Revista tipos

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ANO 2013/N º 01 BRASIL R$14,90

TIPOS

REVISTA

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Entrevista Cláudio Rocha

Validade da tipografia como processo de impressão na nossa atualidade e as novas tecnologias

Helvética A fonte da discórdia Tipo gráfico associado ao modernismo e à falta de criativiade

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Editor e Diretor Responsável: Sergio Soares Diretora Executiva: Tamires Peres Diretor Editorial Responsável: Tatiane Cardim Gomes

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ATUALMENTE os computadores possibilitam a criação de todo o tipo de documentos, fornecendo um controle sobre os vários detalhes tipográficos de uma forma que apenas estava ao alcance dos tipógrafos profissionais. Nos tempos da composição com caracteres de chumbo, todos os Tipos de letra adquiridos pelas casas impressoras eram acompanhados por detalhadas folhas-modelo, que exibiam exemplos de todas as utilizações possíveis recomendadas pela fundição. O espaço entre letras e palavras, assim como o espaço entre linhas, estava limitado à natureza física dos caracteres em metal, contudo hoje em dia, a tipografia digital está completamente liberta deste tipo de constrangimentos. Ao comprarmos um computador, esperamos que ele venha munido de manuais que nos auxiliarão a realizar as várias tarefas e a utilizar o sistema operacional, as aplicações, o mouse, a Internet, o scanner, a impressora, o e todos os outros programas e equipamentos informática. No entanto, estas publicações nunca nos ajudam a usar um dos maiores recursos que temos à nossa disposição: os Tipos de letra. O intuito deste Guia é “ensinar” a aplicar as Fontes, fornecendo, para tal, uma fácil compreensão dos vários conceitos do domínio da Tipografia, dando conjuntamente uma orientação no processo de escolha dos Tipos e demonstrando como, e onde, estes deverão ser apropriadamente empreguadas. Miguel Souza Editor e Mentor da obra Fonte: www.issu.com

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Entrevista com Cláudio Rocha Validade da tipografia como processo de impressão na nossa atualidade e as novas tecnologias

Helvética Tipo gráfico associado ao modernismo e à falta de criativiade

Quando vai (e volta) de metrô para seu trabalho na Plexifilm, Gary Hustwit vê a mesma coisa por toda parte: a fonte Helvetica.

Capa

Resguardar a tipografia é preservar o conhecimento. Cláudio Rocha, entrevista imperdível!

Sumário

Cláudio Rocha, um dos principais tipógrafos brasileiros em uma entrevista imperdível!

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uando vai (e volta) de metrô para Para outros, ela é tediosa, opressiva e emseu trabalho na Plexifilm, uma pro- presarial demais. Hustwit usa a história da Heldutora de cinema vetica para relatar a história do design gráfico no pós-guerra e demonstrar a eterna tensão estée selo independente de DVDs com sede no tica entre o expressivo e o clássico. Brooklyn [em Nova York], Gary Abaixo, ele explica seu projeto. Hustwit vê a mesma coisa por toda parte: a fonte Helvetica. O metrô, diz, “está coberto de Helvetica. Eu quis entender o porquê disso”. E não é apenas o metrô. Os números dos tá- (...) há os que gostam daquele estilo clean, xis de Nova York também estão em Helvetica. minimalista, racional, e os que querem que A fonte está presente nos formulários de Imposto as coisas sejam mais emocionais e expresde Renda, nas caixas do correio dos EUA e em sivas. A Helvetica é a linha divisória que secaminhões da ConEd [empresa de energia]. para esses dois lados. A fonte “sans serif” criada há 50 anos [completos em 2007] é vista em inúmeras logomarcas: Revista Tipos__Por que não um filme sobre a Sears, Fendi, Jeep, Toyota, Energizer, Oral-B, [fonte] Times New Roman? Por que a HelveNestlé. tica se impõe a tal ponto? Quando você se dá conta de que a Helvetica está em toda parte, diz Hustwit, “não consegue Gary__ A Helvetica é uma questão que realdeixar de pensar nisso”. Para desco brir a razão mente polariza opiniões dentro da comunidade da onipresença dessa única fonte, Hustwit fez do design. As pessoas que gostam um documentário, seu primeiro como diretor (ele dela geralmente são pessoas interessadas no já tinha produzido cinco documentários sobre te- modernismo, e mas relacionados à música). as que não gostam são pessoas que o rejeitam. “Helvetica” estreou em março do ano passado Ela se tornou símbolo do design gráfico moderno festival de cinema South by Southwest e, di- nista posterior vulgado em grande e do chamado estilo suíço, o estilo internacional par te por sites voltados ao design e pelo boca-a que ganhou -boca, em pouco tempo se tornou sucesso cult imensa popularidade mundial nos anos 1960. internacional. O DVD foi lançado em novembro. Na década de 70, todo mundo que se rebelava Uma semana mais tarde, Hustwit foi indicado ao contra isso odiava a Helvetica, porque ela simprêmio Independent Spirit na categoria “Mais bolizava uma linguagem visual uniformizada, Verdadeiro que a Ficção”. internacional, corporativa. Ainda existe uma diUma fonte tipográfica parece um tema im- visão entre designers, mesmo os jovens: há os provável para um filme, mas o tema da Helvetica que gostam suscita reações fortes. daquele estilo clean, minimalista, racional, e os Para alguns designers, a fonte representa um que querem que as coisas sejam mais emociotipo de beleza transparente, racional e moderna. nais e expressivas. A Helvetica é a linha divisória que separa esses dois lados.

