TFG_FAUUSP_Isabela Bellemo_ Largo Conceição Veloso

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Largo Conceição Veloso e a identidade do espaço público

Trabalho final de graduação

Isabela Scarpelli Bellemo



Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo FAUUSP

Largo Conceição Veloso e a identidade do espaço público

Trabalho final de graduação

Isabela Scarpelli Bellemo

Prof. Orientador: Antonio Carlos Barossi

São Paulo, julho de 2016.





Agradecimentos

Gostaria de agradecer ao Prof. Dr. Antonio Carlos Barossi pela incrível paciência, atenção e dedicação como professor e amigo durante todas as orientações. Professor, seu amor por ensinar me inspira a ser uma pessoa melhor, obrigada por tudo! Ao Prof. Dr. Fábio Mariz pelos puxões de orelha e por acreditar em mim até quando esqueço de fazer o mesmo. À Profa. Dra. Karina Leitão pelas aulas e conselhos e Prof. Darko Pandakovic (POLIMI) por compartilhar um olhar diferente sobre identidade e paisagem. Obrigada às amoras da FAU Angela Madeira (Gi), Bárbara Ferronato (Bá) e Samara Falcão (Sa), por estarem sempre ao meu lado. Obrigada Caio Kojo, pelos cortes e renders deste trabalho (e de tantos outros) e pela parceria nas aventuras fauanas! Obrigada também Gusstavo de Campos pelos conselhos e risadas: a bênção, amigo! Agradeço especialmente meu amigo Guilherme Iseri de Brito por ter me ajudado em cada página do TFG. Gui, eu não teria conseguido sem você! Obrigada por me amar e por ter me aguentado todos os dias desse semestre intenso! Obrigada a minha sorellina Bruna Bertuccelli, por sempre estar disponível para um abraço e um café. Grazie di cuore Heitor Santos, Mariana Bavoso e Stéfanie Costa, pelos momentos Sócrates, pelas viagens e jantarzinhos no Brasil e no mundo. Tem um pouco da nossa vida italiana por aqui! Agradeço também minhas queridas e eternas amigas do Just, em especial Amanda Fernandes e Marcela Chie Goya, por estarem comigo em todas as fases da minha vida. Obrigada ao meu ragazzo, Ezio Jara Ziron, por ser meu companheiro mesmo longe. Por fim, agradeço minha família, pelo apoio durante toda a minha graduação. Aos meus irmãos, Guilherme e Rodrigo, por compartilharem os domingos de descanso com Game of Thrones e confiarem a mim o papel de irmã mais velha esquisita! Aos meus pais, Silvia e Rubens, por sempre me incentivarem a seguir meus sonhos! Obrigada papai, por todas as maquetes que você me ajudou e por acordar todos os dias às 5h da manhã pra fazer café! Obrigada mamãe, pela coragem de se manter firme do nosso lado pra que a gente nunca se esqueça das nossas metas na vida! Valeu gente!



Índice

Introdução 9 Motivações 10 Inspiração 12 1. Identidades 17 O bairro 18 O reservatório 22 O bar 26 A rua vizinha 27 2. Inserção do Largo O largo e a cidade 30 3. Projeto 37 Partido geral do projeto 38 A praça 39 O reservatório e o mirante 44 A casinha - estúdio livre 54 Considerações finais 67 Bibliografia e referências de projeto 71



Introdução


Motivações

O interesse pelo projeto e estudo dos espaços livres se deu graças à possibilidade de estudar e morar no exterior. O contraste do desenho urbano das cidades européias levantou questionamentos sobre a segregação do desenho urbano das cidades brasileiras e junto a isso, a importância dos espaços livres nos dois contextos. Como o desenho urbano pode estar associado com as sensações de opressão e bem-estar que a cidade causa nas pessoas, bem como diferentes relações sociais, fizeram querer desenvolver um projeto que fosse, acima de tudo, um espaço democrático de lazer e convívio. Tal empenho se relaciona com o que acredito ser o papel primordial do arquiteto urbanista, o que aprendi durante a graduação e o que levarei na vida profissional: “Como nós, arquitetos, poderíamos auxiliar no combate à intolerância? Ajudando a criar espaços que proporcionassem o convívio com o diverso. Este convívio conduz à aceitação da diferença, ao contato com o distinto, ao conhecimento de outras formas de ser e de pensar. E essa aceitação e convívio com o diverso é valor democrático forte, importante para nossa sobrevivência enquanto sociedade e como indivíduos. A cidade não-segregada e diversificada ensina a ver outras pessoas, outras idéias, outros grupos. Traduz se como local do convívio, e o convívio com a diversidade reflete-se na aceitação do diferente. É dentro dessa ética que devemos atuar como profissionais e como cidadãos. E, para criar espaços de convívio, necessita-se conhecer os espaços do homem, desvendar a relação entre espaço e sociedade, entender as relações entre essas duas dimensões e suas mediações.” (PASTERNAK, 2006)

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Em 2015, realizei junto à disciplina optativa AUP0373 – Ateliê Livre, um projeto de requalificação urbana na Rua Conceição Veloso, no bairro da Vila Mariana. Trata-se de um largo, em uma das regiões mais centrais de São Paulo. Quase que intuitivamente, desde início levantei questões a respeito da relação dos moradores e usuários do bar existente com o desenho da rua e da grande área do Reservatório SABESP Vila Mariana. Com a continuação do projeto como Trabalho Final de Graduação, aprofundei esse estudo, certificando a demanda de um espaço público livre em uma dos bairros mais consolidadas da cidade. Propus-me ao longo das visitas observar além do existente urbano prático, mas aquilo que torna o largo um local atrativo para a população local e para os visitantes. Esta análise mais subjetiva a respeito das “identidades do largo” está presente em todo o desenvolvimento do trabalho, inclusive na apresentação. Posteriormente, estudei a relação da localização do largo com a cidade, o bairro, e seu entorno, evidenciando a sua centralidade seja pela sua localização, ou pela oferta de equipamentos públicos e infra-estrutura. O objetivo do projeto é readequar a área do reservatório redesenhando o largo, entendendo as relações entre pedestre e automóvel, rua e construções. Além disso proponho readaptar o edifício existente entre o largo e a Rua Dona Inácia Uchoa como um equipamento público de pequena escala. Dessa forma, atua-se em diferentes esferas de projeto de modo em que todas elas se complementem – a rua, a praça e o edifício.

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Inspiração

Dentre todas as praças existentes, tive como inspiração a praça Colonne di San Lorenzo, localizada próxima ao centro de Milão, Itália. Independente da história das ruínas romanas e medievais e a entrada da Basílica di San Lorenzo Maggiore que traçam o desenho da praça, o que mais intriga é a diversidade dos usos dos espaços durante todos os períodos do dia. No período da manhã é comum encontrar senhoras indo para a missa na Basílica, famílias passeando e estudantes lendo apoiados nas antigas colunas. À noite, a praça se torna um grande bar ao ar livre onde pessoas de todas as idades se apropriam do espaço para a diversão. A praça está localizada entre um eixo importante que liga o centro da cidade com a região dos canais (os Navigli), a sudoeste da cidade. Essa conexão pode ser feita de diversas formas, inclusive a pé, mas o principal meio é a linha de bonde que passa ao lado da praça. Apesar da relação da população com o espaço público estar bastante presente na cultura italiana, é possível enumerar alguns aspectos que podem ser rebatidos no contexto do largo paulistano: As reminiscências históricas são um ponto de referência primordial e despertam a curiosidade dos turistas e visitantes; está localizada em um eixo com bastante fluxo de pessoas e transporte público; a região é cercada de bares e restaurantes que mantém o local vivo em quase todas as horas do dia; é um espaço naturalmente democrático inclusive pelo perfil dos moradores da região (estudantes e idosos). A importância da praça supera a questão do desenho e passa a se tornar interessante ao observarmos da apropriação e identificação da população com o local. Por esse motivo, escolhi a Piazza Collone di San Lorenzo como inspiração para a análise e proposição da praça do Largo Conceição Veloso.

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Fotos da Piazza Collone di San Lorenzo em diferentes períodos do dia. Em seguida imagem tridimensional do Google Earth da área da praça em questão com Basílica e linha de bonde destacados. Fonte: Europe Best Destinations/ Milan

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1. Identidades


O bairro

O objetivo desse capítulo é apresentar alguns personagens presentes tanto nos aspectos históricos e formais da região do largo, como também de seus usos e apropriações feitos pela população. Tais identidades têm papel fundamental para o desenvolvimento do projeto de requalificação e intervenção no local. O próprio bairro da Vila Mariana, por si só já é uma identidade forte para toda cidade. Sua centralidade se dá não apenas pela sua localização, mas também por dispor de diversos espaços e equipamentos públicos. Tais análises serão apresentadas no próximo capítulo. Até o final do século XIX, a área onde futuramente se tornaria um bairro era caracterizada por grandes chácaras que foram fracionadas graças à estrada de ferro que ligava Liberdade a Santo Amaro. Só com o início do funcionamento do Matadouro Municipal (atual Cinemateca Brasileira) o bairro começou a ser efetivamente povoado. Muitos imigrantes chegaram, o movimento aumentou muito. Famílias inteiras vieram habitar as ruas já existentes enquanto outras foram abertas. Fábricas de cerâmica, armazéns, açougues, padarias, floriculturas, quitandas e um hotel surgiram. A vida social era bastante ativa no início do século XX e, aos poucos, o bairro começou a se desenvolver consideravelmente. Em 1940, poucas áreas estavam vazias e algumas ruas surgem com a abertura de loteamentos em terrenos grandes. O transporte é instalado a partir do grande centro para os novos bairros, “satélites” da Vila Mariana. Entre os anos de 1928 e 1945 se deu a construção do Instituto Biológico, cujo objetivo era estudo e controle de pragas que devastaram os cafezais paulistas durante o período. Até hoje o Instituto funciona como centro de pesquisa, biblioteca e museu, sendo uma referência importante para o bairro. “Vila Mariana, a pequena Vila dos imigrantes italianos, com cercas de espinheiros [...] já não é o bairro das modestas casas de 1900; é agora transformada em zona de hospitais, indústrias e laboratórios [...]. As edificações de sucedem. Não existem mais claros. É o bairro que se junta à cidade e que em breve será diluído na grande metrópole.” (MASAROLO, 1971) A primeira linha de metrô da cidade, a linha azul que liga os eixos norte e sul, mudou o caráter do bairro ainda residencial. O primeiro trecho inaugurado em 1974 ligava as estações Jabaquara

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a Vila Mariana, no ano seguinte completaram-se as ligações entre Vila Mariana - Liberdade e Liberdade - Santana. A linha verde, por sua vez, teve suas obras concluídas apenas nos anos 90, ligando o bairro da Vila Mariana com a Avenida Paulista e estabelecendo um novo eixo de edifícios comerciais. Por mais que a Vila Mariana ainda preserve algumas características de bairro local do século XX, as grandes construções desde a época do Matadouro e do Instituto Biológico até a inauguração do Parque Ibirapuera e as linhas de metrô, fizeram com que o bairro passasse a ter uma importância municipal, concentrado uma grande quantidade de espaços dedicados a esportes, cultura, pesquisa, saúde e educação, bem como hotéis e edifícios comerciais. A Rua Conceição Veloso, bem como o bairro, ainda possui essas particularidades. O piso de paralelepípedo, os sobrados de meados do século XX e o reservatório fazem com que o largo tenha um caráter nostálgico, mas inserido em um contexto bastante urbanizado e contemporâneo.

Cinemateca Brasileira (antigo Matadouro) e Instituto Biológico

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Mapeamento Vila Mariana 1930 - SARA

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O reservatório

Até o final do século XIX o abastecimento de água em São Paulo era feito principalmente por meio da coleta direta em rios, córregos e fontes que brotavam nos declives da paisagem. Também eram utilizados poços e cisternas. O crescimento populacional na cidade fez com que o abastecimento de água se transformasse em um grave problema social e, em 1877, organizou-se a Companhia Cantareira e Esgotos com o propósito de explorar os serviços de água e esgotos na capital. Em 12 de maio de 1881 foram concluídas as obras capazes de abastecer o dobro da população existente, que era de 30 mil habitantes. “O abastecimento de água no bairro começou por volta de 1915-1917, vinda da Cantareira ou de Cotia para caixa de água da Rua Vergueiro, nesse tempo já construída. As redes eram distribuídas pelas ruas mais habitadas.” (MASAROLO, 1971) Passando por diversas transformações desde a sua construção, o Reservatório da Vila Mariana é marco na paisagem do bairro e importante na história do abastecimento de água da cidade de São Paulo. Em pesquisa no acervo arquivístico e fotográfico da SABESP, vemos que por volta dos anos 1940 a antiga Repartição de Águas e Esgotos de São Paulo já planejava remanejar os encanamentos e a estrutura do reservatório para atender a grande demanda do crescimento populacional do bairro. Hoje o reservatório possui 15500m³ de água, abastecendo o equivalente a 133 mil habitantes. Recebe água do Sistema Guarapiranga, e a área de abastecimento abrange desde a Rua Luis Goes (próximo a estação Santa cruz do Metrô) até a Avenida 9 de Julho e da Avenida Dom Pedro (próximo ao parque Ibirabuera) até o Parque da Aclimação. A caixa d’água possui dois reservatórios e uma casa de máquinas que bombeia água para o largo e outras residências na mesma cota de nível, além da grande torre de concreto. Originalmente o reservatório cilíndrico foi construído no início do século XX mas em meados dos anos 90, a construtora Construcap desenvolveu um projeto de modernização dos reservatórios, reconstruindo o cilindro antigo, um novo reservatório retangular e adaptando o equipamento pra uma praça.

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“O reservatório, que já está em operação, insere-se com perfeição nas atividades de lazer da cidade. O projeto previu uma praça sobre as duas alas do reservatório, com direito a ajardinamento, pista de cooper, playground e até uma imitação de coreto. Os dois reservatórios são ligados por uma pequena passarela de concreto e cercados por muretas de proteção. A altura dos reservatórios - apenas dez metros - é considerada baixa. Os equipamentos são ainda enfeitados por floreiras de concreto e até uma carranca que existia no velho reservatório, que teve de ser desmanchada e moldada para ficar ao pé das duas escadarias. O equipamento recebeu ainda uma pintura discreta e frisos de argamassa.“ (“Reservatório da SABESP – Zona Sul”, 1999) Os reservatórios elevados recebem água nos horários com menos demanda até encherem completamente e ajudam a abastecer a população nos horários de pico. Contudo, em locais com muita demanda como o bairro da Vila Mariana, essa reserva acaba rapidamente e as bombas existentes não são capazes de reencher o reservatório novamente. Por ser uma área com muitos investimentos, o processo de distribuição de água pelo reservatório pôde ser automatizado e, assim a torre foi desativada. Segundo os engenheiros Anderson Catarino e Ricardo Chinaglia do Departamento de Operações de Água no Centro, a torre da Vila Mariana não está sendo utilizada, mas sua estrutura foi mantida já que se tornou ponto de referência visual importante. Atualmente, a área do reservatório é completamente restrita, circundada por muro e vigiada todos os horários do dia. Reintegra-la a cidade é uma forma de devolver aos moradores um espaço livre de lazer e permanência, como também proporcionar conhecimento quanto ao funcionamento e distribuição de água para toda a população.

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Fotos do reservatĂłrio Vila Mariana do acervo arquivĂ­stico da SABESP

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Fotos do reservatรณrio atualmente.

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O bar

O bairro Vila Mariana é conhecido também por sua vida noturna e a presença de bares e restaurantes principalmente nas ruas Vergueiro e Joaquim Távora. A grande presença de escolas e faculdades no bairro traz um caráter jovem e democrático para a vizinhança, bem como o movimento em praticamente todos horários do dia. O Bar do Veloso traz ao Largo Conceição Veloso esse caráter popular e boêmio, atraindo clientes de todas as idades graças ao seu cardápio tradicional e sua localização. A recente história do bar modificou as relações da vizinhança, tornando-se tão significativo quanto o próprio Reservatório da Vila Mariana. Segundo o gerente Sr. Will, quando o bar foi inaugurado, houve certa preocupação com o fato de estar localizado fora dos eixos de maior movimento do bairro, mas o largo e a Caixa d’Água eram pontos de referência tão marcantes que a fama logo foi se espalhando: “o bar do lado da Caixa d’Água”. Apesar dos diversos conflitos com os moradores do largo, principalmente em relação ao barulho, é graças ao movimento que o largo se tornou um lugar bem mais seguro, livre dos constantes assaltos da região: “A Rua Conceição Veloso era ‘rota de fuga’ para os bandidos. Hoje em dia não tem mais isso. O movimento faz com que o largo tenha segurança o tempo todo.” (Depoimento do Sr. Will) Durante os 10 anos desde que foi inaugurado, o bar teve que fazer concessões para que pudesse funcionar e conviver harmoniosamente com os moradores. Atualmente ele é personagem importante para o estudo porque faz parte da identidade do Largo Conceição Veloso.

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A rua vizinha

O bairro da Vila Mariana, é um dos poucos bairros em São Paulo que mesmo diante uma forte pressão imobiliária, ainda preserva algumas características do antigo bairro de imigrantes do início do século XX. A Rua Dona Inácia Uchoa, assim como a Rua Conceição Veloso, é exemplo desse caráter acolhedor e calmo. Em seu primeiro trecho (a parir da Rua Vergueiro até a Rua Bartolomeu de Gusmão), é possível observar a presença de alguns edifícios comerciais e de uso misto com gabaritos mais altos. Contudo, ao caminharmos pelo lado “ímpar” da rua, notamos a presença dos sobrados típicos do bairro, possivelmente construídos durante a primeira metade do século XX, entre outras construções ecléticas mais recentes. O caráter nostálgico da rua também se dá à presença da pequena Paróquia de Santa Rita de Cássia e do centenário Mosteiro de Visitação de Santa Maria. A rua que se estende a partir da Rua Vergueiro até o Cemitério Israelita Vila Mariana, carrega já em seu primeiro trecho a memória do bairro. Conectá-la ao Largo Conceição Veloso evidencia sua importância e ajuda a manter a sua identidade.

Bar Veloso e Casa R. Inácia Uchoa

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2.

Inserção do Largo


O largo e a cidade

A Vila Mariana é um bairro pertencente à Subprefeitura da Vila Mariana, juntamente com os bairros de Moema e Saúde. É uma região bastante central tanto pela sua localização, já que está entre as subprefeituras da Sé, Jabaquara, Santo Amaro, Pinheiros e Ipiranga, quanto por estar próxima dos grandes eixos comerciais, financeiros e culturais da cidade. Por essa centralidade, é uma das regiões mais nobres da cidade. Possui uma alta renda média, em torno de R$ 3,6 mil mensais, bem acima do índice do município, que é cerca de R$1,3 mil. É bem servida de transportes, com duas linhas de metrô, Linha Azul e conexões com a Linha Verde nas estações Ana Rosa e Paraíso. Grande número de linhas de ônibus, incluindo faixas exclusivas em dois importantes corredores nas Avenidas Ibirapuera e Avenida Santo Amaro, além das novas ciclovias e ciclofaixas, se estendendo da Avenida Jabaquara até a Avenida Paulista. Ao analisarmos o recorte do bairro, vemos que a Vila Mariana é um dos bairros mais bem servidos de equipamentos públicos, escolas, universidades, além de estar localizada entre dois parques municipais importantes: Ibirapuera e Aclimação. Dentre os equipamentos culturais, podemos citar o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), o Instituto Biológico e a Cinemateca Brasileira, SESC Vila Mariana e Museu Lasar Segall.

O mapa apresentado mostra a localização do largo no contexto da cidade. Por ele é possível perceber a proximidade da subprefeitura da Sé e os rios Pinheiros e Tietê e, portanto, sua centralidade.

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Pinheiros

Ipiranga Santo Amaro Jabaquara

LARGO CONCEIÇÃO VELOSO SÉ ÁREA DE ABASTECIMENTO DO RESEVATÓRIO RIOS PINHEIROS E TIETÊ SUBPREFEITURAS PRÓXIMAS SUBPREFEITURA VILA MARIANA

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Nesse contexto vemos que a Rua Vergueiro é um importante eixo que além de ligar o bairro ao centro separa duas zonas do bairro: uma mais residencial que se estende até o bairro da Aclimação, e uma mais provida de escolas e equipamentos, até a Avenida 23 de Maio. Segundo o Plano Regional estratégico, tal eixo é uma Centralidade Linear. “Art. 18 – São objetivos das centralidades: I. estimular o desenvolvimento das atividades comerciais e de prestação de serviços de âmbito local, gerando negócios e empregos; 6 II. reorganizar e requalificar os espaços urbanos onde estão inseridas as centralidades; III. estimular o desenvolvimento econômico regional, ampliando as possibilidades de utilização dos equipamentos públicos; IV. melhorar a qualidade dos espaços de uso público por meio do redesenho e alargamento das calçadas de pedestres com tratamento paisagístico e instalação de dispositivos para portadores de deficiências físicas; V. melhorar as condições de acesso e permanência no entorno dos grandes equipamentos de utilização regional.” A Rua Conceição Veloso, ou Largo Conceição Veloso, se situa exatamente nesse eixo, e elaborar um projeto de intervenção na área condiz exatamente com o que é proposto pelo Plano Regional. Ao aproximarmos a área de análise, vemos que a área do projeto é bem servida de transportes contando com ciclofaixa, duas estações de metrô e terminais e pontos de ônibus por toda extensão da Rua Vergueiro.

O mapa apresenta um recorte do bairro da Vila Mariana com o objetivo de apontar os principais equipamentos públicos de cultura e lazer, universidades, escolas, metrô e parques e as principais avenidas e acessos ao bairro. Na imagem a seguir, destaca-se o a aréra de interveção do projeto, o reservatório SABESP Vila Mariana, o terminal de ônibus Ana Rosa e a ciclifaixa.

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EQUIPAMENTOS CULTURAIS ÁREA DE ABASTECIMENTO DO RESEVATÓRIO

ESCOLAS

LARGO CONCEIÇÃO VELOSO

UNIVERSIDADES

METRÔ

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AV. SENA MADUREIRA

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3. Projeto


Partido geral do projeto

Até o momento, foram apresentadas as grandes potencialidades do Largo Conceição Veloso como um espaço público de qualidade. Essa potencialidade é graças à centralidade do bairro e também às assimilações afetivas do local com seus elementos: o reservatório, a rua, o bar. Contudo, é possível enumerar diversos contrastes ocasionados pela falta de projeto de integração do largo com o seu entorno. Primeiramente, vemos que o largo ainda é utilizado como estacionamento pelos usuários e funcionários do bar, ao mesmo tempo em que os mesmos tentam utilizar a guia da rua para sentar e consumir. O parklet existente não consegue suprir a necessidade do público, e o espaço que é destinado ao bar acaba se tornando desconfortável para todos. A grande área do reservatório que possuía projeto de integração com a cidade, é inacessível, restringindo um espaço de descanso, contemplação e educação à população. Mesmo que isso não acontecesse, o projeto existente é desatualizado e tímido considerando o potencial atrativo para todos. Junto a isso, o desuso da torre nos leva a um questionamento das infraestruturas obsoletas da cidade e como isso afeta a paisagem urbana. O que fazer com estruturas tão gigantescas que não cumprem mais o papel que lhes foi designado sendo que a demolição é inviável economicamente? Outro ponto importante de ser analisado é que, mesmo em um bairro bem consolidado, ainda existem terrenos vazios de diferentes dimensões. Contrastante com a presença dos sobrados, o vazio localizado no eixo da Rua Manoel de Paiva, bem como o imóvel aparentemente abandonado na Rua Dona Inácia Uchoa, levantam questões da forte pressão e especulação imobiliária da região que tem descaracterizado o bairro, tornando-o ainda menos democrático. Levantadas essas questões, cabe ao projeto propor a requalificação da área, reativando o espaço da Caixa d’Água como espaço livre, redesenhando o largo e apropriando o vazio e o edifício como um equipamento público.

