Luís Vaz de Camões: das redondilhas à medida nova

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Breve Antologia Literária (EM CONSTRUÇÃO)

Luís Vaz de Camões: das redondilhas à medida nova

Português | 10.º Ano, Turmas C e E do Agrupamento de Escolas de Condeixa-a-Nova

Ano Letivo de 2023-2024

Imagem gerada por modelo de IA Sandra Galante
2 Índice INTRODUÇÃO 3 MEDIDA VELHA 4 DESCALÇA VAI PERA A FONTE ......................................................................................4 NA FONTE ESTÁ LEANOR 7 AQUELA CATIVA 10 ESPARSA AO DESCONCERTO DO MUNDO 13 MEDIDA NOVA................................................................................................................ 15 ONDADOS FIOS DE OURO RELUZENTE 15 ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE 18 ESTÁ O LASCIVO E DOCE PASSARINHO 21 AMOR É UM FOGO QUE ARDE SEM SE VER 23 O CÉU, A TERRA, O VENTO SOSSEGADO 25 POIS MEUS OLHOS NÃO CANSAM DE CHORAR 26 VERDADE, AMOR, RAZÃO, MERECIMENTO 28 MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES 29 RECOMENDAÇÕES 30 REFERÊNCIAS 31

INTRODUÇÃO

Esta breve antologia literária tem como objeto a lírica camoniana, apresentando propostas de apoio à análise de quatro redondilhas e oito sonetos de Luís Vaz de Camões, da corrente tradicional à renascentista.

Trata-se de um trabalho elaborado com intuitos didáticos, de acordo com o nível de ensino, para servir de modelo, a partirdeexemplos,tendoemcontaumatarefaapresentada aos alunos, na disciplina de “Português”, no âmbito do estudo da unidade “Luís de Camões - Rimas”1 Pretende propiciar mais uma oportunidade para os alunos conhecerem melhor o Poeta, investindo no desenvolvimentodecompetências,noâmbitodaanálisede textos literários. Nesse enquadramento, os primeiros poemasforamanalisadoscoletivamente,comorientaçãoda docente; nos restantes, partilham-se pistas para o esboço de comentários de textos literários, efetuadas pelos alunos (com supervisão da docente) e/ou acesso a análises publicadas.

Os critérios que presidiram à organização da coleção remetem para as “Aprendizagens Essenciais” da disciplina/nível de ensino e para a variedade, ao nível da forma e dos conteúdos: foram valorizadas a presença de figuras femininas/ideal de beleza feminina e algumas das temáticas mais recorrentes em Camões, a saber, o Amor, a Natureza, a Mudança e o Desconcerto do Mundo. A coletânea está organizada da medida velha à medida nova: primeiro as redondilhas e depois os sonetos

Espera-se que esta tarefa de seleção de poemas, organização, análise dos textos e partilha entre pares contribua para estudar/conhecer e estimar a lírica camoniana.

Estrutura (proposta)

1.º [parágrafo de abertura]

Ideias necessárias:

- Antologia pessoal breve;

- Identificação do Poeta;

- Número de poemas incluídos na antologia.

2.º [parágrafo de do trabalho]

Esta parte do texto implica a apresentação da pertinência do trabalho elaborado.

Hipóteses:

- partilhar com outros os poemas de que mais se gosta;

- desenvolver a sensibilidade estética num exercício de leitura e de partilha literária.

3.º [parágrafo sobre a estrutura do trabalho]

Nesta parte do texto, deve apresentar a estrutura. Após a introdução, a antologia é composta por:

- poema,

- comentário explicativo da escolha do poema.

A escolha dos poemas teve como critério… (critério escolhido)

Os poemas surgem de acordo com a ordem… (ordem definida)

4.º [parágrafo de conclusão]

Nesta parte do texto, poderá retomar alguns tópicos anteriores, de modo sintetizado.

1 Consultar guião da tarefa na Classroom da turma.

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MEDIDA VELHA

DESCALÇA VAI PERA A FONTE

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Pereira, M. e Delindro, F. (2023). Páginas 10. Porto: Areal Editores

“Descalça vai pera a fonte” foi selecionado para esta antologia por duas razões: a inspiração tradicional/ligação à poesia trovadoresca (verso em redondilha maior, ou seja, verso heptassilábico; vilancete) e a representação da imagem feminina.

Nos temas do poema, destaca-se a beleza feminina: o Poeta descreve, de forma elogiosa, uma jovem mulher a caminho da fonte.

Trata-se de uma redondilha com três estrofes: um mote (versos alheios em forma de terceto) e duas voltas ou glosas (em forma de sétimas). Na verdade, é um vilancete perfeito, pois o último verso do mote repete-se no final das voltas.

Leanor, ao nível da caracterização psicológica, não se sente segura, pois é “fermosa” e percebe-se apreciada, ao longo do caminho; exposta (“descalça”), face às tentações amorosas.

No que respeita à caracterização social, é possível deduzir que se trata de uma rapariga do povo: vai buscar água à fonte “descalça” e com a “vasquinha de cote”

Fisicamente, percebe-se o contraste entre a espiritualidade e a sensualidade: Leanor é “branca” como a “neve”; é “pura”, o que remete para a sua inocência/castidade; mas o vermelho da sua roupa - “escarlata” e “encarnado” – convoca a sensualidade/paixão.

