Atende senhoras [mercados da solidão]

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TESTEMUNHO

O que vamos chamar-lhe? Gigolo não, defende,porque não define o que faz, antes aquilo a que se dedicam homens sem escrúpulos,que trocam dinheiro por sexo ou companhia. Já «prostituto» se aproxima mais da verdade,porque Filipe,35 anos,presta também serviços sexuais,embora não só. Prefere «assistente pessoal», categoria que poderia designar alguém que presta serviços de secretariado,por exemplo. Filipe aparenta ser o que não é. Um português regular,poderia ser um intelectual,veste-se sem dar nas vistas,corpo discreto,educado,sereno, usa as palavras certas, com uma voz doce que não dá pontapés na gramática. Sarah Adamopoulos ¬ Corbis/VMI

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TEXTO

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ILUSTRAÇÃO

Filipe,35 anos

senhoras


S

urpreendente. Esta entrevista nasce quando na internet esbarro num texto escrito por Filipe – oferecendo-se às mulheres de mais de 40 anos (e de um bom nível cultural, na sua maioria profissionais liberais, advogadas, psicólogas, directoras comerciais e também professoras de liceu, muitas de Letras) para lhes fazer companhia, massajar-lhes os corpos por vezes esquecidos, ser cúmplice nas suas fantasias, provocar-lhes o orgasmo. Que depois dos 40, dos filhos, dos maridos (tantas vezes tornados impotentes), as mu-

lheres reacendem-se, agora libertas dos constrangimentos da juventude, livres portanto para se entregarem, de culpa atenuada, aos prazeres da vida – tantas vezes os do corpo. Perfeito para Filipe, que gosta delas assim, porque as conhece bem, preferindo-as inclusive às mais novas, ainda um pouco tolas, e também com menos poder económico. Gosta delas, e é o que importa. Não faz fretes, é heterossexual e, à força de estar com mulheres maduras, sabe bem do que gostam, e como gostam. É a elas que dedica parte importante do seu tempo de homem desempregado e ex-

-empresário «de fracasso», mas um dia deixará de atendê-las, porque gostava de vir a ter uma vida normal – o amor de uma mulher, filhos, uma vida sem cortinas espessas e blindagens de toda a espécie, sem pequenas e grandes mentiras, sem multiplicidades. Encontramo-nos no Cais do Sodré, em Lisboa, entro num carro discreto conduzido por Filipe, que troca no último momento o jardim do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian por um parque de estacionamento público na zona de Belém. Aí falaremos durante cerca de duas horas, uma e 45 das quais gravadas. A jornalista não esquece que Filipe poderia ser um pantomineiro. Fica dito, que o mundo está cheio de possibilidades, e a vida é cada vez difícil de ganhar. Mas uma coisa é certa: a história de Filipe é a de muitos mais portugueses, a braços com uma sociedade em mutação, em que o trabalho digno se tornou um bem raro, e na qual florescem todo o tipo de actividades limpas de impostos. Há crise sim, mas não nos mercados da solidão.

Entrevista

EM DISCURSO DIRECTO

Sou de Lisboa, tenho 35 anos, estudei informática de gestão, faço isto na sequência de um conjunto de situações completamente inesperadas. Vivi com uma mulher dez anos mais velha do que eu e que tinha estado durante muito tempo sem um homem. Uma vez, em conversa, ela disse-me que chegou a pensar na hipótese de recorrer a um serviço como este que presto. Numa outra ocasião, ouvi falar numa empresa que prestava serviços de marido ao domicílio, ou seja, homens que iam a casa das senhoras mudar uma lâmpada, pôr um quadro na parede, levar as compras, e que depois se poderiam entender a um outro nível, mediante um certo tipo de acordo. Cheguei até a ouvir umas piadas sobre a possibilidade de eu estar interessado nessa actividade. E tudo isso foi deixando sementes no pensamento.

