Ode a alteridade
Poesia
Sammis Reachers
“Ó canção traspassada Em que os punhais cintilam” Pierre Emmanuel
INDICE 1. De Rerum Natura 2. Heavy Arms Inside 3. Heródoto 4. Moinhos e Mandalas 5. Hieronymus Bosch 6. Do Serviço Secreto da República de Macondo 7. Classificados 8. Intermezzo em Pedro Juan Caballero 9. David 10. A Declaração de Amor 11. Um Postal de Esparta 12. Da Súmula Geral de Todas as Dores Criadas ou Sentidas 13. Os braços do PAI Uma explic(it)ação sobre o texto Autor
Textos, fotos e edição: Sammis Reachers São Gonçalo, Dez/2011 e Jan/ 2012
1. De Rerum Natura
“Chego a meu centro, a minha álgebra e minha chave, a meu espelho. Breve saberei quem sou.” Jorge Luis Borges, Elogio da Sombra
Em teu toque a toxina mata miosótis que eu germinava em meu #peito demais disto, Tabitha, há flores em Samarcanda que nunca colheremos; há um funeral de três dias no grande estado de Madhya Pradesh que é e não é o meu.
2. Heavy Arms Inside
“Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada Ainda não bordaram com desenhos finos A trama vã de nossos míseros destinos, É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.” Baudelaire, As Flores do Mal
Em mais uma incursão, estamos desta feita em Massa-Carrara, na alta Toscana você veste o Versace mais bonito deste mundo cão ao menor sinal de que nosso engodo, nosso melhor engodo foi desbaratado você deita as rosas para o ar e saca disparando suas duas MP5 as armas mais bonitas deste mundo cão enquanto meu coração enferrujado ainda troca as marchas não posso mais acompanhar teu ritmo, Tabitha minha velha 1911 eu sepultei a muitos dias no Gólgota e enquanto você solapa tudo ao nosso redor com seus tiros intermitentes eu tateio na mala o velho florete que compramos em Marselha, minha única arma possível que pequena fortuna Ossian lhe prometeu para que você abandonasse tudo para me escoltar, Pânica Cinderela? E agora, baleado para sempre por teus olhos (f)rios, quem me sarará este cancro?
3. Herรณdoto
“Agora, por teu prol, eu tenho o intento De levar-te comigo; ir-te-ei guiando Pela estância do eterno sofrimento...” Dante Alighieri, A Divina Comédia
Uma semi-deusa Æsir no banheiro masculino de um sujo aeroporto venezuelano, bolivariano em busca de uma porcaria de um pen-drive, de um reles etéreo conjunto codificado de bytes ou de seis anos de dura pesquisa e da codificação genética de uma planta sintética que seja por completo Erythroxylum coca, uma planta que a um tempo construa e destrua plantações de coca pensei que aquele era o ato último de minha ópera-bufa e cheguei a estar melancolicamente feliz por ser executado por alguém tão inesperadamente bonita uma música dos Chili Peppers começou a tocar em continuous play em minha mente maldita música de que não alcanço me livrar, que toca em momentos de fluição, langor e entrega quando minhas defesas e firewalls cristãos titubeiam, langor a me lembrar do surf, de afogar-me nos cabelos de Ísis e outras insídias pensei em meu Salvador mas ainda havia alguns lances de rolar de dados,
algumas partidas mais a forma como você entrou naquele banheiro imundo a forma como tocou minha fronte com o aço frio daquela arma
sou só um técnico, eu disse, só um cientista abaixe o teu aguilhão você revistando minha bolsa como um reles agente de segurança eu ia citando e comentando cada item extirpado, falando como que para mim mesmo, enervado revistas inglesas de jardinagem um livro da Embrapa sobre frutas amazônicas o velho Motorola que comprei com o dinheiro de freela para aquela revista a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen minha única maneira de levar o Oceano por onde quer que eu vá um livro do Charlie Chan jamais lido um Novo Testamento dos Gideões em francês (ganho em qual hospital hotel ou cadeia da Guiana?) 20 mil pesos colombianos, duas facas Tantô (seus olhos semicerraram-se ao vê-las, ampliaram sua azulescência, como um sol que num repente entra em modo supernova pois um cavalheiro não carrega este tipo de faca seus olhos dizem,
nem cientistas) e ali, naquele cubículo, aquela bolha prenhe da mais álacre tensão ali amei seus olhos pela vez primeira
4.Moinhos e Mandalas
“Criado fui Shiva, o destruidor, Que mundos despedaça.” Bhagavad Gita
Metano
tântrica
Kundalini
5.Hieronymus Bosch
“Não anda ninguém na estrada só o sol não se esconde daquela que sonâmbula vai só no pó silencioso” J.T.Parreira, Samaritana
Incandesça teu toque, Tabitha; erija fulminação olhando do lado de fora da vitrine não me era possível captar, interceptar som algum; mas tua navalha, ao cortar (Pandora, Pandora, abre-te sésamo) e mutilar todos aqueles homens, parecia um farfalhar ressonando sim, sei que é estranho, mas eu ouvia claramente um farfalhar crescente como de árvores numa mata assoprada a um só tempo por Eurus, Nótus, Zéfiro e Bóreas os quatro disléxicos braços da ébria rosa dos ventos
será a morte um farfalhar, árvores que sorriem?
6.Do Serviço Secreto da República de Macondo
“O PODER: Pois acorrenta agora o outro, de tal sorte que ele sinta, embora engenhoso, que é inferior a Júpiter.” Ésquilo, Prometeu Acorrentado
Está no memorando. Não. Perdão, não senhor! Me desculpe, senhor! Vou resumir para o senhor. Senhor, ao que parece ele criou uma variedade geneticamente modificada da Erythroxylum coca, variedade esta alegadamente mais produtiva e de crescimento mais rápido que as usuais. O diferencial é que esta pode ser morta utilizando-se o herbicida chamado... espere um instante senhor... Roundup Ultra da Monsanto. Ele efetuou alterações também na fórmula do próprio herbicida, de forma que o mesmo, quando aplicado, alegadamente matará APENAS os pés de coca transgênica, deixando incólume todo outro espécime da flora. Não senhor, ele não obteve licença da Monsanto. Sim, o DEA está a par de todo o projeto, mas ele não confia no DEA. Eles nos contataram a dez dias, em busca de informações. Pareciam bastante ansiosos. Não sei, senhor. Não sei, senhor. Infelizmente não sei, senhor. Não senhor. Sim senhor, ele já conseguiu obter alguns quilos de sementes da planta modificada. A estação em Mato Grosso foi destruída, senhor. Não, com certeza não fomos nós. Infelizmente não sabemos. Também não sabemos, mas estamos fazendo varreduras em toda a macrorregião. Tudo leva a crer que ele se decepcionou e perdeu a confiança também na ABIN. Sim senhor, iremos encontrá-lo e prendê-lo.
7.Classificados
Correio de Rondônia
Quatro homens encontrados mortos em Abunã Antonio Herzog Abunã - Quatro homens foram encontrados mortos a tiros na manhã de hoje no município de Abunã, no interior do estado. Eles estavam em uma picape Hillux cinza, com placa de Roraima. Todos apresentavam perfurações de bala. Não foram encontrados documentos ou qualquer identificação com as vítimas. Próximas aos corpos e dentro do veículo foram encontradas seis armas de fogo, sendo quatro pistolas, uma carabina calibre 12 e uma submetralhadora Ingram. O delegado de Nova Mutum Paraná, vizinha de Abunã, assumiu o caso, e afirmou que provavelmente o ocorrido foi algum tipo de acerto de contas entre criminosos. “Parecem ter sido atraídos para uma armadilha. Mas a polícia trabalha com todas as possibilidades.” Moradores das casas próximas ao local, e que não quiseram se identificar, afirmaram que por volta das 18 horas da segunda-feira ouviram dezenas de disparos, vindos da localidade conhecida como Cachoeira das Almas. Moradores antigos relataram à reportagem que a comunidade é uma localidade tranquila, e nunca viram um tipo de crime assim no município. Abunã é investigada pela Polícia Federal como uma das prováveis rotas de escoamento da cocaína peruana para a região Sudeste do país. QUER VENDER?QUER COMPRAR? Anuncie no Correio de Rondônia: (69) 9999-6666
CIDADES
Segunda –feira, 5-12-2011
“Oh, quando eu era jovem e amparado à mercê de seus processos, O tempo me sustinha, verde e moribundo , embora eu cantasse em minhas cadeias como o mar.” Dylan Thomas, Fern Hill Qual O Banco Que Oferece 12 Dias (Sim!) 12 dias De Desconto No Cheque Especial ? Vaticann Bank Abrindo As Portas Para Seus Sonhos Voarem
VB
FUNERÁRIA BAKUNIN Translado, preparação e embalsamamento
