4 minute read

NEUROLOGIA

Next Article
NEUROLOGIA

NEUROLOGIA

O AVC

não fica em casa

Advertisement

O AVC MANTÉM-SE COMO A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE, INCAPACIDADE E DE ANOS DE VIDA PERDIDOS EM PORTUGAL. POR HORA, TRÊS PORTUGUESES SOFREM UM AVC, DOS QUAIS UM MORRE E UM FICA COM SEQUELAS GRAVES. E A PANDEMIA TROUXE DESAFIOS ADICIONAIS.

…E PREVENIR

É O MELHOR REMÉDIO

NO ÚLTIMO ANO, a pandemia covid-19 trouxe desafios adicionais à prevenção e tratamento do acidente vascular cerebral (AVC), nomeadamente dificultando o acesso aos cuidados de saúde, levando a atrasos na deteção dos sintomas e limitando, por isso, as possibilidades de tratamento de alguns doentes. Adicionalmente, dificultou o acesso e continuidade dos cuidados de reabilitação dos sobreviventes de AVC.

CHEGADA TARDIA

AOS CENTROS DE TRATAMENTO

A principal preocupação dos especialistas, neste período de pandemia, prendeu-se com a chegada tardia dos doentes aos centros de tratamento de AVC, por receio de infeção pelo vírus SARS-CoV-2.

De acordo com um inquérito nacional de perceções aplicado pela Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC), em 2020, às Unidades de AVC do País, a afluência de doentes aos Serviços de Urgência e Unidades de AVC foi significativamente afetada, tendo diminuído também o número de doentes tratados com fibrinólise e trombectomia mecânica. Esta tendência tem impacto nas taxas de mortalidade e recuperação funcional dos doentes com AVC.

VIA VERDE DO AVC

Se é verdade que deve ser reforçada junto da população a importância do confinamento, é igualmente fundamental lembrar que o 112 deve ser ativado sempre que for identificado um dos sinais de alerta de AVC (face descaída, perda de força no braço/perna ou alteração da fala), de modo a permitir que os doentes sejam orientados para a unidade hospitalar que permite realizar tratamento emergente adequado.

Assim, os doentes com suspeita de AVC não devem recear recorrer aos Serviços de Urgência, porque os hospitais têm circuitos diferentes para os doentes com e sem sintomas de infeção por SARS-CoV-2, dispondo de uma Via Verde específica para os doentes com AVC.

Embora ainda não tenhamos dados concretos do impacto da segunda vaga no acesso aos cuidados de saúde, é necessário continuar a sensibilizar a população para que o AVC seja visto como uma emergência potencialmente tratável, em que cada minuto conta, independentemente da situação de pandemia que vivemos. Tempo é cérebro!

“FAST HEROES 112”

Neste âmbito, as crianças têm um papel particularmente importante como veículos de informação no seio familiar e até na eventual deteção de sinais de alerta em familiares. Pela facilidade de aprendizagem que as caracteriza, são um público prioritário de educação para a Saúde.

Por este motivo, a SPAVC associou-se recentemente à Campanha internacional “Fast Heroes 112”, que conta com o apoio da Organização Mundial de AVC (WSO). Esta iniciativa tem como objetivo “transformar” as crianças, entre os 5 e os 9 anos, nos super-heróis lá de casa, com potencial para salvar vidas das pessoas que sofrem um AVC, nomeadamente dos avôs e avós.

Com a ajuda de atividades lúdicas e interativas, as crianças aprendem a identificar os três sintomas mais comuns do AVC, associando-os imediatamente à necessidade de chamar uma ambulância o mais rapidamente possível, ligando para o número 112.

As atividades educativas estão disponíveis, de forma totalmente gratuita, na página: https://pt-pt.fastheroes.com, podendo constituir uma excelente atividade para realizar em conjunto com os mais novos, tanto em casa como no âmbito escolar.

Pela

DRA. MARIANA CARVALHO DIAS

Médica neurologista. Membro da Sociedade Portuguesa do AVC

ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO

Para além disso, importa lembrar que o AVC não é um acontecimento inevitável. Em 90% dos casos, os AVC estão associados a fatores de risco que podemos controlar e tratar. Por este motivo, é tão importante aprendermos estratégias que nos permitam reduzir o risco e contribuir para o tratamento desta patologia.

Estas estratégias devem ser mantidas, e mesmo reforçadas, em períodos de confinamento:

4CONTROLO DA PRESSÃO ARTERIAL –

A hipertensão arterial está presente em metade dos doentes com AVC e deve ser vigiada regularmente e tratada através de mudanças no estilo de vida, concretamente com a redução do consumo de sal e/ou medicação;

4PRÁTICA DE EXERCÍCIO FÍSICO – Um

terço dos AVC ocorrem em doentes que não praticam atividade física, recomendando-se a sua prática regular (cinco vezes por semana);

4DIETA SAUDÁVEL E EQUILIBRADA –

Cerca de 25% dos AVC estão relacionados com maus hábitos alimentares, devendo ser seguida uma dieta equilibrada, com ingestão de cinco ou mais porções de frutas e vegetais por dia;

4REDUÇÃO DE COLESTEROL – Deve

reduzir-se o consumo de colesterol

“mau” (LDL), privilegiando o consumo de gorduras insaturadas e não-hidrogenadas (abacate, nozes e azeite), em vez de saturadas (gordura da carne, pele de aves e fritos);

4MANTER UM PESO ADEQUADO –

Aproximadamente 20% dos AVC estão associados à obesidade, sendo que uma boa forma de perceber se precisa de

emagrecer é dividir a medida da sua cintura pela medida da sua anca. Se o número for maior que 0,9 (homens) e 0,85 (mulheres), o seu peso está a aumentar o risco de AVC e emagrecer será benéfico;

4CONTROLAR E TRATAR A DIABETES

MELLITUS – A diabetes mellitus está associada aos mesmos fatores de risco (hipertensão, sedentarismo e obesidade) e aumenta também o risco de AVC, pelo que deve ser controlada e tratada;

4NÃO FUMAR E EVITAR O CONSUMO

DE BEBIDAS ALCOÓLICAS – Devem ser evitados hábitos tóxicos, sobretudo o tabagismo e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Nos fumadores, o sucesso da cessação tabágica aumenta nos casos em que é pedida a ajuda de profissionais de saúde;

4TRATAR A FIBRILHAÇÃO AURICULAR

– Existem algumas arritmias cardíacas, como a fibrilhação auricular, que podem aumentar o risco de AVC e que devem ser tratadas quando identificadas.

Estas medidas preventivas devem ser aprendidas e aplicadas por todos, pois o AVC não escolhe idade, sexo ou raça para acontecer.

This article is from: