Periódico Literário Nacional
Foto: Daniel Arjones, Bahia, Brasil.
Volume I * nº. 4 * Julho de 2020
JackMichel Entrevista com
A Escritora 2 em 1
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Jornal daBiblio ISSN 2675-4568 | Volume I * nº. 4 * Julho de 2020
Editorial
Sumário
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BIBLIO Editora Capa
Rogério Fernandes Lemes
Conselho Editorial
“As verdadeiras fontes de riqueza não são as coisas físicas, mas a mente humana.” A frase atribuída ao editor chefe da revista Forbes, Steve Forbes, retrata com maestria o propósito do Jornal daBiblio, que chega em sua 4a edição. Acreditamos que nada substitui o talento das pessoas. Nem mesmo a pandemia pela qual, tristemente, atravessamos. Segundo os dados oficiais do Brasil anunciados no sábado passado (8), ultrapassamos a marca dos 100 mil óbito caudados pelo novo coronavirus (COVID-19). Em momentos de tamanha angústia criamos este veículo literário para aplacarmos nossa dor e insegurança. Buscamos, na literatura, uma maneira de superarmos nossas perdas. A cada edição, novas manifestações do espírito humano advindas de todos os estados brasileiros, bem como, de outros países. Estamos convictos de que essa pandemia, mundialmente conhecida, passará. Em nossas mentes, as lembranças de nossos entes queridos que realizaram suas passagens e findaram suas jornadas neste mundo. Em cada linha, desta edição, palavras e mais palavras de sabedoria, de paciência, de esperança em dias melhores. Entrevistamos JachMichel, a escritora 2 em 1. Recebemos textos maravilhosos que, seguramente, contribuirão para nosso conhecimento e reflexões. Convidamos os poetas, contistas, cronistas, articulistas, cordelistas, enfim, homens e mulheres que fazem da escrita suas vozes no tempo e no espaço. Acessem nosso blog e leiam as Normas para Publicação. Aguardamos novos autores para a 5ª edição, do mês de agosto. Ótima leitura a tod@s.
Entrevista com JackMichel 3 30 dias em casa 6 Magnólia e o lobisomem 7 Os princípios da mecânica clássica parte 3 11 Envelhecer sabendo que a vida é algo digno de não se perder 15 Nova Diretoria da UBE-MS gestão 2020-2022 16 Florzinha do Sertão 17 III Concurso Literário de Monte Alegre 19 Normas para Publicação no Jornal daBiblio 20
Rogério Fernandes Lemes Editor-Chefe/Fundador Jornalista MTB 1588/MS
Cheiene Damázio Uggioni Co-Editora Geógrafa
Capa nº. 3, Junho/2020 Roberto Marchiori Co-Editor Prof. Universitário UNIR
Rosana Daza Revisora de Espanhol Doutoranda UFMS
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Entrevista
O primeiro grupo literário na história da Literatura Mundial
Por Rogério Fernandes Lemes
JackMichel em nome de todas as nossas leitoras e leitores espalhados pelo Brasil, e pelos países lusófonos, lhes damos as boas-vindas! Sou Rogério Fernandes, o Editor-Chefe do Jornal daBiblio e, em nome de nossos leitores dou as boas-vindas à escritora “JackMichel” denominado de o primeiro grupo literário na história da literatura mundial”. Qual a motivação para uma escritora 2 em 1? JackMichel: Ser JackMichel sic et simpliciter. Com razão, Fernando Pessoa disse “Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo.” JB: Conte-nos sobre o início de sua carreira literária. Quais os desafios superados para chegar onde chegou? JackMichel: Isso aconteceu por acaso. Quando eu, Michel, comecei a rascunhar meus primeiros manuscritos, Jack minha irmã e parceira literária, já pegava na pena. Anos depois, haja vista termos acumulado muito material escrito, decidimos unir os calhamaços e criamos JackMichel, cujo slogan é “A escritora 2 em 1”.
Fotos: Arquivo das autoras.
JB: Quais as principais influências literárias em sua carreira? Fale um pouco sobre cada uma delas. JackMichel: Não é fácil preferir um autor a outro visto que muitos são os poetas maravilhosos, os romancistas históricos, os biógrafos fortes, que lemos e nos imprimem marcas fundas na alma. Mas para não deixar a pergunta sem resposta citarei Alessandro Pavolini, autor do inolvidável Scomparsa D’Angela e Domingos Antônio Raiol, de Motins Políticos. Pavolini foi um intelectual que se tornou Ministro della Cultura Popolare durante o governo Mussolini e, Raiol, foi o primeiro e único Barão de Guajará. JB: Você desenvolve algum projeto voltado à leitura? JackMichel: Junto à Editora UNISV que publicará até o final de 2020 minha coleção “Fada-Conto” constituída de 6 volumes, eu e Jack encabeçaremos (como redatora e editora) uma revista digital voltada a promover a literatura moderna brasileira.
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JB: Quantos livros publicados até o momento e, qual deles, trouxe mais satisfação como escritora?
JackMichel: É claro que o escritor influencia os meios de comunicação global com o que escreve, com o que fala, com o que faz. Carlos Marighella era poeta e chegou a ser considerado o inimigo “número um” da ditadura militar no Brasil; Alessandro Pavolini foi pendurado de cabeça para baixo na Piazzale Loreto; Pagu, escritora e jornalista, tornou-se a primeira mulher a ser presa por motivos políticos em nosso país. Eles levaram seus pensamentos para fora das páginas dos livros.
JackMichel: A “Escritora 2 em 1” tem 14 livros publicados ao longo de sua jovem carreira de 5 anos. “Arco-Jesus-Íris” é o mais marcante porque traz à tona casos arquivados que causaram polêmicas, reações apaixonadas e controvérsias em muitas partes do mundo e em diversas épocas. A obra aborda temas eternos como o Assassinato de Sharon Tate, a Revolução Cultural chinesa, o extermínio nos campos de concentração nazistas, a catástrofe da Talidomida, a morte prematura de Jim Morrison, a tragédia particular de Oscar Wilde, o atentado à bomba numa Igreja Batista da Rua 16 e enfoca personagens notórios como Charles Manson, Mao Tsé-Tung, Heinrich Himmler e Ku Klux Klan.
JackMichel: Scomparsa D’Angela, Parlo Con Bruno, Der Giftpilz, Der Mythus des zwanzigsten Jahrhunderts.
JB: Como é sua rotina literária? Quais as motivações para os temas de seus livros? E como escolhe cada título?
JB: Em sua opinião, quais os principais problemas enfrentados pela Literatura Brasileira?
JackMichel: Eu e Jack vivemos o dia-a-dia como cidadãs comuns e escrevemos como artistas inspiradas. A concepção de uma obra é planeada por nós duas; já o critério utilizado para a elaboração da escrita se dá unindo posteriormente as cotas de texto; ou seja, às vezes Jack escreve a maior parte de um livro e separa trechos para eu preencher... outras, ela cria o título e eu componho a obra... de modo que, ao fim do trabalho, não achamos tais enxertos tão coesa é nossa estilística de expressão: uma mescla perfeita tal qual o queijo com a goiabada.
JackMichel: A dificuldade de achar editoras que recebam originais que não venham de agentes literários e os preços elevados dos livros. Embora não agrade a gregos e troianos vou falar. Os livros teriam menor custo e maior acessibilidade da massa se os governantes observassem a máxima de Victor Hugo “Ler é beber e comer. O espírito que não lê emagrece como o corpo que não come.”. Mas, se os preços disparam a toda brida nos supermercados e nos postos de gasolina, como o mercado livreiro ficaria ileso a este efeito borboleta?
JB: O que mudou em sua vida de escritora com a pandemia do novo coronavírus?
JB: Você participa de algumas entidades literárias? Quais? Fale-nos sobre a importância de uma associação de escritores.
JackMichel: Apenas o aspecto psicológico, pois reclusão e isolamento social sistemáticos culminam por esfrangalhar os nervos das pessoas. JB: Livro físico ou digital? Justifique sua preferência. JackMichel: Não há preferência; posto que na hodiernidade utilizam-se ambos os formatos, dependendo do momento e ocasião. JB: Você acredita que os escritores têm uma responsabilidade social com aquilo que escrevem? Ou, por tratar-se de Literatura em tempo pós-modernos, tudo é válido?
JB: Quais os principais livros que indicaria para nosso público leitor?
JackMichel: Sim. A.C.I.M.A (Associazione Culturale Internazionale Mandala), LITERARTE (Associação Internacional de Escritores e Artistas), AMCL (Academia Mundial de Cultura e Literatura), UBE (União Brasileira de Escritores) e Movimiento Poetas del Mundo. Congratulo as entidades que promovem o intercâmbio de atividades culturais entre escritores de variadas etnias e nacionalidades. JB: Todo escritor é, antes de tudo, um contador de histórias. O que você conta em seus livros?
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JackMichel: Feerismos da inspiração que se ajuntam ao conteúdo de periódicos de época e hemerotecas online. JB: Qual a mensagem de JackMichel à juventude brasileira? JackMichel: Para tanto citarei uma de nossas frases icônicas: “ESCRITOR NÃO É VAGABUNDO!” JB: Em nome do Jornal da Biblio agradeço a oportunidade em conhecer um pouco mais do trabalho de JackMichel. Por gentileza, suas considerações finais. JackMichel: Pedimos ao público que leia as obras de JackMichel como um encômio ao culto das belasletras, pois para nós, escrever é viver!
Fotos: Arquivo das autoras.
As obras de JackMichel
Saiba mais sobre JackMichel em: www.websiteoficialjackmichelaescritora2em1.com ou pelo e-mail:
micheledesouzaramos@gmail.com
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30 dias em casa
Cheiene Damázio Uggioni
A porta está fechada Não há ruídos, barulho e ronco de motor Nada vem da estrada Só o silencio emudecedor
Mudei de postura Fiz poesia, plantei flores, Aos poucos me distrai Hoje amanheci sem nenhum sintoma.
Semana passada foi apenas dor de cabeça Depois dores de garganta E comecei a passar mal Medicação fitoterápica para sinusite e paracetamol
Chá quente e cobertor, já faz frio no Sul Para combater o vírus, Sopa e abraço acolhedor
O governo decretou quarentena Todos passaram a ficar em casa Vieram as dores no corpo, e muito cansaço Ontem eu mal conseguia andar Telefonei para a vigilância epidemiológica Ela me disse para permanecer em casa Pode ser estresse emocional São tantas informações Aulas suspensas e pronunciamentos oficiais Igrejas sem atividades presenciais Home Office e homeschooling Fake news e guerra política
Cheiene Damázio Uggioni É natural de Criciúma/SC. Professora. Autora dos livros “Poetizando no Ócio” e “Jujubas, caramelos e outras poesias”. Publica no Recanto das Letras. Já participou de várias antologias e concursos. É membro da AJEB/SC e da ALBSC-Seccional Criciúma. Membro do Conselho Editorial e Co-editora do Jornal daBiblio.
