A COR DA POESIA DE JB. FARIAS
A POESIA É A ESSÊNCIA QUE AROMATIZA OS SENTIMENTOS E AS EMOÇÕES SENTIDAS
NOTA DO AUTOR
CONVIDO-OS, PARA UMA VIAGEM DE SONHOS, FANTASIAS E REALIDADE VIVIDA. UMA AVENTURA POÉTICA SENTIDA, CUJA PRETENSÃO DESMEDIDA, SERIA LEVAR, AMOR, ALEGRIA E PAZ. MAS, DESNUDOU-SE, EM MEUS VERSOS, UMA ALMA CALMA E SOFRIDA, EM VIRTUDE DOS DESLIZES DESTA VIDA. LAMENTO E CONFESSO, SINTO A ALMA DESERTA! SOU ALEGRE, SOU TRISTE, SOU POETA!
O
POETA, É UM SONHADOR, O ATOR, UM SIMULADOR, ESCREVE SOBRE A VIDA, SENTINDO NA ALMA A DOR, IMAGINA A FLOR, SEM AROMA E COR, A VIDA SEM ALERIA, E O CORAÇÃO SEM AMOR.
A POESIA É UMA ARTE ANTIGA, QUE SOBREVIVE AO MUNDO CONTEMPORÂNEO!
CRÔNICA DA VIDA Como a vida é dura E ao mesmo tempo, engraçada. A meu ver, é um circo sem lona, Que exibe suas atrações na própria grama. Um palco de sonhos, onde tudo acontece, Um picadeiro popular, onde atuamos, Como astros principais, ou Marionetes especiais, Manipulado por uma linha, De cunho divinal.
O TEMPO
O tempo, dá Tempo ao Tempo, Que faz o tempo passar. Tempo Passado e Tempo Presente, Tempo para sorrir e Tempo para chorar. O Futuro é o Tempo ausente, Espaço que procuramos buscar. Lamento apenas que o homem, O Tempo perdendo está. O Tempo não tem começo, Não tem meio e não tem fim. Não sendo o dono do Tempo, Faça o seu Tempo por mim.
O Tempo É pura Matemática! Onde O contabilista É Deus!
MENSAGEM
A mão Que afasta o véu, Revelando o céu, Ilumina a sombra Que vive em mim. A mão Que se faz perfeita, Toca meu corpo culpado, Perdoando meus pecados, A alma que se faz eleita
SONHO AZUL
Quero sonhar com a vida, Um pouco mais colorida. Que a luz do sol, não seja tímida, Que ganhe a fresta, e seja atrevida, Que acabe com a escuridão contida. Quero sonha com a vida, Sentir o pecado da comida. Trazer na taça, a mais pura bebida, Ter ao lado a mulher querida, Que me serve, sendo servida. Quero sonhar com a vida, Nas ondas frescas do mar, Areias trazidas. Praias desertas, paixões recolhidas, Pernas ocultas, visões traídas, Barcos à bela, tendas caídas, Suor nos restos, missão cumprida. Quero sonhar com a vida, Pesadelos ausentes, Febres esquecidas.
Amor eloquente, cordas roídas, Mãos pecadoras, almas sofridas, Perdão divino, consciências arrependidas, O adoçar dos frutos, Vidas eternas sentidas.
"Se a vida é um sonho, Quando morremos, Estamos apenas acordando! Para a vida!"
O PASSAGEIRO DA ILUSÃO Olhei para o céu, com a visão úmida, E vi a lua, solitária e nua, Como a minha vida, vazia e sem brilho. Cansado de garimpar, estrelas na imensidão, Caminhei para minha cela, a minha cativa prisão. onde, A solidão tomou conta da noite, E a insônia vil, me fez velar, Até o dia clarear. Enfim i doa amanheceu! Amanheceu nublado e feio! E eu, sem aurora, lastimei, A visita que não veio. E assim, escravo da saudade, E vítima da nostalgia, eu via! Eu via passar o trem, Com o nome de metrô, Estação Carandiru, a visão que me consolou! Fechei os olhos, E viajei com o futuro! Pensei! Sou um passageiro da Ilusão, Viajando no tempo, Sobre as brumas da imaginação.
E, viajando mentalmente, Segui sempre em frente, Passando pela Estação da Luz, Velha e tão carente.
