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Quinta-feira, 22 de novembro de 2012 / 5C
Pulmões em risco Inflamação dos alvéolos, infecção, tosse, febre, dificuldade de respirar. Entenda a pneumonia, uma das doenças que mais matam crianças no mundo, e o que fazer para prevenir Divulgação
Cecília Dionizio cecilia.dionizio@diarioweb.com.br
A proximidade do verão pode tornar a vida mais agradável, em especial por afastar “fantasmas” como gripes e outras doenças típicas de inverno. Mas as doenças pneumocócicas ocorrem o tempo todo. A pneumonia, por exemplo, uma doença grave e que afeta crianças e adultos em igualdade de condições, pode ser fatal, não importa a estação. Até por isso, e pelo fato das crianças resistirem menos à doença, uma luta contra a pneumonia infantil teve início no último dia 12, Dia Mundial de Combate à Pneumonia, com o apoio da Associação Brasileira de Imunizações (Sbim). Adultos também correm o risco de desenvolver quadros graves e complicações por doenças com as quais não teve contato ou proteção na infância. Segundo a médica Melissa Palmieri, da Sbim e da Vigilância Epidemiológica de São Paulo, a partir dos 50 anos, como outros sistemas fisiológicos, a imunidade também começa a envelhecer e a resposta de defesa para novas doenças fica comprometida. “No adulto, vai acontecendo uma regressão progressiva no sistema de defesa: o número de anticorpos diminui, bem como a função das células de defesa existentes. Esse fenômeno é chamado de imunossenes-cência”, explica. Gravidade A pneumonia é a enfermidade que mais mata crianças com menos de cinco anos de idade em todo o mundo. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), ela
foi responsável pela morte de cerca de 1,5 milhão de crianças no planeta este ano, equivalente a 18% de todas as mortes ocorridas no período. Segundo o pediatra paulista Renato de Ávila Kfouri, presidente da Sbim, a pneumonia pode ser prevenida com vacinas, uma vez que se caracteriza pela inflamação dos alvéolos, onde se instala a infecção dos pulmões que os enche de fluidos e provoca tosse e febre, tornando a respiração muito difícil. Os dados da Organização Panamericana de Saúde (OPS) mostram que a maior parte das ocorrências de óbito está em países em desenvolvimento, onde o acesso à saúde é precário e as crianças sofrem com a falta de cuidados básicos. Prevenção Mas não só a pneumonia é causadora de danos a saúde pulmonar, há também outras enfermidades causadas pela bactéria pneumococo (Streptococcus pneumoniae) que podem ser evitadas quando se recorre à vacinação preventiva. Este recurso, apesar de amplamente divulgado, ainda é desconhecido de boa parte das pessoas, conforme mostra uma pesquisa recente feita pelo instituto de pesquisa GfK Custom Research Brasil, em parceria com a indústria farmacêutica, que ouviu 1,7 mil pessoas acima de 50 anos, em 11 regiões metropolitanas do País. Embora 64,2% delas tenham reconhecido que as vacinas são uma importante forma de se prevenir doenças, apenas 32% fazem uso do método como forma de garantir a saúde e o bem-estar. Além disso, a pesquisa mostra que 34,8% afirmaram que a pneumonia é uma doença grave, mas poucos entrevistados sabem que se trata de uma infecção pulmonar (5,4%).
VOCÊ SABIA?
Fortalecimento do sistema imunológico diminui risco de doenças pneumocócicas na infância
NÚMEROS E OUTRAS INFORMAÇÕES ■ Somente 54% das crianças com pneumonia são encaminhadas para tratamento adequado em países em desenvolvimento ■ Dos 8,8 milhões de crianças mortas em 2008, 1 em cada 5 morreu de pneumonia ■ A pneumonia mata mais crianças menores de 5 anos do que qualquer outra doença em todas as regiões do mundo ■ Somente o aleitamento materno nos primeiros 6 meses de vida é capaz de
reduzir de 15 a 23% os casos de pneumonia infantil ■ Ambientes limpos e organizados podem reduzir em 50% os riscos de uma criança contrair a doença ■ Há estudos que apontam existir relação entre o status econômico de uma família com o número de casos da doença. Quanto mais baixa é a renda mensal da família, maior é a incidência de pneumonia. A pesquisa é da médica Ana Lucia Andrade, da Universidade Federal de Goiás
Fonte: Liga Mundial Contra Pneumonia Infantil, criada em 2009 para aumentar a conscientização sobre a doença, principal causa de morte no mundo em crianças
Vacinação ainda encontra barreiras Imunização vale para todos Já consagrada pela Organização Mundial da Saúde, a vacinação ainda sofre preconceitos. Isso porque desde a descoberta de água potável ela é o maior avanço em saúde pública que se tem notícia no mundo. Mesmo assim, há quem acredite que as vacinas não sejam necessárias. Pior: que ainda a associem ao surgimento de problemas como autismo, por exemplo. A crença equivocada resulta em centenas de pessoas suscetíveis à ação de vírus e bactérias, o que pode colocar em risco conquistas como o controle da circulação do vírus do sarampo no Brasil. Estudos mostram que em 49% dos casos é a vacinação que pode prevenir a pneumonia, por exemplo. O pediatra Renato Kfouri reconhece que a melhor forma de prevenção é a vacinação. “Hoje já dispo-