Neste contexto, repare-se nos recursos expressivos utilizados: a comparação e a hipérbole, presentes nos versos “mais branca que a neve pura”, complementadas pelas metáforas “mãos de prata” e ainda “cabelos de ouro”, bem como “chove nela graça tanta”, destacam os valores morais e a preciosidade

Análise de texto

Mensagem

- redija um comentário que explique a razão pela qual esse poema foi escolhido por si para a antologia

Análise do poema

● Leitura de contacto com o texto e segunda leitura silenciosa atenta (assinalando palavras cujo significado se desconhece)

● Significado de vocabulário desconhecido

● Inserção do poema na obra do autor e no período literário

● Determinação do tema do poema (ideia fundamental, eixo em redor do qual giram todos os elementos que constituem o texto)

● Resumo do assunto do poema (versão reduzida, com os pontos mais importantes)

● Forma:

Género/estrutura externa/metro/rima

● Se pertinente, divisão em partes/momentos, justificando

●Conteúdo(s)

- ideias, pensamentos, sentimentos …;

- recursos expressivos, efeitos obtidos (o que se diz, o modo como se diz e porque se diz assim).

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da beleza física de Leanor. O Poeta afirma hiperbolicamente que ela “dá graça à fermosura” (a utilização da forma verbal no presente do indicativo não é inocente: confere à afirmação características de verdade irrefutável e caráter intemporal), o que justifica a personificação do “mundo”, que se “espanta” perante a graciosidade da jovem. Assim se remata a enumeração de características positivas/elogiosas: é inegável que, tratando-se de um vilancete (inspiração tradicional), os traços físicos de Leanor lembram, ainda assim, um dos ideais de beleza feminina vigentes na época renascentista - a mulher branca, bela e loura.

A musicalidade popular do vilancete é assegurada pelo esquema rimático: no mote, a b b; na primeira volta: c d d c c b b; na segunda volta: e f f e e b b. Estamos em presença da rima emparelhada (bb, dd, cc, ff, ee) e interpolada (c_ _ c; e_ _ e). A repetição, no último verso de cada estrofe, numa espécie de refrão, perpetua o eco/memória da beleza e vulnerabilidade de Leanor.

Análise de poemas (continuação)

Na análise formal (ou estrutura externa), consideram-se geralmente os seguintes itens:

- número de estrofes;

- número de versos que constituem cada estrofe;

- nome de cada uma das estrofes;

- número de sílabas métricas;

- nome de cada um dos versos;

- tipos de rimas (com exemplos);

- recursos expressivos (indicar exemplos e identificar o seu valor expressivo, ou seja, qual o seu objetivo no texto, a forma como contribuem para enriquecer o texto).

Na análise temática (ou análise da estrutura interna):

- identificam-se o tema e o assunto;

- o poema pode ser dividido em partes (tem de haver uma justificação para a divisão feita), relacionam-se as diferentes partes.

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NA FONTE ESTÁ LEANOR

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Pereira, M. e Delindro, F. (2023). Páginas 10. Porto: Areal Editores.

A composição "Na Fonte Está Leanor" integra esta antologia, devido à clara ligação à anterior: na verdade, deparamo-nos, neste poema, com outra jovem de nome “Leonor”. Trata-se de um outro exemplo da poesia lírica camoniana de inspiração tradicional, que nos lembra, de forma muito visível, os cenários campestres das cantigas de amigo: nesta composição, destaca-se a presença de um eu lírico feminino que expressa o seu sofrimento amorosoestão presentes os temas do Amor e da saudade, a fonte como ambiente e as amigas como confidentes. O poema apresenta uma jovem apaixonada que, enquanto cumpre tarefas de rotina (“lavar a talha”), se refere ao seu amado, perguntando por notícias, num cenário bucólico que contrasta com a sua dor interior. Essa dor é tão intensa que chora, canta, suspira. Pergunta às amigas se viram o seu amado, mas, quando obtém resposta, diz o Poeta, volta a chorar: “d’emproviso a vi chorando”.

O poema é rico em recursos expressivos que contribuem para a construção da personagem feminina, a expressão dos seus sentimentos e para a evolução/intensificação da sua dor. Atente-se nos seguintes exemplos:

• a metáfora "lavando a talha e chorando" - a água da talha representa talvez as lágrimas de Leanor;

• a antítese "cantava, mas a cantiga/eram suspiros por ele" - o canto de Leanor é um canto de saudade/dor;

• o paradoxo “Amor, porque em mágoa grande/seca as lágrimas a mágoa" - a dor de Leanor é tão grande que impede que ela chore;

• a personificação “o Amor” – sentimento capaz de “obrigar” o ser humano aos maiores sacrifícios e às mais alegres e sofridas experiências; "a mágoa" - a mágoa é como um ser/uma entidade que seca as lágrimas de Leanor;

• e a exclamação “Olhai que extremos de dor!”, em que o Poeta se solidariza com essa dor e nos leva a aderir à sua empatia pela jovem.