Até chegar a Praça da Sé, Antigo recanto dos lamentos, Onde ainda pivete, Banhei-me, em suas águas, E perdi a noção do tempo.
Porém sem assas para voar, A arte de fantasiar, Elevou-me no ar, sem vento. "Pico de Jaraguá" A visão que me fez sonhar, Em razão de minha vertigem. Do alto daquele pico, Avistei o morro, que o verde estampa, Nesta selva de pedra, que é Sampa. Divina à noite, de dia suprema, Uma grande claridade, acolhedora e amena, Capital do nordeste tornou se pequena. Enfim após sonhar acordado, Nagando por esta imensa cidade, Rendi-me a razão, e voltei à realidade. Hoje, porém,
Livre daquele cárcere, Sinto-me, como um pássaro, Que viveu anos afora, Enfeitando uma pequena gaiola. E quando solto, Exibiu um voo leve e torto, Indo pousar na latrina de outro lugar. Porém, Entre lamentos, delírios e nostalgia, Vou vivendo os meus dias, Na certeza de uma falsa ideologia. Porque, Tudo que me envolve é falso! As minhas paixões e meus sentimentos, Meus vícios e meus sonhos, A minha inocência sentida. Enfim, A minha própria vida.
ESTAÇÕES
Como viajante do tempo, Eu quero desembarcar, Na estação primavera. E viver o intenso prazer, Do verão que sempre cessa. A estação que termina, Quando o inverno recomeça. De repente tudo tão claro, Como a magia de um sol soberano, Foi assim que percebi, Que se fazia outono.
VIGILIA
Parado de vigília, Contemplo o firmamento. Onde, estrelas derramam Esplendores fulgores. São tão puros, que iluminam infinitos. Mas sinto! Não dizer o mesmo das flores, e da essência que se consome. Pois, a meu ver, tudo se divide, Quando tocado pelo homem.
PÁSSARO Queria ser um pássaro, que encontrasse apenas A felicidade no voar, Sem nunca precisar de um ninho, Que o fizesse parar no meio, Deste longo caminho Um pássaro, que ao bater suas asas, Na imensidão uniu, desse a impressão, Que estaria batendo palmas. Para o amor, para a paixão, E para todas as provas, Até mesmo, para a unificação. De todas as almas. Queria ser um pássaro livre, Que voasse por cima de todos os mares. E com seu bico Rasgasse todo esse véu, Que o impede de voar, Bem mais próximo do céu.
ORQUIDEAS
O majestoso rio, escorria lentamente, Margeando a vasta colina. Suas águas frescas, correntes e cristalinas, Banhavam suavemente, uma velha árvore, Que no tempo fenecia. Seu envelhecido tronco, Fora enlaçado por violáceas, Num ato de afeição e compaixão desmedida. Magníficas orquídeas, Flores risonhas e nativas, De um fascínio profundo De beleza percebida. Na realidade são flores superiores, Que trazem sua pureza oculta Em seu próprio veludo. Um veludo de seda colorida, Uma visão, jamais esquecida. Hoje, porém, Pronto as deixar este mundo, De sonhos, fantasias e mistérios profundos. Trago no peito um só lamento, A ausência da singela flor, No meu eterno silêncio Mas, quando chegar a primavera,
E na sua essência floral, Eu não estiver mais aqui. Ficarei feliz em saber, Que as orquídeas, Não precisam de mim, E voltarão a florescer.
O SINO
O sino da matriz, soa suave e lento. Vibrando em meu coração, Repleto de sentimentos. Sua pancada oscila, No céu aberto do tempo, Vibrando em minha mente, Repleta de sofrimentos. O seu badalar é tão triste, São pancadas repetidas, Anunciando a viuvez Desta pobre e louca vida
A AURORA BOREAL A antiga Aurora, Desperta o brilhante sol, Que se abre sem demora. É um sol tirano que peca, Quando o verde e a água seca. É um sol soberano que cria, Mas morre todos os dias. Rendendo-se, à magia da noite, Numa transição crepuscular de luzes coloridas, Que dança no céu distante. São fulgores De diferentes formas e cores. Uma visão exuberante, Da eterna e celestial, Aurora Boreal
MIRAGEM
Na doce ilusĂŁo serena, Da simples miragem que encanta. Vejo uma paisagem seca, Ilustrando o deserto imenso. Um oĂĄsis que mente, Aos olhos cansados e descontentes.
ÁRVORE Na mansa colina, Onde a floresta se adensa, Cravo minhas raízes no cio da terra, E me apresento ao mundo imenso. Sou vida desde o princípio, Ainda antes fui tronco, Sou suave, mansa, não ronco! Sou verde, sou velha, Sou grande, porém sensível, O vento mais faz dengosa, A chuva me faz possível. Sou grossa, de casca fina, Sou doce, amarga é a sina, Fogo em cena me faz morena, Romperam-se, as cortinas. Sou árvore que chora, Um soluço em cada galho. Uma lágrima de lamento, Se cada pelo uivante vento. Sou planta que o homem arranca E o verde a vida furta, E num descanso absoluto, Agride e releva o meu luto. Só me resta agora, A mudez vegetal, que fica, De uma paisagem que morre, A realidade que ninguém socorre.
VIDA VAZIA Nas almedas da vida Em um bar sem nome, Garrafas cheias ficaram vazias, O vicio que me consome. Nos delírios de um poeta mendigo, Narro em meus versos, Meus sonhos etílicos. Porque a vida é curta, A face é calma e a alma É divina. O vicio é a minha sina, Uma fuga ilusória, Um alento triste Que me consola. Sinto febres, calafrios, Fumo a vida, tenho recaídas, Sou um carro sem freios, Numa estrada sem saída. E, na esquina da melancolia, Eu me encosto e descanso, Tendo a ressaca como rotina, E a calçada como remanso. Diante desta falsa ilusão, Tomei uma saudável decisão. Deixei de ser um violão, Do meu próprio coração
TEMPORAL Oh, céu, não mais o vejo, Só as escuras nuvens à cobri-lo, Ouço então, a voz rouca do trovão, Romper o vasto silêncio. E, a mercê da ira do tempo, Ouço a chuva medonha e lenta Que no telhado se arrebenta. E, eu, aqui ilhado, Refém do meu medo, Das minhas fantasias E de minhas memórias. O rancho é de palafita, A água já toca o assoalho, O medo aumenta, Tento relaxar, não consigo!
ENAMORADOS Sob o céu suave, Das estrelas que, Brilham e encantam. Namoramos ao luar. Eu, e minha doce amada, A minha eterna namorada. Os seus olhos claros, De esmeraldas cintilantes, Ofuscam o brilho intenso Do mais puro diamante. E no brilho deste olhar, Apaixonado e apaixonante. Vejo a face clara da lua, Se ocultar na vaga sombra Das nuvens importunas. Numa perfeição clara e precisa, Que sinto! Talvez, a serena lua, Ao refletir tanta beleza. Desta flor de candura, Sentiu-se inibida, Diante de tamanha formosura
A SERPENTE
As cores do arco-Ăris Na serpente se assente, Tornado-a, sem igual, A colorida cobra coral. A serpente peçoenta Crava sua presa sem clemĂŞncia, Destilando seu veneno como fel, Que na boca cessa o mel. A face que sorria A cegueira principia, O sangue pulsando forte, A dor que se anuncia. O veneno age em instante, A febre se faz agonia, O tempo se mostra lento, A morte que se avizinha.
“A MORTE, É UMA REALIDADE, QUE TRANSFORMA A VIDA, EM DESTINO!”
PRIMAVERA Há muito tempo, Não sei quando nasci. Não sei se branca ou amarela, Até verde aconteci. Meu tamanho nem me lembro, Só sei que sou assim: Sou meiga para abelhas, Suave ao beija-flor, Tenho cheiro, aroma e odor. Pássaros me transportaram, Abelhas me deram prazer, Casulos levaram-me a ver, As asas da borboleta. Á noite não sei quem sou, Nem nome me lembro ter, Às vezes em vulto passa, E a lua me deixa ver. Que delicia a madrugada, Acordo um tanto inibida, Me estico de baixo em cima, Fico úmida, atrevida, Sensual faço rima. Vem o sol todo pomposo, Dono da situação, Me estraçalha e me faz fruta,
Me faz ganhar o chão. Mas, Sendo flor em primavera, Meu deus, adeus de verdade, Outro mundo me espera. Mas, que tolice, Sou eterna!
“Semear O solo fértil do Futuro, Para que, Nossos jovens, Colham seus frutos. É a certeza da conquista, “De um sucesso absoluto.”
RECORDAÇÕES Ainda vejo o velho casebre, Envelhecido pelo tempo, Desgastado pela chuva E ameaçado pelo vento. Era uma simples cabana, De équena sala e rústica cozinha. Um armário sem portas, De madeira crua, uma mesa nua. Um fogão de lenha, Uma cama fria, Um rádio sem pilhas, Uma taça vazia. Música ausente, Presente nostalgia, O marasmo que circulava, No passar do dia a dia. Puxando pela memória, Recordo-me, de outrora. Da visão saudosa e bela, Da doce figura materna, Debruçada na janela. Sentado no banco ao lado, Meu saudoso pai, Pitava seu enrolado cigarro. Tomei assento a seu lado,
E passamos a falar, do gado magro, Que pastava no serrado. Mas, Este tempo, também passou! Ficando só na memória, O crepúsculo que o céu desdobrou. A unesperada morte paterna, Uma vida, Que eu pensava ser eterna. Por isso, sinto! Quando a sombra da morte, Tocar meu corpo cansado, E minha alma me deixar aqui, Que me velem nu! Em minha lápide, uma única frase: “vou! Mas sob protesto!” Uma eterna verdade!
TALVEZ Quando a paixão acabou E você me deixou de vez, Sequestrou a minha alma E a minha lucidez. Outrora fui talvez, Amado, amante, cortês. Hoje, Sou saudade, Com perfil de outro ser. Buscando no campo abandonado, O sentido que ficou no passado, A lucidez.
DOR Em cada curva do rosto O tempo que se revela, A solidão que se anuncia, A falta que sinto dela. A nostalgia que principia, Com cicatriz ou sequela, A dor que se anuncia, A falta que sinto dela. Desnudado pela dor, Que o vasto silêncio impera, Tento suportar p impossível, A falta que sinto dela. Tudo retorna ao início, Quando sonho com face tão bela, A dor que se renova, A falta que sinto dela.
OS DELÍRIOS DA PAIXÃO
A paixão delirante É um barco à vela, Que navega livre e solto, Pelas Ondas do mar revolto. Levando ilusões forte vento Das ilusões volúveis, A migrar De um coração para outro, Desgovernado e sem porto.
PÁSSARO URBANO Assim que o vi Já fiquei deslumbrado, Pássaro danado. Que traz no bico, O fino do lixo, Para montar seu ninho, Ninho de passarinho Angustiado pela dor, Da solidão urbana, Solita um soluço magoado, Em forma de pranto. Rompendo o vasto silêncio, Com seu lastimoso canto. Cansada, isolado e mudo, Tendo seu ninho como refúgio, Vê o bando se afastar. São almas leves Que ganham o ar, Colorindo o céu de magia, Na suavidade do seu cantar. Voam sem fronteiras, Com as penas ao vento. Tendo o céu como remando, E o mar como sustento.
São asas em fuga Migrando na imensidão. Tendo o sol como guia, E as nuvens como atração. E o pássaro, Continuava lá! Velho pássaro danado.
COTIA Cidade calma, acolhedora e amena, Onde a paz é constante E a demanda é pequena. Cercada por verdes matas, Por morros e grandes montes, Por águas cristalinas, Por cachoeiras e suas fontes. Cotia, um paraíso ecológico De magnífica beleza. Povoada por gente capaz, Que desperta na madrugada fugaz, Antes do cair da aurora, A claridade que o dia traz.
A flor, o amor, E o Beija-flor
A Flor! Com seu perfume aveludado, Traz, seu encanto sagrado, Agraciado pelo sopro do amor divino. Suas pétalas douradas, Banhadas por uma chuva De belas purpurinas. Dentre as quais, Na variedade de suas cores, Voa, o pequeno colibri. O sensível Beija-Flor, Vence a lei da gravidade E suavemente para no ar. E, com a leveza da seda, Pousa sobre a rosa Que se deixa beijar. E num ato de afeição sentida, O pequeno colibri, suga da singela flor, A seiva que poliniza. Mas, nem tudo, são felizes flores! Pois, o cravo murchou, com dor de amor, Pela sensível rosa, que tão desabrochou. Cego de sonhos,
Desiludido e de coração partido, O cravo desabafou-se, com o amigo girassol, Que o consolou. Exibindo-lhe, pétalas roxas, De perdidas paixões no tempo, Da terra ao vento, Nos vagos delírios de suaves pensamentos. Porém, Escravos da ternura e vitimas da via ferida, Ambos se renderam aos encantos De gardênia e margarida.
