As cidades são construídas de histórias, memórias e mistérios, feitas de um estuário de afetos, retóricas, discordâncias, interesses, apegos, datas e festas. Grandes celebrações. São os homens com seus sólidos perfis que constroem e desmancham as cidades todos os dias. A Coleção Pajeú, publicada por meio da Secretaria da Cultura do Município de Fortaleza, é uma proposta editorial que pretende reafirmar o patrimônio material e imaterial dos bairros da nossa cidade, permeada por uma consciência histórica e cidadã. Esta terceira etapa contempla os livros Conjunto Palmeiras, José Walter, Montese, Pirambu, Praia de Iracema e Rodolfo Teófilo. Além de Música de Fortaleza, da Série Fortaleza Plural; e os infantis Teatro São José e Maracatu.
Foto da capa Lagoa do Porangabussu.
Rodolfo Teรณfilo
Obra realizada com o apoio da Prefeitura Municipal de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza – Secultfor. Prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra Vice-Prefeito de Fortaleza Gaudêncio Gonçalves de Lucena Secretário Municipal da Cultura de Fortaleza Francisco Geraldo de Magela Lima Filho Secretária-Executiva Paola Braga de Medeiros Assessora de Políticas Culturais Nilde Ferreira Assessor Jurídico Vitor Melo Studart Assessora de Comunicação Paula Neves Coordenadora de Ação Cultural Germana Coelho Vitoriano Coordenadora de Criação e Fomento Rejane Reinaldo
Coordenador de Patrimônio Histórico e Cultural Jober José de Souza Pinto Coordenadora Administrativo-Financeiro Rosanne Bezerra Diretora da Vila das Artes Cláudia Pires da Costa Diretora da Biblioteca Pública Dolor Barreira Herbênia Gurgel Diretor do Teatro São José Pedro Domingues
Secretário da Regional III Alexandrino Malveira Diógenes
Leila Nobre
Rodolfo Teรณfilo
Copyright © 2016, Leila Nobre
Concepção e Coordenação Editorial Gylmar Chaves Projeto Gráfico e Diagramação Khalil Gibran Revisão Milena Bandeira Lívia Leitão Fotos da Capa e Contracapa Rafael Crisóstomo Assessoria Técnica Adson Pinheiro Graça Martins Dados Internacionais de Catalogação na Publicação N 754 R
Nobre, Leila Rodolfo Teófilo / Leila Nobre.- Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2016. 74 p. (Coleção Pajeú) ISBN: 978-85-420-0802-9 1. Bairros - aspectos sociais 2. Rodolfo Teófilo- Usos e custumes 3. História e memórias I.Título CDD: 918.1310
Sumário Introdução 13 O Porangabussu 15 A denominação atual 21 Convivências e festas 27 Equipamentos de Saúde relevantes para a cidade de Fortaleza 29 A Paróquia do bairro 33 Colégio Redentorista 35 Lagoa do Porangabussu e Praça Novo Ideal 41 Terça é dia de feira 47 Soldados da Borracha e o Núcleo de Famílias do Porangabussu 49 Dois depoimentos: um formador de opinião e um guardador de memórias 55 Uma última palavra 65 Referências 67
Apresentação Neste ano de 2016, a nossa cidade de Fortaleza completa 290 anos e continua a nos envolver com seu traçado urbano, história de lutas, celebrações e benquerença de nossa gente. Ao editarmos a Coleção Pajeú, que reúne escritores, memorialistas, pesquisadores, fotógrafos, revisores e designers, queremos reafirmar a trajetória histórica da nossa Capital, ao mesmo tempo que anunciamos ao universo dos nossos bairros um itinerário constituído de litoral e sertão, espaços de afetos e de memórias, singularidades e pluralidades que compõem o conjunto de nossas relações enquanto cidade e cidadãos. Nossa Coleção percorre oralidades, referências bibliográficas, travessias, séculos, perfis, datas e festas. Uma escrita fina que, muito bem, pode ser lida sob a brisa forte de nossa terra e a sombra dos palmares, mas, sobretudo, que resgata e eterniza nossos traços e belezas. Parabéns, Fortaleza! Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra Prefeito de Fortaleza
UMA JANELA PARA O PASSADO Janela aberta é saudade. Quem se debruça sobre ela Sabe e sente Que tem olhos no passado E o corpo no presente. JJ Leandro
Ao meu marido, Reginaldo Maciel; as minhas filhas, Letícia, Lívia e Lara; a minha mãe, ao meu pai (in memoriam), aos meus irmãos; e aos leitores e amigos do site Fortaleza Nobre, pelo apoio incondicional.
Introdução
A
história, os espaços geográficos, as memórias de afeto sempre me chamaram a atenção, e percebo que a nossa capital é um misto de tudo isso. Lembro-me de longas conversas com meu pai sobre o passado de nossa cidade. Sempre exemplar nostálgico, ele costumava narrar lembranças e informações históricas com bastante habilidade. Falar sobre o bairro que presta homenagem a Rodolfo Teófilo fascina-me, tanto pela história de vida desse majestoso homem quanto pela importância que esse espaço urbano de Fortaleza representa para todos nós, em especial para seus moradores.
Para adentrar a historiografia do bairro Rodolfo Teófilo, recorri inicialmente aos arquivos que divulgo no site Fortaleza Nobre. Neste livro, iremos ter contato com aspectos e fatos peculiares ao bairro, bem como conversas com seus moradores, os quais me indicaram os costumes que atravessam o tempo, a tradicional feira livre, a igreja, a lagoa do Porangabussu, a praça, a escola de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e tantos importantes equipamentos de saúde. 13
Esse roteiro proposto é o resultado de uma pesquisa feita com o intuito de descortinar para vocês, leitores, a relevância do bairro Rodolfo Teófilo.
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O Porangabussu
D
e acordo com o religioso Frei Hermínio Bezerra, em sua Coluna1 no Jornal “Diário do Nordeste”, o nome Porangabussu, antigo nome do agora bairro Rodolfo Teófilo, tem origem no tupi-guarani e significa: porangaba = belo + ussu = grande.
Para o jornalista e colunista do O Povo, Felipe Araújo , as primeiras notícias que se tem do bairro remontam aos anos de 1870: 2
Ficou-se sabendo efetivamente da localidade quando, consta que em 1873, a locomotiva Maranguape descarrilou na parada do Amaral, hoje divisa dos bairros Benfica e Rodolfo Teófilo. Terras ermas, para onde os pais foram parar no comecinho dos anos 40. Época de sufoco: seca braba de 42 tinha esturricado as esperanças pelo sertão e o governo temia pelo pior. Os “currais” de dez anos antes – os famigerados campos de concentração de flagelados – ou mesmo o fanatismo e a coragem 1 Matéria de 16 de abril de 2006, do Diário do Nordeste. 2 ARAÚJO, Felipe. Trânsito de almas. Jornal O Povo. Fortaleza: 13.04.2013.
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do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto ainda eram fantasmas a assombrar o interventor Meneses Pimentel e demais representantes do Governo Vargas. Viviam, então, a ouvir falar do tal SEMTA, Serviço de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia, cujos alojamentos eram nas redondezas. Tanto no Prado (que depois se chamaria Benfica) quanto no Alagadiço (mais tarde, São Gerardo). Mulheres e famílias dos trabalhadores casados ficavam em alojamentos no próprio bairro, no lugar onde, décadas depois, a UFC construiria o Hospital das Clínicas. Mas o pai, pequeno comerciante, conseguia sustentar a vidinha simples do dia-a-dia. A família não se deixou levar pelo canto da sereia varguista. Preferiu sentar praça no areal, uma Eldorado desposada do sol. E assim construíram a vida. Ali: avenida João Pessoa e arrabaldes. Tempos de Fortaleza cheia da vitalidade e da beleza de espelhos d’água e córregos. Algumas boas quadras adiante, a Lagoa do Porangabussu (ou Lagoa do Bessa) era o mais deslumbrante deles. A região era cidade, mas também já não era. O bairro era quase apenas uma ligação entre “Fortaleza” e “Porangaba”3, indo e vindo via avenida Benfica, que depois se chamaria Washington Luís e, com a sanha da revolução de 30, em que os moradores arrancaram as placas com o nome do ex-presidente, 3 Nome original da área quando era um aldeamento indígena. Hoje é Parangaba.
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passaria a avenida João Pessoa. A infância, portanto, se deu nesse trânsito: Porangabussu, aquela “beleza grande” em tupi era, na verdade, só passagem, o não lugar mais bonito e encantador da Cidade. Brincadeira na rua, na feira, nos trilhos, perdendo-se até as lonjuras da igreja de São Raimundo. Tempos da Vila Ozanan, da Escola Assis Chateaubriand, dos ônibus Mercedes-Benz com a carroceria de madeira a cruzar o bairro levando e trazendo gente. Tempos de medo dos “maconheiros”, que, diziase, eram capazes de furar as paredes das casas e baforar sua “fumaça do diabo” dentro dos quartos. Lesados e trôpegos, moradores seriam, então, facilmente roubados. Quando não, abusados sexualmente! Era o folclore da época... No início da adolescência, dava para correr ao PV e saber de seu (então) time preferido. Épocas de muitos títulos e de craques a que a memória começava a se acostumar. Mas eis que as cores foram as tais apenas até essa época. No trânsito das almas e das vidas que cortavam aquele Porangabussu, a regra geral era a mudança. Inclusive de time. Pois que um tal de Ceará Sporting Club sediara-se por lá, justo na frente do comércio da família. E qual estrela à beira do abismo, como os versos de Leminski: sinônimo de força e inspiração de coragem. Como 17
a mãe vendia, em sua tendinha, suco e bananada para os “profissionais” do alvinegro, deu no que deu: virou a casaca. Tempos de Aluísio, William, Alexandre, Benício e Mauro Calixto; de Carlito, Zegerardo e Charuto; de Marco Aurélio e Lucena. E, claro, tempos de Gildo. O genial e impávido Gildo. E, véspera de jogo, todos os ídolos a disputar o balcão da venda, em busca do refresco possível. Todos, a poucos metros do olhar, embalando o imaginário do garoto. Ceará tricampeão com uma virada incrível sobre o Ferroviário! Não deu pra resistir... A rigor, Porangabussu ainda hoje é um não lugar. Só existe como memória e afeto. Oficialmente, virou Rodolfo Teófilo – ou foi incorporado a ele. Não consta da cartografia oficial dos bairros da cidade. Mas resta no imaginário de tantos como um lugar real, palpável, traduzindo a paixão clubística e tantos outros sonhos de cidade. A bem da verdade, lugar mais real que aquele, impossível (ARAÚJO, 2013).
Podemos perceber, pelo início da matéria, que a construção do bairro em questão já é de longa data. A matéria faz referência, ainda, a um dos grandes clubes de futebol cearense, que, ao meu ver, seria de grande honra e glória para qualquer bairro tê-lo, dada a sua importância no nosso esporte. 18
O Ceará Sporting Club está situado à avenida João Pessoa, uma das mais movimentadas de Fortaleza. Sua sede e local de treino foram doados pela tradicional família Alencar Pinto, doação esta que teve à frente o Sr. Carlos de Alencar Pinto, desportista apaixonado pelo “Vovô”, como é reconhecido o time entre seus torcedores. Em sua homenagem, a direção do Clube, à época, denominou seu estádio de “Carlos de Alencar Pinto”, o Vovozão. A agremiação esportiva, também conhecida como Alvinegro de Porangabussu, passou por diversas reformas nos últimos anos. Em 2015, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) reconhece a importância do Clube e lhe concede o certificado de Clube Formador, sendo o Ceará Sporting o primeiro do estado a receber tamanha honraria das mãos da entidade máxima do futebol brasileiro.
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A denominação atual
M
uitos de nossos bairros tiveram seus nomes mudados ao longo da nossa trajetória urbana, a maioria por denominações contemporâneas. Podemos exemplificar aqui bairros como Outeiro, Mata Galinha, Redenção, Praia do Peixe, Coqueirinho e Pirocaia, por nomes como Aldeota, Castelão, Fátima, Montese, Antônio Bezerra, Benfica e tantos outros. Em relação ao bairro Rodolfo Teófilo, sua denominação atual é em homenagem ao grande benemérito brasileiro, dedicado a combater a terrível epidemia de varíola que se proliferou sobre o território cearense. O escritor e farmacêutico Rodolfo Teófilo enfrentou esse problema da saúde pública com incansável persistência e coragem. Embora tenha nascido na cidade baiana de Salvador4, considerava-se cearense: “Sou cearense porque quero”.
4 Seus pais moravam em Aracati, mas Rodolfo Teófilo nasceu na Bahia, pois naquela cidade, os médicos tinham mais recursos e puderam atender melhor Antônia Josefina, que enfrentava sérios problemas de saúde. A família passou pouco tempo em Salvador e logo voltou para Fortaleza.
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Para ilustrar esse sentimento de cearensidade, podemos ver no Álbum de Fortaleza (1931), obra iconográfica que retrata importantes aspectos da nossa geografia e do nosso povo, comovente homenagem da escritora Raquel de Queiroz5 para Rodolfo Teófilo: Nas suas barbas brancas de apóstolo, no seu recolhimento e na sua tristeza, é uma das mais belas figuras veneradas do Ceará. Toda uma longa vida de trabalho, de fé e de coragem está naqueles setenta e oito anos fatigados que parecem mais velhos, no esgotamento do seu grandioso esforço. Vinte livros já saíram das suas velhas mãos trêmulas, mãos que fizeram tanto bem e espalharam tanta luz, mãos que hoje só se exercitam nos dois grandes gestos do amor: a esmola, que socorre, que alimenta e que conforta; a benção, que eleva, que purifica e que perdoa. Vinte livros. Toda a história dolorosa das secas e a tragédia nostálgica dos êxodos nas páginas atormentadas de “Fome” e de “Paroara”. Os grandes dramas de sangue, as velhas lendas heroicas de banditismo e sertão, no “Os Brilhantes”, no “O Condurú”, em “Maria Rita”. E a irônica vergastada de “Memórias de um engrossador”, a encantadora utopia do “Reino de Kiato”, e o doce lirismo intelectual de “Telesias”, e o sombrio satanismo 5 BEZERRA, Paulo (org.). Álbum de Fortaleza. Fortaleza: Tip. Gadelha, 1931.
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de “Violação”. E toda uma obra de paciente saber, de apaixonado estudo, na grande bagagem dispersa copiosamente em meio da produção artística. Hoje, o dono da alma heroica que venceu a peste negra naquela luta gigantesca em que ia procurar lá dentro da sua cidadela de casebres a praça forte da miséria e da morte hoje, como uma grande relíquia preciosa, é que vive, branco e trêmulo, luz cansada que invoca a grande noite, desejoso do doce sono que o venha libertar do peso amargo da vida, da saudade da velha e amada companheira que se foi, saudade que é seu único mal e sua única e infinita tortura. Mas é preciso que não se vá. Velho avô bem-querido, que nos ensinou a chorar nossas dores e a curar nossos males, velho avô, carecemos demais do muito que aprendeu, do muito que sabe dedicar-se, do muito que sabe amar. E, se a inveja, a inconsciência e a ignorância conseguissem fazer apagar e esquecer o que sua mão escreveu, nas cicatrizes benfeitoras que cada cearense traz nos braços, está gravada para sempre a marca da sua ciência generosa, velho avô (BEZERRA, 1931).
