Mulheres de Renda

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Mulheres de Renda História e trajetória do grupo de rendeiras da Associação Cáritas Paroquial Cruzeiro de Poção – PE


Mulheres de Renda

Poção – PE Semiárido do Nordeste / Brasil Março de 2016


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Apresentação

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Surgimento da Renda Renascença

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Poção: Berço da Renascença

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Tecendo a história

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Linha do Tempo

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A arte do saber-fazer

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As protagonistas

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Considerações

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Expediente 2


ECáritas Paroquial Cruzeiro de Poção, Agreste de Pernambuco, no Semiárido brasileiro. sta cartilha traz a história e trajetória do Grupo Mulheres de Renda da Associação

A construção desta publicação se deu de forma coletiva, a muitas mãos, através de oficinas, entrevistas, feira de conhecimentos e trabalhos em grupos. Esses momentos permitiram as rendeiras se apropriarem de suas experiências como protagonistas, trazendo reflexões, identificando as conquistas e os desafios ao longo do tempo de existência, bem como reconstruindo e validando seus saberes enquanto detentoras de conhecimentos de uma arte e um ofício seculares na região Nordeste: a renda Renascença.

É nesse sentido que a produção do conhecimento fundamentalmente acontece no espaço do coletivo, ou seja, toda a construção e reflexão da trajetória, como a identificação das conquistas, lições e desafios, acontecem no conjunto dos atores locais. É importante que as rendeiras se empoderem do seu próprio saber de maneira coletiva, alcançando uma compreensão profunda sobre os aprendizados e resultados da sua própria experiência. A cartilha é fruto da parceria da Associação Cáritas com o Programa Semear (FIDA, IICA e AECID), através do Edital Nº 02/2015 de Apoio a Propostas de Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste do Brasil. Durante esses momentos coletivos foram identificados os elementos chaves de conquistas, acertos, desafios e perspectivas de futuro. Foi uma oportunidade de cada rendeira olhar e refletir a partir da experiência e refazer todo o itinerário dessa caminhada como grupos de mulheres. Ao recontar e reconstruir sua trajetória proporcionou que as rendeiras colocassem em prática seus conhecimentos antigos, o “saber-fazer”, e ao mesmo tempo validasse e aprendessem novo saberes. Esperamos que esta cartilha possa ser não só um registro e uma memória da história das rendeiras da Associação Cáritas Paroquial Cruzeiro de Poção, mas um instrumento de propagação dos conhecimentos e aprendizados dessas mulheres artesãs que vivem no Semiárido com toda sua diversidade e adversidade.

Viva o Semiárido! Viva a renda Renascença! Viva as rendeiras!

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Renda Renascença é uma atividade artesanal e uma técnica têxtil surgida no século XVI, tendo origem em Veneza, na Itália. Chegou ao Brasil pelas mãos das mulheres dos colonizadores europeus e passou a fazer parte das tradições rurais do Semiárido do Nordeste brasileiro. Há influência muito forte também das freiras estrangeiras que, nos conventos, ensinavam este tipo de trabalho às alunas. A Renascença difundiu-se pelas mãos das rendeiras nordestinas, que passam a arte de geração em geração. No ofício, linha, agulha e lacê bordam e alinham toalhas, lençóis, colchas, fronhas, mantas, vestidos, camisas, acessórios e roupas infantis. São peças delicadas produzidas exclusivamente à mão, com traços marcantes, em que predominam pontos próprios e entrelaçados. Neste traçado, desenhos concêntricos se projetam em linhas sinuosas e divergentes. Tradicionalmente feita em tecido branco, a renda Renascença do Nordeste ganhou versatilidade e passou a ser feita também nas cores preta, marrom café, laranja e azul marinho. Como não poderia ser diferente, a renda Renascença chegou ao Semiárido do Nordeste brasileiro pelos ensinamentos e influências das freiras, que passaram a perpetuar essa arte e ofício para as mulheres nordestinas. No entanto, essa tradição também é praticada por alguns homens da região. A Renascença se destaca nos estados da Paraíba, Pernambuco, Ceará, Sergipe e Bahia. A produção chegou em Pernambuco na década de 1960 e se concentra hoje na região do Agreste. Estima-se que nessa área do Estado tenha mais de 400 rendeiras, muitas delas organizadas em grupos ou em associações. Nessa região não é difícil achar uma casa onde se faça renda. Em cada terraço, as histórias se repetem, a Renascença aparece e as almofadas em formato de rolo acabam parando no colo das mulheres. A cultura da renda não distingue idade. Nos lares onde a renda faz morada, a principal herança é a habilidade. A perpetuação da arte é de mão para mão. De geração em geração. O dia da rendeira no Brasil é comemorado dia 04 de maio. O mês de maio foi escolhido por ser o mês das mães e avós que ensinam essa arte para suas filhas. O dia 04 é em homenagem às quatro operações básicas para se fechar o ponto. Cada ponto da renda Renascença recebe um nome especial, inspirado em sentimentos, elementos da natureza ou alimentos da região. Entre os mais conhecidos e mais utilizados pelas rendeiras estão: aranha, abacaxi, traça, cocada, xerém, amor seguro, laço, sianinha, malha, amarrado e o olho de pombo. Hoje, o Brasil exporta renda para sete países da América, Europa e Ásia.

