correiobrasiliense_acabou-a-vacina-da-gripe-07-07-2012

Page 1

CMYK

28 • Cidades • Brasília, sábado, 7 de julho de 2012 • CORREIO BRAZILIENSE

SAÚDE/ Com aumento de 77% dos casos de H1N1 no país, principalmente na Região Sul, o brasiliense fica à mercê da sorte, já que é impossível fazer a imunização em clínicas particulares do DF. Previsão é de reposição a partir da próxima semana

Acabou a vacina da gripe Monique Renner/CB/D.A Press

» ANA POMPEU s vacinas contra gripe na rede privada de saúde estão esgotadas. No Distrito Federal, restavam, até a tarde de ontem, apenas cinco doses disponíveis nas clínicas particulares. No resto do país, a situação não é diferente. Principalmente na região sul, onde o subtipo H1N1 da influenza infectou e matou mais pessoas, não existem unidades à venda. Além disso, os laboratórios que trouxeram os lotes para o Brasil não têm previsão para refazer os estoques. As informações são da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM). A corrida pelos lotes aconteceu por causa do aumento de casos e mortes — até o momento nenhuma pessoa teve a doença confirmada no DF. Mesmo assim, autoridades e especialistas no assunto alertam para que a população não entre em pânico porque não há mais risco de que a pandemia de 2009 se repita este ano. O presidente da SBIM, Renato Kfouri, defende que, por estar na sua terceira temporada de vacinação, o H1N1 não tem mais o mesmo potencial pandêmico daquele ano. “Não existe apenas a proteção individual, mas também a coletiva. Quanto mais pessoas vacinadas, menor a chance de circulação do vírus na cidade”, explica. Ele lembra que na campanha monovalente de 2010, específica para esse subtipo, 89 milhões de pessoas se vacinaram — número menor apenas que o da China. Nesse sentido, mesmo aqueles que não receberam os anticorpos estão mais preservados. Além disso, pelo menos 30% da população brasileira já teve contato com o vírus. “Mas é preciso entender que a influenza tem potencial de evoluir para uma doença grave. Leva à hospitalização e à morte e isso vai continuar acontecendo. É necessário revacinar todos os anos porque, por mais que a população já tenha uma memória de proteção, essa não é uma vacina de longo prazo”, explica Kfouri. No Distrito Federal, a presi-

Prevenção

A

» Lavar as mãos várias vezes ao dia ou usar álcool em gel a 71% ,retirando acessórios como anéis

» Evitar tocar a face com as mãos e proteger a tosse e o espirro com lenço descartável

» Procurar um serviço de saúde caso apresente a síndrome gripal, definida pelo surgimento, simultaneamente, de febre de início súbito, tosse ou dor na garganta, dor de cabeça, dor nos músculos ou dor nas articulações

» Não divida objetos de uso pessoal, como toalhas de banho, talheres e copos.

Os professores Wagner Ricci e Adriana com as filhas Alice (no colo) e Juliana: família conseguiu tomar as doses necessárias

Aumento do número de casos Em comparação com o ano passado, os casos cresceram 77% — em 2011, ocorreram 181 e, neste ano, foram 790. Um morador de Águas Lindas de Goiás foi diagnosticado com a gripe suína (H1N1). Além dele, a Secretaria de Saúde do DF analisa os exames laboratoriais de 26 pessoas que têm sintomas semelhantes aos da doença. O pior quadro é em Santa Catarina, onde 45 pessoas já morreram, o que significa 41% do total do país, que tem 85 óbitos.

