FICHA TÉCNICA
Mulheres rurais e o reuso da água - uma experiência no Cariri Ocidental Paraibano Coordenação Editoral: Lúcia Lira Educadora social e técnica responsável: Elania Lopes Edição e revisão: Cristina Lima Fotografias: Frankleudo Frantchesco Andrade Araújo e Elania Lopes Projeto Gráfico: Alex de Brito Tiragem: 2 mil exemplares Esta cartilha foi produzida através do projeto Diagnóstico e instalação de tecnologias de reutilização de água servida no Cariri ocidental paraibano, contemplado pelo Edital No 01/2014 de Apoio a Propostas de Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste do Brasil, promovido pelo Programa Semear (FIDA/IICA/AECID). Para cópia e difusão dos materiais publicados, favor citar a fonte.
João Pessoa, outubro de 2015
A cartilha Mulheres rurais e reuso de água – uma experiência no Cariri ocidental paraibano resultou da sistematização da experiência da Cunhã Coletivo Feminista no desenvolvimento do projeto Diagnóstico e instalação de tecnologias de reutilização de água servida no Cariri ocidental paraibano. Executado entre maio e outubro de 2015, o projeto foi realizado em parceria com o PATAC1 e contou com apoio do Programa Semear2. O projeto teve um objetivo concreto: instalar três unidades experimentadoras de reuso de água servida, nos municípios do Congo, Prata e Monteiro, como referências de estudos e aprofundamentos, da reutilização da água dos trabalhos domésticos, do seu potencial para a produção familiar, da aceitação do manejo das famílias e da apropriação da comunidade local dessa tecnologia como iniciativa a ser difundida. O diferencial desta iniciativa foi o fato de as mulheres atuarem como sujeitos de mobilização em suas comunidades para a instalação dos 1 Organização de formação e mobilização social que contribui com a construção e implementação de políticas públicas de convivência com o Semiárido. 2 O Semear é um programa de gestão do conhecimento em zonas semiáridas do Nordeste do Brasil, que visa facilitar o acesso a saberes, inovações e boas práticas que possam ser adotados e reaplicados pela população rural para melhorar suas condições de vida. O Programa é implementado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), com o apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID).
sistemas de reuso de água. Estas mulheres fazem parte de grupos produtivos junto aos quais a Cunhã desenvolve ações de fortalecimento de sua organização social e política. Articular este processo com discussões como convivência com o Semiárido, numa perspectiva de justiça socioambiental, tem sido uma das estratégias da ação da organização. A presente cartilha pode ser utilizada por grupos e associações que trabalham com agroecologia, assim como pelas comunidades de assentamento e de agricultura familiar, mulheres rurais produtoras e outras organizações de agricultoras(es), visando a otimização do uso da água para suas produções.
Discussão com as participantes do projeto sobre o sistema de reuso de água em Serrote Agudo/Prata
A Cunhã Coletivo Feminista é uma organização social sem fins lucrativos, fundada em 1990, na Paraíba, Nordeste do Brasil. Tem como missão promover a igualdade de gênero, tendo como referências a defesa dos direitos humanos, o feminismo, a justiça social e a democracia. Contribui para o fortalecimento das mulheres, no enfrentamento ao patriarcado, ao racismo e ao capitalismo, visando a ampliação da democracia e a transformação social, através de estratégias de formação, incidência política, produção do conhecimento e comunicação. A organização tem atuado junto a grupos de mulheres jovens e adultas em situação de pobreza, nos contextos urbano e rural, visando o fortalecimento do movimento de mulheres e feminista brasileiro. Integra a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) e a Rede e Mulheres em Articulação da Paraíba. Promove ações de formação e incidência junto a parlamentares gestores(as) públicos(as), profissionais de saúde, educação, segurança pública, entre outras(os). 3 A palavra cunhã significa mulheir na língua Tupi. É também uma flor bastante comum na Paraíba, conhecida como Clitoria ternatea, muito parecida com o órgão genital feminino.
