ArtBook - Guilherme Tesch (full book)

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Guilherme Tesch é, antes de qualquer coisa, um obcecado. Um obcecado no melhor sentido da palavra. Decidiu que levaria a arte do realismo a estampas pintadas em camisetas e, com esse pensamento em mente, passou a estudar e a experimentar por conta própria gastando tinta, pincel e muito pano. Foi melhorando aos poucos, com a próxima estampa sempre saindo um pouco melhor que a anterior, e assim sucessivamente até se tornar uma referência na área. Já teve imagens que viralizaram, ganhou matéria no site Omelete, foi reconhecido por outros artistas, por celebridades retratadas e pelo público e, ainda assim, nunca baixou a guarda e se acomodou: sempre seguiu praticando em busca do próximo update de nível. Tive a oportunidade de ver o Guilherme dando aulas de pintura de estampa na galeria hipotética e, da mesma forma que chegou a um nível ninja nas estampas, também nunca largou a simplicidade de quem está sempre aprendendo. Atento a detalhes, me impressionou muito a história que ele contou sobre como precisava de um traço muito fino para colocar detalhes em um trabalho. Quebrou a cabeça para decidir como faria isso e acabou usando um pincel de uma cerda só para adicionar o acabamento. Detalhes com um pincel de uma cerda só. É ou não é um exemplo dessa obsessão? A seleção de imagens desta publicação mostra bem a evolução da qualidade da pintura, desde as pinceladas tímidas e imprecisas do começo, até o realismo que agora virou sinônimo do trabalho dele. Sempre em busca de aprender mais, Guilherme agora decidiu que vai desbravar o mundo da tatuagem e rabiscar pessoas em vez de camisetas. Não resta dúvida de que vai continuar obcecado, e que logo mais vai dominar também o realismo sobre pele! Fabiano Denardin

Editor e Sócio Galeria Hipotética


Uma breve - mas nem tanto - história sobre o início. Tudo começou com o Guilherme de 1997, fã da série Arquivo X. Em tempos em que não tínhamos acesso à internet e a expressão popular “hype” estava longe de existir, adquirir uma simples camiseta sobre a série era dureza. O cara tinha que comprar em lojas especializadas em Porto Alegre (na época eu morava em São Jerônimo, município a cerca de 70km da capital gaúcha) ou comprar pelo correio, sei lá. O jeito que eu encontrei foi pintar a minha própria camiseta da amada série: catei uma camiseta básica já meio surrada que eu tinha e pintei um ”X” naquele estilo datilografado, saca? Usei uma tinta para tecido preta que estava dando sopa e pintei na altura do peito, do lado esquerdo, juntinho do coração. Foi só amor. Contudo... Ficou bem merda, devo confessar a vocês. Lembro que a tinta estava bem viscosa e o pincel usado estava deplorável, contando com meia de fiapos na cerda. Mas vá lá, estava feito o X e com este incrível feito, tive uma breve epifania: a de que eu poderia customizar as minhas próprias camisetas com tudo o que eu curtia. Chega de passar vontade vendo o catálogo da loja Comix que vinha junto das revistinhas sobre quadrinhos. Era hora de arregaçar as mangas daquele braço magro e mandar ver! Falando em quadrinhos, a próxima viria a ser uma do Wolverine, personagem que leio desde os meus 11 anos e que foi o embrião dessa minha vida de apreciador e colecionador de gibis, ainda que mal e porcamente. Na época o carcaju passava por uma fase meio insólita ao ter tido o adamantium que reveste os seus ossos retirado pelo Magneto. Em retrospecto foi um arco bem mais ou menos, mas lá atrás, por volta dos meus 15 anos, era a melhor coisa do mundo. Ah, a inocência do leitor juvenil... Bom, escolhida arte que iria para a camiseta (um desenho do quadrinista Adam Kubert), agora era hora de catar as tintas certas para pintar a camiseta. O resultado foi um trabalho mal calculado, com os braços cortados (cadê as garras?!) pernas desproporcionais e pinceladas

desleixadas. Usei a camiseta por algum tempo até cair a minha ficha e perceber que ficou tosco demais. Enterrei ela no guarda-roupas e segui a vida pintando esporadicamente uma camisetinha aqui e ali, sem muita ambição. Passamos um longo hiato entre aquela fase anterior e esta que chegamos agora. O ano é 2011. Estou morando em Porto Alegre e trabalhando em uma grande loja de departamento, encarregado especificamente do setor de áudio e vídeo. Creio que estar entre CDs, DVDs, games, livros e o escambau me estimulou e fez ressurgir o ímpeto de pintar umas camisetas. Olha quem está de volta, moçada, o ENTUSIASMO! Seja bem-vindo! Nesse meio tempo pintei uma especialmente para ir no show do Ozzy que rolou em Porto Alegre. A parte ruim foi que a tinta escorreu misturada ao suor após a apresentação. O gênio aqui pintou ela horas antes de sair para o show e esqueceu de um pequeno grande detalhe: “Lavar o tecido após 72 horas após aplicação”(fonte: rótulo). Eu acrescentaria: “Lavar após 72 horas após aplicação, não importa se for com água ou SUOR”. Vivendo e aprendendo. Aos trancos e barrancos. Bueno, como disse, estava trabalhando em uma (até então) grande rede de lojas, lidando com tudo o que eu sempre gostei como música, filmes, quadrinhos, literatura, séries de TV, e foi aí que deu um baita start para o meu retorno aos pincéis: BREAKING BAD. Pintei um Heisenberg pra mim em uma camisetinha básica e só dava gente que também acompanhava a série me parando pra saber onde eu havia comprado. Apesar do desenho simples, eu já estava mais safo na pintura. Investi em pincéis mais adequados, algumas tintas novas e busquei conhecimento (valeu pelo toque, Bilu!). Os colegas do trampo acharam legal a proposta e começaram a fazer encomendas, com isso eu descobri um nicho a ser explorado e hoje já são mais de 1000 camisetas, telas e tecidos variados que pintei espalhados pelos quatro cantos. Caramba, isso não é uma biografia! Chega de papo e bom passeio aí! Guilherme Tesch (Porto Alegre, 2019)


A camiseta foi pro beleléu, só salvei a estampa mesmo. Mas aqui está, a segunda camiseta que pintei lá em 98/99, nem lembro direito. Créditos ao Adam Kubert pela arte original. E créditos para mim por ter estragado tudo.


Uma das primeiras camisetas que pintei sob encomenda. Lembro que primeiro fiz todo o traçado em preto e depois apliquei as cores, cuidando pra não borrar. Pura inexperiência, deu o maior trabalho! Mal sabia eu que anos depois ela seria simples em comparação com os trabalhos mais rebuscados.



2013

Pintura feita com tinta para tecido e acabamento em verniz

2016

Comparativo de uma pintura do Don Corleone feita em uma camiseta em 2013 e uma pintura feita três anos depois em um pedaço de tecido.


A estampa ao lado foi curiosa. A cliente queria presentear o seu marido com uma camiseta em que teria o Walter White/Heisenberg, mas com um adendo: o próprio personagem estaria vestindo uma camiseta com o Zé do Caixão e o então presenteado estampados (a foto existe, não foi montagem). Um inception de estampas! Pra eles deve ter feito algum sentido.

E também rolou estampa do velho Heisenberg torcedor de futibas.




Esse dia foi louco! Meu chegas Carlos Tourinho havia me encomendado uma camiseta com arte do mito Terry Crews. Com a camiseta em mãos, ou melhor, no corpo, ele tirou uma foto e mandou para um concurso de uma marca de desodorante fedorento pra burro em que o prêmio era conhecer o Crews e zás. E NÃO É QUE O FDP GANHOU? Lá foi ele pra SP topar com o cara e.. bem, tá aí a foto deles!

Aqui um comentário do meu amigo Terry Crews (sou facinho. Já vou chamando de amigo mesmo) em um post na minha conta do Instagram. Depois disso ele me chamou pra tomar uma breja e comer coxinha ali em LA, mas declinei porque eu estava de dieta.


Steve Zissou (Bill Murray) pintado com tinta para tecido sobre tela tamanho 30x40cm.


Aqui fiz uma versĂŁo realista do Schwarz, baseado em uma estampa comumente usada prĂłprio na hora de levantar umas anilhas de 5 toneladas.


Pintura feita com tinta para tecido sobre tela



Eu explico: “Ramon” é o dono da camiseta, um amigo das antigas e grande entusiasta do quadrinista e escritor, Alan Moore. Posteriormente substituí a estampa da camiseta do mago usando photoshop para a versão impressa (prints) desse trabalho.

Tela tam. 30x40cm, pintada com tinta para tecido.