O contexto histórico a seguir pode nos revelar um pouco do tão grandioso significado deste homem sempre preocupado em servir à população. O ano de 1877 não foi um ano de chuva para o Ceará. As famílias interioranas, desesperadas com a seca que assolava o chão, sentiram-se 23
obrigadas a migrar para a nossa capital. Tornou-se comum presenciar pelas ruas essas famílias em condições precárias de higiene e de subsistência. Elas enfrentavam desafios diários para conseguir o mínimo do básico, como água e comida, tão imprescindíveis para a existência humana. Antes de migrarem para Fortaleza, no interior do Estado, plantios eram invadidos, moças prostituíam-se, depósitos de mantimentos do governo eram saqueados. Devido à fome e às epidemias, a população estava sendo dizimada. As pessoas, desesperadas, fugiram para a capital em busca de ajuda, mas encontraram mais miséria, tornando-se esmoleres e perdendo o mínimo de dignidade. Foi justamente nessa época que a varíola surgiu e logo começou a vitimar os flagelados da seca abrigados em Fortaleza. Os primeiros casos confirmados surgiram em Pacatuba. A informação é de que a varíola chegou ao Ceará pelo Porto de Aracati, que recebia diariamente muita gente que fugia da epidemia no Rio Grande do Norte. Em pouco tempo, a doença alastrou-se pelo subúrbio e esgotou a capacidade de atendimento dos lazaretos6: “Rodolfo Teófilo foi o homem que tomou para si a tarefa de erradicar aquela doença que estava matando a cidade”7 (LIRA NETO, 2015). 6 Estabelecimento isolado, existente nos portos, onde fazem quarentena os viajantes de onde se prolifera uma doença epidêmica ou contagiosa. 7 Documentário da TV Assembleia: “Rodolpho Teóphilo – O legado de um pioneiro”.
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Devido ao seu importante legado na saúde pública, na vida política e sua valiosa contribuição na literatura, o antigo bairro de Porangabussu recebe, como forma de homenagem, o nome desse grande vulto. O bairro Rodolfo Teófilo faz parte da Regional III, tendo em seus limites os bairros Amadeu Furtado, Parque Araxá, Bela Vista, Benfica e Damas. Sedia a Guarda Municipal e a Defesa Civil de Fortaleza. A história do bairro está muito ligada à da sua igreja, a Paróquia São Raimundo Nonato, que teve o assentamento da sua pedra fundamental no dia 07 de junho de 1942, em terreno doado por Raimundo Bessa8, próximo à lagoa de Porangabussu, antes intitulada lagoa do Bessa, em alusão ao proprietário. Padres redentoristas, provenientes da Irlanda, fixaram-se no bairro por volta de 1962. Entre eles estava o padre Brandão (Brendan Callanan), como ficou conhecido por seus fiéis. A chegada desses sacerdotes impulsionou o crescimento do bairro. Além da paróquia, fundaram três escolas: Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, São Raimundo e o conhecido Colégio Redentorista, onde atualmente está instalada a Secretaria da Segurança Cidadã.
8 Biografia não encontrada.
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Segundo o jornal O Povo, em 03 de julho de 2015 , o prédio onde funcionou o Colégio Redentorista será demolido. A desapropriação está prevista para ocorrer em julho de 2016, embora exista a possibilidade de prorrogação, conforme afirma o órgão responsável pela Guarda Municipal e pela Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil, sediadas no local. 9
9 RODRIGUES, Rubens. Prédio de antigo colégio no Rodolfo Teófilo será demolido. Jornal O Povo. Fortaleza: 03.07.2015.
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Convivências e festas
O
bairro Rodolfo Teófilo é um lugar onde os moradores ainda se sentam nas calçadas para conversas, compram em mercearias, esperam a passagem de vendedores à porta, preservam suas festividades, como as promovidas pela Paróquia de São Raimundo, que ocorrem em todo mês de agosto, com missas e leilões. Durante as festas juninas, o campo do Novo Ideal, próprio para atividades esportivas, cede lugar ao “Arraiá do Cumpade Pirulito”, um festival de quadrilhas bastante animado.
No dia comemorativo ao das crianças, os moradores fazem a alegria da garotada. Realizam rifas e bingos para arrecadar dinheiro, compram brinquedos e doces para distribuir entre elas. Em 2015, essa festa, promovida pelas mulheres da vizinhança, conseguiu doações de diferentes tipos de bolas através de um grupo formado no Whatsapp. A rua onde ocorre o evento, a Frei Marcelino, ficou bastante movimentada, repleta de crianças e de uma imensa variedade de guloseimas, fazendo jus à cultura festiva do bairro. 27
Equipamentos de Saúde relevantes para a cidade de Fortaleza
O
bairro possui importantes equipamentos de saúde, como duas Unidades Básicas de Saúde (UBS), o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), a Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC), um Centro de Atenção Psicossocial Geral (CAPS), um CAPS Álcool e Drogas, um CAPS Infantojuvenil e o Instituto do Câncer do Ceará (ICC). A presença dos Equipamentos de Saúde e da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), mesmo trazendo benefícios para o bairro, deixa as ruas engarrafadas, com suas calçadas repletas de carros estacionados, atrapalhando a fluidez do trânsito.
O ano de 1948 foi o que deu início a um maior tráfego de veículos automotivos no bairro, gerando uma mudança significativa para a população no itinerário das linhas de ônibus. Com isso, os moradores uniram-se para reivindicar que fosse restabelecido o antigo trajeto do 29
transporte coletivo, conforme podemos ler no jornal O Democrata daquele ano: OS MORADORES DE PORANGABUSSU BATEM-SE PELO RESTABELECIMENTO DO ANTIGO INTINERÁRIO DOS ÔNIBUS Os habitantes das ruas Sorongo, América, São Raimundo, Adolfo Bessa, José Bastos e outras são obrigados a longas caminhadas para pegar um transporte – Protesto contra a pretensão da empresa de ônibus. Fomos procurados por um dos diretores da União Social de Porangabussu, Sr. Antônio dos Santos Teixeira, para que nosso jornal servisse de veículo para um protesto junto à Inspetoria do Trânsito, contra a atitude tomada pela empresa de transporte que faz aquela linha. Inicialmente, declarou-nos o visitante: “Nós, os moradores das ruas João Sorongo, América, S. Raimundo, Adolfo Bessa, José Bastos e outras que ficam nas imediações, estamos revoltados com o curso que tomam os acontecimentos após a pavimentação do Beco do Segundo”. “Queremos – adiantou o Sr. Teixeira – esclarecer bem os fatos. Foi de um ano, nossa luta para que fosse calçada pela Prefeitura a zona que servia de percurso para os ônibus que fazem a linha de Porangabussu. A Prefeitura inicia, então, 30
a pavimentação do bairro. Muito bem. Mas o interessante é que não foi atendida a pretensão dos moradores das ruas a que acima aludi. E essa coisa esquisita trouxe como consequência essa outra mais esquisita ainda: a mudança de itinerário de ônibus de Porangabussu. Hoje, somos obrigados a uma longa caminhada a pé devido à chegada do calçamento a Porangabussu. Não é propriamente devido à chegada do calçamento, e sim da maneira errada como chegou o calçamento”, concluiu o Sr. Antônio dos Santos Teixeira. Por que a Prefeitura não adota o critério democrático de atender aos pedidos do povo? Por que não foram calçados aqueles trechos que formavam o itinerário do ônibus de Porangabussu? São perguntas que, somente pressionados por poderosas comissões de Porangabussu, o chefe da edilidade responderá. Vamos terminar transmitindo um apelo da União Social de Porangabussu à Inspetoria do Trânsito no sentido de que seja restabelecido o itinerário antigo, pois foi a base desse itinerário que foi iniciada a referida linha (JORNAL O DEMOCRATA, p. 02, 31 de julho de 1948).
