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Caderno 2 Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade novembro de 2012
Empoderando vidas. Empoderando vidas. Fortalecendo nações. Fortalecendo nações.
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Diana Grosner (SAE/PR)
Assessoria de Comunicação (SAE/PR)
Daniela Gomes (PNUD) Renato Meirelles (Data Popular)
Sumário Apresentação.........................................................................7 1. Limites......................................................................................... 11 2. Desigualdade........................................................................15 3. Heterogeneidade.............................................................23 4. Diversidade............................................................................47 5. Colaborador permanente:............................................53 Tudo Junto e Misturado A Classe Média e a Diversidade do Povo Brasileiro Renato Meirelles
6. Colaborador desta edição:.........................................57 “Quando novos personagens entram em cena” Jailson de Souza e Silva
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Apresentação Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade Como ressaltado no primeiro número da série Vozes da Classe Média, ao longo da última década a classe média brasileira passou de menos de 70 milhões para mais de 100 milhões de brasileiros. Como resultado dessa incorporação massiva de quase 40 milhões de pessoas, hoje, se a classe média brasileira fosse um país, ela seria o 12º país mais populoso do mundo, logo atrás do México (ver Gráfico 1).
Gráfico1: População por país, Gráfico1: População por2012 país, 2012 China Índia Estados Unidos Indonésia Brasil Paquistão Nigéria Bangladesh Russia Japão Mexico Classe Média Brasileira Filipinas Vietnã Etiópia Egito Alemanha Irã Turquia Tailândia
5º
12º
10
100
1000
(Milhões de pessoas)
Fonte: Banco Mundial - World Development Indicators.
Esse aumento da classe média brasileira é uma das principais consequências do crescimento com redução no grau de desigualdade que caracterizou o desenvolvimento do país nos últimos 10 anos. A queda no grau de desigualdade foi particularmente importante, sendo responsável por cerca de 2/3 da expansão da classe média. A expansão da classe média foi também caracterizada pela entrada prioritária dos grupos sociais menos privilegiados que antes estavam nela sub-representados. Como resultado dessa entrada diferenciada, a classe média brasileira se tornou muito mais heterogênea (por exemplo,
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abrigando uma parcela significativa tanto de analfabetos funcionais, como de trabalhadores com ensino médio completo), como muito mais diversa, com ¾ dos entrantes sendo negros. O resultado final é uma classe média muito mais representativa dos mais diversos segmentos da população brasileira. Cada vez mais, a classe média vem se tornando um retrato do Brasil e, dessa forma, um ambiente ideal tanto para o aprimoramento do respeito à diversidade, como para o aproveitamento dessa diversidade como um ativo cultural, social e também econômico. Por esses motivos, neste segundo número da série Vozes da Classe Média centramos nossa atenção no trinômio: desigualdade, heterogeneidade e diversidade. Procuramos documentar, por um lado, a relação desse trinômio com a expansão da classe média e, por outro, como a própria classe média o percebe, com particular atenção à forma como a classe média considera e trata a sua própria e crescente diversidade.
Entre o lançamento do primeiro número da série e este segundo número, ocorreu a divulgação pelo IBGE dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD referentes a 2011. Como eles são as informações base para todo o cálculo do tamanho e características da classe média brasileira, provocaram pequenas revisões em nossas estimativas para o tamanho e a composição da classe média em 2012. Esse é o motivo pelo qual, neste número, estimamos que a classe média em 2012 deva representar 52% da população brasileira, contra os 53% estimados no número anterior desta série. Essa defasagem natural entre o momento de referência e o momento da divulgação das estatísticas nacionais (decorrente do tempo necessário para coleta e processamento dessas informações) nos obriga a sempre basear as estimativas para o último ano em projeções, que vão sendo atualizadas a cada nova divulgação. Assim, enquanto no número anterior o tamanho da classe média para 2012 foi estimado projetando-o a partir das últimas informações existentes naquele momento (PNAD-2009), neste número reestimamos o tamanho e as características da classe média para 2012 a partir da PNAD-2011. Para isso, extrapolamos a tendência de melhoria na distribuição de renda brasileira ocorrida ao longo da década 2001-2011.
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1. Limites Limites de renda definidores da classe média brasileira Para qualquer distribuição de renda, a definição do que vem a ser a classe média exige estabelecer limites inferior e superior de renda, de forma que todas as pessoas com renda familiar per capita dentro de tal intervalo sejam consideradas membros de tal classe. Da mesma maneira, quem estiver abaixo do corte inferior pertence à classe baixa e acima do superior pertence à classe alta. No Brasil, esses limites de renda em valores monetários atuais são R$291 e R$1.019 por cada pessoa da família ao mês. Isso significa que são considerados membros da classe baixa aqueles com renda familiar per capita inferior a R$291 ao mês; pertencem à classe média os que apresentam renda familiar per capita entre R$291 e R$1.019; e acima de R$1.019, à classe alta. De acordo com essa classificação, hoje, 28% da população brasileira pertence à classe baixa; 52%, à classe média e 20%, à classe alta. Mesmo reconhecendo o valor e a utilidade desses limites para avaliar as transformações históricas pelas quais tem passado a distribuição de renda brasileira, é possível questionar se esses níveis de renda são mesmo adequados. Isso equivale a indagar se o tamanho da classe média brasileira deveria ser esse. De forma mais específica, tal raciocínio nos levaria a questionar se o limite inferior está demasiadamente baixo, incluindo equivocadamente na classe média pessoas que, na realidade, pertencem à classe baixa (a classe baixa brasileira deveria ser maior do que é?). Igualmente, podemos questionar se o limite superior não se encontra artificialmente baixo, jogando para classe alta pessoas que deveriam ser consideradas membros da classe média (a classe alta brasileira não deveria ser menor?). Atualmente, o limite inferior, tal como definido, nos dá um contingente de 50 milhões de brasileiros (28% da população) que pertencem à classe baixa, o que já parece alto, considerando estimativas clássicas de pobreza no país. Aumentar o limite inferior implicaria aumentar ainda mais esse contingente. Embora essa seja uma evidência em prol da adequação do limite inferior atual, alguma evidência internacional pode nos ajudar a corroborar a argumentação.
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O Gráfico 2 mostra a distribuição de pessoas em todo o mundo de acordo com a renda per capita de sua família. Observamos que mais da metade da população mundial (54%) vive em famílias com renda per capita inferior a R$291 por mês (critério brasileiro para definir classe baixa). Aumentar esse limite significa incrementar o número de pessoas no mundo que vivem no padrão brasileiro de classe baixa, o que parece inverossímil. As comparações internacionais também trazem luz à avaliação do quão adequado está o limite superior. Apenas 18% da população mundial vivem em famílias com renda per capita acima de R$1.019 por mês. Subir esse corte reduziria ainda mais o número de pessoas no mundo que se enquadram na definição brasileira de classe alta, o que também parece questionável.
Gráfico 2: Distribuição de renda no mundo por renda familiar Gráfico 2: Distribuição de renda no mundo por renda familiar per capita per capita 2000 1900 1800
Renda familiar per capita (R$/mês - 2012)
1700 1600 1500 1400 1300 1200 1100
R$1019
1000
18%
900 800 700 600 500 400
R$291
54%
300 200 100 0 0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
55%
60%
65%
70%
75%
80%
85%
Fonte: Banco Mundial, estimativas produzidas com base em Milanovic, 2011 (The Have and the Have Nots). Valores em R$ de 2012.
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90%
95% 1
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2. Desigualdade A importância da queda na desigualdade de renda para a expansão da classe média brasileira Ao longo da última década, o crescimento na renda das famílias1 brasileiras não foi neutro. Isso significa que alguns grupos experimentaram maior incremento de renda do que outros. Os mais favorecidos foram justamente os pobres. O Gráfico 3 mostra que, no período 2001-2011, enquanto o crescimento na renda dos 10% mais pobres foi de 6,3% ao ano, para os 10% mais ricos não passou de 1,4% ao ano.
Gráfico 3: Taxa de crescimento por décimo da distribuição de Gráfico 3: Taxa de crescimento por décimo da distribuição de renda mensal renda mensal familiar capitaBrasil, : Brasil, 2001-2011 familiarper per capita: 2001-2011 7 6,5 6 5,5
Taxa média anual (%)
5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Primeiro
Segundo
Terceiro
Quarto
Quinto
Sexto
Sétimo
Oitavo
Nono
Décimo
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD.
Logo, o país passou por um processo de crescimento inclusivo, que ocorre quando renda média das famílias aumenta e a desigualdade cai. É possível ocorrer crescimento inclusivo mesmo quando grupos não pobres perdem renda ao longo do tempo. Basta que os ganhos dos pobres compensem mais do que as perdas dos ricos. Nesse caso, ainda haverá 1
Em toda a análise aqui apresentada, foi sempre considerada a distribuição da população brasileira de acordo com sua renda familiar per capita mensal.
