessoem:18mai.2022.
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Nos primeiros tempos, a atividade pesqueira artesanal ao longo do manguezal urbano (FI GURA 78) era a principal fonte de renda da região e, de acordo com os moradores mais antigos, foi a partir disso que surgiu a receita da conhecida moqueca capixaba. Junto a isso, o ofício das Paneleiras (FIGURA 79), reconhecido desde 2002 como Patrimônio Imaterial pelo Instituto do Pa trimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), potencializa até hoje o local como um símbolo da cultura capixaba (ES BRASIL, 2015).
6.2 O CENÁRIO DA INTERVENÇÃO: ANÁLISE DO BAIRRO
60 No âmbito do conjunto habitacional, percebe-se que os edifícios carecem um pouco de qualidade arquitetônica quanto à concepção formal, sem apresentarem identidade própria. Há uma repetição de volumes de três ou de quatro pavimentos, sem personalização de fachadas quanto às aberturas, sem adequação ao contexto local e sem conexão com as singularidades das comunidades ao redor. Os residenciais não possuem espaços para uso coletivo localizados no tér reo ou no edifício, o que desvaloriza ainda mais a qualificação do edifício multifamiliar e dificulta a socialização entre os moradores e o entorno. Outro ponto de destaque é a falta de áreas verdes e permeáveis no terreno, as quais são tão importantes para a manutenção do conforto térmico da edificação e para o escoamento da água.
O bairro escolhido para a intervenção projetual é Goiabeiras, em Vitória-ES (FIGURA 77). Ele possui extensão territorial média de 2.358.055 metros quadrados. Historicamente, o bairro carre ga em sua memória grandes feitos culturais importantes para a história da cidade e do estado. Na década de 50, o bairro era formado essencialmente por aglomerados de casas pau-a-pique, as quais formavam uma vila, e era cercado pela Mata Atlântica, manguezais e fazendas de gado (A TRIBUNA, 2003). Além disso, “o despejo do lixo em áreas de mangue pelo próprio poder público também determinou a ocupação do local, uma vez que em decorrência dos lixões, surgiram aterros sanitários, criando assim espaço para ocupação irregular da área” (ARAÚJO, 2016, p. 6).
FIGURA 77 - Mapa de localização de Vitória-ES com a demarcação do bairro Goiabeiras
FIGURA 78 - Manguezal urbano de Vitória-ES Fonte: Site ES360. Disponível em: <https://es360.com.br/festa-em-vitoria-no-dia-municipal-do-manguezal/>. Acesso em: 18 mai. 2022.
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Goiabeiras é um território diverso em relação ao zoneamento urbano, pois abrange onze zonas distintas de acordo com o Plano Diretor Urbano de Vitória de 2018 (Lei 9271/18). Dentre elas contém Zona de Interesse Especial (ZEIS) 1, Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) 1, 2 e 3, Zonas de Ocupação Limitada (ZOL) 1 e 2, Zona de Ocupação Restrita (ZOR) 2, Zonas Arteriais (ZAR) 1 e 2, Zona de Ocupação Específica (ZOE) 2 e Zona do Parque Tecnológico (ZPT), conforme mostra mapa da FIGURA 80. Por conta da grande extensão do manguezal, cerca de 45% do território é caracteriza do como ZPA, com intuito de promover a preservação do meio ambiente natural e do ecossistema, além de manter o equilíbrio ambiental. A ZOE, correspondente à área de implantação da Univer sidade Federal do Espírito Santo (UFES), também engloba uma área considerável do bairro, ocu pando cerca de 28%. Por último, a outra zona que abrange uma enorme porção do bairro é a ZPT, a qual foi definida com a intenção de implantar atividades preferencialmente não residenciais de inovação tecnológica e economia criativa. Ela corresponde a cerca de 280.000 metros quadrados do território, o que equivale a, em média, 12% do total. Apenas estas três zonas ocupam cerca de 85% de todo o bairro e as outras zonas são pulverizadas dentre os 15% restantes. 79 - Ofício das paneleiras em Goiabeiras, Vitória-ES Fonte: Site 028 Coletivo Artístico. Disponível em: em: 18 mai. 2022.
<https://028coletivo.46graus.com/as-paneleiras-de-goiabeiras/>. Acesso
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FIGURA
FIGURA 80 - Mapa do zoneamento urbano de acordo com o PDU 2018, recorte de Goiabeiras, Vitória-ES Fonte: Autora (2022).
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Apesar das grandes zonas que atualmente formam Goiabeiras, a região também é um local que possui peculiaridades quanto à proximidade aos bairros vizinhos, como Maria Ortiz, Antônio Honório, Segurança do Lar, dentre outros, os quais formam a popularmente conhecida Grande Goiabeiras. Esse conjunto de bairros possuem zonas em comuns, como é o caso da ZOL e ZEIS, na maior parte. Ambas zonas refletem a irregularidade da ocupação do território, que carece da necessidade de regularização fundiária, sobretudo, e da melhoria das vias urbanas (FIGURA 82). Em geral, caracterizam assentamentos habitacionais de população de baixa renda, os quais de mandam melhorias urbanísticas e habitacionais para proporcionar o bem-estar dos moradores.
Ademais, abarcam domicílios em aglomerados subnormais (FIGURA 83), como mostra o mapa da FIGURA 81. FIGURA 81 - Mapa de aglomerados subnormais sobrepostos à ZOL e à ZEIS Fonte: Autora (2022).
Fonte: Autora (2022). Fonte: Autora (2022). FIGURA 83 - Fotos que retratam os assentamentos habitacionais precário e/ou irregulares, sendo alguns deles categorizados como aglome rações subnormais, em Maria Ortiz, Vitória-ES
FIGURA 82 - Fotos que mostram a condição precária das vias urbanas nas adjacências do terreno, ausência de calçadas acessíveis, ínfima arborização e porção da orla do mangue sem tratamento adequado, em Maria Ortiz, Vitória-ES
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Fonte: Autora (2022). FIGURA 84 - Mapa com indicação do terreno escolhido para intervenção projetual
Desse modo, a escolha do terreno é norteada tendo em vista os entraves da questão habi tacional já apresentados e considerando a necessidade de se construir moradias sociais dentro da malha urbana consolidada, sendo estas preferencialmente próximas aos locais que já possuem assentamentos precários ou irregulares. Vitória, hoje, é uma cidade totalmente urbana, com tecido urbano consolidado, e carece de terrenos vazios para construção de conjuntos habitacionais, so bretudo no que diz respeito aos empreendimentos sociais. As ZEIS 2, que pelo PDU são destinadas à implantação de Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social (EHIS), são praticamente inexistentes na cidade. O que se vê como alternativa encontrada, muitas vezes, é a aquisição dos terrenos pela prefeitura para destinar à construção das moradias sociais, com o propósito de atender às demandas dos programas habitacionais: garantir moradia digna e acesso à terra para todos. A Zona do Parque Tecnológico teve suas diretrizes preliminares divulgadas desde o início dos anos 2000. Desde então, com o PDU de 2006 (Lei 6705/06), a extensa área privada no coração de Goiabeiras foi considerada como ZPT, sendo ratificada no ano de 2018 (Lei 9271/18). Entretanto, percebe-se que, mesmo após quase 20 anos, os espaços permanecem, em grande porção, vazios e continuam sem uso, sem previsão para construção de novos empreendimentos a curto prazo. É entender que a propriedade urbana cumpre sua função social quando cumpre com os preceitos expressos no plano diretor urbano. Neste caso, por compreender que a ZPT ocupa, sozinha, uma área de cerca de 12% do bairro, pela ociosidade do território e pela delonga no atendimento às exigências da lei, assimila-se que é apta a aquisição de uma porção da área para desenvolvimento de um projeto de conjunto habitacional de interesse social, correspondente a um terreno de aproximadamente 18.500 metros quadrados (equivale a 6,65% de toda ZPT), dando uso efetivo à Somandopropriedade.aospontos apresentados, é preciso evidenciar a singularidade dos índices de finidos pelo PDU para a construção do Parque Tecnológico. Além de não serem permitidos usos residenciais de quaisquer tipos, não é indicado o gabarito nem a altura máxima para a constru ção dos empreendimentos. Isto é, são ilimitados. Para um entorno que possui áreas de grande importância ambiental, como o manguezal, rica memória cultural e patrimonial, assentamentos irregulares, moradias precárias e aglomerados subnormais, conclui-se que é cabível a revisão dos índices e parâmetros urbanísticos, a fim de resguardar a paisagem urbana, de diversificar o uso do solo, de melhorar o aproveitamento dos lotes ociosos e de corresponder melhor com as adjacên cias, para não permitir a descaracterização da Grande Goiabeiras. Sendo assim, para a porção do território escolhida, mostrada na FIGURA 84, estudam-se outros índices e parâmetros urbanísticos com foco na implantação de um conjunto habitacional de interesse social.
importante
6.3 O TERRENO E O SEU ENTORNO O terreno escolhido tem área de aproximadamente 18.000 metros quadrados e possui, hoje, parcelamento proposto pelos estudos do Parque Tecnológico, como apresentado no mapa da FIGURA 84. Tem uma localização estratégica dentro do bairro por estar próximo a pontos nodais da localidade, como: a Faculdade Multivix, a Praça do Hi-Fi e a Praça da Família Maria Ortiz. Seu entorno, majoritariamente, é formado por edificações de uso residencial com gabarito de até três pavimentos.
escalagoiabeiras1/25000 escala 1/2500
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Em relação à mobilidade urbana, Goiabeiras e os bairros adjacentes possuem vias estrutu rantes que os conectam, como a Avenida Prof. Fernando Duarte Rabelo, que se caracteriza como uma via coletora, e a Avenida Jerônimo Vervolet, que se configura como via local principal. Ambas vias colaboram para o fluxo de entrada e de saída dos indivíduos entre os bairros e são pontes de conexão com outros locais da cidade. Sendo assim, além destas, vale ressaltar a proximidade com a Avenida Fernando Ferrari, via arterial metropolitana que possui alto fluxo de veículos e de pessoas diariamente, atuando como eixo estruturante que propicia deslocamentos municipais e intermunicipais, concentrando e distribuindo vários destinos.
principal ao terreno: Rua Ouro Preto
64 O uso comercial é pulverizado e existe com maior intensidade nas vias de maiores fluxos de veículos e de pessoas, como a Avenida Jerônimo Vervolet e a Avenida Prof. Fernando Duarte Rabe lo. Outro ponto de grande relevância é a proximidade com o manguezal urbano, local que abriga atividades de pesca de pequeno porte e Áreas de Preservação Permanente (APPs).
Fonte: Autora (2022).
O acesso ao terreno ainda é limitado, pois possui um bloqueio entre as duas testadas fron tais. Atualmente, ele é margeado por duas vias: Rua Ouro Preto, ao norte (FIGURAS 86 e 87) e Rua Osmerina Ribeiro Gomes, ao sul (FIGURA 89), identificadas no mapa da FIGURA 85. Ao norte, a vi zinhança é marcada pela existência da Praça da Família e do campo de futebol ocupado pelos moradores, mostrado pela FIGURA 88. A leste, possuem edificações residenciais e a área atribuída à empresa VIX Logística, enquanto a oeste são identificadas construções sem usos definidos. Ao sul, o terreno é margeado pelos grandes terrenos vazios (FIGURA 90) destinados à implantação da Zona do Parque Tecnológico e pela Faculdade Multivix. Desse modo, entende-se que, mesmo que o terreno esteja localizado em Goiabeiras, a área de intervenção é pertencente a um conjunto de bairros que possui uma forte conexão entre si. Visto isso, pelo caráter consolidado dos bairros, pela boa oferta de alguns equipamentos comu nitários e de lazer, pela facilidade de acesso e locomoção, sobretudo por meio do transporte pú blico coletivo, e pela presença de moradias informais e precárias e por conta dos terrenos vazios referentes à ZPT, vê-se um grande potencial em utilizar uma pequena porção da área vazia para destinar a um conjunto de habitação de interesse social. escala
FIGURA1/250086-Acesso
FIGURA 85 - Mapa com indicação do terreno escolhido para intervenção projetual e outros elementos
Fonte: Autora (2022).
Quanto às linhas de ônibus municipais e intermunicipais, percebe-se que os bairros são bem servidos. Além das linhas municipais e intermunicipais que servem os pontos de ônibus ao longo da Avenida Fernando Ferrari, existem itinerários dos ônibus municipais que servem ao inte rior dos bairros, os quais são distribuídos principalmente nas vias de grande caráter comercial, como na coletora e na local principal. As demais vias, caracterizadas por serem de tráfego local, não comportam pontos de ônibus em sua grande maioria por conta da sua estrutura viária.
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Fonte: Autora (2022).
FIGURA 89 - Acesso secundário, atualmente bloqueado - Rua Osmerina Ribeiro Gomes
Fonte: Autora (2022).
FIGURA 88 - Campo de futebol à frente do terreno, muito utilizado pelos moradores
FIGURA 90 - Terrenos sem uso na Zona do Parque Tecnológico
Fonte: Autora (2022).
FIGURA 87 - Rua Ouro Preto, sem urbanização adequada e atualmente sem conexão com a outra via
Fonte: Autora (2022).
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66 7Este
O PROJETO
capítulo mostra o processo de desenvolvimento do projeto, justificando as diretrizes, concepção da forma e princípios relacionados aos estudos teóricos de qualidade arqui tetônica habitacional e flexibilidade, sobretudo. Esclarece também os aspectos técnicos relacionados ao sistema construtivo e os fundamentos para a escolha de todos os itens.
Por fim, demonstra a materialização dos estudos desenvolvidos em uma proposta de in tervenção projetual de um conjunto habitacional de interesse social no bairro de Goia beiras, em Vitória-ES, o qual contém camadas no âmbito das unidades habitacionais, do edifício e do entorno.
67 7.1 DIRETRIZES PROJETUAIS Projetar a habitação levando em conta especificações mínimas e limitadores, como aconte ce majoritariamente em projetos de habitação social, resulta em projetos com soluções arquitetô nicas desprovidas de qualidade arquitetônica habitacional e de alternativas flexíveis que propor cionem adaptação do ambiente construído ao longo do tempo. Sendo assim, à luz da literatura consolidada para a elaboração deste trabalho e dos problemas enumerados em decorrência da realidade da HIS no Brasil, as diretrizes para a concepção do projeto baseiam-se na intenção de propor espaços flexíveis, permitindo adaptação facilitada ao longo da vida útil, com condições de habitabilidade e funcionalidade da moradia, viabilizando a versatilidade e evitando impasses futuros. Além do olhar sob a unidade habitacional, o conjunto habitacional assume grande relevân cia no contexto do projeto, pois deve ser pensado de forma a contribuir para a qualidade de vida dos usuários. Para isso, objetiva-se criar um espaço semipúblico no térreo, aberto à comunidade, para oportunizar uma vida coletiva urbana, e coberturas com uso de lazer coletivo para os mora dores. Ademais, tem-se como propósito disponibilizar no conjunto habitacional espaços destina dos a serviços e ao comércio para usufruto dos próprios moradores, estimulando a geração de renda própria.Emresumo, o intuito da proposta é possibilitar alternativas para se construir moradias dignas, em contraposição aos critérios mínimos geralmente estabelecidos pelos programas ha bitacionais e espelhados na produção dos conjuntos, além de incentivar espaços de trabalho, de encontros, de integração e de sociabilidade entre os indivíduos, internos e externos, no conjunto habitacional.
02. Permitir a flexibilidade e a funcionalidade da moradia A flexibilidade relaciona-se com a adequação do espaço de acordo com as necessidades dos seus ocupantes. É tida como uma alternativa potencial para a adaptação de projetos, por meio dos seus instrumentos, retratados no Capítulo 03. O objetivo é permitir modificar ambientes de acordo com a necessidade do usuário, levando em conta mudanças sociais, como alteração na estrutura familiar e na rotina dos usuários. A funcionalidade relaciona-se com a flexibilidade no sentido de garantir o bom desempenho das atividades cotidianas, sendo coerente e eficiente toda a estrutura proposta para o projeto, mesmo que haja modificações futuras.
03. Criar espaços semi-públicos, coletivos e comerciais Espaços semipúblicos podem ser opção para potencializar a relação entre indivíduos e pro porcionar a gentileza urbana. Por isso, o propósito é de criar espaços compartilhados no bairro, para moradores e comunidade local, e de reafirmar o caráter consolidado dos bairros, levando a comunidade até o terreno de intervenção para também usufruir do espaço e incitar a prática da sociabilidade entre as pessoas. É importante também evidenciar a cultura do bairro e a tradição familiar existente, que fazem parte da memória da cidade e conectam as pessoas residentes na região. A intenção é que o térreo seja o principal agente nesse processo e reúna as pessoas, atu ando como uma extensão da vida urbana, por meio da criação de espaços convidativos, abertos, permeáveis e seguros, onde será possível a realização de feiras, de oficinas, de eventos, entre outros. Além disso, tem-se o intuito de criar no térreo áreas destinadas a serviços e ao comércio, possibilitando aos usuários dos condomínios espaços facilitadores para ganho de renda própria, contíguo à sua moradia.
01. Promover a qualidade arquitetônica habitacional Conceito estudado por Pedro (2000), levanta algumas questões sobre a qualidade arquite tônica dos projetos habitacionais, tendo em vista a replicação excessiva e os parâmetros mínimos aplicados nos projetos construídos pelos programas de habitação de interesse social. O objetivo, então, é criar espaços que correspondam aos fatores de qualidade residencial apresentados no Capítulo 02. Outrossim, conceber ambientes que favorecem os instrumentos estudados: conforto ambiental, segurança, adequação espacio-funcional, articulação e personalização.
04. Empregar a modulação no sistema construtivo A modulação consiste em conceber um projeto a partir de um módulo dimensional pré-defi nido. Essa estratégia permite obter espaços flexíveis, maior racionalidade no processo e na produ ção da obra, redução de custos, maior rapidez da construção e, ainda mais, benefícios quanto ao sistema em específico. Desse modo, o objetivo é conceber um projeto que empregue a modulação, como artifício facilitador da flexibilidade e funcionalidade da habitação e do edifício, tanto como meio de economia, levando em conta prazos e custos, já que se trata de uma habitação de interes se social.
OU INDEPENDENTES das unidades habitacionais, parte das estratégias de flexibilidade, que tem como função atender as demandas da contemporaneida de, seja para a associação de espaços de trabalho ou expansão da moradia.
Inserção de VARIAÇÃO DE CORES E MATERIAIS NAS FACHADAS baseados na materialidade diversa das habitações do entorno e do verde do mangue, com a finalidade de dar identidade aos edifícios do conjunto habitacional, diante da multiplicidade dos blocos, já que as cores proporcionam uma plurali dade estética.
68 7.2 CONCEPÇÃO FORMAL E PROGRAMA ARQUITETÔNICO
Espaços de CÔMODOS AUTÔNOMOS INTEGRADOS
Posicionar pequenos bolsões de estacionamentos nas bordas do terreno, para que haja a APROPRIA ÇÃO DOS ESPAÇOS SEMIPÚBLICOS INTERNOS PELOS MORADORES E COMUNIDADE os quais são dispos tos como pequenas praças, espaços lúdicos, espaços de lazer, dentre outros. Criação de ESPAÇOS VERDES E TRATAMENTO PAI SAGÍSTICO no térreo do conjunto habitacional, com sombreamento e iluminação adequados, juntamen te com a alternância de PAGINAÇÃO DE PISOS que contribuem positivamente para a estética e a hie rarquização do andar do pedestre.
O projeto compreende um conjunto habitacional de interesse social multifamiliar. Como premissas de projeto para a concepção formal foram estabelecidas as seguintes propostas: 01 0602 05 03 07 04 08
COBERTURAS ATIVAS como espaços potenciais para a VIDA COMUNITÁRIA e para PRÁTICAS SUSTEN TÁVEIS, por meio de atividades de hortas comu nitárias e de espaços de convivência e de lazer, tal como recomendado por Montaner e Muxí (2011), no livro Ferramentas para Habitar o Presente, ao ini bir o uso exclusivamente técnico das coberturas e conciliar usos coletivos.
Concepção de BLOCOS LAMINARES COM VARIAÇÕES EM ÂNGULOS, com o propósito de favorecer a VEN TILAÇÃO CRUZADA no interior das unidades habi tacionais e tornar a circulação horizontal interna dos edifícios no perímetro das fachadas, para que o indivíduo possa CONECTAR-SE COM O EXTERIOR. A circulação aberta aos pátios internos possibilita a INTERAÇÃO COMUNITÁRIA e a CONECTIVIDADE VI SUAL entre as unidades habitacionais e o entorno.
PERMEABILIDADE DO TERRENO entre blocos, com a finalidade de OPORTUNIZAR VISUAIS do entorno a nível do térreo, sem bloquear o olhar do obser vador. Sendo assim, ter a concepção da forma do edifício alinhada à caminhabilidade do pedestre, com TÉRREO LIVRE SOB PILOTIS ou com FACHA DAS COMERCIAIS ATIVAS, permitindo a percepção curiosa de diferentes CHEIOS E VAZIOS e CONEXÃO URBANA COM O ENTORNO.