Hoje ‘stamos de uma muito melhor muito barata semente mercadores Mas há uma concorrência a ser desconstruída LULZSEC CONTABILIDADE Folha de pagamento, Imposto de renda e todas as Rotinas Contábeis
Tuas armas, Tabitha, são a espalhafatosa (única, você insiste) maneira De decretar concordata à nossa concorrência E assegurar a eficácia global de nosso dumping Livraria Casa Hannah Escolares – Best Sellers – Artigos de Papelaria
Quando criança Sonhava em ser Jiraya ou Heitor (pois havia no armário de meu pai Uma Ilíada em prosa das Edições de Ouro) Eu era um garoto gauche Com um coração deslocado e um sonho e um plano para tentá-lo Hoje o sangue de três continentes Banha o pó de meus pés O culto naquela igreja em Boca do Acre, Senhor Naquele culto me avisaste Mas eu, eu endureci Pág.12
8.Intermezzo em Pedro Juan Caballero
“Seja bala, relógio, Ou a lâmina colérica, É contudo uma ausência O que esse homem leva.” João Cabral de Melo Neto, Uma Faca Só Lâmina
(Pedro Juan Caballero O nome mais forte que posso conceber Em língua castelhana Pedro Juan Caballero Algo como Diogo Cara de Cão Da lusofonia Se um dia eu tiver um filho Seria estranho, mas talvez Pedro Juan Caballero Mas não tenho tempo, não tenho A hipótese de um amanhã Com que jogar A semente que porto É uma Carta de Belerofonte De meu próprio punho, e pelas Moiras endossada Retesando os punhos, punhais À minha passagem) ... Três de uma célula dormente do DEA, um ruivo que não conheço E ela Cinco contra tantos cápsulas caindo ao chão, sobre meus pés, cabeza, corazón deflagradas pétalas de bronze de uma rosa infernal
e seu impregnante perfume de pólvora pétalas caindo como doces atirados num dia de Cosme e Damião, mas quentes demais para que eu as colha ou escolha Oh Anti-Éden Oh antiloqüente Anti-Éden Eu lhe conhecia de ouvir falar, De livros e proto-livros de filosofia Mas hoje eu lhe vejo face a face Enquanto esbraveja a metralha O ápice de teu epiciclo Então é aqui que morre Calíope, Que tomba para trás a poesia Estuprada e com três rombos no peito Hoje finalmente lhe apreendi, hoje sou-lhe Uma criança violada Morrendo laica em seus rubros tons de cinza
cãozinhodepatasdecepadascooptadoparaastransdimensões detemposcolapsadosdeteusatânicoespaçoontológico perdão Há um buraco em meu braço, um buraco negro que delira meu poder de raciocínio uma .50 plange uma melodia funérea Sobre minha cabeça, a sexta sinfonia de Mahler E executada à perfeição Por uma Orquestra de virtuoses feita apenas de metais, De (já aprendi-lhes os timbres) 11 diferentes calibres Maldito sejas, Satanás Fecho meus olhos de ti E há um jardineiro em Nazareth, e Ele É tudo o que me estende a mão
9. David
“E tu, sujo ainda de guerra, Orfeu, Como o teu cavalo, sem o chicote, Ergue a cabeça, não treme mais a terra: Urra de amor, vence, se queres, o mundo.” Salvatore Quasímodo, Diálogo
Por que resolveu me ajudar? absorto em toda esta carnificina vejo tanta paz enquanto você dispara vejo-a como uma pastora bucólica tangendo nuvens e sonhos paz enquanto ululam os tiros vejo uma família, Marília de Dirceu, uma casa silente na selva e duas crianças uma bordada com meus cabelos negros e olhar melancólico outra em talho louro e duro como o sol um esquilo e uma fragata cristianizadas, desarmadas e felizes a família que nunca tivemos dois meninos que deitarão os dias a vadiar na aldeia vizinha, pintados ensinados e misericordiosamente aceitos e casar-se-ão com duas índias na pequenina Assembléia de Deus da aldeia e serão todos os homens que puderem e Rousseau vejo enquanto você dispara
