zine goma - palavra mascada

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(imagem dentro parte 1)


(imagem dentro parte 2)


{SOBRE} conjunto arcangelo maletta | ÿstilingue | elástica | espaços em disputa, forças gentrificadoras e cerceadoras, forças de resistência, o bar do seu juventino, correrias, conflitos, coexistência entre fluxos e estadias [moradias, lojas, bares, sebos]: um dia instalaram grades ali perto do seu ju, lua nova, sabe? segundo andar. então, ali tem um espaço interessante, autogerido, saca? toca a campanhia: ÿstilingue | ÿ o ÿ já teve várias fases, há muitos anos rola. lembra do gato negro? e esse tanto de bar que tá abrindo aqui em cima, né. é, já tem um tempo. cê viu um que abriu um novo, olÿmpio? e o ÿ, tá rolando ainda? ah, agora é elástica. a gata negra vai ser um estúdio e rádio libre. o ÿsntaurante popular abriga a cooperativa de garçonetes mas tá na roda também. a ideia é desenvolver e propiciar o desenvolvimento de inovações tecnológicas, organizativas, político-filosóficas e poéticas que propiciem a generalização de três conjuntos de princípios: a ética hacker, o software livre e o princípio de autonomia democrática. ah entendi | passa lá hoje não existe a campainha, criaram regras para usar o segundo andar. foi assim: apareceu um bar onde expulsavam poetas e o gerente dizia que hippie tem que apanhar. mas antes tinha o ÿstilingue. muitos projetos, autogestão, muito trabalho. apareceu a grade. aos poucos apareceram vários bares e a sacada do maletta mudou as cores e ritmos daquele edifício de novo. lá sempre muda, sempre diverso, se adapta, molda, mas acumula e retorna suas tensões. elástica | o que somos? somos o que temos feito: aelastica.org


precisa ocupar com poesia essa sacada gentrificada | sente a necessidade | volta a vontade de organizar sarau, estar em contato permanente, construir e multiplicar ideias | importante se posicionar num tempo de exceção | importante se mostrar num tempo onde discursos de marginalidade e maldição são apropriados, onde os novos caminhos já nascem autoritários, enrolados e sacanas goma | sarau elástico | o sarau tem que ser aberto, faz parte da ideia | rola de misturar de tudo, ser um espaço rico | se não rolar muita gente, pelo menos a gente se diverte | duas partes 1 uma com pessoas convidadas, com mais tempo e preparo 2 outra com microfone aberto | palco livre um zine para registrar tudo | material mostrado no sarau + bônus | coletivo se estabelecendo, não é mais ideia de uma pessoa, muitas ideias, material pra muito sarau

mesa de zines | rap | música | poesia | performance | cinema

masca masca masca amassa gruda deforma toma forma

a goma



goma

[ sarau elástico ]

Palavra Mascada primeira edição


Débora ARFantini [ 3, 5 ] Sara Não Tem Nome [ 6, 7 ] Fábio Jota [ 8, 9, 10 ] Dayane Gomes [ 12, 13 ] Hugo Lima [ 14, 15, 16, 17 ] Marcos Assis [ 18, 19 ] Renato Negrão [ 20, 21 ] Murilo Caliari [ 23, 24, 25 ] Iago Passos [ 26, 27, 28 ] Circe Clingert [ 30,31 ] Jeannie Helleny [ 1 , 11, 22, 29, 32, 33 ] Matheus Matheus [ 34 ]


(imagem 1)

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chiclé* bubble gun cospe balas de festim é big, é big, é big, é big, é big bang * do náuatle tzictli, goma Chiclets® rapazinho saca bubble gum moça dá bola e grudam-se para sempre

clichê rapazinho saca bubble gun moça não dá bola, que saco ele dá nela uma coça, soca mete bala

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ruminação: hóstia é pra engolir sem mastigar, senão é pecado. chiclete, a gente mastiga, mastiga, mas não pode engolir. até hóstia vira cocô, chiclete, não. chiclete a gente cospe fora, no asfalto, ou cola debaixo de um móvel pra virar fóssil de novo.

