Estudo sobre o artigo- Profissionalidade e formação saulo carvalho

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SILVA, R. D. DIAS, A. A. e PIMENTA, S. A. Profissionalidade e formação docente: representações sociais de professores. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 14, n. 42, p.549-568, maio/ago. 2014. Parecer1 Saulo Rodrigues de Carvalho2

Neste trabalho discutirei a questão da profissionalidade docente expressa na pesquisa publicada em formato de artigo acadêmico pela Revista Diálogo Educacional. Nele, buscarei levantar os aspectos metodológicos que cercam a investigação sobre o trabalho educacional e analisarei as questões pendentes acerca da formação docente, levando em consideração os objetivos da pesquisa em ênfase. O artigo em estudo trata especificamente de uma pesquisa realizada com professores da rede pública estadual de Pernambuco. Nela as autoras buscam identificar as influências da formação inicial dos professores atuantes na constituição da representação social da profissão docente. Partem assim dos pressupostos teóricos a respeito da profissionalização da docência tendo como expoentes os estudos apresentados por Shulman (1986), Gautier (1998), Tardiff (2000, 2002), Pimenta (2000), Brzezinski (1996), Cunha (1994), Gatti (1997) e Libâneo (1998)3. Apresentam como aporte metodológico a Teoria das Representações Sociais destacando os trabalhos de Moscovici (1978), Jodelet (1989) e Abric (1994). A pesquisa contou com a participação de 80 professores de 20 escolas da rede pública de Pernambuco, sendo que 50 lecionavam nos anos finais do ensino fundamental e 30 no ensino médio. As pesquisadoras aplicaram como procedimento para a coleta de dados um questionário de associação livre e um de associação dirigida. O primeiro consistiu na construção de um campo semântico das representações a partir do termo indutor sugerido, no caso, formação. O segundo questionário foi constituído com base no campo de palavras produzido pelos sujeitos 1 Trabalho destinado à disciplina “Formação do Professor, Trabalho Docente e Práticas Pedagógicas” do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da UNESP-FCL/Araraquara-SP. Ministrada pelo Prof. Dr. Edson do Carmo Inforsato. 2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da UNESP-FCL/Araraquara-SP. Mestre em Educação Escolar pelo mesmo programa. 3 Referências pertencentes ao artigo em discussão.


da pesquisa solicitando-os que selecionassem as que mais se aproximassem do termo em questão e destacam que “quando uma palavra é escolhida diversas vezes, isso possibilita o levantamento dos termos associados aos elementos da representação que podem ser seus organizadores” (SILVA; DIAS; PIMENTA, 2014, p.558). A decodificação dos dados foram traduzidos em duas tabelas nas quais, em face dos pressupostos teóricos levantados, as análises puderam ser realizadas. Para as autoras a escolha do método de pesquisa se coloca como ponto fundamental para a compreensão dos parâmetros de profissionalidade que os professores consideram importantes em sua formação. Deste modo, segundo especificam, a Teoria das Representações Sociais (TRS) permite “[...] compreendermos que o sujeito é construtivo e não predeterminado, ou seja, ele elabora, reelabora e altera os significados das coisas com as quais interage no ambiente social” (SILVA; DIAS; PIMENTA, 2014, p.552). Nota-se a partir desse ponto nodal que toda a justificativa do trabalho se encontra fundamentada na aplicação dos parâmetros teórico-metodológicos da TRS. Dedicam, por conseguinte três extensos subtítulos destinados a explanar o universo epistemológico da TRS relacionando-os ao campo de pesquisa acerca da formação de professores. Referendam desse modo a TRS como um método adequado ao exame da construção da identidade dos professores com sua profissão. Escrevem: Sendo a representação determinante na construção da identidade e influenciável pela forma de o conhecimento ser distribuído em dada realidade, é importante, para compreendê-la, a análise do contexto em que foi gerada – no caso aqui proposto, o processo de formação inicial dos professores que lecionam na rede pública estadual de Pernambuco. (SILVA; DIAS; PIMENTA, 2014, p. 595) Aqui é possível apontar um problema no tocante à coerência interna da pesquisa em seu enunciado. Embora reconheçam a necessidade de analisar o contexto da formação de professores e o desenvolvimento histórico de suas relações e conhecimentos profissionais, a única informação a respeito do contexto, decorre apenas do recorte da realidade pesquisa, de que são professores da rede pública estadual de Pernambuco. Sobre a formação de professores, os subsídios históricos que apresentam são muito irrelevantes e carecem de referências mais substantivas. Neste sentido, faltam argumentos que sustentem as afirmações a respeito do quadro histórico da formação docente apresentado pelas autoras, os quais, reproduzirei abaixo, com destaque:


Desde a criação das licenciaturas no Brasil, nas antigas faculdades de Filosofia, na década de 1930, até os dias atuais, a formação de professores vem revelando desencontros e dilemas. Os problemas mais recorrentes são: dicotomia entre disciplinas específicas e disciplinas pedagógicas e entre bacharelado e licenciatura; desarticulação entre formação acadêmica e realidade prática (Idem, p.553, grifo meu) Quais seriam esses desencontros e dilemas da formação docente? Como a realidade histórica do período dimensionou tais problemas? E por fim, como é possível aceitar que desde 1930 até a atualidade, tais problemas continuem os mesmos? Quais são as evidências históricas para tal assertiva? Não há em nenhum momento do trabalho a preocupação de apresentar alguma literatura que ao menos discuta tais perspectivas do ponto de vista histórico. A única tentativa de contextualização da formação docente é descrita no parágrafo seguinte, onde procuram situar o início do debate formativo a partir da abertura democrática do país. Mesmo assim, encaminham um discurso generalista como podemos ver nesta citação: “Essas dicotomias e desarticulações tornaram-se objeto de estudo e discussão, sobretudo a partir da década de 1980, quando se iniciou o movimento de reorganização da sociedade civil brasileira, depois de longo período de ditadura militar”. (Ibidem) No entanto, ao que cabe a contextualização histórica e social da TRS, as autoras apresentam uma argumentação mais sólida, discutindo os seus referenciais teóricos e tomando posicionamentos em relação às tendências decorrentes do desenvolvimento da teoria proposta por Moscovici (1978). Declaradamente, se situam no âmbito da “Abordagem Estrutural Representada”, desenvolvida com maior ênfase por Abric (1994). É deste referencial metodológico que elaboram os instrumentos de coleta de dados. Devo destacar, contudo, o cuidado e a rigorosidade que as autoras demonstram na aferição da ferramenta de coleta das informações em observância às especificidades da “Abordagem Estrutural”. A discussão dos resultados parece seguir os princípios metodológicos propostos por Abric. De início, apresentam o campo categorial de natureza factual, como a porcentagem de professores do sexo masculino e feminino, a faixa etária e o tempo de serviço dos professores, relacionando-os respectivamente com o nível de ensino e a esfera do conhecimento que atuam. Limitam-se a constatar que há a predominância de mulheres na docência e que “[...] no Ensino Médio há o maior número de homens, e nas disciplinas de Ciências Humanas, a predominância é de mulheres” (p.559). Sobre o tempo de trabalho dos professores apontam


que “[...] a amostra retrata maior número de professores com experiência, mais de 10 anos na Educação Básica”. (Ibid.) A respeito da faixa etária apontam que “quase metade dos docentes (43%) encontram-se na faixa etária de 35 a 50 anos; apenas 8% entre 25 e 34 anos” (Ibidem). São dados que as autoras isentam de uma análise mais apurada e parecem apenas contextualizar – superficialmente – a realidade pesquisada. Destarte, retomo a questão da fragilidade dos argumentos históricos e sociais que perfizeram a formação docente. Há de se questionar por via destes dados iniciais o processo de feminização do magistério (ALMEIDA, 1998, 2006; CHAMON, 2005; WERLE, 2005), o desinteresse pela docência (GATTI, 2009) entre outros pontos elementares que dizem respeito tanto a profissionalização quanto a formação da identidade docente. No entanto, não devemos perder de vista que o objetivo da pesquisa em voga encontra-se na representação imediata e comum que os professores fazem de si mesmos. Neste sentido, em face da significação das representações dos professores, foi estabelecido de forma arbitrária pelas autoras da pesquisa, selecionando de início, segundo elas, “as palavras que nos pareceram mais representativas” (SILVA; DIAS; PIMENTA, 2014, p. 560), organizando as categorias de análise “de acordo com a natureza dos conteúdos apreendidos” (Ibid.). Deste modo estabeleceram as dimensões Acadêmica, Pedagógica e Profissional da representação docente. Chegando aos seguintes dados: “As representações dos professores mostram um percentual elevado da dimensão pedagógica (44%) e da dimensão acadêmica (33%). A categoria da dimensão profissional aparece com apenas 23%”. (Ibid.). Em suas análises apontam que a preocupação dos professores com a formação se estabelece tanto a partir dos conteúdos a serem ensinados quanto da forma de ensino. No decorrer do estudo afirmam que a grande influência da dimensão acadêmica na representação social dos professores investigados. Um dado que não nos causa estranheza uma vez que a proposta tem como escopo o estudo da formação inicial dos professores. No entanto, identificam esse fato com a racionalidade técnica instrumental, apoiando-se em Schön (1992).

Concluem,

portanto, que existe uma ausência a respeito da dimensão profissional na formação docente, entendendo essa profissionalização como um processo de constante reflexão sobre a atividade docente. Para mim a pesquisa demonstrou muitas inconsistências teóricas, as quais poderiam ser sanadas com a delimitação mais precisa do campo teórico que sustenta a pesquisa, principalmente nos aspectos históricos e sociais que demandam a questão da profissionalidade


docente e formação de professores. Ressaltou-se mais a questão metodológica do que o objeto de pesquisa, de modo que, a aplicação da TRS por si só, fosse a chave para a compreensão dos problemas históricos e candentes da formação docente. REFERÊNCIAS ABRIC, J. C. Pratiques sociales et représentations. Paris: PUF, 1994. ALMEIDA, J. S. Mulheres na educação: missão, vocação e destino? A feminização do magistério ao longo do século XX. In: SAVIANI, Dermeval et al. O legado educacional do século XX no Brasil. 2. Ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006. ALMEIDA, J. S. Mulher e educação: a paixão pelo possível. São Paulo: Unesp, 1998. BRZEZINSKI, I. Pedagogia, pedagogos e formação de professores: busca e movimento. Campinas: Papirus, 1996. CHAMON, Magda. Trajetória de feminização do magistério: ambiguidades e conflitos. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. CUNHA, M. I. O bom professor e a sua prática. Campinas: Papirus, 1994. GATTI, B. A construção da pesquisa em Educação no Brasil. Brasília: Plano, 1997. GATTI, B. Atratividade da Carreira Docente no Brasil. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 2009. GAUTHIER, C. Por uma teoria da Pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Unijuí, 1998. JODELET, D. Lés representations sociales. Paris: PUF, 1989. LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professores? Novas exigências educacionais e MOSCOVICI, S. A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. PIMENTA, S. G. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, SCHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. SHULMAN, L. S. Those who understand: knowledge growth in teaching. Educational Researcher, v. 15, n. 2, p. 4-14, 1986. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002. TARDIF, M. Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários. Revista Brasileira de Educação, n. 13, p. 5-23, 2000. WERLE, Flávia Obino Corrêa. Práticas de gestão e feminização do magistério. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 35, n. 126, Dez. 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.phpscript=sci_arttext&pid=S010015742005000300005&lng=en &nrm=iso>. Acesso em: 14 Abr. 2014.


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