Projeto Redesign -Revista ARede

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Interatividade de interesse público Cidades de um futuro sustentável De todos , para todos Programa para as pequenas TECNOLOGIA PARA A INCLUSÃO DIGITAL

Ano 8 n 79 abril de 2012

www.arede.inf.br

A inclusão que vem do espaço Infraestrutura liga instituições de ensino por todo o país, incluindo o Brasil no primeiro escalão da pesquisa acadêmica mundial.

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Índice

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Opinião Graffiti: na periferia e na galeria

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A inclusão que vem do espaço Tecnologia em casa

5 Conexão Social Programa para as pequenas Interatividade de interesse publico

15 Raitéqui

Velocidade máxima de transmissão Mozila mostra quem está te rastreando ... E desemvolve criptografia para pesquisas do Google

8Entrevista

As cidades de um futuro sustentvel O laboratorio brasileiro

16Cultura

De tudo, para todos

18 Games

Entre nesse jogo

Vem aí o Android 5.0 Terabites gravados em um segundo

Editorial

Uma rede acadêmica a serviço do país

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esultado do engajamento de pesquisadores e acadêmicos brasileiros à internet, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), hoje, 20 anos depois de ser instituída, tem um papel que ultrapassa seu objetivo primeiro: o compartilhamento da infraestrutura com diferentes áreas e instâncias do governo, permitindo a expansão do conhecimento, sua universalização para o interior do país, e indiretamente, a melhoria dos serviços aos cidadãos. Com um backbone que interliga mais de 600 instituições de ensino suerior e pesquisa por meio de uma infraestrutura multigigabit, a RPN está presente entre as dez redes acadêmicas com maior capacidade no mundo. A meta pra 2014 é interligar todos os campi universitários do país, em 900 localidades,

com conexões a partir de 100 Mbps. E, ao cumprir esse objetivo, estará também enfrentando o desafio de levar capilaridade para o interior do país. A estratégia para cumprir essa meta passa porum eforço nas parcerias e pelo desenvolvimento de soluções inovadoras para otimizar os recursos. Com os estados, o compartilhamento de infraestrutura nas capitais, onde a RNP tem as redes metropolitanas, já é um modelo estruturado, que permite melhorar os seviços prestados à população. Nessa mesma linha, deve firmar acordos com a Telebras, na esteira do Plano Nacional de Banda Larga. Quatro ministérios - da Ciência, tecnologiae Inovação, da Educação, da Saúde e da Cultura - estão envolvidos nos projetos da rede.

Ao compartilhar a infraestrutura, a RPN amplia o leque de serviços à comunidade. Um exemplo recente foi a tarticipação de um grupo ligado à Universidade Federal da Bahia em uma apresentação, em tempo real, de bailarinos que estavam fisicamente em três continentes. Iciaiativas semelhantes têm acontecido também na área de saúde, com a transmissão em alta velocidade ajudando no diagnóstico de pacientes, e, na educação, democratizando o conhecimento.

Lia Ribeiro Dias Diretora Editorial

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Opinião

Lia Ribeiro Dias

Diretoria Associada Miriam Aquino

Editora-Executiva Áurea Lopes

Editora de Arte Gisela Dias

Colaboradores Carlos Minuano, Igor Odeja, Marcelo Rios, Patrícia Corlins (textos), Jane Soares (edição), Renato Aguiar e Robson Regato (fotos).

Capa Robson Regato

Diretora de Publicidade e Marketing Meire Alessandra

Executivo de contas Leonardo Rodrigues

Gerente Administrativo-financeira Adriana Rodrigues

Gráfica Gráfica Lpsis

Distribuição Correios Entrega Direta

CONCELHO EDITORIAL Antônio Carlos Silva Representante da Rede Mocambos Beatriz Tibiriçá Diretora do Coletivo Digital Carlos Seabra Coordenador editorial do Núcleo de Publicações de Educação da TV Cultura, Fundação Padre Anchieta. Cláudio Prado Presidente dp Laboratótio Brasileiro de Cultura Digital Cristina Kiomi Mori Diretora do Departamento de Articulação e Formatação da Secretaria de Inclusão Digital (Ministério das Comunicações) Edson Fregni Professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Felipe Fonseca Representante de Metareciclagem Heliomar Medeiros de Lima Diretor do Departamento de Serviços de Inclusão Digital, Ministério das Comunicações. Jorge Bittar Secretário de Habitação do Município do Rio de Janeiro.

Júlio Semeghini Secretário de Planejamento e Desenvolvimento do Estado de São Paulo Luiz Ernersto Gemignani Presidente do Concelho de Administração da Promon Manoel Horácio Concelho do Banco Factor Mário Luís Teza Representante do Projeto Software Livre Brasil Paulo Lima Representante do Projeto Saúde e Alegria Ricardo Knoepflemacher Diretor da Angra Partners Ricardo Kobashi Integrante do Coletivo Lixoeletronico.org Rodrigo Baggio Diretor do Comitë para a Democratização da Informática (CDI) Rodrigo Ortiz D’Avila Assunção Representante da Dataprev Rodrigo Amadeu da Silveira Pesquisador e educador Thiago Tavares de Melo Diretor da SaferNet Brasil

AREDE é uma publicação mensal da Bit Social www.arede.inf.br São Paulo Av. São Luiz, 528, 21 andar, Cj. 2111 01046-000, São Paulo, SP. Tel.: 11 3129-9928 / 11 3151 - 2115 arede@arede.inf.br Jornalista responsável Lia Ribeiro Dias (MT 10,187)

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Graffiti: na periferia e na galeria ANTONIO DUQUE DE SOUZA NETO, O “TOTA”

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á 22 anos fiz uma escolha difícil, entre muitas atividades: o graffiti/street art, como sua principal voz. Vivo uma eterna fase de aprendizado, em pouco tempo de arte. Mas o suficiente para acompanhar de perto, em duas décadas, duas distintas gerações dessa arte. Lembro-me da cena do graffiti dos anos 1990, ano em que o hip hop contagiava a todos jovens. Foi aí que o graffiti ganhou uma força incrível, sobretudo espaço em instituições, devido à criação de oficinas dessa arte para jovens, bem como incentivou o surgimento de grupos organizados, também chamados de crews. Criava-se um diálogo entre poder público e sociedade civil, o que mais tarde garantiria fomento e políticas públicas envolvendo a turma do graffiti e seus adeptos. A marca do graffiti hip hop existe até hoje, pois suas letras distorcidas, quase ilegíveis, como por exemplo os Wild style, os throw-up, bem como os pieces e os personagens-bonecos seduzem até o presente momento, talvez por se tratar de desenhos feitos sem muitas regras, mas com muita dedicação. Mas chegando ao final dos anos 1990, depois de uma década de politização, mobilização em oficinas, os artistas de plantão queriam mais. Foi então que muitos writers (escritores de graffiti) voltaram a estudar e a se interessar por mais conhecimento. Uns passaram a prestar vestibular e estudar em faculdades de arte. Surge um novo estilo de graffiti, não mais com exclusiva influência do hip hop, mas agora com uma pitada de artes plásticas, ou melhor, pintura acadêmica. As letras distorcidas, em partes, passaram a dividir lugar com pinturas abstratas e escorridas. Foi isso que garantiu o uso de novos temas. O graffiti não mais falou só de causas sociais, mas também de temas lúdicos, psicodélicos, surreais etc.