dente da regional da entidade, Cláudia Valente, conta que as doses acabaram mais cedo que o esperado. “Como tivemos esse aumento de casos, a procura foi bem maior. A vacina chega em março e costuma durar até setembro. Existe a promessa de que até a semana que vem um dos laboratórios traga um novo lote, mas não é nada concreto”, diz. Apesar de não estar informada sobre o aumento do número de casos da doença, desde a pandemia de 2009, a servidora pública ThaísCavalcantideAssis,51anos, e a família se vacinam todos os anos. “Eu já tomei. Agora estou procurando para meu filho. Como existe um calendário de vacinação, procuro manter em dia.”, conta. No entanto, ela vai precisar verificar se o órgão para o qual trabalha disponibiliza doses para dependentes. Ao contrário de Thaís, muitas pessoas se preocupam mais com

a circulação da vírus H1N1. Os professores Adriana Maria Ricci, 36 anos, eWagner Ricci, 46, procuraram a clínica de vacinas para dar as doses previstas no calendário da filha Alice, 4 meses. Aproveitaram para atualizar o da filha mais velha, Juliana, 9 anos, com a vacina de Hepatite A. Wagner havia se imunizado na rede pública de saúde. Na visita de rotina, pediram também as doses contra a gripe para Adriana e Juliana. “Tomei naquela época do surto e depois não tomei mais. Brasileiro só acorda quando tem crise. Agora que existe o risco de agravamento da situação, vamos vacinar a família toda”, diz Adriana. O receio chegou mesmo sem a confirmação de casos no DF.“Não quero ser o primeiro”, assegura Wagner. Ele diz ainda que não concorda com a definição de um grupo de risco para ser vacinado na rede pública. “A maioria das pessoas fica suscetível a uma doença que

mata. Sem contar que eu posso manter meus hábitos de higiene, mas se meu vizinho não o fizer, também vou ser afetado”, analisa. Vacinar 190 milhões de habitantes exigiria a montagem de uma logística imensa e a disponibilização de uma verba muito maior. Por isso, a rede pública de saúde determina um conjunto de pessoas que tem prioridade. A explicação é do médico epidemiologista do Hospital Universitário de Brasília(HUB)JoséEvoidedeMoura. “A vacina beneficia qualquer pessoa que a tome, com maior ou menor grau de eficácia. Mas uma pessoa com cardiopatia vai ter muito mais benefícios do que um jovem de cerca de 30 anos, saudável. Além disso, não deixa de ser um medicamento e, portanto, não é inócuo”, detalha o médico. Dentro do público-alvo, mais de 80% das pessoas foram vacinadas no país, ou mais de 24,12 milhões, pelo Sistema Público de Saúde (SUS).

A influenza tem potencial de evoluir para uma doença grave. Leva à hospitalização e à morte e isso vai continuar acontecendo. É necessário revacinar todos os anos” Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações

URBANISMO Carlos Moura/CB/D.A Press

Puxadinhos avançam pela Asa Norte Quatro anos depois de a Lei Complementar nº 766/08 (que regulamenta os puxadinhos da Asa Sul) ter entrado em vigor, diversas ações na Justiça e no Poder Legislativo têm postergado a padronização para construções em áreas comerciais da região. No passo da impunidade, bares e restaurantes da Asa Norte avançam na ocupação de área pública, com instalação de toldos e telhados em cima de calçadas. Ontem, o Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF e Territórios indeferiu a ação de inconstitucionalidade impetrada pela Federação das Associações Comerciais e Empresariais do DF. A entidade alegava que, enquanto o GDF regulamentou a questão na Asa Sul, o comércio na Asa Norte estava recebendo ordens de demolição em ocupações irregulares. Para atuar, a fiscalização aguarda o fim do prazo aprovado pela Câmara Legislativa do DF para regularização das áreas consideradas irregulares na Asa Sul. A lei editada em 2008 determina a utilização de, no máximo, seis metros nas fachadas posteriores, voltadas para as superquadras, além de as lojas não poderem ocupar as calçadas com nenhum mobiliário, como mesas e cadeiras, que impeça a circulação. Desde a implantação da lei, 1.450 comércios foram notificados para se adequarem ao padrão estabelecido, sob pena de multa de R$ 1 mil e demolição