10.A Declaração de Amor
“Laça-me o coração a curva de teus olhos, Um giro de dança e doçura, Berço noturno e firme, auréola do tempo, E se já não sei mais o que foi minha vida É que teus olhos não me viram no passado.” Paul Éluard, A Curva de Teus Olhos
Teu sorriso é um oceano de céu azul-titânio teus lábios são a lancinante linha que rompe a linha do horizonte teus olhos quasares cósmicos, célicos oceanos de um titânico azul Hannah Szenes, Hannah Arendt, Tabitha Hannah Vênus de plutônio, silício e terracota teu beijo anti-tanque pulverizou todos os meninos que eu sou, chakaaa-booooommmm em todos nós tuas fotos no Tumbrl são mais e mais tiros em meu peito nu ave, Dominatrix! ave, trânsfuga de Temiscira todos os gatilhos são tensionados em tua presença o espectro eletromagnético freme, baila, ascende a uma outra freqüência no perímetro ao teu redor, ambulante distorção a acompanhar o teu bailar tua presença é ruído para a Realidade
o cheiro de você, jovem holandesa retorce o tecido do espaço-tempo, é um câncer suculento-olfativo de luz no negrume do continuum assassinando-o assassinando tudo mescalina, amplitude, overkill não sei que palavra usar para te referir lua apocalíptica sobre um mar de lavandas enterre tua kunai em meu peito tuberculoso, ó Valkíria!, conceda-me morrer em teus braços de ferro gusa
11.Um Postal de Esparta
L V F V H R M V C C C U Z E L Q Q B T X A B C I L P V M P L V F V H R M P L V F V H R D V C C C U Z E L Q Q
D X T H S Z O K T L W J Z Z Z T T A U O “ D A F M E S M A S P R E C I S A I T E R Z U J D M B M S M O U L F T O R M F C I Y A M O T O E M U K F B R R U S B E P F S X I A E N H T A I J U R H R T R G V U N W S G D D O I S U E E K U L A C H C M H N I H C M V N K O O C M G I D S V X W O X E T X R C O T K I G K S P E K H I Q B C E R Q X Z D G E L U B X Z Q N J Q I Y E D D O I S P E D I K O K I Q E R X I E W L O N G E N M L E J E P V S G K I K T Q Z U N K Z B H Q L L F Y H R A A W K Z E U A G H I B P S Q F M L G C D M M I B F Q B S B G U M R Q A N Z B Y E O J K G A T E L A H P O D X T H S Z O K T L W J Z Z Z T T A U O S D T F X W B D G S U G T Q X R L H A K R Z U J D M B M S M O U L F T O N O F P R Q A N Z B Y E O J K G T A T L K H L L D X T H S Z O K T K W J Z Z Z T T A U O S D T F X W N O G P U G T Q X R L H A Q R Z U J D M B M S M O U L F T O R M F C I V P Y L Y D Z M X K F B R R U S B E P F S X I A E N H T A I J U R H R T R G V U N W S G D H A N “ U E E K U L A C H C M H N I H C M V N K O O C M G I D S V X W O X E T X R C O T K I G K S P E K H I Q B C E R Q X Z D G