DIVERSIDADE TIPOLÓGICA das unidades habitacio nais, com diferentes áreas e quantidade de dormi tórios, para atender à diversidade das famílias e ga rantir qualidade arquitetônica, eficiência, conforto, acessibilidade e VARIAÇÃO ESTÉTICA das fachadas.
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FIGURA 91 - Croquis de desenvolvimento da forma do projeto Fonte: Autora (2022).
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70 Sendo assim, a partir dos módulos definidos, foi possível materializá-los na concepção do projeto e definir os blocos habitacionais quanto às suas dimensões, como representados no es quema da FIGURA 93, a partir da medida de 1M.
7.3 SISTEMAS CONSTRUTIVOS 7.3.1 Modulação A modulação é uma estratégia essencial para a concepção deste projeto, uma vez que é associada como artifício da flexibilidade e da racionalidade da construção. O módulo proposto é a medida de 40 centímetros, o qual se replica em diferentes níveis do projeto: na unidade habi tacional e no edifício. Ele é pensado para estabelecer relações harmônicas entre as partes e visa também proporcionar inúmeras possibilidades de arranjos distintos. A intenção é conceber o todo a partir de uma estrutura organizacional, onde o resultado é produto de um denominador comum. Para as unidades habitacionais, o módulo principal é de 6,40x4,80 metros (ou 30,72 metros quadrados), chamado de 1M . O 1M é aplicado para unidades habitacionais de planta padrão com um dormitório e as variações acontecem à medida em que o espaço físico demanda mais ambien tes. Para unidades habitacionais de planta padrão com dois dormitórios, define-se a medida de 1M+1/4M , equivalente a 8,00x4,80 metros (ou 38,40 metros quadrados); para unidades habitacionais de planta padrão com três dormitórios, tem-se a medida de 1M+1/2M , correspondente a 9,60x4,80 metros (ou 46,08 metros quadrados). É importante salientar que a formação das unidades habi tacionais modulares é feita a partir de dois módulos 1M conjuntos, os quais também integram a circulação horizontal perimetral em suas dimensões. Os cômodos autônomos aparecem de forma integrada ou independente, mas sempre respeitando a definição modular. São módulos geralmen te compostos pelo módulo principal de 3/4M ou 1/2 (FIGURA
7.3.2 Sistema estrutural Tendo em vista a definição dos módulos do sistema, foi possível estabelecer o sistema construtivo mais adequado aos princípios do projeto. O sistema construtivo empregado, então, é constituído por componentes pré-fabricados em aço e concreto. O sistema estrutural adotado é caracterizado pela laje mista steel deck, a qual é formada por uma por uma laje composta por uma chapa de aço galvanizado e uma camada de concreto (FIGURA 94).
92). GSPublisherVersion 0.87.100.100 BLOCO 01 765 25 m BLOCO 02 538 92 m BLOCO 03 491 52 m BLOCO 04 515 50 m BLOCO 06 775 86 m BLOCO 05 491 52 m FIGURA 92 - Definição modular: variações a partir do 1M FIGURA 94 - Esquema estrutural laje steel deck FIGURA 93 - Definição modular dos blocos habitacionais Fonte: Autora (2022). Fonte: Autora (2022).
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Sendo assim, sistemas construtivos, como o drywall, popularizaram-se no mercado e têm sido alternativas viáveis e vantajosas na construção de projetos de qualidade arquitetônica, so bretudo pela característica não estrutural, facilidade de montagem e construção a seco. Similar mente ao steel deck, o drywall acomoda uma diversidade de mudanças de maneira simples. Ele é basicamente formado por: perfis de montantes, com função de sustentação vertical e horizontal + isolamento térmico e acústico, geralmente especificado como lã mineral + placas corresponden tes às tipologias dos ambientes (áreas secas ou molhadas), como chapas standards, resistentes à umidade, resistentes à fogo ou placas cimentícias + acabamentos especificados (FIGURA 97).
0 1 5 3 0 4 5 6 0 7 5 9 0 10 5 12 0 13 5 15 0 10 20 30 40 50 60 70 PILARES METÁLICOS andar único d largura em cm d altura não travada em metros - h 0 5 10 10 20 30 40 50 60 PILARES METÁLICOS vários andares largura em cm d 0 1 5 3 0 4 5 6 0 7 5 9 0 10 5 12 0 13 5 15 0 10 20 30 40 50 60 70 PILARES METÁLICOS andar único) d largura em cm d altura não travada em metros h 0 5 10 15 20 30 35 40 45 50 10 20 30 40 50 60 PILARES METÁLICOS (vários andares largura em cm d número de andares apoiados - n 25 FIGURA 95 - Gráfico para flambagem FIGURA 96 - Gráfico para cargas Fonte: Adaptado de Rebello (2007). Fonte: Adaptado de Rebello (2007). FIGURA 97 - Composição da vedação vertical interna do projeto em drywall Fonte: Autora (2022).
7.3.3 Vedações horizontais e verticais As vedações são peças muito importantes para o sistema construtivo, porque têm a função de fechamento externo/interno e influenciam no conforto ambiental da moradia, na flexibilidade dos espaços e no desempenho das edificações. No que concerne às habitações de interesse so cial, percebe-se o uso majoritário e tradicional do sistema de vedações em alvenaria estrutural, por ser um processo de execução mais simples para a mão de obra disponível no mercado, já que a estrutura e a vedação comumente são executadas em simultâneo e não demandam técnicas específicas de construção. Do ponto de vista arquitetônico e social, o emprego dessa tipologia de vedação restringe possibilidades de mudanças e possui limitações quanto aos vãos. Para a con temporaneidade, levando em conta as constantes transformações socioculturais, a especificação desse sistema não contribui positivamente para o bom desempenho das edificações.
O sistema de laje steel deck é vantajoso, pois: a chapa de aço atua como fôrma para o con creto fresco, reduzindo custos e prazos na execução; nem sempre escoramentos são necessários, auxiliando na diminuição de resíduos no canteiro de obra; o sistema é leve, de fácil manuseio na instalação e execução; há facilidade na compatibilização com instalações; possibilita menos des perdício de materiais, dentre outros (LEMOS, 2013). Além disso, o steel deck vai ao encontro com a flexibilidade, uma vez que o sistema estrutural pode suportar e acomodar a diversidade de perso nalização almejada no projeto.
71
O aço também é um material vantajoso quando aplicado em vãos a partir de seis metros, como adotado no projeto. O pré-dimensionamento das peças, sobretudo dos pilares, é feito por meio da informação do vão modular desejado (1M = 6,40x4,80) e quantidade de andares apoiados. Nesse sentido, tem-se uma noção básica sobre o sistema estrutural, tendo como base os gráficos apresentados na FIGURA 95 e 96.
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Quanto às vedações horizontais, caracterizadas pelos pisos e coberturas, elas são forma das inicialmente pela própria laje mista em steel deck mais as vigas principais e secundárias do sistema. Como complemento, define-se o acabamentos dos pisos pelo método tradicional: contra piso em argamassa + acabamentos (FIGURA 99).
