Cuidando das Águas - Saneamento Ecológico na Zona Rural Sul de São Paulo

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CUIDANDO DAS ÁGUAS Saneamento Ecológico na Zona Rural Sul de São Paulo



CUIDANDO DAS ÁGUAS Saneamento Ecológico na Zona Rural Sul de São Paulo

São Paulo, 2020


Cuidando das Águas

Saneamento Ecológico na Zona Rural Sul de São Paulo Publicação da Sapiência Ambiental

Coordenação editorial

Sapiência Ambiental Rua Alvarenga, 780 Butantã - São Paulo/SP CEP 05509-001 sapienciaambiental.com contato@sapienciaambiental.com

Equipe editorial

Elaboração dos textos: Ligia Monteiro e Vitor Chaves Revisão dos textos: André Kenez e Rafael Martese Projeto gráfico e diagramação: Ligia Monteiro Ilustrações: Gau Luz Fotos: Ligia Monteiro e Monique Almeida Apoio: Instituto Phi, Movimento Bem Maior e Fundo Patrimonial Amigos da Poli Parceria: Ligue os Pontos (SMDU) Impressão: Polycopy Tiragem: 500 exemplares


SUMÁRIO INTRODUÇÃO E CONTEXTO..................6 INTRODUÇÃO..........................................................8 CONTEXTO................................................................8

INSPIRAÇÕES E PRINCÍPIOS................12 PERMACULTURA...................................................14 TECNOLOGIA SOCIAL..........................................14 EDUCAÇÃO AMBIENTAL.....................................14

PRÁTICAS METODOLÓGICAS...............16 ENCONTRO INICIAL.............................................18 PRÉ OBRA................................................................18 MUTIRÃO PEDAGÓGICO.....................................18 MONITORAMENTO...............................................18 FORMAÇÃO.............................................................19

SANEAMENTO ECOLÓGICO................20 COMO FUNCIONA...............................................22 PARA A CONSTRUÇÃO.......................................22

AGRADECIMENTOS.................................26 REFERÊNCIAS...........................................26


INTRODUÇÃO E CONTEXTO

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Braรงo da Represa Guarapiranga | Dezembro (2019) 7


CUIDANDO DAS ÁGUAS: SANEAMENTO ECOLÓGICO NA ZONA RURAL SUL DE SÃO PAULO

INTRODUÇÃO QUEM SOMOS A Sapiência Ambiental é um escritório cooperativo que realiza projetos de engenharia de forma engajada e sustentável, seguindo os princípios da permacultura. Somos uma organização voltada à realização de ações com alta relevância para a sociedade e impactos socioambientais positivos. Atualmente, temos 3 frentes de atuação: • Cursos Permaculturais, a partir dos quais nós compartilhamos conhecimentos em permacultura e tecnologias sociais, • Obras Sustentáveis, com a proposta de gerar impacto ambiental positivo em residências e espaços (culturais ou comerciais), • Cuidando das Águas, que tem como objetivo contribuir com o acesso ao saneamento básico na zona rural sul de São Paulo, colaborando com o desenvolvimento da agricultura orgânica e com o crescimento da região como polo de ecoturismo.

CUIDANDO DAS ÁGUAS O projeto foi escolhido por votação popular e recebeu apoio do Movimento Bem Maior e do Instituto Phi para a construção de 10 sistemas de saneamento ecológico unifamiliares, em sítios de agricultores da zona rural sul de São Paulo. A iniciativa tem parceria com o projeto Ligue os Pontos (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano) e com agricultores orgânicos da região. Muitos deles são membros da Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo - Cooperapas. 8

Sítio Nossa Fazenda | Outubro (2019)

CONTEXTO O EXTREMO SUL DE SP O extremo sul do município de São Paulo é uma região com características únicas. Trechos urbanos, ocupações irregulares e obras de grande porte como o Rodoanel convivem com florestas e águas, em uma área de mananciais que abriga fragmentos de Mata Atlântica em regeneração. A região é legalmente protegida por 2 Áreas de Proteção Ambiental (APAs): a APA Bororé-Colônia e a APA Capivari-Monos. Juntas, elas ocupam aproximadamente 20% do território do município! Ali nascem os rios que abastecem os reservatórios Billings e Guarapiranga, responsáveis por levar água potável para 30% da cidade (Instituto Refloresta, 2013).


SAPIÊNCIA AMBIENTAL

Apesar da pressão urbana existente, a região tem atraído diversas pessoas que desejam fugir da cidade. Com frequência, vemos grupos de pedaladas, de caminhadas, ou trilheiros que visitam o local em busca de suas florestas e cachoeiras. Há também chácaras e pousadas para onde pessoas da região central de São Paulo e dos municípios vizinhos viajam aos finais de semana para descansar. Outra atividade que tem sido bastante procurada é o ecoturismo em locais de produção de alimentos orgânicos. Além dos visitantes interessados no café da manhã aos finais de semana, os sítios recebem escolas, universidades, estudantes de gastronomia, entre outros. Alguns desses agricultores são: Emerson (sítio Plenitude), Juarez (sítio Maravilha de Deus) e Valéria (sítio Nossa Fazenda).

“Quem segue do centro de São Paulo em direção ao extremo sul da cidade observa uma transformação gradual, mas notável, na paisagem. À medida que se avança, a metrópole dá lugar a áreas verdes cada vez mais amplas. Ao cruzar o centro de Parelheiros, onde a cidade pela última vez se adensa, e continuar rumando ao sul, se percebe que a via toma o aspecto de uma estrada rural. Descobre-se então que uma das maiores megalópoles do mundo produz, em sua borda sul, hortaliças, frutas e flores; possui pastos de vacas leiteiras, açudes onde se criam peixes, monoculturas de pinheiros e eucaliptos.” Instituto Refloresta, 2013

Sítio Bebedouro | Dezembro (2019)

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CUIDANDO DAS ÁGUAS: SANEAMENTO ECOLÓGICO NA ZONA RURAL SUL DE SÃO PAULO

PRODUÇÃO AGRÍCOLA

SANEAMENTO BÁSICO

A zona rural sul tem uma grande importância na produção de alimentos. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (2020), há 428 Unidades de Produção Agropecuária (UPAs) cadastradas pelo projeto Ligue os Pontos na região. A agricultura praticada é predominantemente familiar (65%), com mão de obra não remunerada. A maior parte das unidades é classificada como pequena propriedade (80%) e não há indícios de monocultura. A maioria das UPAs realiza o plantio de espécies anuais (como folhosas e leguminosas) para uso próprio e comercialização. Contudo, ainda há uma parcela significativa (38%) que não comercializa a produção, produzindo alimentos apenas para o autoconsumo.

Embora o saneamento básico seja um direito essencial humano, ainda há muitas pessoas que não têm acesso a condições adequadas para o manejo do esgoto. Na zona rural sul, apenas 10% das UPAs têm esgoto canalizado. Por outro lado, 36% delas possuem fossa rudimentar, 6% lançam esgoto a céu aberto e 4% em rios e represas (SMDU, 2020). A falta de saneamento representa um grande risco para as áreas naturais e, também, para as pessoas. O esgoto não tratado polui os rios ainda limpos da região, contribuindo com a disseminação de doenças que sobrecarregam o sistema de saúde (Instituto Trata Brasil, 2011). Saneamento não é privilégio de poucos, é direito de todos!

Sítio Campo Verde | Janeiro (2020)

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SAPIÊNCIA AMBIENTAL

Reservatórios: Billings e Guarapiranga Unidades de Produção Agropecuária: Grajaú 169 Parelheiros 171 Marsilac 88

Reservatório Guarapiranga

Das Unidades de Produção Agropecuária (UPAs) cadastradas:

65% praticam agricultura familiar

10%

têm conexão com a rede de esgoto

como 80% classificadas peq. propriedade

6%

lançam esgoto a céu aberto

apenas 38% produzem para autoconsumo

esgoto em 4% lançam rios e represas

Produção Agrícola e Saneamento na Zona Sul

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INSPIRAÇÕES E PRINCÍPIOS

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SĂ­tio Bebedouro | Dezembro (2019) 13