Inicialmente, essas duas classes do graffiti – o hip hop/rua e a acadêmica – viviam em conflito, pois quem era do hip hop não via agregar nada com a influência da academia na rua porque dizia que o graffiti veio e devia ficar só na rua, e não ir beber em fonte de escolas. Por outro lado, quem foi para a faculdade não via prosperar nada que vinha da parte do hip hop. Foi muito boa essa divergência, pois um acabou por completar o outro. O pessoal do hip hop apresentou, para quem vinha da academia, a rua, os perigos, a atitude de bater de frente contra a oposição. E a academia os ensinou a defender seus interesses com mais argumentos e tranquilidade e as diversas forma de fazer parcerias com pessoas de outras classes sociais: não mais só de periferia para periferia... Atualmente o graffiti, depois de muitas experiências, consegue aproveitar muito bem essas vivências, pois muitos

Tota é arte-educador, grafiteiro e artista plástico. artistas do hip hop, hoje, atuam não só nas periferias, mas em galerias, viajam o mundo e a cada dia exploram meios de comunicação inimagináveis. Da mesma forma, os formados por academias a cada dia se aproximam de uma realidade nunca vista, que os fazem aproveitar e valorizar o ser humano como se não houvesse o amanhã. O graffiti ganhou espaço e, com isso, a grande batalha: o que deve permanecer é o coletivo e não o individual.

Foto: Daniel Marques

EQUIPE Diretoria Editorial


Conexão Social

Programa para as pequenas

Campo Bom (RS), que tem infovia própria, oferece cobertura para todos os cidadãos, inclusive da área rural

Novo projeto tem como foco cidades de até 50 mil habitantes 11º Wireless Mundi.

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Ministério das Comunicações (Minicom) lançou o programa Cidades Digitais, com foco nas cidades com menos de 50 mil habitantes, baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), prioritariamente das regiões Norte e Nordeste. O programa envolve infraestrutura de rede, com interconexão dos prédios e serviços públicos, iluminação de alguns pontos públicos, sistemas de gestão, aplicativos de educação e saúde para prestação de serviços à população e treinamento de funcionários da prefeitura.

que as prefeituras fiquem reféns de fornecedores. “Pensamos em projetos com infraestrutura simples, viáveis para pequenos municípios, mas com características de escalabilidade, caso a prefeitura tenha interesse em fazer uma expansão”, ressaltou Lygia Pupatto, secretária de Inclusão Digital do Minicom. O programa começa com um piloto em 80 cidades. “Vamos testar os conceitos, para ver o que precisa ser aperfeiçoado e aprimorado”, diz Lygia. Financiamento

Para se candidatar, a prefeitura deverá preencher um questionário com vários itens, respondendo perguntas sobre as expectativas em relação ao projeto, os aplicativos desejados, resultados esperados, entre outras questões. Cada item receberá uma pontuação e as cidades melhor pontuadas serão as selecionadas. O município não precisará elaborar o projeto técnico – um dos grandes gargalos das administrações regionais, que têm grande dificuldade em encontrar pessoal qualificado na área de TI. O ministério vai ajudar nessa tarefa. Os protocolos de gerenciamento de redes serão abertos, evitando

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai financiar a modernização do parque de equipamentos dos pequenos provedores e a ampliação futura da rede para as cidades interessadas em expandir a infraestrutura ou adquirir novos aplicativos. O programa desenhado pelo BNDES também vai beneficiar cidades que queiram implantar suas redes digitais e que não tenham sido selecionadas pelo edital do Minicom. A ideia é facilitar para os pequenos municípios. “Não há limite de

valor ou de tempo. O BNDES visa melhorar a arrecadação tributária, a gestão e a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos”, disse Marcelo Corrêa Barbosa Fernandes, chefe do Departamento de Gestão e Investimentos Públicos da Diretoria de Inclusão Social do BNDES, durante o 11º Wireless Mundi. O programa do Minicom não é o único do governo federal com foco em cidades digitais. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) tem programa semelhante, para atender às emendas parlamentares relativas às cidades digitais incluídas no orçamento. Para dar um mínimo de qualidade aos projetos bancados por emendas parlamentares, o MCTI criou um termo de referência para a camada de infraestrutura. No futuro, a tendência é que os dois programas se fundam. “Estamos trabalhando para seguir o caminho do Plano Nacional de Banda Larga. Por meio da Telebras, queremos chegar a locais onde realmente o programa tenha impacto, propiciando preços do Megabit por segundo em torno de R$ 190, R$ 230, o que é um enorme ganho, comparando-se com algumas regiões onde o Mbps chega a R$ 1 mil”, disse Lygia Pupatto.

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Conexão Social

Interatividade de interesse público

EBC já oferece aplicativos de serviços ao telespectador que tenha TV digital com o middleware Ginga. Luciana Machado

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ouco a pouco, a TV digital brasileira avança na direção da interatividade. E a TV pública tem um papel importante, nesse momento: propiciar uma interatividade a serviço do cidadão. Ou seja, levar às residências serviços de interesse público, serviços de governo eletrônico, para que essa funcionalidade não fique restrita, no que depender das emissoras comerciais, a aplicativos comerciais – como venda de produtos,

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contratação de serviços privados. A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), por exemplo, já adaptou inúmeros aplicativos que antes eram exclusivos da internet para rodar em qualquer aparelho de TV digital que tenha embarcado o Ginga – conjunto de softwares (middleware) de interatividade desenvolvido no Brasil, em código aberto. “O que existe, até agora, ainda não pode ser chamado exatamente de

interativo, pois não permite interferência de quem recebe o serviço. No entanto, o telespectador já pode acessar uma série de informações enquanto assiste seus programas preferidos. Os aplicativos aparecem no canto da tela. Com o controle remoto, basta clicar em cima de um ícone representado pela letra i”, explica André Barbosa, superintendente de suporte da EBC. Já estão funcionando, por exemplo, um sistema de consulta à


“Ainda não há, adaptada à TV, uma plataforma bidirecional para a interatividade, como existe com a internet ou o com celular”, lembra Barbosa. Para ele, a interatividade na televisão pode servir como importante ferramenta de inclusão digital, especialmente em países pobres e em desenvolvimento, por sua capacidade de disseminar os serviços públicos. Segundo o superintendente de suporte da EBC, “ter canais alternativos de comunicação pode salvar vidas”. Ele cita o caso do tsunami no Japão, quando os serviços de banda larga e telefonia ficaram interrompidos. Nos primeiros momentos, depois da tragédia, a população recebeu orientações prioritariamente por meio da TV e do rádio, cujos sinais são captados por antenas instaladas em pontos mais altos ou por transmissão via satélite. Barbosa defende uma política que contemple soluções diversas: “Se priorizarmos uma única tecnologia, pagaremos caro no futuro”.