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A Paróquia do bairro
A
igreja da paróquia de São Raimundo teve a sua primeira missa celebrada em 18 de julho de 1948 pelo arcebispo metropolitano de Fortaleza, Dom Antônio de Almeida Lustosa, mas o marco inicial desse importante templo deu-se 6 anos antes, em junho de 1942, após a doação de um terreno feita por Raimundo Bessa (AZEVEDO, 2005). E a partir do ano de 1963, a Paróquia passou para as mãos dos padres redentoristas, que haviam chegado ao Ceará em março do ano anterior.
Em março de 2013, o bairro Rodolfo Teófilo comemorou, com uma grande festa, o Jubileu de Ouro10 da igreja. “Quando chegamos aqui existia apenas uma capelinha construída por padres holandeses. Viemos para cá com intuito de recrutar jovens para a nossa ordem redentorista”, explicou, à época, o padre Brendan Coleman, em entrevista ao Jornal O Povo de 17 de março de 201311. 10 Se levarmos em consideração que a sua pedra fundamental foi assentada no início da década de 1940, a Paróquia já tem mais de 70 anos, e não apenas meio século. 11 DANTAS, Afraudísio. Paróquia São Raimundo completa 50 anos. Jornal O Povo. Fortaleza: 16.03.2013.
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Na mesma entrevista, o padre lembrou as obras sociais trazidas pelos redentoristas para o bairro: “Aqui era uma comunidade muito carente. Sequer havia saneamento básico. Construímos uma escola perto da igreja e nessa escola oferecíamos cursos de corte e costura e datilografia”. Os cursos eram administrados numa escola que ficava onde hoje é o Centro de Formação Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em frente à igreja, e foram ofertados nos primeiros anos da Paróquia. Os padres redentoristas estão há mais de cinquenta anos no bairro, não só evangelizando, mas se dedicando profundamente à rotina local, sendo, portanto, figuras importantes no bairro.
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Colégio Redentorista
E
sse importante equipamento de ensino foi idealizado por missionários redentoristas, construído nos arredores da Lagoa do Porangabussu, no ano de 1963, funcionando como colégio até 1999. Inicialmente, o prédio abrigava os confrades em Fortaleza. Nos seus primeiros anos, havia poucas salas de aula, até que se tornou uma das instituições mais tradicionais de ensino de nossa capital. Os moradores sempre estabeleceram vínculos afetivos com este empreendimento educacional, tanto pela sua confortável estrutura física quanto pela convivência entre religiosos e a própria comunidade. “Há poucos dias, soube que o prédio do antigo Colégio Redentorista, no bairro Rodolfo Teófilo, será demolido. A especulação imobiliária, ávida por expandir-se em outras regiões da cidade, atinge agora a Parquelândia e arredores, de olho em vastos terrenos onde possa erguer novos empreendimentos. Assim, em breve, o velho Redentorista sumirá da paisagem urbana, deixando enorme 35
vazio na memória afetiva dos seus ex-alunos, entre os quais me incluo. Sempre cri que um colégio não se faz apenas pelo realce na comunidade educacional em função da aprovação de grande número de alunos nos exames de acesso às universidades, como hoje ocorre nesta disputa entre grandes escolas locais. Um colégio deve destacarse também por forjar os caracteres de seus educandos, infundindo-lhes a importância de valores como respeito, amizade, honestidade, solidariedade e cidadania. Neste ponto, o Redentorista, fundado em 1966 pela congregação de padres irlandeses, atingiu seus objetivos, dando ainda a seus alunos a basilar formação religiosa cristã, preparando-os para os desafios da vida. O colégio encerrou suas atividades em 1999, num período em que outras tradicionais instituições religiosas gradativamente desapareceram, como o Cearense e o das Doroteias. Ali estudei, entre 1972 e 1977, quando toda uma geração alcançou ótimos resultados nos vestibulares. Rendo tributo aos padres Joseph Hanrahan, Dermival O’Connor, Brendan Coleman McDonald e Luís O’Tiomanaidhe, dos quais fui contemporâneo ao tempo em que seguidamente dirigiram o Redentorista. Recordando os velhos e bons tempos, homenageio os professores Francisco Dias (Português), Crisantina (Geografia) e Erasmo (Matemática), entre tantos outros 36
dos quais fomos discípulos. As reuniões de pais e mestres reconheciam os alunos dedicados e serviam para acompanhar o rendimento dos mais avessos aos estudos. Na biblioteca, sem os modernos recursos da internet, líamos e pesquisávamos bastante para cumprir os trabalhos solicitados pelos mestres. O Redentorista, sem dúvida, será sempre lembrado com gostosa saudade por todos os que ali conviveram (BARBOSA, 2015)12.
A edificação, que nos seus áureos tempos era bem cuidada, depois de arrendada, visivelmente caiu no esquecimento e, nos últimos tempos, encontra-se sem manutenção alguma. Veio, então, a triste notícia da demolição do imóvel, o que causou impacto à população local e circunvizinha, principalmente a seus ex-alunos. A referida construção é um importante símbolo histórico para a população do bairro. Nela estão inseridas muitas trajetórias de vidas, de aprendizagens, de saudáveis convivências e de memórias afetivas, tornando-se imprescindível a sua preservação, pois, conforme afirma o arquiteto e professor da Universidade Federal do Ceará e cronista do jornal O Povo, Romeu Duarte Júnior, “é um 12 BARBOSA, Gilson. Saudades do Redentorista. Diário do Nordeste. Fortaleza: 01/08/2015.
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conjunto de informações sobre os valores culturais materiais e imateriais da edificação e do seu entorno que determinará a pertinência ou não de sua proteção”13. A jornalista Daniela Nogueira guarda na memória os momentos vividos no colégio e reconhece a importância daquela instituição na sua vida, tanto pessoal quanto profissional: “Estudei no Colégio Redentorista durante sete anos. Só saí quando a instituição fechou – na verdade, arrendada para outra organização. E hoje constato – foram os anos mais felizes da minha vida escolar e da minha formação humana. Muitos dos valores cidadãos, cristãos e éticos que tenho e sigo foram construídos e solidificados nesse período. Eu me orgulho de ter feito parte dessa história e de ter meu irmão e minha irmã também nesse processo. Foi um período marcante em vários aspectos. Como esquecer-se do jeito manso e terno do padre Tomé (Thomas Reynolds), o diretor? Como não se emocionar com cada comemoração que lotava a quadra? E as aulas de educação física correndo no campo verdinho? E o prazer de chegar ao ensino médio e passar a estudar no andar de cima? Mas era mais do que isso. A educação no Redentorista sempre foi baseada na valorização 13 RODRIGUES, Rubens. Prédio de antigo colégio no Rodolfo Teófilo será demolido. Jornal O Povo. Fortaleza: 03.07.2015.