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A Agreste de Pernambuco (251 Km do Recife),

renda Renascença chegou à cidade de Poção, no na década de 30, pelas mãos de uma senhora famosa na cidade, Maria Pastora. O município é considerado um dos maiores produtores de renda Renascença do Brasil. Poção responde por 90% da produção nacional. O ofício da Renascença envolve 80% dos 8,5 mil moradores do município, inclusive homens e crianças. Os desenhos geralmente exploram temas florais e o produto final demora de semanas a um ano para ficar pronto. Essa atividade artesanal, assumida pela grande maioria da população como meio de vida, pode ser facilmente encontrada na cidade. No dia 22 de agosto de 2011, o Governo do Estado, através da lei Nº 14.365 de mesma data, conferiu ao município de Poção o título de Capital da Renascença. Seguindo-se dia 7 de setembro, em meio ao aniversário de fundação da cidade e da Independência do Brasil, na Câmara de Vereadores houve o lançamento do selo postal comemorativo dos Correios do título de Capital da Renascença. No Agreste pernambucano, mais precisamente nas cidades de Pesqueira e Poção, é difícil achar uma casa onde ninguém saiba fazer renda. As meninas, desde muito cedo, não tiram os olhos das mãos habilidosas de suas mães, tias ou avós. Ninguém para pra ensinar. A aula é silenciosa. Os olhos são os grandes responsáveis pelo aprendizado e pela delicadeza do trabalho.

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Localizado no Agreste, Semiárido pernambucano, o município de Poção foi fundado em 1953. Seu nome surgiu em função da proximidade do povoado a um grande poço d’água, que abastecia os moradores da região. Outra atividade econômica além da Renascença é o turismo religioso, que movimenta economia local principalmente no período da Semana Santa. É um momento no qual milhares de romeiros visitam o Centro de Instrução Bíblica. O local está situado em uma área de três hectares. O Centro reúne a paisagem natural e bela, privilegiada em mirantes e arborização exuberante com os mais variados símbolos e elementos religiosos, a exemplo do Cruzeiro com alusão à Via Sacra, compondo um lugar essencialmente místico. Entre outros pontos turísticos visitados está também o Sítio Araçá, com a Casa de Farinha, a nascente do Rio Capibaribe e a Cachoeiro do Cafundó, propiciando que os/as visitantes possam tomar banho. Poção também é conhecida por suas fazendas de gado, pela realização de vaquejadas e pelo clima frio e agradável, porque é uma das cidades mais altas de Pernambuco. O seu centro urbano, típico das cidades do interior pernambucano, apresenta como destaque a igreja dedicada à padroeira, Nossa Senhora das Dores, em frente à qual encontra-se a Praça Estanislau Ferreira de Carvalho, com seu coreto e canteiros floridos. Nela, a indicação do local onde existia o poço que deu origem ao povoamento e ao nome do município.

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Associação Cáritas Paroquial Cruzeiro de Poção foi fundada há nove anos, incentivada por uma liderança local, chamada dona Terezinha, que tinha habilidades para mobilizar e organizar coletivos no município. Está localizada no município de Poção, Agreste de Pernambuco, no Semiárido brasileiro. A partir da Associação surgiu o Grupo Mulheres de Renda, formado por rendeiras com o intuito de preservar e perpetuar no município o ofício e arte da Renascença. O coletivo expõe todos os anos na Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), em Olinda; comercializa também no Centro de Artesanato de Pernambuco, em Recife, que reúne todos os tipos de artesanato do Estado; e participa ainda da Exposição de Animais na Capital pernambucana - a maior do gênero no Nordeste. São três espaços potenciais de comercialização para as rendeiras. Um grande sonho do Grupo Mulheres de Renda é ter a própria sede da Associação. Já adquiriram o terreno. Agora, estão “batalhando” para construir o prédio. Com a sede própria, o Grupo pretende fundar uma “escola de ofício” para ensinar adolescentes e jovens o ofício da renda Renascença, e assim perpetuar essa arte para outras gerações do município. O Grupo conta com uma loja no centro da cidade. Todos os dias, uma ou duas rendeiras fazem rodízio no estabelecimento. Já conseguiu uma maquineta de cartão de crédito, o que otimizou a venda das peças. A Associação de rendeiras de Poção tem uma formação muito cristã por surgir a partir da Igreja Católica. Conta com o incentivo da Paróquia do município. Em relação às conquistas, o Grupo de mulheres reconhece que a Associação trouxe grandes oportunidades.

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- Terezinha e Padre Cazuza mobilizam-se para a criação do grupo. Antes, as rendeiras trabalhavam individualmente. - Inicia o apoio da Cáritas Diocesana de Pesqueira - PE. - Fundação da Associação Cáritas Paroquial de Poção com 50 sócios/as. - Terezinha é eleita primeira presidenta da Associação. - As primeiras atividades estão voltadas para ações pastorais da Igreja. - A Associação começa a fazer parte do Conselho Pastoral Paroquial. - As mulheres passam a comercializar os seus produtos coletivamente na Fenearte, no estande da Prefeitura Municipal de Poção, e na Casa de Cultura do Recife.

- As reuniões da Associação acontecem mensalmente. - Acompanhamento esporádico da Cáritas Diocesana de Pesqueira – PE no âmbito espiritual e religioso. - O grupo participa de uma feira durante um evento em homenagem a Luiz Gonzaga (O Rei do Baião), em Caruaru-PE, com o apoio do Sebrae.

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- As rendeiras participam pela primeira vez da Fenearte enquanto grupo organizado (Associação). - Terezinha é reeleita como segunda presidenta da Associação.

- Termina o mandado de Terezinha. - O grupo participa da Feira de Economia Popular Solidária de Lajedo PE e do Nordeste pela Cáritas Regional NE II.

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- Socorro Germino é eleita a terceira presidenta da Associação.

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- É criada a primeira marca do Grupo. - A Associação participa da Fenearte com estande próprio. - O coletivo de mulheres participa pela primeira vez do Circuito do Frio, em Garanhuns-PE, e da Exposição de Animais, no Recife-PE, uma nas maiores do gênero no Nordeste. - A Cáritas Diocesana de Pesqueira assessora com frequência as rendeiras (Acompanhamento aos grupos produtivos de Economia Popular Solidária). - A Associação compra o terreno para a construção da sede própria. - Recebe o apoio do ProRural (Programa Apoio ao Pequeno Produtor Rural) na elaboração do projeto de construção da sede da Associação. - Aluguel de um espaço para funcionar a loja do Grupo para comercialização dos produtos das rendeiras que estão associadas. - O coletivo de mulheres adquire uma “maquineta” de cartão de crédito para vendas/comercialização das peças. - A Associação participa do primeiro intercâmbio para conhecer a experiência das rendeiras de São João do Tigre – PB, com apoio do ProRural.

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- Formação no âmbito do empoderamento das mulheres e do Fundo Rotativo Solidário com o apoio da organização Esquel. - Reeleição de Socorro Germino para a direção da Associação. - Realização de intercâmbio com a presença das rendeiras da Paraíba, para conhecer a experiência dos grupos de renda Irlandesa de Divina Pastora - SE, com o apoio do Programa Semear e Procasur. - Participação na exposição AgroShow, em Juazeiro-BA. - A Associação compõe o Conselho de Desenvolvimento Rural de Poção. - Participação na Feira de Conhecimentos de Monteiro-PB, com o apoio do Programa Semear e Procasur. - A Associação é anfitriã de um intercâmbio com as rendeiras da Paraíba.

- Participação na oficina de compartilhamento de experiências na cidade de Pesqueira – PE com rendeiras da Paraíba e Sergipe com o apoio do Programa Semear e Procasur. - Primeira experiência da Associação na gestão administrativo-financeira com edital do Programa Semear (02/2015) – Projeto Mulheres de Renda: Fortalecidas para a construção do Território da Renda Renascença. - Realização da Feira de Conhecimentos em Poção reunindo rendeiras de Pernambuco e Paraíba. - Grupo recebe homenagem da Câmara de Vereadores de Poção. - Elaboração de produtos de comunicação como boletim, cartilha e Carta Política. - Participação do encontro da Esquel em Pesqueira- PE.

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2015


Com a amiga Terezinha Grande Trabalho mostrou.

A renda aqui em Poção Vem da década de trinta Onde Maria Pastora Uma pessoa atenta, Ensinou a renda a Lala A história na inventa.

A Cáritas vem trabalhando, Sempre em prol do social, Faz campanhas de agasalho E alimento ideal, Atuando na cidade E também na zona rural.

E Lala aprendeu ligeiro Por ser ela inteligente, E ensinou as amigas De uma forma descente, E Renascença cresceu Começando daí pra frente. E a Cáritas Paroquial Há nove anos em Poção. Dando apoio à rendeira Com muita dedicação, Valorizando a cultura Da nossa população. E foi padre Cazuza Que a Cáritas iniciou, Há nove anos atrás, Ele a Cáritas fundou

O sonho da sede própria É o novo objetivo, Seus membros em harmonia É um povo criativo E a Cáritas Diocesana Dar o seu apoio vivo. Uma grande parceira Que nos ajuda a crescer, Servindo sempre ao irmão, Sem a tempo ruim temer, Cumprindo tudo aquilo Que o Cristo mandou fazer. João Bosco dos Santos

“O nosso intuito é implantar o território, dentre esse conjunto de municípios entre os Estados de Pernambuco e da Paraíba, a partir da identidade cultural de uma arte secular, a Renascença. Desejamos por meio desse território buscar a integração social e canalizar políticas públicas que fortaleçam os processos endógenos de organização e gestão social e inclusão produtiva e comercial de nós, enquanto artesãs da renda. Compreendemos o território de identidade cultural como uma mecanismo e estratégia de fortalecer o perfil identitário dos sujeitos sociais locais, fundamentado nos princípios básicos da democratização das políticas públicas como a descentralização das decisões, a regionalização das ações e a coresponsabilidade na aplicação de recursos. Bem como na execução e avaliação de projetos pactuados pelos atores locais, reforçando a gestão social, a democracia participativa e a superação da pobreza. Resulta-se de um processo sócio-histórico de ocupação da região, das suas tecnologias produtivas, formas de sociabilidade, convívio e produção material e imaterial. Ao mesmo tempo, reafirmamos a necessidade do registro de tombamento da renascença como patrimônio cultural. Reforçamos também o papel de nós, mulheres, no desenvolvimento rural sustentável, alicerçado na abordagem territorial.” Trecho da Carta Política construída durante a Feira de Conhecimentos em dezembro de 2015.

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mor amarrado, lua, sorvete e sombrinha. Apesar de parecer, essa não é a descrição de um cenário romântico. São nomes de alguns dos pontos da renascença. Ninguém sabe ao certo a origem dos verbetes nem de onde vem tanta imaginação. A verdade é que, muitas vezes, de um erro nasce um novo ponto. Na cultura da renda, não há limites para inovar. O discurso do aprendizado diário está presente mesmo nas casas das rendeiras mais experientes. Com lápis, papel vegetal e um pedaço de papel grosso ou plástico é hora de contornar as linhas já traçadas com hidrocor azul. Esse recurso facilita a visibilidade e, por consequência, o trabalho que vem a seguir, a parte mais delicada e que requer maior habilidade e atenção: as tramas. Com desenho fixado nas almofadas em formato cilíndrico – que dão o apoio necessário para o trabalho com a agulha – o primeiro passo é alinhavar todo o contorno do desenho com lacê (fita de algodão usada na borda dos desenhos). É a partir da aplicação desse material que as rendeiras começam a preencher os desenhos. Ponto a ponto a renda vai tomando forma. Dos rolos, saem blusas, coletes, toalhas, paninhos de bandeja, vestidos. Atualmente, os fios utilizados são de algodão, mas já houve um tempo em que a renda era feita de linho. Quando a trama está toda pronta, é tempo de soltá-la do papel e deixar a peça, finalmente, ter vida própria. Feito isso, é só lavar, engomar e vender. E apesar de nunca conseguirem precisar o destino que cada peça terá, as rendeiras sabem que o trabalho, em sua morada final, terá uma vida glamurosa, refinada. Vai decorar casas, festas. Vestirá modelos: das passarelas e das ruas. Viajará. Há muito, a renascença nordestina ganhou o mundo.

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Hoje, a capital da renda Renascença é Poção, Uma herança de Pastora Para nossa região E um território da renda Necessitamos então.

Das mãos de Lala em Poção Lá, no século passado, Hoje, neste território A renda é quem tem brotado Superando seca e fome Tem a renda nos sustentado.

Pernambuco e Paraíba Tem a renda Renascença. Onde a mulher mostra a arte Com fé, esperança e crença. Em um mundo mais igual Onde todo mundo vença.