Previdência Social; um sistema de acesso a dados bancários, como saldo de conta corrente, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal; um sistema para checar horários de consultas médicas pelo Sistema Único de Saúde (SUS); um sistema para programas assistenciais do governo federal, como o Minha Casa Minha Vida, em que o cidadão pode conferir valores, locais dos imóveis, se inteirar sobre inscrição ao programa. Por enquanto, existe apenas o caminho de ida. Isto é, a informação enviada das instituições para os usuários da TV. O caminho de volta, do usuário interagindo com a instituição – para pagar uma conta, marcar uma consulta, adquirir um produto – não está disponível.

Para esse futuro, André Barbosa acredita que haverá dois tipos de interatividade na TV Digital. O primeiro já está ativo: a interatividade local, que aparece no canto da tela e não interfere na programação. O usuário usa o controle remoto e acessa os chamados aplicativos residentes. O outro tipo é a interatividade total, ainda em desenvolvimento. “Para se ter uma ideia de como irá funcionar, imagine que você e seu filho estejam assistindo a um programa infantil. Será possível escolher o final do desenho animado e modificar a programação original. E, ainda, comprar a fantasia de um personagem ou os produtos licenciados por aquela marca. Para que essa interatividade ocorra será preciso ter um canal de retorno aberto. O problema é que a televisão fechada ainda tem dificuldade de encontrar um modelo de negócio que compatibilize esse tipo de serviço com o atual padrão de venda de espaço publicitário”, explica Barbosa.

Mesmo com tanta evolução, o superintendente de suporte da EBC esclarece que a televisão nunca será 100% interativa. Ele estima que chegue, no máximo, a 15% de inte-

André Barbosa, da EBC esclarece que a televisão nunca será 100% interativa ratividade total, sobrando espaço suficiente para a produção de programas e para a programação ao vivo. “A TV não é algo novo. Basta modificá-la para oferecer mais qualidade de vida às pessoas. Imagine o salto que daremos ao permitir que a população marque uma consulta pela TV”. De acordo com Barbosa, em muitos países desenvolvidos a interatividade na TV esbarra na pressão das operadoras de telefonia. Segundo ele, isso ocorre principalmente porque nesses países a TV aberta ocupa um espaço pequeno. “Para se ter uma ideia, somente 9% da população estadunidense tem apenas a TV aberta. No Brasil, quase toda a população é coberta pela TV aberta (98%), e um percentual abaixo dos 20% já aderiu à televisão por assinatura.” A favor da TV aberta está o fato de ser a única em condições de transmitir eventos grandiosos a milhões de pessoas simultaneamente, lembra Barbosa. “A estrutura da TV fechada e da internet ainda não permitem esse tipo de penetração. Mas é possível que isso se torne possível no futuro, uma vez que a tecnologia que permite a compressão de dados evolui ano após ano. Hoje pode-se embutir 11 programações diferentes no mesmo canal”, ressalta. A partir de 1º de janeiro de 2013, será obrigatório incluir o Ginga em 75% dos aparelhos de televisão produzidos no país. Para 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, 90% dos televisores deverão ter o middleware de interatividade brasileiro.

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Entrevista

Maurício Bouskela

As cidades de um futuro sustentável

Conectividade é uma das ferramentas fundamentais do programa do BID para urbanizações medianas na América Latina Igor Ojeda

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m um planeta cada dia mais urbanizado, as cidades que mais crescem não são as grandes metrópoles, ao contrário do que muitos pensam. Aglomerações urbanas de porte médio veem suas populações aumentar de modo mais acelerado do que São Paulo, Buenos Aires ou Cidade do México, por exemplo. Na maior parte das vezes, esse crescimento acontece de forma desordenada, para não dizer caótica. Sem infraestrutura para atender as novas demandas que surgem com o inchaço de suas periferias, os municípios emergentes são obrigados a adotar medidas paliativas, que pouco ou nada resolvem. Pensando nessa realidade, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançou, em março do ano passado, a Plataforma Cidades Emergentes e Sustentáveis, programa que visa ajudar as cidades medianas a identificar os principais obstáculos para um desenvolvimento sustentável e, com base nesse diagnóstico, elaborar políticas públicas de longo prazo.

Esistem atualmente, na América Latina, 140 cidades emergentes, segundo o critério do BID “Quando as pessoas saem do campo e vão para a cidade, esta, de certa forma, não tem como barrá-las. Acaba acolhendo-as, e essa receptividade, no fundo, cria certa desproporcionalidade, porque a cidade não pode ficar gerando empregos e saúde pública para acomodá-las. Então, isso acarreta alguns problemas sociais”, explica Mau-

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Maurício Bouskeka, especialissa da Ddivisáo de Ciëncia e Tecnologia do Vnanco Interamericano de Desenvolvimento, é formado em Ciëncia da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)


ricio Bouskela, da Divisão de Ciência e Tecnologia do banco. Após um extenso período de seleção, foram escolhidas cinco cidades da América Latina – região englobada pela atuação do BID: Montevidéu (Uruguai), Trujillo (Peru), Santa Ana (El Salvador), Puerto España (Trinidad e Tobago) e Goiânia (Brasil). A primeira fase foi de estudos e diagnósticos. Agora, inicia-se a segunda fase: execução dos projetos e políticas pensadas para atender as principais necessidades. No dia 20 de março, o BID anunciou que ampliará o programa para a Argentina, Bolívia, Colômbia, Jamaica e Nicarágua e, posteriormente, para todos os países da América Latina e Caribe. Nesta entrevista, Bouskela conta como o programa funciona e analisa o papel da conectividade na execução de ações de distintas áreas. “A conectividade de banda larga, na verdade, é um insumo necessário, é um pré-requisito para o desenvolvimento. Ou seja, quanto mais conectividade, melhor o desenvolvimento econômico. Maior conectividade contribui para mais emprego”, afirma. O que é a Plataforma Cidades Emergentes e Sustentáveis criada pelo BID? Mauricio Bouskela – O grande objetivo do BID era criar estudos para entender um pouco o que está acontecendo com as cidades que cresceram nos últimos 50, 60 anos, de forma desordenada. As cidades emergentes, não? Bouskela – Em 1950, por exemplo, 41% da população da América Latina vivia nas cidades. Em 2011, 75% da população vive nas cidades. E a expectativa é de que em 2050 essa proporção alcance 89% na América do Sul. A migração de pessoas do campo para a cidade acabou gerando uma série de problemas nas áreas de moradia, saneamento, adensamento de população,