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palavra mascada: que sai da boca do poeta com língua presa

DEMARCAÇÃO

no território da fifa torna-se proibido o uso de palavras mascaradas

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GOMA

palavras que explodem na boca feito bubbaloo palavras que explodem na boca feito bomba palavras que explodem na boca fazem revolução

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Uma barata passa por mim enquanto caminho sem rumo, eu penso em falar com ela, mas ela não ia querer falar comigo – baratas são sempre bem esnobes, tem a ver com o modo que elas são educadas. Então eu continuo andando, e a barata anda. E eu penso em matá-la, já que nós nunca vamos ser amigos nem coisa do tipo. Na verdade, sem as baratas nossa vida seria bem melhor. O que realmente acontece é que durante a noite, quando estamos dormindo e estamos nos divertindo com nossos sonhos, vendo banheiras e elefantes fazendo sexo na festa de aniversário de 80 anos de vovó enquanto seu pai fica te falando que você deveria ligar para seu dentista para remarcar a consulta e que você deveria ter feito isso antes e você está suuuper chateado porque não fez isso e então você vai ligar pro dentista e essas coisas, enquanto isso naquilo que normalmente é reconhecido como realidade objetiva as baratas passeiam por nossos rostos e corpos e vão deixando pequenas quantidades de um entorpecente fortíssimo que elas produzem em seus laboratórios secretos, que nos deixa tontos pelo resto do dia e vão se acumulando no organismo, e se você não fizer nada aos 22 anos já é irreversível. 8


Eu realmente deveria ter matado aquela barata. Mas ela já foi embora, e se eu tivesse matado ela daqui a dois anos eu estaria louco ou morto ou um pouco de cada. Elas iriam me perseguir. Aconteceu com Van Gogh, Maiakovski, Torquato... Outros sobreviveram, mas nunca mais foram os mesmos, agora ficam andando na corda bamba viciados em auto-engano constante. Tem uns que fingem que não sabem. E tem uns que estão tempo demais nas ruas e são espertos demais, então eles sempre conseguem se esquivar com maestria. Mas esses estão em extinção, a maioria já tá em outro rolê.

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três pedaços de metafísica 1. nos escombros do tempo a verdade das peles será extinta 2. porque é fácil se perder na noite e transcender sempre igual 3. danço balé em minha mente o tempo todo

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1 uma palavra mascada espremida entre os dentes, coberta de saliva, deforma e contradiz. palavra presa na cabeça, precisa ser dita, mas antes precisa ser mastigada. palavra precisa ser mascada para conter, ser outras palavras, para transformar se em outra. palavra mascada é o que você tem para dizer e não disse que tentou engolir e não pode, 2 para eles eu diria mas tento engolir e engasgo saio e volto a mascar pensamentos esmagados entre os dentes sei tudo que preciso dizer, já mastiguei tudo isso por dias conheço todas as formas possíveis dessa conversa que deformo e formo de novo com outra forma vai ficando mais desconfortável, o maxilar doí pela insistência ainda não consigo tirar da boca e planejo dizer a eles o que preciso 12


3 ele percebeu eu não respondi não queria que ele percebesse queria que ninguém desconfiasse mas ele me assustou não sabia que estava assim sem uma resposta apenas olhei para ele olhei para ele e não lembro do seu rosto, será que ele lembra do meu?

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VIDA SECRETA pro Murilo C

se você quiser sou metade homem, metade mulher sou sapa, viada, leviatã sou puta, sou freira, sou sua irmã sou moço direito o cara perfeito se você quiser sou pêra, uva, maçã sou buda, são judas, iansã seu mestre, discípulo, vassalo sou seu escravo, barregã sou seu fã se você quiser sou ginsberg, homero, fontela sou hitler, sou macho, sou fera sou ômega três sou alfa, sou beta sou inteiro poeta 14


CONVERSA MOLE veio n達o sei de onde elogiou o meu armani pediu meu telefone me ofereceu um drink me marcou num ringtone me convidou prum samba me esfregou no seu rabanne matou a minha sede saciou a minha fome & nem ligou no dia seguinte