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do ser humano, sem se esquecer dos conteúdos curriculares que todo ensino regular requer. Nunca houve um interesse mercadológico ou competitivo como objetivo maior. E nem por isso a escola deixou de formar bons profissionais. São muitos os colegas e amigos do Redentorista que conheço e são muito bem-sucedidos nas carreiras que escolheram. Professores, jornalistas, médicos, dentistas, enfermeiros, engenheiros, contabilistas, assistentes sociais – só para citar os mais próximos. São melhores profissionais porque estudaram lá? Tenho certeza de que são profissionais mais humanos (NOGUEIRA, 2012)14.
14 NOGUEIRA, Daniela. O orgulho redentorista. Jornal O Povo. Fortaleza: 05/02/2012.
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Lagoa do Porangabussu e Praça Novo Ideal
A
lagoa do Porangabussu, também denominada lagoa do Bessa, que recebeu urbanização nos últimos anos, preserva o antigo nome do bairro. Situada na porção centro-oeste de Fortaleza, ela faz parte da bacia hidrográfica do rio Cocó. Dela origina-se o riacho Tauape, que deságua na margem esquerda do rio Cocó, a cerca de 3,5 km de sua foz. A lagoa possui um espelho d’água de 985 m2, o qual, antes da referida urbanização, a população não conseguia enxergar por estar coberto por macrófitas aquáticas que, por um longo período, manteve-se. No ano de 2007, houve uma parceria entre a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano (SEMAM), atual Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (SEUMA), e a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE), com o objetivo de realizar a limpeza das galerias de águas pluviais e a vistoria de toda a rede de drenagem localizada no entorno da lagoa, havendo a desobstrução de 2,3 km de drenagem, com a construção de 107 m de novas galerias. Além disso, foram fechadas 1.812 ligações clandestinas de esgoto que desaguavam no 41
manancial, de acordo com dados informados pelo site da Prefeitura Municipal de Fortaleza em 2009. Em 05 de junho de 2009, foi inaugurada a urbanização da lagoa do Porangabussu. A estrutura do entorno passou a ter anfiteatro, dois quiosques para educação ambiental, três quadras de esporte, pista de skate, um playground, área de ginástica e o calçadão para a prática de cooper, além de uma cabine da guarda para garantir a segurança dos frequentadores. Ainda segundo informações do site da Prefeitura Municipal de Fortaleza, houve também a reconstituição da flora com espécies locais, a construção de limites físicos (calçadas e gradis), respeitando o fluxo e refluxo da lagoa, sem obstruir a visão da paisagem. Lembro com saudade minhas caminhadas pela Lagoa que, carinhosamente, eu chamava de minha. Meus olhos se enchiam com aquelas imagens marcadas por lindas garças brancas como algodão. Certa vez contei cinquenta e duas. A população felina também enchia de beleza a Lagoa, embora me deixasse triste por saber como sempre foi crescente o abandono desses animais carinhosos e sedutores. Os peixes, as galinhas d’água, o sol clareando suas águas, enquanto eu e outras tantas 42
pessoas caminhávamos, tentando manter a forma, investindo numa vida mais saudável. Acordar cedinho para caminhar ou caminhar no final da tarde, encontrar nas terças e quintas um grupo de pessoas de diferentes idades fazendo exercícios, comandadas por um profissional de educação física. Observar idosos fazendo uso da academia ao ar livre, mantida cuidadosamente para o usufruto de todos que quisessem. O coqueiral sempre me encheu os olhos de tão belos, e num determinado ponto ele mais parecia um cartão postal. Eu gostava de sentar num daqueles banquinhos e apreciar o movimento das águas. Às vezes fazia isso da varanda de minha casa. E quando o sol se punha era ainda mais bela a minha, a nossa Lagoa. Porangabussu, a Lagoa, tinha uma estética que me fazia perceber e sentir toda a sua beleza. [...] E para que não restasse dúvida, a referida guarita foi derrubada, arrancada do chão como para que dúvida não restasse quanto à opção pelo abandono do lugar. O mato cresceu, a quadra de esportes foi sendo sucateada e nossa Lagoa foi sendo tomada por indivíduos que vivem à margem (da Lagoa e da sociedade). Assaltos, hoje, são comuns. A insegurança reina e não há nada que nos indique que a administração da cidade não se esqueceu este pedaço importante da nossa Fortaleza. (SOUSA, 2015)15. 15 SOUSA, Cida de. Artigo: Porangabussu, a Lagoa abandonada. Jornal Parque Araxá.
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A lagoa do Porangabussu passou por diversos processos de transformação ao longo dos anos, processos estes que vão da sua limpeza e urbanização até seu paisagismo e conscientização dos moradores residentes no entorno. Em 2009, na festa de inauguração da Lagoa, com a presença da então prefeita, Luizianne Lins, e do Secretário Executivo Regional (SER III), Estevão Romcy, houve atividades físicas, prestação de serviços, apresentações artísticas, abraço coletivo dos presentes à lagoa e shows com artistas da cidade. A programação teve duração de seis horas (das 14h às 20h) e fez parte das ações da Prefeitura Municipal de Fortaleza no Dia Mundial do Meio Ambiente. “Para quem viu o estado em que a lagoa estava antes e chega ao local hoje, é impossível não se emocionar com a diferença. Antes era uma completa degradação, hoje a lagoa representa vida, traz felicidade aos frequentadores. É uma obra de muita importância não só para a Regional III, mas para toda a cidade”, afirma Estevão. “Entregar uma obra dessas não é finalizar, mas passar para a outra fase de um processo contínuo. A Prefeitura organizou, mas caberá à população manter bem o local para que continue trazendo as melhorias que todos nós merecemos. Hoje, como trabalho executado, Fortaleza: 14/07/2015.
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podemos dizer que na lagoa houve uma verdadeira ressurreição.” (CONVITE: INAUGURAÇÃO DA LAGOA DE PORANGABUSSU, 2009)16
Em setembro de 2014, mais uma vez, a Prefeitura de Fortaleza trabalhou na restauração e revitalização da lagoa do Porangabussu, legitimando-a cada vez mais como local de encontro, convivência e diversão dos moradores, principalmente para atividades físicas de idosos. A titular da Regional III, Fátima Canuto, expôs, à época, no site da Prefeitura Municipal de Fortaleza, que a reforma traria benefícios aos moradores: “A reforma qualificará o espaço, proporcionando à região área verdes, beleza e a melhoria do ponto de encontro para jovens, crianças e idosos”. A operadora de máquinas Margarida Maria da Silva de Oliveira, de 65 anos, narra que a tranquila vida no bairro gira em torno da lagoa de Porangabussu, da igreja São Raimundo e da praça Novo Ideal: “Eu nasci, casei, tive meus filhos, netos, bisnetos, tudo no Rodolfo Teófilo. Esse bairro representa tudo na minha vida. Nunca vou esquecer quando fugi com o meu esposo por aquela esquina. Hoje, nós estamos fazendo 49 anos de casados”17. 16 AUTOR DESCONHECIDO. Entrevista de Marcelo Silva, ex-secretário da SER III, ao site Partido Verde. Convite: Inauguração da Lagoa de Porangabussu. 17 LUANA, Lima. O sossego do Rodolfo Teófilo. Diário do Nordeste. Fortaleza: 15/09/2010.
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Quanto à praça Novo Ideal, ela é composta por um campo de futebol, uma quadra, uma lavanderia e alguns barzinhos. A lavanderia comunitária Edmundo Rodrigues foi inaugurada no início da década de 1990, e de acordo com a Secretaria Executiva Regional III (SER III), o objetivo é gerar emprego e renda para famílias da comunidade. Reinaugurada em 09 de dezembro de 2011, recebeu nova estrutura, conforme relato da SER III para o jornal O Povo18: “Com novo telhado, instalação de dez novas pias e torneiras, conserto da instalação elétrica, três novas luminárias, 21 tomadas elétricas, além da caixa d’água, que antes apresentava vazamento e agora recebeu impermeabilização”.
18 AUTOR DESCONHECIDO. Lavanderia Comunitária é reinaugurada no Rodolfo Teófilo. Jornal O Povo. Fortaleza: 08/12/2011.
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Terça é dia de feira
A
feira livre do bairro Rodolfo Teófilo, existente há mais de meio século, ocorre nas manhãs de terçafeira, na rua Frei Marcelino, entre as ruas Gustavo Braga e Tavares Iracema, e ganha grande movimentação de seus moradores, ávidos pela compra de produtos frescos e enorme variedade de artigos do lar e pessoais. O depoimento de moradores dá amostra do espírito da feira: “Aqui é um verdadeiro shopping a céu aberto, onde temos liberdade para andar de barraca em barraca até encontrar o que estamos procurando. Gosto da feira por causa do estado de conservação das mercadorias, dos preços e das tiradas humorísticas dos vendedores, que, às vezes, só faltam matar a gente de rir com seus causos e gritos para chamar a atenção do povo para as suas barracas.” (Informação verbal)19
19 MENDONÇA, Juracy. Feira livre resiste ao tempo no Rodolfo Teófilo. Jornal Parque Araxá. Fortaleza: 28/06/2013.
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O lugar, então, torna-se esse espaço importante de socialização, trazendo em sua essência esse Ceará brincante, bem-humorado e diverso, além de suprir as necessidades da população local.
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Soldados da Borracha e o Núcleo de Famílias do Porangabussu
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urante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses interromperam o fornecimento de borracha para os Estados Unidos, deixando as autoridades norte-americanas em pânico. Para suprir suas necessidades, o governo americano implantou a estratégia de usufruir da riqueza do látex brasileiro, precisamente situado na Amazônia. Em decorrência de um acordo forjado, milhares de nordestinos partiram para trabalhar nos seringais amazônicos. Em Fortaleza, os flagelados da seca de 1941/1942 acabaram sendo atraídos por promessas de garantias empregatícias que viabilizaria um melhor futuro em suas vidas. Era comum ver anúncios das caravanas migratórias, das quais os cearenses foram precursores. A migração destes para o Norte do país leva a crer que tudo não passou de uma estratégia do governo para desafogar a cidade, que estava sobrecarregada de retirantes famintos, doentes e sem ter onde ficar. O que realmente ocorreu foi uma forma de exploração bastante deliberada de nosso povo. 49
Foi criado, em 1943, o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA)20, com o intuito de recrutar, encaminhar e dar assistência aos soldados e suas famílias. Este Serviço integrava o Departamento Nacional de Imigração (DNI) do governo varguista. Vários fatores levaram o Ceará a ser escolhido como Centro Operacional deste serviço, entre eles a perda da safra agrícola devido à seca de 1942. Levou-se em conta, também, uma melhor adaptação, visto que já havia ocorrido imigração entre os cearenses para a Amazônia no final do século XIX e início do século XX, devido ao Primeiro Ciclo Econômico da Borracha. Na capital, sua sede administrativa funcionava no Palácio do Comércio, no centro da cidade, em campos de alojamentos criados no Prado (atual bairro Benfica) e no Alagadiço (atual bairro São Gerardo). Diferentemente desses alojamentos, o bairro Porangabussu abrigava as mulheres e as famílias dos homens casados. Na assinatura do contrato para ir trabalhar na região amazônica com a extração do látex, podia-se optar pela assistência que o SEMTA oferecia para sua família 20 O SEMTA foi um órgão brasileiro criado em 1943, como parte dos Acordos de Washington, tinha como finalidade principal o alistamento compulsório, treinamento e transporte de nordestinos para a extração da borracha na Amazônia, com o intuito de fornecer matéria-prima para os aliados da II Guerra Mundial.
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que ficava no Nordeste. Como exemplo, alimentos abaixo do preço de mercado, inclusão do alojamento até que o contratado chegasse ao seringal ou assistência integral, com hospedagem em seus barracões. Um carimbo no contrato identificava o tipo de proteção pela qual o trabalhador optara. Os dependentes também tinham o direito de ficar sob a responsabilidade do próprio trabalhador. Nesse caso, os familiares residiriam em palhoças rústicas, dormindo em redes21. O Núcleo de Famílias do Porangabussu foi criado em 1943, mesmo ano da Consolidação das Leis Trabalhistas e do início do SEMTA. Mulheres e filhos dos soldados da borracha, como eram chamados os trabalhadores que seguiam para a Amazônia, deviam seguir as regras impostas. Inconformadas com a condição, essas mulheres encontraram, por meio de correspondência, uma maneira de expor angústias, desejos, queixas da vida nos alojamentos improvisados, reivindicando, dessa forma, ajuda do governo. Algumas dessas cartas estão atualmente reunidas no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC). Nestas, havia quem reclamasse das imposições arbitradas pelo Núcleo.
21 AUTOR DESCONHECIDO. Guerra da Borracha. Gazeta do Povo. Fortaleza: 26/12/2008.
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Dona Elcídia Galvão, por exemplo, quando escreveu ao seu marido Cursino, em 20 de junho de 1943, confessou que fumar e chorar eram os seus únicos confortos desde que ele partira, reclamou da saudade e falou da difícil convivência no Núcleo do Porangabussu: Cursino, aqui já botaram inquisisão por causa do fumo, já disse a senhora do Dr. que prefiro ser enxotada do núcleo, mas de fumar não deixava, pois é o meu único conforto aqui é fumar vivo aqui neste núcleo de tristesa sem você mãe sem adonde? Sem ter a quem da as minhas queixas fumar e chorar são meus únicos consolos desde que você foi embora, a maior parte das mulheres que tem aqui são os cão de carne vivem de foxicos e briga e de prometeres quebra cara umas das outras são um pessoal que ninguen pode ter amisade de cento se tira uma basta que eu lhe diga isto. E mesmo so tu poderá dá alivio as minhas saudades tu deve compreender que sentido eu digo mas acho tão custoso esses 6 meses mas como Deus ti levou pode traser ou mesmo me levar por tanto vou-me conformar, não é? (Trecho de correspondência disponível no MAUC)22
22 Trecho de correspondência de Elcídia Galvão ao seu marido Cursino, de 27 de junho de 1943, Fortaleza - CE, disponível no Acervo Regina Chabloz – MAUC/UFC.
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Em outra carta, de 27 de junho de 1943, ela questiona a falta de notícias do marido, indaga se havia sido esquecida, fala das saudades que o filho sente do pai e afirma que, diferente dela, as outras famílias recebem correspondências dos respectivos esposos: Meu querido Cursino, hoje as saudades crusificame mais do que nunca, faço-te estas linhas para vê se obtenho o meno em sonho uma notícia tua. Já estou quase sem esperança de tu me dar noticias porque seio que as dificuldades são muitas com esta já são duas cartas que ati escrevo, para vê se tenho alivio mas nada porque? Já estou por ti esquecida? O nosso Samuel diz mamãe papai parece já ter esquecido do nos, porque todo o mundo escreve para sua família e papai não, todas as noite elle pede para eu ensinar o padre nosso para oferecer ao Divino Espirito Santo para tu ser feliz e mandar noticias sempre quase todos os dias elle amanhece contando um sonho que teve contigo, elle já perdeu dois quilos e meio e esta com uns tremores na perna (Acervo Regina Chabloz)23.