Opção

«Fiquei desempregado e resolvi ligar para esse anúncios. Pensei que aquilo era talvez uma forma de juntar o útil ao agradável.» 48 » noticiasmagazine 25.OUT.2009

Discrição e distinção Mais tarde, fiquei desempregado e tive de ir à procura de emprego. Eu já estive desempregado mais do que uma vez, e sei ler os anúncios de jornal. Sei também que há uma enorme quantidade de anúncios a pedir acompanhantes, principalmente femininas. Um dia resolvi ligar para ver como era, apesar de saber que eles querem sobretudo mulheres. Mas no anúncio essa discriminação não pode ser assumida, porque é ilegal, e por isso eu tinha o direito de ligar. Até que uma vez descobri uma agência de Lisboa


que estava interessada em contratar homens, e resolvi experimentar. Queriam rapazes para todos os pontos do país, e eu pensei que aquilo era talvez uma maneira de juntar o útil ao agradável. Quem me entrevistou simpatizou bastante comigo e disse-me que eu tinha uma característica muito interessante, que é a de passar despercebido. Disse-me que tinham muitos candidatos brasileiros, mas que do que precisavam era de pessoas com algum nível, com alguma educação, que soubessem falar línguas (por causa da clientela estrangeira), e, inesperadamente, fui admitido. Ainda argumentei que achava que não tinha experiência, mas disseram-me que isso também abonava a meu favor, porque não queriam pessoas com vícios. Dissimulação e simulação Dei-me depois conta de que atender senhoras era um serviço que aparecia pouco, e que o que havia mais era a troca de casais. Houve uma altura, de grande crise, em que houve uma proliferação deste tipo de negócio, abriram-se apartamentos por todo o lado. Quem estava nalguns casos à frente desses negócios eram pessoas cuja única coisa que tinham era algum dinheiro disponível, mas que depois tinham dificuldade em gerir a ilegalidade, e até o sucesso. Percebi também que quem fosse heterossexual não tinha grandes hipóteses, teria um ou dois serviços, no máximo, por mês. E acabei por desistir. Mais tarde entrei noutra agência e confirmei que o mercado estava bom apenas para o swing, naquela versão para voyeurista, em que um casal paga para ver outro a ter sexo. Qual era o meu papel? Eu simulava ser o marido ou o namorado de uma outra colaboradora da agência. Mas eu não gostava muito desse serviço, porque havia ali uma exposição minha muito grande. Nunca se sabe quem vai aparecer, podia ser alguém que eu conhecesse pessoalmente. E desisti uma vez mais. Abordagens Uns tempos depois, em conversa com um amigo meu, apercebi-me de que a internet era onde eu tinha de estar. Ele tinha-se divorciado e tinha arranjado uma nova pessoa muito rapidamente. Contou-me que tinha criado um perfil num site de encontros e explicou-me que, desde que uma pessoa não dissesse directamente que estava à procura de sexo, a coisa até tinha algum sucesso. Ele estava aliás a juntar-se nessa altura com uma dessas pessoas que tinha conhecido na net. E eu pensei que aquilo era uma hipótese de eu conseguir superar a minha dificuldade em seleccionar as pessoas. Eu já tinha percebido qual era o modus operandi da coisa, pela experiência das agências. Tinha aprendido as regras para ir a casa de uma pessoa ou a um hotel. Porque as pessoas ficam um pouco renitentes quando nós vamos pela primeira vez a 50 » noticiasmagazine 25.OUT.2009

casa delas, embora acabemos por estar no mesmo barco: nós também não sabemos quem vamos encontrar. Especificidades do negócio I Fiz muitas vezes serviços de motorista, levava pessoas a casa de outras, ou a hotéis, no meu carro, esperava por elas, trazia-as de volta. Esses serviços são muitas vezes feitos pelos táxis, mas fica extremamente caro, porque o táxi tem um preço fixo, o taxista não fica à espera de ninguém, ou se o fizer é com o taxímetro ligado. Outra coisa que acontece por vezes é ser uma brincadeira – claro que há formas de minorar isso, pedindo um número de telefone fixo ou confirmando com a portaria de um hotel. Outra questão é a dos serviços ao fim-de-semana, porque há pouco quem queira trabalhar aos fins-de-semana, a não ser quem está por conta própria, e não se importa de ir jantar fora, ir ao cinema, passar a noite. Daí que os preços dos fins-de-semana sejam muitíssimo elevados nas agências, porque é preciso pagar a disponibilidade de várias pessoas. Especificidades do negócio II Faço isto há três anos, embora tenha começado nas agências dois anos antes disso. A minha ideia é não ter demasiada clientela. É o chamado «pouco mas bom». Pessoas que sejam regulares, e que também não queiram exposição. Sim, conheço outros homens que fazem isto. Mas com esta mesma configuração conheço apenas um tipo que está em Espanha, ao que sei a ter bastante sucesso, e tem inclusivamente já rapazes a trabalhar para ele, isto sempre no campo heterossexual. Eu, por regra, não saio com mais do que uma pessoa por dia, se possível espaçando ainda mais, com um intervalo de um dia. Não tomo bebidas alcoólicas. Gosto de beber um copo de vi-

nho ao jantar, mas tudo com moderação. Se tiver um serviço num sábado, se for sair à noite na sexta não tomo whiskies,como é evidente. Sim, mantenho uma boa higiene de vida. Os preços? As massagens custam 75 euros, acrescidas do preço da minha deslocação. O serviço inteiro custa trezentos euros/dia. Pode incluir um jantar. As despesas não estão incluídas, o hotel, o carro alugado, é pago pela cliente. Há quem tenha carro próprio, combinamos perto de uma estação de metro e vamos jantar a qualquer lado, ou então vamos directamente para um hotel, ou então para casa da pessoa. Especificidades do negócio III Os serviços mais sensíveis são aqueles com casadas em processo de divórcio, que não podem deixar qualquer tipo de pistas, e por isso elas nunca me telefonam de um aparelho que possa produzir um registo, no próprio telefone ou numa factura. Quanto a mim, ligo sempre de um número anónimo, para quem quer que seja, porque é a única forma de não deixar rasto. Algumas ligam-me do emprego ou de uma cabina. Há depois quem tenha telefones às escondidas do marido, só para estas situações. Em geral combinamos num parque de estacionamento público. Eu vou buscar um carro de aluguer, tenho a sorte de ter uma relação de confiança com uma empresa alugadora, não tendo por isso de deixar depósito ou sequer apresentar um cartão de crédito. Sim, é um negócio em que não há papéis nenhuns. Isto não é uma profissão mencionada nas Finanças. Não é ilegal – mas se eu estivesse numa agência já era, porque se chamaria proxenetismo. Um homem que pense em meter-se nisto pense bem, porque não se consegue uma carteira de clientes de um dia para o outro. É demorado, sim, é merecido. É um0 trabalho

Serviços

«Os mais sensíveis são aqueles com casadas em processo de divórcio que não podem deixar pistas.Mas neste negócio não há papéis nenhuns.»


enorme ao nível da confiança, e isso leva tempo. Não é fácil angariar uma cliente nova – e torná-la regular. Eu tenho uma cliente, por exemplo, que trabalha o dia todo e que chega à meia-noite a casa e não tem ninguém para lhe dar uma massagem. Véus espessos Divido actualmente um apartamento com um amigo que não faz a menor ideia do que eu ando a fazer. Nem os meus outros amigos. Como é que se consegue? Não é muito fácil. Se se mente? Mente-se totalmente, embora pense que, se esse meu amigo soubesse, não acreditava. É alguém que passa pouco tempo em casa, trabalha muito fora. A gestão desta dupla vida? Sim, é-o, em certa medida, mas para mim menos dupla do que a de homens casados e com filhos que também fazem isto. Eu, se tivesse alguém, não o faria, não era capaz de manter esta situação. Não estou interessado em envolver-me com ninguém. Mas já me aconteceu estar com pessoas que gostaria de ter conhecido noutras circunstâncias. Mas sou muito pragmático e corto contacto. As minhas blindagens interiores? É difícil, até porque me cruzo com pessoas muito interessantes, realmente. Preservar o meu coração? É evidente que tenho de o manter fechado. Já me fizeram sugestões, mas eu lembro-as

