2 minute read

Especial

procura por outros itens para manter o “compromisso do consumidor” com a tradição da Páscoa. “Como sempre, os filés importados congelados foram bem e, neste ano, os filés de merluza argentina desempenharam bem. No nacional, é a tilápia que foi bem.”

Em Minas Gerais, o cenário foi distinto pela ascensão dos peixes amazônicos. Para um público como o mineiro, para quem os filés são essenciais, a tilápia era um candidato natural na Páscoa, mas não desempenhou bem. Para Fonseca, o fato do filé ter rompido a barreira dos R$ 40/kg inviabilizou o produto nas redes trabalhadas pela Bem Fresco e estimulou a venda de outros itens, como o filé de tambaqui, que custou 30% do preço da tilápia.

Tilapicultores satisfeitos

O nítido aumento de preços da tilápia para o varejo tem outro nome para os produtores e indústrias especializadas no peixe mais consumido pelo brasileiro atualmente: recomposição de margens. “No caso da tilápia, o produtor vem conseguindo trabalhar com o mercado a seu favor, precificando no momento de aumento de demanda”, aponta Francisco Medeiros, diretor presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR). Em um dos maiores pólos nacionais de produção, a sensação foi de alívio pelo aumento dos preços pagos aos produtores. “Neste cenário de escassez do produto no mercado e demanda crescente, houve uma significativa melhora entre a remuneração para o produtor neste ano de 2023 e em relação ao mesmo período de 2022”, aponta a diretora-executiva da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (Peixe SP), Marilsa Patrício Fernandes.

As indústrias do maior pólo tilapicultor do Brasil também celebraram os resultados de uma Quaresma de tilápias mais caras. Segundo Mauricio Deliberaes, gerente de mercado interno de Copacol, houve um crescimento de cerca de 25% sobre o mesmo período do ano anterior, que já havia sido positivo. “Nós terminamos a Quaresma sem estoque. Na verdade, até não conseguimos atender toda a demanda dos clientes: faltou peixe nas últimas três semanas.”

A maior concorrente do pólo paranaense, a C. Vale, também apurou bom desempenho, mas não divulgou números específicos. “Foi muito positivo, tivemos bom crescimento nos volumes quando comparamos a 2022, o preço médio melhorou significativamente e os estoques estão zerados. Como o varejo vendeu bem, não tem pressão de estoques”, detalha Robson Vargas, gerente de mercado interno da C. Vale

Recompras aquecidas

Finda a Quaresma, apesar dos bons resultados manifestados pelos entrevistados, logo começa a preocupação dos peixeiros quanto ao comportamento do consumo fora da sazonalidade. Os primeiros sinais, porém, são animadores. “Acredito que o pós-Quaresma será um dos melhores que já vimos nos últimos anos. Acho que chegaremos muito bem a agosto, quando as vendas normalmente retomam”, comenta Deliberaes, da Copacol.

Segundo Baruzzi, o varejo em geral tem feito compras cada vez mais ajustadas em função do cenário complexo global e doméstico. “Hoje, a preocupação no varejo com os juros e estoque é muito forte e muito importante. Isso faz com que seja compra de dia, mais do que de formação de estoques.” A Frumar percebeu isso claramente durante a própria Semana Santa. “Não tínhamos produto para reposição no meio da Semana Santa. Como houve alguns pedidos de reposição, tentamos resolver com produtos dentro do mix, mas acabamos com quase zero de estoque”, pontua Krummenauer.

Para Guilherme Blanke, diretor da Noronha Pescados, o fator Covid-19 criou um trauma na política anterior de estoques. “Em 2020, os estoques reguladores foram consumidos. Então, ficou uma coisa imediatista de produzir e vender. E agora como diminuiu o consumo no mundo todo por conta do excesso de estoque, mudou-se a forma de trabalhar com os estoques.”

No varejo mineiro, a tendência é continuar a explorar as opções de peixes amazônicos, como indica Fonseca, da Bem Fresco. “O consumidor fez a degustação na Páscoa e agora houve a recompra. E o mais importante é que estes peixes cabem no orçamento das famílias.” Como sintetiza Marilsa Fernandes: “Este ano foi melhor, apesar de o consumidor ter de pagar mais caro para comer peixe. Uma coisa compensa a outra, mas alguém paga a conta.” Em 2023, o consumidor brasileiro de pescado topou pagar a conta.

This article is from: