Fanzine Samizdat #1 - Sammis Reachers

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FANZINE

Samizdat POESIA – CONTO – LITERATURAGENS

# 01 - 2021

QUEM FAZ? Nascido em 1978 em Niterói, mas desde sempre morador de São Gonçalo, ambos municípios fluminenses, Sammis Reachers é poeta, escritor e editor, autor de oito livros de poesia e dois de contos, organizador de mais de quarenta antologias e professor de Geografia no tempo que lhe resta – ou viceversa. Os textos deste fanzine são todos de minha autoria, mas você é livre e mesmo incentivado a compartilhá-los da forma que achar melhor: Xérox, Whatsapp, redes sociais e até em cartazes colados no muro. Leia mais de meus textos (e baixe meus e-books gratuitos) em: Recanto das Letras: recantodasletras.com.br/autores/reachers Jornal Daki – www.jornaldaki.com.br/blog/categories/sammis-reachers O Poema Sem Fim – www.opoemasemfim.blogspot.com Azul Caudal – www.azulcaudal.blogspot.com Poesia Evangélica (DIVERSOS AUTORES) – www.poesiaevanglica.blogspot.com Mar Ocidental (DIVERSOS AUTORES) – www.marocidental.blogspot.com A palavra certa na hora certa é a mãe de todas as armas. – S. Reachers


Editorial Mas o que afinal é samizdat? Samizdat era uma prática dos tempos da União Soviética destinada a evitar a censura imposta em geral pelos governos comunistas. Mediante essa prática, indivíduos e grupos de pessoas copiavam (muitas vezes à mão) e distribuíam clandestinamente livros e outros bens culturais que haviam sido proibidos pelo governo. O poeta russo Vladimir Bukovsky assim definia a prática: “Eu mesmo crio, edito, censuro, publico, distribuo e posso ser preso por isso”. Assim, pelo caráter artesanal e mesmo libertário da prática de samizdat, nos ocorreu nomear assim esse fanzine. A ideia não é original: Há por aí uma Revista Samizdat, e na França chegou a circular um outro fanzine Samizdat, voltado para a Ficção Científica. E outros mais devem existir. Que seja; este humildezinho aqui é o Samizdat do Sammis, pequeno veículo criado para divulgar parte de minha produção literária, de maneira lúdica, gratuita e saudosista, pois iniciei minhas literaturagens exatamente escrevendo e editando fanzines como este, há coisa de vinte anos atrás.

Apologia D'Eu Eu também vendo balas na rua eu também finjo não saber nada disso eu abro uma guerra com uma espada em seu peito eu fecho a guerra com um único beijo minha noite tem mais lobos Existem dois tipos de pessoas: As que querem que o bem lhes aconteça e as que querem que o bem aconteça. Acredite: A escolha de um lado fatalmente irá mudar uma vida - ou a de milhares. Já fez sua escolha? – S. Reachers

VERSEJAR É MAQUINAR IGNIÇÕES. – S. Reachers Há irmãos que são sangue de seu sangue, legados de sua mãe; e há irmãos que são alma de sua alma, gestados em Deus, fundados pelo mesmo fogo. – S. Reachers

A segunda vida de Gregor Samsa Não posso ver: tudo é sensação, para além ou de antes do visual, transcendência táctil: energias? Não me lembro completamente quem sou. Lembro trechos. Pedaços de rostos, cadeias de palavras que já não entendo e são música boa ou ruim. Estou nalguns braços. Alguém me move. Energias fluem, posso senti-las quase como odores. Atravessamos linhas de campos magnéticos. É magnífico este novo sentido, este meu único multisentido, seu caudal de silenciosa epifania. Lembro-me de destruir o jardim. Apanhei o taco e destruí as roseiras de alguém que não me lembro, alguém muito importante, alguém que importava. Destruí todas aquelas plantas de nomes débeis e frescos que não sei, aqueles nomes inúteis que sempre mantive aquém de mim. Espalhei as terras, derribei as pequenas contenções, como meios-fios, que delimitavam aquele inferninho verde. Estranho como disso me lembro bem. Cada movimento acertado. Parei de ser movimentado: sinto o vento, quentura. Ela é como uma canção. Suas ondas borrifam o que quer que sejam meus receptores, me deitam num torpor adocicado. Sou feliz. A pulsação que me movimentou aproxima-se, sinto seu avanço pelas linhas do campo magnético, ela deita água em meus pés. Não posso movê-los, nem tento: não anseio o movimento, anseio os movimentos que me vêm: flutuações do campo, comunicações que ainda não decodifico – mas o farei – a viscosidade do calor solar que banha-me, e este furor, esta fome consumindo meus pés: este fausto manjar de águas. Água. Água. Como nunca percebi? Como ela pode ser tão doce, e ter me passado incógnita, obscurecida? Para cada nova sensação faltam-me as palavras, conceitos de perfeito encaixe, mas tal abismo se avoluma ao toque da água. Fruição, tepidez... uma quase promiscuidade, coquetel de psicotrópicos conflitando e equalizando-se, a um só tempo, em meu corpo possuído. Agora percebo que o céu é feito de água, e para ela e para a luz é o meu desejo. Os campos magnéticos ondulam. O sol cintila. Meus pés alimentam-me. Dormi furioso ontem, não falei com Maria (agora me aflora tal nome), mal lavei as mãos sujas de terra, rolei como um diabo antes de conciliar o sono. Acordei dentro da paz. Sou planta. Sammis Reachers Aproveitando este conto que fala de plantas, em 2018 editei a obra ÁRVORE – Uma Antologia Poética, reunindo poemas de dezenas de grandes autores sobre o tema da árvore. O livro é GRATUITO, e você pode baixá-lo pelo Google Drive no link (encurtado): www.cutt.ly/UjaTVlo


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