Memorial dos Imigrantes Sírios e Libaneses de Anápolis

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TC 95 cadernos de

Memorial dos Imigrantes Sírios e Libaneses de Anápolis


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Cadernos de TC 2021-2 Expediente

Direção do Curso de Arquitetura e Urbanismo Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Corpo Editorial Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Simone Buiati, M. arq. Orientadores de TCC Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Daniel da Silva Andrade, Dr. arq. Pedro Henrique Máximo, Dr. arq. Detalhamento de Maquete Rodrigo Santana Alves, M. arq. Seminário de Tecnologia Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Seminário de Teoria e Crítica Ana Amelia de Paula Moura, M. arq. Anderson Ferreira da Silva, Dr. arq. Expressão Gráfica Anderson Ferreira da Silva, Dr. arq. Simone Buiate Brandão, M. arq. Secretária do Curso Simone da Silva Costa Alves (62)3310-6001


Apresentação Este volume faz parte da coleção da revista Cadernos de TC. Uma experiência recente que traz, neste semestre 2021/2, uma versão mais amadurecida dos experimentos nos Ateliês de Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo (I, II e III) e demais disciplinas, que acontecem nos últimos três semestres do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Anápolis (UniEVANGÉLICA). Neste volume, como uma síntese que é, encontram-se experiências pedagógicas que ocorrem, no mínimo, em duas instâncias, sendo a primeira, aquela que faz parte da própria estrutura dos Ateliês, objetivando estabelecer uma metodologia clara de projetação, tanto nas mais variadas escalas do urbano, quanto do edifício; e a segunda, que visa estabelecer uma interdisciplinaridade clara com disciplinas que ocorrem ao longo dos três semestres. Os procedimentos metodológicos procuraram evidenciar, por meio do processo, sete elementos vinculados às respostas dadas às demandas da cidade contemporânea: LUGAR, FORMA, PROGRAMA, CIRCULAÇÃO, ESTRUTURA, MATÉRIA e ESPAÇO. No processo, rico em discussões teóricas e projetuais, trabalhou-se tais elementos como layers, o que possibilitou, para cada projeto, um aprimoramento e compreensão do ato de projetar. Para atingir tal objetivo, dois recursos contemporâneos de projeto foram exaustivamente trabalhados. O diagrama gráfico como síntese da proposta projetual e proposição dos elementos acima citados, e a maquete diagramática, cuja ênfase permitiu a averiguação das intenções de projeto, a fim de atribuir sentido, tanto ao processo, quanto ao produto final. A preocupação com a cidade ou rede de cidades, em primeiro plano, reorientou

as estratégias projetuais. Tal postura parte de uma compreensão de que a apreensão das escalas e sua problematização constante estabelece o projeto de arquitetura e urbanismo como uma manifestação concreta da crítica às realidades encontradas. Já a segunda instância, diz respeito à interdisciplinaridade do Ateliê Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo com as disciplinas que contribuíram para que estes resultados fossem alcançados. Como este Ateliê faz parte do tronco estruturante do curso de projeto, a equipe do Ateliê orientou toda a articulação e relações com outras quatro disciplinas que deram suporte às discussões: Seminários de Teoria e Crítica, Seminários de Tecnologia, Expressão Gráfica e Detalhamento de Maquete. Por fim e além do mais, como síntese, este volume representa um trabalho conjunto de todos os professores do curso de Arquitetura e Urbanismo, que contribuíram ao longo da formação destes alunos, aqui apresentados em seus projetos de TC. Esta revista, que também é uma maneira de representação e apresentação contemporânea de projetos, intitulada Cadernos de TC, visa, por meio da exposição de partes importantes do processo, pô-lo em discussão para aprimoramento e enriquecimento do método proposto e dos alunos que serão por vocês avaliados.

Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Daniel da Silva Andrade, Dr. arq. Pedro Henrique Máximo, Dr. arq.



Memorial dos Imigrantes Sírios e Libaneses de Anápolis A memória ligada ao tempo, permite uma conexão com o passado, uma visão melhor do presente e uma certa expectativa sobre o futuro. O memorial vem justamente para tornar físico, um evento que foi marcante na história de um lugar. Dessa forma, a proposta de um memorial da imigração sírio e libanesa de Anápolis vem com o objetivo de divulgar a relevância da contribuição desse povo para a cidade e também aproximar a população anapolina à essa cultura.

Sarah Marcolino de Melo Orientador: Daniel Andrade sarahmarcolino@hotmail.com


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INTRODUÇÃO

‫المقدمة‬

Todas as coisas que o cérebro é capaz de reter é através da memória, que é a faculdade de reter ideias, sensações, impressões, adquiridas anteriormente. Na área das artes, o memorial é um monumento dedicado a alguém, ou um evento específico digno de ser lembrado (MOURÃO et al, 2015). Ademais, a capacidade de colocar ordem na memória é o que permite o entendimento dos acontecimentos, dos fatos. A memória relaciona-se diretamente com o tempo, em que a conexão com o passado permite uma visão melhor do presente e uma certa leitura do futuro. Além disso, a memória está inerente ao ser humano, pois é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual quanto coletiva. A estreita relação da memória com o espaço se dá na medida em que os acontecimentos são vividos pessoalmente ou pelo grupo nos locais à qual se sentem pertencer e, consequentemente, fomenta as ligações simbólicas entre o ambiente, a pessoa e suas crenças essenciais. De acordo com o autor Ulpiano Meneses (1992), sobre o texto a História, cativa da memória? a história não pode ser vista apenas como um pacote de recordações acabado e fechado, mas um processo permanente à dinâmica social, em que, se lhe falta o referencial do passado, o presente permanece incompreensível e o futuro incerto. Assim sendo, a memória se dá no presente para responder as solicitações do futuro, sendo necessária para o reforço da identidade individual, coletiva e nacional, a reorganização o universo das pessoas, e o fornecimento dos quadros de orientação para a assimilação do novo. Diante dessas considerações, sobre a memória e comparando com a realidade de Anápolis, observa-se que não há uma preocupação dos órgãos públicos em preservar e instruir a população sobre a formação histórica e as influências que fizeram a cidade se desenvolver. É fácil perceber isso andando pelo setor central, as casas antigas não são preservadas ou estão completamente descaracterizadas, além daquelas que já foram demolidas. A cidade Anápolis está localizada na parte central do estado de Goiás e é uma das mais importantes do Estado.