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Helvética, a fonte da discórdia

leiam a mensagem e compreendam o que o texto Revista Tipos__Como se sente, pessoal- diz, sem nenhum tipo de interferência da fonte. Quando as pessoas notam a fonte, geralmente mente, em relação à questão? é porque há algo de errado com ela: é difícil de Gary__Acho que provavelmente me situo entre ler ou as letras estão próximas demais uma da outra. os modernistas. Nos últimos 20 anos, venho gostando dos dois lados. Meu pano de fundo está no punk rock, então gosto daquele estilo visual anarquista, detonado, mas também gosto de elementos gráficos “clean”, inspirados na Bauhaus. Minha opinião não chega a ter muita importância no filme, que funciona como vitrine para todos esses diferentes designers gráficos e de fontes. Não gosto de documentários feitos na primeira pessoa. Não me interessam as opiniões do cineasta. O que me interessa é o tema das opiniões expressas no documentário.

Revista Tipos__Você mesmo desenhou algumas fontes um tanto quanto “grunge” no início dos anos 1990. O que se aprende quando se cria uma fonte? Gary__Descobre-se que o trabalho dos design-

ers de fontes é espantosamente complexo. O nível de detalhe que entra em todas as decisões tomadas quando se cria uma fonte tipográfica é simplesmente inacreditável. Que distância deve existir entre duas letras diferentes quando elas aparecem lado a lado, como, por exemplo, um tê em maiúscula e um ó em minúscula? Que distância aquele ó deve deslizar para baixo da trave horizontal do tê?

Revista Tipos__O cinema está passando

por algo semelhante à trans-formação que atingiu a tipografia no início dos anos 90, com ferramentas digitais barateando muito a produção e distribuição. Existe algo que os cineastas possam aprender com o que aconteceu na área das fontes?

Gary__ A democratização da tecnologia, seja

ela a tecnologia do design gráfico ou a da cinematografia, é uma faca de dois gumes. Ela abaixa as barreiras de entrada, de modo que muitos designers ou cineastas novos podem se expressar. Ao mesmo tempo, enche a paisagem de muito lixo. Há algumas coisas interessantes que o YouTube levou à atenção de um público maior, mas, se você pensar na porcentagem de coisas no YouTube que valem a pena em qualquer sentido cultural, verá que ela é minúscula. O trabalho envolvido na criação de um documentário é muito maior do que pensa a maioria das pessoas quando assistem a um programa de meia hora ou a um documentário de uma hora na TV. É preciso muito mais trabalho em termos da edição, do som, da fotografia e tudo o mais.

É preciso tomar essas decisões para cada par de letras que poderia ser formado. É uma coisa capaz de enlouquecer. Alguém como [o britânico] Matthew Carter é mestre nesse assunto. É uma daquelas formas de arte feitas por pessoas completamente invisíveis. É como se elas não quisessem que seu trabalho fosse notado. Querem apenas que as pessoas

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Revista Tipos__Você foi a 90 sessões

de seu filme em todo o mundo, algumas com públicos amplos e outras com platéias formadas por designers gráficos. Quão diferentes foram as reações? Quais eram as perguntas que faziam?

Gary__“Por que fazer um filme sobre

uma fonte tipográfica?” é a pergunta mais freqüente. O que acho da Helvetica, como escolhi os designers que trabalham no filme: essas foram as perguntas feitas com mais freqüência. Mesmo quando mostramos “Helvetica” em festivais de cinema em que o público era formado não por designers, mas por pessoas que simplesmente gostam de documentários, a reação foi a mesma. Uma coisa que descobri foi que os estudantes de design gráfico são exatamente iguais em todos os países -até sua aparência é igual. Eles usam as mesmas roupas. É uma rede verdadeiramente global de designers. Eu me senti como se estivesse mostrando o filme 90 vezes diferentes para o mesmo grupo de pessoas.

Revista Tipos__Uma das coisas di-

vertidas do filme é que ele mostra tantos usos diferentes da Helvetica. Qual é sua favorita? R__No cartaz da Copa do Mundo de Berlim. Estávamos passando de carro, por acaso, olhamos para cima e vimos um sujeito suspenso de cordas a 15 metros de altura, costurando as letras gigantes em Helvetica no cartaz da Copa do Mundo, que devia ter um quarteirão de comprimento. Quase todas as imagens de Helvetica que filmamos em cidades foram encontradas aleatoriamente, por

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puro acaso. A meta era encontrar usos interessantes da fonte ou pessoas inter agindo com ela. A bandeira da Copa do Mundo foi um exemplo perfeito disso. Eu também queria encontrar a Helvetica em letras grandes, e as do cartaz estão entre as maiores que encontramos. “ Eu me senti como se estivesse mostrando o filme 90 vezesdiferentes para o mesmo grupo de pessoas. “ Revista Tipos__O filme discute se a Helvetica pode continuar a ser neutra, depois de ser tão usada.

Gary__É verdade que as fontes tipográfi-

cas vão acumulando bagagem em decorrência de como são usadas. Quando olho para a Helvetica, penso em em American Airlines. Uma das coisas espantosas da Helvetica é que ela vem sendo usada há décadas, inclusive usada em excesso, mas, mesmo assim, ainda a vemos por toda parte. E alguns designers gráficos jovens, muito voltados ao futuro, ainda a usam da mesma maneira como ela era usada nos anos 1960. Não consigo explicar por que, com os milhares de fontes das quais as pessoas dispõem hoje, uma grande porcentagem delas ainda opta por usar a Helvetica.

Revista Tipos__Como você financiou

seu filme? R__Foi financiado por meu próprio dinheiro, meus cartões de crédito, meus amigos e minha família. Uma firma canadense de design chamada Veer entrou como patrocinadora, quanto o projeto já estava perto de ser finalizado. P__Teria custado muito mais fazer o filme 20 anos atrás?


Helvética, a fonte da discórdia

Gary__Provavelmente.

Rodamos 60 horas de filme. Se tivéssemos filmado com película de celulóide, o custo teria sido maior. E o processo de edição custa muito menos hoje. Dá para fazê-lo num sistema Mac sofisticado. A maior despesa ainda é a que se tem com as pessoas -conseguir um bom diretor de fotografia, um bom editor e bons técnicos de som. Isso é algo que não muda. Se você quer fazer um ótimo trabalho, precisa chamar ótimas pessoas.

Revista Tipos__Você já sabe qual será seu próximo projeto? Gary__Os filmes de música com os quais trabalhei, e “Helvetica”, com toda certeza, tratam da criatividade -do processo criativo e também da comunicação. Acho que esses dois temas vão reaparecer em meu próximo filme. Nos últimos cinco a dez anos, percebese uma tendência nas pessoas em acharem que um documentário precisa ser político para valer a pena. Para mim, isso é lamentável. Há esse outro lado do cinema documental que analisa a criatividade e outras questões não ligadas à justiça social ou à guerra, que são igualmente merecedoras de análise. É como se não pudéssemos ter literatura de nãoficção, como se nunca pudéssemos ter romances.

Gary Hustwit é um cineasta e fotógrafo independente com sede em Nova York e Londres. Ele produziu e dirigiu uma série de documentários, incluindo o filme de 2007 Helvetica .

Eu me senti como se estivesse mostrando o filme 90 vezes diferentes para o mesmo grupo de pessoas.

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ATUALMENTE os computadores possibilitam a criação de todo o tipo de documentos, fornecendo um controle sobre os vários detalhes tipográficos de uma forma que apenas estava ao alcance dos tipógrafos profissionais. Nos tempos da composição com caracteres de chumbo, todos os Tipos de letra adquiridos pelas casas impressoras eram acompanhados por detalhadas folhasmodelo, que exibiam exemplos de todas as utilizações possíveis recomendadas pela fundição. O espaço entre letras e palavras, assim como o espaço entre linhas, estava limitado à natureza física dos caracteres em metal, contudo hoje em dia, a tipografia digital está completamente liberta deste tipo de constrangimentos.

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Ao comprarmos um computador, esperamos que ele venha munido de manuais que nos auxiliarão a realizar as várias tarefas e a utilizar o sistema operativo, as aplicações, o rato, a Internet, o scanner, a impressora, o modem, e todos os outros programas e equipamentos informáticos. No entanto, estas publicações nunca nos ajudam a usar um dos maiores recursos que temos à nossa disposição: os Tipos de letra. O intuito deste Guia é “ensinar” a aplicar as Fontes, fornecendo, para tal, uma fácil compreensão dos vários conceitos do domínio da Tipografia, dando conjuntamente uma orientação no processo de escolha dos Tipos e demonstrando como, e onde, estes deverão ser apropriadamente empreguados.


Métodos para uso das fontes de PC

Anatomia do Tipo A ANATOMIA do Tipo engloba dois aspectos fundamentais que regulam e condicionam a forma como nos relacionamos com a Tipografia. O primeiro está relacionado com o aspecto prático e mecânico da sua dimensão física, com os métodos e actividades que estão por detrás da sua criação e com o sistema de medida utilizado. Temos a necessidade de saber a partir de que local medimos uma letra, uma palavra ou uma linha, e que termos deveremos utilizar, para que o nosso programa de paginação faça aquilo que lhe pedimos. O segundo é a forma, a estrutura e o aspecto visual de cada letra. Se formos capazes de nomear cada parte de um caractere e utilizar com facilidade o jargão tipográfico, estaremos aptos a expressar os nossos gostos e opiniões com maior exactidão.

ALTURA DAS MAIÚSCULAS Altura das letras maiúsculas. Geralmente é um pouco menor que a soma da ascendente com a altura-x. ASCENDENTE Parte das letras minúsculas que se ergue acima da linha mediana. DESCENDENTE Parte das letras minúsculas que passa abaixo da linha de base. ALTURA-X Também chamada mediana. Medida que define o tamanho das letras minúsculas. Distância entre o pé e a cabeça da letra x. Esta medida influencia a leiturabilidade de um texto; quanto maior for, maiores serão as letras minúsculas relativamente às maiúsculas e, consequentemente, mais legíveis serão os caracteres. CORPO Expressão utilizada para designar o tamanho das letras, tendo o ponto como unidade de medida. Um alfabeto em corpo 12, por exemplo, tem 12 pontos de altura. O corpo é a soma de quatro medidas: ascendente, altura-x, descendente e espaço de reserva.

ARCO Componente de uma letra minúscula, formada por uma linha mista em forma de bengala que nasce na haste principal. BARRIGA Linha curva de uma letra minúscula ou maiúscula, fechada, ligada à haste vertical principal em dois locais. BRAÇO Traço horizontal ou oblíquo ligado apenas por uma das extremidades à haste vertical principal de uma letra maiúscula ou minúscula. Aos dois braços do T também se chama travessão. CAUDA Apêndice do corpo de algumas letras (g, j, J, K, Q, R) que fica abaixo da linha de base. Nas letras K e R também pode ser chamado de perna. ENLACE O modo como uma haste, linha ou filete se liga a um remate, a uma serifa ou a um terminal: pode ser angular ou curvilíneo. ESPINHA Curva e contracurva estrutu-

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rais da letra S (maiúscula e minúscula). ESPORÃO A projecção por vezes presente na zona inferior das letras b e G. FILETE Haste horizontal ou oblíqua, fechada nas duas extremidades, por duas hastes verticais, oblíquas, ou por linha curva. HASTE Traço principal de uma letra, geralmente vertical, mas que pode tamb ém ser oblíquo. Quando, numa letra minúscula, ultrapassa a altura-x superior ou inferiormente chama-se, respectivamente, ascendente e descendente. OLHO O espaço em branco, fechado e de forma variável, definido pelo contorno interior das linhas retas ou curvas da letra. A maior ou menor abertura do olho, condicionada pela espessura dos traços, determina a maior ou menor legibilidade das letras. ORELHA Apêndice da letra g, que assume as mesmas formas do terminal: em gota, em botão, em bandeira ou em gancho. PÉ Terminal ou serifa horizontal que remata uma perna na parte inferior da letra. PERNA Haste vertical ou oblíqua com uma extremidade livre ou rematada por um pé e outra extremidade ligada ao corpo da letra. SERIFA Também designada por apoio ou patilha. Pequenos segmentos de recta que rematam/ornamentam as hastes de al-

guns Tipos de letra por intermédio de um enlace. Podem ser rectiformes (em forma de cunha), mistiformes (combinando linhas curvas e rectas), filiformes (finas, como fios) ou quadrangulares (ou chamadas egípcias). TERMINAL Forma ou elemento que remata a extremidade da linha curva de uma letra. Pode ser em forma de gota, de botão, de bandeira ou de gancho. VÉRTICE Também chamado ápice. Ângulo ou remate formado pela converg ência de duas hastes oblíquas, ou de uma haste vertical com uma oblíqua. Esse pode ser pontiagudo, oblíquo, plano ou redondo.

Legibilidade e Leiturabilidade* LEGIBILIDADE e leiturabilidade são termos para descrever os Tipos de letra e a maneira como estes são usados. Legibilidade refere-se às decisões que o desenhador de Tipos fez, acerca das formas das letras do alfabeto, e à habilidade que o leitor tem de distinguir as letras umas das outras. Leiturabilidade refere-se ao aspecto geral de como o Tipo de letra é composto numa coluna de texto, e tem em conta factores como o corpo, a entrelinha, a largura da linha, etc. A leiturabilidade é no fundo uma espécie de legibilidade. Enquanto a legibilidade propriamente

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dita, diz respeito a cada letra em particular, a leiturabilidade por outro lado, refere-se a um grupo de letras, sendo, por assim dizer, a legibilidade do texto corrido. Por forma a que um texto seja optimamente lido pelo leitor, temos que ter em consideração tanto a legibilidade como a leiturabilidade. CONSIDERAÇÕES DE LEGIBILIDADE Legibilidade é a facilidade com que um leitor consegue discernir o Tipo numa página, e baseia-se na relação do tom da forma com o


Métodos para uso das fontes de PC fundo e na capacidade de distinguir as letras entre si. Para que possam ser lidas, as letras terão que ser bem identificadas. Estudos provaram que o olho viaja através da linha de texto em saltos sacádicos. O olho vê um pequeno grupo de palavras durante aproximadamente 1/4 de segundo, antes de passar para o grupo seguinte e assim sucessivamente. Está provado que os leitores retêm mais a sua atenção na metade superior das letras, em vez da inferior. De modo a serem legíveis, os Tipos de letra não podem ter uma altura-x muito pequena, pois assim será difícil de discernir as letras. Da mesma forma, se as hastes ascendentes e descendentes forem muito curtas, tornase difícil diferenciar um n de um h, um o de um p ou q. Nos tipos caligráficos, muitas vezes o I e o T são difíceis de

permite o rápido reconhecimento das letras. Assim, se for necessária a utilização de um corpo mais pequeno devido, por exemplo, a restrições de espaço, deverá ser escolhido um Tipo condensado, que tenha uma grande altura-x.

distinguir; por vezes o S e o J são facilmente confundidos. A legibilidade de alguns Tipos Extra-texto (pág. 75) é tão pobre, que nunca deverão ser utilizados em texto corrido. Alguns Tipos de letra são mais legíveis do que outros. Pesquisas revelaram que Tipos com patilhas são mais fáceis de ler do que os que não as têm. Para que os detalhes de turabilidade possam ser analizados, um texto terá de ser primeiramente composto num Tipo de letra legível. Os corpos de letra mais legíveis são 8, 9, 10 e 11 pontos (ver pág. 54-59 e 70-74 onde, apesar de todos os textos estarem compostos em corpo 9, se verifica que uns se lêem melhor que outros). A legibilidade depende sobretudo da altura-x do Tipo de letra escolhido. Se o Tipo escolhido tem uma grande altura-x o corpo deverá variar entre 8 e 10 pontos. De forma oposta, se o Tipo escolhido tem uma altura-x pequena, o corpo a usar deverá estar entre 10 e 11 pontos. Um corpo menor do que 8 pontos não será fácil de ler pois não

tendência a cair através do espaço entre as palavras das linhas seguintes. As variantes negra (bold) e extra-negra (heavy) requerem por vezes mais entrelinha e espaço entre palavras do que a regular. Como regra geral, poderemos dizer que de forma a maximizar a facilidade de leitura do texto corrido se usa geralmente dois a quatro pontos de entrelinha para além do corpo do texto.

ENTRELINHAMENTO, COMPORTAMENTO DA LINHA E LEITURABILIDADE O terceiro elemento que terá de estar em harmonia com o espacejamento entre letras e entre palavras, é o espaço entre linhas, ou ntrelinhamento. O valor da entrelinha pode aumentar ou diminuir a leiturabilidade. Estudos mostraram que o aumento da entrelinha melhora a legibilidade. O espaço entre as linhas nunca deve ser menor do que o espaço entre as palavras, porque se tal acontecer, o olho do leitor tem

Legibilidade é a facilidade com que um leitor consegue discernir o Tipo numa página

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Resguardar a tipografia é preservar o conhecimento Por Tânia Galluzzi

linguagem dos tipos de metal e de madeira e onde aconteciam workshops abertos aos Nascido em 1957, aos 10 anos Claudio interessados em conhecer essa técnica. Em Rocha desenhava letras. Na escola era ele 2005, a Oficina transformou-se em uma o responsável pela diagramação do jornal organização não governamental, sendo do grupo de teatro e aos 17 já diagramava transferida posteriormente para a Escola as revistas e materiais impressos do Idort. Senai Theobaldo De Nigris, com a qual Ele estava na lida muito antes de surgir a mantém um convênio com a missão de denominação designergráfico, à qual deu preservar a cultura gráfica no País. corpo e importância com seu conhecimento Hoje Claudio Rocha, autor de livros técnico e criatividade. Artista gráfico como Projeto Tipográfico Análise e completo e grande conhecedor de tipos, Produção de Fontes Digitais e Tipografia Claudio Rocha atuou como catalisador Comparada: 108 Fontes Clássicas para a primeira geração de typedesigners Analisadas e Comentadas, divide-se entre a brasileiros em meados da década de 90 rotina da Oficina Tipográfica, as aulas que com iniciativas como a revista Última ministra como professor de Tipografia e Forma Typography, em 1997. Publicação projetos pessoais. independente, reunia pessoas que tinham Nesta entrevista, ele fala sobre a alguma relação com a criação e o desenho validade da tipografia como processo de de letras, como Rubens Matuck, Guto impressão na atualidade e a possibilidade Lacaz, Arnaldo Antunes, Tide Hellmeister de combiná- la com as novas tecnologias. e Eduardo Bacigalupo, figurando como um dos primeiros meios de divulgação da tipografia brasileira na comunidade internacional do design. Mergulhado na escassa literatura sobre o tema, Claudio, entre idas e vindas como freelancer e profissional contratado (foi diretor de criação na Seragini Design), virou designer gráfico especializado no segmento editorial. Ou melhor: tradutor visual, nas suas próprias palavras, uma vez que sua função é entender uma necessidade mercadológica e materializá-la em uma peça gráfica. Da semente atirada pela Última Forma nasceu, em 2000, a revista Tupigrafia, trazendo um olhar instigante e sensível sobre as manifestações contemporâneas sobre a tipografia no Brasil e no mundo, idealizada em parceria com Tony De Marco. No período que morou na Itália, entre 2007 e 2009, Claudio lançou a revista Tipoitalia, além de colaborar com museus, promover workshopse dar palestras. Antes disso, em 2004, criou, ao lado de Claudio Ferlauto e Marcos Mello, a Oficina Tipográfica São Paulo com o ideal de recuperar a linguagem peculiar do sistema de impressão tipográfica e inserir esse meio de comunicação como um recurso de estilo dentro do universo digital. Agregando Cláudio Rocha: um dos principais tipógrafos ateliê de composição manual e impressão brasileiros tipográfica, a oficina posicionou-se como um laboratório no qual se experimentava a