Um território cultural Com a renda em evidência, Mostrado ao Brasil inteiro Da rendeira a paciência Bem como sua humildade, Caráter, honra e decência.

O território da renda Formando por dois estados Será uma grande força Para o trabalho citado, E a rendeira terá O seu valor resgatado.

E também o tombamento Pra renda é essencial Pois a Renascença é Um produtor artesanal E tem que ganhar o título De patrimônio cultural.

Em Pernambuco as cidades De Poção e de Pesqueira Da Paraíba São João Do Tigre terra altaneira, Zabelê, Congo e Sumé, Terra boa verdadeira.

Aqui o nosso ideal Com a nossa petição, Pernambuco e Paraíba De mãos dadas já estão Para transformar a renda Em patrimônio da nação.

São Sebastião do Umbuzeiro Da Paraíba cidade, Monteiro uma terra plana Cheia boa vontade Levando a renda para o mundo Com responsabilidade.

E uma carta política Já foi bem elaborada, Pedindo as autoridades Que a renda seja tombada Pois a arte secular Tem que se valorizada.

Com território firmado Reafirmo a identidade Da cultura popular E da renda de verdade Com a nossa Renascença Renascendo com vontade.

Nas mãos suaves nós vemos A agilidade tamanha De quem quase sem estudo Produz tecendo em aranha, Um artesanato composto De luta e amor sem manhã.

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João Bosco dos Santos


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iante de todos os desafios em produzir e perpetuar a renda Renascença enquanto arte e ofício, as rendeiras foram capazes de se organizarem numa associação para buscar as melhorias do coletivo. São mulheres encorajadas e empoderadas que demonstram grande capacidade de resiliência e de boa vontade de vencer os percalços como um Grupo de mulheres inseridas no Agreste de Pernambuco, no Semiárido brasileiro. Apresentam uma enorme capacidade de aprender, buscar conhecimento e participar de diversos espaços estratégicos para o trabalho com a Renascença, como intercâmbios, oficinas, feiras e exposição. Assim, as rendeiras vão aperfeiçoando e inovando a Renascença com novos pontos, cores, moldes e designer. A fundação da Associação, além de trazer o aperfeiçoamento da Renascença e a profissionalização das rendeiras, promoveu a autonomia e o empoderamento da mulher enquanto artesã e sujeito político. Esse empoderamento das rendeiras se percebe porque elas estão dentro de um grupo, que é a associação. Atingiram um capital simbólico de desenvolvimento e conhecimento diferenciado em relação às rendeiras que estão fora dos grupos e trabalham isoladas, sem participar desses espaços. Há um forte sentimento que liga o Grupo, é o sentimento de identidade e pertencimento como rendeira. Esse sentimento está nas falas das rendeiras, nas histórias e nas ações delas como artesãs. Algo que está enraizado na árvore genealógica de cada família rendeira. Esperamos que esta cartilha tenha resgatado e construído um breve recorte da memória e da trajetória do Grupo Mulheres de Renda da Associação Cáritas Paroquial Cruzeiro de Poção - PE, tendo como protagonistas desse processo as próprias rendeiras. A principal fonte de pesquisa foi os relatos, os testemunhos, as reflexões em grupos e a conversa de “pé do ouvido” que ajudou a contar essas histórias de vida e de resistência dessas bravas mulheres, artesãs, rendeiras.

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Associação Cáritas Paroquial Cruzeiro de Poção – PE Grupo Mulheres de Renda

Presidenta: Socorro Germino Vice-presidenta: Iracema Maria de Jesus Secretária: Rosemilda Bezerra da Silva Costa Tesoureira: Ana Nery da Silva Gonçalves Conselho Fiscal: Terezinha Leite, Maria de Fátima dos Santos e Gislaine Maria Pereira Xavier Consultoria: Elisabete Joaquina e Catarina Márcia Textos: Daniel Ferreira e Manuella Antunes Projeto Gráfico: Paula Vasconcelos Gráfica: Nacional Tiragem: 1.000 unidades Fotos: Arquivo Pessoal e Internet/Divulgação

A cartilha é resultado da proposta Mulheres de Renda - Fortalecidas para a construção do Território da Renda Renascença, contemplada pelo Edital Nº 02/2015 de Apoio a Propostas de Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáriadas do Nordeste do Brasil, promovido pelo Programa Semear, que é implementado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), com apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID).

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Parceria:

Parceria: CÁRITAS

PAROQUIAL CRUZEIRO DE POÇÃO


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