sempre por que razão estou ali. A minha maneira de ser ajuda muito, julgo. Uma vez pediram-me para fazer um strip para uma despedida de solteira, mas eu recusei, até porque não tenho perfil para isso, não sou musculado, mas sobretudo não me quero expor a uma série de pessoas num apartamento. Outra coisa que faço é evitar repetir-me em locais com pessoas diferentes. Desligar o telefone um dia Sim, é uma actividade que me é agradável, não lhe vou dizer que não tenho prazer, até porque se eu não o tiver, a pessoa também não tem. Mas, sim, considero que tenho uma vida dura. Há um momento que é sempre muito custoso para ambas as partes: o do pagamento. Esse momento é sempre extremamente difícil para mim, digo-lhe. Porquê? Porque esse momento lembra-me que uma pessoa está ali ao fim e ao cabo para se vender. Pois claro que preferia não fazer isto. Gostava de criar uma empresa, tenho de investir noutra coisa, como é evidente. Gostava de ter a minha vida. Aos 36, 37 o mais tardar, paro. Sim, gostava de ter uma família, como toda a gente, embora ache cada vez mais difícil ter filhos neste mundo. Mas, sim, quero arranjar um emprego, estabilizar a minha situação, e por isso um dia vou desligar o telefone.

Imigrantes mudaram mercado Há uma grande diferença entre as pessoas que aparecem através da net e as que aparecem pelos jornais. Os anúncios de jornal são um bocado plebeus, é brasileirada, são serviços com pouca qualidade, é para despachar a clientela e, permita-me a expressão, sacar-lhes o dinheiro. Serve só mesmo para perder dinheiro. Esses tipos vão ter ao apartamento com a pessoa, estão com ela um bocadinho, e o serviço acaba quando a pessoa atinge o clímax. E claro que tudo fazem para que isso aconteça o mais rapidamente possível. O que dá serviços ridículos, de dez ou 15 minutos, apesar da publicidade (enganosa) dos anúncios. Há agências que trabalham correctamente, mas com cachetsmuito mais elevados. E há quem ganhe mesmo dinheiro a sério, sobretudo aquelas agências que se dedicam ao mercado dos estrangeiros, turismo sexual, claro, e a essas acredito que a vida corre bem. E depois há sempre os brasileiros, que aparecem a dizer que fazem tudo e mais alguma coisa [risos]! Por que razão estão assim malvistos? Ora, foram eles que estragaram o negócio da prostituição em Portugal, porque rebentaram com o mercado – há demasiada oferta, e a preços que baixaram a fasquia. Os serviços que essas agências de brasileiros prestam não têm a menor qualidade, os apar-

tamentos têm baratas, os lençóis não são mudados. É a segunda vez que falo com jornalistas. Por que razão o faço? Porque acho que é preciso acabar com aquilo que se anda a escrever sobre os acompanhantes masculinos. Uma vez houve um tipo que foi à televisão dizer que, sem qualquer desprestígio para as pessoas, tinha estado com a Manuela Moura Guedes, com a Teresa Guilherme e com mais não sei quem! E eu pensei: «Mas alguma vez a Manuela Moura Guedes ia querer estar com um fulano assim, que mal sabe falar português?» Era um ucraniano.

Gozar a vida que é curta O anúncio é mesmo meu, não há nenhuma agência por detrás: «Olá. Tenho 34 anos, sou acompanhante, 1,75 m, com muito boa aparência, superdiscreto, sigiloso e ultra-higiénico. Sou totalmente desinibido e se quiseres obter mais alguma informação (disponibilidade, condições, fotos, etc.) por favor contacta-me. Faço variadíssimos serviços, sempre com o maior sigilo e higiene. Gostaria de esclarecer que envio mensagens para pessoas de nível superior e também que não estou de alguma forma a dizer que precisas de um

acompanhante. Nem só as senhoras menos elegantes podem recorrer a um. Por vezes, as senhoras mais bonitas também o fazem, por variadíssimas razões, e uma delas é para não terem obrigações com ninguém. Os serviços que presto não são única e exclusivamente sexo. Sou uma pessoa meiga, delicada, e principalmente humana. O meu assunto é absolutamente sério, e deverás ser capaz de manter a total confidencialidade. Já viste bem a vantagem de ter um rapaz à tua total disposição, poderes fazer o que quiseres e bem entenderes, ele fazer tudo (e somente) aquilo que tu quiseres, sem te questionar, sabendo ficar de boca calada, e mantendo total sigilo. Pensa bem... numa tarde bem passada... um cafezinho em amena cavaqueira, um jantar à luz das velas, uma saída, uma noite de hotel, um strip privado só para ti, uma massagem relaxante, uns mimos, aquela carícia que tanto desejas, a fantasia que nunca contaste a ninguém e tanto ambicionas, um fim-de-semana... uma noite à tua maneira... É tão simples... é só pedires e tudo é feito totalmente para te agradar. A vida são dois dias... goza-a bem. Podes conhecer-me sem nenhum compromisso. Sou bastante bem educado e divertido. Gozo de boa saúde e para o caso de quereres contactos íntimos, eles serão sempre com o máximo de higiene e segurança. Vem passar PUBLICIDADE


mens à procura de sexo por detrás de outros enunciados. Há imensos homens casados de 50 e tal anos que querem ter aventuras, mas esses não interessam às mulheres de mais de 40 anos, porque para aventuras elas preferem os mais novos, é evidente. Elas querem os mais velhos para maridos, até porque há uma grande diferença de mentalidade entre elas e os homens mais novos. Elas contam-me histórias de mais novos que se envolvem com elas, e que depois começam a melgar, porque não são capazes de destrinçar as coisas. Ou então são brasileiros, que depois estão sempre a pedir presentes, dinheiro, bons relógios.

Difícil

«Tenho uma vida muito dura.Claro que tenho prazer, mas há sempre um momento custoso:o do pagamento.»

uns bons momentos comigo, vá liga-me... ou pelo meu e-mail [filipe.borges@yahoo.com] ou messenger. Vais ver que ainda fazemos uma boa amizade. Um beijo muito doce para ti.» Consumidoras de ilusões Seleccionei uma série de perfis, a quem mandei esse texto, que vou remodelando, porque isto é como nas grandes empresas, em que se muda o logótipo de seis em seis anos [risos]. Entretanto aprendi a fazer massagens. Sim, falamos sempre de mulheres. Não sou minimamente homossexual, aliás se fosse tinha a vida facilitada. Tenho clientes regulares, em Lisboa, na Margem Sul, na zona de Sintra e ali antes de Santarém. São mulheres acima 54 » noticiasmagazine 25.OUT.2009

dos 40, por várias razões: porque sempre me senti mais à vontade nessa faixa etária, porque é a que mais procura... e sim, também tem que ver com a maturidade das pessoas, porque as mulheres consomem muitas ilusões, sobretudo as mais novas. O que procuram elas e eles O que as mulheres querem está mesmo à vista dos homens, mas não é o que eles querem habitualmente nestes encontros, que é sexo puro e duro. As mulheres querem companhia, colinho, carinho, ternura, quem as ouça. Muitas estão à procura do grande amor. A internet está cheia de mentiras. Eu acabo por ser muito honesto, se comparado com os ho-