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NÃO VAI TER

não vai ter reprise não vai ter novela não vai ter cerveja não vai ter arctic monkeys no lolla não vai ter água em sp não vai ter dia dos namorados não vai ter conversa nao vai ter sim não va ter, não não vai ter greve não vai ter beijo não vai ter igreja não vai ter memória não vai ter censura não vai ter história não vai ter frente não vai ter verso não vai ter voto não vai ter tarifa não vai ter quarto não vai ter banheiro não vai ter cozinha não vai ter copa 16


PICHAÇÃO escrever nos muros e nas entrelinhas dos muros e na resistência dos muros e na imponência dos muros e nas profundezas dos muros e na arquitetura dos muros e na superfície dos muros e na solidão dos muros e na palidez dos muros e na solidez dos muros e na fixidez dos muros e na porosidade dos muros e na rigidez dos muros e na inclinação dos muros e na desconstrução dos muros e na carnadura dos muros escrever um livro mudo dos poetas da rua

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eu preciso escrever muito para metabolizar os acontecimentos por isso escrevo, por instinto de autopreservação eu não sei o que eu quero quando abro um espaço em branco e começo a preencher em letras em vozes em tamanhos sem cabimento de mim mesmo a leitura sem fim o abismo a página em branco, toda tinta é uma procuração à página e a você eu pensei em escrever muito mais sobre isso que aconteceu mas em vez, prefiro ir desvendando como cortinas que corto uma a uma ansiosamente a você, espaço em branco que preencho minhas letras cuspo uma a uma minhas aflições lembro as suas, às suas lembranças o nosso encontro eu preciso escrever tanto e me mostrar, como sem cabimento pode um trecho dentro do idioma a você, que não me preencho nessa lista desabo noites a risca, nos riscos, nos toques é que toda poesia é feita eu podia acreditar, mas por isso escrevo à risca eu posso em você descontar a lida de dias e noites mal dormidos toda essa angústia de quem não aprendeu a viver acontecimentos, qualquer coisa que se diga mas a tinta, toda tinta é caminho ao abismo da próxima página:

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eu preciso dizer muito para compreender por isso devaneio, por isso instinto em que preservo meu rito eu sei o que vou querer quando estiver no meio de mim no meio do poema toda linguagem é passagem cuspo uma a uma meus pesadelos a você, ruído por trás de tudo puro no seu ouvir passivo eu preciso morder, por isso corro muito para atravessar a página em vão, outras virão mas a você, em você confidencio minha mentira a que vivo, a que escrevo e a que fica no meio cuspo a você uma a uma as páginas em branco que teci meras linhas é muito mais atenciosamente que vou desvencilhando a hera que se prendeu no caminho afinal, o nosso encontro, é tudo passagem seus olhos que se prendem milésimos de segundo em cada palavra reconhecem o idioma, e preciso escrever tanto, viver é prolixo desmedido de repetição a você, atenciosamente desviro, desvirão outras tintas, outros pesadelos é preciso estar em você, a você teço essa ladainha revirante mas a caminho, qualquer coisa é descoberta, se passa se desce a rama formada pelo que foi deixado viver mas se é a caminho, movimento, o traço-registro faz do poema algo não pior que o abandono 19


SEU ALAOR

poesia é o mistério mais nítido sombra mais palpável matéria

desejo corresponder para sério relacionar

tratar seu alaor caixa postal 0800.171.69

vou mostrando como sol e vou sendo como poço particípio send o chicletes do planeta 20


tutu de cabelo inhoque de acne pirĂŞ de barata ostra ao catarro pus no prato hum pum

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nós, nossos laços os nossos braços entrelaços abstratos, me embaraço surgem nós

meu espírito frânces não toma banho : passa perfume

é crédito, não precisa da minha via não

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no meu verso um vazio branco cor de limbo lácteo, o carvão que nos cerne e os metais envolta de nós me assustam e se dissolvem no decorrer do dia mecânico

ENSAIO DE UMA EXISTENCIA SEM PRECEDENTES:

tudo que vejo uma cegueira láctea um papel pálido uma mente alva uma existência em branco descanso em 24


me assaltou com um espeto de carne querendo vĂŞ-la a todo instante acendi um cigarro o Ă´nibus chega mais rĂĄpido a tempo de interromper o trago no meio fio