mos de vacinas conjugadas, capazes de estimular uma resposta imunológica mais adequada e duradoura”, afirma. Com ele concorda o infectologista Marcos Cyrillo, coordenador da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM) e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia, que observa ser a imunização a melhor forma de proteção contra uma série de doenças também na idade adulta. “Isso porque as vacinas são capazes de impedir o ataque de vírus e bactérias que podem causar diversas infecções, sendo algumas delas, como a pneumonia, ainda mais agressivas e letais na maturidade”, lembra. Dados divulgados recentemente pela Secretaria Estadual da Saúde, de janeiro a junho des-
te ano, mostram que, do total de 61.830 mil internações notificadas por doenças pneumocócicas, em média 35 pessoas morreram por dia (ou uma a cada 41 minutos) por conta de complicações causadas pela pneumonia, em todo o Estado. Só em Rio Preto, foram 4.180 internações, das quais resultaram em morte mais de 320 pessoas. O balanço também revela que do total de internações notificadas pela doença, cerca de 20% foram de crianças menores de um ano. O pneumologista Fábio Pereira Muchão, de São Paulo, observa que o fato das pneumonias serem infecções pulmonares que podem ser causadas por vírus, bactérias ou fungos requerem um diagnóstico precoce, pois podem ser contagiosas e transmitidas por meio de contato direto, como gotículas de saliva. (CD)
A vacinação também é a melhor forma de proteção dos adultos e idosos contra doenças relacionadas ao pulmão, que, em geral, estão associadas à infância. Os programas de imunização desenvolvidos especificamente para adultos compreendem, além da pneumonia, gripe, outros males, como HPV, hepatites A e B e febre amarela. Está disponível na rede pública a vacina pneumocócica 10-valente, que já faz parte do calendário de imunização do Sistema Único de Saúde (SUS) há dois anos e pode ser aplicada para crianças de dois meses a um ano e 11 meses de idade. Além de prevenir vários tipos de pneumonia, ela oferece proteção contra otites agudas e outras infecções respiratórias, como meningites. A aplicação da vacina pneumocócica conjugada é recomendada o mais cedo possível em três doses: aos dois, aos
quatro e aos seis meses de vida da criança, com um reforço aos 15 meses. Para os bebês recémnascidos ou prematuros, o cuidado deve ser redobrado, pois nesses casos o risco aumenta: quanto menor a idade, mais invasiva pode ser a doença. A vacina contra gripe, que também integra o calendário de imunização e deve ser usado por crianças e adultos, ajuda a prevenir o aparecimento de doenças pneumocócicas em quem já é suscetível ao surgimento da doença. ”Voltada para idosos, gestantes, crianças menores de dois anos e portadores de doenças crônicas, a vacina contra a influenza diminui a incidência de gripes, que são as portas de entrada para pneumonias, e também contribuem para diminuir a ocorrência de pneumonias bacterianas”, explica o pneumologista Fábio Muchão. (CD)
■ A doença pneumocócica é responsável por 28% da mortalidade global por doenças imunopreveníveis. Em segundo lugar, está o sarampo, com 21%, e logo em seguida a diarreia por rotavírus, com 16% ■ Cinco países: Índia, Nigéria, Congo, China e República Dominicana respondem por quase 50% das mortes infantis na faixa etária menor de 5 anos de idade ■ As doenças pneumocócicas causam aproximadamente 1,6 milhão de óbitos a cada ano em todo o mundo, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde, a maioria em idosos e crianças menores de cinco anos ■ A forma mais comum de doença pneumocócica em adultos é a pneumonia pneumocócica, um tipo de pneumonia causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae (S. pneumoniae), também conhecida como pneumococo
Ocorrência no Brasil ■ De janeiro a setembro de 2012, o Brasil totalizou 298 mortes por pneumonia em crianças de 1 a 4 anos; a região Sudeste totalizou 100 mortes, na região Nordeste, esse número foi de 77 mortes; no Norte, foram 55 óbitos; no Sul, foram 40, e na região Centro-Oeste, 26 ■ Admissões em hospitais devido à pneumonia entre adultos maiores de 50 anos aumentaram 8% no Brasil, entre 2005 e 2007. Esses dados são do Ministério da Saúde, que disponibiliza a vacina na rede pública de saúde por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Só a vacinação é capaz de reduzir em 49% dos casos de infecção por pneumonia no mundo Fonte: Sbim