23 Trecho de correspondência de Elcídia Galvão ao seu marido Cursino, de 27 de junho de 1943, Fortaleza - CE, disponível no Acervo Regina Chabloz – MAUC/UFC.
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O SEMTA recrutou e enviou, entre 1943 e 1945, para as florestas fechadas da Amazônia, um contingente de 60.000 homens destinados a trabalharem no Segundo Ciclo da Borracha. Quando a Segunda Guerra Mundial chegou ao fim, o Serviço foi desativado e os Soldados da Borracha, entregues à própria sorte, sem as mínimas condições de retornarem aos seus lares.
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Dois depoimentos: um formador de opinião e um guardador de memórias
E
m conversa com Juracy Mendonça e Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), personalidades que vivem o cotidiano do bairro Rodolfo Teófilo, obtive dois significativos depoimentos, ambos enriquecem, a sua maneira, o olhar de quem se debruça sobre a história do lugar, os quais transcrevo a seguir.
Juracy Mendonça24 O Rodolfo Teófilo é o bairro onde tenho o prazer de morar há vários anos. Na verdade, não nasci aqui, e sim no Pirambu. E por lá residi até o final da década de 1980. Quando cheguei por aqui, mais precisamente nas imediações da avenida Jovita Feitosa, senti que a região necessitava de um veículo de comunicação que desse destaque ao seu passado e presente, que valorizasse os artistas, os eventos 24 Entrevista concedida à Leila Nobre, em 15 de outubro de 2015, por Juracy Mendonça, jornalista e editor do Jornal Parque Araxá.
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culturais, as reivindicações das comunidades, enfim, que servisse de elo de ligação entre os moradores. Foi assim que, em agosto de 1997, foi lançada a primeira edição do Jornal Parque Araxá, informativo mensal do qual sou o editor e que circula até os dias de hoje, com uma linha editorial que visa contribuir com o desenvolvimento sociocultural e econômico do Parque Araxá, Parquelândia, Rodolfo Teófilo e adjacências. O trabalho no JPA fez com que eu percorresse com mais assiduidade as principais ruas, praças e avenidas desses bairros. E fez também com que me encantasse com a lagoa do Porangabussu, nosso principal cartão-postal, tanto que passei a residir em suas margens desde 2004. Sei que sou suspeito para falar, mas não tenho medo em afirmar que o Rodolfo Teófilo é um dos bairros mais importantes para o cotidiano de Fortaleza. Não bastasse a beleza ímpar da lagoa, com sua visão admirável, ainda temos o privilégio de estarmos bem próximos do centro da capital cearense e desfrutarmos de uma rede de serviços públicos e particulares que não deixa nada a desejar em relação aos outros pontos da cidade. Aqui merece citação o complexo de saúde que ocupa vários quarteirões do Rodolfo Teófilo, onde se destacam órgãos como o Hemoce, a Maternidade Escola Assis Chateaubriand, Hospital Walter Cantídio, Instituto do Câncer, Centro de Especialidades Odontológicas e outros pertencentes à área de pesquisas da Universidade Federal do Ceará, formando, assim, o Campus do Porangabussu. 56
Além disso, ressaltamos a proximidade com shoppings, restaurantes, churrascarias, pizzarias, bares, panificadoras, frigoríficos, farmácias, salões de beleza, postos de combustíveis, enfim, uma grande e variada oferta de produtos e serviços. Apesar da violência urbana, hoje tão comum em grandes capitais, o Rodolfo Teófilo ainda é um bairro sossegado e bom de morar. Por ser moradia de tantos artistas e produtores culturais, um movimento de aglutinação seria interessante!
Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)25
Na verdade, iniciei meu trabalho em 1954, quando tinha 20 anos de idade e ainda era solteiro e morava na rua Jaime Benévolo, 757, no bairro José Bonifácio. Depois morei na Rua da Assunção, e já casado é que vim morar no Rodolfo Teófilo, bairro então conhecido como Porangabussu. Me casei em 1959, com 25 anos de idade, mas vim morar aqui em 1969, com 35 anos. Quando me mudei para o Rodolfo Teófilo, o bairro era um tanto morto por várias razões: o trilho do trem era limite do bairro com o Benfica e com o Damas e não havia comunicação, pois os trilhos 25 Entrevista concedida à Leila Nobre, em 20 de novembro de 2015, por Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), jornalista, historiador, pesquisador e diretor presidente do Arquivo Nirez.
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do trem ficavam muito altos e poucas ruas o atravessavam. Havia ainda muito mato e muitos terrenos desabitados. Havia, como ainda há, a lagoa de Porangabussu e, a sua margem, a Igreja de São Raimundo (de 1942). A casa que construí em terreno adquirido do Sr. Sitônio tinha um único acesso e quem vinha para cá tinha que voltar pelo mesmo caminho. Havia um riacho que vinha da avenida Bezerra de Menezes e desaguava na Lagoa, passando pela minha casa, que no inverno alagava tudo e ninguém podia sair de casa. Depois, no governo de Cambraia, consegui canalizar o mesmo. Antes de canalizar o riacho, dormir era difícil com milhares de muriçocas que atacavam a partir das 5h da tarde. O local mais conhecido do bairro ficava na rua Teodoreto Souto, que era o cabaré da Santa, prostíbulo que encerrou suas atividades em 1962, quando houve um tiroteio saindo ferido um oficial da Aeronáutica. Também foi em 1962 que a rua em que eu morava deixou de chamar-se Barão de Ibiapaba para denominar-se Professor João Bosco. Foi em 1969 que dei ao meu trabalho o nome de Museu Fonográfico do Ceará, sendo noticiado até na revista Veja. Em 1975, muda o nome de Museu Fonográfico para Museu Cearense da Comunicação. Em 1981, em protesto contra o prefeito Lúcio Alcântara, o Museu Cearense da Comunicação fecha suas portas para o público. Em 1982, o trabalho prossegue, agora com o nome de Arquivo Nirez.
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Nirez prossegue seu relato recordando o surgimento de diversas instituições importantes para o bairro Rodolfo Teófilo e seu sentimento enquanto morador local. Morar no bairro Rodolfo Teófilo é muito bom por vários fatores. Aqui não é um bairro muito barulhento. Temos dentro do próprio bairro a igreja de São José Operário, o Colégio Maria Monfort, o Colégio Deoclécio Ferro, várias padarias, açougues, restaurantes, depósito de material de construção, uma funerária e várias casas comerciais das mais variadas. Temos, pelo menos no trecho onde moro, bairros vizinhos maravilhosos como o Benfica, onde está a Reitoria da UFC, a Rádio Universitária, o MAUC, agência do Banco do Brasil, agência dos Correios, agência do Santander, o Shopping Benfica, a Biblioteca Dolor Barreira, a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, etc. O campus da UFC, onde estão a Maternidade Assis Chateaubrind, o Hospital Walter Cantídio, a Faculdade de Medicina, o Ceará Sporting Clube, etc. É um bairro tranquilo, sem grandes movimentos, residencial, com muito comércio e bem servido de várias linhas de ônibus. Na esquina da rua Padre Francisco Pinto com a Avenida da Universidade existe uma casa muito antiga que abriga umas religiosas que fazem dela um abrigo de idosos. Lá já funcionou o Dispensário dos Pobres. Ali é Benfica, mas foi praticamente lá que nasceu o antigo Porangabussu. Era conhecida como a Casa Grande do Benfica, pertencente 59
ao abolicionista José Corrêa do Amaral, conhecido como José do Amaral, irmão do também abolicionista Isaac Amaral. Nessa casa, José do Amaral escondia escravos fugidos de seus donos. O terreno onde ficava encravada esta casa era imenso e ia do Benfica até Porangaba, na direção sul, e, na direção poente, até o Barro Vermelho e as terras de Raimundo Bessa. Quando seu terreno foi atravessado pela estrada de ferro de Baturité, ali existia a “Parada do Amaral”, o riacho que era sangradouro da Lagoa das terras de Raimundo Bessa atravessava as terras de Amaral e foi batizado até hoje de Riacho Amaral. A lagoa do Porangabussu até hoje é conhecida por Lagoa do Bessa, por ficar nas terras de Raimundo Bessa. Em 1941, Raimundo Bessa doou um terreno à beira da lagoa para a construção de uma igreja cujo assentamento da pedra fundamental deu-se em 7 de junho de 1942. A igreja recebeu a invocação de São Raimundo, talvez em homenagem ao doador das terras. No dia 18 de agosto de 1948, o então arcebispo Metropolitano de Fortaleza Dom Antônio de Almeida Lustosa sagra o sino da Igreja. O primeiro descarrilamento de trem da Estrada de Ferro de Baturité deu-se no dia 24 de outubro de 1873, bem próximo à Parada do Amaral, quando a composição puxada pela locomotiva Maranguape sai dos trilhos. O local hoje é o encontro da avenida José Bastos com a rua Padre Cícero. Na rua Ana Nery, 1300, é inaugurada, em 1943, a Igreja Batista de Porangabussu. No dia 11 de agosto de 1945, é 60
instalado um Posto de Saúde no bairro pela Arquidiocese. A Padaria Vitória, de J. Pinho & Cia. Ltda. abre suas portas no dia 10 de janeiro de 1946. A firma era encabeçada pelo comerciante português José Rodrigues Pinho e Silva e seu filho Porfírio Dias da Conceição. Ficava na rua Ana Nery, próxima ao trilho do trem. Em 15 de agosto de 1946, instala-se a Escola Demócrito Rocha, ocasião em que é inaugurado um grande retrato em homenagem ao fundador do jornal O Povo. A 9 de junho de 1947, é fundada, na residência do médico Jurandir Marães Picanço (Jurandir Picanço), a Sociedade Promotora da Faculdade de Medicina do Ceará, responsável pela instalação da Faculdade de Medicina a 01/03/1948, sob a bênção de Dom Antônio de Almeida Lustosa, e autorizado o seu funcionamento em 13 de abril e suas aulas tiveram início em 12 de maio. Seu primeiro diretor foi o médico Jurandir Marães Picanço (Jurandir Picanço). Depois foi anexado à Universidade do Ceará, pela Lei nº 2.373, 23/12/1954. Funcionava na Praça José de Alencar, no antigo prédio da Escola Normal, onde ficou até junho de 1957, quando se transferiu para o Campus do Porangabussu, da Universidade do Ceará (depois Universidade Federal do Ceará – UFC). Em 1956, no dia 17 de junho, são retirados todos os ônibus das linhas Porangabussu e Igreja de São Raimundo da Praça do Ferreira passando para a Praça José de Alencar. É lançada, no bairro, em 3 de março de 1956, a pedra fundamental da Maternidade Popular de 61
Fortaleza, que depois se chamaria Maternidade Escola Assis Chateaubriand, da Universidade Federal do Ceará, inaugurada no dia 11 de dezembro do mesmo ano. O projeto foi dos arquitetos Oscar Valdetaro, Roberto Nadalutti, Israel de Barros Correia e o engenheiro Carlos Miranda. O construtor foi o engenheiro Jaime Verçosa. O primeiro diretor da maternidade foi o professor José Galba Araújo. Em 19 de fevereiro de 1963, inaugura-se, com a presença do reitor Martins Filho, o Hospital Infantil Olga Barroso. No dia 13 de dezembro de 1963, inaugura-se a Maternidade Escola, com a presença do embaixador Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, vindo especialmente para o evento. Inaugurada em 12 de dezembro de 1967, a Pracinha da Maternidade Escola, com o nome de Praça Dr. José Ribeiro da Frota, na gestão do prefeito José Walter Barbosa Cavalcante, entre as ruas Capitão Francisco Pedro, Papi Júnior, Costa Mendes e Alexandre Baraúna. O hospital do campus da UFC, no Porangabussu, recebe o nome de Hospital das Clínicas Professor Walter Cantídio em 18 de fevereiro de 1975. Em 1981, é construída a Igreja de São José Operário, na rua Professor João Bosco, esquina com Coronel Nunes de Melo. No ano de 1999, é inaugurado o Instituto do Câncer, na rua Papi Jr., 1222. A Casa da Comédia Cearense é inaugurada em 2002 por Haroldo Serra e Hiramisa Serra. À noite do dia 16 de março de 2004, morre em Fortaleza, aos 53 anos de idade, o padre Leonard Michael Martin. Ganhou 62
a admiração de toda comunidade acadêmica na Universidade Estadual do Ceará – UECE, e também no Instituto Teológico Pastoral – ITEP. Como padre redentorista, teve o carinho da comunidade da Paróquia de São Raimundo, no bairro Rodolfo Teófilo. O velório foi na Igreja de São Raimundo, onde foi concelebrada missa às 18h30min do dia 18, presidida pelo arcebispo de Fortaleza, Dom José Antônio Tosi. Logo em seguida, o corpo embarcou para a Irlanda, sua terra natal, a pedido da família. Nascera na Irlanda em 14/04/1950.
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Uma última palavra
C
reio que em cada bairro deveria existir um núcleo de estudos sobre suas memórias, como assim manifesta o escritor Gylmar Chaves, coordenador da Coleção Pajeú. No bairro Rodolfo Teófilo temos essa figura que nos traz a profundidade histórica local e de tantas outras paragens, um dos mais respeitados memorialistas e colecionadores do nosso estado e do Brasil, Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), cujo arquivo é uma fonte muito importante para fins de pesquisa, inclusive para esta que ora concluo. Escrever este livro foi bastante prazeroso. Espero que você, leitor, tenha também se deleitado. Assim, agradeço aos moradores, aos entrevistados e aos colaboradores que me trouxeram mais uma vez Rodolfo Teófilo, um bairro repleto de histórias e de tradições.
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Este livro foi impresso em Fortaleza (CE), no outono de 2016. A fonte usada no miolo é Times New Roman, corpo 11/13,5. O papel do miolo é pólen 90g/m², e o da capa é cartão supremo 250g/m².
Avenida JosĂŠ Bastos na altura da atual rua Padre CĂcero (1971). Fonte: Arquivo Nirez.
Trem de passageiro Maria Fumaça onde hoje se localiza a avenida JosÊ Bastos (1917). Fonte: Arquivo Nirez.
Leila Nobre é cearense de Fortaleza, casada, mãe de três lindas princesas. Pesquisadora memorialista, idealizou e mantém o site Fortaleza Nobre, fonte de pesquisa para professores e alunos universitários do Estado. Focado no resgate da Fortaleza antiga, site já foi tema em monografias e diversas vezes citado em jornais e revistas da capital.
Foto da contracapa Igreja da Paróquia de São Raimundo Nonato.