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aumento na renda média da sociedade com ganhos maiores para os mais pobres. Não foi o que aconteceu no Brasil. No período considerado, todos os grupos ganharam. Nesse ganha-ganha recente, a classe média foi afetada. Antigas famílias pobres melhoraram tanto sua renda que deixaram a pobreza e ingressaram na classe média. Da mesma forma, famílias ora pertencentes à classe média passaram à classe alta. Houve um movimento de entrada e saída. Qual foi a importância do crescimento geral da renda vis a vis a redução da desigualdade na definição do tamanho da nova classe média brasileira? Para responder a essa pergunta será preciso decompor o aumento da classe média em dois efeitos provenientes de movimentos da distribuição de renda que, embora na prática ocorram misturados, sua separação possui grande valor analítico. O primeiro deles é o crescimento uniforme ou balanceado, situação em que todos os grupos de renda melhoram a uma mesma taxa. Se somarmos a isso as mudanças na desigualdade – definidas como desvios de crescimento (em relação ao crescimento médio) efetivamente experimentados por cada grupo – conseguimos recuperar exatamente o que aconteceu nos últimos dez anos. O exercício aqui consiste, portanto, em simular o que teria acontecido com a classe média caso a sociedade brasileira tivesse vivido apenas o crescimento balanceado, sem mudanças na desigualdade. Também se investiga o oposto: o que passaria se apenas a desigualdade tivesse se alterado. Note que, com as simulações propostas, o crescimento balanceado por si só é capaz de aumentar e diminuir o tamanho da classe média, pois inclui segmentos antes pertencentes ao grupo mais pobre, porém exclui um contingente que passa aos mais ricos (o que também é bom, evidentemente). Já as reduções na desigualdade (quando isolada do crescimento, isto é, quando a taxa de crescimento média é igual a zero) somente aumentam o tamanho da classe média. Basta imaginar que as reduções na desigualdade são como transferências de grupos mais ricos para os mais pobres, mantendo-se inalterada a média da distribuição. Nesse caso, os mais pobres podem se beneficiar e ascender, e os mais ricos podem descer. Na sequência, tais exercícios são postos em prática, permitindo estimar os impactos desses movimentos sobre o aumento real no tamanho da classe média brasileira.
Os impactos do crescimento inclusivo sobre o tamanho da classe média Por ser um grupo intermediário, mudanças no tamanho da classe média são determinadas por dois fluxos: entrada e saída. A Tabela 1 indica que houve expansão de 14 pontos
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percentuais no tamanho dessa classe, que deixou de representar 38% da população, em 2002, e passou a 52%, em 20122. Tal expansão ocorreu porque a entrada de novos contingentes provenientes da classe baixa foi muito superior à saída para a classe alta. De fato, o fluxo de entrada foi responsável por 21 pontos percentuais de expansão da classe média, mas a saída reduziu o grupo em 7 pontos. Por trás dessa expansão estão os movimentos de crescimento balanceado e redução na desigualdade de renda. As simulações indicam que, caso apenas reduções no grau de desigualdade tivessem ocorrido, a classe média se expandiria em 9 pontos percentuais. Contando com o crescimento balanceado, a classe média se expandiria em apenas 5 pontos percentuais. Portanto, 2/3 do aumento da classe média deve-se à redução no grau de desigualdade e 1/3 ao crescimento.
Tabela 1: Os impactos do crescimento inclusivo sobre o tamanho da Tabela 1: Os impactos do crescimento inclusivo classe média
sobre o tamanho da classe média
Simulações
Crescimento com redução de desigualdade
Crescimento balanceado
Apenas redução da desigualdade
Classe
Tamanho (participação na população - %) 2002 2012
Entrada/Saída (em pontos percentuais)
Baixa
48
28
-21
Média
38
52
14
Alta
13
20
7
Baixa
48
38
-11
Média
38
43
5
Alta
13
19
6
Baixa
48
40
-8
Média
38
47
9
Alta
13
12
-1
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
2
Os resultados para 2012 foram obtidos a partir de uma projeção de informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) acerca de evolução 2001-2011, projetadas a partir de 2011.
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Então isso significa que a queda na desigualdade foi mais importante que o crescimento? A resposta é não. Afinal, o crescimento gerou outro efeito não computado na simulação anterior: a saída de pessoas da classe média para a classe alta (que reduz o tamanho da classe média, mas deve ser contabilizada como um resultado positivo). Se apenas o crescimento tivesse acontecido (sem reduções no grau de desigualdade), a classe alta teria se expandido (e a classe média encolhido) em 6 pontos percentuais. Já se apenas o grau de desigualdade tivesse sido reduzido (sem crescimento na renda), a classe alta não teria aumentado. Na verdade, teria diminuído ligeiramente em 1 ponto percentual.
A importância do crescimento para outras características da classe média Outras características da classe média O tamanho da classe média não é a única característica merecedora de atenção. É relevante acompanhar o que aconteceu com a participação dessa classe na renda total das famílias, bem como avaliar a taxa de crescimento na renda média do grupo. Contudo, para trabalhar com esse último indicador (a renda média do grupo) há de se ter alguns cuidados. Dado que mudanças na classe média são marcadas por um fluxo de entrada e saída, constatar que, de um momento para outro a renda média do grupo se reduziu, não é necessariamente um problema. Por exemplo, se muitos membros da classe média experimentarem ganhos suficientes para levá-los à classe alta, mesmo que a renda dos demais membros permaneça inalterada, é bem possível que a média do grupo caia. Para escapar dessa armadilha, recomenda-se adotar uma definição “relativa” de classe média3. Isto é, fixar o grupo que pertencia à classe média em 2002 e olhar para o que aconteceu com esse grupo em 2012. Tal estratégia permite medir de maneira mais adequada se um dado grupo enriqueceu. Para fazer isso, é necessário conhecer os valores correspondentes ao pontos de corte mínimo e máximo que delimitam quem fazia parte da classe média em 2002 e identificar os centésimos de corte (ou, simplesmente, a posição na distribuição de renda) correspondentes. Em seguida, basta buscar esses mesmos centésimos na distribuição de 2012. Nesse caso, os pontos de corte em valores monetários absolutos em 2012 não serão os mesmos de 2002.
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A análise da evolução do tamanho da classe média foi construída a partir de uma noção absoluta de classe média, em que são fixados os mesmos pontos de corte em valores monetários absolutos para 2002 e 2012. No caso, R$291 e R$1.019.
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De acordo com a definição relativa de classe média (que considera a posição na distribuição de renda e não os pontos de corte em valores monetários absolutos), a renda do grupo cresceu acima da média nacional (veja Tabela 2). Enquanto a taxa média de crescimento da renda do país foi de 2,9% ao ano, a renda da classe média cresceu a 3,7% ao ano. Consequentemente, a participação da classe média na renda total das famílias brasileiras passou de 35% para 37%.
Tabela 2: Os impactos do crescimento inclusivo sobre outras Tabela 2: Os impactos do crescimento inclusivo sobre outras características da classe média características da classe média Simulações
Crescimento com redução de desigualdade
Crescimento balanceado
Apenas redução da desigualdade
Classes de renda
2002
2012
Taxa anual de crescimento
Brasil (renda em R$/mês)
590
789
2,9%
Classe média absoluta (renda em R$/mês)
532
566
0,6%
Classe média absoluta (participação na renda total)
35%
38%
........
Classe média relativa (renda em R$/mês)
532
767
3,7%
Classe média relativa (participação na renda total)
35%
37%
........
Brasil (renda em R$/mês)
590
789
2,9%
Classe média absoluta (renda em R$/mês)
532
555
0,4%
Classe média absoluta (participação na renda total)
35%
30%
........
Classe média relativa (renda em R$/mês)
532
711
2,9%
Classe média relativa (participação na renda total)
35%
35%
........
Brasil (renda em R$/mês)
590
590
0,0%
Classe média absoluta (renda em R$/mês)
532
536
0,1%
Classe média absoluta (participação na renda total)
35%
43%
........
Classe média relativa (renda em R$/mês)
532
571
0,7%
Classe média relativa (participação na renda total)
35%
37%
........
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Mas se considerarmos a noção absoluta de classe média (mesmos pontos de corte em valores monetários absolutos em 2002 e em 2012), veremos que a renda do grupo cresce muito lentamente, pois incorpora novos membros com renda mais baixa (oriundos da classe baixa) e perde antigos membros com renda mais alta. O resultado é um crescimento na renda do grupo de apenas a 0,6% ao ano. Consequentemente, embora essa
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população tenha aumentado em 15 pontos percentuais, sua participação na renda total das famílias cresceu apenas 3 pontos percentuais (passou de 35% para 38%). Novos impactos Já vimos que o crescimento inclusivo fez também com que a renda da classe média definida em termos relativos crescesse mais aceleradamente que a média nacional: 3,7% ao ano contra 2,9%. Se a expansão do tamanho da classe média se deu primordialmente pela redução no grau de desigualdade, o contrário ocorre com o crescimento da renda da classe média definida em termos relativos. Caso o crescimento tivesse ocorrido sem redução na desigualdade (crescimento balanceado), a renda da classe média “relativa” teria crescido igual à média nacional (veja Tabela 2). Se a única transformação tivesse sido a redução no grau de desigualdade, a renda da classe média “relativa” teria crescido somente 0,7%. Para explicar o aumento da participação da classe média (definida em termos relativos) na renda total das famílias (que passou de 35% para 37%), todo o destaque recai sobre a queda no grau de desigualdade. Note que, na presença do crescimento balanceado, a participação em 2002 (35%) teria se mantido em 2012. Considerações finais Em suma, a redução na desigualdade e o crescimento foram igualmente importantes para explicar a ascensão da classe média no Brasil entre 2002 e 2012. Essa conclusão exige que se avaliem, em conjunto, os resultados das simulações que tratam dos impactos sobre o tamanho das classes média e alta. Se a redução na desigualdade demonstrou ser o principal fator por trás do aumento da classe média, o crescimento, por sua vez, levou muita gente da classe média para a classe alta. Para além do tamanho da classe média, se investigou o papel desses dois fatores no crescimento da renda média do grupo e na participação do grupo na renda total das famílias. A importância relativa dos fatores varia. Para explicar o crescimento na renda média, o crescimento se mostrou mais importante. Para o aumento na participação na renda total das famílias, a redução na desigualdade foi decisiva.
