28/12/2016
Mal silencioso, esgotamento profissional impacta nas organizações de saúde | Portal länk
Mal silencioso, esgotamento profissional impacta nas organizações de saúde
Redação Portal länk Curtir
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Crise política e econômica, violência e outros problemas do dia a dia. Neste cenário em que a maioria dos brasileiros vive hoje, também há o desafio das epidemias de dengue, zika e chikungunya e, em algumas localidades, um surto do vírus H1N1. Não anda fácil para os brasileiros sobreviverem ao momento adverso. E o fardo pode se tornar ainda mais pesado para os trabalhadores mais expostos à síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional, classificada como um tipo de estresse laboral, totalmente vinculada à atividade e rotina de trabalho. Profissionais de saúde, policiais, professores, jornalistas e equipes de emergência são os trabalhadores mais propensos ao problema. Em comum, essas atividades têm a intensa relação com o ser humano, exigência em decisões que impactarão a vida de outras pessoas e a consciência e responsabilidade que a vida do outro depende, muitas vezes, do êxito do trabalho realizado. “O grande diferencial do diagnóstico é que ele vem desses ambientes, ou seja, esses grupos [profissionais da saúde, policiais] têm maior risco de desenvolvê-la”, afirma Ricardo Werner Sebastiani, psicólogo e diretor do Nêmenton – Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Saúde. A síndrome é constituída por três dimensões: o esgotamento emocional, a despersonalização e a falta de realização profissional. Entre os seus sintomas e indicadores estão a enxaqueca, ansiedade, insônia, isolamento, falta de motivação no trabalho, conflito com colegas e insensibilidade com o outro, insegurança e absenteísmo. “Outro dado é que a síndrome tende a atingir quem está há mais tempo na ‘estrada’ e aqueles que são mais dedicados estão mais vulneráveis”, explica Sebastiani, que também é mestre em saúde pública e professor. No caso dos profissionais de saúde, a rotina pesada pode contribuir para o aparecimento do burnout. São jornadas extenuantes, a maioria das vezes em mais de um emprego, com pouco tempo para descanso. “Alguns desses profissionais têm jornada 12 x 36 (em que o profissional trabalha 12 horas e descansa 36 horas), mas, para ganhar o suficiente possuem quatro ou cinco vínculos empregatícios”, comenta Sebastiani. Outra face do estresse que pode acometer o profissional deste e de outros segmentos mas de uma maneira geral é o causado pelas incertezas da crise econômica como o desemprego, inflação alta e o medo do endividamento. Cátia Motta, responsável técnica da Axismed – consultoria de gestão de saúde populacional- conta que de 2014 até hoje, cerca de 40% da carteira gerida pela empresa foi afastada por problemas decorrentes da saúde mental – o que engloba depressões e também a síndrome de burnout. Sebastiani acrescenta outro tipo de cenário enfrentado pelo trabalhador da saúde atualmente. “Há neste momento uma crise sanitária com o vírus do H1N1, zika, dengue, chikungunya e um surto de caxumba que ainda não chegou aqui [São Paulo], mas já acontece no Rio Grande do Sul. Tudo isso somado ao dia a dia vira um caldeirão explosivo”. Redução de danos No último mês de abril, um tiroteio em frente ao Hospital Cristo Redentor em Porto Alegre (RS) deixou quatro mortos. Poucos dias depois, um grupo de funcionários do hospital protestou em frente à instituição pedindo por mais segurança. A violência e a falta de segurança a qual se expõem os trabalhadores têm gerado não só protestos, mas também danos à saúde mental dos funcionários do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), instituição pública da qual faz parte o Hospital Cristo Redentor e mais três hospitais, 12 postos de saúde, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e três Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) – totalizando em 9500 funcionários. “Entre os profissionais de saúde, as doenças mais frequentes são as osteomusculares e as mentais – estas pelo próprio objeto de trabalho que é cuidar do adoecimento e da dor do outro. Mas agora, nós também enfrentamos o cenário de violência”, conta Clori Pinheiro, terapeuta ocupacional e assistente de coordenação da saúde do trabalhador do GHC. Segundo ela, a constante
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exposição ao cenário de violência tem levado ao esgotamento emocional dos profissionais e contribuído para casos de Síndrome de Burnout dentro do grupo. “Os trabalhadores ficam expostos dentro das comunidades, trabalhando no mesmo ambiente que traficantes. Às vezes, quando há tiroteio, temos que fechar os postos de saúde”, relata a profissional. Para minimiazar os danos, o GHC está em contato com a Cruz Vermelha Internacional e a Prefeitura do Rio de Janeiro para seguir modelos que já foram adotados por essas entidades. A ideia é trabalhar o acolhimento das equipes de saúde, promover treinamentos e elaborar protocolos de atendimento que promova a segurança do profissional. Um dos exemplos citados por Clori é a ocasião de alta do paciente, que muitas vezes é acompanhado por um profissional até a saída do hospital, onde ele pode estar exposto a uma série de situações que podem expô-lo ao risco de violência. No dia a dia, complexo hospitalar já trabalha com uma série de atividades com o intuito de prevenir o adoecimento da saúde mental de seus profissionais de saúde. “São escutas individuais, rodas de conversa, atividades lúdicas com jogos. Muitas vezes, o alívio da tensão não vem da fala e sim da expressão ou da participação em um jogo”, conta a terapeuta. “Também são feitas sessões de filmes seguidas de debates, que tenham relação com temas que eles queiram discutir como a relação com o luto, como lidar com o paciente agressivo, o conflito entre equipes etc.”, completa. Impactos na operação O absenteísmo e o presenteísmo oriundos de problemas da saúde mental como o burnout impactam diretamente à operação e os custos das empresas e instiuições. O GHC não abre números sobre os trabalhadores impactados pela síndrome e nem taxas específicas sobre o presenteísmo e absenteísmo da instituição. Mas Clori compara que enquanto nas atividades do comércio o índice de absenteísmo está entre 2 % ou 3%, nos hospitais a média está entre 8 e 10%, considerando doenças em geral, não apenas relacionadas à saúde mental. A Axismed não tem dados específicos sobre a Síndrome de Burnout, mas assim como no caso das depressões, Cátia aconselha sensibilidade dos gestores para descobrir o que está acontecendo com a queda de produtividade de seus profissionais que pode estar eventualmente vinculada ao mal silencioso das síndromes e transtornos mentais. Muitas vezes, segundo ela, as empresas estão mais preocupadas em doenças e casos mais pontuais, como uma cirurgia, por exemplo, e não percebem que problemas de saúde mental podem ser, além de nocivas aos funcionários, impactar negativamente os custos e a operação da empresa. “Um problema de saúde mental, como depressão ou síndrome de burnout, não ocorre da noite para o dia e, quando não há resolução do quadro no início, o trabalhador começa a faltar, é afastado e precisa de auxílio financeiro”, conta. “A empresa não pode abrir outra vaga, pois não pode substituir. Para ela é um prejuízo muito grande mais até do que a sinistralidade do plano de saúde – pois neste caso, ela gastaria com consulta e remédios”, explica Cátia.
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