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Surgiu oficialmente a partir da construção da capela de Santana em 1871 e, anos mais tarde, sob a liderança de Gomes de Souza Ramos e Zeca Batista, obteve o título de cidade em 1907. A partir disso, teve um crescimento bastante acelerado através da agricultura cafeeira. Outro fator que contribuiu para a sua expansão comercial, foi a chegada dos imigrantes que colaborou de forma decisiva para o aumento populacional e urbano: os italianos chegaram em 1912, os sírios e libaneses em 1913 e os japoneses em 1929. Com a Revolução de 30 e a chegada da ferrovia, a cidade inseriu-se na economia nacional e a partir desse momento, intensificou gradativamente a vinda dos árabes, pois no país de origem eles enfrentavam dificuldades e viram em Anápolis a possibilidade de se prosperarem. A imigração sírio e libanesa foi importantíssima para a história da cidade, porque marcou um período em que essa contribuição perdura até hoje na cultura, na culinária, nos costumes, no comércio, e também na política. Um dos aspectos mais notáveis desse povo é a facilidade com o comércio, eles: começaram como mascates (mercador ambulante) com o objetivo de acumular capital, depois como lojistas varejistas e em seguida com vendas no atacado. Ao longo dos anos, essa marca foi sendo registrada, mais precisamente na rua General Joaquim Inácio, mais conhecida como, a rua dos “Turcos”. Além do comércio, eles realizaram ou contribuíram em obras importantes como escolas, clubes e praças. Por terem uma forte ligação com a tradição, um dos costumes que mais perduraram foram na vestimenta e na culinária, tanto é que, em 1931, eles fundaram na cidade a União Síria com o intuito de se reunirem e acolher os novos imigrantes. (VARGAS, 2015). Perante os fatos apresentados, a proposta de projeto é um memorial da imigração sírio e libanesa, cujo motivo é divulgar a relevância da contribuição sírio e libanesa na cidade e também de aproximar a população anapolina à essa cultura no âmbito comercial, político e principalmente cultural em razão de serem um povo com características únicas e que até hoje continuam contribuindo de forma significativa.

[f.1] Família Spir - 1903, primeira família a se instalar na cidade. Fonte: Portalcontexto.com

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Justificativa ‫التبرير‬ O processo de desenvolvimento da cidade de Anápolis foi semelhante a todas as outras: de início era um povoado, depois tornou-se em uma vila e, por fim, elevada à categoria de cidade. Ao longo desse período, o centro foi sendo formado, edifícios públicos foram sendo construídos e grandes eventos que marcaram a história da cidade aconteceram, como a chegada dos trilhos e também do aumento do fluxo de imigrantes, como os portugueses, os italianos, japoneses e sírios e libaneses. O último grupo desempenhou um papel importantíssimo em Anápolis, cujas colaborações perduram até o dias atuais. Ao chegarem na cidade, destacaram-se na área comercial, em que de mascates se tornaram grandes varejistas, mas não se limitaram até aí, pois seus costumes e sua culinária cairam no gosto do povo, por exemplo, o pão sírio, o Kibe e a esfiha. Na dança, a mais popular é a dança do ventre, além disso, estão no âmbito político, industrial, empresarial, esportivo e da saúde.

No ano de 2020 completaram-se 117 anos da comunidade sírio e libanesa aqui na cidade. Durante todos esses anos, os árabes sempre mantiveram suas tradições vivas mesmo longe de seus países de origem, pois era uma preocupação constante em preservar seus valores para as gerações seguintes. Mesmo depois de todos esses anos de auxílio prestado ao município, são poucas as pessoas que reconhecem a relevância deles na cidade. Percebe-se, assim, a necessidade de um memorial que não somente divulgue esse recorte histórico importante da cidade, mas também, aproxime a população anapolina desse povo e de sua cultura, que sempre esteve presente desde o início da cidade, antes mesmo da chegada dos trilhos.

[f.2] Estação ferroviária de Anápolis. Fonte: Portal 6, 2019.

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[f.3] Indústria de bebidas J.Feres. 1948 Fonte: Claudiomir Brito, 2021.

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DEFINIÇÃO DE MEMÓRIA ‫ةركاذلا فيرعت‬ Segundo Agostinho (1973), o termo memória está relacionada com a tradição, o conhecimento, as impressões externas, a identidade, e por fim com a ordem biográfica das coisas. O indivíduo está sempre sujeito aos fatores externos que o condiciona a agir de determinado modo. A memória também está atrelada ao tempo, pois possui uma conexão com o passado, que permite um entendimento melhor do momento presente e uma certa leitura do futuro. Colocar em ordem a memória significa organizar as coisas internamente, que são as impressões recebidas do ambiente externo, pois isso pode restaurar e reconduzir o caminho de um indivíduo, de um povo, caso passem por uma crise de identidade. Portanto, a educação da memória possibilita o encontro da identidade e o conhecimento profundo da tradição. De acordo com Le Goff (1924), a memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje. Outro autor que trata sobre a memória coletiva com bastante exatidão é o Maurice Halbwachs (1950), que tem uma abordagem mais funcionalista e complexa, ele diz que o indivíduo só é

capaz de recordar na medida em que pertence a algum grupo social, pois o indivíduo isolado não pode formar lembranças porque não tem forças para sustentá-las por muito tempo, enquanto a memória coletiva é uma memória em grupo, que contêm testemunhas. Outro autor que aponta a memória como um fenômeno coletivo é o Michael Pollak (1992), ele associa ainda à construção do sentimento de identidade, mas lembra ao mesmo tempo, a importância da memória individual já que, o indivíduo também é capaz de formar e acessar memórias, participando ativamente da construção das recordações dos grupos. Sendo assim, a partir dessas conceituações, Maurice Halbwachs (1950) diz que a memória geralmente está relacionado no coletivo, num grupo, em que, um acontecimento vivido pelo conjunto tem mais força do que a memória individual, envolve não só experiências vividas diretamente, mas também, experiências herdadas, aprendidas, transmitidas aos indivíduos pelos grupos através do processo de socialização. Logo, a memória contribui para a criação do sentimento de identidade dos indivíduos e grupos.

[f.10] Rua General Joaquim Inácio,1965. Fonte: Biblioteca.ibge.

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Tipos de memória ‫ةيرضحلا تادعملا‬ Olhando da perspectiva psicológica, a memória é capaz de adquirir, conservar e evocar as informações através de dispositivos neurobiológicos e da interação social (MOURÃO et al, 2015). De acordo com a psicologia cognitiva, ela divide-se em memória sensorial, memória de trabalho, memória à curto prazo e à longo prazo. A memória sensorial é caracterizada pela entrada dos estímulos externos através dos nossos sentidos e é de curta duração. É a partir dela que se consegue acompanhar um filme, ler um livro e manter uma conversa. A memória de trabalho permite armazenar e manipular a informação guardada, opera nas ações cognitivas como a compreensão da linguagem, a leitura, o aprendizado e o planejamento. A memória de curto prazo tem uma capacidade limitada de reter as informações, não passa de 30 – 40 segundos, é a mais suscetível à deterioração. Por último, a memória de longo prazo que codifica e retém a informação por um tempo mais extenso, está relacionada com a memória de curto prazo, pois os elementos que foram armazenados por um curto período de tempo podem se converter em lembranças de longo prazo. É nesta última memória que o termo se resume apenas na capacidade de absorver às impressões externas por um longo tempo,

de resgatar lembranças passadas e da tradição. Contudo, não é somente isso, vai além, pois reforça a ideia do resgate histórico, o peso dos tempos passados, da memória indivisível, da marginalização do esquecimento e pôr fim do gerenciamento da memória. Com isso, oferece condições para quaisquer solicitações que são dignas de análise e apreensão histórica. (MENESES, 1992). Uma vez que a memória é algo que aconteceu no passado, fica impossível de ser resgatada em sua integridade total, mesmo assim, não impede de ser preservada nem restaurada. Por exemplo, um objeto antigo que era útil em sua época, hoje, é visto como elemento decorativo. Outro tipo de classificação para os tipos de memórias, são a coletiva e a nacional; a primeira refere-se a uma memória em grupo, respaldadas por testemunhas que garantem uma veracidade maior, e a segunda é responsável pela criação de uma identidade nacional e compreensão histórica dos fenômenos. (MENESES, 1992) A partir dessas classificações vê – se que o passado é uma referência para a memória, pois permite uma compreensão melhor do presente e ter uma certa leitura do futuro, garantindo assim, a continuidade da memória histórica.

[f.11] Antiga Estação ferroviária de Anápolis, 1934. Fonte: @anapolisantiga [f.12] Rua Manoel da Abadia, 1934. Fonte: @anapolisantiga [f.13] Antiga residência da família Tonico de Pina, 1950. Fonte: @anapolisantiga

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Memória x Homem ‫ ةركاذ‬x ‫لجر‬

[f.14] Família Abrão Dib,1900. Fonte: anba.com [f.15] O comerciante e ex-mascate libanês Daher (João) Audi, no interior de São Paulo, 1928. Fonte: Scielo.br Abadia, 1934.

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As discussões sobre a memória começaram antes mesmo da idade de Cristo. Sua relação com a lembrança, com a imagem e com o tempo é uma questão muito recorrente entre os filósofos antigos e modernos; entre eles, os mais conhecidos; Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, já os modernos estão; Paul Ricour, Frances Yates e Jacques Le Goff. Yates (2007) apresenta que o primeiro a compor uma ideia de memória foi Simônides de Céos, poeta e pintor no século V A.c., ele diz que a recordação mnemônica requer dois passos; o primeiro, a lembrança e a criação de imagens na memória e o segundo, a organização das imagens em locais, ou lugares da memória. Simônides introduz à escrita toda a forma de produção e organização social, antes exclusivamente oral, o que resultou na mudança da posição do poeta na sociedade. Segundo Yates (2007), a memória seria a representação presente de uma coisa ausente, ele refletirá como consequência de uma ponderação que também se interroga sobre a verdade, sobre o ético e sobre o erro. Isso é um convite para reconhecer-se e um posicionar-se sobre as questões da realidade. Platão faz uma analogia de que a memória é um bloco de cera em nossas almas, de diferentes qualidades e que cada tipo de cera é um tipo de lembrança com os seus graus distintos de veracidade, duração e clareza e que por isso, garante e justifica a existência e variação da memória, garantindo o conhecimento. Ainda assim, ele afirma que o caráter veritativo da memória é imprescindível para a própria validade do conhecimento. Sob a visão de Aristóteles, no tratado De memória e reminiscência, a memória tem por objeto o passado e que está relacionada intimamente com o tempo, com a imaginação e às afecções e dessa forma, todo objeto da imaginação é um objeto de memória. (QUADROS, 2016).

O filósofo grego faz uma distinção entre o lembrar e o recordar, sobre o primeiro, ele diz que está no âmbito da permissividade, como trazer o passado de maneira simples, sem uma perfeita consciência do tempo, em que, tem pouca incidência no processo multidimensional da memória. Ao passo que, recordar é um espécie de pesquisa totalmente ativa e indutiva, que busca a causa originante de uma imagem atual. Encontra-se uma maior clareza do tempo nesse ato e a certeza de que é uma faculdade única do ser humano, por fim, a recordação é aquela que produz efetivamente a memória. Segundo Paul Ricour (2006), a memória se apresenta perante uma perspectiva fenomenológica, que é uma análise do fenômeno como aquilo se mostra à consciência, pelo significado mais profundo de um objeto. Assim como Aristóteles, ele tem como guia o tempo. As lembranças são evocações simples que possuem fragmentos do passado imprecisos, e a recordação é ativa contra o esquecimento e se constitui num esforço contínuo. Segundo Ricour, a memória consiste num fator determinante para o reconhecimento de si e do outro e é a única garantia de reconhecimento do passado. Frances Yates (2007), em seu livro a Arte da Memória, mostra os seus princípios e os seus métodos, ela divide em memória natural e artificial; a primeira é gravada na mente e nasce simultaneamente com o pensamento, a segunda, é a memória fortalecida, treinada, é estabelecida a partir de locais e imagens. Ela diz que para lembrar envolve disciplina e arte, enfatiza na necessidade de apreender as ideias por meio de imagens pois são poderosos agentes mentais. Portanto, baseado nos estudos desses autores, vê-se que eles relatam a memória de maneira profunda com o tempo, com as lembrança e recordações, por fim, com o campo das ideias. Ademais, para expandir a memória é necessário sempre o ato de recordar-se e coloca-las em seus devidos lugares no interior da alma, de modo que, entendendo o passado, compreende-se o presente.

Sarah Marcolino de Melo


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ANÁPOLIS EM FORMAÇÃO ‫خشطكشةقخب ةث سهمخحشجىش‬ A cidade de Anápolis situa-se numa boa posição geográfica, está localizada entre duas capitais bastante significativas, Goiânia e Brasília. Desde a sua formação era caracterizada como um importante entreposto comercial, possuía solos férteis e estava na rota do caminho para a antiga capital do estado, Vila Boa, hoje, Cidade de Goiás. A formação da cidade está associada ao período do ciclo do ouro goiano, pois estaria na rota dos fluxos migratórios da região sudeste e nordeste, e ao longo desse trajeto formaram-se os povoados, um deles foi Santana das Antas que logo mais tarde iria se tornar Anápolis. O povoado situava-se às margens de um rego de água conhecido como Rego grande, em 1870 já havia algumas palhoças. No ano seguinte deu - se a construção da Capela Santana, que marcou oficialmente o surgimento do município. Com a intensificação as atividades religiosas o lugarejo se transforma em Freguesia em 1873, e em 1887 é elevado à categoria de Vila. Em 1907, sob a liderança de Gomes de Souza Ramos e Zeca Batista a vila então, recebe o título de cidade. A partir de disso, a cidade teve um progresso rápido e significativo. Segundo Oliveira (1957 apud Silva, 1997), em 1920 chegaram os primeiros construtores de casa de tijolos, quatro anos depois a energia elétrica, e sua economia baseava-se no comércio, no plantio de arroz e principalmente de café até a chegada dos trilhos, dessa forma, a cidade adquiria novas feições urbanísticas. A chegada da ferrovia em 1935, foi um fenômeno que colaborou de forma vertiginosa para o desenvolvimento da cidade, conferindo à ela a função de núcleo comercial do estado, tornando-a em centro coletor de produtos agropecuários e de distribuição de mercadorias, o que impulsionou o crescimento econômico e a estruturação do espaço intraurbano. Dessa forma, foi um símbolo de progresso para os cidadãos Anapolinos. Anápolis ampliou e dinamizou de forma exponencial o seu comércio e o seu crescimento populacional. A cidade foi muito atraída pelos imigrantes, como os italianos, japoneses, e principalmente pelos sírios - libaneses, e a partir da chegada da ferrovia esse fluxo foi intensificado.

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Anápolis possuía as condições necessárias para quem desejasse prosperar, entre eles, solo fértil, água em abundância, e vocação comercial. A presença de viajantes e imigrantes estrangeiros pode ser equiparada ao próprio avanço tecnológico para o processo de modernização do estado. Não somente uma modernização tecnológica, mas os imigrantes cooperou de maneira significantena formação cultural e identitária dos anapolinos, porém, a memória de alguns povos passam despercebidas De acordo com Silva (2014), outro acontecimento importante para a história da cidade, foi o seu apoio para a construção de duas capitais, uma estadual (Goiânia) que está situada a 58 Km de distância e a outra federal (Brasília), aproximadamente 150 km. Goiânia obteve de Anápolis uma participação verdadeiramente eficiente, colaborou com o fornecimento de mão de obra, materiais de construção em larga escala, até mesmo, oferecendo os impostos municipais arrecadados. Com a implantação da nova capital federal não foi diferente, em consequência disso, houve um aumento demográfico expressivo, uma grande expansão urbana, ampliação do sistema viário e o surgimento de novos bairros afastados do centro. Anos mais tarde, houve a inserção de novas instalações que acentuou seu caráter comercial e industrial, um deles foi o Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA) em 1976, outras instalações relevantes foram a base aérea, em 1972 e em 1999 a inauguração do Porto Seco. Atualmente, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade conta com uma população estimada em 2020 em torno de mais de 390 mil habitantes, com uma área de aproximadamente 910 hm². Constitui-se no terceiro maior município do estado em população e sua segunda maior força econômica Hoje, Anápolis conta com mais de 275 bairros e é cortada pelas rodovias federais BR-153, BR-060 e BR-414, pelas rodovias estaduais GO-222, GO-330, GO-437 e GO-560 e pela Ferrovia Centro-Atlântica, sendo ponto inicial da Ferrovia norte sul.

[f.16] Chegada da locomotiva, 1935. Fonte: @anapolisantiga

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A chegada dos imigrantes ‫سثفىشقلهةه سخي شيشلثاؤ ش‬ Como a promulgação da lei do Ventre Livre de 1871 e a Lei Áurea em 1888, a escravidão foi oficialmente extinta no Brasil. Houve, com isso, uma falta de trabalhadores nas lavouras, que mais tarde seria suprida pela chegada dos imigrantes ao país. A maior parte seguiu para as região Sul, sudeste e Centro oeste; às duas primeiras regiões foram ocupadas pelos alemães, poloneses, portugueses, espanhóis e italianos, e a última região, pelos japoneses, sírios - libaneses e outros italianos. (VARGAS, 2015) Contudo, muitos acabaram voltando para a sua terra de origem devido às dificuldades de se adaptarem aqui, seja pelas condições climáticas, ou pelas dificuldades econômicas. Ainda, tinha aqueles que sem capital para adquirir bens, disputavam vagas de emprego menos qualificado. Em Anápolis predominou-se três nacionalidades: italianos, japoneses e sírios libaneses. Os italianos instalaram-se em Nova Veneza, antiga colônia de São João, os japoneses em Nerópolis, antiga colônia agrícola conhecida como Cerrado, e por último, os sírios e libaneses no núcleo urbano de Anápolis. Apenas os dois primeiros tinham o objetivo de adquirir terras e de se estabilizarem, enquanto a finalidade do povo sírio e libanês era de acumular capital e retornarem para o seu país de origem, mas também, muitos tinham vontade de trazer a família para um lugar mais seguro e estável, em razão de muitas guerras acontecerem por lá.

Vários fatores atraíram os imigrantes para o sertão goiano, o primeiro deles foram as mudanças econômicas e à industrialização das grandes capitais atrelados à expansão da ferrovia. Segundo França (1973), outro fator, foi a disponibilidade de terras, por ser uma região pouco ocupada com grandes fazendas, isso permitia uma cultura diversificada. O destino dos primeiros imigrantes italianos aqui no estado, eram as grandes fazendas de café, onde desempenhavam os mesmos papéis que antes eram exercidos pela mão de obra escrava. De acordo com Vargas (2015), assim como os italianos, o destino dos japoneses não era Anápolis, mas eles seguiram para o interior porque a agricultura era a principal exportação no país. Na década de 20, as terras ao redor do distrito de Cerrado, atual Nerópolis, estavam abandonadas, devido a isso, a Intendência de Anápolis decidiu doar parte das terras à colônia agrícola japonesa. Foi então que em 1930, foi assinado um contrato com a Companhia de Colonização Japonesa em Goiás para que eles cultivassem café e arroz, porém com a crise nacional do café em 1929 e a revolução de 30 dificultaram a posse de terras, e só em 1935 é que as escrituras puderam ser efetivadas. Como o arroz faz parte da cultura milenar japonesa, eles empregaram suas técnicas de plantio resultando num melhor aproveitamento do grão, com isso, o arroz teve um aumento considerável na sua produção com uma qualidade melhor.

[f.17] Imigração Japonesa, 1930 Fonte: neropolisinfoco.com

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A imigração sírio e libanesa em Anápolis ‫سيلوبانأ ىلإ ةينانبللاو ةيروسلا ةرجهلا‬

[f.16] Armazém do Sr. Salathiel Oliveir, localizado na Av. Miguel João,1950. Fonte: Museu Histórico de Anápolis, 2015. [f.17] Família Aidar,139. Fonte: Museu Histórico de Anápolis, 2007.

Em 2020 completaram 140 anos da imigração sírio e libanesa no Brasil, e é o país que comporta a maior comunidade do mundo, são 7 milhões de descendentes contra menos de 6 milhões no próprio Líbano. A chegada dos sírios e libaneses no Brasil se deu por volta do século XIX e no início do XX, eram de origem síria, libanesa ou palestina e maior parte deles eram cristãos (maronita). Os motivos da vinda não foram os melhores, foi devido à fome, à pobreza e ao regime político, que perseguia os cristãos e convocavam os jovens para as batalhas (SILVA, 2014). Muitos vieram para cá com a promessa de que enriqueceriam rapidamente e teriam uma vida tranquila, ademais, o visto era mais acessível do que nos Estados Unidos. Ao chegarem no país, muitos denominavam os como turcos, em razão dos passaportes serem emitidos pelo Império Turco – otomano, com isso, para evitar essas situações, eles acabavam abrasileirando os próprios nomes. De acordo com Vargas (2015), comumente, eles se instalavam nas cidades da Estrada de Ferro, pois acreditavam no desenvolvimento e no potencial econômico que poderiam trazer-lhes. As primeiras ocupações no município de Anápolis ocorreram em 1910, antes mesmo da chegada da ferrovia, nesse período havia um fluxo de imigrantes que vinham em busca de terras para se estabilizarem economicamente, foi o caso dos italianos e japoneses, pois eles tinham capital para a tal aquisição. Ao contrário dos sírios e libaneses, o propósito era de acumular capital e não terras, para um dia retornarem ao seu país de origem, ou, trazer o restante da família, o que aconteceu na maior parte das vezes. Asmar (1973 apud VARGAS, 2015), relata que eles iniciaram sua jornada como mascates, vendiam as mercadorias batendo de porta em porta nas fazendas, em que, depois de um tempo, foram os primeiros a criarem o sistema de crédito do estado, a venda à prazo.

Segundo Mendes (2020), o primeiro árabe a se instalar em Anápolis foi Charrud Spir em 1903 que no mesmo ano, abriu uma mercearia. Após a chegada dos trilhos, a economia da cidade avançou e 5 anos mais tarde após a inauguração, houve um intenso fluxo de sírios e libaneses que puderam abrir seus próprios comércios, tornando-se lojistas varejistas e mais tarde, iniciaram a venda de atacados deixando de serem mascates. O setor comercial é bem representado por eles, tanto é que a Rua General Joaquim Inácio é conhecida como a rua dos turcos, onde se concentra a maior parte do comércio de armarinhos, secos e molhados. Ademais, eles estiveram à frente de diversos empreendimentos comerciais, como, a inauguração de olarias na década de 30, máquina de beneficiar cereais e a fundação da ACIA (Associação Comercial e Industrial de Anápolis) (SILVA, 2014). Mas não foi o único setor que sofreu influência deles, mas também o cultural, seja pelas artes, música e pela culinária, este último presente da cultura anapolina. Conforme Vargas (2015), esse povo tem uma relação profunda com a memória, pois eles se preocupam em transmitir as tradições e valores familiares de geração em geração. Para atingirem esse fim, eles fundaram em 1931 a União Síria, com o intuito de aproximar os imigrantes mas sem segregar os habitantes locais. Além do mais, os sírios e libaneses já tiveram um programa em árabe chamado ‘Sonhos do Oriente’, na rádio Carajá. Um fato interessante sobre esse povo, era a preocupação da educação escolar dos filhos, os pais faziam questão de que eles se formassem, não é por acaso que na cidade possuem muitos consultórios, advogados com nomes de origem árabe.

[f.18] Equipe da Administração Pública Gestão Pedro Sahium, 2005-2008. Fonte: Museu Histórico de Anápolis, 2007.

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Foi realizado no dia 07 de outubro de 2020, uma entrevista com a senhora Leila Salim Hosni, que chegou ao Brasil bem jovem e reside no país há 55 anos. Dona Leila é libanesa e relatou de forma breve sobre a chegada da família ao país. Tudo começou quando o pai dela veio para passear e decidiu ficar para trabalhar com a família que já estava estabelecida em Barretos (SP), alguns anos mais tarde veio o irmão mais velho, e depois outro irmão. A família era constituída de 7 pessoas, assim que o pai dela faleceu, um dos irmãos mandou uma carta pedindo para que eles viessem, eles viveram alguns anos em Barretos (SP), depois seguiu para Uberaba (MG), em seguida Goianésia e finalmente em Anápolis. Assim que ele chegaram na cidade, tiveram um enorme choque cultural, pois não tinham amigos e mal sabiam falar o português, porém depois de um período trabalhando com comércio, eles foram se acostumando. E uma das curiosidades mais chamativas, foi o fato deles celebrarem as datas comemorativas do país de origem, de manterem as tradições festivas, seja na música, nas danças, e claramente na comida. Ela disse também que no aniversário do filho dela, chamaram uma dançarina de dança do ventre, bem como, encomendaram um tambor específico do Líbano, isto é, nota–se um esforço para conservar a cultura. Segundo Silva (2014), a culinária árabe foi um dos fatores para a troca cultural entre os imigrantes e os habitantes locais, umas das características da comida é a diversidade e a fartura presente nas residências dos sírios e libaneses e por fim, eles possuem uma convivência familiar muito próximas.

[f.18]

[f.19] [f.20]

Memorial dos Imigrantes Sírios e Libaneses de Anápolis

21


[f.4]

[f.4] Colônia sírio libanesa em 1932. Fonte: Daniel Alves, 2019. [f.5] José Feres 1948. Fonte: Claudiomir Brito, 2021

08

[f.5]

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+140 anos da imigração ‫ةرجه ةنس‬140+ A imigração sírio e libanesa para a cidade de Anápolis já vinha acontecendo antes mesmo da chegada da ferrovia em 1935, devido ao crescimento econômico baseado no plantio, principalmente, do café e do arroz. Grande parte dos sírioslibaneses iniciaram sua vida como mascates, já que o objetivo era de acumular capital e não de acumular terras. Houveram vários motivos para a vinda deles para cá. O primeiro ocorreu com a visita de Dom Pedro II, quando ele visitiou essa região e os convidaram para emigrarem e ajudar na construção da América, o outro foi devido as brigas políticas, a fome, as guerras e por último, devido a boa receptividade do brasileiro. A partir da instalação da ferrovia aqui na cidade, essa imigração só intensificou graças ao potencial que Anápolis oferecia para quem desejasse prosperar, diante disso, eles se fixaram e contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento do município, por exemplo, a venda à prazo no comércio local. Esse ano completa 140 anos da imigração dos sírios e libaneses aqui no Brasil. É um povo que possui costumes muito bem enraizados, fazem questão de dar continuidade às suas tradições, sejam nas festas, na culinária, nas artes, como também na religiosidade. Com isso, nota-se um apego muito forte com a memória, e de fato isso é importante, pois uma sociedade que não faz questão de preservar suas origens, de dar seguimento aquilo que os foi transmitido pelos seus antepassados, acaba ficando sem identidade.

[f.6]

[f.7]

[f.8]

[f.6] Bandeira do Brasil. Fonte: Pinterest.com [f.7] Bandeira de Anápolis. Fonte: Anapolis.go.gov [f.9]

[f.8] Bandeira do Líbano. Fonte: Pinterest.com [f.9] Bandeira da Síria. Fonte: Pintesrest.com

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09


[f.21]

ANÁLISE DO LUGAR ‫ناكملا ليلحت‬


Localização/Anápolis-Go Anápolis-Goiás / ‫عقوملا‬

A cidade Anápolis está localizada na parte central do estado de Goiás e é uma das mais importantes do Estado. É cortada pela BR - 153, e nos limites a BR - 414 e a BR - 060, a cidade ainda é atravessada pela Avenida Brasil - Sul. A escolha do terreno se deve ao fato de estar próxima a estação ferroviáia, onde os sírios - libaneses faziam questão de se estabelecerem para iniciar a venda de seus produtos, prática bastante comum na cultura deles. Não somente isso, mas o local oferecerá bastante visibilidade ao projeto, e também conta com dois acessos, um pela rua Xavier de Almeida e pela rua Dr. Genserico, além da topografia ser praticamente plana.

[f.21] Terreno do projeto. Fonte: Imagens do autor

LEGENDA: SETOR CENTRAL AVENIDA BRASIL BR-153 BR-414 BR-060 Terreno

N

0

50

100

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150

200

23


Uso de Solo e Equipamentos Urbanos ‫ةيرضحلا تادعملاو ضرألا مادختسا‬ O terreno está localizado próximo ao terminal urbano, o que permite uma visibilidade maior ao projeto e também ao seu acesso. Além disso, reforça o conceito de estar perto da estação ferroviária, onde os sírios e libaneses costumavam se fixar para abrirem seus comércios.

O setor central possui um uso bastante diversificado, embora a sua predominância seja comercial. As áreas verdes dessa região são insuficientes e tem muitas áreas subutilizadas, usadas principalmente como estacionamentos. Apesar dessa variedade o centro é movimentado apenas durante o dia, enquanto a noite se torna um lugar inseguro e vazio por falta de programas ao longo desse período.

7

2 3

10

5

[f.22]

4

1 6

LEGENDA: 1 - Mercado Municipal 2 - Terminal Urbano 3 - Estação Ferroviária 4 - Praça Americana do Brasil 5 - Biblioteca Municipal 6 - Praça do banco do Brasil 7 - Terreno (estacionamentos) 8 - Praça James Faustone 9 - Hospital Evangélico Goiano 10 - Praça das mães 11 - Restaurante Cidadão 12 - Senac Anápolis

Uso comercial Uso residencial Prestação de serviço Praças Terreno Estacionamento 24

11

8 9

12

N

0

25

50

100

[f.23]

[f.22] Estação Ferroviária de Anápolis. Fonte: estacoesferroviarias.com [f.23] Mercado Municipal Carlos de Pina. Fonte: Portal6, 2017 [f.24] Biblioteca Zeca Batista. Fonte: diaonline.ig, 2020

[f.24]

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Gabarito ‫ةباجتسا‬ O gabarito dessa região é majoritariamente baixo, um ou dois pavimentos, com exceção de alguns que extrapolam essa margem, destacando-se na paisagem. Outro pronto, é que há muitos vazios no setor central, como lotes vazios e estacionamentos.

[f.25]

[f.26]

[f.27] 0

25

50

100

N

LEGENDA: 2 Pavimentos 4 Pavimentos 9 Pavimentos Praças Terreno (estacionamento) Estacionamento/vazios

[f.28]

[f.25] Rua Dr. Genserico Fonte: Imagem do autor, 2020. [f.26] Rua Xavier de Almeda. Fonte: Imagem do autor, 2020. [f.27]Rua Eng. Portela Fonte: Portal 2018 [f.28]Praça Americana do Brasil. Fonte: Portal 2020

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25


Aspectos Naturais ‫ةيعيبطلا بناوجلا‬ A região central da cidade é uma área com pouca permeabilidade e carece de área verde. O córrego das antas está apenas duas quadras abaixo do terreno. A direção do vento em boa parte do ano, vem do Leste.

A nel oro R. C

il es qu

de

a Pin

A topografia desse recorte não apresenta quedas acentuadas, principalmente no terreno do projeto, que é em torno de 1,50m, pelo fato de serem estacionamentos. A maioria das vias são do tipo coletoras, com exceção da Rua Xavier Almeida que é uma via arterial. Durante o perído do dia, é um local com intenso fluxo de automóveis.

i na eP

a Pi n

d i co on

e

a Pi n

A lm vier

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a lm eid vier A a R. Xa lm eid vier A R. Xa

i na eP sd ile qu A el ron Co R.

d R. 7

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ro

T R.

de

a R. X

R.

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q el A ron Co

T R.

s uil e

de

a Pin

R. Dr Genserico

R.

od ni c To

LEGENDA: Terreno

Quadras

Curvas de 5 em 5 metros

Praças Córrego das Antas

Curvas de 1 em 1 metro Vegetação

Ventos predominantes do Leste

0

25

50

100

N

N

0

25

50

100

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Mapa de cheios e vazios ‫ةغرافو ةلماك ةطيرخ‬ Através desse mapa, percebe-se que área central é bastante adensada e com poucos respiros urbanos, embora haja muitos lotes vazios, boa parte deles são usados como garagens ou estacionamentos. O uso principal das edificações desse entorno é comercial e serviço, como os bancos.

LEGENDA: Terreno

N

0

5

15

Mapa de sistema viário R. C

‫قيرطلا ماظن ةطيرخ‬

s uil e Aq nel oro a Pin de

LEGENDA: Vias coletoras (40km/h) T R.

a Pi n de i co on

ro temb de se R. 7

Vias arteriais (60 km/h)

T R.

i co on

a Pi n de

rA avie R. X

v R. Xa

ida lme

eida a r A lm lmeid R. Xavie ier A

C R. lA ne oro i na eP sd ile qu

25 27 Memorial dos Imigrantes sírios e libaneses de Anápolis


Análise do Terreno ‫تحليل التضاريس‬

[f.29] Imagem do Terreno Fonte: Imagem do autor, 2020.

[f.29]

[f.30] Imagem do Terreno. Fonte: Imagem do autor, 2020.

PLATÔ 01 0.00

PLATÔ 03 +1.30

[f.30]

nser

ico

PLATÔ 02 +0.80

Rua D

r. Ge

O terreno fica localizado no setor central, entre as ruas Xavier Almeida e Dr. Genserico, é um lote subutilizado, que abrigava dois estacionamentos. O terreno possui uma queda de 1,50m que foi dividido em 3 platôs. A área total do terreno é de 3220 m².

Rua Xavier Almeida Planta do terreno

N

0

PLATÔ 03 +1.30

Corte do terreno

5

15

PLATÔ 02 +0.80

PLATÔ 01 0.00 0

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5

15


PROJETO ‫عورشملا‬ 25


Conceito ‫موهفم‬

1- O ponto central da volumetria foi garantir a conexão entre as duas vias.

3- Outro fator é que os pátios centrais são características bastantes comuns na arquitetura árabe, por conta dos ventos e do sol.

30

2- Além dessa conexão, os limites do terreno, delimitaram a forma do edifício, também o vazio no meio para garantir a permeabilidade, formando um pátio central.

4- Respeitando a escala do entorno, eleva-se o primeiro pavimento.

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5- Para dar permeabilidade ao edifício, conectando as duas vias, foram feitos alguns recortes no volume.

6- Geranddo assim dois blocos, cada um assentado em um platô. Para conectá-los, foi colocada um laje, gerando a praça elevada que ligas os dois blocos.

7- Logo, o edifício tem uma circulação livre nos dois pavimentos, sendo ela toda periférica. Mais uma vez, remetendo a arquitetura árabe por meio da permeabilidade e do pátio central.

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Programa ‫جمانرب‬ EXPOSIÇÃO - 50% ALIMENTAÇÃO - 30% COMÉRCIO - 10%

EDUCAÇÃO - 10% ADMINISTRAÇÃO - 5%

32

O programa do edifício foi todo pensado para remeter a cultura árabe, portanto o edifício contém setor de alimentação, no caso, um restaurante de comida árabe, que fica localizado nos dois pavimentos do primeiro bloco, lojas comerciais, tanto no pavimento térreo e superior (nos dois blocos), destinadas a venda produtos dessa cultura, um salão para produção de eventos, no pavimento térreo do primeiro bloco, além de duas oficinas, uma para gastronomia árabe e a outra para atersanatos, no primeiro pavimento do primeiro bloco, além do programa principal, o setor de exposições, ocupando a maior parte do segundo bloco, tanto no térreo quanto no superior.

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Implantação com cobertura ‫ىطغم راشتنا‬

N

0

34

5

15

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Planta do Subsolo ‫ضرألا تحت عنصم‬

N

A área do subsolo compreende toda a superfície do edifício

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0

5

15

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Cortes ‫جمانرب‬

+9,00 +7,00 W.C Masc. W.C Fem.

Restaurante

+3,50 Despensa

Vestiário

Restaurante

Á. de lavagem

0,00 Estacionamento

-3,00

0

CORTE AA

+9,00 +7,00

5

15

Loja de temperos Oficina de artesanato

+3,50

W.C Masc.

W.C Fem. Sala de vídeo

Oficina gastronômica Auditório

0,00 Estacionamento

-3,00

CORTE BB

38

0

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5

15


+9,00 Restaurante Exposição

+3,50 Depósito

0,00

Estacionamento

-3,00

CORTE CC

0

5

15

+ 9,00

Exposição

Loja de tecidos

+ 3,50

Loja de decoração árabe

0,00

Estacionamento

-3,00 0

CORTE DD

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5

15

39


Fachadas ‫تاهجاو‬

0

FACHADA NORTE

FACHADA SUL

40

0

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5

5

15

15


FACHADA LESTE

FACHADA OESTE

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0

5

0

15

5

15

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Diagrama de sustentabilidade ‫ةمادتسالا ططخم‬

Captação das águas pluvias para reuso

Solstício de verão 08:00

Energia solar para aquecimento de água e economia de energia elétrica

Solstício de inverno 08:00

Através desse estudo percebe-se que as fachadas mais críticas são a oeste e a norte, para tanto, foi colocado brises em todas as janelas

Solstício de verão 18:00

42

Solstício de inverno 18:00

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Diagrama de paisagismo ‫ةيعيبطلا رظانملا ططخم‬ O paisagismo do projeto foi pensado para não somente dar cor ao edifício, mas também dar-lhe um significado mais profundo. Assim, cada cor simboliza um sentimento diferente que move a pessoa para superar os momentos de crise, tão vivido pelo povo sírio e libanês. As plantas de cores verdes representam a esperança, as amarelas a alegria, a luz do sol, as de vermelho o amor, as de branco a paz, e as de roxo a espiritualidade.

Palmeira Real Archontophoenix cunninghamiana

Grama Esmeralda Zoysia japonica

Petúnia - Petunia

Espelho d’água

Rosa - Rosa

Tagetinho Tagetes patula

Resedá Lagerstroemia indica

Gerânio Pelargonium Memorial dos Imigrantes Sírios e Libaneses de Anápolis

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Corte de Pele ‫دلجلا عطق‬

ESC 1:25

Planta chave

46

0

5

15

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Perspectivas ‫دلجلا عطق‬

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Perspectivas ‫دلجلا عطق‬

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Fotos da maquete ‫يعيبطلا مجحلاب روص‬

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Fotos da maquete ‫يعيبطلا مجحلاب روص‬

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Fotos da maquete ‫يعيبطلا مجحلاب روص‬

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Fotos da maquete ‫يعيبطلا مجحلاب روص‬

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Referências Bibliográficas ‫ةيفارغويلبب عجارم‬ BARCELLOS, Jorge. O memorial como instituição no sistema de museus. Fórum Estadual de Museus, [S. l.], p. 1-10, 18 mar. 1999. CONTEXTO, Jornal et al, (ed.). A contribuição dos que vieram de longe. In: CONTEXTO, Jornal et al. A contribuição dos que vieram de longe. [S. l.], 28 jul. 2008. Disponível em: https://portalcontexto.com/a-contribuicao-dos-que-vieram-de-longe/. Acesso em: 17 out. 2020. HOMSI, Felipe. Um pedaço do oriente em Anápolis. In: HOMSI, Felipe. Um pedaço do oriente em Anápolis. [S. l.], 30 jul. 2010. Disponível em: https://portalcontexto.com/um-pedaco-do-oriente-em-anapolis/. Acesso em: 17 out. 2020 HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória. Rio de Janeiro : Aeroplano, 2000. LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 1990. 476 p. METRAN de Mello. 2015. 134 p. Dissertação (Mestre em Projeto e Cidade) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015. NUNES, Heliane Prudente. A Imigração árabe em Goiás. Goiânia: Ed. da UFG, 2000. SAYAD, Abdelmalek. A imigração ou os paradoxos da alteridade. São Paulo, Edusp, 1998. SILVA, José Fábio. O progresso como categoria de entendimento histórico: um estudo de caso sobre a modernização da cidade de anápolis-go (1930-1957). Orientador: Prof. Dr. Cristiano Pereira Alencar Arrais. 2014. 178 p. Dissertação (Mestre em História) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2014. SILVA, Júlia Bueno de Morais. O interior e sua importância no projeto centralizador do brasil : anápolis anos 20-30. Orientador: Prof. Dr. Olga Cabrera. 1999. 102 p. Dissertação (Mestre em História) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 1999 SOARES, Murillo Oliveira. Anápolis: uma cidade entre capitais (Goiânia e Brasília) e modernidades (1930-1960). Orientador: Professor Dr. Jiani Fernando Langaro. 2019. 216 p. Dissertação (Mestre em História.) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2019. VARGAS, Lucas Gabriel Corrêa. Representações sociais do progresso: uma perspectiva a partir da chegada da estrada de ferro em anápolis, go. Orientador: Profa. Dra. Márcia .

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Planta Térreo

LEGENDA: 1 - Depósito - 5m²/14m² 2 - Auditório - 129m² 3 - Sala de Vídeo - 7m² 4 - Foyer - 12m² 5 - W.C Masc. - 12m²/4m² 6 - W.C Fem. - 13m²/4m² 7 - Restaurante - 82m² 8 - Área de lavagem - 12m² 9 - Área de preparação - 62m² 10 - Dispensa - 11m² 11 - Vestiário - 9m² 12 - Loja de artigos árabes - 35m² 13 - Loja de tecidos - 29m² 14 - Exposição - 88m² 15 - DML - 5m²

1 3 6

5

2

4

Acesso Restaurante Acesso Auditório Acesso Exposição/Lojas/Café

7 12

Acesso Serviço

13 8

10

6 5

9

14

11 10

1

15

N

0

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5

15

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Planta Pav. Superior

LEGENDA:

18

17

16 - Oficina Gastronômica - 67m² 17 - Oficina Artística - 49m² 18 - Loja de Temperos - 42m² 19 - W.C Fem - 14m²/10m² 20 - W.C Masc. - 14m²/9m² 21 - Administração - 14m² 22 - Exposição - 177m²

16

Acesso Restaurante Acesso Exposição/Lojas/Café

19

20 22

21

20

19 21

22

N

0

36

5

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Diagrama de materialidade ‫ةيداملا ططخم‬

[f.3]

Vidro Temperado Autolimpante: Reduz a frequência de lavagens, aumenta a segurança, além de melhorar o conforto térmico e acústico.

Telha Termoacústica: Inclinação de 6%. Além do isolamento térmico e acústico, sua instalação é prática, a telha é bastante versátil e contribui coma redução de gasto de energia elétrica.

[f.3]

[f.3]

Tijolo cerâmico furado de 15cm: A estrutura do projeto é de concreto armado, com acabamento em pintura branca.

Piso interno de granilite: De cor clara com aspecto próximo ao granito, é de alta durabilidade, fácil manutenção e de baixo custo.

Muxarabi de Alumínio: Sua função é permitir a ventilação, a iluminação, bloqueando o calor, proporcionando a privacidade. O alumínio é um material leve, macio, com longa vida útil e requer pouca manutenção.

[f.3]

Piso externo de paver: É um pavimento drenante que evita o acúmulo de água, é atérmico e antiderrapante.

[f.8]Telha Termoacústica. Fonte: Google Imagens. [f.8]Muxarabi. Fonte: PainelArt.com.br [f.8]Vidro Autolimpante. Fonte: a2vidros.com.br [f.8]Tijolo Cerâmico. Fonte: Google Imagens. [f.8]Piso Granilite. Fonte: Mpugliese.com [f.8]Paver. Fonte: Google Imagens. [f.3]

44

[f.3]

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Diagrama de estrutura ‫شقعفعقفسث ثي شةشقلشهي‬

Planta do paviemento Térreo

N

0

5

15

Planta do paviemento Superior

N

0

5

15

Planta do Subsolo

N

0

5

15

Pilar de concreto armado Viga de concreto armado Laje de concreto armado

Perspectiva

Perspectiva

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