GUSTAVE DORÉ gravura como literatura

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gustave dorĂŠ gravura como literatura



sumário

Introdução

05

Gustave Doré

07

Primeiros passos

08

Obras literarias

13

A perfeição em tons de cinza

14

Gravura como literatura

16

Um herói romântico

21

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introdução O imaginário popular ocidental foi criado a partir das histórias passadas de geração após geração. Muitas destas ficaram eternizadas nas páginas dos livros e algumas se tornaram clássicos da literatura que alicerçaram a cultura popular. Numa época onde a internet seria considerada bruxaria e a fotografia ainda engatinhava, as ilustrações de algumas destas obras literárias eram responsáveis por dar formas e rostos a certos elementos culturais universais que perduram até os dias de hoje.


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gustave doré Pelos idos do século XIX, surgiu o nome que iria construir as imagens que seriam assimiladas pelo pensamento cultural dos próximos dois séculos. O nascimento do francês deu-se nas primeiras semanas de janeiro de 1832 foi pintor, desenhista e um dos maiores ilustradores de todos os tempos.

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primeiros passos Filho de um engenheiro, fez suas primeiras litogravuras aos treze anos. Um ano depois, publicou seu primeiro álbum “Les travaux d’Hercule’. Aos quinze anos engajou-se caricaturista do “Jornal pour rire”. Em 1849, com a morte do pai, já era reconhecido apesar de contar apenas dezesseis anos. Passa a maior parte do tempo com a mãe. Em 1851 realiza algumas esculturas com temas religiosos e colabora em diversas revistas e com o “Journal pour tous”.


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obras literárias A paixão de Doré eram mesmo obras literárias, chegou a ilustrar mais de 120 obras. De Dom Quixote de Cervantes à Divina Comédia de Dante, de O Corvo de Poe à Gargântua e Pantagruel de Rabelais, seu traço - quase expressionista - consegue dar corpo e espírito aos personagens. Após utilizar todo o dinheiro ganho com seu trabalho para quitar suas dívidas, Gustave Doré falece em 1883, aos 51 anos.

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a perfeição em tons de cinza Enveredava nas mais diversas

Fiorentino que posteriormente

formas de artes plásticas, indo

foi republicada com suas ilus-

do desenho às esculturas com

trações. Não encontrando edi-

total desenvoltura, se valendo

tor disposto a publicar sua obra,

deste arcabouço para extrava-

Doré publicou as ilustrações e

sar sua criatividade genuína em

o texto por conta própria em

belíssimas obras, recheadas de

1861. Foi um grande sucesso.

ingredientes barrocos, enigmá-

Doré sucedia a Botticelli como

ticos, desfilando muito virtuo-

o maior ilustrador de Dante,

sismo.

acreditava o público. Em 1868 terminou as ilustrações do Pur-

Doré trabalhava de forma inten-

gatório e do Paraíso e publicou

sa e veloz. Esboçava os dese-

uma obra com as ilustrações de

nhos diretamente na madeira

toda a Divina Comédia.

e contava com vários auxiliares para terminar de gravá-las.

Doré teve uma vida próspera e

Empregou aproximadamente 40

pode usufruir do seu sucesso.

gravadores competentes para

Teve romances com as mulhe-

trabalhar nas suas ilustrações.

res mais famosas do século 19 como a atriz Sarah Bernhardt e

Em 1857, começou a trabalhar

cantora de ópera Adelina Pat-

nas ilustrações do Inferno de

ti. Doré morreu em janeiro de

Dante. Ele não sabia italiano e

1883,

provavelmente utilizou a tradu-

suas ilustrações para uma edi-

ção em prosa de Pier Angelo

ção de Shakespeare.

deixando

incompletas


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gravura como literatura DOM QUIXOTE DE CERVANTES Doré estava acordado com a

representariam as imaginações

tradição da ilustração de sua

de Dom Quixote. Doré estava

época, que estabelecia um pa-

tão preocupado em represen-

ralelismo semântico e estru-

tar fielmente o texto através de

tural entre imagem e texto”. O

suas gravuras que representou

texto literário, portanto, deve-

os moinhos de vento não como

ria ser recontado de maneira

gigantes, como o Dom Quixote

quase que fiel através das ima-

os vê, mas pelo o que de fato

gens: Como o artista almejava

são: “Doré tratou Dom Quixote

realizar uma síntese da obra em

como personagem real, nos deu

imagens, da maneira como ele

seu retrato e documentou suas

a ilustrou podemos fazer uma

aventuras”.

leitura somente através delas, como se fossem parte de um story-board que antecipa a filmagem de uma sequência cinematográfica. Essa escolha por uma ilustração mais realista pode ser percebida em algumas ilustrações que


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um herói romântico Por sua filiação romântica, Doré

presentação feita por Cervantes,

também evitou representar o

pois “no texto de Cervantes, o

Dom Quixote de forma cômi-

que é grotesco vem exatamente

ca ou burlesca. Preferiu dar-lhe

das situações em que a grandeza

um tom elegante. Retrata essa

e a dignidade são anuladas: o he-

personagem como um herói ro-

roico cavaleiro é, na verdade, um

mântico, de maneira idealista.

pobre desdentado”.

O grotesco, no sentido satírico, aparece principalmente nas

Ao contrário disso, Doré irá supri-

representações

escudei-

mir esse lado grotesco do Dom

ro Sancho Pança. Percebemos,

Quixote, e representa-o somente

também, que o camponês não

como um herói. As ilustrações,

recebe muito destaque nas ilus-

portanto, estão em concordância

trações de Doré, aparecendo

com uma visão romântica oito-

muitas vezes de cabeça baixa

centista de Dom Quixote, e orien-

ou de costas nas ilustrações.

tam o leitor a compreender a per-

do

sonagem de forma idealizada. Compreendemos, assim, que as ilustrações de Doré podem ser

Essa visão idealizada é perceptí-

consideradas um tipo de orien-

vel quando vemos Dom Quixote

tação de leitura do texto lite-

armado cavaleiro, montado em

rário, visto que o objetivo do

um belo cavalo com todo do-

ilustrador parece ser o de repre-

naire e elegância. Está no Cam-

sentar um Dom Quixote heroi-

po de Montiel a caminho de sua

co, idealizado, diferente da re-

primeira aventura como cavaleiro G U S TAV E D O R É G R AV U R A C O M O L I T E R AT U R A 2 1


andante, quando parte para se

ressou em representar os moi-

armar cavaleiro, conforme orde-

nhos de vento tal como Dom

nava a lei da cavalaria. No fundo

Quixote os imaginou, ou seja,

do quadro, podemos perceber as

como gigantes, mas de maneira

imagens de outros cavaleiros e

realista e descritiva.

heróis em uma espécie de nuvem, que pode ser compreendida

Notamos novamente a repre-

como o desejo de Dom Quixote

sentação realista e descritiva,

de se assemelhar a essas figuras

em que Dom Quixote ataca as

lendárias.

ovelhas pensando ser um exército inimigo: “(...) entrou pelo

É importante notar que Doré re-

meio do esquadrão das ove-

presenta Dom Quixote com ele-

lhas e começou a lanceá-

gância e fielmente armado. Po-

-las com tanta coragem e

rém, o próprio Cervantes relata

bravura como se deveras

que ele, na verdade, era um indi-

lanceasse seus mortais

víduo mal composto que causou

inimigos”.

riso ao chegar à estalagem, pois estava vestido de maneira desajustada. O estalajadeiro, ao ver Dom Quixote, percebe-o como “figura malconformada, armada de armas tão desiguais como eram arreios de bridão, lança, adarga e corselete”. É possível, assim, ler toda a cena do enfrentamento dos moinhos de vento através da ilustração. Notamos que Doré não se inte-


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trabalho por stephanie bressan texto retirado dos sites: goo.gl/0nPrkY . goo.gl/EoYayU . goo.gl/NAFkH8


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