Em todo o mundo, as pessoas vivem condições de trabalho desiguais, variando de acordo com as relações de gênero, classe e raça. Além destas, outras questões podem reforçar e influenciar tais desigualdades: marcas culturais, origens regionais e diferenças geracionais. No mundo do trabalho, uma questão central que colabora para as desigualdades entre homens e mulheres é a divisão sexual do trabalho. Em diversas sociedades e contextos, sempre se atribuiu às mulheres o trabalho reprodutivo, ligado à manutenção da casa e da família, tradicionalmente invisível, desvalorizado e não remunerado. Aos homens, por sua vez, coube o trabalho produtivo, remunerado, valorizado e associado à esfera pública. No entanto, na história da humanidade, as mulheres sempre trabalharam, dentro e fora de casa. Nas sociedades modernas as mulheres pobres e negras sempre exerceram os trabalhos mais precários para a garantia de sua sobrevivência e de suas famílias, ocupando o mercado de trabalho e contribuindo para a manutenção da renda familiar e para a economia de seus países.
Nesse sentido, a Cunhã Coletivo Feminista em articulação com o movimento feminista tem atuado pelo reconhecimento do trabalho produtivo e reprodutivo das mulheres. Contribui com o fortalecimento da autonomia política e econômica das mulheres, através de formação e educação feminista junto a diversos grupos e organizações de mulheres do campo e da cidade. O trabalho das mulheres deve ser reconhecido, valorizado e não pode ser explorado sob nenhuma justificativa. O eixo de Trabalho e Autonomia das Mulheres visa fortalecer a capacidade das mulheres de serem provedoras de seu próprio sustento, assim como das pessoas que delas dependem, tendo melhores condições de alcançar sua autonomia política. Na Paraíba, a Cunhã atua junto a mulheres trabalhadoras do campo e da cidade - trabalhadoras domésticas, agricultoras, artesãs, rendeiras, pescadoras, marisqueiras e que trabalham com reaproveitame nto de resíduos sólidos.
Helena Oliveira de Lima, agricultora da comunidade de Tingui.
A região do Semiárido nordestino apresenta clima quente e seco, elevada taxa de evaporação, baixa capacidade de retenção de água nos solos e prolongados períodos de estiagem (seca). Ocupa uma extensão de 900.000 km², com aproximadamente 13 milhões de habitantes na área rural. Mais de 85% do estado da Paraíba está na região do Semiárido, que engloba o Cariri ocidental, onde foram desenvolvidas as ações desse projeto, a cerca de 300 quilômetros da capital, João Pessoa. O clima é semiárido, com uma estação chuvosa curta e longos meses sem chuva, nos quais a evaporação potencial supera a precipitação praticamente em todos os meses do ano. A região tem forte presença de áreas de assentamentos rurais e comunidades de agricultoras(es) familiares, sendo rica em potencialidades produtivas, destacando-se atividades agropecuárias e artesanato. Para conviver com as dificuldades impostas pelas condições climáticas, o povo sertanejo vem criando e recriando estratégias de convivência4 com o 4 Convivência vem de “conviver”, viver junto com outros, estar junto. Assim o termo convivência com o Semiárido implica uma relação harmônica entre os seres humanos e o meio ambiente, numa perspectiva de adaptação das populações às características naturais da região.
O nosso Semiárido é muito rico e, apesar da gente sofrer com a falta de chuvas, há muita esperança de nós, agricultores e agricultoras. Buscamos nossos sonhos, lutamos pelos nossos ideais e com muita garra e força de vontade. A gente consegue o que quer e, acima de tudo, nunca desistimos, porque só os perdedores desistem! (Edigleuma Coelho da Silva, agricultora e professora da Escola de Campo de Serrote Agudo).
Flor da região do Cariri ocidental paraibano
Semiárido, como o uso de tecnologias sociais de captação e armazenamento de água; armazenamento de ração para os animais em época de estiagem (cilagem); processos de formação com aprendizagem através da prática, intercâmbios de experiências. É a possibilidade de interação e aceitação com o meio ambiente que irá gerar uma reciprocidade entre os diversos seres vivos, para que se estabeleça um equilíbrio. “[...] da aceitação e do cuidado com o outro reconhecido em sua legitimidade enquanto outro da partilha, aquele com quem cada uma das partes da convivência estabelece laços de complementariedade e interdependência” (PIMENTEL, 2002, p. 193).
No meio rural, a realidade de divisão sexual do trabalho apresenta um agravante para as mulheres, porque muitos afazeres domésticos estão relacionados à “ajuda na roça” a seus companheiros. Para os homens, este trabalho tem um valor, mas, para as mulheres, cuidar da roça ou dos animais tornou-se uma extensão do trabalho reprodutivo, gerando sobrecarga, com a dupla jornada de trabalho. Eu cuido da casa e faço a comida, e aí vou levar a meu marido na roça e fico ajudando ele lá, pra ele não ficar sozinho. Ele trabalha muito, por isso não me ajuda em casa (Severina Maria da Silva Vieira, agricultora do assentamento Serrote Agudo). Este depoimento reflete a realidade de desvalorização do trabalho produtivo e reprodutivo realizado pelas mulheres dentro de uma cultura machista e capitalista e de que muitas ainda não têm consciência. Enquanto as tarefas domésticas forem assumidas quase que exclusivamente pelas mulheres e filhas e não compartilhadas com os seus companheiros e filhos, a sobrecarga de trabalho produtivo continuará e as desigualdades também. Para que as mulheres desenvolvam seu trabalho produtivo, o trabalho reprodutivo (doméstico) precisa ser dividido com todas as pessoas da casa.
Mulheres de Santa Rita trabalhando na construção do sistema.
O uso da água relacionado ao trabalho das mulheres é histórico. Carregar latas ou baldes d’água na cabeça ou em animais, muitas vezes a quilômetros de distância, sobretudo em tempos de estiagem, sempre fez parte da vida das trabalhadoras rurais. Apesar desta realidade ainda persistir em algumas localidades, mudanças vêm acontecendo para facilitar o acesso à água nos últimos anos, com a chegada de tecnologias sociais como a das cisternas de placas5, que possibilitam a captação e armazenamento de água para consumo e produção mais perto de casa. Além das cisternas, outras tecnologias têm sido experimentadas com sucesso no Semiárido nordestino por associações comunitárias, grupos e organizações sociais para garantir o acesso à água como direito humano. Nesta perspectiva, numa escala bem menor que a da utilização das cisternas, destacam-se os sistemas de reuso de água servida, foco do presente relato de experiência. 5
Reservatórios cilíndricos, construídos próximo à casa da família agricultora, que armazenam a água da chuva captada por uma estrutura com calhas de zinco e canos de PVC, proporcionando água de boa qualidade e saúde aos moradores do Semiárido. No Brasil, a tecnologia surgiu do trabalho de diversas organizações não governamentais com atuação no Semiárido e a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) foi responsável pela disseminação das cisternas de placas em larga escala, prática que resultou numa política pública do governo federal (Programa Um Milhão de Cisternas).
Dentro das ações do projeto Diagnóstico e instalação de tecnologias de reutilização de água servida no Cariri ocidental paraibano, foram feitas reflexões com as mulheres para aprofundar a discussão sobre o direito à água assim como a sua utilização consciente. Nas comunidades dos municípios do Congo, Prata e Monteiro, durante os processos de formação, foi identificado que a água é usada basicamente para consumo humano das seguintes formas: nos afazeres domésticos e higiene das pessoas; para aguar pequenas plantações de frutas, hortas agroecológicas e plantas medicinais; em criações diversas (de galinhas, vacas, cabras). Assim, fica evidenciado as mulheres são as que mais usam a água, visto que tais atividades muitas vezes estão associadas ao trabalho doméstico e à produção nos arredores da casa. O reuso de água de consumo doméstico está presente no cotidiano das trabalhadoras que atuam na agroecologia e que participaram das ações do projeto. Elas reutilizam a água do tanquinho de lavar roupas e da pia da cozinha para lavar o piso das casas, reaproveitam a água do banho dos bebês e a utilizam na descarga dos vasos sanitários.
As tecnologias de reuso de águas servidas consistem na reutilização das águas fornecidas pelas pias da cozinha e do banheiro, do tanque de lavar roupas e da água do chuveiro para a produção agrícola. Canalizam-se as águas por tubos de PVC para instalações que filtram produtos químicos e outros dejetos. Em seguida, a água é conduzida através de uma bomba d’agua até uma caixa elevada, de onde é distribuída por irrigação de gotejamento para os plantios desejados. O sistema possibilita que cada residência disponha diariamente de cerca de 300 litros de água reutilizada.