O simbolismo também é um elemento importante do poema: a fonte simboliza o local de encontro amoroso, mas também a fonte das lágrimas de Leanor; a talha simboliza a pureza e a castidade de Leanor e a água simboliza as lágrimas, mas também a purificação. São símbolos que contribuem para a construção da atmosfera do poema e para a caracterização da personagem.

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Quanto à estrutura, o poema, que se insere na corrente tradicional, inicia-se por um mote, quatro versos alheios em redondilha maior, ou seja, com sete sílabas métricas, com rima emparelhada (_bb_) e interpolada (a_ _a), que apresentam a personagem central, Leanor, e o seu estado de sofrimento, situando-a espacialmente junto à fonte e caracterizando-a através da ação de lavar a talha e chorar. Seguem-se as voltas: três estrofes de oito versos, também em redondilha maior, com uma melodia/dolência semelhante, uma vez que as voltas em oitava se dividem, em termos rimáticos, em duas partes iguais, que desenvolvem o tema do amor e da saudade, alternando entre a descrição do estado interior de Leanor e o diálogo com as amigas. As rimas emparelhadas contribuem para a musicalidade do poema e para a fluidez da leitura. A predominância de sons nasais (atente-se no uso do gerúndio – exemplos: “lavando”, “perguntando”, “chorando”) e a repetição das rimas cria um efeito ritmado regular, complementado pela impressão de coloquialidade (Vistes lá o meu amor?”), que intensifica o efeito emocional, ao longo do poema. A alternância entre rimas emparelhadas e interpoladas contribui, ainda, para a dolência das sonoridades do poema.

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AQUELA CATIVA

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Pereira, M. e Delindro, F. (2023). Páginas 10. Porto: Areal Editores

No poema "Aquela Cativa", o sujeito poético expressa uma forte paixão por uma mulher escrava, quebrando o estereótipo renascentista de beleza ao descrever a amada com características físicas distintas das usuais para a época: “Bárbora” tem cabelos pretos e pele escura, em contraste com os olhos claros, cabelo loiro e pele branca tradicionalmente idealizados, mas perante a sua beleza exótica “o povo vão/ perde opinião/ que os louros são belos”. Ainda assim, note-se que a amada é retratada com qualidades psicológicas de sensatez, calma e serenidade (como Santa Bárbara, protetora em caso de tempestade, “a tormenta amansa”), alinhando-a, nesse aspeto, com modelos coevos de comportamento feminino.

Fisicamente, ela é descrita como "fermosa", com um "rosto singular", olhos "sossegados, pretos e cansados", e cabelos também pretos, evidenciando uma beleza que transcende o convencional. Psicologicamente, é representada como doce e serena, características que a dignificam, apesar e para além de sua condição social de escrava.

Camões utiliza diversos recursos expressivos para destacar a beleza e singularidade da amada. A hipérbole é frequente, como na frase "Eu nunca vi rosa/ em suaves molhos,/ que para meus olhos/ fosse mais fermosa", elevando a beleza da mulher a um patamar sublime. Além disso, a personificação é evidente quando ele descreve como a neve "jura que trocara a cor" ao testemunhar a sua doçura. Note-se que a adjetivação abundante serve para realçar cada traço da sua aparência e temperamento, como se evidencia nos exemplos: “suaves”, “fermosa”, “belas”, “singular”; “sossegados,/ pretos e cansados”, “viva”. “doce”, “Leda”, “estranha”, “serena”.

Formalmente, o poema é composto por cinco estrofes de oito versos cada (oitavas), utilizando redondilhas menores com um esquema rimático abbacddc, que intercala rima emparelhada (bb; dd) e interpolada (a_ _ a; c_ _c), contribuindo para a fluidez e musicalidade do texto. Esta estrutura não apenas reflete a forma tradicional da poesia camoniana, mas também serve para emoldurar, de maneira eficaz, o tema do Amor e da admiração assumidos pelo Poeta em relação a “Bárbora escrava”

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Tema/assunto

Neste poema é percetível que o sujeito poético se encontra apaixonado por uma escrava. Trata-se de uma amada que contraria o estereótipo de mulher renascentista, pelas suas características opostas ao pré-estabelecido - olhos claros, cabelo loiro e pele branca. Já no que respeita às suas características psicológicas - sensatez, calma, serenidade… -, estas inserem-se perfeitamente nos modelos coevos.

Caracterização da amada

Caracterização física: “fermosa”, “rosto singular” (rosto único), “olhos sossegados, pretos e cansados”, “Pretos os cabelos”, “Pretidão de amor” (pele escura).

Caracterização psicológica: “tão doce a figura” (personalidade doce), “Leda mansidão” (meiga e calma), “Presença serena”.

Classe social da amada: Escrava (implícito quando referida como “Aquela cativa”)

Exemplos de recursos expressivos utilizados no texto

• Hipérbole - É utilizada diversas vezes no poema, tendo como objetivo destacar a amada num mundo de outras mulheres. Um exemplo do uso deste recurso expressivo é: “Eu nunca vi rosa/ em suaves molhos,/ que para meus olhos/ fosse mais fermosa”.

• Personificação – Na sequência da hipérbole, a própria neve se alia ao Poeta para asseverar a beleza de Bárbara: “tão doce a figura/ que a neve lhe jura/ que trocara a cor”.