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3. Heterogeneidade As novas faces da classe média: quando uma classe se torna quase tão heterogênea quanto o Brasil Nesta seção, apresentamos o perfil daqueles que entraram na classe média nos últimos 10 anos (coluna “Contribuição à expansão” das Tabelas 3, 7 e 8), contrastando também o retrato para os anos de 2002 e 2012 dos diversos grupos socioeconômicos no Brasil e na classe média brasileira (Tabelas 3, 7 e 8). Além disso, demonstramos qual a proporção de pessoas dentro de cada grupo socioeconômico que está na classe média em 2012 e que estava na classe média em 2002, bem como a expansão líquida da classe média, isto é, o quanto ela cresceu, dentro de cada grupo (Tabelas 4 e 9)4. Para se ter ideia mais geral do que aconteceu no Brasil, apresentamos também o tamanho das classes baixa e alta para os anos de 2002 (Tabelas 5 e 10) e 2012 (Tabelas 6 e 11). Optamos, contudo, por focar a atenção aos movimentos da classe média. Igualdade racial na classe média Na Tabela 3, coluna “Contribuição à expansão“, podemos ver a proporção de negros e brancos entre os novos entrantes, de 75% e 25%, respectivamente. Isso quer dizer que, de cada 100 pessoas que entraram na classe média, 75 eram negras e 25, brancas. A entrada maciça de negros na classe média fez com que a participação desse grupo na classe média brasileira subisse de 38%, em 2002, para 51%, em 2012.
4
Nos casos em que houve retração da classe média, o valor da expansão aparecerá com sinal negativo.
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Tabela 3: Contribuição dos grupos socioeconômicos no Brasil e para a Tabela 3: Contribuição dos grupos socioeconômicos no Brasil e para a formação e expansão formação e expansão da classe damédia classe média (%)
2002
2012
Brasil
Classe Média
Contribuição à expansão da classe média (2002-2012)
Brancos e amarelos
54
62
25
48
49
Negros
46
38
75
52
51
Grupo
Brasil
Classe Média
Cor
Região Norte
6
5
8
7
6
Nordeste
29
17
34
29
23
Sudeste
43
52
36
42
46
Sul
15
19
12
15
16
Centro-Oeste
7
7
11
8
9
Urbana
84
91
86
86
89
Rural
16
9
14
14
11
Fundamental incompleto ou sem escolaridade
66
59
64
49
51
Fundamental completo
9
11
8
11
13
Ensino médio completo ou incompleto
17
23
23
28
30
Alguma educação superior
8
6
5
12
7
Ocupados
55
59
56
56
58
Desempregados
6
5
1
4
3
Inativos
39
36
43
40
39
Formal
44
52
69
56
58
Informal
56
48
31
44
42
Agrícola
21
12
11
15
12
Outras atividades industriais
1
1
1
1
1
Indústria de transformação
14
17
10
13
14
Área
Nível educacional do chefe
População em idade ativa
População ocupada Formalização
Setor de atividaddes
Construção
7
7
14
9
10
Comércio e reparação
17
20
19
18
19
Alojamento e alimentação
4
4
8
5
6
Transporte, armazenagem e comunicação
5
6
6
6
6
Administração pública
5
5
3
6
5
Educação, saúde e serviços sociais
9
10
4
9
8
Serviços domésticos
7
7
11
7
8
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais
4
4
3
4
4
Outras atividades
7
7
9
9
8
Atividades maldefinidas
0
0
0
0
0
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
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Já a Tabela 4 revela a proporção de negros pertencentes à classe média. Em 2002, apenas 31% dos negros pertenciam a essa classe, enquanto que no Brasil como um todo – somando negros e brancos – a proporção de pessoas que pertenciam à classe média era de 38%. Em 2012, a proporção de negros pertencentes à classe média subiu para 52%, valor igual à proporção total de pessoas (negras e brancas) que pertencem a essa classe no Brasil.
Tabela 4: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes Tabela 4: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes grupos socieconômicos grupos socieconômicos (%)
(p.p.)
(%)
2002
2012 Expansão líquida da classe média (2002-2012) Classe Média Classe Média
Grupo
Brasil
38
14
52
Cor Brancos e amarelos
44
8
53
Negros
31
21
52
Região Norte
31
17
48
Nordeste
22
20
42
Sudeste
46
11
57
Sul
49
9
58
Centro-Oeste
40
17
57
Urbana
42
12
54
Rural
21
21
42
Área
Nível educacional do chefe Fundamental incompleto ou sem escolaridade
34
19
54
Fundamental completo
49
10
59
Ensino médio completo ou incompleto
53
4
57
Alguma educação superior
27
2
30
41
12
53
Ocupados
44
11
55
Desempregados
33
12
44
Inativos
38
13
51
População em idade ativa
População ocupada Formalização Formal
51
6
57
Informal
38
15
52
Setor de atividaddes Agrícola
25
20
45
Outras atividades industriais
41
7
49
Indústria de transformação
54
9
62
Construção
45
17
62
Comércio e reparação
50
9
59
Alojamento e alimentação
50
13
63
Transporte, armazenagem e comunicação
53
6
58
Administração pública
47
-2
45
Educação, saúde e serviços sociais
47
-1
46
Serviços domésticos
42
23
65
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais
48
5
53
Outras atividades
44
4
48
Atividades maldefinidas
31
24
55
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 25
Diminuem as desigualdades regionais Como se pode ver pela Tabela 3, a região que mais colocou novas pessoas na classe média foi a Sudeste (36% dos entrantes), seguida da Nordeste (34%) e Sul (12%). No entanto, isso não significa que o crescimento da classe média nessas regiões tenha sido mais expressivo. Muito do peso entre os entrantes deve-se simplesmente ao fato de que essas regiões são as que abrigam um maior contingente da população brasileira como um todo (o que pode ser visto tanto na coluna “2002-Brasil”, como na coluna “2012-Brasil”), naturalmente abrigando também boa parte dos entrantes à classe média. A participação de um dado grupo entre os entrantes só pode ser considerada especialmente expressiva, se for superior à proporção que esse grupo representa no Brasil como um todo. No caso do Sudeste, a sua participação no Brasil em 2002 era de 43% da população (isto é, 43% dos brasileiros viviam nessa região naquele ano). Assim sendo, era de se esperar que um movimento de expansão da classe média no Brasil incluísse uma grande parte de brasileiros que vivem na região Sudeste. Já no caso no Nordeste, a proporção de brasileiros que viviam nessa região em 2002 era de 29%, enquanto que, entre os que entraram na classe média entre 2002 e 2012, 34% viviam na região. Aqui, sim, a participação do Nordeste entre os novos membros da classe média pode ser considerada expressiva. O mesmo contraste ocorre em relação ao Sul e ao Centro-Oeste. No caso do Sul, que abrigava 15% dos brasileiros em 2012, a participação entre os entrantes se restringiu a 12%. Ao passo que no Centro-Oeste, que abrigava 7% dos brasileiros em 2002, a participação de 11% entre os entrantes deve ser considerada muito mais expressiva. A participação da região Norte entre os entrantes, mesmo sendo a menor das cinco regiões (8%), deve ser também considerada expressiva, dada a proporção de brasileiros que viviam na região em 2002, de apenas 6% do total. Uma outra forma, mais fácil, de ver a importância da expansão da classe média nas diferentes regiões é olhar para o quanto a classe média cresceu dentro de cada região. Esse crescimento pode ser visto na coluna “Expansão líquida” da Tabela 4, que corresponde à diferença entre a proporção de pessoas dentro de cada região que pertencem à classe média em 2012 e a proporção de pessoas dentro de cada região que pertenciam a essa classe em 2002.
26 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Como se pode ver, a região Nordeste foi aquela que apresentou maior expansão de sua classe média (20 pontos percentuais), seguida das regiões Norte, Centro-Oeste (ambas com 17 pontos percentuais), Sudeste e Sul (com expansão de 11 e 9 pontos percentuais respectivamente). O aumento da classe média no Nordeste fez com que a proporção de pessoas nessa classe, nessa região, passasse de 22%, em 2002, para 42%, em 2012. No entanto, apesar da expressiva expansão da classe média no Nordeste, essa região é a que tem a menor proporção da população na classe média: apenas 42% dos nordestinos brasileiros pertencem à classe média, enquanto que, no Brasil como um todo, 52% pertencem a essa classe. A expansão de 17 pontos percentuais da classe média na região Norte fez com que a proporção de pessoas nessa classe subisse de 31%, em 2002, para 48%, em 2012. Ainda aquém da proporção total de brasileiros na classe média, mas já bem mais próxima desse número. Se em 2002 a distância em relação à proporção de brasileiros vivendo na classe média era na região Nordeste de 16 pontos percentuais (38% - 22% = 16 p.p.) e na região Norte de 7 pontos percentuais (38% - 31% = 7 p.p.), em 2002, a distância em relação ao Brasil cai para 10 pontos percentuais no Nordeste (52% - 42% = 10 p.p.) e para 4 pontos percentuais no Norte (52% - 48% = 4 p.p.). Nas demais regiões, a proporção de pessoas que pertencem à classe média é superior à proporção da população brasileira como um todo pertencente à classe média. Destaque para a região Centro-Oeste que, com uma expansão líquida de 17 pontos percentuais, viu sua classe média crescer de 40%, em 2002, para 57%, em 2012, igualando-se à região Sudeste (que também possui 57% de sua população na classe média), e aproximando-se da região Sul (que possui 58% de seus habitantes nessa classe). O desempenho da região Centro-Oeste é ainda mais impressionante quando se considera a distância que ela estava das regiões Sudeste e Sul em 2002. Diminuição das desigualdades urbano/rural Dado o elevado contingente de brasileiros vivendo em área urbana (84% da população em 2002 e 86% em 2012), é natural que a maior parte da classe média também se concentre nessa área. No entanto, é possível saber se a desigualdade urbano/rural está diminuindo ou não, olhando para a expansão da classe média dentro de cada uma dessas áreas. A Tabela 4 indica um expressivo aumento da classe média no meio rural: em 2002, apenas 21% das pessoas que aí viviam pertenciam à classe média; em 2012, já são 42% dos brasileiros
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 27
vivendo na área rural que pertencem a essa classe. Esses dados são bastante animadores, sinalizando uma ruptura da relação histórica entre área rural e pobreza. Os bons resultados da área rural podem também ser vistos nas Tabelas 5 e 6: a proporção de pessoas na área rural que pertenciam à classe baixa, média e alta em 2002 eram, respectivamente, de 77%, 21% e 2%, e, em 2012, correspondem a 52%, 42% e 6%. Classe média e nível educacional Sem dúvida, a melhora de renda no Brasil atingiu pessoas de todos os níveis educacionais. Como se pode ver na Tabela 4, o contingente de pessoas com ensino fundamental incompleto ou sem escolaridade que pertenciam à classe média era, em 2002, inferior ao contingente de brasileiros que pertenciam à classe média naquele ano (34% contra 38%). Já em 2012, após uma expansão líquida de 19 pontos percentuais, o contingente de pessoas com esse nível educacional que pertencem à classe média chega a 54%, acima da proporção de brasileiros que pertencem a essa classe (52% do total)5. Os grupos de nível educacional que tiveram menor expansão líquida de suas classes médias referem-se ao do ensino médio e do ensino superior. Isso se deve, contudo, a fatores distintos. No caso do ensino médio completo ou incompleto, grande parte dessa população já pertencia à classe média em 2002 (53%). No caso do ensino superior, a maior parte das pessoas pertence à classe alta e não à classe média. A classe média e o mercado de trabalho De cada 100 trabalhadores que entraram na classe média, 69% ocupavam postos formais, o que elevou a contribuição dos trabalhadores formais para a classe média de 52%, em 2002, para 58%, em 2012 (Tabela 3). Já a proporção dos trabalhadores formais que pertencem à classe média passou de 51%, em 2002, para 57%, em 2012, enquanto que, dentre a população em idade ativa no Brasil, o contingente que pertencia à classe média representava apenas 41%, em 2002 e, em 2012, representava 53% (Tabela 4). Isso revela uma forte representação da classe média entre os trabalhadores formais. Há que se ressaltar, também, que não foram apenas os trabalhadores formais que se beneficiaram do crescimento recente do país. Em 2002, 38% dos trabalhadores informais pertenciam à classe média e, após uma expansão líquida de 15 pontos percentuais, 52% dos trabalhadores informais já pertencem a essa classe. 5
As diferenças entre 2002 e 2012 não são exatas em função de arredondamentos.
28 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
A classe média e os setores de atividade econômica Como se pode ver na Tabela 3, os setores que mais contribuíram para a expansão da classe média foram o de comércio e o de serviços que, somados, chegam a 36% do total dos entrantes da classe média, seguidos do setor industrial (incluindo a indústria da construção), que abrangeu 25% dos entrantes. Em sequência, vêm os setores agrícolas e de serviços domésticos, ambos representando 11% dos novos entrantes. Já na Tabela 4, é possível verificar em que setores a proporção de pessoas que pertencem à classe média cresceu. Embora o setor de serviços domésticos tenha contribuído menos para a composição da classe média como um todo (11%, como afirmado no parágrafo anterior), foi nesse setor que o número de pessoas que pertencem à classe média mais cresceu: após uma expansão líquida de 23 pontos percentuais, a proporção de trabalhadores domésticos que pertencem a essa classe subiu de 42%, em 2002, para 65%, em 2012. Dentre as diversas atividades que compõem o segmento industrial, o que mais viu sua parcela correspondente à classe média crescer foi o da construção que, após expansão líquida de 17 pontos percentuais, elevou a proporção desses trabalhadores pertencentes à classe média de 45%, em 2002, para 62%, em 2012. Destaque também há de ser feito para o setor agrícola, que demonstrou seu dinamismo ao conseguir elevar o contingente de trabalhadores do setor pertencentes à classe média de 25%, em 2002, para 45%, em 2002: uma expansão líquida de 20 pontos percentuais, uma das maiores dentre os diversos setores de atividades econômicas. Esse resultado se mostra coerente com a expansão da classe média dentre os habitantes da área rural.
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 29
Tabela 5: Distribuição por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2002 por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2002 Tabela 5: Distribuição (%) Classe Grupo Baixa
Média
Alta
48
38
13
Brancos e amarelos
35
44
20
Negros
63
31
6
Norte
61
31
8
Nordeste
73
22
5
Sudeste
36
46
18
Sul
35
49
16
Centro-Oeste
45
40
16
Urbana
43
42
15
Rural
77
21
2
Fundamental incompleto ou sem escolaridade
61
34
4
Fundamental completo
39
49
12
Ensino médio completo ou incompleto
24
53
23
Alguma educação superior
3
27
70
44
41
15
Ocupados
39
44
17
Desempregados
60
33
7
Inativos
49
38
13
39
44
17
Formal
23
51
26
Informal
52
38
10
Agrícola
71
25
3
Outras atividades industriais
33
41
26
Indústria de transformação
29
54
17
Construção
47
45
8
Comércio e reparação
31
50
19
Alojamento e alimentação
36
50
14
Transporte, armazenagem e comunicação
26
53
21
Administração pública
20
47
33
Educação, saúde e serviços sociais
17
47
35
Serviços domésticos
55
42
3
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais
31
48
21
Outras atividades
16
44
39
Atividades maldefinidas
61
31
8
Brasil Cor
Região
Área
Nível educacional do chefe
População em idade ativa
População ocupada Formalização
Setor de atividaddes
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
30 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Tabela 6: Distribuição por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2012 por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2012 Tabela 6: Distribuição (%) Classe Grupo Baixa
Média
Alta
28
52
20
Brancos e amarelos
19
53
29
Negros
36
52
12
Norte
39
48
13
Nordeste
49
42
9
Sudeste
18
57
25
Sul
15
58
28
Centro-Oeste
19
57
24
Urbana
24
54
22
Rural
52
42
6
Fundamental incompleto ou sem escolaridade
38
54
8
Fundamental completo
26
59
15
Ensino médio completo ou incompleto
20
57
23
Alguma educação superior
5
30
65
25
53
22
Ocupados
18
55
27
Desempregados
47
44
9
Inativos
33
51
17
18
55
27
Formal
9
57
34
Informal
29
52
19
Agrícola
46
45
9
Outras atividades industriais
10
49
41
Indústria de transformação
11
62
27
Construção
22
62
16
Comércio e reparação
13
59
27
Alojamento e alimentação
16
63
21
Transporte, armazenagem e comunicação
12
58
30
Administração pública
9
45
46
Educação, saúde e serviços sociais
6
46
48
Serviços domésticos
26
65
9
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais
12
53
35
Outras atividades
7
48
46
Atividades maldefinidas
30
55
15
Brasil Cor
Região
Área
Nível educacional do chefe
População em idade ativa
População ocupada Formalização
Setor de atividaddes
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 31
A classe média nos estados brasileiros Apresentamos, nas Tabelas 7 a 11, um resumo da evolução da classe média nas diferentes regiões e estados do Brasil. A Tabela 7 apresenta o peso de cada estado na composição total do Brasil, na composição da classe média, para os anos de 2002 e 2012, bem como a contribuição de cada estado para os entrantes da classe média brasileira. A Tabela 8 apresenta os mesmos números, mas com relação a cada região. Dessa maneira, é possível observar o peso de cada estado para a composição da sua região, para a classe média da sua região, bem como a sua contribuição para o total de entrantes na classe média da sua região. A Tabela 9 apresenta o tamanho da classe média em 2002 e 2012, bem como a expansão dessa classe em cada um dos estados brasileiros. Finalmente, as Tabelas 10 e 11 apresentam o tamanho das três classes em cada estado e região brasileira, para os anos de 2002 e 2012 respectivamente. Como se pode ver na coluna “Expansão líquida” da Tabela 9, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste tiveram expansão líquida da classe média superior à média brasileira.
32 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Tabela 7: Contribuição dos estados e regiões para o Brasil e para a formação e expansão da classe média no Brasil Tabela 7: Contribuição dos estados e regiões para o Brasil e para a formação e expansão da classe média no Brasil
(%) 2002 Localidade Brasil
Norte Acre
Classe Média
Contribuição à expansão da classe média (2002-2012)
2012 Brasil
Classe Média
6
5
8
7
6
0,2
0,2
0,5
0,3
0,3 0,3
Amapá
0,3
0,2
0,3
0,3
Amazonas
1,4
1,1
1,5
1,4
1,3
Pará
2,6
2,1
3,6
2,9
2,6
Rondônia
0,6
0,6
0,8
0,6
0,7
Roraima
0,2
0,1
0,4
0,2
0,2
Tocantins
0,7
0,5
1,2
0,8
0,7
29
17
34
29
23
Alagoas
1,7
0,8
1,9
1,7
1,2
Nordeste Bahia
7,8
4,6
9,0
7,3
6,2
Ceará
4,5
2,5
6,4
4,7
3,9
Maranhão
3,5
1,7
3,7
3,6
2,4
Paraíba
2,1
1,2
2,7
2,1
1,7
Pernambuco
4,6
2,7
5,9
4,5
3,8
Piauí
1,7
1,0
2,3
1,7
1,4
Rio Grande do Norte
1,7
1,2
2,0
1,8
1,4
Sergipe
1,1
0,8
1,3
1,2
1,0
43
52
36
42
46
Espírito Santo
1,9
1,8
2,4
1,9
2,0
Minas Gerais
10,7
11,0
12,8
10,5
11,6
Rio de Janeiro
8,5
10,8
3,3
7,9
8,2
São Paulo
22,0
28,2
16,0
21,6
24,0
15
19
12
15
16
Paraná
5,7
6,9
5,5
5,7
6,4
Rio Grande do Sul
6,0
7,5
3,9
5,7
6,3
Santa Catarina
3,3
4,9
1,5
3,4
3,7
7
7
11
8
9
1,3
1,2
1,4
1,4
1,3 3,9
Sudeste
Sul
Centro-Oeste Distrito Federal Goiás
3,1
3,3
4,9
3,4
Mato Grosso
1,6
1,6
2,7
1,7
1,9
Mato Grosso do Sul
1,3
1,4
1,9
1,4
1,6
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 33
Tabela 8: Contribuição dos estados para as suas regiões e para a formação e expansão da classe média em sua respectiva região Tabela 8: Contribuição dos estados para as suas regiões e para a formação e expansão da classe média em sua respectiva região
(%)
Região
Classe Média
Contribuição à expansão da classe média (2002-2012)
Acre
4
4
6
5
Amapá
5
5
4
5
4
Amazonas
23
23
18
21
21
Pará
44
43
43
44
43
Rondônia
10
13
9
9
11
Roraima
3
2
5
3
3
Tocantins
12
10
15
12
12
2002 Localidade
2012 Região
Classe Média
5
Norte
Nordeste Alagoas
6
5
5
6
5
Bahia
27
28
26
26
27
Ceará
16
15
18
17
17
Maranhão
12
10
11
13
11
Paraíba
7
7
8
7
8
Pernambuco
16
16
17
16
17
Piauí
6
6
7
6
6
Rio Grande do Norte
6
7
6
6
6
Sergipe
4
5
4
4
4
Sudeste Espírito Santo
4
4
7
4
4
Minas Gerais
25
21
37
25
25
Rio de Janeiro
20
21
10
19
18
São Paulo
51
54
46
52
52
Sul Paraná
38
36
50
38
39
Rio Grande do Sul
40
39
36
39
38
Santa Catarina
22
25
14
23
23
Distrito Federal
18
16
13
18
15
Goiás
43
45
45
43
45
Mato Grosso
22
21
25
22
22
Mato Grosso do Sul
18
18
18
18
18
Centro-Oeste
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
34 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Tabela 9: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes estados e regiões do Brasil Tabela 9: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes estados e regiões do Brasil (%)
(p.p.)
(%)
2002
Localidade
Brasil
2012 Expansão líquida da classe média (2002-2012) Classe Média Classe Média 38
14
52
31
17
48
Acre
32
15
48
Amapá
31
11
42
Amazonas
32
15
47
Pará
31
16
47
Rondônia
42
15
56
Roraima
28
22
50
Tocantins
25
24
49
22
20
42
Alagoas
18
20
37
Bahia
23
21
44
Ceará
22
21
43
Maranhão
19
16
35
Paraíba
23
21
44
Pernambuco
23
22
44
Piauí
21
21
43
Rio Grande do Norte
26
16
42
Sergipe
28
16
44
46
11
57
Espírito Santo
37
20
57
Minas Gerais
39
18
58
Rio de Janeiro
49
6
55
São Paulo
49
9
58
49
9
58
Paraná
46
13
59
Rio Grande do Sul
48
9
57
Santa Catarina
56
0
57
40
17
57
Distrito Federal
36
11
47
Goiás
41
18
60
Mato Grosso
38
21
59
Mato Grosso do Sul
41
18
58
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 35
Dos estados que compõem a região Norte, apenas o Amapá apresentou expansão líquida da classe média (11 pontos percentuais) abaixo da média brasileira (14 pontos percentuais). Os maiores destaques ficaram para os estados de Roraima (22 pontos percentuais) e Tocantins (24 pontos percentuais), que eram justamente aqueles que possuíam as menores classes médias da região em 2002: em Roraima, apenas 28 % da população pertenciam à classe média; no Tocantins, a proporção de pessoas vivendo nessa classe era de 25 %. Após a expansão, esses dois estados passaram a ter uma classe média de, respectivamente, 50 % e 49 % da população estadual, ultrapassando todos os demais estados da região, com exceção de Rondônia. Como já mencionado, a região Nordeste foi a que apresentou a maior expansão líquida da classe média no país (20 pontos percentuais). Além disso, todos os seus estados apresentaram expansão acima da média brasileira. Como os estados dessa região eram os que tinham os menores tamanhos de classe média no ano de 2002, a expressiva expansão dessa classe contribuiu para a diminuição das disparidades regionais no Brasil. Na região Sudeste, os estados que mais viram suas classes médias crescerem foram os do Espírito Santo (20 pontos percentuais) e Minas Gerais (18 pontos percentuais), que eram aqueles que tinham a menor proporção de pessoas vivendo nessa classe em 2002. A classe média nesses estados cresceu acima da média do Brasil, mas como a expansão nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo cresceram bem abaixo da média para o Brasil, a expansão média da região ficou bem abaixo da média brasileira. Mas atenção, isso não quer dizer que esses estados apresentaram piora na sua situação econômica. Ocorre que ambos já detinham uma classe média muito expressiva em 2002, além de terem apresentado expansão de sua classe alta. Movimento semelhante ocorre na região Sul, em que o estado que mais viu sua classe média crescer (Paraná, com expansão líquida de 13 pontos percentuais) foi o que tinha a menor classe média em 2002. Agora, é o estado que apresenta a maior classe média da região. Mas, novamente, isso não quer dizer que esteja em melhor situação que os demais estados. Em Santa Catarina, por exemplo, o contingente de pessoas que saíram da classe baixa e entraram na classe média foi semelhante ao das que saíram da classe média para a classe alta, fazendo com que esse estado não apresentasse expansão líquida da classe média, mas que as suas classes baixa e alta passassem de 27 % e 16 %, em 2002, para 11 % e 32 %, em 2012, respectivamente (Tabelas 10 e 11). Na região Centro-Oeste, com exceção do DF, todos os estados apresentaram expansão líquida da classe média acima do Brasil. O maior destaque ficou para o estado do Mato Grosso, que com expansão de 21 pontos percentuais viu sua classe média crescer de 38 %, em
36 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
2002, para 59%, em 2012. Os estados de Goiás e Mato Grosso do Sul tiveram desempenho bastante semelhantes.6 De novo, esses resultados não indicam piora do Distrito Federal, que viu sua classe baixa cair de 34%, em 2002, para 16%, em 2012, e sua classe alta subir de 30% para 37% entre os mesmos anos (Tabelas 10 e 11).
Tabela 10: Tamanho das classes diferentes estados e 2002 regiões do Brasil, Tabela 10: Tamanho das classes nos nos diferentes estados e regiões do Brasil, 2002 (%)
Classe Localidade Baixa
Média
Alta
48
38
13
61
31
8
Acre
55
32
13
Amapá
60
31
9
Amazonas
61
32
7
Pará
61
31
8
Rondônia
47
42
12
Roraima
64
28
8
Tocantins
69
25
6
73
22
5
Alagoas
79
18
4
Bahia
72
23
5
Ceará
73
22
6
Maranhão
78
19
3
Paraíba
72
23
6
Pernambuco
71
23
7
Piauí
74
21
4
Rio Grande do Norte
67
26
7
Sergipe
65
28
7
36
46
18
Espírito Santo
49
37
14
Minas Gerais
49
39
11
Rio de Janeiro
32
49
19
São Paulo
30
49
21
Brasil Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
35
49
16
Paraná
39
46
15
Rio Grande do Sul
35
48
17
Santa Catarina
27
56
16
45
40
16
Distrito Federal
34
36
30
Goiás
47
41
12
Mato Grosso
48
38
13
Mato Grosso do Sul
46
41
14
Centro-Oeste
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
6
Na Tabela 9, os estados de Goiás e Mato Grosso do Sul partem de classe média de mesmo tamanho, apresentam a mesma expansão líquida, mas têm resultados finais, em 2012, diferentes. Isso ocorre tão somente em função dos arredondamentos para cima e para baixo.