FIGURA 101 - Composição da vedação horizontal: impermeabilizada
72
Portanto, no âmbito das vedações verticais, especifica-se o drywall como sistema de ve dação interna, por viabilizar a flexibilização de layouts, ser considerado como divisória leve, ter manutenção fácil e rápida e ter bom desempenho térmico e acústico nos ambientes conforme ma terial empregado na camada de isolamento. As variações utilizadas são: chapa standard e chapa resistência à umidade. Já no campo das vedações externas, emprega-se como principal compo sição a placa cimentícia, que dá acabamento às fachadas e permite a personalização e a funcio nalidade. Semelhante ao drywall, a sustentação é feita por perfis de montantes junto à camada de isolamento, placa cimentícia e acabamentos (FIGURA 98).
FIGURA 100 - Composição da vedação horizontal: cobertura com telha metálica tipo sanduíche
FIGURA 102 - Composição da vedação horizontal: telhado verdeFIGURA 99 - Composição da vedação horizontal: piso comum Fonte: Autora (2022). Fonte: Autora (2022). Fonte: Autora (2022). Fonte: Autora (2022). Fonte: Autora (2022).
Já as coberturas foram categorizadas em três tipologias: (1) cobertura com telha metáli ca tipo sanduíche (termoacústica) EPS; (2) cobertura impermeabilizada; (3) cobertura com telhado verde. A escolha pela telha metálica tipo sanduíche EPS se justifica pela vantagem que apresenta em relação ao desempenho termoacústico e são empregadas nas áreas de cobertura sem acesso pelas pessoas (FIGURA 100). A cobertura impermeabilizada é uma alternativa aplicada aos espa ços utilizados pelos moradores e comunidade, exemplificados pelas áreas de horta comunitária e mirante (FIGURA 101). Já o telhado verde é empregado em algumas coberturas para auxílio do conforto térmico e qualidade estética (FIGURA 102).
FIGURA 98 - Composição da vedação vertical externa do projeto em placa cimentícia
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FIGURA 104 - Esquema de aberturas para as fachadas principais Fonte: Autora (2022). Fonte: Autora (2022).
FIGURA 103 - Esquema de modulação dos painéis das fachadas principais compostas por placas cimentícias
73 7.3.4 Painéis de fachadas Os painéis arquitetônicos de fachadas surgem como alternativas estéticas e funcionais que implicam na versatilidade do projeto. Somados ao artifício da modulação, assumem papel fun damental na composição deste projeto, no que diz respeito à estética e à operacionalidade das fachadas. Os painéis seguem a modulação de 40 centímetros, conforme esquema da Figura 103, e são formados por encaixes de placas cimentícias com juntas arrematadas por selantes de resinas sintéticas.Opropósito da modulação das fachadas principais é, sobretudo, permitir adicionar ou ex trair aberturas ao longo do tempo, auxiliar na concepção de novos arranjos espaciais internos, conforme modificações de layout interno. É importante evidenciar que a modificação dos painéis pode ser solicitada e realizada pelo próprio usuário da moradia, em conformidade com as mudan ças almejadas e dentro do leque de possibilidades. Na Figura 104 apresentam-se algumas opções de aberturas com esquadrias, compostas por vidro e alumínio, possíveis de serem aplicadas aos projetos. Ressalta-se que não há limitante quanto às tipologias de aberturas, mas sim apenas ao padrão dos módulos operacionais.
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ZEIS 02 Fonte: Site PMV. Disponível em: <https://www.vitoria.es.gov.br/minhavitoriapdu/anexos>. Acesso em: 16 jul. 2022.
07. ACESSIBILIDADE: adaptação dos ambientes sem mudanças significativas na estrutura e no conceito proposto;
05. FACHADAS FLEXÍVEIS: aberturas previstas para comportar diferentes usos e modifica ções, uso de placas de painéis flexíveis com possibilidade de substituição;
7.4.2 Unidades habitacionais Para a concepção das unidades habitacionais, adotam-se os seguintes princípios: 01. DIVERSIDADE TIPOLÓGICA: variação das tipologias de UH;
PALETA
7.4.3 Cômodos autônomos Os cômodos autônomos são estratégias de flexibilidade, sobretudo em edifícios multi familiares, que tem como objetivo dar uma resposta para as transformações e as necessidades das famílias residentes. Segundo Jorge (2012, p. 265), “o surgimento de agregados, a independên cia dos filhos, o desempenho de tarefas isoladas ou independentes, a acomodação de visitantes ou parentes, o acolhimento de filhos adultos que regressam ao lar, o desempenho de atividades de trabalho e de lazer” são demandas que os cômodos autônomos podem acomodar. No projeto, eles assumem um contexto relevante, pois são previstos no processo de concepção projetual e combinados na modulação do sistema construtivo. É preciso ressaltar que se pode obter inúme ras possibilidades de ocupação, variando no sentido da integração, com acesso exclusivo pela moradia, até a total independência das unidades habitacionais, com acesso autônomo e até presença de sanitários. Para a intervenção projetual, leva-se em conta as necessidades vislumbradas para edifí cios sociais, entendendo como os indivíduos moram e demandam o espaço. Visto isso, entende -se como necessário a previsão de cômodos autônomos que comportem zonas de estudo cole tivas, zonas de trabalho remoto compartilhadas, já que após a pandemia da COVID-19, o home office tornou-se uma demanda imprevista, espaços de cunho educativo, atuando como rede de solidariedade para os chefes de famílias que precisam trabalhar e deixar as crianças em casa algum período do dia e áreas para famílias estendidas.
03. ADAPTABILIDADE: cômodos reversíveis, ambientes privativos neutros, com áreas seme lhantes; 04. MODULAÇÃO: medida comum e replicada no projeto;
7.4 ESTUDO PRELIMINAR
7.3.5 Materiais e composição paisagística Os materiais aplicados ao projeto relacionam-se com a materialidade do entorno que está presente nas moradias e no visual paisagístico. Sendo assim, para as fachadas do projeto, apli cam-se os materiais e as cores apresentados abaixo (FIGURA XX). Para entender a composição paisagística, ver projeto disponibilizado no APÊNDICE desde trabalho.
(VARANDASTIJOLO(GUARDA-CORPOGRAFITE(FACHADASPALETA(FACHADASPALETA(FACHADASVERDEPRINCIPAIS)AZULPRINCIPAIS)TERRACOTAPRINCIPAIS)ESCUROEGRADIL)BRANCOINGLÊSECIRCULAÇÃO controle urbanístico:
7.4.1 Legislação Para a elaboração do projeto, considera-se os índices referentes à ZEIS 02 definida pelo PDU de Vitória, pela Lei 9.271/2018, por se tratar de um projeto de conjunto habitacional. A FIGURA 105 mostra os índices de controle urbanístico condizentes com à ZEIS 02.
06. CÔMODOS AUTÔNOMOS: peças à parte da unidade habitacional;
COMUM) FIGURA 105 - Índices de
74
08. CORRESPONDÊNCIA COM ARRANJOS FAMILIARES: adequação do espaço físico para correção com diferentes arranjos familiares, com intuito de permitir ao morador ter a liberdade de escolher sua forma de morar e propor relações entre ambientes.