Terminei de escrever meu livro. E agora? Deixe que a Biblio Editora cuide de tudo para você. Registro do ISBN, Ficha Catalográfica, Editoração eletrônica, impressão com alta qualidade e entrega em qualquer lugar do Brasil! Faça seu orçamento sem compromisso, através do e-mail: biblioeditora@gmail.com (67) 99939-4746
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Magnólia e o lobisomem James Flores
Só muitos anos depois fui reencontrar com a prima Magnólia Barbosa, numa festa de aniversário do parente nosso Dorico. O tempo havia passado para nós dois, mas bem menos para ela. Porém, seus cabelos tingidos e minha incipiente calvície não nos impediram de retomarmos conversas e histórias de quarenta anos passados, pelo contrário. Ela tinha se aposentado como professora, criado três filhos, suportado por décadas o alcoolismo do marido, mas estava falante e rejuvenescida, com novos planos e projetos. Parabenizou-me pelo livro lançado com temática fronteiriça, mas censurou algumas narrativas. “Você tem que escrever mais as histórias verdadeiras, o que de fato aconteceu nessas bandas. Aqui tem histórias que não acabam mais...” – falou-me entre a ordem e o desafio. “Se você não fizer, quem há de escrever...?” – lisonjeou-me. Conheci prima Magnólia ainda criança, quando veio da Fazenda Academia com a família para estudar em Guia Lopes da Laguna. Ela e os dois irmãos mais velhos foram matriculados na escola Salomé de Melo Rocha, na primeira série B, e minha mãe, professora Leonor Barbosa, foi alfabetizadora dos três. No ano seguinte, mamãe era de novo sua professora, e avisou que Magnólia viria fazer as tarefas de casa comigo, para que eu a ajudasse com a tabuada e os probleminhas do tipo: “Joãozinho foi à feira e comprou mil livros... Quanto sobrou de troco?”. Era sempre por aí que iniciávamos as tarefas, depois se ia responder os “pontos” de Estudos Sociais e as interpretações de texto.
Magnólia era mais velha que eu, tinha dez anos e eu sete, e nem sempre esperava o intervalo ou fim das tarefas, se punha a contar das histórias da parentada, das gentes de fazenda, dos bugres; de causos de briga feia, morte, traição: com realismo 220W! Também os passados remotos no tempo da guerra com o Paraguai. Era inteligente, vivaz, falante... minha Sherazade da fronteira, contando-me histórias de nossos antepassados. Alcebíades e Basílio – o avô dela e o meu – foram primos criados quase juntos nas fazendas lindeiras ao pé da Serra de Maracaju, município de Nioaque, depois Guia Lopes da Laguna, terras da Fazenda Desbarrancado fundada pelos Barbosa em meados do século XIX... Vô Bide, o apelido de Alcebíades Barbosa, era pai de dona Margarida, esta se casou com Fabiano Vargas. Magnólia me explicava também com ares de juíza: “Meu pai num era Vargas de primeira linha. Era registrado em cartório, mas filho natural do pai dele, Fernando, com uma empregada. Veio com os irmãos de lá do Rio Grande do Sul, migrados para fazer fortuna aqui no Mato Grosso”. Como era muito trabalhador e responsável compensara a falta de sorte do destino, nascer bastardo. Casando com tia Margarida, tio Fabiano além dum grande amor, livrou-se do jugo e da exploração dos irmãos legítimos. Foi ser dono e senhor das terras e rebanhos passados à esposa, espécie de dote. Desnecessário dizer que me apaixonei por Magnólia, mas nosso namoro e estudos infantis duraram coisa de dois anos e meio. O suficiente para que ela expandisse minha memória, incendiasse minha
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imaginação e transformasse minha bússola de amor/ódio em um caleidoscópio. A discussão que tivemos – entre tantas – e que usou como motivo para não mais nos encontramos foi a de que eu andava de paqueras e beijos com Zilmara, uma guria filha do subgerente do Banco do Brasil. Entretanto, a razão maior é que Magnólia Barbosa Vargas estava ficando mocinha, botando corpo cheio de belas curvas, usando já os primeiros sutiãs, recebendo olhares e propostas de rapazes. Não ia ficar fazendo lições escolares toda tarde com um guri franzino, doentinho, ares de seminarista, que passava o dia a ler e colecionar álbuns de figurinhas de jogadores de futebol, enciclopédias com bandeiras dos países do mundo, de animais dos sete continentes, revistas e gibis infantis – até já havia feito a primeira comunhão e aguardava ser crismado! O beijo na Zilmara foi apenas uma saída honrosa que me concedeu. Quarenta anos depois disso, no aniversário de Teodorico, Magnólia já havia vivido boa parte do destino a que se lançou quando não mais foi estudar comigo lá em casa. Eu também não havia escapado de meu fado. Todavia, seguíamos os mesmos apaixonados por histórias... Como a de Alcebíades, que ela então me confessou. Bide Barbosa decidiu construir a casa e fundar a Fazenda Academia do outro lado do rio Feio, nas terras que lhe deu por herança o pai. Estava apaixonado e decidido: iria se casar. A noiva era Constância Valdez, filha dum paraguaio morador de Nioaque. Bonita demais, bordadeira, costureira, sabia cuidar das coisas duma casa. Quando a casona avarandada ficou pronta, aconteceu o casório com festança e churrascada, baile com banda de músicos vinda de Bela Vista. Sem se esquecer do padre de Nioaque – e do cartorário. Tudo oficial. A vida de casado no casarão novinho foi para o Bide um desfrute, puro idílio. O gado ia aumentando bem: nenhuma peste, nem pegado de bicho – cobra ou onça -, nem seca brava pra arruinar pastagem. A mulher parindo filho são ano sim, ano não. Com as pastagens da beira da casa indo bem, foi fazendo retiros e botando um peão-bugre pra morar, ou mestiço de paraguaio, que era a mão de obra comum na região. Contratando mais peonada pra cuidar das vacas que pareciam galinhas botadeiras. Coisa de cinco anos de casado veio à desgraça... A cavalo, até bem vestida, de chapéu bom, calçada