emprego, saúde etc. Então, uma equipe do BID falou: “Vamos tentar entender o que acontece com algumas cidades. Vamos escolher algumas cidades emergentes e estudá-las de forma a poder planejá -las e buscar as melhores práticas no futuro, para que esse crescimento seja feito de forma ordenada”. Existem hoje na América Latina 140 cidades emergentes. A definição de uma cidade emergente é que seja de tamanho intermediário proporcionalmente à população total do país, que tenha crescimento demográfico e econômico acelerado, estabilidade social e de governabilidade e que seja referência regional de qualidade de vida. Por meio dessa metodologia, foram definidos três pilares de uma cidade sustentável: sustentabilidade ambiental e mudança climática; desenvolvimento urbano, integral e sustentável; e sustentabilidade fiscal e governabilidade. Para cada um desses pilares foram definidos indicadores, que devem ser classificados com as cores vermelha, amarela e verde, dependendo da situação. A partir dessa classificação, definem-se as prioridades. Nesta primeira fase do programa, foram escolhidas cinco cidades da América Latina: Trujillo, do Peru; Montevidéu, do Uruguai; Santa Ana, de El Salvador; Puerto España, de Trinidad e Tobago; e Goiânia, do Brasil. Então, essas cidades são objetos de diagnósticos, estudos e indicadores. Para cada uma foram identificadas áreas prioritárias de risco, de situação vermelha. E alguns planos já foram desenhados. Quais foram os indicadores? Tecnologia está entre os pontos de atenção? Bouskela – Sem dúvida. E vou te falar um pouco de conectividade, pois sou da área de Tecnologia da Informação. No eixo do desenvolvimento urbano sustentável, existe um indicador que é o de conectividade. A conectividade de banda larga, na verdade, é um insumo necessário, é um pré-requisito para o desenvolvimento. Ou seja, quanto

mais conectividade, melhor o desenvolvimento econômico. Maior conectividade contribui para mais emprego. Esse indicador contém vários pontos de análise: telefones fixos, telefones móveis, conectividade e internet de banda larga. Ajudou a aprofundar um pouco mais o diagnóstico da cidade em relação ao uso da tecnologia da informação para a produtividade, para o desenvolvimento econômico e urbano sustentável. Foram feitos alguns estudos, em parceria com os coreanos, para identificar a situação em que se encontrava a tecnologia da informação nas cidades escolhidas – em particular os aplicativos e o uso da banda larga. Com isso, se pensaria em possibilidades de projetos como parte de um plano de ação muito mais complexo. Por exemplo: existe a necessidade de expandir a rede de fibra óptica de Goiânia. Hoje há cerca de 60 quilômetros e o objetivo é chegar a 200 quilômetros, para conectar órgãos do governo, escolas, hospitais. Na verdade, Goiânia é uma cidade muito desenvolvida, oferece banda larga e acesso à internet sem fio em praças públicas e algumas escolas. Outro projeto pensado é o de uma central de monitoramento integrada. O que quer dizer isso? Seria um centro de controle por meio do qual seria possível controlar o trânsito, o transporte, a segurança, por meio de câmeras conectadas. E seria possível também criar uma central de comando e monitoramento para se entender os desastres ambientais. Nessa central uma equipe analisará uma série de situações da cidade, em tempo real. Com base nas análises, essa equipe tomará medidas de forma muito mais proativa. Quer dizer, não somente proativa. Podem ser medidas proativas ou reativas. Pode-se tanto planejar o fluxo de trânsito como monitorar o que está acontecendo em certas regiões da cidade. Então a conectividade também influencia outros indicadores? Bouskela – De certa forma con-

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Entrevista

tribui. Para se ter uma central de monitoramento e controle integrada em tempo real é preciso haver uma excelente conectividade. Um bairro que não tem conectividade de banda larga não permite que se instale uma câmera de análise do fluxo de trânsito ou segurança para transmissão em tempo real. Áreas como saúde e educação foram pensadas em conjunto com a conectividade? Bouskela – Na realidade, esses temas não chegaram a ser discutidos em detalhe no que diz respeito à conectividade. Mas se houver uma conectividade de fibra óptica expandida, será possível conectar mais escolas, telecentros, postos de saúde etc. Quais são os impactos previstos da Plataforma Cidades Emergentes e Sustentáveis nas periferias, especialmente no que diz respeito ao atendimento dos serviços públicos? Bouskela – No eixo de sustentabilidade fiscal e governabilidade do programa se discutiu mecanismos para que a cidade conheça com mais profundidade seus sistemas financeiros: que consiga entender os gastos, as receitas, o que está acontecendo com o dinheiro, se está entrando, se está saindo, se está sendo investido. Ou seja, um controle fiscal muito melhor, por meio do qual se tenha um monitoramento de serviços públicos e uma gestão por resultados. No eixo de sustentabilidade ambiental e mudança climática, falou-se da poluição da água e do ambiente, de resíduos sólidos, reciclagem, deficiência energética, prevenção a desastres naturais etc. Mas pode ajudar o cidadão, por exemplo, a marcar uma consulta no posto de saúde, tirar algum documento mais facilmente etc.? Bouskela – A gente não entrou nesse nível de detalhe em nenhuma das cidades. Mas, quando falamos

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de ter uma conectividade expandida, isso significa levar o serviço público para os bairros mais remotos. Em Goiânia, está muito claro para as autoridades a vontade de levar os serviços públicos para fora do centro da cidade. Então, no fundo, a conectividade acaba contribuindo e sendo fator importante. Não adianta um sistema desenvolvido se não se consegue conectá-lo em tempo real. A partir do momento que essas cidades foram selecionadas, o que começou a acontecer, na prática? Bouskela – Durante o processo de avaliação e seleção das cidades, houve um compromisso por parte das prefeituras e do banco de fazer um diagnóstico da situação local. Isso envolveu a cooperação técnica do BID e recursos de US$ 4 milhões, que vieram dos fundos do banco. T ambém veio dinheiro de um fundo coreano, um fundo chinês e de outros fundos de doadores. Então, definiu-se a metodologia de estudo e um plano de ação com o objetivo de criar projetos complementares em curto prazo. Neste momento [março], os planos de ações já estão definidos, pelo menos nas áreas prioritárias de cada cidade. O município se compromete, por exemplo, a criar ou mudar leis para executar essas políticas ou dotar recursos especiais? Bouskela – Eventualmente, propostas nascidas do projeto podem vir a se tornar políticas públicas, ou a alterar uma política pública, com objetivo de se criar uma cidade sustentável de longo prazo. Vamos supor que haja uma análise do controle de água ou de resíduos tóxicos, com base e diagnóstico. Isso pode se tornar uma política pública que proteja a cidade contra a poluição no futuro. O grande objetivo é que você possa trabalhar com as cidades para que o crescimento seja bem sustentável. Que possa oferecer apoio a sua po-

pulação e para que não se tenha um crescimento desproporcional e desorientado de uma área que foi identificada como mais interessante ou mais adequada para a execução do programa. Os três eixos da plataforma são trabalhados de forma conjunta? Bouskela – Exato. Nas cidades escolhidas foram feitos diagnósticos sobre esses eixos. Com base nesses diagnósticos, foram priorizados os indicadores mais vermelhos ou amarelos – que são os mais críticos – e, a partir daí, saiu um plano de ação. A conectividade é importante inclusive para agregar todos esses eixos. Bouskela – A conectividade foi incluída no pilar “desenvolvimento urbano sustentável”. Só que sua incidência tem um impacto transversal. Por exemplo, a saúde pública, que está no eixo “desenvolvimento e mudança climática”, pode se beneficiar de uma melhor conectividade de aplicativos, documento eletrônicos, telemedicina... A parte de energia também, assim como a segurança. O que você pode dizer das semelhanças ou características específicas entre as cinco cidades incluídas na plataforma? Bouskela – Essas cidades estão muito interessadas no crescimento sustentável. Existe um compromisso dos poderes executivos de levar suas cidades a um nível superior. Todas têm desafios sociais e se preocupam com segurança, moradia, trabalho, desenvolvimento, competitividade das empresas. Então existe toda essa preocupação em razão principalmente do crescimento da migração da área rural para a área urbana. Quando as pessoas saem do campo e vão para a cidade, esta, de certa forma, não tem como barrá-las. Acaba acolhendo-as, e essa receptividade, no fundo, cria certa despropor-


cionalidade. Porque a cidade não pode ficar gerando empregos e saúde pública para acomodá-las. Então, isso traz problemas sociais. Então há a preocupação com a execução do programa de acordo com a realidade específica de cada cidade. Bouskela – Em cada cidade o programa está analisando como pode trazer desenvolvimento, crescimento ordenado, capacitação, controle de desastres naturais, conectividade, sistema de informação, melhoria da segurança etc. Santa Ana, por exemplo, tem um problema sério de criminalidade. Há toda uma estratégia de segurança na cidade, mas um ponto que me chamou a atenção é que as informações sobre os delitos são enviadas por papel. Não há um sistema que permita a análise detalhada do que está acontecendo. Outra coisa: na semana em que a gente esteve lá, chovia muito forte, as estradas estavam caindo, os barracos também, havia alagamentos... por isso, a parte de prevenção de desastres naturais é um tema muito importante. Os três eixos da Plataforma Cidades Emergentes e Sustentáveis são trabalhados de forma transversal

O laboratório basileiro Capital de goiás já definiu a implementação de algumas medidas

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oiânia (GO) foi a cidade brasileira selecionada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para fazer parte da Plataforma Cidades Emergentes e Sustentáveis por ser, na visão do banco, um exemplo de cidade sustentável sob alguns aspectos. “Entre as candidatas brasileiras, estavam Curitiba, Recife, Porto Alegre e Campinas. Goiânia foi escolhida porque se preocupa muito com a questão do verde. Há na cidade muitas praças, há qualidade de vida. Mas também existem ameaças, como o crescimento acelerado e a pressão muito grande sobre os serviços e a infraestrutura”, conta Márcia Casseb, técnica do BID de Brasília (DF), e responsável pela execução da plataforma em Goiânia. Logo depois de aceitar o convite, a cidade já se pôs a trabalhar. Hoje, investe, com recursos próprios, R$ 200 milhões em um programa de recuperação ambiental e integra um programa de compartilhamento de conhecimento na área de conectividade com a Coreia do Sul.

o BID, já foram definidas algumas prioridades, como a ampliação da rede de banda larga, a criação de um sistema de transporte inteligente e a expansão das aplicações de governo eletrônico. A cidade quer expandir sua rede de fibra óptica dos atuais 64 quilômetros para 200 quilômetros. Vai interligar secretarias, órgãos públicos, escolas e hospitais. Já o sistema de transporte inteligente seria implementado por meio de câmeras digitais e sinais controlados por uma central de operações. Além disso, Goiânia e BID preveem, por meio do Projeto Vaga-lume, a oferta de internet gratuita em locais públicos. Segundo Márcia, a dificuldade encontrada pelo banco foi o fato de Goiânia não trabalhar com indicadores, método adotado da instituição internacional: “Faltava direcionamento. Eles perceberam que precisam mudar, e a definição de metas podem ajudar no investimento em várias fontes de recursos próprios e de diferentes níveis de governo”.

Goiânia foi escolhida pelo BID por ser uma cidade que se preocupa com a questão do verde

Lançado em 2004, o Korean Knowledge Sharing Program, do governo sul-coreano, tem como objetivo ajudar outros países a desenvolver seu potencial econômico seguindo a experiência de rápido crescimento vivido pela nação asiática nas últimas cinco décadas. Em dezembro do ano passado, o presidente da Agência Municipal de Tecnologia e Inovação (Amtec) de Goiânia, Nelcivone Melo, viajou à Coreia do Sul para conhecer sua experiência em matéria de conectividade, apontada como a melhor do mundo. Com base na visita e após os diagnósticos iniciais em conjunto com

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A inclusão que vem do espaço Governo lançará um satélite de comunicação que traz a esperança de acabar com o déficit de internet rápida no país. Igor Ojeda

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e não dá por terra, melhor ir pelo ar. Quer dizer, pelo espaço. O Brasil se prepara para lançar, em 2014, um satélite geoestacionário de comunicação capaz de, segundo o governo federal, cobrir o déficit do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) – que encontra dificuldades para chegar às regiões mais remotas. Além de uma esperada alternativa para atender projetos de inclusão digital em todo o território nacional, o satélite também vai ser usado em programas do Ministério da Defesa e das Forças Armadas brasileiras, pois vai centralizar informações consideradas estratégicas. A disputa promete. O Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB) – é chamado assim porque se move na mesma velocidade da rotação da Terra, dando a impressão de que fica parado em relação a um ponto fixo de nosso planeta –, na verdade, são dois, previstos para serem colocados em órbita em 2014 e 2019. “Foi uma decisão de governo, uma decisão do Ministério das Comunicações e do Ministério da Defesa de dotar o país de um satélite para comunicações de governo e de defesa. Então incumbiu-se a única empresa brasileira estatal de telecomunicações de tocar o projeto”, conta Paulo Kapp, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa estatal de telecomunicações. “Na parte civil, vai ser operado pela Telebras em banda Ka, enquanto a Defesa o operará em banda X.” A banda Ka é a parte do espectro eletromagnético compreendida entre as frequências de 27GHz e 40GHz. A banda X, por sua vez, utiliza o espaço entre as frequências 8GHz e 12 GHz e é exclusiva para o uso militar. Banda para quem?

Esperado com grande expectativa por integrantes de programas como o Telecentros.BR, a maior iniciativa do governo federal para inclusão digital, o satélite tem um importante papel a cumprir no PNBL. A proposta do plano é de uma cobertura prioritariamente com fibra óptica. Aproximadamente 4,2 mil municípios seriam atendidos por meio de cabos. Os demais 1,3 mil municípios – onde habitam 24,4 milhões de pessoas – não poderão ter banda larga em curto prazo por via terrestre. Além do mais, a expansão dessa rede física vem sendo muito mais lenta do que o necessário. Para muitas áreas, sobretudo na região Norte, a previsão é de que o serviço de banda larga demore alguns anos a chegar. O satélite supriria essa demanda. “Queremos levar banda larga por satélite aos lugares que não podem ser atendidos com os cabos de fibras ópticas em curto prazo. Assim esses municípios passam a dispor do serviço até chegar a rede da Telebras”, explica Kapp. No dia 23 de março, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou o Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil 2011-2012. O estudo aponta o sistema de comunicação via satélite como uma boa maneira de se ampliar o alcance da banda larga. De fato, recursos para a construção do equipamento foram incluídos no Plano Plurianual (PPA), para o período de 2012 a 2015. O atual PPA, que estabelece medidas, gastos e objetivos a serem seguidos pelos governos federal, estaduais ou municipais, ao longo de um período de quatro anos, foi aprovado pelo Congresso em dezembro e prevê R$ 13,8 bilhões para o PNBL, R$ 2,1 bilhões a mais do que o proposto pelo Executivo. Para o SGB,

estão previstos R$ 776 milhões. A meta proposta pelo PPA 2012-2015 é de que até 2015 a banda larga – por terra ou por ar – chegue a 42 milhões de casas. O Plano Plurianual prevê ainda todas as escolas rurais tenham acesso à rede e estejam disponíveis conexões em 3G em pelo menos 75% dos municípios brasileiros. Mas, muitas vezes, as boas intenções esbarram na realidade. Na edição de março da revista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a instituição critica duramente o PNBL e o Termo de Compromisso assinado com as operadoras, que, alerta, “já nasceram tortos”. De acordo com o texto, a internet de banda larga no Brasil é lenta, cara e para poucos. Para o instituto, a velocidade oferecida, 1 Mbps, é baixa, a franquia (300 MB mensais) é insuficiente, e, de acordo com o contrato entre governo e empresas, a universalização do serviço não é prioridade, pois as companhias de telecomunicações são obrigadas a atender apenas as “localidades sede” dos municípios – ou seja, bairros e povoados distantes ficam excluídos.

Estão previstos, no PPA, R$ 776 milhões para a construção do satélite. A preocupação, portanto, é que a oferta de banda larga possibilitada pelo SGB encontre os mesmos problemas. As empresas de telecomunicação já alertaram a Telebras, argumentando que o valor de R$ 35 por uma conexão de 1 Mbps é inviável, especialmente pelo fato de que o satélite será operado como backhaul, ou seja, apenas fará a ligação entre os núcleos da rede e as sub-redes.

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Capa

Tecnologia em casa Absorção técnica por empresas brasileiras não está garantida. O projeto do satélite geoestacionário de comunicação, cuja construção está prevista para durar dois anos, é acompanhado por três ministérios: o das Comunicações e o da Defesa, interessados diretamente em suas funções de atender ao PNBL e às Forças Armadas; e o de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que busca aproveitar a oportunidade para desenvolver a tecnologia aeroespacial brasileira, com a absorção da tecnologia necessária por parte de empresas nacionais.

nas para a construção. A operação do satélite será da Telebras e do Ministério da Defesa”, explica Paulo Kapp, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa estatal de telecomunicações. Segundo ele, a ideia é que essa empresa conjunta sirva justamente para possibilitar a absorção de tecnologia pensada pelo MCTI, por meio de convênios técnicos com outros países. “A empresa conjunta vai dizer: ‘isso aqui tem no Brasil, isso temos condições de fazer no

tais a que tem direito para utilização no setor de defesa, de acordo com a determinação da União Internacional das Telecomunicações (UIT).

Satélite geostacionário será construído por uma empresa a ser criada por meio de parceria entre Telebras e Embraer. “A forma planejada para a execução do satélite coloca a Embraer como integradora de sistemas. A sociedade brasileira não sabe, mas nós sabemos que a Embraer será apenas entregadora de partes prontas que aportarão ao projeto. Dizem que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) será o depositário das tecnologias transferidas, mas todos sabemos que não haverá transferência nenhuma, nem neste primeiro a ser lançado em 2014 nem no outro, de 2019”, opina Ivanil Elisiário Barbosa, presidente do Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial (SindCT).

Para sindicalista. o país nao tem saída a não ser comprar um “Satélite de prateleira” O primeiro passo nesse sentido já foi dado. Em novembro do ano passado, a Telebras e a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) assinaram um memorando de entendimento para criar uma empresa conjunta responsável por gerenciar o processo de construção do satélite. A Embraer terá participação de 51% nessa joint venture, enquanto a Telebras ficará com 49%. “Esse acordo é ape-

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Brasil’. Se eu tenho como desenvolver isso aqui, não preciso comprar fora, por mais barato que seja”, explica Kapp. No entanto, ha temores de que as coisas não aconteçam exatamente desse jeito, por causa do cronograma apertado de lançamento do primeiro satélite. Em 2014. vence o prazo para que o país ocupe a reserva feita para duas posições orbi-

De acordo com o sindicalista, o país não tem outra saída no momento a não ser comprar um “satélite de prateleira”. Isto é, um equipamento pronto, importado. “A engenharia do setor está sucateada e perde continuamente servidores que acumularam larga experiência na atividade espacial, sem chances de reposição que permita a continuidade dos trabalhos”, resume Barbosa. (I.O.)