Y O C I I T G C N Y K G Z I G F X J M A N E I R A O Q R T R E S I S T E D E F E I T O , O X T O D A S O A S S A S H I , C L I W P C Q S N P B I X A L H B H H F E Q Z V T A J N D G F E S T O I C O S V M I P Q L F C P A X N G S L E R E S B Q D G D O I S O K Q U F D D S B O Y F W O N D G S K N X B V D O I S R G N S X G Z L W S P A R T A N O S S C F N I G X R X U I T O H L O N G P Q N W X Z C F N L T O Y Y D O I S X T L G F I Q N G B Q U E Y R E B O F F N V E H D Q G X C A V A L O - D B A R J N L Q A Y R T A L S E R I A Y O C I I T G C N Y K G Z I G F X J G X O R A E C O H N O C - K N O C G D M U Y K P M O O R T A O E D O P B A R J N L Q A Y H U V L B U A K A N O C - K N O C Y K G Z I G F X J O R T A O E D O H V R I J A R J J V G D M U Y K P M O X N U W G E O K P “ M E P H I S T O W P C Q S N P B I X A L H B H H F E Q Z V T A J N D G S O G U M Q P R E V M I P Q L F C P A X N G S L E R E S B Q D G N D Q Y O K P A R A D T I O Y F W O N D G S K N X B V O D D N
J J G A A E T A S J Z W U E H U M O N C I A C E A S S I M P D A R M A S V R O I D O U N P P Z H J R G M H T J I V Y J T C A R A U T V N J N M J Z A Q H G Q D F F J S P L R Q Q V D R X M X O X L B E Z K D M J E Q Q B W P E R D I H L T T Z Q E H N O N T E F U O K H A T V I B S J T P J U V C A M Z J N O Q V G X P E - T R O I X M J E K K L A D O O I J J G A A E T A S J Z W Y M H W R O K N O C B T S K F A Q P I N F E R N X M J E K K P A U W O V K N O C A E T A S J Z W I N F E R N A M V M B T S K F A Q P D K H V F Y ” U S I O A U N P P Z H J R G M H T J I V Y J T S E N T E D V N J N M J Z A Q H G Q D F F J S P . ” Q Q V D R X M X O X L B E Z K D
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E S B Z S I G E O C P S D S K U G A E N T S J P Y F O P R E J P Y F O P R E A B Z S I G E O C P S
V V C Z H L R Z R X J O T K E Q V F A T W X T Z P V M L S
12.Da SĂşmula Geral de Todas as Dores Criadas ou Sentidas
“ (Chega-te à sombra desta rocha escarlate), E vou mostrar-te algo distinto De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando; Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.” T.S.Elliot, The Waste Land
I. Oh! Grandes e gravíssimos perigos, Oh! Caminho de vida nunca certo, Que aonde a gente põe a sua esperança Tenha a vida tão pouca segurança! Grandes brejos eu vi fermentando, ciladas Em cuja trama um Leviatã se desfigura! As águas desabando em plena calmaria! Se despenhando nos abismos a lonjura! Ai! É bem triste a carne e a ler nada me resta. Fugir! Fugir! Eu sinto pássaros em festa Por noutro céu viver, em diferente mar! Nada, nenhum jardim refletido no olhar Se bronze, pedra, terra, mar sem fim Estão sob o jugo da mortalidade, Como há de o belo enfrentar fúria assim Se, como a flor, é só fragilidade? - E um longo funeral, sem tambor e sem música, Andando devagar, me invade o coração; Triste, a Esperança chora, enquanto a Angústia planta No meu crânio, cruel, seu negro pavilhão.
II. A um vate grego certo rei severo Vazou-lhe os olhos para não fugir. Ó dor do mundo, eu vivo como Homero, Aceito a provação que me surgir. Só um bem nesta vida me resta: De remorsos minh’alma está sã! Vêm curar-lhe do mundo as feridas Puras águas da crença cristã. Vai crescendo em minha alma a fortaleza Quanto cresce do mal a intensidade; As portas áureas me abre a Eternidade, E lá cessam cuidados e tristezas. Na mão de Deus, na sua mão direita Descansou afinal meu coração. Do palácio encantado da Ilusão Desci a passo e passo a escada estreita. E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma E faz a febre em mim de navegar Só encontrará de Deus na eterna calma O porto sempre por achar.