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A praça Com o objetivo de integrar as diferentes instâncias de projeto, contribuindo para a qualidade urbana local, e atender as demandas dos moradores do bairro e de diferentes partes da cidade, o projeto redefine o desenho da estrutura viária, integrando a área do reservatório ao largo. Dessa forma, a parte do leito carroçável das ruas Conceição Veloso e Manoel de Paiva que circunda o reservatório se torna passeio da praça, interligando as calçadas ao novo nível. A Rua Carlos Petit foi mantida já que é um retorno importante para os fluxos do bairro. Busca-se conservar tudo aquilo que é simbólico para a identidade do largo. Por esse motivo, tanto o paralelepípedo, quanto os elementos do reservatório são objetos importantes para o projeto. O redesenho do paralelepípedo cria um grande circulo no centro do largo, remetendo a sua antiga forma. Desse modo, o restante do piso torna-se acessível. O paralelepípedo também foi proposto em outra área mais próxima a fachada do reservatório, estabelecendo uma ligação por meio dos materiais utilizados. Permanece ao reservatório as molduras, a escadaria e a fonte e, por esse motivo, foi pensado um piso elevado a 1m com um banco em madeira desenhando uma área de contemplação. O piso elevado também permite um acesso mais adequado à casa de máquinas e cria um percurso no entorno do reservatório. Esse desnível e acessado por uma rampa e por uma escadaria que leva ao centro do largo. Algumas árvores existentes de maior porte foram mantidas, junto a isso, foi proposto linhas de árvores de grande porte por toda a extensão da Rua Conceição Veloso e da Rua Carlos Petit. Os espaços verdes do reservatório foram redesenhados resultando em canteiros com linhas de palmeiras e uma área verde de caráter mais local e colaborativo com árvores frutíferas.

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LEVANTAMENTO

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IMPLANTAÇÃO GERAL

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O reservatório e o mirante Assim como o projeto executado nos anos 1990, utiliza-se o pavimento superior do reservatório como um espaço público de lazer. O deque de madeira delimita os espaços mais funcionas dos contemplativos se estende até o reservatório retangular reservado para um playground com os mesmos bancos de madeira do elevado. O gramado existente é recuperado, o canteiro com árvores de pequeno porte permite uma área mais sombreada. A área pavimentada é destinada ao uso de equipamentos de ginástica para idosos. A acessibilidade se dá com o elevador localizado no interior da torre e são ligados por uma ponte. Esse elevador também leva ao mirante. Readequando a parte de cima da torre, o antigo reservatório vertical foi adaptado como um mirante um mirante envidraçado, uma alternativa à estrutura abandonada. O mirante é um pólo de atração para diversos píblicos. Por meio dele seria possível admirar a cidade toda graças a sua altura e à topografia em que está inserido.

PAV. SUPERIOR RESERVATÓRIO

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ELEVAÇÃO 01

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CORTE AA

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CORTE BB

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A casinha - estúdio livre A requalificação de todo largo não estaria completa se não houvesse propostas para o terreno vazio, localizado estrategicamente no eixo das ruas Conceição Veloso e Manoel de Paiva, interligando com a paralela D. Inácia Uchoa. Aos fundos do terreno do está presente uma dessas casas de fachada curiosa que será integrada ao contexto do projeto. Para esse local, foi pensado um estúdio de artes de quatro pavimentos com planta livre para se adequar a diferentes usos e demandas. O novo edifício se apoia a casa por meio de um sistema de pilares e vigas de concreto e uma parede estrutural em “U”. Essa parede permite que junto a ela fique acoplada a hidráulica e a escada, criando um módulo estrutural, de acesso e de infraestrutura. A “face hidráulica” da parede é revestida com os mesmos ladrilhos da fonte do reservatório, criando uma relação entre os dois equipamentos. No pavimento térreo se dá o acesso ao edifício e a ligação do largo com a rua vizinha. O edifício se abre pra essa nova rua por duas entradas laterais que contemplam um grande banco de deque e uma plataforma elevatória que garante a acessibilidade. O primeiro pavimento faz o intermédio entre o novo edifício e o sobrado, com uma extensão sustentada por um tirante. Cria-se assim um terraço para o largo e uma sala menor dentro da casa. O segundo pavimento aproveita a nova cobertura de laje da casinha e cria um espaço aberto e livre. Não possui paredes, fazendo com que o edifício seja delimitado apenas pela face dos vizinhos, como se fosse uma rua. O próximo pavimento, portanto, é destacado e se torna o principal para a realização das atividades, aulas, depósito de materiais. O último pavimento, por sua vez, é um terraço cujo acesso é protegido por uma cobertura apoiada à parede estrutural, arrematando o edifício e proporcionando um espaço de contemplação do largo e da Rua D. Inácia Uchoa.