• Adjetivação - Pode ser considerada o foco do poema, uma vez que está presente diversas vezes ao longo do mesmo. Um exemplo é: “Rosto singular,/ olhos sossegados”.

Análise formal

Este poema é constituído por 5 estrofes com oito versos (oitavas). Os versos são redondilhas menores (cada um tem 5 sílabas métricas). O esquema rimático é ABBA CDDC, sendo assim interpolada nos versos 1,4,5,8 e emparelhada nos versos 2,3,6,7.

Órfão, 2024, p. 2

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ESPARSA AO DESCONCERTO DO MUNDO

A "Esparsa ao Desconcerto do Mundo", de Luís de Camões, reflete sobre a inversão de valores morais e a injustiça percebida no mundo. O sujeito poético explora a ideia de que aqueles que são bons frequentemente sofrem grandes tormentos, enquanto aqueles que agem de maneira má desfrutam de uma vida repleta de contentamentos. Perante essa observação, o Poeta toma-se como exemplo, recordando uma tentativa de adotar um comportamento malicioso para obter uma vida mais feliz, porém, essa escolha apenas resultou em castigo, levando-o a concluir que, ironicamente, apenas para ele o mundo anda “concertado”.

A estrutura de esparsa, que tradicionalmente é um poema lírico de forma livre, muito utilizada na Península Ibérica a partir do século XV, incorpora, no entanto, a medida velha, utilizando a redondilha maior com versos de sete sílabas métricas, o que confere uma musicalidade reminiscente da lírica medieval, embora renovada pelo conteúdo pessoal e contemporâneo refletido nas experiências do Poeta.

A riqueza do poema também se manifesta nos recursos estilísticos, como a personificação do mundo e das emoções, que intensifica o impacto do desconcerto moral observado. Esses elementos são estrategicamente usados para questionar a ordem das coisas e expressar o desalento do poeta frente às incongruências da justiça e da moralidade humana.

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Pereira, M. e Delindro, F.(2023). Páginas 10. Porto: Areal Editores

Assim, o Poeta considera, na primeira parte do seu poema, que todos os que são bons passam por “grandes tormentos” e que a vida de quem é mau, é um “mar de contentamentos”. Em seguida, revela que, para garantir essa vida feliz, resolveu ser mau, porém foi castigado, e conclui que só para ele vale a regra de que só alcança o bem quem é bom: “assim que, só para mim, anda o Mundo concertado”; para o Poeta, um desconcerto do mundo é premiar quem é mau e castigar quem é bom. Neste poema encontramos a força musical nas suas rimas, no jogo entre as palavras “bom” , “bem” , “mal” , “mau” e também no uso da medida velha com o emprego da redondilha maior (versos de sete sílabas métricas: Os/bons/vi/sem/pre/pas/sar), que garantem a musicalidade e a graça, características da lírica medieval, mas que o poeta renova com o relato das experiências da sua vida e cujo resultado é a beleza de cenas do quotidiano humano.

Escolha: O poema chamou a minha atenção devido à sua estética diferente, apresentando apenas uma estrofe e o tema é também bastante interessante.

Vocabulário e significado / contexto: desconcerto o mundo é incerto; “concertado” certo

Análise do tema: O sujeito poético afirma que o mundo anda desconcertado, porque os bons passam várias dificuldades enquanto os maus têm sorte na vida e uma vida risonha. Face a esta analogia, o sujeito poético decide, então, ser mau, mas no seu caso não correu bem e foi castigado. Conclui assim que só para com ele o mundo está “concertado”

Análise formal: 1 estrofe de 10 versos (décima)

Este texto é uma esparsa (tipo de poema que foi difundido na Península Ibérica, a partir do século XV)

Rima: ABAABCDDCD / rimas emparelhadas (“AA”, “DD”) e interpoladas (“B_ _B”, C_ _C”).

Métrica irregular - rimas agudas e graves

Luís, 2024, p. 3

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ONDADOS FIOS DE OURO RELUZENTE

Ondados fios de ouro reluzente, que, agora da mão bela recolhidos, agora sobre as rosas estendidos, fazeis que sua graça se acrescente;

olhos, que vos moveis tão docemente, Em mil divinos raios encendidos, Se de cá me levais alma e sentidos, Que fora, se de vós não fora ausente?

Honesto riso, que entre a mór fineza De perlas e corais nasce e parece, Se n’alma em doces ecos não o ouvisse!

Se, imaginando só tanta beleza, De si em nova glória a alma se esquece, Que será quando a vir? Ah, Quem a visse!

No poema "Ondados fios de ouro reluzente", o sujeito poético exalta a beleza da amada ausente, utilizando a descrição pormenorizada dos seus atributos físicos e psicológicos, como veículo para expressar seu amor e admiração. O poema é um soneto petrarquista que ilustra o ideal renascentista de beleza feminina, caracterizado pela pureza e perfeição quase divinas.