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 37
Tabela 11: Tamanho das classes nos diferentes estados e regiões do Brasil, Tabela 11: Tamanho das classes nos diferentes estados e regiões do Brasil, 2012 2012 (%) Classe Localidade Brasil Norte
Baixa
Média
Alta
28
52
20
39
48
13
Acre
38
48
14
Amapá
44
42
14
Amazonas
41
47
12
Pará
42
47
11
Rondônia
23
56
20
Roraima
29
50
22
Tocantins
38
49
14
49
42
9
Alagoas
57
37
6
Bahia
46
44
10
Ceará
48
43
9
Maranhão
59
35
6
Paraíba
45
44
11
Pernambuco
47
44
8
Piauí
50
43
7
Rio Grande do Norte
45
42
13
Sergipe
44
44
12
18
57
25
Espírito Santo
22
57
22
Minas Gerais
24
58
18
Rio de Janeiro
21
55
24
São Paulo
14
58
28
15
58
28
Paraná
15
59
26
Rio Grande do Sul
17
57
26
Santa Catarina
11
57
32
19
57
24
Distrito Federal
16
47
37
Goiás
20
60
20
Mato Grosso
19
59
22
Mato Grosso do Sul
19
58
23
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
38 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Balanço geral A seguir, apresentamos uma série de gráficos que revelam a diminuição das desigualdades no Brasil pela ótica dos movimentos de expansão da classe média. Nos Gráficos 4, 5 e 6 apresentamos o contraste do tamanho da classe média em 2002 com o seu tamanho em 2012. A reta de 45o que divide os gráficos ao meio indica os pontos em que o tamanho da classe média em 2002 é igual ao tamanho dessa classe em 2012. Dessa forma, todos os pontos que estão acima dessa reta indicam que o tamanho da classe média em 2012 é superior ao tamanho da classe média em 2002. E quanto mais distante da reta estiver o ponto, maior foi o crescimento da classe média. A distância entre o ponto e a reta de 45o corresponde exatamente à expansão líquida apresentada nas Tabelas 4 e 6. Como se pode ver no Gráfico 4, os maiores destaques ficaram para os grupos que representam a população negra, a área rural, as pessoas com nível fundamental incompleto ou sem escolaridade e os ocupados informais. Pode-se ver, também, que esses eram os grupos que tinham menor tamanho da classe média em 2002. A maior expansão da classe média nesses grupos aproximou-os dos demais e da média brasileira, diminuindo as desigualdades socioeconômicas no Brasil. Convém ressaltar a exceção do grupo de pessoas com nível superior, que apresenta reduzida classe média em 2002 e também em 2012. Como referido anteriormente, isso ocorre em função de uma maior concentração da classe alta nesse grupo.
Gráfico 4: Comparação entre o tamanho da classe média Gráfico 4: Comparação entre o tamanho da classe média brasileira brasileira nos diferentes grupos socioeconômicos, 2002 e 2012 nos diferentes grupos socioeconômicos, 2002 e 2012 65
Tamanho da classe média em 2012 (%)
60
Fundamental incompleto ou Classe média sem escolaridade brasileira
55
Negros
50
Fundamental completo Área urbana Brancos e amarelos
Ocupados informais
Ensino médio completo ou incompleto
Ocupados formais
45
Área rural
40 35
Alguma educação superior
30 25
45°
20 20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
Tamanho da classe média em 2002 (%) Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 39
O Gráfico 5 apresenta os resultados referentes aos diferentes setores de atividade econômica. Os destaques ficaram para o setor agrícola e atividades mal definidas, que também apresentavam em 2002 tamanho da classe média inferior às demais. As grandes exceções ficam para os setores da administração pública e de educação, saúde e serviços sociais, que em 2012 exibem classes médias de tamanho inferior ao de 2002. Essa retração na classe média, porém, não significa uma piora no tempo: na administração pública o tamanho da classe baixa caiu de 20 % para 9% enquanto que o da classe alta subiu de 33 % para 46 %; no setor de educação, saúde e serviços sociais a classe baixa caiu de 17 % para 6 %, ao passo que a classe alta subiu de 35 % para 48% (Tabelas 5 e 6).
Gráfico 5: Comparação entre o tamanho da classe média Gráfico 5: Comparação entre o tamanho da classe média brasileira por brasileira por setor atividade econômica, 2002 e 2012 setor de de atividade econômica, 2002 e 2012 70
Serviços domésticos
Tamanho da classe média em 2012 (%)
65
Alojamento e alimentação Indústria de transformação
60
Construção Atividades maldefinidas
55
Comércio e reparação
Classe média brasileira
Transporte, armazenagem e comunicação
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais
50
Outras atividades
Educação, saúde e serviços sociais
Outras atividades industriais
45
Agrícola
Administração pública
40
35
30
45°
25 25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
Tamanho da classe média em 2002 (%) Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
O Gráfico 6 apresenta os resultados dos estados e regiões brasileiras. Como mencionado, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram as que tiveram maior crescimento da classe média, sendo, ainda, as que apresentavam, em 2002, os menores tamanhos dessa classe.
40 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Gráfico 6: Comparação entre o tamanho da classe média por Gráfico 6: Comparação entre o tamanho da classe média por estado e estado e região do Brasil, 2002 e 2012 região do Brasil, 2002 e 2012
64 62
Tamanho da classe média em 2012 (%)
GO
MT
60 58 56 54 52 50 48 46 44 42 40 38 36 34 32
PR
Sul
MS
MG
ES Centro-Oeste RO
SP
SudesteRS
Brasil RR
TO PE PB BA
PI
PA
Norte AC
AP
CE Nordeste RN
30 28 26 24 22 20
DF
AM
SE
SC
RJ
45° 20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
46
48
50
52
54
56
58
60
62
64
Tamanho da classe média em 2002 (%) Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Para melhor visualização do que ocorreu nos estados brasileiros, que são muito numerosos, construímos o Gráfico 7, que demonstra a expansão líquida da classe média em contraste com o seu tamanho em 2002. Como se pode ver pela linha de tendência, quanto menor era o tamanho da classe média em 2002, maior foi a expansão dessa classe entre os anos de 2002 e 2012.
Expansão líquida da classe média entre 2002 e 2012
Gráfico 7: Expansão líquida e tamanho da classe média dentro Gráfico 7: Expansão líquida e tamanho da classe média dentro de de cada estado ecada região do Brasil estado e região do Brasil 24
TO PE
PI
22
RR MT
CE BA PB
20
ES
Nordeste
MG
18
SE
16
RN
AM
14
GO MS Centro-Oeste
Norte
PA
AC Brasil
RO PR
12
Sudeste
AP
10
DF
RS
8
SP
6
Sul
RJ
4 2
SC
0 20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
46
48
50
52
54
56
58
60
Tamanho da classe média em 2002 (%) Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 41
Em suma, de maneira geral os grupos socioeconômicos que mais cresceram na classe média foram aqueles que tinham menor representação nesse segmento em 2002. Assim, em 2012, temos uma classe média mais equilibrada, com maior representatividade de cada um dos diferentes grupos socioeconômicos brasileiros e, portanto, quase tão heterogênea quanto o Brasil. Uma maneira mais direta de observar a crescente heterogeneidade na classe média e, consequentemente, a crescente igualdade entre os diversos grupos socioeconômicos que compõem o país, é por meio do chamado índice de dissimilaridade. Quanto mais perto de zero o valor do índice, mais igualitário é aquele grupo. Apresentamos também a sua variação percentual entre os anos de 2002 e 2012. O sinal negativo indica queda, o positivo, aumento. Nas Tabela 12 apresentamos a evolução do índice de dissimilaridade na classe média dos diversos grupos entre os anos de 2002 e 2012. Como se pode ver, em todos eles o índice diminui de valor, aproximando-se de zero. O grupo que mais conseguiu alcançar igualdade interna na classe média foi aquele correspondente a cor, caso em que o índice de dissimilaridade caiu 94% em 10 anos. Em seguida, as maiores evoluções se deram na diminuição da dicotomia formal/informal e urbano/rural (com quedas respectivas de 71% e 61% nos índices de dissimilaridade). As desigualdades na classe média entre as regiões brasileiras também diminuíram bastante, com queda de 53% na dissimilaridade.
Tabela dissimilaridade na grupo Tabela 12: 12: Índice Índice de de dissimilaridade na classe classe média, média, por por grupo socioeconômico no Brasil socioeconômico no Brasil Índice de Dissimilaridade 2002
2012
Variação percentual (2002-2012)
8,6 13,2 7,2 9,0 3,9 7,8 9,1
0,5 6,1 2,8 5,1 2,3 2,3 6,5
-94% -53% -61% -43% -39% -71% -29%
Grupo
Cor Região Área Nível educacional do chefe População em idade ativa (Ocupados/Desempregados/Inativ Formais/Informais Setor de atividaddes
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
42 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Na Tabela 13 apresentamos o índice de dissimilaridade na classe média para cada região. Assim, podemos ver se a desigualdade no interior da classe média entre os estados dentro de cada região diminuiu entre os anos de 2002 e 2012. Com exceção da região CentroOeste, em todas as regiões o índice de dissimilaridade na classe média apresentou queda, em especial, nas regiões Sudeste, Sul (80% e 81%). Dessa forma, se o crescimento médio da classe média nessas regiões não foi muito expressivo (como se pôde ver na Tabela 4), o crescimento substancialmente maior nos estados em que a classe média era menor em 2002 contribuiu para que a classe média dessas regiões se tornassem as mais igualitárias. A desigualdade também diminuiu nas regiões Norte (42%) e Nordeste (21%), mas como houve muita variação na expansão da classe média entre os estados dessas regiões (uns expandiram consideravelmente mais do que outros), bem como estados que já tinham um tamanho da classe média em 2002 relativamente maior também apresentaram expansão expressiva dessa classe, a redução na dissimilaridade foi mais limitada.
Tabela 13: Índice de dissimilaridade na classe média, por região empor relação Tabela 13: Índice de dissimilaridade na classe média, aos seus região respectivos estados aos seus respectivos estados em relação Índice de Dissimilaridade 2002
2012
Variação percentual (2002-2012)
3,4 3,5 4,5 3,4 2,3
2,0 2,8 0,9 0,7 3,2
-42% -21% -80% -81% 42%
Grupo
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Finalmente, não apenas a classe média se tornou mais igualitária – com maior representatividade dos diversos grupos e estados – entre os anos de 2002 e 2012, ela também é a classe de renda que apresenta maior igualdade dentre as três (baixa, média e alta). Nas Tabelas 14 e 15 apresentamos o índice de dissimilaridade para as três classes. Como se pode ver, tanto em relação a todos os diferentes grupos analisados (Tabela 14), como em relação à igualdade entre os estados dentro de cada região (Tabela 15), a classe média é a que apresenta sempre o menor valor do índice de dissimilaridade. Portanto, se tivéssemos que escolher uma classe para representar a grande heterogeneidade brasileira, a resposta seria, sem dúvida, a classe média.
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 43
Tabela 14: Índice de dissimilaridade nas 3 classes renda, porde grupo Tabela 14: Índice de dissimilaridade nasde3 classes socioeconômico no grupo Brasil, 2012 renda, por socioeconômico no Brasil, 2012 Índice de Dissimilaridade Grupo
Cor Região Área Nível educacional do chefe População em idade ativa (Ocupados/Desempregados/Inativo Formais/Informais Setor de atividaddes
Classe Baixa
Classe Média
Classe Alta
16,0 24,3 11,8 18,2 15,8 27,5 27,8
0,5 6,1 2,8 5,1 2,3 2,3 6,5
21,1 18,0 9,3 31,5 12,3 13,5 19,1
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Tabela 15: de Índice de dissimilaridade 3 classes de em Tabela 15: Índice dissimilaridade nas 3 classesnas de renda, por região renda, porrespectivos região emestados, relação aos seus respectivos relação aos seus 2012 Índice de Dissimilaridade Grupo
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Classe Baixa
Classe Média
Classe Alta
5,0 3,7 12,5 6,2 2,6
2,0 2,8 0,9 0,7 3,2
7,8 8,6 7,4 3,9 9,5
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
44 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 45
46 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
4. Diversidade Sobre o grau de tolerância e respeito à diversidade O quanto uma pessoa aceita valores e comportamentos diferentes dos seus é algo que está no coração de um regime verdadeiramente democrático e de relações sociais mais positivas e construtivas. Nessa parte, entenderemos que tal tipo de abertura denota grau de tolerância ou respeito à diversidade. O grau de tolerância é algo que pode ser ensinado a crianças e adultos. Portanto, é maleável, além de fortemente relacionado ao ambiente socioeconômico e cultural. Por outro lado, pode ser também determinante para o sucesso socioeconômico de um indivíduo, no sentido de que é possível que pessoas mais abertas tenham melhores resultados no trabalho, tenham mais amigos, mais facilidade no relacionamento amoroso etc. Embora seja difícil estabelecer a direção dessa causalidade (se grau de tolerância afeta ou é afetado pelo ambiente socioeconômico), nesse estudo são apresentadas estimativas da incidência de tolerância por classe de renda. Para tanto, utiliza-se a pesquisa Data Popular – Tendências, coletada pelo Instituto Datapopular em 2012. Foram entrevistadas 5.182 pessoas, com 14 anos ou mais de idade, em todo território nacional, exceto as zonas rurais. São doze itens considerados, sendo que cada um é um questionamento ao entrevistado sobre “se ele gosta de pessoas com determinada característica” que pode ser alvo de preconceito ou discriminação. Para facilitar a análise, agrupamos tais características em três categorias: (a) inatas e básicas (inclui raça, religião e estado conjugal); (b) sexualidade (inclui orientação sexual, casamento entre pessoas com grande diferença de idade, vaidade entre homens e sensualidade de mulheres) e (c) ilegalidade questionada por parte da sociedade (uso de drogas e prática de aborto). A Tabela 16 apresenta o percentual que declarou “não gostar de pessoas com determinada característica” para cada uma das três classes de renda (alta, média e baixa). Considerouse que um percentual inferior a 5% denota alta tolerância; entre 5% e 15%, média tolerância e superior a 15%, intolerância
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 47
48 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade 2,4 35,8 8,1 9,5 10,1 9,6 11,2 36,7 18,0 58,1
Outra religião
Pessoas que não acreditam em Deus / Ateus
Mulheres sensuais
Mulheres casadas com homens bem mais jovens
Homens casados com mulheres bem mais jovens
Homossexuais
Homens vaidosos que usam cremes, se depilam etc.
Pessoas que fizeram aborto
Pessoas que já usaram drogas
Pessoas que usam drogas atualmente
59,9
22,9
42,8
9,9
6,7
12,9
11,7
10,7
41,1
3,2
2,6
Classe Baixa
Fonte: Estimativas produzidas com base da pesquisa Data Popular – Geral, coletada pelo Instituto Datapopular em 2012.
1,7
Todas as Classes
Outra cor
Característica pessoal
58,4
16,3
38,2
11,3
11,2
9,6
8,6
8,1
36,9
2,4
1,6
Classe Média
Grau de tolerância (%)
55,1
15,8
24,4
12,4
9,4
7,7
8,6
4,9
25,9
1,3
0,9
Classe Alta
-1,5
-6,5
-4,6
1,4
4,5
-3,3
-3,1
-2,6
-4,2
-0,8
-1,0
Diferença (p.p.)
51
0
4
31
0
3
3
6
6
33
16
p-valor
Média versus Baixa
3,2
0,5
13,7
-1,1
1,7
1,8
0,0
3,2
11,0
1,1
0,7
Diferença (p.p.)
4
66
0
28
7
4
99
0
0
1
3
p-valor
Média versus Alta
Diferença no grau de tolerância entre classes
Tabela 16: Grau de intolerância medido pela porcentagem de entrevistados que não gostam de pessoas com as seguintes características
Tabela 16: Grau de intolerância medido pela porcentagem de entrevistados que não gostam de pessoas com as seguintes características
12
9
10
5
4
7
8
6
11
2
1
Classe Baixa
12
9
10
8
7
5
6
4
11
2
1
Classe Média
12
9
11
8
7
6
5
4
10
2
1
Classe Alta
Ordenação segundo o grau de tolerância
Análises Panorama geral: o que a sociedade não tolera? Conforme revela a Tabela 16, de uma maneira geral, a intolerância maior no Brasil está associada a comportamentos que são ilegais, embora tenham ilegalidade contestada por parte da sociedade. 58% dos respondentes declararam não gostar de pessoas que utilizam drogas e 37% não gostam de pessoas que fizeram aborto. Com relação a quem já usou drogas no passado (porém não usa mais no presente), a intolerância é de 18%. Para as demais características, apenas uma é também intolerável (superior a 15%): a falta de crença em Deus. 36% não gostam de pessoas descrentes. Há tolerância moderada no que tange à sexualidade. Os percentuais nesse grupo de características variam de 8% de intolerância com relação a mulheres sensuais a 11% contra homens que se dizem vaidosos (usam cremes, se depilam etc.). A maior aceitação parece ser com relação às características inatas ou básicas, como raça, ter religião diferente e mães solteiras (sempre abaixo de 3,5%). Intolerância e classe de renda Entre as doze características investigadas, dez têm aceitação crescente com a renda, isto é, a classe média declara ser mais tolerante que a classe baixa (para dez características), porém menos tolerante que a classe alta (para onze características). Em apenas um caso o grau de intolerância é maior na classe média que nas duas outras: o homossexualismo. Dependendo da característica, a classe média pode ter perfil mais próximo ao da classe baixa ou alta. Para analisar esse perfil, utilizamos apenas as distâncias nos percentuais de cada classe. No que é mais “intolerável” para a sociedade como um todo, que são os comportamentos ilegais ou a falta de crença em Deus, a classe média está mais próxima da classe baixa: é mais avessa! Contudo, para o que é moderadamente tolerado (sexualidade), o perfil da classe média é mais semelhante ao da classe alta (que é mais aberta), exceto pelo homossexualismo. Não só o grau de tolerância da classe média está mais próximo ao da classe baixa para o que é ilegal ou a descrença em Deus, mas também o ranking que a classe média faz das características mais toleradas desse bloco é idêntico ao da classe baixa e um pouco distinto do que pensa a classe alta. Por exemplo, as classes baixa e média toleram mais pessoas que fizeram aborto do que quem não acredita em Deus. Para a classe alta, é o contrário.
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Para o que é medianamente tolerado, a classe média se assemelha à classe alta por proximidade dos percentuais e também ranking das características. As classes média e alta aceitam menos a vaidade masculina e o homossexualismo do que a classe baixa. Por outro lado, são mais abertas para casamentos de pessoas com muita diferença de idade. É interessante dizer que para as características inatas e básicas, as quais são as mais toleradas, o grau de concordância entre as classes é pleno. As diferenças percentuais entre as classes são pequenas e a ordenação das características é exatamente a mesma. Síntese Raça, outra religião e ser mãe solteira são características amplamente aceitas e todos parecem estar de acordo com isso. O que parece ser mais intolerável para a sociedade brasileira é a prática do aborto, a descrença em Deus e, em primeiro lugar, o uso de drogas. Os mais intolerantes são os membros da classe baixa, sendo que o padrão da classe média quanto a essas características é similar. Nesse aspecto, uma diferença de valores relevante entre as classes baixa e média, de um lado, e a alta de outro, é que as duas primeiras colocam a descrença a Deus como mais intolerável do que a prática do aborto e para a classe alta é o contrário. Para o que é medianamente tolerado, a classe média fica mais próxima da alta, e comparadas com a classe baixa, mostram mais problemas em lidar com o homossexualismo e a vaidade masculina.