02. FLEXIBILIDADE PROPRIAMENTE DITA: planta livre, divisórias móveis, definição do nú cleo de áreas molhadas fixas;
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75 estudo das zonas e arranjos familiares NÚCLEO DE ÁREAS MOLHADAS FIXO ZONA SOCIAL POLIVALENTE ARRANJOS FAMILIARES 1 1 2 2 1 1 2 2 AA BB CC A B C 6,40 4,80 4,80 6,40 1,60 4,80 4,80 9,60 8,00 9,60 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 núcleo de áreas molhadas varanda zona social zona íntima circulação comum 1 1 2 2 AA BB CC 6,40 1,60 4,80 4,80 9,60 8,00 1 2 3 4 5 núcleo de áreas molhadas varanda zona social zona íntima circulação comum a a 1 1 2 2 AA BB CC 6,40 4,80 4,80 9,60 1 2 3 4 5 núcleo de áreas molhadas varanda zona social zona íntima circulação comum ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 SETORIZAÇÃO UH TIPO 01 - 2x 1M SETORIZAÇÃO UH TIPO 02 - 2x 1M+1/4M SETORIZAÇÃO UH TIPO 02 - 2x 1M+1/2M Proposta de adequação ao espaço físi co para correlação com outros arranjos familiares conforme serão indicados nas plantas correspondentes. Com a flexibilidade, o intuito é permitir ao morador ter a liberdade de escolher sua forma de morar e propor relações entre os ambientes. Nas plantas dos apartamentos padrões, a estratégia das áreas molhadas fixas tem como objetivo permitir a flexibilida de do setor íntimo/social em diferentes subdivisões, atendendo a arranjos fami liares plurais como serão indicados. A polivalência da zona social permite que os ambientes podem assumir fun ções ou utilidades diferentes.
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76 unidade habitacional tipo 01 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 PLANTA BAIXA UH TIPO 01 - PADRÃO PERSPECTIVA AXONOMÉTRICA PLANTA BAIXA UH TIPO 01 - PADRÃO SEM ESCALA PLANTA BAIXA UH TIPO 01 - ACESSÍVEL PLANTA BAIXA UH TIPO 01 - FLEXÍVEL PLANTA BAIXA UH TIPO 01 - FLEXÍVEL ML J01 15080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 P 02 210 70 P 02 210 70 P 01 210 70 P07 140210 P09 180210 P01 70210 P 02 210 70 1,18 6,57 16 1,57 1,41 10 3,73 17 1,20 17 3,07 10 3,07 17 8,30 8,31 2,16 ACESSO G 1,50 16 3,26 3,53 17 1,55 10 1,42 SALA A 10 81 m QUARTO A 11 43 m B A 3 97 m2 A S A 2 21 m DESP A 2 00 m2 VARANDA A 7 44 m CIRCULAÇÃO COMUM COZINHA A 10 00 m GSPublisherVersion 0.84.100.100 210VÃO 100 P 03 210 80 P 03 210 80 J01 14080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 P07 140210 P09 180210 ML SHAFT ACESSO FG G SALA A 11 73 m2 COZINHA A 9 08 m QUARTO A 11 43 m2 B A 4 91 m2 A S A 2 37 m VARANDA A 7 44 m2 CIRC A 22 m CIRCULAÇÃO COMUM J01 14080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 P 02 210 70 P 02 210 70 P01 70210 P 02 210 70 P 01 210 70 P07 140210 P09 180210 J01 14080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 P 02 210 70 P 02 210 70 P09 180210 P02 70210 P 01 210 70 P 05 210 80 J05 120240 P 0 MLML SHAFTSHAFT ACESSO ACESSO zona flexível adição varanda + integração com sala + novas divisórias + fachada flexível novo cômodo novo layout zona flexível divisórias removidas SALA A 10 81 m COZINHA A 10 00 m QUARTO A 11 43 m B A 3 97 m A S A 2 21 m2 DESP A 2 00 m VARANDA A 7 44 m SALA A 10 81 m COZINHA A 10 00 m2 QUARTO A 10 21 m2 B A 3 97 m2 A S A 2 21 m DESP A 2 00 m2 VARANDA A 3 64 m ESCRITÓRIO A 4 60 m FG Ref FG Ref CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM J01 14080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 P 02 210 70 P 02 210 70 P01 70210 P 02 210 70 P 01 210 70 P07 140210 P09 180210 J01 14080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 P 02 210 70 P 02 210 70 P09 180210 P02 70210 P 01 210 70 P 05 210 80 J05 120240 P 0 MLML SHAFTSHAFT ACESSO ACESSO zona flexível adição varanda + integração com sala + novas divisórias + fachada flexível novo cômodo novo layout zona flexível divisórias removidas SALA A 10 81 m2 COZINHA A 10 00 m2 QUARTO A 11 43 m B A 3 97 m2 A S A 2 21 m DESP A 2 00 m VARANDA A 7 44 m2 SALA A 10 81 m2 COZINHA A 10 00 m QUARTO A 10 21 m B A 3 97 m A S A 2 21 m DESP A 2 00 m VARANDA A 3 64 m2 ESCRITÓRIO A 4 60 m2 FG Ref FG Ref CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM
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77 unidade habitacional tipo 02 P09 180210 J01 14080 P 150 J01 9080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 J05 80240 P 0 P01 70210 P 02 210 70 P01 70210 P01 70210 P08 160210 P01 70210 P09 180210 J01 14080 P 150 J01 9080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 J05 80240 P 0 P 02 210 70 P01 70210 P 02 210 70 P01 70210 P01 70210 P08 160210 P01 70210 J05 80240 P 0 J05 120240 P 0 ML ML SHAFT SHAFT ACESSO ACESSO novo layout + espaço de estudo trabalho externo ao quarto novo layout + quarto integrado + espaço de estudo trabalho externo ao quarto divisórias removidas divisórias removidas zona flexível zona flexível SALA A 11 25 m COZINHA A 8 69 m2 QUARTO A 8 23 m2 QUARTO A 12 42 m A S A 2 70 m B A 3 34 m2 B A 3 31 m2 MULTIUSO A 1 48 m VARANDA A 3 43 m CIRC A 3 41 m2 SALA A 11 25 m COZINHA A 8 69 m QUARTO BEBÊ A 8 11 m2 QUARTO A 12 42 m2 A S A 2 70 m2 B A 3 34 m2 B A 3 31 m MULTIUSO A 48 m VARANDA A 3 43 m CIRC A 3 41 m FG Ref FG Ref CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM P09 180210 J01 14080 P 150 J01 9080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 J05 80240 P 0 P01 70210 P 02 210 70 P01 70210 P01 70210 P08 160210 P01 70210 P09 180210 J01 14080 P 150 J01 9080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 J05 80240 P 0 P 02 210 70 P01 70210 P 02 210 70 P01 70210 P01 70210 P08 160210 P01 70210 J05 80240 P 0 J05 120240 P 0 ML ML SHAFT SHAFT ACESSO ACESSO