O soneto começa com a descrição dos cabelos da amada, "ondados fios de ouro reluzente", que se movem graciosamente, aumentando a sua beleza natural, sugerida pelo leito de rosas sobre os quais eles repousam. Os olhos são descritos como "em mil divinos raios encendidos", revelando a luz e a profundidade da sua expressão, que cativa a alma e os sentidos do poeta. Neste soneto, o sujeito imagina e exalta a beleza da amada ausente, cujo retrato reconstitui pela memória (influência platónica da teoria da reminiscência), e, no último terceto, exprime grande desejo de a ver, através da interrogação retórica, da interjeição (“Ah!”) e da exclamação. Revela, sobretudo, influência petrarquista na idealização da mulher e na exaltação das suas qualidades físicas (os cabelos, os olhos, o rosto, os dentes, os lábios) e, também, das suas qualidades psicológicas ou morais (a doçura, a graça, a honestidade)

O "honesto riso" da amada, que parece brotar de pérolas e corais, é um testemunho de sua sinceridade e graça interior. A interação dessas características cria uma imagem de uma mulher cuja beleza não é apenas física, mas também espiritual e moral, capaz de elevar a alma de quem a contempla.

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MEDIDA NOVA

A estrutura formal do poema, composta por duas quadras e dois tercetos em versos decassilábicos, segue o esquema rimático ABBA ABBA CDE CDE, típico do soneto, proporcionando uma harmonia que complementa a perfeição da imagem que o poeta constrói.

O uso de hipérboles, metáforas e comparações intensifica a admiração do poeta pela amada, sugerindo que sua presença tem o poder de transformar e engrandecer a realidade ao seu redor. O poema culmina com a “chave de ouro” do último terceto: uma reflexão sobre o efeito da beleza da amada na alma do poeta, ponderando sobre o impacto ainda maior que ela teria se ele pudesse vê-la novamente, ressaltando a natureza intangível e quase mística da beleza idealizada.

Tema/assunto: Este soneto aborda o tema da mulher, mais especificamente, o ideal Petrarquista. Neste ideal, a mulher é descrita como sendo perfeita, bela, nobre, ideal, tendo sempre como forma de descrição a hipérbole.

Caracterização da amada

Caracterização física: “Ondados fios de ouro reluzente”;” olhos, que vos moveis tão docemente”; “agora sobre as rosas estendidos” (“rosas”-rosto metaforizado); “Em mil divinos raios encendidos” (olhos reluzentes); “Se, imaginando só tanta beleza” ( descrição de uma beleza incomparável).

Caracterização psicológica: “fazeis que sua graça se acrescente” (graciosa); “Honesto riso” (verdadeira); “Se n’alma em doces ecos não o ouvisse!” (ausente).

Classe social da amada: Nobre (uma das características principais do ideal feminino petrarquista)

Exemplos de recursos expressivos utilizados no texto:

• Comparação - É um dos recursos expressivos mais utilizados ao longo do poema, tendo como objetivo a analogia entre a beleza da natureza e a beleza da mulher/amada descrita.

Exemplos: “Ondados fios de ouro reluzente” (comparação entre o ouro e a cor do cabelo da amada); “olhos, que vos moveis tão docemente,/ Em mil divinos raios encendidos” (comparação dos olhos da amada aos raios do sol); “Honesto riso, que entre a mór fineza/ De perlas e corais nasce e parece” (comparação do sorriso a pérolas e corais)

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• Hipérbole - A hipérbole também é diversas vezes utilizada no poema, querendo destacar a amada. Um exemplo é: “Se de cá me levais alma e sentidos/Que fora, se de vós não fora ausente?” (embora o sujeito poético não tenha perdido a alma nem os sentidos, exagera de modo a intensificar os sentimentos que tem)

Análise formal

Este poema é constituído por 4 estrofes, duas quadras e dois tercetos. Os versos são decassilábicos (cada um tem 10 sílabas métricas). O esquema rimático é ABBA // ABBA // CDE // CDE, sendo assim interpolada nos versos 1,4,5,8 e emparelhada nos versos 2,3,6,7.

Petrarquismo

Foi um movimento literário italiano que apareceu no século XV e que influenciou toda a poesia europeia. Este movimento tinha como objetivo imitar a escrita amorosa de Petrarca, um poeta italiano que representava a transição entre os trovadores provençais e a poesia do Renascimento.

O ideal petrarquista na escrita de “Ondados fios de ouro reluzente”

Influenciado pela escrita característica do Petrarquismo, o sujeito poético descreve a sua amada baseando-se no ideal feminino petrarquista. Este idealiza uma mulher branca, de cabelos loiros, olhos claros que partilha de um amor sereno, puro e delicado. Simboliza uma mulher excepcionalmente bela, angelical e pura- a perfeição inatingível e intocável. Torna-se um objeto de contemplação, sendo as suas características hiperbolizadas e metaforizadas.

• Também a ausência da amada, implícita em versos como “Que fora, se de vós não fora ausente?” e “Se n’alma em doces ecos não o ouvisse!”, mostram a sua intangibilidade, expondo também o desejo de proximidade do sujeito poético (“Que será quando a vir? Ah, Quem a visse!).

Órfão, 2024, p. 3

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ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE

Pereira, M. e Delindro, F.(2023). Páginas 10. Porto: Areal Editores

No soneto "Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente", Luís de Camões explora intensamente as emoções de arrependimento e desalento causadas por erros passados, atribuindo essas falhas à má fortuna e ao amor ardente que o levaram a tomar decisões equivocadas. O eulírico funde-se com o autor, revelando uma introspeção profunda sobre a própria vida, marcada por uma reflexão sobre a inevitabilidade do destino e o papel do Amor, muitas vezes enganador, em sua trajetória pessoal.