Gosto muito de fazer pinturas em pedaços de tecido como esse. Além de um bom exercício, o trabalho pode virar uma bela peça decorativa. Este Chaves logo ganhou um moldura e foi pra parede.



Pintura com tinta para tecido sobre tela. Posteriormente recebeu uma pelĂ­cula protetora de verniz.


Pintura com tinta para tecido sobre tela. No ‘X’ eu apliquei uma camada fosforescente para brilhar no escuro. A verdade está lá fora, rapeize!


Taí o homi! Pintura que fiz pra aproveitar o hype em cima do filme do Deadpool que estava despontando nos cinemas. Aproveitei que o slogan do personagem é “o mercenário tagarela” e fiz um mashup com o fato do velho Stan também ser um falador que aprontava as maiores confusões. RIP.




Nesta capa de Marvels feita pelo artista Alex Ross, reproduzi a pintura no tecido (camiseta) e inseri o dono da camiseta entre os manifestantes, meio que como um easter egg. Repare no cara com um taco de baseball. Originalmente quem estava ali era uma pessoa aleatรณria.


Aqui o cliente pediu para eu inserir uma legenda, digamos... mais apelativa na pintura da camiseta do Thanos passando por apuros. Santa referĂŞncia, Batman!





capa original

capa original

Tenho um amigo que está praticamente fazendo uma galeria de trabalhos meus (valeu, Dudu!), como estas duas pinturas aí. Ele encomendou duas capas antológicas de X-Men e Quarteto Fantástico desenhados pelo mestre John Byrne (aka “BRÁINE”) e solicitou que eu fizesse algumas alterações, puxando mais para o meu estilo de pintura.


Nesta obra, reproduzi uma página de uma HQ do Excalibur em que rolava um embate entre Fênix e Galactus. Com base no trabalho original feito pelo quadrinista Alan Davis, modifiquei alguns detalhes na adaptação para o tecido, deixando a pintura com um aspecto mais realista.


Acima, à esquerda, um trabalho que me orgulho de ter feito, por dois motivos. Quando eu era pequeno lembro de ter desenhado este Conan do John Buscema, mas ele ficou incompleto porque não senti confiança e tive medo de estragar . Aí o desenho ficou somente até a cintura. 2015. Chega até mim o meu camarada Rodney Buchemi, quadrinista e grande entusiasta do personagem, pedindo para eu pintar esta arte em uma camiseta. De início eu titubeei por ser uma pintura bem rebuscada feita pelo artista Joe Jusko em cima do desenho aquele do Buscema que eu havia desenhado pela metade quando pirralho. Ah, quer saber? Encarei de frente. Quem arrisca não petisca e logo após terminada esta pintura eu senti que minha técnica teve um considerável avanço, além de elevar a confiança em peitar vindouros trabalhos mais desafiadores.


Aqui, apenas reproduzi a pintura de Earl Norem feita para a capa da Espada Selvagem de Conan 41 (1979), modificando poucos detalhes na adaptação para o tecido. Esses trabalhos são ótimos exercícios!




Ué..? Donde que levantou esse cheirão de bagulho? Opa, é daqui dessas páginas mesmo. Tá explicado!


Trabalho feito com base na foto da contra capa do album ยกAdios Amigos!




E engole o choro!

O Coringa do Jared Leto ficou de fora desse trampo por motivos de FOI HORROROSO.






Inseri este FDP só para que você tenha o prazer de rasgar ele fora deste artbook. É sério, pode rasgar. Não tem nada do outro lado. Vai fundo!







Lembram do Dioguinho? O gigante ASTRO do episรณdio Um Capeta em Forma de Guri do programa Tela Class, da finada Mtv.






Pintura feita em tela 20x30cm

Pintura feita em tela 40x40cm



Pintura do Davi (eståtua esculpida por Michelângelo) feita em uma jaqueta jeans.


Capa para a reedição da HQ Extremos da Existência, projeto do xará Guilherme Miorando e que conta com a participação de vários quadrinistas nacionais.


Trabalhos feitos em parceria com a Samanta Carvalho (@lavandastuffs) que faz bordados lindos e delicados. Eu fiz a pintura em um pedaço de algodão cru e ela entrou com suas agulhas, linhas e miçangas para os detalhes e acabamento. O bastidor, fazendo um papel semelhante ao de uma moldura, Ê a cereja do bolo.



Cena do filme Helter Skelter de 2012

Em algumas pinturas que faço (para amigos e pessoas próximas) eu gosto de inserir pequenos easter eggs bem escondidos. Já escondi pequenas ilustrações e/ou frases no ‘avesso’ de camisetas, já escondi em moldura, escondi em etiqueta (como vemos aí nessa runa de proteção, que rolou na camiseta do Ragnar que vimos mais pra trás), já pintei com tinta fosforescente, para o dono da peça encontrar somente se for no escuro ou também pintei algo tão pequeno que fica imperceptível em meio ao todo do trabalho. Na maioria dos casos eu aviso que tem easter egg escondido, aí cabe à pessoa descobrir (ou cansar de procurar e pedir para que eu revele), ou eu nem falo nada e vida que segue. Acredito que tenha umas 7 peças espalhadas por aí com coisas escondidas e o dono nem saiba.


Este foi trabalho mais grandioso que já topei fazer, levando em conta o tempo, mão de obra e dedicação. Logo que o cliente me contatou para o orçar uma pintura de 1mx65cm só com as maiores super heroínas da Marvel e DC eu prontamente fiquei animado. Mas aí quando ele disse que seria para as filhas gêmeas e que elas estariam na pintura também, eu mal pude conter a empolgação para colocar em prática essa ideia. Pois bem! Foram muitos dias de desenvolvimento e idas e vindas para bolarmos juntos o layout e a escolha das personagens. Assim que definimos como seria, dei início ao trabalho de pintura, que levou pouco mais de 30 dias, da primeira pincelada até a assinatura. Segue a descrição: •Pintura feita com tinta para tecido sobre em malha de tecido 100% algodão. Foram 22 personagens, com destaque para as (super) gêmeas com suas próprias iniciais no uniformes e a mãe delas, meio que como um easter egg fazendo o papel de Fênix. Uma curiosidade é que cada uma ficou abaixo da sua super heroína preferida, que no caso são a Capitã Marvel e a Mulher Maravilha.

Créditos aos artistas originais de algumas personagens que aparecem na pintura: Supergirl ( José Luis García-López), Tempestade (Daniel Acuña), Kitty Pryde (Shunya Yamashita),Batgirl (Cameron Stewart), Spider-Gwen (David Marquez), Ravena (Série Animada Teen Titans, da Cartoon Network), Feiticeira Escarlate (adaptado de Ian MacDonald e Scott Forbes), Capitã Marvel (after David Lopez), Coração de Ferro (adaptado do trabalho de Stefano Caselli), Mulher-Maravilha (Alex Ross), Viúva-Negra e MulherAranha (Mark Bagley), Mulher Invisível (Doc Shaner), Wolverine (David Marquez), Miss Marvel (Mahmud A. Asrar) e Mulher-Hulk (John Byrne).


Este foi feito com muito carinho por Guilherme Tesch e Samanta Carvalho Curadoria e revisão

Diagramação e Edição

Apoios

Agradecimentos Este livro é dedicado a cada um que apoiou e acreditou no meu trabalho, àqueles que sempre deram uma força, seja com palavras de incentivo ou encomendas, e que fizeram toda a diferença no meu caminho. O trajeto seria mais árduo e pedregoso se não fosse por vocês, meus amigos. Não pretendo nominar cada um aqui pois irei me estender e tenho receio de deixar um ou outro de fora por conta a minha memória falha. Mas você, VOCÊ AÍ, sabe bem da sua importância! Aproveito também para agradecer o apoio da minha família, que sempre acreditou no meu potencial. De quebra, tem uma pessoinha que devo ressaltar em meio a essa metralhadora giratória de gratidão, aquela que sempre esteve ao meu lado e foi fundamental para o meu crescimento. Samanta Carvalho, amor, obrigado por todos esses anos de ajuda, seja dando pitaco sobre como determinada pintura estava ficando (seu bom gosto foi e é fundamental), ou bolando um layout bacanudo e principalmente, por aquele help na hora de definir uma e outra cor que o meu daltonismo cisma em atrapalhar. Esse livro também é seu. A energia que você emana está aqui em muitas pinceladas dadas ao longo destes anos de Estamparia Ilustratística. Sua beleza (interior e exterior) me inspira e empurra pra frente. Te amo! <3

Os personagens que aparecem neste livro são marcas registradas de seus respectivos proprietários e estão inclusos aqui em caráter ilustrativo.




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