a amamentaçao segundo a visao do obstetra

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A Amamentação Segundo a visão do obstetra. Dr Adailton Salvatore Meira A amamentação tem sido ligada à figura do pediatra. Isto acontece porque o bebe após o parto passa a ser responsabilidade do pediatra. Por outro lado o pré-natalista teve 9 meses a seu dispor para poder transmitir idéias relativas à gestação, ao parto e amamentação. Nove meses para aprofundar a relação médico-gestante. Nove meses para ganhar confiança da grávida. O momento do parto é uma seqüência de acontecimentos fisiológicos em grande parte desencadeados e permeados por hormônios. Um dos mais importantes hormônios é a ocitocina. Este hormônio tem sido modernamente reconhecido como o hormônio do amor, pois sua produção é aumentada em situações como um sorriso, um olhar para um objeto que achamos bonito (pintura), durante um encontro amoroso, aumenta muito no orgasmo, e durante o parto e amamentação. Portanto existe uma ligação hormonal entre o parto e o ato da amamentação. Entre a amamentação e uma sensação de prazer. O parto é uma experiência que deixa marcas na vida de uma mulher. Marcas no corpo e na alma. Isto está ligada à figura do obstetra. O momento do parto, é o momento em que acontece o encontro do bebe e da mãe, que se entreolharam por meses, sem nunca realmente se verem face a face. Encontraram-se pelas imagens da ecografia; pelo pensamento; conversaram pelos chutes que o bebe dá na mãe, particularmente quando esta assume alguma posição que lhe é desfavorável; pelos movimentos do bebe. É um momento aguardado com muita ansiedade. Outra questão é que a participação do bebe no parto é via de regra desprezada, sendo tomado como um objeto que vai ser transportado passivamente para fora da cavidade onde está. O feto tem participação no desencadear do trabalho de parto. Ele tem memória, e guarda tudo que acontece durante o parto. Isto fica retido na memória celular, que os terapeutas que fazem regressão e renascimento conseguem trazer à tona em terapia. Então devemos considerar o bebe como um ser que participa do parto, que tem suas vontades e necessidades. E podemos perguntar, qual a maior necessidade de um bebe imediatamente depois do parto? Antes de responder a esta questão vamos analisar quais os procedimentos tem sido realizados como recepção padrão de um recémnascido: imediatamente após o parto, seja normal ou cesariana, tem o cordão ligado o mais precocemente possível, sendo forçado a transitar da dependência da circulação placentária rapidamente para a pulmonar, o que deveria levar alguns segundos; tem sua pele (sensível) esfregada por panos usualmente ásperos; via de regra são pendurados com a cabeça para baixo, tendo suas pernas estivadas, estas que ficaram 9 meses dobradas, levando a um estiramento forcado de seus membros inferiores; são entregues imediatamente para o neonatologista, sem dar o devido tempo para o estabelecimento da respiração pulmonar, que vai aspirar vias aéreas superiores, e outros procedimentos invasivos de rotina, enquanto o recémnascido geralmente protesta com choro. Depois ele é enrolado em campos e é “mostrado” para a mãe, que o vê, sem poder tocar e este é levado para um berço aquecido onde vai ficar em observação.