Este soneto é estruturado em catorze versos decassilábicos, divididos em duas quadras e dois tercetos, com um esquema rimático ABBA ABBA CDE CDE. Esta configuração tradicional do soneto é utilizada para expressar, de maneira lírica, as contradições entre a intenção do eulírico e o resultado de suas ações, evidenciando a luta interna entre o desejo de felicidade e a realidade de sua existência atormentada.

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Os primeiros versos são dedicados à confissão dos erros cometidos pelo poeta, que ele percebe como a causa de seu infortúnio. Usa metáforas, hipérboles e personificações para intensificar a expressão de sua dor emocional e arrependimento, enquanto, no final do poema, o desejo do eu-lírico é simplesmente encontrar paz, desejando que o "Génio" que o persegue finalmente o deixe em repouso.

Este soneto destaca-se não apenas pelo seu teor emocional intenso, mas também pelo uso habilidoso de recursos poéticos que Camões emprega para envolver o leitor na sua narrativa pessoal e reflexiva, mostrando a complexidade de suas emoções e a profundidade de seu desencanto. Observa-se claramente, neste soneto, a vida do poeta, onde autor e eu-lírico se fundem, sendo enfatizados os seus erros, causa de castigo da deusa Fortuna: “Errei todo o discurso de meus anos; dei causa a que a Fortuna castigasse”. O sentimento de arrependimento faz-se presente numa confissão e, também, a compreensão de que somente o amor, na sua essência, era o suficiente. Encontramos a força do lirismo último, quando o autor apresenta um questionamento sobre as suas ambições, que, de uma forma geral, são as ambições humanas. O poema acaba por englobar a força intelectual com as suas questões existenciais (que exigem conhecimento) e a força dramática com os seus contrates (no caso, o certo e o errado). Olhando por uma outra ótica, podemos também incluir este poema na tensão “os desconcertos do mundo”, que nos apresenta o desengano com a existência. O autor demonstra uma desesperança diante da vida quando diz “a não querer já nunca ser contente”, com um toque de dramaticidade causada pelo conflito entre o que é certo e errado.

Conteúdo: Este poema aborda temas como o amor, sofrimento, arrependimento e destino. O poeta pretende, com este poema, refletir sobre os seus próprios erros, atribuindo-os à má sorte por amar intensamente.

Na primeira parte (12 primeiros versos) o sujeito poético confessa que viveu uma vida em sofrimento, provocado pelos seus erros, pela má sorte. Diz também, que o amor apenas lhe deu “breves enganos” e que, por isso, o sofrimento provocado pela má sorte e pelos enganos é abundante.

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Na segunda e última parte mostra a dor que lhe vai no coração e espera que o “Génio” que o persegue se farte de o perseguir para ele poder viver em paz.

Estrutura: É um soneto constituído por 14 versos decassilábicos divididos em duas quadras e dois tercetos. O esquema rimático do poema é ABBA ABBA CDE CDE, rima interpolada em A, emparelhada em B e interpolada nos dois tercetos.

Os recursos expressivos presentes neste poema são a enumeração (verso 1), a adjetivação (verso 1 e verso 6), a hipérbole (versos 13 e 14), a personificação (verso 7 e verso 10) e a anástrofe (verso 8).

Matias, 2024, p. 2

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ESTÁ O LASCIVO E DOCE PASSARINHO

Pereira, M. e Delindro, F.(2023). Páginas 10 Porto: Areal Editores

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No poema "Está o Lascivo e Doce Passarinho" de Luís de Camões, o tema central é o Amor, mas abordado através de uma comparação amarga com a vulnerabilidade de um passarinho ferido por um caçador. Esta metáfora reflete a experiência dolorosa do amor pelo sujeito poético, comparável ao passarinho atingido inesperadamente pela seta de Cupido, sugerindo uma visão predominantemente negativa do amor, visto como fonte de sofrimento.

A estrutura do poema segue a forma clássica de um soneto, composto por duas quadras e dois tercetos, e utiliza a métrica de versos decassilábicos. O esquema de rimas utilizadas é abba/abba/cbb/cbb, com uma mistura de rimas interpoladas (a) e emparelhadas (“bb”) que criam um fluxo melódico enquanto sublinham a inevitabilidade e a profundidade do impacto emocional do amor no sujeito poético.

Este tratamento do tema do Amor, usando a imagem de um passarinho ferido, não apenas evoca a vulnerabilidade emocional, mas também destaca a crueldade inadvertida do amor, que, como o caçador, não percebe ou não se importa com o dano que causa

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AMOR É UM FOGO QUE ARDE SEM SE VER

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Pereira, M. e Delindro, F. (2023). Páginas 10. Porto: Areal Editores.

O poema "Amor é um fogo que arde sem se ver" de Luís de Camões é um dos mais icônicos da literatura portuguesa e aborda o Amor com uma profundidade que explora suas contradições e complexidades. Através de antíteses e paradoxos, Camões expressa o caráter dual do amor, descrevendo-o como um sentimento que, apesar de causar dor e sofrimento, também traz uma intensa alegria e contentamento. Por exemplo, ele descreve o amor como "contentamento descontente", evidenciando como o amor pode ser ao mesmo tempo gratificante e doloroso.