13.Os Braรงos do PAI
“Quem poderá do mal aparelhado Livrar-se sem perigo, sabiamente, Se lá de cima a Guarda Soberana Não acudir à fraca força humana?” Camões, Os Lusíadas
Abandone o inútil serviço secreto das Índias Ocidentais, esqueça a Holanda e suas bicicletas deixe-me emaranhar para sempre teus pêlos suados pela umidade amazônica navegue comigo o Purus, o Xingu e o Chandless desconstrua comigo cada uma de tuas armas, Cinderela Púnica teu pai, Ossian-O-Mundo não precisa de nós debandemos para dentro da Aurora lhe falarei daquele que é a Vida, o que abre de uma vez para sempre a tampa de nossos túmulos já tão violados para que possamos, finalmente em ternos termos, (re)começar
Uma explic(it)ação sobre o texto Antes de ler este texto, recomendo que você leia todo o livro, caso ainda não o tenha feito. Somente depois venha até aqui, para que possamos ampliar o verbo. Mais que uma narrativa poética, este é um texto experimental. Não o digo somente pelos poemas do livro que se valem de recursos gráficos/tipográficos. Mesmo se você já leu todo o texto, é bem provável que não tenha percebido algo: há, espalhados por toda a obra, dezenas e dezenas de hiperlinks (123, para ser mais exato). Há hiperlinks para páginas da Wikipédia e os mais diversos sites, vídeos do Youtube, músicas para ouvir online; há links para outros poemas meus, e textos em prosa e verso de outros autores; há links para fotos, para páginas de redes sociais... Alguns podem ser meramente explicativos, denotativos,
como
por
exemplo,
uma
biografia
na
Wikipédia, ou a foto de determinada flor; outros, pelo contrário,
podem
surpreender
e
conotativamente
mesmo
confundir,
escandalizar
o
divertir,
leitor,
mas
principalmente: ampliar as possibilidades de leitura do texto, exercitando(-se com)
os recursos que a internet
disponibiliza,
para
agregando
a
experiência
de
(hiper)leitura um mix de citações clássicas e cult/pop, ora somando, ora propositadamente quebrando (ampliando) o entendimento do texto; alando interativamente a polissemia, expandindo
as
possibilidades
semânticas,
significantes, enfim, poiéticas do poema.
sensoriais,
Mas a proposta de interatividade vai além do simples acesso a sites como recursos estáticos ‘externos’, ou de terceiros, ao texto: há dois capítulos extras ou ‘secretos’ do livro (como nas fases bônus em um jogo de videogame?), que só podem ser acessados online, e dependem da interação do leitor, através sua participação em dois pequeninos jogos interativos. Para acessar o primeiro poema, há um link num dos textos do livro que leva a uma determinada pergunta, cuja resposta correta leva o leitor a acessar o texto referido. Para o segundo poema, o processo é idêntico (clicar sobre um link do texto e ser remetido a uma página onde há um jogo), mas aqui é preciso encontrar (e clicar sobre) a resposta correta a uma pergunta predeterminada em um caçapalavras. Em ambos os casos, cliques sobre respostas erradas levam a páginas vazias ou aleatórias. (A ideia era preservar a dificuldade como elemento, mas para facilitar o leitor mais afoito, informo que os hiperlinks para os dois jogos encontram-se inseridos em algum lugar dos textos dos poemas 11-Um Postal de Esparta, e 12-Da Súmula Geral...). Ainda sobre os hiperlinks, a grande maioria está sobre palavras individuais. Há alguns sobre expressões inteiras, e há mesmo uma palavra (miosótis) que comporta três diferentes links em seu corpo. Geograficamente, podem estar em todo lugar, dos títulos à última palavra de um poema. Convido então você, caro leitor, a dedicar um pouco de seu tempo a ler este livro com a conexão de seu computador ou tablet com a internet ativa, para que você possa vasculhar
palavra por palavra (ou apenas aquelas que despertarem alguma pulsão em seus dedos) deste texto. Mais que o interesse pelos alterosos versos ou pela história, creio que a experiência