com bota de cano curto: atendia pelo nome de Rafael Borges. Era um paraguaio claro, de bigode quase fino, olhar de caçador, cabelos lisos escorridos, as pernas meio arqueadas. Pedindo estadia e se oferecendo pra trabalhar, ficou. Mostrou-se bom serviço: campeiro, ordenhador, lidava também com a carneirama. Sabia carnear, mantear, pelar e cortar porco. Sujeito de fala fácil, mesclando causos e piadas em guarani, castelhano e português; animava sempre o tereré. Nisso nasceu dona Margarida, a mãe da Magnólia, quarta filha do casal, depois de Francisco, Eulália e Demétrio, o Deco. Houve festa de batizado. Parentada das fazendas das vizinhanças foram em penca; irmãos, tios, primos, os parentes mais de longe – até mesmo os só conhecidos, porém amigos de estima. Houve até cantoria, bailecito simples, com os músicos sendo peões dali mesmo, duma que outra fazenda, nada que lembrasse o festão de casamento de seis anos atrás. Mas, afinal, o momento era propício, havia muito porque se alegar e comemorar, pois Bide e Tanza era o casal querido e invejado da fronteira! Entretanto... Uns quatro meses depois da festa do batizado vô Bide levou um golpe pelas costas, de traição. Constância e o peão paraguaio – o tal Borges – haviam sumido. E pior, levado com eles a bebezinha. Foi aí que Bide percebeu as atitudes estranhas do empregado; os risinhos falsos, os desvios de conversa. As tentativas dos outros peões – até na hora do tereré – de lhe alertarem para o que acontecia debaixo do seu nariz. Não percebera que o dissimulado era ladrão de mulher, só tinha o nome de anjo. A rotina da fazenda mudou por completo, o patrão caiu en una quebrantación terrible. Na lua cheia seguinte, coisa de vinte dias, se tanto, Bide começou a virar lobisomem. E se pôs a aparecer nos retiros, nas fazendas vizinhas, chamando a atenção de todos. Em noite de luar claro, lá vinha o lobisomem, perseguido pelo latido da cachorrada. Passou-se a encontrar galinhas mortas na Ramalhete, ovelha sangrada do rebanho da Paineira, bezerro da Desbarrancado, gato da Santa Branca e, claro, até gente que fora atacada, mas conseguira fugir daquele baita bichão. A fama do segredo se espalhou. Pra piorar, coisa de um ano depois, quem vem lá de volta? Sim, a fujona arrependida. Só não estava de filho nos braços porque nessa altura tia Margari-
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da era uma linda menininha de maria-chiquinha nos cabelos amarelados, dentinhos já nascidos, toda feliz e sorridente, caminhando serelepe. O amante paraguaio tinha sumido: abandonado Constância à própria sorte. Talvez a vida de casado tendo que sustentar a mulher cuidando da enteada pequena, morando sabe-se Deus como! – sem os confortos e facilidades da Fazenda Academia com o quebra torto, almoço e jantar de fartura, roupa bem lavada e passada -, tenha sido a causa da renúncia e deserção do dito cujo. Bide aceitou a mulher de volta sem perdoá-la. Um tanto por causa da filha... Não mais dividiam a cama de casados; tia Tanza foi morar num quarto dos fundos, na ala dos empregados – mal se falavam, sequer davam bom dia. O fazendeiro remoía seu desprezo, o doce da vingança! Tanza vivia ali quase como um fantasma, por certo, condenada. Quando desmamou tia Margarida, já grandinha, aí com seus sete anos (pois cuidar da filha era a única ocupação de dela, seu último laço com a vida) o corpo de Constância Valdez apareceu morto, estraçalhado no quarto dos fundos. O marido Alcebíades parece a ter matado quando estava virado lobisomem. Sepultaram lá mesmo na fazenda, sem alarde, perto da cerca de pau a pique que circundava o pátio e parte do belo pomar. Depois disso, o irmão Plínio e a mulher, tia Brígida, se mudaram pra Academia, foram ajudar Bide com seus problemas: criar os filhos. Seguiram morando ali, mesmo já velhos, depois de verem criados e casados os sobrinhos e os próprios filhos. Certa feita, quando tio Plínio havia arrendado a fazenda dele, mais uma vez, avisou aos arrendatários da maldição do irmão já velho. Eles não acreditaram ou se esqueceram, e quando o lobisomem apareceu lá nas terras, perseguindo, mexendo com a galinhada, atiraram. Atingiram o lobisomem nos quartos. O povo da Academia escutou o tiro e o ganido de dor (era perto, coisa de meia légua uma fazenda da outra), os uivos sofridos que se seguiram. Tio Plínio e um dos bugres foram de encontro, deram com vô Bide já desvirando com um tiro nas nádegas, sangrando, escapou porque conseguiu cruzar o rio, mas não ia conseguir voltar pra casa. O bugre retirou a bala (não era de prata nem cruzada) com uma quicé, colocou raizama no ferimento, benzeu e ficou aguardando o patrão que fora buscar uma carroça. Alcebíades sarou, mas ficou rengo; seguiu
virando lobisomem – o povo via e confirmava que o lobisomem era rengo! Desde então, o bicho passou a mexer com galinha de pintinho, cadela de cria nova, borrego recém-nascido... E bebezinho também. Era como se essas fossem as coisas que ele conseguia caçar depois de ter ficado rengo. Muita gente contava da barulheira dos cachorros, da ventania que batia portas e janelas; de haver salvado o filho com aquele bichão na beira do berço, estendendo os braços compridos pela janela tentando pegar a criancinha. Nas aldeias e arranchados dos índios, muito bebê sumiu levado pelo lobisomem rengo. Alguns poucos sinais e corpos eram encontrados, parece que o bicho bebia o sangue dos inocentezinhos. Faltou um valente pra matar o monstro. “Até quase morrer bem velho, meu avô Bide virava lobisomem” – afirmou Magnólia. “Tio Plínio mandou os arrendatários embora uma semana depois de colher a roça deles, entregar a meiagem e repontar o gado: tinham quebrado o combinado. Pode escrever!”– pediu-me no entusiasmo. Perguntei do malvado e galante Rafael, que destino tivera: “Ele foi causador de tudo! Ouvi que tinha sido morto por um marido lá em Maracaju... Tinha gosto de fazer com mulher casada, o tal”. Indaguei fingindo-me de sonso se o assassinato da esposa fora denunciado. “Não! Nem ninguém soube. Naquele tempo tinha pouco delegado, nem lá ia se ficasse sabendo! E se fosse, perigava num voltar...” – acrescentou. Entre as curiosidades que encontrei nas anotações que a prima Magnólia me entregou, uma é bastante fantástica: quem escreve histórias de lobisomem acaba virando um. Quem leu e se riu disso, vira lobisomem hoje! Quem ficou com medo, raiva ou pena, pega a malefício do lobisomem antes da meia-noite. Pode ser tarde! Mas preciso achar Magnólia Barbosa, talvez ela deva saber o segredo que desfaz esta condição... Até lá, que não apareça um valente...!