O poema é estruturado como um soneto, composto por duas quadras seguidas de dois tercetos, usando versos decassilábicos. O esquema de rima alterna entre rimas emparelhadas nos segundos e terceiros versos de cada estrofe e rimas interpoladas nos primeiros e últimos versos das quadras, enquanto os tercetos apresentam rimas cruzadas. Esta estrutura rítmica não só reflete a tradição sonetista, mas também complementa a tensão emocional expressa no poema, sublinhando a complexidade do amor que é simultaneamente visível e invisível, tangível e intangível, um paradoxo que captura a essência da experiência amorosa humana.

Porque é que escolhi este poema?

Escolhi este poema porque é um dos poemas mais conhecidos da literatura portuguesa e é talvez o mais icónico de Luís de Camões.

Análise do tema

O “Amor é um fogo que arde sem se ver” é um poema de Luís de Camões e aborda o tema do amor. Ao longo do poema, o autor compara este sentimento com ideias contrárias, para fazer isto utiliza várias antíteses como podemos ver no seguinte verso: “É um contentamento descontente”. É este paradoxo que acaba por reforçar o próprio amor. Por fim, Camões mostra que a possibilidade de dualidades no amor acaba por ser maravilhosa.

Análise formal

O poema é um soneto, ou seja, duas quadras no início do poema e dois tercetos de seguida, os versos são decassilábicos e têm rima emparelhada no segundo e terceiro verso de cada e rima interpolada no primeiro e no quarto nas quadras; já nos tercetos têm rima cruzada.

Caridade, 2024, p. 1

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O CÉU, A TERRA, O VENTO SOSSEGADO

Pereira, M. e Delindro, F. (2023). Páginas 10. Porto: Areal Editores

Pereira, M. e Delindro, F. (2023). Páginas 10. Porto: Areal Editores

Visiona: https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7884/e530880/portugues-10-ano

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POIS MEUS OLHOS NÃO CANSAM DE CHORAR

Pois meus olhos não cansam de chorar Tristezas não cansadas de cansar-me; Pois não se abranda o fogo em que abrasar-me Pôde quem eu jamais pude abrandar;

Não canse o cego Amor de me guiar Donde nunca de lá possa tornar-me; Nem deixe o mundo todo de escutar-me, Enquanto a fraca voz me não deixar.

E se em montes, se em prados, e se em vales Piedade mora alguma, algum amor Em feras, plantas, aves, pedras, águas;

Ouçam a longa história de meus males, E curem sua dor com minha dor; Que grandes mágoas podem curar mágoas.

Este soneto mostra a influência dos humanistas italianos, principalmente Petrarca, em Camões: estamos em presença da “medida nova” - os versos decassílabos; a forma fixa soneto.

Os temas mais frequentes dos poemas de Camões em “medida nova” são o amor e a reflexão sobre o desconcerto do mundo.

Neste poema, o eu-lírico sofre por Amor, a sua voz está fraca, sente-se perdido. Uma imensa tristeza invade o Poeta, que chora porque o seu Amor não é correspondido. No entanto, apesar da sua dor, o Amor persiste, cego e intenso (repare-se na metáfora), como guia de uma vida que nele tem o seu ponto de apoio. Amor intenso, que o mundo tem de conhecer, enquanto àquele que ama for concedida a capacidade de se exprimir. A natureza é a solução para amenizar seu sofrimento, escutar a “longa história de seus males”, é sua confidente.

Predomina aqui a conceção neoplatónica do amor. Segundo Platão, filósofo grego, existiriam dois mundos: o inteligível e o sensível. No primeiro, formado pelas ideias, tudo é perfeito e

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belo. No segundo, das coisas reais e concretas, existe imperfeição e é apenas uma projeção do primeiro. Ou seja: o amor verdadeiro é um ideal superior, universal, o amor-ideia, enquanto o amor real, o amor físico, uma projeção imperfeita do verdadeiro amor. A mulher, também ser imperfeito, apresenta-se idealizada.

O poema, quanto à estrutura externa, obedece às regras: catorze versos decassilábicos distribuídos por duas quadras e dois tercetos, com o seguinte esquema rimático: abba abba cde cde.

Trata-se de rima interpolada no primeiro e último verso de cada quadra e emparelhada no interior dessas estrofes.

As duas quadras constituem a primeira parte do poema: deparamo-nos com a relação de causa/efeito em que o poema se constrói. Os “olhos” denunciam a dor que teima em permanecer. Atente-se na sinédoque que nos “olhos” e na “voz” permite conhecer o Eu lírico total. Na segunda quadra, efeito da causa anunciada na primeira, o Poeta exorta o Amor a não deixar de guiá-lo (atente-se na personificação)

O ritmo é melancólico: ao esquema rimático juntam-se os sons nasais, presentes, por exemplo, no verbo “cansam” .