Raitéqui

VEM AÍ O ANDROID 5.0 A próxima geração do Android é esperada para o terceiro trimestre deste ano, segundo fontes ouvidas pelo site Digitimes. O Google já estaria com o produto desenvolvido adiantado e pretenderia lançá-lo até o fim de setembro. Além disso, VELOCIDADE MÁXIMA DE TRANSMISSÃO Um mecanismo de codificação robusta que aproveita ao máximo a velocidade de transmissão sem fio foi desenvolvido por uma equipe de técnicos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dos EUA; do Google e da Universidade de Tel Aviv, de Israel. A solução oferece a máxima velocidade inclusive se houver ruído. A ideia é transmitir pacotes de símbolos com uma codificação que proteja os dados e permita sua reconstrução, ajustando a proteção às condições do canal, sem ter que retransmitir dados já enviados.

o Android 4.0, o atual sistema móvel do Google, se proliferaria entre os smartphones ainda no primeiro semestre, em aparelhos fabricados pela Samsung, HTC e Sony. No entanto, teme-se que uma troca de sistemas em um curto período de tempo poderia não ser interessante para o desenvolvimento do ecossistema Android, uma vez que atualmente menos de 3% dos smartphones Android rodam o ICS, como é conhecido a versão 4.0. www.android.com

http://web.mit.edu

TERABYTES GRAVADOS EM UM SEGUNDO Um grupo de pesquisadores internacionais conseguiu desenvolver uma técnica capaz de gravar em um disco rígido, em apenas um segundo, terabytes de informação. A nova técnica utiliza a aplicação de calor sobre o prato do disco, em substituição ao tradicional uso de campos magnéticos. Com isso, abre-se a perspectiva de criação de uma nova geração de HDs, com maior capacidade de transferência e que poderiam consumir menos energia. O experimento está publicado no site da revista Nature Communications. www.nature.com/ncomms/journal/ v3/n2/full/ncomms1666.html

MOZILLA MOSTRA QUEM ESTÁ TE RASTREANDO...

… E DESENVOLVE CRIPTOGRAFIA PARA PESQUISAS DO GOOGLE

Um plugin do Firefox mostra, em tempo real, como e quais empresas nos seguem quando navegamos. Chamada de Collusion, a ferramenta permite ao usuário visualizar de que modo, ao entrar em um site, suas informações são passadas a uma nova empresa – sem que ele saiba! Cada vez que o Collusion detecta o envio de dados pessoais, surgem pontos vermelhos (anunciantes), cinzas (sites) ou azuis. Em seguida, o sistema mostra os vínculos entre os sites visitados.

Outro desenvolvimento recente da Mozilla, mas que ainda está em teste: um sistema de criptografia para pesquisas feitas no Google a partir do Firefox. A função utiliza o protocolo SSL. A Mozilla não divulgou uma estimativa para a chegada do recurso a todos os usuários. O Firefox provavelmente será o primeiro a adotar a busca criptografada como padrão. www.mozilla.org

www.mozilla.org/en-US/collusion

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Cultura

De todos, para todos Festival BaixoCentro leva arte e práticas de compartilhamento às ruas de região de alta vulnerabilidade social. Patrícia Benvenuti Um movimento “de ocupação civil que pretende fissurar, hackear e disputar as ruas” agitou o velho centro da capital paulista, entre 23 de março e 1º de abril. Com o slogan “As ruas são para dançar”, A edição do Festival BaixoCentro uniu diferentes pessoas e organizações com um mesmo objetivo: ocupar, com arte, cultura e gente, a área do entorno do Minhocão, na cidade de São Paulo. Diversas atividades públicas e gratuitas aconteceram, durante esses dez dias – e noites adentro – nos bairros de Santa Cecília, Vila Buarque, Campos Elíseos, Barra Funda e Luz. O público pode escolher entre uma extensa programação que incluiu exibição de filmes, apresentações musicais, espetáculos teatrais, oficinas, performances, intervenções e caminhadas. A ideia do BaixoCentro surgiu inicialmente na Casa da Cultura Digital. Um dos organizadores do festival, Leonardo Foletto, conta que a motivação para criar o movimento

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partiu de inquietações dos próprios frequentadores da Casa, que se situa na área do baixo centro. Caracterizada por muitos prédios vazios e pelo abandono da administração pública, a região abriga pessoas em situação de rua e dependentes químicos da chamada “Cracolândia”. “Essa área de São Paulo, em volta do Minhocão, é muito maltratada. Por isso, ficou com essa sina pesada de ser um lugar cinza, feio, perigoso”, explica Foletto. Pensando em ajudar a reverter esse quadro, surgiu a possibilidade de realizar ali um festival de cultura. “Quando um lugar está vazio ou cheio de coisas vazias, a gente tem de ocupar. Então vamos pegar essa rede toda da qual fazemos parte e mudar aquilo lá”, afirma Lucas Pretti, outro integrante da organização do BaixoCentro. O passo seguinte foi levar a ideia para além da Casa da Cultura Digital, agregando coletivos, organiza-

ções e centros culturais da própria região. “Começamos a nos articular com essas pessoas, fazer reuniões abertas, e foi juntando mais gente, bem espontâneo mesmo”, relata Foletto. Formada uma rede para criar o Festival, os ativistas saíram em busca de recursos para concretizar a proposta. A alternativa – totalmente de acordo com o espírito de compartilhamento da iniciativa – foi a captação por crowdfunding, o financiamento coletivo. A aposta no crowdfunding, diz Foletto, era essencial para garantir não somente a realização do evento, mas o caráter aberto e participativo do projeto. “O Festival deveria começar pelas pessoas, a gente não queria marcas. As marcas até poderiam aparecer, mas nessa ideia de tudo ser aberto, todas as atividades serem gratuitas, qualquer um poder aparecer”. A primeira tentativa de arrecadar recursos foi em novembro


do ano passado, quando a proposta foi inscrita no site Catarse. A intenção, naquele momento, era promover atividades durante 30 dias, com um custo de R$ 56 mil. No entanto, a proximidade com o final do ano prejudicou as doações, e o projeto foi retirado do site. Em fevereiro, o projeto retornou para o Catarse, mas reformulado: em vez de 30, o Festival duraria dez dias, com custo de R$ 13,4 mil. Desta vez, a meta não apenas foi atingida como ultrapassou o pedido, chegando a R$ 17 mil. Um leilão colaborativo de 45 obras doadas por artistas de São Paulo também ajudou na arrecadação de fundos. As perspectivas de trabalho colaborativo e participação orientaram ainda a escolha da programação, feita em cima de sugestões inscritas pelos próprios artistas em uma chamada pública na internet. Piquenique O BaixoCentro também foi uma oportunidade para promover a cultura livre. Em todas as atividades, as pessoas eram estimuladas a registrar as ações com celulares e outros aparelhos eletrônicos, e a postar suas gravações e opiniões na internet e em redes sociais. Para dar ainda mais força a essa mobilização, no dia 24 de março aconteceu o “Piquenique do compartilhamento”. Durante toda a tarde, os participantes do festival ocuparam o Largo do Arouche com comidas, bebidas, livros e pen drives para compartilhar músicas, filmes, arquivos digitais... e comidinhas. “A gente achou que seria um retrato legal do que queríamos dizer, uma ironia e uma provocação em cima da cultura e do entretenimento. Todo mundo que já compartilha na internet loucamente e em muito maior grau se reunir para fazer isso fisicamente”, afirma Pretti.