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5. Colaborador permanente TUDO JUNTO E MISTURADO A CLASSE MÉDIA E A DIVERSIDADE DO POVO BRASILEIRO
RENATO MEIRELLES - Sócio diretor do Data Popular, Instituto de pesquisa pioneiro no estudo do brasileiro emergente. Comunicólogo e escritor, já coordenou mais de 400 estudos sobre o consumidor da classe média brasileira Já virou senso comum falar sobre a miscigenação da população brasileira. Um povo que mistura em sua cultura traços negros e indígenas com a herança dos colonizadores europeus. Esse caldeirão étnico, que contribui para dar visibilidade ao Brasil, foi por ao menos dois séculos apontado como um obstáculo para o desenvolvimento do país. Mas esse quadro começa a criar novas nuances, impulsionado também por meio do crescimento de uma classe média que leva consigo uma parcela cada vez menos homogênea da população. Difícil definir uma típica família brasileira. Encontrar um rosto que identifique um todo dentro desta diversidade então, é quase impossível. Somos pardos nipônicos, negros com olhos de mel e loiros com vastas cabeleiras crespas, que contradizem qualquer estereótipo pré-definido e tornam o nosso passaporte um dos mais desejáveis para falsificadores. No entanto, muitas vezes essa mistura acaba por encobrir preconceitos e desigualdades que sempre estiveram presentes em nossa história. Ainda hoje, temos muito mais negros entre a população mais pobre e muito mais brancos na elite econômica do Brasil. A boa notícia é que como a classe media é fruto direto da redução das desigualdades, tem na diversidade étnica regional uma de suas maiores características. E isso faz toda a diferença. A ascensão dessa camada social amplia as possibilidades de, enfim, reduzirmos um conjunto de preconceitos que insistem em permanecer em nossa cultura. Com o crescimento da classe média através da redução das desigualdades históricas de gênero, cor da pele e desenvolvimento regional surgiu uma demanda econômica de inserir no cenário de consumo novos protagonistas. As telenovelas, até então acostumadas a colocar o negro numa posição servil aos brancos agora colocam-no em posição de destaque
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em suas produções. São protagonistas que fogem do padrão desgastado e irreal do padrão étnico europeu, fazendo um resgate às origens e criando identificação com o público das classes emergentes. Até mesmo o padrão de beleza que fazia com que mulheres negras muitas vezes fossem caracterizadas com signos comuns a mulheres brancas, alisando os cabelos crespos e adotando tons neutros, que não contrastavam com seu tom de pele, mudou. Não preciso dizer aqui que racismo e preconceito ocorrem em todas as classes sociais e portanto nunca serão resolvidos com a simples melhora do poder aquisitivo ou dos níveis educacionais. Mas o fato é que se o país estava acostumado a somar ao preconceito étnico a discriminação financeira, com o avanço da classe média, começamos a caminhar num sentido de quebra de um paradigma, conservado por centenas de anos mesmo após a abolição da escravatura. A valorização da etnia é conquistada através da melhora da autoestima. São milhões de pessoas que viram sua vida melhorar com a estabilidade da economia e o surgimento de uma gama de empregos formais que antes, ou eram privilégios apenas de uma elite branca, ou até mesmo inexistiam. Pouco a pouco começamos a encontrar negros brasileiros ocupando cargos de prestígio e frequentando lugares que eram restritos apenas aos brancos detentores de uma renda que passava distante de suas possibilidades. Para eles, sobravam os empregos de menor remuneração. Negros que viviam marginalizados, agora aparecem com destaque num universo, onde a cor e a tradição atravessam as fronteiras sociais, ressaltando a verdadeira beleza nacional, antes vista somente com preconceito. São essas características, verde-amarelas heterogêneas, que fazem do nosso povo tão especial, com aspectos tão peculiares. No entanto, não devemos nos esquecer do mérito das lutas empreendidas pelos movimentos sociais de afirmação da identidade negra, nem das políticas públicas de inclusão que pouco a pouco se fortalecem desde a redemocratização. As mudanças que ocorrem hoje ainda não são suficientes para colocar um ponto final no preconceito cotidiano de muitos brasileiros. Em muitos estabelecimentos comerciais, apesar de não acontecerem casos explícitos de discriminação racial, que seriam punidas pela lei, os negros ainda são obrigados a lidar com situações desagradáveis, decorrentes de mau atendimento. O acesso ao crédito e a descoberta de um universo de consumo possibilitou aos negros e brancos da classe média, uma ascensão econômica que embora esbarre em alguns valores arcaicos adquiridos pela elite, começa a ganhar fôlego e, finalmente, encontrar o seu lugar. A educação foi um destes lugares, pois ele passou a ter acesso não apenas aos bens de consumo, mas a universidade. Com isso, pode investir na educação do filho
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e percebe agora a oportunidade de fugir de um ciclo vicioso. Hoje, é possível ver nas universidades, em cursos de diferentes áreas do conhecimento um corpo de alunos cada vez mais heterogêneo. Com a ampliação da escolaridade, elevação da renda e melhor acesso aos postos de trabalho, a população negra foi a que apresentou os maiores índices de mobilidade socioeconômica dos últimos anos. A classe média atual é a mistura brasileira que não se restringe apenas a cor da pele, mas também se sustenta pelos valores. A tradição carnavalesca dos festejos populares e a alegria das cores primárias fundem-se com a garra daquele que veio de baixo e precisou juntar forças para não desistir e seguir em frente. Agora, com a oportunidade de crescimento, este cidadão multicores, antes encolhido perante a desigualdade social, encontra ferramentas e munições para lidar com as diferenças enraizadas. Prova que o que antes era visto como fraqueza, hoje torna-se sinônimo de força. Sobram exemplos de brasileiros que superaram as dificuldades educacionais, as barreiras étnicas e regionais e acabam servindo de inspiração para outros brasileiros que estão vencendo na vida sem ter que abrir mão de seus valores, de sua cultura e de sua origem. Este avanço ainda está longe de ser uma conquista definitiva, pois não bastam apenas mudanças na renda, é preciso mudar a ideologia que está enraizada na cabeça das pessoas. No então é inegável a constatação que o crescimento da economia tem forçado diversos setores da sociedade a serem mais tolerantes e menos preconceituosos. Viva a diversidade da classe média brasileira
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6. Colaborador desta edição “Quando novos personagens entram em cena”
Jailson de Souza e Silva, Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense – UFF-RJ e Diretor do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro. O título acima é de um livro do pesquisador Eder Sader, lançado em 1988. À época, o autor buscava identificar os novos grupos sociais que ocupavam a cena econômica e política do Brasil a partir da década de 70. Sua grande expressão eram os trabalhadores da indústria de transformação, com destaque para os metalúrgicos do ABC. O grande mérito da Secretaria de Assuntos Estratégicos ao discutir a emergência de uma “nova classe média” no Brasil é visibilizar e construir uma análise sistemática de um processo socioeconômico e cultural mobilizado por um grupo que tem provocado um forte impacto no país e deverá fazê-lo com maior intensidade nos próximos anos. O que assistimos é, acima de tudo, à emergência dos trabalhadores, principalmente negros, no cenário nacional. Eles ampliam o seu poder de consumo, fortalecem a sua capacidade de influenciar as tendências políticas, os padrões culturais e educacionais. Os recentes sucessos de produções televisivas, como as novelas baseadas no que seriam as vivências cotidianas desse grupo, são um exemplo desse processo; a menor influência, no caso do Rio de Janeiro, dos moradores das áreas nobres da cidade no processo eleitoral é outra demonstração dessas transformações; a ampliação do acesso ao ensino superior também revela essa dinâmica. Interessa-me, de forma especial, o impacto que esse fenômeno de ampliação da renda dos trabalhadores vem provocando na juventude e, em especial, nas periferias e favelas. Com efeito, em vários centros metropolitanos brasileiros, uma parcela significativa dos moradores desses territórios tem ingressado nas classes médias. Isso tem provocado um forte impacto no processo de valorização imobiliária desses espaços, ampliado a oferta de produtos de variadas ordens e fortalecido seu dinamismo econômico.
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Acima de tudo, o aumento da escolarização das populações dessas áreas, a maior consciência sobre suas demandas e maior capacidade de verbalizá-las, a criação de novas linguagens artísticas e a ampliação do repertório sociocultural geram a criação de um novo ser social. Esse ser, que no caso do Rio de Janeiro chamamos de um “Novo Carioca”, amplia sua mobilidade na cidade. Ela representa muito mais do que a capacidade de circulação física. Essa mobilidade é social, econômica, educacional e, principalmente, simbólica. Esse “novo” carioca, paulista, gaúcho, baiano (...) revela a capacidade de se apropriar dos territórios urbanos de maneira autônoma, coletiva, com alto grau de criatividade e poder de realização. E, nesse processo, consciente ou não, eles vão criando novas cidades, novos cidadãos, de um novo país.
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Empoderando vidas. Fortalecendo naçþes.
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