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PAVIMENTO TÉRREO 1 55

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PRIMEIRO PAVIMENTO

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QUARTO PAVIMENTO

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CORTE CC

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ELEVAÇÃO 2

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Consideraçþes finais


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Considerações Finais

A partir do estudo do largo Conceição Veloso, localizado no bairro da Vila Mariana foi proposto um projeto que contemplasse a rua, a área do Reservatório Sabesp Vila Mariana e o edifício para um terreno vazio. Trata-se de uma reflexão sobre uma área cujos acessos estão bem resolvidos e a demanda por espaços livres é evidente, mas possui um desenho viário que beneficia o automóvel e impede que os elementos interessantes do local se integrem de forma adequada. Dessa forma, as três instâncias de projeto trabalhadas conjuntamente ao longo do Trabalho Final de Graduação, tornam-se alternativas para um novo contexto urbano. A rua é redesenhada de forma que as calçadas se tornem parte da praça. A área da caixa d’água é reaberta e integra todos os elementos do projeto. O mirante no antigo reservatório em torre cria um verdadeiro polo de atração e levanta um questionamento sobre os equipamentos de infraestrutura subutilizados. Interligar o largo a rua vizinha por meio de um edifício resgata a relação do pedestre com o edifício e a rua, bem como a relação do edifício com os usuários e o entorno. Apropriar a casa existente faz com que os sobrados tanto do largo quanto da Rua Inácia Uchoa se mantenham frente às pressões imobiliárias. A proposição de um estúdio de artes de planta livre traz o caráter democrático tanto quanto ao uso do edifício quanto para a praça. A identidade do espaço público se dá não apenas pelo valor histórico do lugar, mas pelas apropriações dos usuários com o existente e o novo. O projeto buscou considerar não apenas aquilo que parte do desenho urbano, mas também o que torna o lugar aconchegante, democrático e divertido ao mesmo tempo.

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Bibliografia e referĂŞncias de projeto


Bibliografia

Bibliografia específica: ALEX, Sun - Projeto da Praça: convívio e exclusão do espaço público -São Paulo: Senac, 2011. GEHL, Jan - Cidades para Pessoas - São Paulo: Perspectiva, 2013. MACEDO, Silvio Soares – Quadro do Paisagismo no Brasil – São Paulo: FAUUSP, 1999. MASAROLO, Pedro Domingos – O bairro de Vila Mariana - São Paulo: DPH, [1971]. 114 p.; ill : 23 cm ( História dos bairros de São Paulo 8 ). Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – Zoneamento da cidade de São Paulo – Anexos Subprefeitura Vila Mariana - Anexo XII- LivroXII Plano Regional Estratégico da Subprefeitura de Vila Mariana Bibliografia geral: NOBRE, Ana Luiza; MILHEIRO, Ana Vaz; WISNIK, Guilherme - Coletivo - São Paulo, Cosac Naify, 2006.

PANDAKOVIC, Darko; SASSO, Angelo dal - Saper vedere il paesaggio - Novara, Italia: Città Studi Edizioni, 2013. PASTERNAK, Suzana - São Paulo e suas favelas - Revista do Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, v. 19, 2006.

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Sites: www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/vila_mariana Acesso dia 11/11/2015 http://memoriasabesp.sabesp.com.br/acervos/dossies/pdf/9_sistema_guarapiranga.pdf Acesso dia 18/11/2015 http://revistadae.com.br/artigos/artigo_edicao_9_n_1379.pdf Acesso dia 18/11/2015 http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico Acesso dia 18/11/2015 www.dicionarioderuas.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/GaleriaImagens.aspx Acesso dia 18/11/2015 http://piniweb.pini.com.br/construcao/noticias/reservatorio-da-sabesp---zona-sul-desp-85920-1.aspx Acesso dia 25/02/2016

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Referências de projetos

Fengming Mountain Park, Chongquing - China Marta Shwartz, 2013

Praça Victor Civita, São Paulo - Brasil Levisky Arquitetos, 2008

Casa Curutchet, La Plata - Argentina Le Corbusier, 1955

Guinnes Storehouse, Dublin - Irlanda

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