Os antecedentes do projeto estão num intercâmbio entre mulheres do Cariri ocidental e outras de comunidades, assessoradas pelo PATAC, nos municípios de Olivedos e Cubati, próximos a Campina Grande, onde já se utiliza o sistema de reuso de água servida. As agricultoras do Cariri, que participaram desta troca de experiências, demandaram da Cunhã suporte para a implantação do sistema em suas comunidades. O intercâmbio motivou-as a difundir a tecnologia utilizando os referenciais das comunidades visitadas, adequando o sistema às suas realidades geográficas, de dinâmicas de trabalho e formas de organização da produção. Isto impulsionou a instalação de três unidades experimentadoras: na comunidade de Tingui, em Monteiro, na comunidade de Santa Rita, no Congo, e na Escola do Campo Plínio Lemos, no Assentamento Serrote Agudo, no município de Prata. Esta escola rural possui um projeto de instalação de uma horta agroecológica e já dispunha de duas cisternas de enxurrada e uma de primeira água, sendo uma referência para as famílias do seu entorno na otimização da água para a produção.
Mosaico construĂdo pelas mulheres de Tingui
A metodologia adotada teve um caráter dinâmico e participativo, que valorizou as vivências, as trocas de informações e o protagonismo das mulheres, contribuindo também com o empoderamento das agricultoras, associações e comunidades. O processo contemplou várias etapas articuladas e complementares, com momentos de formação teórica e prática. As mulheres impulsionaram todo o processo, articulando a comunidade e acompanhando a instalação das unidades experimentadoras de reuso de água. Toda a condução foi baseada nos princípios da sustentabilidade socioambiental de convivência com o Semiárido, buscando valorizar as potencialidades da região e das produtoras rurais. Inicialmente o projeto foi apresentado e articulado com lideranças das três comunidades. Depois foram definidos coletivamente critérios para a escolha da família a ser contemplada com a unidade experimentadora de reuso de água servida. Na comunidade Serrote Agudo, localizada em um assentamento de reforma agrária, a unidade experimentadora foi instalada em uma escola do campo. Ressalta-se que a comunidade foi previamente consultada sobre esta possibilidade. A gestão do conhecimento iniciou-se no momento de intercâmbio com as comunidades que já utilizavam o reuso da água servida, nos municípios de Olivedos e Cubati, na Paraíba. Após este momento, continuou com os processos de formações com a realização de três oficinas sobre a
importância do reuso de água, uma em cada comunidade; e de instalação das unidades experimentadoras, possibilitando a interlocução de conhecimentos, no aprofundamento das práticas e difusão da tecnologia nos intercâmbios comunitários e nas adaptações necessárias a cada sistema de reuso. Todo o processo foi acompanhado por técnico especializado do PATAC e educadoras sociais da Cunhã para garantir a instalação correta e o uso adequado da tecnologia pelas famílias. A comunidade de Tingui acha muito importante essa prática do sistema de reuso de água e tem muito interesse em difundir essa tecnologia, visto que acha muito importante a água que geralmente é desperdiçada, ser reutilizada, não havendo assim, desperdício (Eliane Cristina Oliveira da Silva, agricultora, da Comunidade de Tingui).
Participantes das oficinas sobre o reuso da água (Tingui)
O processo de instalação das unidades experimentadoras nas três comunidades contou com a assessoria técnica e sócio-organizativa do PATAC e da Cunhã com formação em gestão de projetos sociais. As(Os) educadoras(es) desenvolveram ações de sensibilização, formação, articulação, acompanhamento técnico e gestão do projeto. À medida que acompanhavam a instalação, as famílias e comunidades apreendiam os conhecimentos sobre o sistema. Vale ressaltar que alguns passos podem ser modificados como, por exemplo, a caixa d’água e o anel de filtragem, que podem ser construídos com placas, como foi o caso dessa experiência. Outra possibilidade é a utilização de anéis de metal (moldes). As camadas dos filtros também podem passar por ajustes, sendo mais espessas ou mais finas, dependendo do tipo de areia e da quantidade de água que passa pelo filtro. Outro ponto importante diz respeito à manutenção dos sistemas. Para o bom funcionamento do sistema, é fundamental a realização de limpeza regular das caixas de gordura, assim como a troca periódica da areia e do anel de filtragem.
Conheça o passo a passo da instalação 1° - A escolha do local levará em consideração o desnível do terreno para que toda a captação e passagem das águas residuárias ocorram por gravidade com uma distância mínima de 6,0m da casa; 2º - A marcação e escavação do buraco do filtro e da cisterna de estocagem devem respeitar as seguintes dimensões: buraco do filtro, com 2,5m de diâmetro e 0,5m de profundidade, e do buraco da cisterna de estocagem, com 3,0m de diâmetro e 1,5m de profundidade. 3º - Confecção de 104 placas pré-moldadas (0,40m X 0,35m). Recomenda-se fazer 3 a 4 traços, cada um com 15 latas de areia e 1 saco de cimento. 4º - Construção de uma ou duas caixas de gordura quadradas (0,40m X 0,40m X 0,40m) com tijolos de cerâmica. Rebocar e fazer uma tampa móvel. 5º - Construção de um filtro cilíndrico (diâmetro de 1,5m e altura de 0,75m) com um piso concretado e 24 placas pré-moldadas. Serão confeccionadas duas fiadas de placas, cada fiada com 12 placas. Este filtro cilíndrico de placas será amarrado por fora com arame nº 12 galvanizado com duas voltas para cada fiada, rebocado por fora e por dentro.
Colocação do material filtrante de baixo para cima: - Primeiro, coloca-se uma camada com 10cm com seixos. - Segundo, coloca-se uma camada com 12cm de brita. - Terceiro, coloca-se uma tela sombrite (50%). - Por último, colocam-se 20cm3 de areia média. (OBS. trocar a areia a cada sessenta dias) 6º - Construção de uma cisterna cilíndrica para estocar água filtrada (diâmetro de 2,1 m e altura de 1,75 m) com um piso concretado e 80 placas pré-moldadas. Serão confeccionadas cinco fiadas de placas; cada fiada com dezesseis placas. Esta cisterna cilíndrica de estocagem de água será amarrada por fora com arame nº 12 galvanizado com duas voltas para cada fiada e rebocada por fora e por dentro. Deverá ser colocada uma tampa para evitar a procriação de mosquitos. 7º - Construção de uma base cilíndrica com tijolos de cerâmica
com 1,1 m de diâmetro e 1,5 m de altura para elevação de uma caixa d’água de 310 litros. Esta base cilíndrica será amarrada por fora com arame nº 12 galvanizado com uma volta de arame para cada fiada e rebocada e preenchida com terra. Finalmente deverá ser confeccionado um piso na parte cima da base para apoia a caixa d’água. 8º - Colocação de canos para favorecer a passagem da água através das caixas de gordura, do filtro, da cisterna de estocagem, da caixa d’água elevada, até a área de produção agrícola. 9º - Será Instalada uma bomba (0,5 CV) para transportar água da cisterna de estocagem até a caixa d’água elevada. 10º - Aguação será realizada por um sistema de irrigação por gotejo, através de 90m de canos ou mangueiras de 20mm de diâmetro, distribuídos numa área de produção agrícola de 200m².
Na execução das ações, destacam-se algumas lições aprendidas relacionadas diretamente ao envolvimento e participação das mulheres e da comunidade; as parcerias estabelecidas para fortalecer o projeto e a apropriação do conhecimento por parte das produtoras, homens e jovens das comunidades, assim como das educadoras sociais da Cunhã envolvidas. Um elemento importante para o alcance dos objetivos desse projeto foi ter sido elaborado a partir da motivação, do desejo e da consulta prévia às mulheres, público direto dessa ação. No que tange ao envolvimento e participação da comunidade, uma das lições foi que a organização social e política dos grupos de mulheres nas comunidades contribuiu para a eficácia das ações desenvolvidas. Jovens, homens e mulheres se comprometeram com a apropriação de uma nova tecnologia social no território, multiplicando as informações e conhecimentos apreendidos em suas comunidades e adjacências. Nesse sentido, vale ressaltar a valiosa participação das mulheres, que foram impulsionadoras do processo. Estas articularam as pessoas da comunidade para participarem das ações, acompanhando a instalação das unidades experimentadoras, mantendo diálogo permanente com as educadoras da Cunhã.
Observou-se que o aprendizado, de forma processual e contextualizada, com pouca teoria e atividades práticas, possibilitou melhor apreensão, reafirmando o que já havia sido constatado em outras formações. Quanto à parceria com o PATAC, verificou-se que o domínio da tecnologia, sua explicitação e o envolvimento de todos(as) na implementação favoreceram a apropriação dessa inovação técnica pelas famílias agricultoras, contribuindo para o fortalecimento da agricultura familiar e convivência com o Semiárido brasileiro. Este fator contribuiu para a qualidade das ações, sobretudo na complementação dos conhecimentos, destacando-se a atuação da Cunhã nas ações relacionadas à discussão de gênero e organização social e política das mulheres atuando desde 2002 no território do Cariri Ocidental Paraibano. Todo o trabalho de campo foi marcado pela estreita relação entre Cunhã, PATAC e os grupos de mulheres envolvidos na implantação da tecnologia de reuso de água, numa troca de experiências e saberes que fortaleceu os sujeitos em todo o processo. Outro aprendizado diz respeito ao tipo de tecnologia, por ser a água um recurso potencialmente importante no Semiárido na produção de alimentos para consumo das famílias e para enriquecer a merenda das(os) alunas(os) da escola do campo. A implantação do sistema também é uma forma de colaborar com a preservação do meio ambiente e o reaproveitamento de um recurso natural tão essencial para a vida como a água.
MATERIAIS USADOS PARA CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE REUSO DE ÁGUA SERVIDA
Materiais usados para construção de um sistema de água servida - O material listado pode variar em alguns itens, a exemplo da metragem dos canos, que varia de acordo com a distância da residência até área de produção. Entretanto, nos três sistemas construídos, houve poucas as variações foram neste sentido. Cimento saco 50 kg.................................................................................... 10 und Areia média................................................................................................... 02 m3 Cal Hidratado................................................................................................ 05 kg Tela Sombrite 02 m de Largura............................................................... 02 m Tijolos cerâmica 8 furos de boa qualidade.......................................... 200 und Pedra britada nº 19...................................................................................... 1,5 m3 Arame 12 galvanizado................................................................................ 5 kg Ferro 1/4.......................................................................................................... 4 und Arame 18 recozido....................................................................................... 500 g Tubo esgoto 40 mm.................................................................................... 05 und T Esgoto 40 mm........................................................................................... 04 und
Joelho 90° esgoto 40 mm......................................................................... 06 und Adaptador flange soldável de 32 mm................................................... 01 und Adaptador flange de soldável 25 mm................................................... 02 und Registro fecha rápido Soldável de 20 mm........................................... 06 und Registro fecha rápido Soldável de 32 mm........................................... 01 und Registro fecha rápido Soldável de 25 mm........................................... 01 und Tubo agua fria Soldável 32 mm............................................................... 04 und Tubo agua fria Soldável 25 mm............................................................... 04 und Tubo agua fria Soldável 20 mm............................................................... 15 und T 32 mm......................................................................................................... 06 und T Soldável de 25 mm com bucha de latão na bolsa central........... 01 und Joelho 90° Soldável 32 mm...................................................................... 04 und Joelho 90° Soldável 25 mm......................................................................05 und Bucha Soldável 32 x 20 mm.....................................................................06 und Bucha de redução Soldável 32 x 25 mm..............................................02 und Cap. Soldável 20 mm................................................................................. 06 und Cap. Esgoto 40 mm.....................................................................................05 und Adesivo Plástico para tubos e Conexões de PVC 75g..................... 02 und Eletrobomba 1/2 CV Monofásica com 1”................................................ 01 und Fita veda rosca 18 mm x 25m................................................................... 01 und Fita isolante 05 m........................................................................................ 01 und Cabo pp 2 x 1,5............................................................................................. 20 und Plug macho 2p 20A.................................................................................... 01 und Adaptador Soldável curto 32 mm x 1”.................................................... 03 und Válvula de pe PVC ¾”................................................................................ 01 und Adaptador Soldável curto 25 mm x ¾”................................................. 03 und Curva 90° soldável 25 mm....................................................................... 01 und União soldável 25 mm.............................................................................. 02 und Plug Rosável ¾”........................................................................................... 01 und Caixa d’água Polietileno 310 litros.......................................................... 01 und
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