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REXISTÂNSIA [texto para performance] ninguém me enxerga atrás da máscara. não se enxerga nada senão o vazio da minha boca aberta engasgada silenciada pelo ruído caótico de babel : aqui das ruínas /escuto/o ruído da história /resíduos /do velho mundo /um /chiado insuportável. - do caos, o corpo em ânsia. o que o ele quer?

rexistânsia é / resistir ao mais do mesmo / existir de novo / devir-a-ser-outro/ansiar pelo / deslocamento / rexistânsia é / viver em constante / construção de outros / inconstâncias / criação de diferenças / o pulsar rumo ao / eterno porvir realizado / na agoridade do devir / - reconfiguração / - deslocamento/ - deambulação / - movimento / pulsar inato do corpo / necessidade última de renascimento diante da morte / renascer outro / - rexistânsia / é deixar o corpo ser corpo. 26


o que não é (o que não ) é tudo o que sim

: tudo o que tem pra hoje ( e sempre

)tudo o que não chega a ser tudo porque tudo ou quase que nada tanto faz é que é tudo incompleto por mais que dito e redito nenhum nome preenche este vazio só o silêncio o ruído que dele sai

: as vozes do não 27


BABEL

DOS CORPOS

mil lĂ­nguas sibilantes serpenteiam os poros da tua superfĂ­cie em gozo eterno saciando minha sede eterna

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dadadadadadadaddddadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadaddadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadumestadoigualadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadaloucuradadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadarteestrapolaoquepodeserconsideradonormaldadadadadadadadadadadadadadadadessaéaconsepçaodearte?dadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadachoquepodeserdadadadadadaadadadadoquevcacha?????????????dadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadacoladadadadadadadadafaltoud adadadcoooooooooooooooooooooooooooooooooolaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaafaltoucolaloucolafaltoudaaddaadaadaadaadaaeeeeeeeee +++++++nadadadadada.... sepçaodearte?dadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadachoquepodeserdadadadadadaadadadadoquevcacha?????????????dadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadacoladadadadadadadadafaltoudadadadcoooooooooooooooooooooooooooooooooolaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaafaltoucolaloucolafaltoudaaddaadaadaadaadaaeeeeeeeee +++++++nadadadadada....

uma brincadeira assim como todas as outras...

me diz vc....o q nao deve ser levado a serio....

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menino rua esquina crack um acidente

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errro tilt pós produção - noite clip abundância das fábricas chinesas é preciso correr super nintendo, eu nunca entrei num disco voador via láctea escorre rosa como suor

trago amor virou fumaça volto pra alquimia dos cheiros quentes líquido e só de novo e sexo nós temos 3295-0686 32


pirulito

matemática não, não quero benzina me agarra nas salas vazias vi o mar pela primeira vez

somos entretidos a gente é instante desejos evaporam sapatos de marca corremos encontramos desencontros cacos de vidro também brilham será que posso ama-los

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O SUICÍDIO

Então meus olhos vão ver o que tenho por dentro...

Escuta, povo senil que não QUER NEM SABER, que não PODE FAZER NADA: vocês estão envelhecendo à medida em que o tempo passa. Eu quero ser sempre novo e ter o viço do pássaro que acaba de sair do ovo. Eu tô indo pela aventura do inesperado e levando o cansaço de ter tentado e ter sido deixado sozinho. Qual ferida vou ter que sofrer? Não tenho medo do machucado. Só não tô afim de ficar de pijama sentado no sofá esperando pelas promessas das guerras tristes que vocês acabaram de inventar.

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renatonegrao.com jeannie.me

hugolimm.wix.com/hugolima

saranaotemnome.wix.com/sarantn

cartografiasentimental.wordpress.com

luzdeplastico.blogspot.com.br cรกrdeo.blogspot.com

junkiesvilipendiados.blogspot.com.br

murilocaliari.tumblr.com iagopasso.tumblr.com

facebook.com/fabio.jota.77 37


(cartaz parte 1)


(cartaz parte 2)


(contra capa)


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