novo layout + espaço de estudo trabalho externo ao quarto novo layout + quarto integrado + espaço de estudo trabalho externo ao quarto divisórias removidas divisórias removidas zona flexível zona flexível SALA A 11 25 m COZINHA A 8 69 m2 QUARTO A 8 23 m2 QUARTO A 12 42 m A S A 2 70 m B A 3 34 m2 B A 3 31 m2 MULTIUSO A 1 48 m VARANDA A 3 43 m CIRC A 3 41 m2 SALA A 11 25 m COZINHA A 8 69 m QUARTO BEBÊ A 8 11 m2 QUARTO A 12 42 m2 A S A 2 70 m2 B A 3 34 m B A 3 31 m MULTIUSO A 48 m VARANDA A 3 43 m CIRC A 3 41 m FG Ref FG Ref CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 PLANTA BAIXA UH TIPO 02 - PADRÃO PLANTA BAIXA UH TIPO 02 - PADRÃO PLANTA BAIXA UH TIPO 02 - ACESSÍVEL PLANTA BAIXA UH TIPO 02 - FLEXÍVEL PLANTA BAIXA UH TIPO 02 - FLEXÍVEL GSPublisherVersion 0.84.100.100 P09 180210 J01 14080 P 150 J01 9080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 P03 80210 P03 80210 210VÃO 100 P03 80210 P03 80210 J05 120130 P 110 J05 80240 P 0 ML SHAFT ACESSO FG G SALA A 11 25 m2 COZINHA A 8 69 m QUARTO A 12 42 m2 A S A 2 27 m B A 4 82 m B A 3 34 m2 VARANDA A 3 43 m QUARTO A 9 68 m2 CIRC A 4 00 m2 CIRCULAÇÃO COMUM P09 180210 J01 14080 P 150 J01 9080 P 150 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 P04 80230 P01 70210 P01 70210 P 02 210 70 P01 70210 P01 70210 J05 120130 P 110 P08 160210 J05 80240 P 0 ML 17 2,86 17 2,20 10 2,50 17 8,17 1,50 16 2,96 3,83 17 1,18 8,30 16 2,44 10 1,01 10 4,34 17 8,30 ACESSO FG G 10 1,79 10 1,42 10 1,621,40 83 SALA A 11 24 m2 COZINHA A 8 69 m QUARTO A 9 59 m2 QUARTO A 12 42 m A S A 2 70 m B A 3 34 m2 B A 3 31 m2 MULTIUSO A 1 48 m2 VARANDA A 3 43 m2 CIRC A 3 41 m2 CIRCULAÇÃO COMUM
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78 unidade habitacional tipo 03 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 PLANTA BAIXA UH TIPO 03 - PADRÃO PLANTA BAIXA UH TIPO 03 - ACESSÍVEL PLANTA BAIXA UH TIPO 03 - FLEXÍVEL PLANTA BAIXA UH TIPO 03 - FLEXÍVEL P09 180210 J01 12080 P 150 J01 9080 P 150 J01 15080 P 150 P04 80230 P 02 210 70 P01 70210 P01 70210 P 01 210 70 P 01 210 70 J 05 240 160 P 0 J05 120240 P 0 J06 120240 P 0 P01 70210 P08 160210 ML 17 3,00 17 3,04 10 3,15 17 9,79 1,50 16 2,96 3,83 17 1,19 8,30 16 4,45 10 3,43 17 8,30 1,65 10 1,60 10 1,05 3,35 ACESSO FG G 1,81 10 1,73 QUARTO A 10 43 m QUARTO A 10 76 m2 QUARTO A 10 74 m B A 2 66 m2 B A 2 74 Am S A 2 98 m2 MULTIUSO A 2 90 m SALA A 11 78 m2 COZINHA A 9 09 m VARANDA A 3 55 m2 CIRC A 4 25 m CIRCULAÇÃO COMUM GSPublisherVersion 0.84.100.100 P09 180210 J01 12080 P 150 J01 12080 P 150 J01 14080 P 150 P04 80230 P03 80210 P03 80210 210VÃO 100 P03 80210 P 03 210 80 P 03 210 80 J05 120240 P 0 J06 120240 P 0 J 05 240 160 P 0 ML SHAFT ACESSO FG G QUARTO A 10 48 m2 QUARTO A 10 76 m QUARTO A 10 81 m2 B A 4 64 m2 B A 2 71 m A S A 3 02 m SALA A 12 09 m COZINHA A 9 10 m VARANDA A 3 55 m CIRC A 4 69 m CIRCULAÇÃO COMUM ML P09 180210 J01 12080 P 150 J01 12080 P 150 J01 14080 P 150 P04 80230 J05 80240 P 0 J05 240240 P 0 P 02 210 70 P01 70210 P08 160210 P01 70210 P 01 210 70 P06 100210 J01 12080 P 150 J01 12080 P 150 J01 14080 P 150 P04 80230 J05 80240 P 0 J05 120130 P 110 P 02 210 70 P 06 210 100 P01 70210 P01 70210 P01 70210 P 01 210 70 P 01 210 70 P09 180210 J 05 240 160 P 0 ML SHAFTSHAFT ACESSO ACESSO reconfiguração área molhada divisórias removidas novo layout + extensão da sala + fachada flexível novo layout + extensão da sala + adição escritório + fachada flexível divisórias removidas zona flexível zona flexível B A 2 66 m2 B A 2 74 Am S A 2 98 m MULTIUSO A 2 90 m2 SALA A 10 86 m2 COZINHA A 10 01 m VARANDA A 3 85 m CIRC A 4 25 m ESCRITÓRIO A 3 44 m SALA DE JANTAR A 6 45 m2 QUARTO A 10 90 m QUARTO A 10 74 m B A 3 60 m B A 2 84 m A S A 3 21 m DESP A 1 27 m SALA A 13 17 m COZINHA A 9 09 m VARANDA A 3 55 m CIRC A 4 25 m QUARTO A 9 51 m FG Ref FG Ref CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM ML P09 180210 J01 12080 P 150 J01 12080 P 150 J01 14080 P 150 P04 80230 J05 80240 P 0 J05 240240 P 0 J05 80240 P 0 P 02 210 70 P01 70210 P08 160210 P01 70210 P 01 210 70 P 01 210 70 P06 100210 J01 12080 P 150 J01 12080 P 150 J01 14080 150 P04 80230 J05 80240 P 0 J05 120130 P 110 P 02 210 70 P 06 210 100 P01 70210 P01 70210 P01 70210 P 01 210 70 P 01 210 70 P09 180210 J 05 240 160 P 0 240 160 P 0 ML SHAFTSHAFT ACESSO ACESSO reconfiguração área molhada divisórias removidas novo layout + extensão da sala + fachada flexível novo layout + extensão da sala + adição escritório + fachada flexível divisórias removidas zona flexível zona flexível QUARTO A 11 39 m2 QUARTO A 10 74 m B A 2 66 m B A 2 74 Am S A 2 98 m2 MULTIUSO A 2 90 m2 SALA A 10 86 m COZINHA A 10 01 m VARANDA A 3 85 m2 CIRC A 4 25 m ESCRITÓRIO A 3 44 m2 SALA DE JANTAR A 6 45 m QUARTO A 10 90 m2 QUARTO A 10 74 m2 B A 3 60 m B A 2 84 m A S A 3 21 m2 DESP A 27 m SALA A 13 17 m COZINHA A 9 09 m VARANDA A 3 55 m2 CIRC A 4 25 m QUARTO A 9 51 m2 FG Ref FG CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM PERSPECTIVA AXONOMÉTRICA PLANTA BAIXA UH TIPO 03 - PADRÃO SEM ESCALA
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79 cômodos autônomos P 03 210 80 J01 6080 P 150 P04 80230 P09 180210 P03 80210 P05 80210 P 05 210 80 J01 12080 P 150 P04 80230 P09 180210 ACESSO ACESSO VARANDA A 3 77 m2 QUARTO A 6 19 m BAN A 2 64 m VARANDA A 3 84 m2 QUARTO A 10 58 m G COZINHA+SALA A 11 09 m CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM ESPAÇO DE TRABALHO A 9 53 m GSPublisherVersion 0.84.100.100 Ref Ref Ref J01 9080 P 150 J01 14080 P 150 P04 80230 P 01 210 70 P 01 230 280 P02 200230 J01 9080 P 150 P04 80230 P03 80210 J01 9080 P 150 P04 80230 P01 70210 J01 12080 P 150 P04 80230 J01 12080 P 150 P04 80230 P09 180210 J05 120240 P 0 J05 80240 P 0 J05 80240 P 0 J05 80240 P 0 J05 80240 P 0 J05 80240 P 0 J05 80240 P 0 ACESSO ACESSO ACESSO ACESSO ACESSO LAV A 2 46 m SALA DE ESTUDO A 20 78 m LAV A 3 53 m2 BRINQUEDOTECA A 23 00 m2 LAV A 45 m COWORKING A 25 12 m2 SALA REUNIÃO A 22 54 m VARANDA A 2 57 m FGRef ESPAÇO APOIO INFANTIL A 37 92 m CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM CIRCULAÇÃO COMUM ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100ESCALA 1/100 PLANTA BAIXA CA INDEP. PLANTA BAIXA CA INDEP. PLANTA BAIXA CA INDEP. PLANTA BAIXA CA INDEP. PLANTA BAIXA CA INDEP. PLANTA BAIXA CA INTEG.PLANTA BAIXA CA INTEG. CÔMODOS AUTÔNOMOS A proposta dos cômodos autônomos, independentes ou integrados, baseia-se na intenção em criar espaços multifun cionais que atendam as demandas da contemporaneidade, como o trabalho de forma remota; o acréscimo de mora dia para famílias agregadas; a necessi dade da rede de apoio para crianças, quando os pais precisam trabalhar lon ge de casa, e jovens, em seu período de estudo, dentre outras.
80 ensaio de combinações UH+CA Ref Ref ML 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 C C B B A A 1 1 2 2 3 3 4 4 C C B B A A ML ML ML 6,40 6,40 6,40 6,40 4,80 4,80 4,80 4,80 6,40 6,40 6,40 ACESSO ACESSO ACESSO ACESSO ACESSO ACESSO ACESSO ACESSO ACESSO UH TIPO 03 CA INTEGRADO UH TIPO 02 CA INDEPENDENTE UH TIPO UH01 TIPO 02 CA INDEPENDENTE CA INTEGRADO QUARTO A 6 19 m BAN A 64 m LAV A 2 46 m SALA DE ESTUDO A 20 78 m LAV A 3 53 m2 QUARTO A 10 37 m G FG FG G FG G FG G G ACESSO COZINHA COMP A 11 09 m REDE DE APOIO INFANTIL A 37 92 m QUARTO A 10 43 m QUARTO A 10 76 m QUARTO A 10 74 m B A 2 66 m2 B A 2 74 m A S A 2 98 m2 MULTIUSO A 2 90 m SALA A 11 78 m COZINHA A 9 09 m VARANDA A 3 55 m CIRC A 4 25 m SALA A 11 24 m COZINHA A 8 69 m QUARTO A 9 59 m QUARTO A 12 42 m A S A 2 70 m B A 3 34 m B A 3 31 m MULTIUSO A 48 m VARANDA A 7 26 m2 CIRC A 3 41 m2 CIRCULAÇÃO COMUM SALA A 11 24 m2 COZINHA A 8 69 m QUARTO A 9 59 m QUARTO A 12 42 m2 A S A 2 70 m B A 3 34 m2 B A 3 31 m2 MULTIUSO A 48 m VARANDA A 3 43 m CIRC A 3 41 m2 SALA A 10 81 m QUARTO A 11 43 m B A 3 97 m2 A S A 2 21 m2 DESP A 2 00 m2 VARANDA A 11 28 m2 CIRCULAÇÃO COMUM COZINHA A 10 00 m ESPAÇO DE TRABALHO A 9 69 m2 ESCALA 1/100 ESCALA 1/100 PLANTA BAIXA ENSAIO 01PLANTA BAIXA ENSAIO 02
81
82 o conjunto habitacional
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83 observação: conferir projeto, plantas, cortes e fachadas, no apêndice ao final deste trabalho! o conjunto habitacional
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84 o conjunto habitacional
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85 observação: conferir projeto, plantas, cortes e fachadas, no apêndice ao final deste trabalho! o conjunto habitacional
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86 o conjunto habitacional
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87 observação: conferir projeto, plantas, cortes e fachadas, no apêndice ao final deste trabalho! o conjunto habitacional
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88 8CONSIDERAÇÕES FINAIS
89
O enfrentamento ao baixo padrão de qualidade associado à produção de moradia social no Brasil é um cenário resultante de um processo histórico, sobretudo, o qual não favoreceu a construção de moradias populares com princípios de uma “boa arquitetura”. As característi cas dos projetos habitacionais foram compartilhadas entre programas diferentes ao longo do tempo, as quais envolvem o baixo padrão de qualidade arquitetônica associado à escala da inserção urbana, do edifício e da unidade habitacional. Apesar da tentativa em sanar o déficit quantitativo por meio da produção em massa de moradias, principalmente no período BNH e PMCMV, a solução foi de encontro ao problema qualitativo, em virtude do estabelecimento da produção em massa padronizada e replicada de projetos desprovidos de qualidade técnica e distantes dos centros urbanos. Entretanto, tendo em vista as transformações demográficas e socioculturais contemporâ neas, conclui-se que é preciso se pensar na moradia como receptora dos novos modos de vida dos indivíduos. A extrema padronização e rigidez das moradias sociais faz com que haja falta de flexibilização e funcionalidade dos espaços para comportar essas mudanças. Portanto, a proposta do trabalho procurou demonstrar que há boas alternativas de se criar soluções com bons índices de qualidade habitacional, correspondentes aos instrumentos de flexibilidade, in crementando ao projeto o sinônimo de qualidade arquitetônica e espacial das moradias sociais. A partir disso, abrem-se reflexões acerca de se produzir projetos mais funcionais e flexíveis por intermédio dos programas de habitação de interesse social, mesmo dentro de uma lógica em que a produção da moradia digna é desfavorecida. Entende-se que é urgente se pensar em alternativas para comportar as transformações das últimas décadas também no âmbito social, para atender os diversos tipos de arranjos familiares envolvidos neste processo, uma vez que hoje convivemos com diferentes demandas, na casa e no trabalho, e distintos modos de viver. A proposta do trabalho, portanto, estende-se no sentido de evidenciar soluções arquitetônicas para que as pessoas de baixa renda também vivam, de maneira satisfatória, a cidade e o seu lar, sendo este aquilo que perpassa o material e se traduz no afeto e nas relações sociais envolvidas: o modo de HABITAR(-se)
90 9REFERÊNCIAS
91
_________,
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