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A NAU PORTUGAL …. «de quilha ao portaló»

SENOS DA FONSECA 2007


1 - PREPARATIVOS

Dia 8 de Julho, de 1940. O dia para a festa do bota abaixo da «Nau Portugal» não tinha sido escolhido ao acaso. Precisamente nesse dia, perfaziam-se 443 anos da data em que a Armada de Vasco da Gama partira para a descoberta do Caminho Marítimo para a Índia.

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Nascera soalheira a jorna. O sol madrugara. E logo que alcandorado ao cimo dos montes, despejou o «seu doirado» sobre as águas serenas da laguna a que uma suave brisa provocava um enrugado e inquieto chocalhar; corriam tão subtis e remansosas, as águas, que pareciam não ter pressa em cumprirem o calendário lunar. Um sol liberto das barreiras das serranias, já poderoso, descarregava dédalos de luz sobre toda a área lagunar, reflectindo-se no lençol de água que um inquieto marulhar tornava espelho multifacetado a dispersar raios fulgurantes, semeando-os em todas as direcções. Miríades de fogachos estonteantes, estrelejavam, ora se demarcando ora se confundindo na superfície das águas conferindo-lhe uma luminosidade estonteante capaz de ferir o olhar do menos precavido para com tamanha cachoeira luzente. O céu, de uma limpidez azulturquesa sem mácula de nuvens, parecia seda macia cerzida em fina feira capaz de lhe retirar os últimos cirros. O que permitia pensar, ser a ausência daqueles, intervenção dos anjos celestiais, eles também parecendo apostados em deitar um olhar curioso ao acontecimento, não querendo, por isso, entraves para o seu bisbilhotar. Que os anjos «não tendo costas», não está provado que sejam cegos,

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pois, se o fossem, não poderiam ao fim da jorna contar as «suas ovelhas», e assim, descortinar alguma tresmalhada. Aquele «oceano» infindo por onde à noite navegam estrelas vadias, pirilampos inquietos dispersos na imensidão à procura de esconderijo, tinha, naquela manhã estival, virado céu luminoso coalhado de gaivotas grazinas, ziguezagueando em contínuo esvoaçar na procura de vitualha com que quebrar o jejum nocturno. Até ao momento em que, descortinado lá em baixo o xarabaneco que imprevidente tinha vindo espreitar à superfície – também ele no desejo de se confortar com um pouco de sol sobrante – logo se deixam cair, desajeitadas, esvoaçantes, qual tordilhão atingido por tiro certeiro de caçador a aterrar de corpo inteiro no montado. Quando na verdade se trata de um mergulho sobre a presa entrevista, picanço de precisão certeira, milimétrica, a tempo de abocar o imprevidente que acaba esmagado no bico da gaivota predadora, férrea tenaz de onde, apesar do estrebuchar desesperado, o peixito é incapaz de se libertar, pagando caro o atrevimento da espreitadela fatal. E mesmo antes de o enviar, gorgomilos abaixo, a gaivota liga «motores» para, a

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toda a força, iniciar imediata descolagem, subindo de novo às alturas, pronta para nova emposta piscatória. A convulsa inquietação provocada pelo estridulo das frenéticas gaivotas, parecia ter despertado a laguna, que mal acordada do seu sono tranquilo, logo se apressou a esparzir a maresia – suave mas penetrante fragrância de algas lagunares, temperadas pelo salgado do meio liquido – sobre os bem aventurados peregrinos que madrugaram, para não perderem o «bota abaixo» da Nau Portugal. Lá para os longes – tão límpidas estavam as serranias – distinguia-se o Caramulinho recortado no lilás opaco dos montes, e neles encavalitado, talvez, para assim melhor se distinguir e, desse modo, melhor fazer notar o esplendório da sua forma arrebitada. Tanta fundura permitida ao olhar, naquela manhã, fazia adivinhar que bem perto do montinho, ali para os lados de Bolfiar, o S.Geraldo, orago de muitas, variadas e comprovadas virtudes, «santinho» com trato próximo e privilegiado com estes gentios da laguna – que lhe rendiam fiel e assídua visita, para lá de valiosas e

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floridas prebendas, em troca da sua intercepção nos trautos terrenos!... - não deixaria de estar atento. A cogiar os preparos que os seus habituais devotos – naquele dia esquecidos da sua virtude de santo tão milagreiro – e zelando, paternalmente, para que nada de importante fosse esquecido, antes de rumarem a «outro altar», onde luzia, esplendorosa, a Nau Portugal. Apesar «de Santo», mal adivinharia o orago o cambo de promessas que horas depois iria receber, em troca da sua intercepção e colaboração para a milagreira tarefa do: - «ergue-te... e navega». Lá iremos… Certo é que a natureza se esmerara, vestindo as mais belas roupagens, maquilhando-se com as mais belas cores retiradas da paleta celestial, assumindo o mais caloroso propoimento de adequado contributo para que o acontecimento tivesse a presenciá-lo uma moldura humana, em acordo com a dimensão simbólica, que era pretendido emprestar ao mesmo.

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Fig. 1 - A Nau na carreira

Afadigaram-se as gentes da borda d’água, instigadas pelo acontecimento prometido – e convidados pela bonomia da natureza – a enxamear os canais, esteiros e canaletes, todas as veias de água desenhadas na epiderme lagunar que despejassem para a cale da Vila, embarcando em tudo, quanto capaz de flutuar e carregar no seu bojo a catrefa do povoléu ribeirinho desejoso do

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espectáculo anunciado. Todos, açoitados pela curiosidade, pretendiam ser testemunhas vivas do «sucesso» que desde há muito vinha sendo anunciado no sermonário – famas volat! -, nas prédicas habituais das missas das matinas, em que era relevado o seu significado pátrio, excedendo em muito, o mero acontecimento local. O Portugal de antigamente, o «Portugal das Descobertas», aquele – esse mesmo! - Que tinha defrontado e humilhado o Adamastor, e arrostado com tormentas e procelas para chegar às Índias e aos Brasis; o Portugal das naus dos Gamas, Cabrais e Albuquerques, ícones pátrios (verdadeiras ilustrações de «demência heróica») que tinham afrontado os mares nunca dantes navegados – nem sequer pensados existirem – iria «marear» de novo. Agora embarcado na réplica de uma dessas naus, ali construída pelo Mestre Mónica – deus «terreno» da enxó, capaz de com ela fazer, de um pinheiro um palito: - quanto mais um barco! A «Nau Portugal» imponente, soberba e majestática, elevava-se na carreira, exibindo o seu casco preto, redondo, a que um debrum branco conferia suprema elegância. Sobre o convés, erguia-

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se a altura que parecia descomunal, um enorme castelo de popa; das cobertas emergiam três poderosos mastros sustidos por enxárcias, grossas como punhos, parecendo esperarem por possante velame que, como os de outrora, fizeram destes galeões verdadeiras lebres do mar. Na proa estendia-se a gávea, pau de giba avançado, em forma de cruz, com o propósito de conferir mais poder vélico, e assim permitir, singradura mais segura e ponteira. Parecia que nas entranhas da Nau “batia o coração da pátria, a voz de oito séculos que não se calava”. Assim perorou S. Ex.ª o Rev.º Bispo, não se podendo, por bom aviso, aqui ter a certeza se a convicção lhe viria de sábia auscultação, se por exclusiva hiperbolização oratória, admissível nestas ocasiões consagradas. Verdade indesmentível, essa era, a associação que o regime de Salazar pretendia fazer da Nau, tornando-a um símbolo, uma fénix renascida, emergida para reencarnar a acção civilizadora da «Pátria Portuguesa», numa encenação com que se visava sugerir o reeditar da epopeia da gesta colonizadora de outrora. Uma reafirmação da visão nacionalista do «Império», de

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que Salazar se julgava ser o último guardião, e com a qual se propunha desviar a atenção dos ataques exteriores – e de alguns tímidos espasmos interiores – que, escapados à malha apertada da censura, se começavam a fazer ouvir, pondo em causa a pretensão da afirmação – e manutenção – de uma Pátria, una, que se estendia do Minho a Timor. Um Só Povo; uma só Nação – propalava o regime à época. E um só rosto, o de Salazar! - Imagem de predestinado para o cumprimento de uma missão superior, a de dar corpo ao desígnio de continuidade do Império, une. Para tal desiderato a Nau a fundear na doca de Belém, serviria de «âncora» à grandiosa «Exposição do Mundo Português», estrondosa, impante e charmosa comemoração históricopatriótica (bem recheada de simbolismo na comemoração dos 800 anos da fundação da Nacionalidade (1140), e dos 300 anos da Restauração da Independência - 1640), que se pretendia, viesse a ser, veículo privilegiado de afirmação das virtudes (?!) do regime corporativo, pretensamente o garante do destino herdado na «mensagem» dos seus maiores.

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Acção propagandística para uso interno – com que era suposto regenerar e revigorar o regime – mas e também, apostada em ser notada e referenciada no exterior, num momento em que turvas nuvens se adensavam sobre o espaço europeu, prenunciando um período de conturbado conflito que iria de novo deixar um rasto de morte e destruição, por toda a Europa. Esta iniciativa portuguesa daria uma imagem de unidade, de paz e progresso, internos, enviando um «recado» para o exterior no sentido de consolidar a posição neutral, que Salazar, astuciosamente, pretendia afirmar, ao permitir apenas a presença do Brasil no certame. A «Exposição do Mundo Português» ajudaria – essa era a intenção – a criar a ideia de um Portugal alheado, embora na realidade não o fosse tanto, das disputas ideológicas dos blocos europeus, já então envolvidos no limiar de um conflito generalizado, que transformaria a Europa no palco sangrento onde se desenrolou a 2ª Grande Guerra Mundial.

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Fig. 2 - A Entrada da Exposição

Da acção de promoção do evento – encenação caseira das Grandes Exposições Mundiais –, se encarregaria a Comissão de Propaganda de António Ferro, criada para trabalhar e fazer passar a ideia de que aqui morava «uma só Nação, una e indivisível, pluricontinental», estendida da Europa a Timor, habitada por «um só Povo vivendo em paz e concórdia», sob protecção de um

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eleito. Pátria que exibia a singularidade de ser capaz de absorver o paradigma da convivência de raças, credos, etnias e culturas, diferentes, vivendo em – completa (?!) – paz e concórdia, e em respeito mútuo pelas diferenças. «Um exemplo a dar ao mundo», esse era o recado

fig. 3 – O Povo rodeia a Nau

Que Salazar pretendia enviar para fora de portas.

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A referida exposição, uma festa que se queria popular numa versão paternalista da história, cumpriria o ritual de simbolismos da Portugalidade, concedendo ao regime um tónico de confiança em si próprio, entrevisto na afirmação de uma capacidade realizadora que pretendia imitar os grandes da Europa, embora valha a verdade, dizê-lo, ressunta a pura acção propagandística.

fig. 4 -A Fonte Luminosa

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Mas a existência (dum povo) dentro da ilusão, é, em certas circunstâncias, quase tão perfeita como se de uma realidade pura se tratasse. Alimentar essa ilusão através de sedativos propagandísticos, suficientes para anestesiar a ideia colectiva, é tarefa que ainda hoje se não descuida, quanto mais naquele tempo onde as virtudes eram encenadas, porque falsas, e as desventuras das gentes, um fardo terreno advindo do pecado original, que havia a pagar com «trabalho, fé e ordem.

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1.1 - CHEGADA DOS MAIORAIS

Pairavam as pequenas embarcações ao largo da carreira onde a Nau repousava, remos chapinhando na água, aguardando o momento do deslizamento da dita pelo ensebado plano inclinado, quando chegaram apressados ao Estaleiro os «grandes dignitários»: - da igreja e da politica. Um «casamento» de livre vontade assumido, que se pretendia perfeito, entre um catolicismo bolorento e o nacionalismo salazarista, unidos para os bons e maus momentos, em

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aparo mútuo, escondendo na intimidade, ligeiros sinais de discordância, aqui e ali, pontualmente sentidos, pois que Salazar, avaro, pretendia mais que a Igreja servisse o Regime, do que o contrário, como desejado pela ala mais radical de uma igreja ainda então, com resquícios de fortes tiques miguelistas. O primeiro a chegar – como lhe competia – tinha sido o Presidente da Câmara da Vila. Pudera!... Ter sido esta terra a escolhida para a tamanha tarefa da construção da Nau, pela destreza e sabedoria acumuladas das suas gentes, era coisa bastante para encher o ego de qualquer político local. Gentes que eram rebentos da mesma cepa, daqueles outros de antanho que desde os primeiros passos da nação – quando estes eram, ainda, tímidos e trémulos, mas nem por isso menos ousados! Já tinham dado provas de saber, arte e engenho, suficientes, no manejo do machado e da plaina para armar valiosa frota, como aquela que demandara Ceuta, na que foi a primeira grande aventura da adolescência pátria. Por isso, o senhor Administrador de tão «ufano» Concelho, cumprindo a rigor o papel de anfitrião, chegara cedo a fim de receber os ilustres visitantes, gente graúda e ilustre, a

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precisar de tratamento piscativo, fosse este mesura reverencial, salamaleques de ocasião, ou catarata verborreica – verbi gratia – no que, diga-se em bom abono da verdade, o sr. Administrador, homem culto, não era acanhado, nem peco. Gentil anfitrião, mandara mesmo atapetar de flores o caminho tosco de acesso ao estaleiro, polvilhando-o com fofas e delico-doces pétalas de invasivo perfume, num gesto acolhedor, aprimorado e fidalgo, de bem receber.

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1.2 - BOTA ABAIXO

Era pois hora – porque o acto tinha tempo contado ao minuto para consumação – para a chegada do Bispo. Vulto egrégio, indispensável a actos de exaltação do regime, no caso vertente, com mor razão, pois era pretendido que a cerimónia recuperasse, encenasse e se revisse, na bênção dada à armada de Vasco da Gama, em Belém, antes da partida para a demanda das Índias.

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Paramentado a rigor, envergando as purpúreas vestes retiradas de arcazes bolorentos, propositadamente para a festa, D. Manuel de Lima Vidal empunhava com solenidade o báculo, enquanto ajeitava no curropito da cabeça a mitra, que lhe conferia, ainda, maior distinção. Vinha ladeado pelos acólitos transportando o hissope dentro do caldeiro que continha Água-benta, tão benta como a que foi usada na Capela de Stª Maria de Belém, havia quase meio milénio, e com que S. Rev.ª, o Bispo de Lisboa, Monsenhor Cadilhe, em presença de El-Rei Venturoso, tinha ungido as naus de Vasco da Gama, antes das mesmas se engolfarem no mar tenebroso, infindo. Pretendia-se repetir - ipsis verbais - o simbolismo do acto de antanho, desta vez, não para iniciar nova epopeia, mas agora, para afirmar a senda de paz, concórdia e progresso, prometidos por Salazar. No antigamente as naus partiam para novos mundos confiadas ao saber e ousadia da gesta capitania, não sem que a tripulação fosse reconfortada pela bênção divina, concedida em retribuição do propósito de levarem os ensinamentos da «palavra de Cristo» até às longínquas paragens do Preste João. Agora, quando já não «havia novos mundos para dar ao mundo», nova lição havia,

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contudo, para oferecer : a da reafirmação (simbólica) da decisão inabalável de os manter, em unidade pátria. Praticamente, em simultâneo com o Rev. Bispo, chegaram os «Senhores do Regime». No pavimento do estaleiro, mesmo em frente da proa majestosa da Nau - um prodígio de enormidade bela! - distinguia-se sitial engalanado com acolchoados de damasco, coberto por dossel aprimorado, digno de tribuna real. Aí se resguardavam «os graúdos» do ressumar provocado por canícula poderosa que fizera questão em comparecer ao grandioso espectáculo. Ao lado, em avantajado palco, armara-se banqueta para o maestro da banda, que pronta, desejosa e até impaciente, se dispunha a atacar os acordes de « A Portuguesa», quando, chegado o clímax, a embarcação deslizasse nos ensebados carris, carreira abaixo, assim que recebido o sinal de largar : «BOTA !...».

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De um grupo de gentis e noviças donzelas virgoleiras, brotou um coro bem ensaiado do «ÀS ARMAS! ÀS ARMAS !» arrebatando o povoléu já contagiado pela exaltação patriótica, dando mostras de impaciência pelo início do acto da «ascensão» da Nau às águas. Para bordo tinham subido uns tantos funcionários do estaleiro, os precisos para safar os cabos da manobra, e, ainda, a mestrança que deveria levar a Nau para Lisboa.

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1.3 - NERVOSISMO EVIDENCIADO NO MOMENTO DECISIVO

Pairava natural nervosismo : corriam de «boca a ouvido», uns certos rumores sobre os reais atributos de estabilidade da Nau, provindos certamente de maléficos incréus que espantados com aquelas obras mortas esguias que à ré subiam por ali acima, alcandorando-se a alturas inexpectáveis, murmuravam:

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- Desmesuradamente «alevantadas» : …visando encarvoar a obra. Para mais sendo certo que tais formas contrastavam com a habitual linha rasteira do pontal dos lugres bacalhoeiros, que, finos e esguios nos enlaçamentos, macios e alongados de linhas, eram por estas bandas construídos, e aqui «botados» à água, aprontando-os para o cumprimento de insubmissa e árdua missão, nos mares gelados do Atlântico Norte, na Faina Maior. Exagero de comentário tal desmesura ? Verdade (?!)... ou simples ditos badalados no jeito eu bem dizia !... -, aviso tão costumado na conversa pós-consumação, quando, «trancas à porta», não são mais do que mera inutilidade, chuchurreio desperdiçado depois de casa esbulhada. Adiante… que a maré não espera por «pescador»...

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1.4 -… E A NAU CORREU PARA A ÁGUA

A maré repontava. Não se poderia perder o momento que antecede o seu espraiar, no descanso que antecede a viradeira, altura em que sossega, apostada em quietação merecida, depois da meia dúzia de horas na trabalheira incessante de carregar água para dentro das cales e canaletes, quais veias que levam a água a todos os cantos do paul lagunar. Cálculos rigorosos tinham sido levados a cabo, no intuito de determinar o exacto momento da «preia-mar», porquanto os responsáveis tinham alguma preocupação sobre a fundura do canal,

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ser ou não, suficiente, para aceitar o calado exigente da Nau, notável e invulgar, excedendo tudo quanto até aí se tinha posto, por estas bandas, a flutuar.

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1.5 - INQUIETAÇÃO NO MESTRE

Mestre Manuel Maria Mónica, construtor naval já então afamado, tinha crescido a ver nascer navios ; já vira certamente nascer tantos, quantos os anos que somava de vida. Desafiado para concretizar tão descomunal obra -a da «Nau Portugal» - não teria precisado de muito tempo par dar resposta positiva a tão desarcada e colossal, como desafiante e temerosa empreitada, mas para a qual se sentia plenamente à altura. Talvez dito de outro modo : mestre Mónica sentia-se mesmo talhado par a mesma, ou até para ela predestinado, pois que se a obra era grandiosa e vasta, basta era a sua prática, e seguro o seu saber. Próprios de um mestre exímio na arte, daqueles que nascem com o prodígio de precisarem, num simples olhar, o jeito suficiente para afagar um corte, de modo

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a que o tabuado se ajuste, doce e aconchegado ao cavername, permitindo que o costado nasça macio e se desenvolva donairoso. Lindo para se ver, mas e também, lestos para navegar. Os veleiros saídos da mão de Mestre Mónica tinham seguros, reputados e afamados dotes, por demais conhecidos. Robustos o bastante para resistir a todas as imprecações do mar, fossem elas de que tipo e dimensão fossem, e por mais danação que aquele tivesse, ou estramboto mostrado ; belos e equilibrados no poisio na água, e finos, capazes como poucos, de boas e despachadas singraduras. Era porém certo que no caso da Nau tinha havido pouco tempo para um projecto cuidado e rigoroso, que obedecesse a detalhes técnicos precisos, para se cumprirem as boas práticas da construção naval. Tomada a decisão política para a construção da Nau, pouco se tinha feito para lá de, em termos gerais, se decidir a reprodução de uma embarcação igual a tantas

outras que se

teriam construído no passado, réplica dos galeões que nos séc. XVII e XVIII tinham povoado os mares - todos os mares de todos os oceanos - cruzando-os, em incessante tarefa de carrego de

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riquezas, de ouro, jóias, sedas e especiarias, ou em acto de corso predador, fazendo-as passar num ápice de mãos reais para as mãos de ambiciosos e obscuros desígnios. Para dar corpo à Nau elaborara-se, apenas e só, um esboço aproximado, um bosquejo de um plano geral de formas, confiando-se negligentemente - muito mais do que a boa intenção aconselharia - no saber do Mestre Mónica, o qual teria exigido pouca pormenorização das carenas, e ou, dos cálculos e traçados complementares, sendo-lhe bastante um conceito geral das formas requeridas. Pareciam os promotores -isso sim! -, muito mais preocupados com o imperiosamente majestático, sobrante de deslumbro impante, encarregando de tal cometimento, Leitão de Barros, o encenador oficial dos grandes momentos de fausto do regime, para o tratamento artístico do interior, que se pretendia, soberbamente rico. Características principais da Nau Portugal Comprimento - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 42,200 m Boca - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 11,400 m

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Pontal (do fundo da carena - a meio - à linha recta dos vaus do pavimento superior - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 7,500 m Deslocamento Calado inicialmente previsto : Calado final : - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3,12 proa e 4,52 popa Nº de canhões : - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Nº Mastros : - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3

Quadro 1

Certo é que, naquela manhã festiva, Mestre Mónica se sentia inquieto. Logo desde muito cedo tinha subido e descido a escada de acesso ao convés, tantas vezes que já lhe perdera a conta ; desde o nascer do sol que Mestre Manuel Maria (já) investigara todos os pormenores com extrema minúcia, em especial, a carreira e o carro do deslizamento, inspeccionando atentamente as talhas de fixação que prendiam a nau e a mantinham imobilizada. Acontecera-lhe dar com o olhar, por vezes

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-demasiadas vezes - pousado no bojo arredondado, sem dúvida enorme no porte em confronto com as delgadas e pronunciadas saídas de água, à ré. Porquê ?! : - talvez não o soubesse explicar. Dedicou mesmo especial atenção ao trancamento do leme, de modo a que este não empachasse na água, aquando da entrada da Nau, na ria. Em todos os momentos que antecedem o «bota-abaixo» era normal que o Mestre fosse possuído por nervoso miudinho. Lançar um barco de centenas de toneladas, carreira abaixo, era um exercício de risco assumido ; vê-lo fender a água, vertiginosamente impulsionado por toda a inércia transformada em movimento acelerado, era de arrepiar os cabelos. Para o Mestre, porém, era coisa que lhe não bulia em demasia com os nervos, apenas era capaz de criar algum desconforto pois que sabia bem o que saía das suas mãos. Contudo, naquele dia, algo - o quê (?) magicava…- estava a ser diferente…

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A verdade era não ser aquela uma obra vulgar ; ela era, sem dúvida, o feito da sua vida, uma daquelas passagens que fazem a distinção entre o vulgus e o suserano, entre o imémore e o perpétuo. E por isso se sentia, naquele celebrado dia, algo diferente do habitual, inquieto mesmo. Feito um rápido cálculo ao deslocamento, de uma maneira expedita e aproximada, concluírase haver a hipótese de o deslizamento sobre a água, atirar a embarcação sobre o bordo norte do canal. Que era de lodo - logo se disse - assim tranquilizando os receios de tais conjecturas e avisos. A mais, sendo fundos pouco consistentes, se tal sucedesse, facilmente a embarcação abriria cama suficiente para neles «apoitar». Mas, à cautela, retirou-se lastro à Nau, limitando-se assim, tal risco. Com esta acção aligeirara-se o calado ; era certo. Mas o Mestre não ficou sossegado. Sabia que com este procedimento se poderia estar a correr ao encontro de um outro risco, esse bem maior do que o possível encalhe. Muito maior!

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- “Que não, …não temesse…” chegavam-lhe vozes provindas de quem se dizia, saber muito! E que do alto do mesmo afirmavam, que o «Metacentro» estaria ainda em nível seguro, mesmo depois de realizada a operação de aliviar lastro. Não sabendo bem o significado «exacto» do palavrão, o Mestre sabia, contudo - de saber experimentado - o que o mestre Zé Bola «da sala do Risco» lhe sussurrara ao ouvido, havia que tempos. E isso era bastante para desassossego e motivo de uma certa inquietação. De facto, …antes de traçar no chão da enorme sala de risco as formas que permitiam tirar o molde ao cavername, era habitual fazer-se um modelo da embarcação, em escala reduzida, no qual se marcavam os cortes transversais, deles extraindo as curvas reais do cavername que traçadas na sala de risco à escala natural eram dali transportadas para o corte. O modelo tinha assim, para tal fim, sido executado em pau-santo.

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CAPACIDADE No final do séc. XVII e inicio do Séc. XVIII, a tonelagem de uma embarcação media-se em TONEIS. Havia ligeiras diferenças, conforme o tipo de liquido armazenado (azeite e ou vinho)

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Em Portugal um Tonel correspondia a 1.250 litros Em Inglaterra o «Wine Ton» correspondia a 1.144,08 litros .

A Tonelagem total «peso de água deslocada» era medida assim pelos tonéis embarcados, acrescentando-se a este valor mais um terço da carga. Como fórmulas aproximadas, era usado: Espanha e Portugal ½ boca x calado x comp coberta Tonelagem = --------------------------------------------------8

19 x

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Inglaterra Comp. quilha x boca x calado Tonelagem = ------------------------------------------------------ x (1+1/3) 100

Quadro 2

Mas o mestre «Zé» que dedicava gosto especial em guardar para si uma réplica do mesmo, fez um outro, em tudo idêntico, só que, desta vez, elaborado em madeira de pinho por questão de facilidade de trabalho, pois é madeira muito mais macia, mais fácil de aparelhar.

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Ficou espantado, quando, ao colocar os dois modelos no tanque para apreciar o caimento e a linha de água, constatou, intrigado, que o modelo feito em pau santo flutuava bem, enquanto o de pinho, de imediato, se tinha voltado, e deitado na água (do tanque) a todo o comprimento do casco. Pensou para si no porquê (?). E apenas, entre dentes, abordou o acontecimento com o mestre Manuel Maria, que o descansou : - Isso lastra-se… E a conversa morrera aí. Só que no dia de todos os acontecimentos, no espírito de Mestre Manuel Maria, aquele facto viera-lhe por diversas vezes à ideia, apoquentando-o, trazendo-lhe ralado desassossego. - O lastro mínimo com o fim de limitar o calado, seria suficiente para garantia da estabilidade ?... perguntara-se, vezes sem conta, a si mesmo, o inquieto Mestre.

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2 - BOTA ABAIXO

O representante do Regime parecia ter aqui encontrado o lugar ideal para sermonário adequado ao intento de revivificar o destino Pátrio. Oratória arredondada, palavras enredadas umas nas outras, inflamadas e exaltadas no fervor. Que a partir de determinada altura, subindo de tom, voaram extravagantes - a ponto de chamar à Nau, a «Esposa da Pátria»! - e soaram desmedidas quando enveredaram pelas promessas seguras (?!) do regime : «Pão (farto) para os trabalhadores» - que feita a Nau nem por isso acharam fartura na retribuição, «Paz para o povo» - que por sinal se começava a mostrar bastante inquieto com o alongar do palanfrório, e a que pouca importância concediam, até porque se não ouvia,

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«E muitos fffs - Fátima, Futebol e Fado», as três «vitualhas» que pensava o ilustre Governante, seriam suficientes para um bom português

fig. 5 - O imponente castelo da Popa

ficar empanturrado e deleitosamente agradecido, à sina de, por aqui ter nascido, neste cantinho sortudo, na beira-mar encalhado.

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O «Viva Salazar!!!» com que encerrou o palanfrório mereceu uma

resposta pouco

condizente, se comparado com «O Viva Portugal», que pareceu ter desencadeado os mais escondidos orgulhos naquelas gentes que logo responderam - agora sim, em uníssono ! - em alto vozear, «VIVÒOO!!!…».

Já S. Ex.ª rev.ª, O Bispo, entregara o báculo e empunhara o hissope, aspergindo em gestos compassados da mão, de cima para baixo, da esquerda para direita, enquanto solene esporteirava o latinório : «Et benedictio Dei Omnipotentes, Patris et Filii Spiritus Sancti»…. Tinha chegado a hora. O Mestre deu ordem para se libertarem as talhas que seguravam a embarcação, que solta, liberta, desata a escorregar pelo plano inclinado. Primeiro suavemente, depois acelerando

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centímetro a centímetro, metro a metro, acompanhada por um burburinho vindo da multidão, assombrada com a imponência de um barco a movimentar-se, célere e imparável, à procura do seu elemento natural.

fig. 6 - A Nau entra na água

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- Velocidade demasiada, cogitava naquele preciso momento, desassossegado, o Mestre Manuel Maria Mónica. Os gritos da multidão, as palmas, as exclamações, os urrah..!, estoiraram, provindos daquelas gentes que nunca tinham visto maravilha maior. De facto uma embarcação a descer na carreira, é algo de semelhante a uma criança a escorregar do ventre materno ; a água aguarda-a, como a «aparadeira» aguarda o recém-nascido : abrindo-lhe os braços, acolhendo-a com todo o jeito, desvelo e cuidado. E o choque do seu encontro com a água, a frescura que perpassa por toda a obra viva, é o açoite dado a recém-nascido para o despertar para a vida que então começa. Quieta, espelhada e macia, reverente e atenta, a água da laguna fez pois o seu papel, abrindo-se, convidativa, para dar passagem à Nau e acolhê-la no seu seio, serenamente. A aragem pouca coisa - era contudo a bastante para desfraldar os pendões da Ordem de Cristo, a cruz do templo, exibida no cimo dos mastros, bem à vista de todos. No porta-estandarte, a ré, baloiçava a

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flâmula real monárquica, branca, com as torres encimadas por uma coroa, não apenas digna dum Rei, mas sim, de um «Senhor do Império». Exactamente os símbolos que as outras irmãs suas, de antanho, as naus das armadas das «Índias e dos brasis», tinham, elas também, hasteado. Nuns casos, com suprema ufanação a amigos ; noutros com ostentação soberana, e como aviso sério, a inimigos. Em terra uma embarcação é um corpo estático impressionando desde logo pelo seu volume caso da Nau - ao vislumbrar-se em toda a enormidade as suas obras vivas. É feita, contudo, para pousar na água, onde adquire e exibe, toda a elegância das suas linhas : - «diz-me» como pousas na água e dir-te-ei que barco vais ser, assim o diziam os entendidos em muitos saberes marinheiros. E linhas mais harmoniosas, desenvoltas, e simultaneamente mais suaves e elegantes, como nunca se tinham visto.

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Fasc 14

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fig. 7 - A Nau pousada na água O castelo da popa era mesmo sumptuoso, desenvolvendo-se por três cobertas. Entalhado por mão segura e hábil de artista virtuoso, mostrava-se no painel posterior o escudo Nacional imperioso e imperial - talha rica nos pormenores, sobreposta aos varandins dos aposentos da Oficialidade suspensos sobre o mar, onde em dias de calmaria se poderiam, certamente, embebedar os olhos de visões oníricas longínquas, perdidas na imensidão do mar. Tudo resplandecia em grandeza esplêndida.

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fig. 8 - O castelo da popa

Dizia quem tinha tido acesso ao seu interior, que os SalĂľes eram ainda mais deslumbrantes, soberbos nos lustres artisticamente pendurados do tecto ou suspensos nas divisĂłrias cuidadosamente envernizadas, cortinados de damasco, como apenas se nunca se vira em palĂĄcio Real.

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Escadaria com balaústres cuidadosamente torneados em pau-santo acetinado, sobre os quais repousava corrimão para doce amparo no acesso à cabina capitania. Tectos ricamente almofadados com talha dourada eram suportados por colunas de sustentação escondidas por folhas de parra, entalhadas, de

fig. 9 - O Interior sumptuoso da Nau

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onde ressaíam cacheiras prenhes de redondos bagos. Tudo executado à goiva sobre o avermelhado e lustroso pau-brasil, num manancial de beleza prodigiosa, profusamente semeada com requinte de minúcia por artista pródigo, no rigor e na perfeição. Entrada na água, a Nau fendeu-a com soberana elegância, parecendo sentir a carícia da sua frescura correr-lhe por sob as formas redondas das suas obras vivas. O deslize foi tão perfeito que mais pareceu não mergulhar nas suas profundezas, mas sim, pairar ao de leve pousada sobre a sua superfície. Até que, esgotada a inércia, altiva e elegante, soberana, parou. Posta em bom enquadramento para fotografia destinada a álbum

para a

história, momento avidamente

aproveitado por atentos caçadores de imagens para seu registo, para a posteridade. Para lá de histórico, seria único! Porque momento de apanhar a Nau em tão garbosa postura, na sua assombrosa realeza, iria apagar-se num breve minuto, mesmo antes de esvaídos os clarões dos primeiros flashs das máquinas de fotografar. Iria ser breve, fugaz... e irrepetível.

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A Nau parou, finalmente travada pela água ; as pequenas embarcações que a aguardavam na ria, pressurosas, afundaram remos para dela se aproximar, com o fito de a apreciarem de mais de perto. Quieta um minuto, imponente, deu repentinamente para se inclinar para estibordo e, determinada, sem hesitar, parecendo obedecer a forças estranhas - e bem o eram ! - voltou-se num ápice. «E fez da quilha… portaló», como se diz na gíria marinheira.

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fig. 10 - A Nau começa a inclinar-se

Um arrepio percorreu a multidão. Silêncio maior só nos cemitérios. Que logo se tornou em prolongado murmúrio provindo de desalentada imprecação, dirigida aos deuses. A quem ia a bordo, não restou outra alternativa senão ressarcir-se do susto e exibir os dotes de bom nadador para se acolher a uma ou outra das embarcações, das muitas que se tendo aproximado, logo tinham posto os

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seus remos a ciar furiosamente, para lestas inverterem a manobra, e em marcha a ré, «a toda a força !», se afastarem do volteio da Nau, para colocados a bom resguardo, parada a

fig. 11 – A Nau de quilha ao portaló

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Nau, fundeada no lodo, regressar apressados, desta vez para acolher os nĂĄufragos de tĂŁo curta viagem.

Fig 12- A Nau de borco, rodeada de curiosos

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Estranha onda de desalento se seguiu à incredulidade dos primeiros momentos ; o silêncio dos que estavam em terra com o infortúnio estampado nos rostos era apenas cortado pelas imprecações vindas das embarcações, na lufa-lufa de meter a bordo os forçados «banhistas».

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fig. 13 - A Nau rodeada de embarcações De resto, o silêncio que se tinha instalado em terra era sepulcral - igual ao do peixe no fundo da canastra da pescadeira - entrecortado, aqui e ali por conjuros provindos de uma ou outra boca mais arrebatada, rorejados atabalhoadamente. «O Portugal» que há minutos parecia querer retomar em mãos «novo destino», transformara-se em corpo morto, «baleia» disforme boiando nas águas tranquilas da laguna, que lhe serviam de cama para repouso inesperado. A majestade já não era. Fora-se, com a cambalhota da Nau. O orgulho do Portugal dos «gama e cabrais», o Portugal do conhecimento, genial criador de navios que mais do que capazes de ir por aí fora - Duc in altum! - sem limites de lonjuras no mostrar de como se poderia navegar contra o vento - de «cara à vela» no volteio de ventos e marés - afundara-se. O Ministro da Obras Públicas, presente, assombro estampado no rosto, olhava atónito e especado para o desenlace da aventura ; estava pálido, dor acerba e pungente reflectida no olhar aturdido por tamanho infortúnio. Num ápice tinha interiorizado toda a dimensão do problema. Não

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por temer que este se espalhasse nos jornais ao outro dia ; a máquina da censura salazarista encarregar-se-ia de lhe aplainar os contornos do ridículo. E assim sucederia, de facto, pois nos jornais do dia seguinte, podia ler-se que o acidente se teria ficado a dever ao facto de uma das talhas dos cachorros da carreira se ter partido, fazendo elevar a Nau, que perdendo (?) o seu centro de gravidade, teria dado origem a uma aparatosa inclinação do barco. Mas no exterior o acontecimento seria motivo de chacota. E a aparatosa inclinação viria expressa no simples e consagrado dito da «quilha a fazer de portaló». No jornal local, «O Ilhavense», nada se referia do acontecimento para lá de um artigo da autoria do Bispo de Aveiro, que pouco ou nada se detinha no acontecimento. E nos números seguintes, o jornal limitar-se-ia a umas breves notas sobre a recuperação da embarcação. Resultado do lápis azul da censura a riscar, diligente e pressuroso, tudo o que transpirasse excessos informativos capazes de macularem a intenção do acto. Tal como sucederia com todos os órgãos de

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informação, escritos ou falados, no País : só pequeníssimas notas, idas no sentido de desvalorizar o acontecimento, eram permitidas pelos esbirros censores. Fora do País, apesar dos esforços diplomáticos, as coisas espalharam-se de outra maneira, de um modo pouco dignificante e consentâneo para com o nosso lustroso passado de gentes marinheiras, gerações inteiras repentinamente ensombradas por esta nódoa que viera engelhar a sua imagem de quatro séculos de grandes feitos. Por outro lado, a verdade, dura e crua, mesmo que atabalhoadamente desmentida, era a de que a comparência da Nau na Feira de Exposições estava de todo comprometida, muito embora a censura se apressasse a passar a notícia de que o atraso era de apenas uns simples dias. Aquela que seria a maior âncora, a mais emblemática peça da Exposição do Mundo Português, destinada a glorificar o Portugal do Império, jazia inerte, pousada no lodaçal da Ria, negando-se a comparecer ao encontro com gentes que vindas de todos os lados se preparavam para a visitar, ávidas de ver ao vivo, o que se prometia ser um deslumbre de fausto.

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Fascículo 16 O Ministro imaginava a cólera de Salazar, personalidade implacável e profundamente arreigada aos símbolos pátrios, que se auto assumia guardião das virtudes da gesta. Pensou - e até previu - o inevitável rolar de cabeças que tal infeliz desfecho para obra tão grandiosa, iria, por certo, despoletar. Até o seu lugar estaria - imaginou ! - comprometido, apesar de peça fundamental, associada às grandes realizações propagandísticas do regime. Salazar não costumava perdoar erros de clara incompetência. E no caso, a mesma, estava ainda associada a incúria negligente, o que, pela dimensão simbólica - e pública ! - do acto, ultrapassava a mera questão de imprevidência. Imperdoável ! No sentido de limitar os danos o Ministro enviou de imediato para Lisboa um telegrama, onde retocou a gravidade do acontecimento. E mesmo sem saber em pormenor, como iria ser, apressou-se a garantir, contudo, que a Nau estaria a tempo de ser exibida em Lisboa, na Exposição,

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depois de posta a flutuar. O que assegurou, iria acontecer dentro de breves dias (?!). Que se prolongariam por três longos meses.

3 - A ENTRADA EM CENA DO ENGº SALVADOR SÁ NOGUEIRA, DA A.D.G.P.L.

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Em Lisboa, já na segunda-feira seguinte ao infeliz acontecimento, o Ministro não perderia tempo em convocar com urgência o Eng.º Salvador de Sá Nogueira, reputado técnico da Administração Geral do Porto de Lisboa -o mesmo que ultimamente dirigira o resgate de vários navios acidentados, e de entre eles, o do rebocador «Cabo Sardão» e da «Draga Alcântara», técnico por isso com larga experiência na matéria - conferindo-lhe plenos poderes e excepcionais liberdades para recrutamento de meios, no sentido de recuperar com a máxima rapidez, a «Nau Portugal». Sem olhar a despesas. Estava em jogo o orgulho nacional, achincalhado, exalviçado, salpicado de lama pelo acontecido, cuja recuperação não tinha preço, nem dilação.

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fig. 14 - Plano Geral de formas da NAU

Logo no dia seguinte o Eng.º Sá Nogueira apresentar-se-ia em Aveiro, acompanhado pelo Comandante Luís Spencer, a quem iria encarregar de dirigir os trabalhos, no local. De imediato contactou o Mestre Mónica, explicando-lhe o plano com que tencionava, rapidamente, voltar a pôr a Nau a flutuar. Para isso, os meios que tinha no Porto de Lisboa, pareciam-lhe suficientes. Solicitou,

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então, que lhe fossem entregues planos detalhados da embarcação, pois desejava, antes de se lançar ao trabalho, efectuar diversas verificações. Perplexo, recebeu a informação do Mestre, de que pouco mais haveria do que um plano geral (!!!) de formas (fig 13), porquanto, dado o pouco tempo havido entre a tomada da decisão de construir a Nau e a data da exposição, se teria pensado - tratando-se de uma réplica de embarcação já provada, e não haver muitas transformações a fazer para a adaptar aos fins em vista - serem dispensáveis planos mais pormenorizados, de maior detalhe técnico construtivo. Este teria sido, afinal, o erro capital, omissão imperdoável que teria conduzido ao desastre! O que o Eng.º Sá Nogueira se queria certificar, era se o volteio da Nau fora causado por falta de estabilidade, ou se teria sido produzido pelo

encalhe ; e, neste caso, se aos impulsos

hidrodinâmicos, outras solicitações exteriores se lhes teriam vindo juntar.

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Voltando a Lisboa ordenou que se aprontassem o rebocador «Cabo da Roca», a draga «Engenheiro Matos» e a cábrea «Adolfo Loureiro» ; os primeiros largaram para Aveiro a 16 desse mês, tendo aqui chegado a 18. O rebocador voltaria a Lisboa para trazer a cábrea. Entretanto, em Aveiro, foram solicitados aos Pilotos da Barra, todos os elementos possíveis sobre a navegabilidade da ria, bem como do canal de acesso da barra.

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4 - SALVAMENTO

O Plano de colocar a Nau a flutuar não se mostraria deveras complicado : dois tira viras cabos fortes - fixados a BB (bombordo) e passando debaixo da embarcação, iriam fixar-se ao fundo da ria por possantes garras a EB (estibordo), ajudando a criar momento aderiçante, suficiente. Ao mastro principal, depois de convenientemente escorado, seria passado estropo ao calcez, ligando-o ao cadernal da cábrea.

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fig. 15 –Esquema de aderiçamento

Fundamental, seria, a decisão de se dragar a ria paralelamente à posição da Nau, por BB. No dia 26 o Eng.º Sá deu ordens para aderiçar. Imediatamente a Nau começou a endireitar-se até ao ângulo máximo de 75º, dado que nessa posição os dois cadernais (da cábrea e o fixo ao calcez) estavam a beijo.

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fig. 15- A Nau suspensa da grua

Fixada a Nau pelos tira-viras na nova posição, a cábrea passou para Sul da embarcação adornada. Com ela fixada, imediatamente se enviaram mergulhadores a fim de estancarem as

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portinholas de EB. Feito isto, à medida que se ia esgotando a água e o lodo com o auxilio da cábrea, a Nau pôs-se, finalmente, direita.

fig. 16 – A Nau peada a terra

Notou-se desde logo, uma certa tendência para a Nau voltar a inclinar-se, o que indiciava problemas de clara instabilidade. Assim, enquanto a cábrea mantinha a Nau em posição, e se

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lastrava esta, mandou-se abrir um rego perpendicular ao anterior, no sentido norte-sul, para onde se deslocou a embarcação, que, convenientemente peada para terra, ficou em posição de aproada, ao norte. A questão agora - para o Eng.º Sá -, era de fazer quanto antes uma prova de estabilidade estática. Pretenderia, assim, determinar a posição do metacentro depois de, numa primeira tentativa, mais ou menos a olho, lastrar a embarcação.

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5 - A QUESTÃO TÉCNICA Rapidamente, e de um modo simplificado, vejamos os aspectos técnicos do problema. Quando uma embarcação mergulha na água, o seu peso (deslocamento) é aplicado no seu centro de gravidade G. A parte do casco imersa cria uma força de impulsão, de sentido contrário. Ora quando a embarcação sob a aplicação de eventual força exterior, se inclina, três situações se podem verificar :

1ª - O Metacentro (M) ( ponto onde conflui o plano diametral da embarcação e a vertical traçada desde o centro da carena quando este se deslocou, motivado por uma inclinação provocada na embarcação situa-se acima de G .

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fig. 17 - Equilíbrio estável Nestas condições a embarcação é estável, tendendo a endireitar-se quando a força que lhe provocou a inclinação, desaparece ou diminui (fig. 16) (fasciculo21) 2ª- O Metacentro (M) coincide com G. Neste caso o equilíbrio é indiferente. A embarcação ficará inclinada, mantendo-se nessa posição.

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fig. 18 - Equilíbrio Indiferente 3ª- O Metacentro (M) fica abaixo de G. Neste caso o equilíbrio é instável, e a embarcação continuará a adornar continuamente, até soçobrar. (fig 18)

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fig. 19 - Equilíbrio Instável Servindo-se da técnica (fig. 19) do peso móvel deslocado no tombadilho, e lendo numa régua graduada o afastamento provocado num pêndulo imerso em água (para melhor estabilização), o engenheiro Sá concluiu, rapidamente, que com o lastro embarcado, a altura metacentrica (r-a) era positiva. O metacentro (M) situava-se acima do centro de gravidade ( G), sendo o seu valor de + 0,82. Isto significava, que nesta situação, a Nau poderia navegar.

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fig 20 - Ensaio altura MetacĂŞntrica

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6 - LIBERTAÇÃO Só queo Eng.Sá, de imediato, também se apercebeu da outra evidência. A de que, com o calado médio 3,82 m - com 4,52 m à popa - a embarcação estava cativa. Pois que nem a ria com os seus bancos de areia espalhados ao longo do trajecto até à barra, nem mesmo esta, tinham profundidade suficientes para a libertar. Em condições normais de flutuação a Nau estava,pois, condenada a ficar prisioneira da Laguna. O que evidenciava uma clara e insensata irresponsabilidade, técnica do projecto. Dá-se então o primeiro choque entre o mestre Mónica e o Eng.º Sá. Este ordenaria que fosse passado o lastro para a proa, de modo a que a Nau mergulhasse de proa e subisse de ré, pretendendo

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com isso diminuir o calado máximo. Ausente em Lisboa, é-lhe enviada uma carta do Mestre que lhe sugere que tal pretensão lhe parecia ser um erro, por poder alquebrar o navio. E porque, experimentando mudar o lastro, o barco afundava sem subir de popa, pelo que seria inútil e perigoso tal trabalho, afirmava o Mestre na referida missiva. Sá Nogueira irritado compreende que tem de tomar posições firmes contra um certo empirismo reinante, e contra opiniões demonstrativas de certa ignorância, pois descortinava que alguém estaria por detrás da carta que lhe fora enviada, assinada pelo Mestre. De facto, sobre o equilíbrio longitudinal, o problema coloca-se em outros moldes:

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fig. 21 - Equilíbrio Longitudinal

Deslocado o peso, (que provocava a imersão a) até uma distância d de C, o mesmo irá provocar a imersão a+b (afundando-se) à proa mas manter-se-á a imersão na vertical da popa, desde que d se mantenha em certos limites (determinável em cada caso, d = 2M/ I, sendo M o

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momento necessário a produzir 1 cm de diferença de imersão, e I o deslocamento por 1cm de imersão). Esta distância, d, para um e outro lado, determina os chamados pontos de indiferença para as imersões de proa, e ou de ré, segundo v’v’ está, por ante vante, ou por ante ré, de vv. Colocado o peso por vante de v’v’, a embarcação afunda de proa e levanta de ré. E isso é o que pretendia Sá Nogueira, contra o espanto daquela gente que, aterrorizada, vê a já de si tremendamente alta e desproporcionada popa, a subir ainda mais, parecendo, assim, criar maior desequilíbrio. O calado atingiu, depois de deslocado o lastro convenientemente, os 13´ à ré ; e 12´ 5´´ à proa, praticáveis, em vez dos 15´ anteriores. O desconhecimento do sítio exacto onde colocar o lastro (fora do ponto de indiferença) para produzir os efeitos pretendidos, colocava em dúvida o conhecimento do técnico ; o que levou à

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tomada de medidas drásticas e ao primeiro confronto pessoal com o mestre mal aconselhado, ao que parece. Curiosamente no único plano de formas que existe no Museu da Marinha, visualizámos que o calado aí referido, era previsto ser 7´ 80´´ à proa, e 10´ 50´´ à ré. Por aqui pode ter-se uma ideia da ligeireza com que a Nau foi projectada, e as razões obrigatórias para o seu capotanço : - a falta imperdoável de cálculos rigorosos e cuidados, de modo a evitar o sucedido. Com a posição acima referida (depois de lastrada), o Eng.º Nogueira fez novo cálculo de altura metracêntrica, obtendo para r-a = + 0,83 m, pelo que considerou atingidos os seus objectivos. No dia 18, chegou o rebocador «Cabo Espichel», muito mais potente, na previsão de, na Barra, poder de precisar de toda a potência para libertar a Nau, em caso de qualquer pegadilho. Rebocada pelos «Rio Vouga» e «Cabo da Roca», a Nau seguiu em direcção da barra, nesse mesmo dia, superando várias prisões nos fundos.

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O trabalho do Piloto Samuel Maia é posto em destaque pelo Eng.º Nogueira, que elogia, detidamente, o seu saber e competência. Por conselho daquele, a Nau foi conduzida para o local designado por «ESPALHADO», situado na revessa, entre o canal e o banco de areia, onde o mar quebrava, local ideal para espera da maré exacta que permitisse em certa segurança colocar a Nau no mar aberto. Feitas as últimas sondagens, foi dada às 15 horas e 45 minutos, a ordem para largarem para a Barra, que é transposta cerca das dezasseis horas sem grandes dificuldades, apesar de um ou outro susto, causados por dois ou três toques nos bancos de areia, sempre em mudança e, por isso, difíceis de prever. Fora da Barra os dois rebocadores entregaram a Nau ao «Cabo Espichel», enquanto o pessoal a bordo - enquanto esperava pelo «Rio Vouga» que tinha ido buscar a cábrea - deslocava o lastro para ré, a fim de proporcionar melhor estabilidade (caimento) para a viagem até Lisboa. À Nau, tinham entretanto, sido retirados, por mera precaução, os mastaréus, o que lhe conferia maior estabilidade, pelo efeito de abaixamento do seu centro de gravidade.

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fig. 22 - A Nau a caminho de Lisboa

Entregue a cábrea ao «Cabo da Roca», fixou-se a draga à ré da Nau, na convicção de que melhoraria o grau de manobrabilidade. Contudo, rapidamente, foi reconhecido que, ao contrário, o mesmo ficava prejudicado, pelo que foi decidido libertar a Nau, da draga.

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A viagem correu esplêndida, com bom tempo, mar bonançoso sem vaga, vento fraco. No dia 19, pelas vinte horas, a Nau atracava finalmente ao Cais de Conde de Óbidos. O cais encheu-se coalhado de gente que terá descido à margem para melhor apreciar a majestosa Nau, integrada no cortejo que entrava no Tejo e a tinha acompanhado na sua primeira - e que seria a última ! - viagem por mar. Rebocadores, draga, cábrea, e salvavidas do Porto de Aveiro - que sob comando do chefe José Maio tinha feito questão de acompanhar, milha a milha, a viagem da Nau. (fig 21) O Eng.º Sá Nogueira ainda iria efectuar uma última verificação. Para isso repetiu o ensaio de estabilidade, nas actuais condições de lastro, constatando que r-a = +0,95m. Óptimo, pois. Em 2 de Setembro a «Nau Portugal» fundeava na Doca de Belém onde, coisa de rara beleza e excepção, iria ser apreciada por todos quantos visitaram a «Exposição Histórica do Mundo Português» onde foi cabeça de cartaz.

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fig. 23 - Finalmente fundeada em Belém

7 - EXPOSIÇÃO DE OURO Em 7 de Setembro a Nau é - finalmente - «aberta» ao público.

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fig. 24 - Interior sumptuoso da Nau

Na cabina do Comandante, onde se poderia apreciar uma riqueza notável de mobiliário dos Séc. XVII e XVIII, pródigo em talha e embutidos, a que não faltavam incrustações douradas deslumbrantes, podiam ver-se excepcionais tapeçarias das Índias. Aí tinha lugar a «Exposição do Ouro», organizada sob o alto patrocino do Banco de Portugal. Uma verdadeira riqueza em objectos

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e moedas podia ser vista e apreciada por quantos tiveram a oportunidade - única - de ali se dirigirem. Em espaço contíguo tinha lugar uma exposição sobre o «Vinho do Porto». Representações da «Companhia de Diamantes» e da «Companhia Colonial de Navegação» poderiam ser, ainda apreciadas. Na coberta principal alinhava-se a «Ala dos Mercadores», verdadeiro mercado em exposição, a fazer lembrar os encontros com povos nativos, que iam sucedendo ao longo das viagens, aproveitados para trocas comerciais.

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fig. 25 - A coberta dos canhĂľes

No castelo de proa da Nau funcionava um restaurante, posto ao serviço dos visitantes ; nos porþes, podiam ser apreciadas mostras de vinhos portugueses ; no terceiro deck ficava a casa da Capitania.

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A réplica daquele que teria sido um Galeão do séc. XVII - XVIII, executado em madeiras portuguesas e outras, vindas do Brasil, aparentava um tom de mel escuro, acolhedor, doce, sedoso e apaixonante. Admite-se ter sido visitada por cerca de TRÊS MILHÕES de pessoas, mantendo-se em exposição até ao dia 2 de Dezembro do ano de 1940. Para Salazar, “a alma vivificadora da exposição, ia a coroa radiosa de flores da sua Obra Monumental” - podia ler-se à época nas edições das revistas, dedicadas à mesma.

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8 - HISTÓRIA REPETIDA

A imprudência e algum primitivismo - e ou empirismo -, certamente advindos da ideia da construção ser proveniente de uma Comissão mais preocupada com o esplendor do que no respeito por exigências técnicas, não permitiu que se tivessem tomado as cautelas necessárias para evitar o contratempo acima relatado.

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fig. 26 - O volteio da «Vasa»

E o certo é que nos arquivos da história havia exemplos que mereciam atenção e uma tomada de especiais cautelas aquando da decisão de se construir a Nau.

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8.1 – A «VASA KRANTAR»

fig. 27 - A «Vasa» no Museu de Estocolmo

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De facto uma Nau, a «VASA KRANTAR» de 69 m de comprimento, 11,70 m de manga e 3,9 m de calado, com um deslocamento de 1200 Ton, na sua primeira viagem realizada em 10.08.1628, depois de recorridos umas centenas de metros, à primeira sopradela vento, voltou-se. E afundou-se, perante o olhar de espanto de uma multidão que tinha acorrido para apreciar aquela que se dizia ser, a unidade definitiva com que Adolfo Gustavo II pretendia aniquilar a Polónia. Permaneceria três Séculos no fundo do mar. Em 1961 o Eng.º Anders Franzen conseguiu obter o interesse do rei da Suécia Adolfo Gustavo IV - curiosa coincidência - e conseguiu erguer o barco em 24.04.1961. Depois de tratada e recuperada foi levada para o Museu de Estocolmo.

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8.2 - A HISTÓRIA REPETE-SE EM 1992

Em 1992, mais recentemente, uma das embarcações destinadas a comemorar a viagem de Colombo, posta à água em Espanha, aquando da Feira de Sevilha, sofreu idêntico destino, deitandose nas águas, aquando do seu lançamento à água.

. Senos da Fonseca MARÇO 2007

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BIBLIOGRAFIA

NOGUEIRA, Sá - Conferência do Eng.º Sá Nogueira - Ordem dos Engenheiros. REIS, Batalha - «A Exposição de Ouro a Bordo da Nau Portugal», edição CML 1966. OLIVEIRA, Fernando - « Livro da Fábrica das Naus» 1581. MOURÃO, Fernando - «Relaçam dos naufrágios que teve a Nau Portugal em Aveiro 1940/41» VIEIRA, Filipe - A Nau Portugal - Navios Conquista do Oriente – 1490-1650. «OS GRANDES VELEIROS» VoII, edição Altya, S.A – Barcelona. «O Ilhavense» - Julho/Agosto/Setembro de 1940 «O Século» - Julho de 1940

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ÍLHAVO

-

COLECÇÃO FACTOS o Portugal das Descobertas, aquele que tinha defrontado e humilhado o Adamastor e chegado às Índias e aos Brasis, o das Naus dos «Gamas», «Cabrais» e «Albuquerques», iria «navegar» de novo (…).embarcado na réplica de uma daquelas, ali construída pelo Mestre Mónica

www.senosfonseca.com

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Índice

1- Preparativos 1.1- Chegada dos Maiorais 1.2- Bota abaixo 1.3- Nervosismo evidenciado no momento decisivo 1.4- E a nau correu para a água 1.5- Inquietação no Mestre 2- Bota abaixo

pág. 1 27 31 37 40 42 59

3- A entrada em cena do Eng.º Salvador Sá Nogueira da A.D.G.P.L. 91 Salvamento 4- A questão técnica

98 104

93


5- Libertação

111

6- Exposição de Ouro

127

7- História Repetida 8.1- A «Vasa Krantar» 8.2- A História repete-se em 1992 Bibliografia

136 140 142

Índice

145

94


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