interativa
com
este
tipo
de
‘dicionário
enciclopédico’, ora prosaico, ora genioso, e os pequenos jogos, acrescentará à sua noção de mega-leitura, de hipertexto. E do somatório disso que restar, o pumctum (Barthes), a singularizada percepção pessoal, o que fica, o que impacta, isso mesmo é a poesia, a arte. Seres caídos, ser homem é fazer poesia com o que restou (pois você também recria o texto ao lê-lo e interpretá-lo). Fora os experimentalismos (tipo)gráficos ou de hipertexto já citados, há ainda outro ‘experimento’ enxertado no corpus do poema, um exercício de intertextualidade ou sampling literário, recurso já alguma vez utilizado em poesia. Tratase do poema em duas partes Da Súmula Geral de Todas as Dores Criadas ou Sentidas, cujos versos são colagens de trechos de diversos poetas, cabendo cada uma estrofe a um mestre. Na primeira parte as estrofes correspondem respectivamente a: Luís de Camões, in Os Lusíadas; Arthur Rimbaud, in A Embarcação Embriagada; Stephane Mallarmé, in Brisa Marinha; William Shakespeare, in Soneto 65; Charles Baudelaire, in Spleen. Na segunda parte, esta exclusivamente de autores lusófonos, temos: Jorge de Lima, in Livro de Sonetos; Laurindo Rabelo, in Flores Murchas; Leonor de Almeida Portugal (Marquesa de Alorna), in Soneto; Antero de Quental, in Na Mão de Deus; e Fernando Pessoa, in Padrão. Você perceberá também que a disposição dos capítulos no livro não obedece sempre a uma ordem cronológica dos
acontecimentos, sofrendo um embaralhamento parcial e proposital.
Pensadas e efetuadas como parte substancial e indissociável do corpus do poema são as fotografias (e também uma pintura em guache) que ilustram cada capítulo. O tratamento que as imagens receberam, de foto desgastada/antiga, se coaduna com a fonte escolhida para compor o corpo do texto, em estilo tipewriter (‘máquina de escrever’), num planeamento gráfico objetivando simbioticamente se integrar e promover (antecipando/amplificando, e mesmo desconstruindo) os subclimas que irrompem aqui e ali no texto, com suas pitadas embaralhadas de noir, (pós?)romântico, romanesco, épico, etc. Não sou fotógrafo profissional: não tenho conhecimentos ou equipamentos de um tal, e o leitor deve imaginar que tais imagens me deram bastante trabalho para executar... Mas foi um processo muito prazeroso e criativamente interessante, me possibilitando novas formas de vivenciar o processo gerativo de um texto (de contar uma história), maximizando mesmo a noção/percepção de ater-me a um específico leit motiv. Numa entrevista, Ferreira Gullar falou sobre o transe criativo que o dominou nos poucos meses em que escrevia seu Poema Sujo. Fui de alguma maneira dominado também por este tipo de transe, febre malsã, em dois meses (entre Dez/2011 e Jan/2012) virulentamente escrevendo, pesquisando, editando, linkando, fotografando... numa
palavra, exsudando este livro em suas facetas poliândricas (apenas o poema que abre o livro já existia). Sempre
fui
um
experimentalismos
apreciador das
e
pesquisador
vanguardas
dos
artísticas,
principalmente as literárias. Creio que a Poesia deve, precisa ter este caráter de inovação e mesmo de transgressão. Gosto deveras de uma frase sucinta e genial do pouco citado filósofo brasileiro Vilém Flusser: “A poesia aumenta o campo do pensável.” Este exercício de aumentar o campo do que é pensável é uma das funções mais nobres da Poesia, e que ela pode realizar com maior sucesso e liberdade do que a prosa, e mesmo a filosofia, por ser ela a herdeira primogênita de todas as variações disso mesmo que chamamos de liberdade criativa. A Poesia é a mais afiada das artes: cabe a ela sempre a função de ponta-delança, não importa se homens, escolas ou épocas lhe destinam/destinaram função menos nobre.