James Flores James Jorge Barbosa Flores (Jaminho) é natural de Guia Lopes da Laguna/MS, onde nasceu em 08 de janeiro de 1965, escritor, professor e jornalista, pesquisador da história e cultura do Mato Grosso do Sul a qual transforma em relatos ccionais versando sobre os elementos culturais identitários e simbólicos do MS, sua musicalidade, linguajar, usos e costumes, a forte oralidade. É membro da União Brasileira de Escritores, Seccional MS.
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Projeto Retomada das Livrarias recebe doações também pela Kickante Agora é possível usar a plataforma digital para contribuir com a iniciativa Qualquer pessoa física ou jurídica que queira participar do projeto Retomada das Livrarias tem uma nova opção para fazer doações: a plataforma Kickante. O sistema faz as transações por meio de cartão de crédito ou boleto. As doações podem ser feitas pelo site: www.kickante.com.br/campanhas/retomada-das-livrarias. O projeto, lançado em junho, está arrecadando fundos para ajudar financeiramente as micro e pequenas livrarias, tão importantes para o setor e para a economia do país. Até o momento, a campanha já acumulou mais de R$ 250 mil e espera dobrar esse valor. O projeto pretende selecionar até 50 pequenas livrarias do Brasil para receberem a ajuda financeira. Até o momento já são 210 livrarias inscritas. Também é possível fazer doações para os dados bancários abaixo: Banco Itaú Ag.0180 c/c 15288-6 Câmara Brasileira do Livro CNPJ 60.792.942/0001-81 Para mais informações: www.projetoretomada.org.br
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Os princípios da mecânica clássica (parte 3)
Por Roberto Marchiori
A estreita relação entre as leis da física e o livre arbítrio Utilizando a abordagem apresentada no livro “Consciência com Ciência” [MARCHIORI, R.; 2020], se torna possível interpretar, de uma forma “humanizada”, as inter-relações entre fenômenos físicos naturais, suas configurações energéticas e a vida consciente do ser humano. Esse artigo irá mostrar aspectos essenciais para correlacionar o conceito de “trabalho mecânico” da física clássica com o de “livre arbítrio”. O livre arbítrio é enteso como um dos elementos mais importantes que definem a vida do ser consciente, no caso específico, do ser humano, dono do poder de escolhas diferentes das definidas pelo simples instinto animal e/ou pelas emoções. Para realizar possíveis analogias, mais uma vez, a aplicação das leis da física será estendida a aspectos práticos da existência humana. * No artigo publicado na revista do mês passado, foi introduzido o conceito de “trabalho mecânico”. Para transferir esse conceito na perspectiva da evolução da vida do ser humano, é preciso definir, de forma mais objetiva possível, os elementos utilizados na definição do trabalho de uma força no âmbito da vida real. Imaginemos que a força, na vida real, seja representada pela nossa ação cotidiana e o deslocamento corresponda ao percurso que nós seguimos na vida, como consequência, direta ou indireta, dessa ação.
Ação e percurso podem ocorrer em muitas possíveis direções, mas existe uma direção privilegiada por definição, que será aquela que permitirá a realização do trabalho com a maior eficiência possível. Mas qual é essa direção? Precisamos perceber, então, a direção, ou direções, que estiver(em) em sintonia com a nossa ação, que, por sua vez, também precisaria agir na direção de nossos objetivos “verdadeiros”. Para entender se a escolha de ação e consequente trajetória de vida foram corretos, em sintonia com nossos objetivos, pode-se analisar o consequente resultado na evolução da vida. Isso poderá oferecer uma resposta para continuar na mesma direção ou perceber a necessidade de mudála. A eficiência no trabalho realizado dependerá, assim, da direção escolhida, que podemos privilegiar dependendo de nossos objetivos, personalidade e de muitos outros fatores, além dos valores que definimos como prioritários. Observando a figura 1, que representa um exemplo para visualizar o cálculo do trabalho mecânico de uma força, a mensagem que a ciência oferece é que nossa ação (o análogo da força atuante na caixa) e direção da nossa trajetória (que corresponde à variação de posição da caixa devido à aplicação da força) precisam estar em sintonia (vetores paralelos) para que o resultado seja o melhor e o mais eficiente possível.
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A ciência aponta para direções específicas de escolhas, e a intuição aponta para aquelas que levam ao nosso crescimento interior por estar em sintonia com a consciência.
Figura 1: (a) Ação da força peso (Fp ) que causa o deslocamento (Δsx) em um corpo (a caixa na gura (a)), gerando trabalho. (b) O deslocamento (Δs), no cálculo do trabalho, depende somente do ponto inicial e nal e não do percurso realizado, sendo o resultado do produto da força (Fx) vezes o deslocamento realizado na mesma direção da força (Δsx na gura 1(a)).
O fator preponderante se torna, então, a “coerência” entre direção escolhida e ação realizada, que representa a mensagem oculta atrás da descrição matemática do trabalho mecânico realizado por uma força. Além disso, nossa análise pessoal poderá ajudar a perceber se a ação desenvolvida na atividade cotidiana e as possíveis trajetórias da vida, aquelas que estão em sintonia com nossos “verdadeiros” objetivos, estão concordes ou não (é deixada ao leitor a iniciativa de pensar no sentido da palavra “verdadeiro” aqui utilizada). O fluxo natural será definido pela ação em sintonia com o Universo.
Qual nossa trajetória de vida? Aonde está nos levando?
A física moderna, principalmente a mecânica quântica, mostra que a consciência está intimamente interconectada com o sistema observado. O fenômeno observado conhecido como “entaglement”, ou “emaranhamento cósmico”, confirma esse fato. Essa interdependência aparece diretamente quando a escala de observação é a dos átomos, ou seja, da matéria elementar. Nas escalas atômica e subatômica, que constituem a base do mundo material macroscópico, nossa realidade experiencial, os fenômenos físicos estão intimamente ligados à observação consciente!
Aceitando e escolhendo as direções apontadas por uma análise consciente, realizada também por Artíces de nossa trajetória, sendo gondoleiros do nosso barco . meio do “guia” representado pelas leis da ciência, Se a ação do indivíduo não for guiada pela poderemos percorrer trajetórias de vida em que nos busca dos objetivos na evolução da trajetória da tornaremos seres humanos melhores, em sintonia vida, haverá turbulências e discordâncias durante a com o Universo.
vida, com inevitável desperdício de energia, também ferindo o princípio geral de minimização da energia. A evolução da natureza humana requer, então, que ela esteja em sintonia com o sistema, com a Natureza, com o Universo. Para isso, é necessário que o nosso trabalho pessoal esteja em sintonia com a natural evolução do Universo. Ao prestar atenção a nossa voz interior, percebemos que certas ações representam direções privilegiadas por serem apontadas pela nossa consciência.
O trabalho realizado nessas direções estará em sintonia com a Natureza e com o Universo, contribuindo efetivamente à sua evolução. Contudo, nós temos consciência da força motora da Natureza. Em cada instante nossa voz interior, nossa “intuição”, sabe exatamente qual seria a coisa certa a fazer, ou seja, o caminho ideal a seguir. Segundo o grande filosofo oriental Lao Tzu, “nós não sabemos (utilizando a razão) que sabemos tudo (quando colocamos o foco na nossa intuição)”. Nossos esforços
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podem seguir essa direção ou não, temos o poder de escolha devido a nosso “livre arbítrio”. Em uma interpretação mais filosófica e elevada, o trabalho eficiente a ser realizado ao longo da vida poderá coincidir com uma evolução verdadeira do ser humano por meio de uma ação consciente. O livre arbítrio nos permite escolher. O “deslocamento evolucional” a ser realizado, interpretado como crescimento pessoal, será o percurso de vida na direção que conduz à melhora como ser humano consciente. Segundo a mecânica clássica, esse percurso coincide com o menor possível, o mais direto até o objetivo final (a menor variação de movimento apontada pelo produto escalar no cálculo do trabalho mecânico gerado pela ação de uma força). Se nós percorrermos um caminho tortuoso e complexo, ao invés de seguir nessa direção reta e simples, o trabalho final será o mesmo, porem com muito maior dispêndio de energia, tempo, desgaste emocional, conflitos, etc. O trabalho mais eficiente em nossa vida ocorrerá realizando o percurso apontado pela nossa consciência, pela nossa voz interior, em sintonia com a evolução do Universo. Essa abordagem da física clássica indica, portanto, que não adiantaria seguir percursos alternativos, porque eles não levariam a lugar algum quando o percurso for realizado em direção perpendicular à direção certa, direção que gera interferência destrutiva com as apontadas pela consciência. Quanto mais os esforços estiverem alinhados com a direção correta em nossa vida, mais trabalho efetivo teremos feito. A física clássica mostra que a maior eficiência de trabalho, aplicada a nossa evolução pessoal, está intimamente entrelaçada com a evolução do sistema, ou seja, do Universo, quando nossa ação estiver em sintonia com ele. * Para esclarecer um pouco melhor esse conceito, tão importante para nossa existência e que ajuda a definir nossa conduta como seres humanos conscientes, vale a pena fazer um exemplo, muito pertinente na época em que estamos vivendo. Um dos fatores principais que impulsionam a ação das pessoas, representando um objetivo essencial na vida da maioria, é o alcance de uma condição econômica melhor. A direção, ou direções, escolhida na vida é justamente aquela que leva a ganhar mais, a perseguir uma posição econômica e social melhor, sem considerar, muitas vezes, os “efeitos secundários”,
os eventuais danos colaterais que poderiam ocorrer no sistema, representado pela sociedade e pelo planeta. Nesse caso específico, a ciência indica que, antes de trabalhar firme e incondicionalmente na direção de uma melhora das próprias condições econômicas, precisa também se perguntar se a maneira de realizar esse objetivo estaria alinhada com a evolução do sistema, da sociedade, da Natureza.
Até que ponto é lícito priorizar a própria condição econômica como objetivo absoluto? O alcance de uma condição melhor, a qualquer custo, está alinhado com a evolução da sociedade e com a Natureza? E mais, quais serão, na vida do ser humano, as consequências de escolhas que não estejam em sintonia com o sistema? Podemos agir para ganhar mais dinheiro, prejudicando, eventualmente, a vida dos outros e esperar que não haja nenhuma consequência, que nada volte para nós, ou contra nós? O que responde a ciência? No próximo artigo serão indicadas algumas respostas, ditadas pelas leis da física clássica no estudo da cinemática e da dinâmica dos corpos em movimento, as conhecidas “leis de inércia” já descritas em artigo anterior nessa revista. Bibliografia (MARCHIORI, R., 2020): MARCHIORI, R.; Consciência com Ciência, 1a Ed., Biblio Editora, 2020.
Consciência com Ciência ISBN: 978-65-87086-05-7 376 p. ; 14x21cm
Pedidos: marchiori@unir.br
Roberto Marchiori é Graduado em Física, mestre e doutor em Engenharia de Materiais, pós-doutor em ciência dos Materiais e em Nanotecnologia, desde 2009 professor titular da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). O autor seguiu, em sua vida, um percurso de formação multidisciplinar, constantemente guiado pela vontade de aprofundar ao máximo o entendimento da ciência e da vida, profundamente interconectadas.
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Envelhecer sabendo que a vida é algo digno de não se perder
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Denise Caramori
Há quem trate a velhice como um mal, um peso, uma dor, e a juventude como se fosse a melhor época da vida. Acredito ser esta uma visão romantizada e contraditória. Escutei uma vez de um grande amigo de quase 80 anos o seguinte: “Há sempre uma parte da minha cabeça que se prepara para o pior, e outra parte que acredita que, se eu me preparar bem, o pior não acontecerá”, sorrindo me disse que na melhor das hipóteses vamos todos morrer. Ele esta otimista quanto a continuar bem de saúde, cuidando para que seu corpo seja habitado até os ultimos dias da sua vida, de maneira confortável, menos dolorosa, cuidando da alimentação e praticando seus exercícios diariamente apesar de se movimentar com dificuldade. Envelhecer é perder a autonomia e a independência, é viver em um universo de recordações, trocando um passado vivido com intensidade por uma existência confortável e acomodada, mas nem por isso, menos significativa e importante, lidando com a inevitável mistura de saudades de uma época anterior e uma nostalgia quase dolorosa. Será possível compensar a falta de vigor físico pela animação em realizar atividades prazerosas? Aprendi com minha mãe sobre o envelhecer, ela soube dar trabalho, foi perdendo suas capacidades com total lucidez, e ao longo deste trajeto, de maneira simples e bem humo-
rada, me fez perceber a importância do sentimento de gratidão ao receber cuidados, demostrando ser possível que na velhice, haja riso, parceria, poesia e fé diante das adversidades. Eu penso que a velhice nada mais é do que um processo de vida bem sucedido que começou na infância. Envelhecer pode ser uma benção quando se entende a vida como um processo interno, cuidando com responsabilidade da mente e do corpo para lidar melhor com as dificuldades e limitações que inevitalvelmente surgirão. Com o meu pai, aprendi que a única maneira de não envelhecer é morrendo cedo, na minha memória, ele continua lindo e charmoso, vestindo sua camisa de linho branca, com seus 49 anos de idade. Não é melhor vivermos a vida como uma trajetória inédita e só nossa, sem deixar nada para depois, vivendo de maneira única, própria e singular? Aproveitando o tempo que é precioso, observando e levando em consideração a importância da qualidade das nossas escolhas no dia a dia. Agora, em tempos de isolamento, é possível perceber qual a história que construímos com as pessoas à nossa volta. É difícil demais conseguir existir, a maioria das pessoas apenas vai levando. É um desafio conhecer e encarar nossos próprios conflitos, fazer uma boa
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gestão de nós mesmos, e não colocar a culpa dos nossos fracassos nos outros. Assumir o nosso papel no mundo demanda coragem, pois muitas vezes a vida sepulta mais do que morte, aí percebe-se que o silêncio é completo entendimento e compaixão. Chegar à velhice sendo generoso, leal e honesto é para poucos. Passar uma vida adquirindo estabilidade, não só financeira, porque a velhice é cara, mas também uma estabilidade nas emoções, nas reações, nos pensamentos, nos gostos, com decência, curiosidade e sensibilidade. Lembrando-nos com alívio, de como os cheiros, a chuva, o amor e a vida podem ser extraordinários, podemos fazer com que envelhecer não seja de todo ruim. Admiro quando vejo pessoas idosas que lidam bem com suas limitações, admiro quanta sabedoria, entendimento e aceitação. O que eu percebo nas pessoas que estão lidando bem com a velhice é a satisfacão com a vida, a qualidade das suas relações humanas, a falta de egoísmo, a falta de individualismo, a falta da necessidade de
competição, a necessidade de repartir o que elas tem de melhor e o que elas sabem, compartilhando suas experiências de vida sem receio de julgamentos e enfrentando o medo de envelhecer, determinadas a oferecer e a receber afeto dos outros, e mesmo com dor, não deixar de ter esperança.
Denise Caramori Nasceu em 1980 em Dourados, MS. É formada em Letras; PósGraduada em Estudos da Linguagem e Psicopedagogia; Terapeuta pelas Constelações Familiares Sistêmicas, segundo Bert H e l l i n g e r ; C a p a c i t a d a n o p r o g r a m a d e N e u r o c i ê ncia/Intervenção em Leitura e Escrita; Alfabetização pelo Método Boquinhas e Transtornos do Espectro do Autismo; Rodas de Leitura; Linguagem e Contação de histórias; Formada em Pedagogia Sistêmica pelo IAP/CG; Especializada em Equoterapia e Prossional de Equitação para Equoterapia; Articulista dos Jornais: Douradosnews e jornalmsonline; Atende como Psicopedagoga e Terapeuta no Instituto Marcio Wink e como Equoterapeuta no Exército Brasileiro / CHD, em Dourados, MS.