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PERMACULTURA Nosso primeiro pilar é a permacultura, uma forma de agir e pensar que surgiu na Austrália, nos anos 70. Ela é uma poderosa ferramenta para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e sustentável, estabelecida em harmonia com a natureza e com todas as formas de vida. A permacultura é construída em torno de 3 princípios éticos: cuidar da Terra, cuidar das pessoas e partilhar os excedentes, estabelecendo limites para o consumo. Além disso, há 12 princípios de desenho que orientam o desenvolvimento de iniciativas, conforme a figura a seguir.

TECNOLOGIA SOCIAL Há, na forma de pensar e ver o mundo em nossa sociedade, uma tendência a crer que as tecnologias mais modernas são sempre melhores e mais eficientes. Com isso se esquece de que, para solucionar um mesmo problema, há diversas soluções possíveis! Essas dependem tanto de elementos técnicos, quanto de valores e características socioculturais do seu contexto de aplicação. Sob essa perspectiva, não há uma tecnologia melhor e outra pior, mas sim soluções mais apropriadas do que outras em um dado contexto. Acreditamos que a forma com que pensamos e construímos a tecnologia está intimamente ligada aos valores difundidos e sustentados na sociedade. Dessa maneira, criar uma sociedade mais democrática, justa e sustentável, depende da incorporação desses valores na tecnologia (Feenberg, 2012). Por isso, nosso segundo pilar é a tecnologia social, um movimento que 14

tem como objetivo criar bases técnicas e sociais para a construção de um outro tipo de sociedade. Com a tecnologia social, não há relações de exploração dos seres humanos e da natureza, pois ela está baseada em valores como solidariedade e cooperação (Cruz, 2017; Dagnino et al., 2004). As tecnologias sociais são desenvolvidas por meio de processos pedagógicos e da mediação entre o conhecimento popular e o técnicocientífico. A partir dessa participação, é possível construir novos saberes! “Tecnologia social é um conjunto de técnicas, metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para a inclusão social e melhoria das condições de vida.” ITS BRASIL, 2004

EDUCAÇÃO AMBIENTAL Nosso terceiro pilar é a educação ambiental. Acreditamos que esse processo pedagógico é essencial para se garantir a sustentabilidade e o sucesso de ações de saneamento ecológico no longo prazo. Buscamos trabalhar com educação ambiental durante todas as etapas do projeto: no desenvolvimento da solução ideal para cada tipo de terreno, na construção, no monitoramento da qualidade do efluente final e em seu uso como biofertilizante. É fundamental que o sistema faça sentido para os agricultores com quem trabalhamos e que todos (projetistas, voluntários e agricultores) aprendamos juntos nesse processo!


SAPIÊNCIA AMBIENTAL

Princípios da Permacultura

Princípios da Permacultura

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PRÁTICAS METODOLÓGICAS

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SĂ­tio Nossa Fazenda | Fevereiro (2020) 17


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ENCONTRO INICIAL

MUTIRÃO PEDAGÓGICO

A primeira etapa do processo de construção de um sistema de saneamento ecológico unifamiliar consiste em conhecer os agricultores interessados, durante uma visita técnica e pedagógica. Esse encontro inicial é reservado para ouvirmos suas histórias e modos de vida e, também, para apresentarmos o projeto Cuidando das Águas. É nesse momento que avaliamos as condições do terreno e buscamos, em conjunto com os agricultores, a melhor solução tecnológica. O sistema deve ficar mais perto da casa? Mais perto da plantação? Podemos fazer também tratamento das águas cinzas? Quais banheiros serão conectados ao sistema? É possível complementar uma solução já existente? Esses são apenas alguns exemplos de questões que colocamos e levamos em consideração ao planejar a construção em conjunto.

Concluída a pré-obra, partimos para o último dia de construção. Essa etapa é compartilhada com a comunidade local, parceiros e voluntários da Sapiência Ambiental. Chamamos esse evento de Mutirão Pedagógico, pois além de construirmos juntos, também temos como objetivo explicar sobre o funcionamento do sistema e mostrar cada um de seus componentes de forma detalhada. Para concluir o sistema, dividimos os participantes em grupos e finalizamos as tarefas pendentes. São elas: lavagem das pedras que irão para o sistema, preenchimento do biofiltro, identificação e manejo de plantas fitorremediadoras disponíveis na propriedade e arredores. Em geral, contamos com cerca de 15 participantes. Para que seja um dia agradável, organizamos um almoço junto aos agricultores e o transformamos em um momento de partilha coletiva, com o conhecimento das espécies produzidas na propriedade. Consideramos o mutirão fundamental para disseminar a importância da universalização do saneamento, unindo pessoas diversas e mostrando que as soluções descentralizadas são viáveis (e belas)!

PRÉ-OBRA Acertados os detalhes técnicos e humanos, partimos para a obra! Nessa etapa, os agricultores mobilizamse, às vezes com ajuda de amigos ou vizinhos, para preparar o terreno para a implantação da tecnologia. Suas atividades principais são: cavar os buracos para receber os componentes do sistema e abrir valas para a passagem da tubulação. Por fim, nós levamos os materiais, ajustamos os níveis, realizamos a readaptação das estruturas hidráulicas e instalamos os componentes do sistema nos locais adequados. Essa etapa dura, em geral, de 1 a 2 dias e é feita por nossa equipe interna. 18

MONITORAMENTO Cerca de três meses depois da construção do sistema, visitamos os agricultores para uma atividade de acompanhamento e, se necessário, de manutenção. Nesse encontro, dialogamos sobre a experiência dos agricultores com o sistema e realizamos coletas do efluente final para análises de qualidade em laboratório.


SAPIÊNCIA AMBIENTAL

Sítio Bebedouro | Dezembro (2019)

Dos sistemas que foram construídos, verificamos uma eficiência de cerca de 99,9% de remoção de Escherichia Coli (bactéria encontrada nas fezes humanas e que representa um risco de disseminação de doenças) e de 80% de remoção de Demanda Química de Oxigênio (um indicador de poluentes orgânicos e químicos). Esses indicadores asseguram a qualidade do efluente para uso como biofertilizante na irrigação de frutíferas e pomares.

FORMAÇÃO Acreditamos que a educação ambiental e a participação social são fundamentais para a sustentabilidade e o sucesso do saneamento ecológico no longo prazo. Por isso, além de trabalhar

com os mutirões pedagógicos e com o envolvimento dos agricultores no processo de planejamento e execução dos sistemas, temos organizado as formações complementares. Essas iniciativas têm o intuito de aprofundar os conhecimentos técnicos dos agricultores e de sensibilizar e envolver mais moradores do território nas questões relativas ao saneamento, debatendo possíveis soluções ecológicas e descentralizadas. Nas formações, temos 4 momentos: • Café da manhã com apresentação dos participantes, • Conversa sobre o contexto do saneamento atual, • Explanação sobre tecnologias ecológicas e descentralizadas, e • Explanação do agricultor sobre o sistema construído na propriedade. 19


SANEAMENTO ECOLÓGICO

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Sítio Campo Verde | Janeiro (2020) 21