real. Apresentações musicais animavam o sábado, enquanto eram ministradas oficinas sobre práticas de compartilhamento. Ao saber do Piquenique pelo Facebook, o diretor de arte Alberto Zanella, de 43 anos, levou alguns de seus arquivos ao Largo do Arouche: “Sou absolutamente partidário do compartilhamento. A possibilidade de as pessoas mexerem, modificarem e publicarem um conteúdo de outra forma é espetacular, muito bacana”. Zanella também elogiou a adesão dos artistas ao Festival e o fomento à cultura livre. Para ele, é preciso que mais integrantes do meio artístico entendam as vantagens da cultura livre em comparação com a indústria do copyright: “O dinheiro fica na mão das corporações, não vai para os artistas. E o compartilhamento ainda vai desenvolver uma forma de fazer com que se ganhe dinheiro também. Não adianta, as coisas estão mudando”, diz. A união entre tecnologia, arte, cultura e ocupação do centro também foi simbolizada pelo carrinho multimídia. Com um bagageiro na frente, o triciclo foi utilizado, durante todo o Festival, para transportar equipamentos de áudio e vídeo, como caixas de som, projetores e o que mais permitisse reproduzir filmes e músicas. A troca de informações foi ainda o mote da oficina de utilização da plataforma MapasColeti-

vos, que reúne cartografia digital, compartilhamento de dados e jornalismo-cidadão. O resultado foi a cobertura do BaixoCentro por meio de um mapa que traz fotos, vídeos e relatos sobre as atividades, permitindo que cada pessoa acrescentasse informações. A ação de utilizar o espaço público de outras formas ganhou a simpatia das portuguesas Sofia Santos, 24 anos, e Carolina Bagulho, 22 anos, ambas estudantes de intercâmbio na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo. Há oito meses em São Paulo, Sofia conta que se sentiu atraída principalmente pelo site da programação do BaixoCentro, um mapa interativo que permite ao usuário explorar as atrações a partir de diferentes critérios. “Gostei do mapa e da ideia de ser uma organização cultural pró-centro. Precisa de mais organizações desse tipo”, afirma. Carolina, que reside há um ano e oito meses no Brasil, também elogia a proposta do Festival: “Tudo o que incentiva a ocupação do espaço público é uma boa iniciativa, principalmente aqui no centro”. Em todas as ações do BaixoCentro, para Pretti, ficou evidente a necessidade de compartilhar não só o espaço, mas, em especial, as experiências: “É a questão do aberto, do open source, do software livre, da cultura livre... todos podem. A gente acredita nisso”.

O público presente ao festival pôde escolher entre uma extensa programação que incluia cinema, múisica, teatro, oficinas, performances, intervenções e caminhadas

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O Ônibus Hacker, da Comunidade Transparência Hacker, estacionou no pedaço. Serviu de base para uma rádio livre e itinerante que transmitia o piquenique em tempo


Games

Entre nesse jogo

Portal sobre MMOG traz conteúdo diversificado, testes e vídeoscasts. Tudo em português. Jane Soares

O

s brasileiros aficcionados por jogos online em grupo, os MMOGs (Massive Multiplayer Online Games, que significa jogos eletrônicos online multijogadores em massa), ganharam um portal repleto de informações e novidades, nos moldes dos existentes no exterior. A ideia surgiu no começo do ano passado, de uma dupla que se conheceu no local de trabalho, a agência de comunicações Tuiuiú, que fica no Rio de Janeiro (RJ). O diretor de arte Daniel Crepaldi e o programador Antônio Felix logo descobriram um ponto em comum: a paixão pelos MMOGs. Felix joga desde a adolescência. Para Crepaldi, os jogos têm sido uma inesgotável fonte de diversão nos últimos cinco anos. Conversa vai, conversa vem, os dois se viram lamentando a falta de um site com informações e novidades sobre o que rola nesse segmento, no Brasil. Os pequenos blogs em língua portuguesa estavam longe de satisfazer a curiosidade dos dois

jogadores. E os sites estrangeiros, embora acessíveis, são de difícil compreensão para quem não tem pleno domínio do inglês. A vontade de criar um portal tupiniquim logo começou a tomar corpo. Antônio se encarregou do desenvolvimento e programou todos os códigos. Crepaldi criou o visual. O conteúdo inicial foi levantado por meio de pesquisas na internet e também das notas de divulgação de produtos, oferecidos pelos produtores dos jogos. Depois de um mês de muito trabalho, o MMO and More ficou pronto e entrou no ar. Foi apresentado em meados do ano passado na Brasil Game Show, considerada a maior feira de games da América Latina. Lá, novas ideias foram agregadas. O visitante do portal não só fica por dentro de lançamentos, com comentários e avaliações dos produtos, mas pode fazer seus próprios testes de jogos, elaborar videocasts sobre diferentes assuntos

relativos ao mundo dos games e compartilhar conhecimento com outros jogadores. O portal só não oferece jogos online – pelo menos, por enquanto. “Nossa intenção, no momento, é realmente difundir informações sobre o setor, da forma mais ampla possível. Por isso, o portal é atualizado todos os dias, com dados recentes. E até já percebemos que a audiência aumenta quando são postados novos vídeos”, comenta Felix. A divulgação é feita basicamente no velho boca a boca, e o time de simpatizantes do MMO and More cresce nas redes sociais. A página do Facebook complementa as informações do portal. Os rapazes já estão se movimentando para firmar parcerias com fabricantes de jogos e escolas de games, em busca de alternativas para viabilizar economicamente o projeto. “Participamos de eventos como a Campus Party, não só para divulgar o portal, como para conhecer novidades, reforçar o conteúdo”, explica Crepaldi.

Para se divertir de graça O MMOG é capaz de suportar centenas de milhares de jogadores simultaneamente. Os jogos geralmente são online e apresentam pelo menos um mundo comum. Os jogadores podem se ajudar ou competir entre si em grande escala. Quase todos os MMOGs exigem subscrição, com pagamento mensal. Mas alguns podem ser jogados de graça, como Astro Empires, Guerra Khan, Travian, Galactic Wars, Tribal Wars, DC Universe Online e RuneScape. www.mmoandmore.com | www.astroempires.com | www.guerrakhan.com | www.travian.com.br | www.galaxywars.co.uk | www.tribalwars.com.br | www. dcuniverseonline.com/free | www.runescape.com

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