do puxadinho. Entretanto, nos últimos quatro anos, o prazo de regularização acabou postergado. Segundo o diretor de Urbanismo e Projetos da Administração de Brasília, Leandro Mariani, de 2008 para cá, dos 243 blocos existentes na Asa Sul, 187 deram entrada no projeto e apenas 64 blocos (26%) foram aprovados por cumprirem os requisitos de acessibilidade e com os códigos de edificação previstos na lei. Os projetos foram encaminhados à Procuradoria-Geral do DF para realização do contrato de concessão de uso. Somente após passar pelo crivo do governo é que as ocupações são autorizadas. “Quem não está de acordo com a legislação urbanística fica passível de sanção. Na Asa Norte, não há nenhuma legislação que permita a utilização de área pública”, explicou Mariani.

Exceção A regra passa a valer a partir de 30 de abril de 2013 e quem não tiver padronizado a ocupação estará sujeito a ter a construção demolida. A lei, porém, não se aplica às quadras comerciais da 107, 108, 307 e 308 Sul, Unidades de Vizinhança criada por meio do Decreto nº 30254/2009 e que deu à capital o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, em 1987. O auditor fiscal da Agência de Fiscalização (Agefis), Roberto Gonçalves, disse que, até 2013, o trabalho da fiscalização se restringe ao acompanhamento dos co-

Relatório da Unesco

Na 116 Norte, um restaurante no subsolo expandiu seus limites com a construção de um telhado merciantes na entrega dos projetos. “A gente ainda não está demolindo porque as áreas são passíveis de regularização”, destacou. Enquanto o impasse na Asa Sul não é resolvido, situação similar ocorre na Asa Norte, com a colocação de toldos nas laterais dos blocos. Na 116 Norte, um restaurante expandiu os limites até as margens da calçada. Também na 116 Norte, outro restaurante no subsolo ocupa área coberta por telhado. Na 313 Norte, uma padaria instalou um toldo de 20m de largura. Para o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Alfredo Gastal, a situação da Asa Sul requer urgência. “O prazo para essa regulariza-

CMYK

» MARA PULJIZ

Memória

ção era para ter vencido há dois anos e a lei existe há quatro. Já deu tempo suficiente para eles se adequarem. Se o problema da Asa Sul, que era fácil de resolver, ainda não foi resolvido, imagina tentar fazer isso na Asa Norte!”, afirmou Gastal. Segundo a presidente da Associação Comercial do DF (ACDF), Danielle Moreira, o prazo foi ampliado pela primeira vez devido à falta de celeridade da Administração de Brasília na análise dos projetos. Outro problema tem sido as transferências das redes de água e luz. “Nós entramos com pedido de prorrogação porque o poder público não faz o papel dele. Temos esperança de que, até o próximo ano, o projeto saia de vez do papel”, destacou.

O prazo para essa regularização era para ter vencido há dois anos e a lei existe há quatro. Já deu tempo suficiente para eles se adequarem” Alfredo Gastal , superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

Em 5 de junho,a Unesco concluiu um relatório sobre a preservação original da cidade, detentora do título de Patrimônio Cultural da Humanidade.Consultores visitaram a capital em março e fizeram duras críticas à atuação dos governos local e federal para evitar o comprometimento do tombamento da cidadel. No documento, os especialistas disseram estar preocupados com os puxadinhos, a expansão ilegal da Vila Planalto e o preço exagerado dos imóveis, além dos problemas com o número de carros em Brasília. Os consultores ainda perceberam muitas contradições no Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), com os mecanismos legais de proteção em vigor. Após a visita, foi cogitada a possibilidade de Brasília ser incluída na lista dos patrimônios em risco ou de até ter o título, concedido em 1987, cancelado. Em 27 de junho, o Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco se reuniu em São Petersburgo, na Rússia, para debater o relatório, e ele acabou aprovado com algumas ressalvas. Os integrantes do grupo referendaram todas as críticas e as recomendações dos consultores da Unesco e determinaram que o governo preste contas até 1º de fevereiro de 2013 sobre as ações feitas para proteger o patrimônio.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.