CUIDANDO DAS ÁGUAS: SANEAMENTO ECOLÓGICO NA ZONA RURAL SUL DE SÃO PAULO

COMO FUNCIONA O sistema que construímos no projeto Cuidando das Águas é dimensionado para tratar a água do vaso sanitário de uma família de 3 a 5 pessoas. Esporadicamente, pode-se receber uma maior carga. Nesse sistema, o tratamento do esgoto é realizado por meio de processos biogeoquímicos que ocorrem na natureza. Isso quer dizer que os microrganismos e as plantas são os principais responsáveis por transformar a água suja em água limpa! A tecnologia que utilizamos consiste em duas câmaras anaeróbias e um biofiltro com plantas. A compartimentação em duas câmaras permite um maior contato entre os microrganismos e o esgoto, o que contribui para a eficiência do sistema. É dentro delas que ocorre o processo de biodigestão anaeróbia, ou seja, a decomposição da matéria orgânica realizada por meio de bactérias que vivem na ausência de oxigênio. Ao sair da etapa de biodigestão, o efluente segue para o biofiltro com plantas. Esses biofiltros plantados são robustos e capazes de operar com manutenção e supervisão mínima, o que os tornam uma opção ideal para o tratamento descentralizado. Como dissemos, trata-se de uma tecnologia baseada em processos observados na natureza! Nas construções, optamos por utilizar plantas disponíveis nos arredores da propriedade. Em geral, aplicamos: taioba (Xanthosoma sagittifolium), taioba-roxa (Xanthosoma violaceum), taro/inhame (Colocasia esculenta), helicônia (Heliconia rostrata) e líriodo-brejo (Hedychium coronarium). Essas espécies são responsáveis por 22

realizar um polimento do tratamento, removendo patógenos ainda presentes, assim como outras formas de micropoluentes que podem existir no esgoto, como resíduos de fármacos e hormônios. Por fim, o efluente final, rico em nutrientes, pode ser utilizado com segurança para irrigar frutíferas e pomares na propriedade dos agricultores. O esgoto vira um recurso: o biofertilizante!

PARA A CONSTRUÇÃO MATERIAIS NECESSÁRIOS A seguir indicamos a lista de materiais necessários para a construção do sistema. Nas próximas páginas, você irá encontrar uma ilustração com os materiais correspondentes para identificação. • 2 caixas d’água de polietileno de tampa com rosca - 1.000 L • 1 caixa d’água de fibra de vidro 1.500 L • 2 caps - 25 mm • 2 flanges com anel - 25 mm • 2 m de tubo marrom - 25 mm • 3 caps - 100 mm • 6 m de tubo branco - 100 mm • 4 tês - 100 mm • 6 joelhos - 100 mm • 200 tijolos cerâmicos • 1 m3 de brita - no 2 • 6 m2 de tela sombrite - 50% • Terra - local • Plantas fitorremediadoras - local

DICAS DE CONSTRUÇÃO Alguns cuidados são importantes no momento da construção: • Separação das águas: realizar a separação entre as águas do vaso sanitário e as águas cinzas, oriundas


SAPIÊNCIA AMBIENTAL

de pias e chuveiros. Queda da tubulação: na conexão dos banheiros com o sistema, garantir ao menos 2% de queda da tubulação que vem do vaso sanitário. Proteção da tubulação: cobrir o cano com uma camada mínima de 5 cm de terra (para locais onde não há tráfego de veículos). Proteção das caixas d’água: retirar pedras e raízes do fundo dos buracos e adicionar camada de 3 cm de areia antes da implantação. Nivelamento: como o sistema funciona por gravidade, é muito importante checar os níveis das entradas e saídas dos tanques. A saída do primeiro tanque deve estar 5 cm mais alta do que a entrada do segundo tanque, e a saída do segundo tanque deve estar 15 cm mais alta do que a entrada do terceiro tanque. A saída do terceiro tanque deve estar, pelo menos, 10 cm mais baixa do que sua entrada. Redobre a atenção ao trabalhar em regiões de solo encharcado! Lavagem da brita: lavar as pedras do biofiltro, pois o pó existente na superfície da brita pode causar a colmatação (entupimento) do sistema em poucos meses de uso. Preenchimento do biofiltro: a chegada da tubulação no biofiltro deve ser feita com um arranjo de tijolos ou pedras grandes, garantindo um bom fluxo de entrada. Depois, deve-se colocar um entulho grosseiro, como tijolos ou telhas quebradas. Por cima, adicionar uma camada de brita lavada, a tela sombrite e, por fim, uma camada de aproximadamente 10 a 15 cm de terra para plantar as espécies escolhidas. Preenchimento das câmaras: ao

final da construção, encher 50% do volume das caixas com água, para evitar flutuação com a chuva. • Vedação: as conexões de entradas e saídas dos tanques devem ser vedadas com uso de cola PU. Depois de 48 horas (tempo que a cola demora para secar), fazer teste de estanqueidade.

BOAS PRÁTICAS Para manter a eficiência do sistema em funcionamento, recomendamos: • Alimentação do sistema: nos 3 primeiros meses de uso, alimentar o tê da primeira câmara com 5 litros de esterco fresco (ou de microorganismos eficientes) misturados com 15 litros de água a cada 15 dias. Após esse período, realizar a alimentação 1 vez por mês. • Produto de limpeza dos banheiros: recomendamos o uso de uma solução natural em vez de cloro e outros produtos de ação bactericida normalmente utilizados. Estes podem causar um choque na microbiologia estabelecida no sistema, aumentando a produção de lodo e reduzindo sua eficiência. • Solução natural de limpeza: em um recipiente de água mineral de 5 litros, adicionar 3/10 porções de casca cítrica, 6/10 porções de água e 1/10 porção de açúcar. Misturar e armazenar, abrindo a tampa todos os dias para extrair o gás acumulado. Após o período de 3 meses, peneirar e utilizar na limpeza do vaso sanitário em substituição ao cloro. Você pode apoiar o projeto Cuidando das Águas em: apoia.se/sapienciaambiental

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Sistema de Saneamento Ecológico Caixa d’água de polietileno - 1.000 L Cap - 25 mm Flange com anel - 25 mm Tubo marrom - 25 mm Cap - 100 mm Tubo branco - 100 mm Tê - 100 mm

Câmara anaeróbia Câmara anaeróbia

Tubos de 30 cm de comprimento, total de 12 furos com 20 mm

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SAPIÊNCIA AMBIENTAL

Joelho - 100 mm

Taioba-roxa

Caixa d’água de fibra de vidro - 1.500 L

Taioba

Terra

Lírio-do-brejo

Tijolo cerâmico

Helicônia

Brita - no 2

Inhame

Tela sombrite - 50%

15 cm 40 cm 25 cm Biofiltro com plantas

Sistema de Saneamento Ecológico

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AGRADECIMENTOS Agricultoras e agricultores: • Emerson e Selma - Sítio Plenitude • Valéria e Vânia - Sítio Nossa Fazenda • Juarez - Sítio Maravilha de Deus • Rose e Reinaldo - Sítio Bebedouro • Cleide e Simone - Sítio Campo Verde • Lia - Fazendinha Pedaço de Céu • João e Cida - Chácara Emanoel • Luzia - Sítio Adalgisa e Manoel • Ana e Vera - Sítio Curucutu • Eduardo - Sítio do Sr. Domingos

Nossos parceiros: • CAEA - Poli USP • Cooperapas • Conselho APA Bororé-Colônia • Conselho APA Capivari-Monos • Escola Politécnica da USP • Fundo Patrimonial Amigos da Poli • Instituto Phi • Ligue os Pontos (SMDU) • Movimento Bem Maior • NEA-UFABC

REFERÊNCIAS CRUZ, Cristiano Cordeiro. Desafios epistemológicos da engenharia popular. In: XIV Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento Social. 2017. DAGNINO, Renato, et al. Sobre o marco analítico-conceitual da tecnologia social. Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 2004, 65-81. INSTITUTO REFLORESTA. Entre a cidade e a floresta: a vida e os desafios de comunidades tradicionais do extremo sul da cidade de São Paulo. São Paulo: Instituto Refloresta, 2013. ITS BRASIL. Caderno de Debate – Tecnologia Social no Brasil. São Paulo: ITS. 2004: 26. INSTITUTO TRATA BRASIL. Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População. 2011. Disponível em: http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/uploads/drsai/Book-Trata-B.pdf FEENBERG, Andrew. Questioning technology. Routledge, 2012. SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO. Quem são os produtores agrícolas da zona sul de São Paulo. 2020. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/desenvolvimento_urbano/ arquivos/45_IU_PRODUTORES-AGRICOLAS_2020_final.pdf

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Elaboração:

Apoio:


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