Se tomarmos os tercetos por segunda parte do poema, podemos reencontrar a rima interpolada: entre dois versos que rimam, dois que não rimam com esses versos. A ligação às quadras é feita através da conjunção copulativa inicial “E”. Os nomes são enumerados, como que a desvendar o mundo a que o Poeta se vai dirigir: “montes” , “prados” , “vales” , “feras” , “aves” , “pedras” , “plantas” , “águas”

Ocorre aqui uma explosão do “Eu”: o ritmo é mais rápido e sincopado.

No último terceto, a relação de causa/efeito é retomada: é necessário que quem fala encontre quem o escute, para que as suas palavras não sejam em vão.

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VERDADE, AMOR, RAZÃO, MERECIMENTO

Verdade, amor, razão, merecimento, Qualquer alma farão segura e forte; Porém, fortuna, caso, tempo e sorte, Têm do confuso mundo o regimento.

Efeitos mil revolve o pensamento

E não sabe a que causa se reporte: Mas sabe que o que é mais que vida e morte, Não se alcança de humano entendimento.

Doctos varões darão razões subidas, Mas são experiências mais provadas: E por isso é melhor ter muito visto.

Coisas há que passam sem ser cridas: E coisas cridas há sem ser passadas. Mas o melhor de tudo é crer em cristo.

O poema "Verdade, Amor, Razão, Merecimento" de Luís de Camões, expressa a contemplação do sujeito lírico sobre valores elevados e como estes podem influenciar positivamente uma alma, conferindo-lhe força e segurança. No entanto, a fortuna, o caso, o tempo e a sorte são apresentados como os verdadeiros regentes do mundo confuso em que vivemos, sugerindo uma tensão entre os ideais elevados e a realidade regida pelo acaso e pela incerteza.

Este soneto é composto por duas quadras e dois tercetos, utilizando versos decassílabos. A métrica e o esquema de rima (ABBA ABBA CDC CDC) são típicos da forma soneto, estruturando o diálogo entre a aspiração aos valores morais elevados e a constatação de que a realidade muitas vezes se pauta por princípios aleatórios e imprevisíveis.

O poema reflete uma dualidade entre o que deveria ser e o que é, utilizando metáforas e antíteses para explorar a disparidade entre a ordem ideal e o governo do mundo pelo acaso e pela fortuna. Esta reflexão encarna o espírito renascentista de questionamento e a busca por um entendimento mais profundo da condição humana e do universo moral e físico em que existimos.

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MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.

Visiona:

https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7884/e536542/portugues-10-ano

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RECOMENDAÇÕES

- Estuda a unidade “Luís de Camões, Rimas”, a partir da pág. 166 do teu manual2:

• Contextualização, a partir da pág. 166;

• Síntese, a partir da pág. 206;

• Recursos Expressivos, a partir da pág. 190; a partir da pág. 306

• Consulta, sempre que necessário, o Glossário, a partir da pág. 313

- Relembra noções básicas de versificação.

- Consulta as antologias camonianas partilhadas na Classroom da turma; faz a revisão desta brochura, aperfeiçoa-a e completa-a, de forma a constituir um bom instrumento de estudo.

- Consulta/melhora a tua antologia camoniana.

- Acede a materiais e recursos da Escola Virtual, associados ao teu manual.

- Visiona, entre outras aulas do #EstudoEmCasa, a sistematização efetuada:

https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7884/e538091/portugues-10-ano

2 Pereira, M. e Delindro, F. (2023). Páginas 10. Porto: Areal Editores.

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REFERÊNCIAS

Alves, I. (2024). Antologia Camoniana. Camões e a água. Disponível em https://sites.google.com/aecondeixa.pt/camoes-e-a-agua/antologia-camoniana?authuser=0

Caridade, J. (2024). Antologia Camoniana. Disponível em

https://docs.google.com/document/d/1wq05m0ya3Ijh2xHAfU8Le68PqDHUmJ7c67DWhERV a98/edit?usp=sharing

#EstudoEmCasa. Português, 10.º ano. Disponível em https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/

Luís, A. (2024). Antologia Camoniana Disponível em https://docs.google.com/document/d/1Qw4opx9vFrbvVaUHsCXmQsbej3InWON1AleP2SYk1M/edit?usp=sharing

Matias, C. (2024) Antologia Camoniana. Disponível em https://docs.google.com/document/d/1F-

T6tvmrURUbFGEMgroA117ulhdiEjHmyI9v1_B4MfA/edit?usp=sharing

Órfão, C. (2024). Antologia Camoniana. Disponível em

https://docs.google.com/document/d/1F-

T6tvmrURUbFGEMgroA117ulhdiEjHmyI9v1_B4MfA/edit?usp=sharing

Malhão, B. (2024). Antologia Camoniana. Disponível em

https://docs.google.com/document/d/1F-

T6tvmrURUbFGEMgroA117ulhdiEjHmyI9v1_B4MfA/edit?usp=sharing

Pereira, M. e Delindro, F. (2023). Páginas 10. Porto: Areal Editores.

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Projeto"Dá-lhesPoesia"-CircuitosdeComunicaçãoEscrita:LuísVazdeCamões,dasredondilhasàmedida

nova©2024bySandraGalanteislicensedunderCCBY-NC-SA4.0

CC BY-NC-SA 4.0 DEED

Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International

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