Encher-se de paciência para elas Algumas dessas mulheres são casadas. Várias bastante sofisticadas, pessoas muito interessantes. Algumas trabalham. São pessoas que não procuram nenhum tipo de compromisso. Por vezes é-lhes difícil dar o primeiro passo, mas, ao contrário dos homens, que quando procuram estes serviços, e permita-me a expressão, gostam de «picar» em vários sítios, a mulher, se experimenta e gosta, fica por ali. Algumas disseram-me que não tinham gostado das experiências que tiveram a partir de anúncios de jornal e essas por vezes não as consigo ter como clientes, porque ficaram receosas de passar pela mesma experiência. Não é uma questão de serem mais criteriosas, é mais tenderem a generalizar, a pensar que deve tudo ser a mesma coisa. Mas elas precisam de alguma atenção. Por vezes são pessoas que estiveram algum tempo sem ter ninguém e têm alguma dificuldade em atingir o orgasmo. E por isso a pessoa tem de ser muito paciente. Há uma cumplicidade grande que se cria entre mim e essas mulheres. Acabo por ouvir confidências, pessoas casadas que me contam as vezes em que enganaram os maridos – se eu fosse um amante comum não mo contariam, claro. Prazer sem culpa Um serviço regular? Bom, começo por não fazer grande restrição ao tempo. Antes disso queria precisar que tenho clientes com quem nunca tive qualquer tipo de contacto sexual. Faço dois tipos de massagem: a tradicional, que serve unicamente para relaxar, feita no corpo todo ou em determinadas partes. Há pessoas que gostam muito de massagens nos pés, outras só nas costas, ou nos glúteos, ou nos ombros... Há depois o chamado «prazer sem culpa»[risos], chama-se mesmo assim, é um conceito que é aplicado em alguns centros de massagens, em que os homens são massajados normalmente, sem relação sexual quero dizer, mas a massagem acaba por lhes provocar uma erecção, e por isso fazem-lhes uma descompressão, que pode ser manual ou oral. O que fiz foi aplicar esse conceito às mulheres: dou-lhes uma massagem relaxante que termina com sexo oral. E há muita procura. Acima dos 45 anos, há muitas mu-

lheres, sobretudo as casadas, que não têm esse tipo de sexo – apesar de ser um dos preferidos das mulheres. Há quem prefira com vibrador e também quem prefira manual. Há muitas pessoas que não querem penetração, apenas descontrair, descomprimir. Maridos impotentes Ninguém quer admitir que está inscrito nos sitesde encontros. Dizem sempre que foi uma amiga que as inscreveu. Não é fácil para o orgulho, elas acabam por sentir vergonha de andar na net à procura de um homem. As casadas estão lá porque os maridos não lhes prestam atenção suficiente, e muitas mais por causa de problemas de disfunção dos maridos. Estamos num mercado muito competitivo, e as pessoas têm de dispor muito do seu tempo a trabalhar – isto é válido para os maridos, que têm vidas muito vocacionadas para o trabalho, como para elas próprias, que muitas vezes também trabalham imenso e não têm tempo para conhecer pessoas. Quando comecei nestas lides pensei que ia encontrar apenas pessoas muito feias, ou muito gordas, mas não é tanto assim, até porque essas pessoas são em geral muito tímidas e acabam por nem sequer dar o primeiro passo. Os homens têm cada vez mais problemas de disfunção sexual, alguns muito cedo. Curiosamente, as mulheres não valorizam os pénis grandes, e muitas vezes as consequências da disfunção dos maridos estão mais nas cabeças deles do que nas delas. Quando há impotência os dois sofrem. Mas há muitas maneiras de dar prazer a uma mulher, há até aquele ditado que diz (e desculpe-me a liberdade de linguagem) que «enquanto houver língua e dedo não há mulher que meta medo». Conheço uma senhora que tem um marido na faixa dos 60 que não a consegue satisfazer, e por isso ela recorre a serviços por fora, mas sempre dizendo que não pensa em nenhuma outra pessoa, porque gosta mesmo do marido, e tem pena de não poder ter prazer com ele. Mas é preciso ver que também há mulheres que têm prazer em enganar o marido. Mulheres maduras A mulher nos 50 anos é muito activa sexualmente, e é o momento em que está desinibida para muita coisa. As mais novas são mais pudicas e receosas. Uma mulher mais velha entrega-se, põe intensidade, algumas gostam de termos ordinários durante o acto. Uma vez estava com uma e disse-lhe que ia fazer-lhe umas festinhas, dar-lhe uns miminhos, e ela respondeu-me que não me tinha pago para eu lhe fazer festinhas... Acho-as com um espírito muito mais aberto, e intriga-me que os homens delas tenham tantos tabus e inibições com elas. Porque elas acabam por ter vidas sexuais bastante desinteressantes com os maridos, com quem têm relacionamentos já saturados. Um dia fui com uma senhora para um daqueles motéis em que se estaciona na 55 » noticiasmagazine 25.OUT.2009