Tecnicamente falando o procedimento é adequado, mas se nos colocarmos no lugar do recém-nascido o que gostaríamos de receber após um parto, horas de contração, com um útero empurrando a gente por um buraco estreito e que a gente tem que abrir caminho com a cabeça? Olha, eu não sei quanto a outras pessoas, mas eu gostaria de ir para o colo de minha mãe e ficar lá abraçado com ela por muito tempo, sentir seu carinho, seu amor, ouvir suas voz, sentir o toque de sua mão, a massagem em minhas costas e receber o calor de seu corpo também. Creio que esta é a função do parteiro, propiciar que este encontro aconteça, discutir com o neonatologista os procedimentos para imediatamente depois do parto, avaliar o bebe logo após o nascimento, observando o tônus muscular, como o recém-nascido estabelece o padrão respiratório, aquecer o bebe com o campo cirúrgico e enxugar com compressas, corpo e cabeça, e depois disto olhar para o neonatologista, que está ao lado. Caso o recémnascido esteja bem, e o neonatologista estiver de acordo, colocar o bebe no colo de sua mãe, e cobrir. Desta maneira ele vai poder receber todo o amor de sua mãe. A pele do recém-nascido vai ser colonizada por bactérias da pele de sua mãe, e não vai receber bactérias de outros lugares. Além do mais vai poder dar lugar a um instinto da mãe que é dar o seio nos primeiros minutos depois do parto. É sabido que se o bebe vai ao seio da mãe nos primeiros 15 minutos, a possibilidade de uma amamentação plena e sem problemas é muito maior que quando um bebe é amamentado 6 horas depois do parto. Fica um registro que liga o parto à amamentação, registro hormonal. Recentemente tive a oportunidade de colocar o bebe depois do parto no colo da mãe, e após uns 10 minutos este teve vontade de mamar, e ficou mamando cerca de 30 minutos. A neonatologista até brincou que ia ter que descontar um pouco do peso para dar o peso real ao nascer. Esta mãe voltou em revisão de parto recentemente e me contou que ainda tem problemas de grande produção de leite. Disse que ainda produz leite para duas crianças. Passou por varias situações de vexame, molhando a roupa. Mas nunca teve nenhum episodio de mastite. Apenas grande produção. E surge a pergunta, não estaria esta boa produção ligada a uma amamentação precoce? Creio que é bom lembrar que o bom senso é o mestre de todo procedimento, e que em casos de um recém-nascido de parto difícil, um parto interventivo que necessite de assistência, que nasça com um Apgar baixo, este deve ir direto para o atendimento pelo neonatologista. Mas estou falando da maioria dos casos de parto normal e até mesmo de alguns nascimentos via alta, que podem ir para o colo da mãe em primeira instância. Nestes quinze anos que temos praticado estes procedimentos aqui sugeridos, temos tido a oportunidade de observar as diferentes posturas dos neonatologistas face a uma parto onde o bebe vai direto ao colo da mãe: alguns aceitam bem, e cobrem o bebe, e ajudam a secar o mesmo e ficam ao lado e depois de uns 10 ou 15 minutos levam o bebe para o atendimento e procedimentos que necessário, sendo que neste contesto raramente é realizada a aspiração das vias aéreas superiores que ficam limpas naturalmente, o que está de acordo com as recomendações da Academia Americana de Neonatologia. Outros deixam a mangueira com oxigênio por perto para poder oferecer o oxigênio no colo da mãe se necessário. Outros ficam muito desconfortáveis de “nada” fazerem, com uma certa e justificável


ansiedade pela novidade do procedimento, mas que com o tempo acabam vendo que por milhares de anos as crianças nasciam e iam para o colo da mãe, e que isto funcionou por milhares de anos, e que a criança tem capacidade de eliminar as secreções naturais (não estou falando de mecônio) espontaneamente, pois se assim não o fosse, a raça humana não chegaria ao dias de hoje. Por outro lado temos observado que em nenhuma situação, pelo fato do bebe ser dado para a mãe depois do parto e não para o neonatologista, isto acarretou problemas para o recém-nascido. Caso aconteça uma mudança no padrão respiratório do bebe enquanto ele está no colo da mãe, ele pode, em segundos, ser levado para o local de recepção e receber a devida assistência. O principio geral é não vamos realizar procedimentos que não são necessários, como uma aspiração precoce de vias aéreas superiores e vamos priorizar o ”bonding”, que é a ligação, interação, do recém-nascido com sua mãe, e que isto vai ser importante para o resto da vida dos dois. Temos visto que as benéfices deste procedimento são muito maiores que as possíveis dificuldades que os mesmos possam trazer. A nossa vista a maior dificuldade é a resistência que o ser humano tem a mudar padrões, de abrir mão de algo que ele aprendeu e realizou por anos, para uma outra pratica, porem o profissional nunca vai saber como é se não tentar.


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