A União Brasileira de Escritores Seccional Mato Grosso do Sul tem nova Diretoria (gestão 2020-2022) Um evento tradicional realizado pela UBE-MS é a Noite da Poesia, com premiação em dinheiro. Confira:
Regulamento – 32ª Noite da Poesia / UBE-MS: https://bit.ly/3gzRC6k Inscrição – 32ª Noite da Poesia / UBEMS: https://bit.ly/2Pu8UpQ
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Florzinha do Sertão Rogério Fernandes Lemes
Depois de andar por dias, sob um sol abençoado de escaldante, Raimundo Nonato não se sentia como os outros que viam apenas as intempéries do Sertão. “Homens de dores!” Cresceu ouvindo isso de sua avó. Mas ele pensava diferente. Ele via beleza no simples e constatado fato do sofrer. Sofrimento, para Raimundo Nonato, era o mesmo que privilégio. Não que ele era favorável ao sofrimento das pessoas. Não senhor. Longe disso. O que via, Raimundo Nonato, era o privilégio de se estar vivo. Ora, somente sofre quem está vivo. Essa era sua máxima. É claro que, por pensar dessa forma, Raimundo Nonato era mal visto no vilarejo. Enquanto os homens descansavam ao cair da noite, após um dia sofrido na lida, Raimundo Nonato contemplava o cintilar dos pirilampos, que imitavam partículas subatômicas; ora aqui, ora ali em um existir e desistir constante no sofrido chão do sertão. Raimundo Nonato andava diuturnamente. Ele sentia era necessidade de andar nesse “mundão de meu Deus”. Quando não andava entristecia-se profundamente. Alguém, certa vez, disse que ele pararia de sofrer no dia em que encontrasse a “sua” resposta. Isso até que fez lá sentido na cachola de Raimundo Nonato. Outros afirmavam que a tal “resposta” era uma
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gadeiúda qualquer. Para quem não conhece gadeiúda é toda e qualquer mulher de cabelos compridos. Mas ele não entendia dessa forma não. De algum jeito sentia que a sua “resposta” estaria ancorada em algum porto muito especial. Foi assim que, de tanto andar, Raimundo Nonato ouviu, por dizer, de um lugar que, certamente, seria seu porto-destino. Esse lugar, segundo os dizeres mais antigos, se formou de tanto o vento do Sul reunir as incontáveis folhas secas do sertão. Por tal motivo, os vaqueiros se referiam ao lugar como o “porto das folhas”. E era pra lá que Raimundo Nonato gastaria todas as suas energias andando, caminhando e cantando... e seguindo a canção. Certo dia, logo após o cair da tarde, quando mulheres e crianças descansavam embaixo das sombras arbóreas, Raimundo Nonato foi impactado com tamanha beleza. No meio do sertão estava uma flor exuberante. Macia, delicada, cheirosa. Raimundo Nonato encantou-se de dar dó. Deu a ela um nome literário, ou artístico: a Florzinha do Sertão. Ele sentiu amor por ela e, dali por diante, amou-a como a lua ama o mar. Foram dias intensos, pois Raimundo Nonato sabia que as flores, sejam elas desta ou daquela espécie, todas nascem, crescem e deixam de existir. Mas
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seu amor não haveria de morrer com ela, pois sua florzinha viveria em seus pensamentos, em seus escritos... em sua existência e, portanto, estariam ligados para sempre. Passou com ela o calor implacável dos dias; o frio inexplicável das noites; a umidade devastadora das chuvas e os cortantes ventos de agosto. Raimundo Nonato não se importava nenhum pouco. Bastava apenas ela; sua presença... seu cheiro. Conversaram sobre coisas de foro íntimo, impensáveis. Riram, choraram, silenciaram-se mutuamente, mas sempre margeados pelo calmo, paciente e indivisível amor. De tanto entregar-se a ela, certo dia Raimundo Nonato ouviu sua voz: “você gosta de mim Raimundo?” Amo tudo em você, dizia ela todo convicto. “Te admiro, Raimundo Nonato, por sua inteligência. Você é diferente de todos que já conheci”. Ao virarse para vê-la percebeu que sua doce voz emudecia-se,
lentamente. Então, observou que suas folhas haviam secado e caído. Raimundo Nonato fez menção de chorar e foi docemente confortado: “se avexe não homi. Minhas folhas precisam cumprir sua jornada... elas reunir-se-ão em um lugar muito especial: Porto da Folha.” Raimundo Nonato encontrou suas respostas. Seu coração acalmou-se e nunca mais foi visto nem aqui, nem acolá.
Rogério Fernandes Lemes Autor brasileiro com seis livros publicados; editor e organizador das antologias Criticartes; Mato Grosso do Sul 40 anos; Natal com Poesia; 50 Vozes Poéticas do Brasil; e, Poemas de Quarentena. Natural de Amambai, MS; recebeu o título de Cidadão Douradense em 2019. Presidente-fundador da Academia Amambaiense de Letras; atual vice-presidente da UBE-MS (2020/2022). Editor e criador do Jornal daBiblio.
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III Concurso Literário de Monte Alegre A Comissão organizadora do Encontro de Escritores Monte-Alegrenses & Convidados tem a honra de comunicar, divulgar e convidar a todos os escritores do município, da região, do estado e do país a participarem do III Concurso Literário de Monte Alegre de Sergipe. O concurso tem como objetivo incentivar os (as) escritores (as) monte-alegrenses, sergipanos (as), nordestinos (as) e brasileiros (as) a produzirem e exporem seus textos no certame em destaque. As modalidades contempladas são: Conto, Crônica e Poema. Cada participante poderá concorrer com dois trabalhos, podendo escolher gêneros diferentes, sendo vedada a participação de coautoria. O texto deve ser inédito. As inscrições deverão ser realizadas no período de 01/05/2020 a 09/08/2020 através do e-mail concursoliterariodema.se@gmail.com. O valor da inscrição é de R$ 10,00. Através desse e-mail é possível conseguir o Regulamento completo do Concurso. Os (as) participantes receberão certificados.
A premiação está prevista para o dia 25/11/2020 e serão oferecidos aos ganhadores de cada categoria: a) 1º Lugar – R$250,00 e Publicação do texto na IV Antologia dos Escritores Monte-alegrenses; b) 2º Lugar – R$150,00 e Publicação do texto na IV Antologia dos Escritores Monte-alegrenses; c) 3º Lugar – R$100,00 e Publicação do texto na IV Antologia dos Escritores Monte-alegrenses. Tenhamos a liberdade de escrever, porque a palavra é o nosso domínio sobre o mundo como bem afirmara Clarice Lispector. Esperamos as produções e agradecemos a todos (as) pela confiança e apoio ao projeto. Comissão Organizadora: Carlos Alexandre Nascimento Aragão Izaque Vieira dos Santos Márcia Fernanda Oliveira Borges Silva Marcos Antônio Pereira de Lima
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Oportunidade para Publicação 2ª Antologia Natal com Poesia
Solicite o edital através do e-mail: natalcompoesia@gmail.com
A primeira antologia Natal com Poesia, idealizada pelo poeta, escritor e editor Rogério Fernandes Lemes, foi lançada em dezembro de 2019. O projeto tem 292 páginas registrado com o ISBN 978-85-93546-80-8 e contou com a participação de 152 autores. Vinicius de Moraes foi o poeta homenageado da edição.
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Capa do 1º volume (Abril/2020)
Capa do 2º volume (Maio/2020)
Capa do 3º volume (Junho/2020)
Periódico Literário Nacional
Volume nº. 5 em Agosto de 2020 Contato: jornaldabiblio@gmail.com
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