Antes
de
minha
conversão
ao
Evangelho,
o
experimentalismo era a principal linha poética que eu perseguia, quando editava o fanzine Cardio-Poesia, onde praticava experimentalismos tipográficos e artesanais, como rasuras, colagens, no que muitas vezes era quase um ‘fanzine-objeto’. Mas Deus tinha outros e mais úteis planos para mim, e acabei me tornando promotor e editor (e antologista) da
poesia
evangélica,
relegando
(sem
peso
algum
na
consciência) a minha própria produção para um segundo ou terceiro plano. Este texto é uma tentativa, anos e anos depois, de retomar aquela velha veia experimental. O texto pode, pela rudeza e estranheza (a alteridade mesma) do discurso, espantar algum meu irmão na fé acostumado à poesia dita cristã, devocional, embora a mensagem de redenção (ou melhor, de redenções) seja o mote central do poema.
De parte todo o dito experimentalismo, agora vamos ao texto em si. Esta breve ficção poética (um poema de amor? Um poema de ação, um pequeno épico sujo?) é um canto hermético, mas carregado de universalidade, ao englobar em seu discurso a solidão caracteristicamente moderna, do estar-se-só-em-meio-à-multidão, solidão hoje estranhamente violentada/amplificada, des/re-construída pelas onipresentes redes sociais. Além da renitente angústia existencialista do herói (um existencialismo cristão, diga-se de passagem), que permanece como ruído de fundo que a tudo perpassa, há a outra universalidade patente que é a pulsão de violência (aqui explicitada, nua), hoje tão em voga, tão viral em sua apropriação imagética e ideológica de nossos canais midiáticos, dominando o cinema, a literatura, o jornal, o próprio vocabulário das pessoas.
E ainda algo que eu chamo de pulsão de Éden, o arcano desejo humano de fuga, fuga de alguma coisa, fuga para algum lugar, pouco importando que o homem possa definir ou não os pontos de saída ou chegada. E pulsão de Éden manifesta
ainda
no
deslumbramento
do
herói
ao
contemplar inesperadamente o que aos seus olhos se lhe afigura ser a mulher perfeita, a ajudadora fiel que um dia foi criada no Jardim de Deus; mulher, o último dos seres criados, (que é ou deveria ser) um supra-sumo da própria arte criadora da vida. E o interligado e decorrente desejo do mesmo pela construção de uma família e por fuga para longe, para a paz. Pois pulsão de paz é sempre pulsão de Éden. Uma família perfeita ao lado de uma mulher perfeita, re-ligados a Deus num jardim de alguma forma ainda livre das grandes serpentes, dos grandes satãs que vivem para por tudo o que se chama homem a perder. Um herói pós-moderno em fuga para um jardim, depois de ter pisoteado mortalmente uma das cabeças de serpente da hidra. Terá sucesso? Como ele mesmo diz, todas as guerras são guerras perdidas. Por isso mesmo combatemos. Mas quem sou eu, autor, para ler o poema por você, meu leitor? Os autores de prosa que o façam. O poema que você leu/lerá é sempre epicuristicamente um poema outro. Cada texto poético é (semi-?)automaticamente reescrito pela alteridade de quem o interpreta/confronta, de quem o lê. Se a velha máxima de Epicuro diz que um homem não pode
banhar-se duas vezes no mesmo rio, o que se dirá de dois homens?
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Sammis Reachers
Os poemas e as imagens, em conjunto ou separadamente, bem como este livro inteiro, podem ser livremente reproduzidos em qualquer mídia (sem objetivos comerciais), sem a necessidade de prévio consentimento do autor, desde que sejam sempre citados o autor e a fonte, se possível com link para o download do Livro.
Autor Sammis Reachers é poeta, antologista e blogueiro. Autor de A Blindagem Azul e Uma Abertura na Noite (poesia); organizador de 3 Irmãos Antologia (Gióia Júnior, Joanyr de Oliveira e J.T.Parreira), Antologia de Poesia Cristã em Língua Portuguesa, Águas Vivas 1 e 2 (reunindo textos de poetas evangélicos contemporâneos), Antologia de Poesia Missionária e Sabedoria: Breve Manual do Usuário (antologia de frases). Todas estas obras podem ser baixadas gratuitamente. Mantém mais de 10 blogs, incluindo os literários Poesia Evangélica (desde 2006), O Poema Sem Fim (pessoal), Liricoletivo e Mar Ocidental (estes colaborativos).
Nas fontes Veteran Typewriter, Palatino Linotype, 1942 Report. Num dia de verão.