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Entrevista Cáudio Rocha

Claudio Rocha responde :

Revista Tipos: Qual o papel da tipografia hoje?

a Cosac Naify, utilizam a tipografia na impressão da capa de seus livros como um Claudio Rocha – A tipografia recurso de estilo, buscando é uma tecnologia superada a linguagem visual própria há duas gerações. Foi desse sistema. substituída pelo processo offset e agora pela RT: Ainda há gráficas impressão digital. Só que os produzindo impressos em parâmetros da tipografia, tipografia no Brasil? seus princípios, foram preservados. Resguardar CR – O uso é marginal. a tipografia é preservar A tipografia teve uma o conhecimento. Nosso sobrevida com a impressão objetivo é cultural, didático. de taloná-rios, hot stamping Quem cria ou produz e para numeração de peças em tipografia tem a impressos. No interior e nas periferias ainda se faz envelopes e cartões de visita em tipografia, mas muitas impressoras estão sendo transformadas e utilizadas para corte e vinco. O uso comercial é bem restrito, mesmo porque muitos profissionais que possuíam o oportunidade de desenvolver conhecimento dessa técnica o raciocínio visual, deve já se aposentaram. trabalhar com os aspectos físicos do grafismo e não RT:É possível unir a grafismo, lidar com os impressão tipográfica e espaços vazios, experiências a digital? que a computação gráfica não possibilita. Na CR – Um recurso é tirar tipografia, o designer e o uma prova de prelo de gráfico se complementam uma composição com tipos e o conhecimento da de metal ou de madeira técnica amplia a bagagem e também de um clichê profissional de quem se tipográfico e transformá-los dedica a ela. Por suas em arquivo digital através do características, a tipografia seu escaneamento. Fizemos permite efeitos únicos que isso recentemente aqui na o gráfico pode explorar. Oficina Tipográfica para Algumas editoras, como a programação visual de uma exposição, compondo

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palavras com tipos de madeira, digitalizando as provas desse material e gerando arquivos digitais para impressão em offset. O inverso também é possível. Elaborar um projeto no computador, produzir um fotolito e a partir deste fazer um clichê para impressão em tipografia. O que determina é a linguagem que se pretende para o projeto, a proposta do trabalho.

Manual, no qual o Marcos Mello apresenta o sistema e a linguagem da composição com tipos móveis e da impressão tipográfica como recurso formal no design gráfico; Gravura Tipográfica, sob minha direção, onde exercitamos as possibilidades da linguagem tipográfica na produção de cartazes; e Técnicas de Encadernação para Designers, também conduzido pelo Marcos. RT: Você citou uma editora Também pretendemos que utiliza a tipografia em nos concentrar na seus produtos. Como está a experimentação e na busca procura pela tipografia como da excelência técnica, um recurso vi¬sual? materializando produtos gráficos e editoriais da CR – Nesse aspecto, o própria Oficina. A OTSP não processo tipográfico é tem fins lucrativos. Vivemos bastante valorizado. Existem de apoios e dos produtos oficinas tipográficas com que desenvolvemos. uma nova proposta surgindo Pretendemos aproveitar a em São Paulo, em Goiânia, vocação editorial da Oficina em Belo Horizonte e outras para dar corpo a projetos cidades. A tipografia virou com caráter cultural. um nicho de mercado e vem sendo utilizada, tanto no Brasil quanto em países como a Itália, na produção de livros, cartazes, convites, em peças com pequenas tiragens, em projetos culturais. Há mercado, porém limitado. RT :Quais são os planos da Oficina Tipográfica para este ano? CR – Estamos dando continuidade à catalogação do acervo da Oficina e da Escola Senai. No ano passado recebemos doações importantes, como a do Sesc Pompeia, que repassou para a Oficina uma grande quantidade de tipos históricos. Estamos reorganizando todo esse material. Na área didática vamos manter os mesmos cursos que já estávamos oferecendo: Composição

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