garagem que dá acesso ao quarto (que enchem no Dia dos Namorados) e a fantasia dela era só ir a esse motel, porque o marido era demasiado bota-de-elástico para a levar. Realizar fantasias Tenho sempre um saco com adereços, preservativos, lingerie sexy, boxersjustinhos, algemas, lubrificantes, vibradores, essas coisas, conforme o gosto delas. Há quem prefira que eu use tanga, outras boxers,outras que eu não leve nada por baixo – isso é sempre muito pessoal. As mulheres têm muitas vezes o desejo de simular aquela fantasia de estar com dois homens ao mesmo tempo, mas não têm coragem para tal. Elas têm vergonha de ir comprar vibradores às sex shops,mandam vir pela net, às escondidas dos maridos. Mas hoje em dia quase toda a gente tem um vibrador. Há situações que não são fáceis de assumir perante os maridos. Ponho sempre a culpa nos homens, porque quase todos têm aquela fantasia de estar com duas mulheres ao mes-

Sexo seguro Se um homem não se vem, elas ficam insatisfeitas, a coisa não fica cumprida, elas não se sentem realizadas. Sempre com camisinha, claro – sem excepção. Sim, pedem-me muitas vezes para não pôr. Faço exames médicos regulares e um dia vi um poster, no hospital, que achei muito pertinente, e dizia algo como: «O Nuno, que dormiu com a Inês, que dormiu com o Vasco, que dormiu com não-sei-quem, que dormiu contigo.» As letras tinham tamanhos diferentes e visto de longe lia-se: «O Nuno que dormiu contigo.» No meu caso, acrescem as doenças sexualmente transmissíveis. Isto apesar de as minhas clientes serem pessoas que dão alguma segurança, porque ou têm um só parceiro ou nenhum mesmo. Predadores sexuais O chamado predador sexual não é meu concorrente, é meu ajudante [risos], porque acabo por ter algum sucesso devido às men-

Missão

«Alguma vez esteve com alguém unicamente preocupado com o seu prazer? Um homem que lhe faz uma massagem,o jantar, que a ouve?»

mo tempo, e alguns até têm abertura para falar com as companheiras sobre isso. Mas se elas lhes pedem para estar com dois homens, eles e mais outro, a coisa muda de figura – porque quando eles estão quentes, a coisa até parece possível, mas depois não gostam de ver a mulher com outro homem, porque se sentem humilhados ou têm medo de perdê-las para o outro. Há depois alguns homens que gostam mesmo de ver as suas mulheres com outro, e elas, apesar de não quererem, fazem-no por amor, para os satisfazer. Outra coisa de que nunca me tinha apercebido tem que ver com a masturbação. Os homens gostam de ver as mulheres a masturbarem-se, mas nem sempre querem masturbar-se à frente delas.

tiras que eles usam para conquistar. As mulheres preferem a honestidade, dizem-me que apreciam muito a minha frontalidade – e eu não estou ali para enganar ninguém. Já houve quem me dissesse que não queria os meus serviços, porque há homens de borla que cheguem. E há, mas não fazem tudo o que eu faço! Alguma vez esteve com alguém unicamente preocupado com o seu prazer? Um homem que lhe abre a porta, lhe transporta a mala, lhe faz uma massagem nos pés, lhe serve o jantar à mesa, que não atinge o clímax em poucos minutos nem adormece imediatamente a seguir? Que a ouve, em determinadas fantasias e confidências?«


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