Pai
Esse seu jeito esquisito Sisudo e absoluto de ser, Me faz lembrar a infância Desejoso de crescer. Às vezes indiferente, Outras vezes cativante, Inspira-me, em seu caminho, De homem bom e errante. Desejos de perfeição, Algumas vezes parado E outras cheio de ação, Vejo-o, contrariado, Será preocupação? Falta dinheiro e trabalho, Saúde talvez. Num bate papo em atalho, Falta carinho e atenção, Estamos na conta mão. Não se aborreça comigo, Se o maltrato como amigo, Mas como filho contigo, Seguirei aos seus passos
E imitarei os seus atos. Com dinheiro ou não, Ressentimentos talvez, Receba este coração, De um filho, Que agora é pai.
Quem Sou?
Perdão senhor, Não sei quem sou! Se cristão ou insensato, Se fiel ou sedutor. Não sei se sou branco, Negro ou mulato, Ou um mero sonhador. Gostaria de ser gente, Mas, não sei se sou. Gostaria de ter amigos de fato, Mas meus supostos amigos, Me consideram um chato. Onde fui parar senhor? O que houve com minha dignidade? Que fim levou meu caráter? Adormeci! Gostaria de acordar para o mundo, Clamar coerência, Falar o que se pensa e agir como se fala. Mas, como agir assim, senhor, Se não sei quem sou! Nem sei o que facão aqui! Se fumo, se bebo ou se caço, Sem fazer mal algum, só a mim.
Gostaria de me reencontrar, Crescer, realizar e servir. Mas, como agir assim, senhor, Se não sei quem sou? Será que vou ter de continuar A fazer tudo ás escondidas? De desconversar o que falei, De justificar o que nem sei? Será que estou me tornando um crítico? Ou melhor senhor, será que é porque, Sou apenas um político? Quem sou?
A COR DO PRECONCEITO Negritude! Luz negra, Que Luzia no tempo. Como a negra Luzia, Que eu tanto queria! Com seu corpo garboso De gazela do serrado, De pele macia, da cor do pecado. Trazia em seus cabelos, Uma rosa vermelha, Da cor dos seus lábios. Não podia ir ao baile, Pois sinhá não permitia! Temia que sua beleza, Conquistasse cortesias. Mas no ritmo do som, Vindo do vasto casarão, Ela dançava consigo mesma. Deslizando graciosamente, Pelo amplo terreiro, Levando até coronéis ao desespero. Mas, hoje em dia, Nem escravidão, nem liberdade, Nem euforia!
Só a certeza, de uma falsa. Ideologia! E, a recordação lúgubre, De uma senzala fria. Do açoite do chicote, Do sangue que escorria. Do grito rompendo o silêncio, A súplica, que não se ouvia. Hoje, porém, Vítima da aversão E do preconceito concebido, Ela apela ao mundo imenso, Pela verdadeira extinção do racismo. E, vive no presente, O sonho da conquista, De um futuro livre e diferente.
UNIVERSO: TEMIDO POR SER DESCONHECIDO! O HOMEM: TEMIDO POR SER CONHECIDO!
O EREMITA Parado no tempo lento, Rôgo ao uivante vento, Que traga a minha amada, Para dividir comigo, Este imenso paraíso. Em véspera de nada, E sem data para comemorar. Trago no peito cansado, Um coração cheio de mágoas, Cercado por todos os lados, Pelas águas do mar revolto, Salgado por minhas lágrimas.
SINA O generoso sol de verão, Toca a minha face E aquece o meu coração. Este brilho que fascina, Ilumina a minha alma E o zero em minha retina. A cegueira é minha sina, Uma provação de nascença, A realidade que se dispensa. Vingar-me, ei, da desesperança, A claridade que se avizinha, A cura que se alcança.
SONHAR NO MAR Fecho os olhos E ouço o mar. O voo da gaivota, A brisa leve A me tocar. Fecho os olhos E ouço o mar A maré que vaza Cobrindo o cais, No silêncio vago, Que o vento traz. Fecho os olhos E ouço o mar Um barco que chega Trazendo a paz, Na densa bruma Que o tempo faz. Fecho os olhos E ouço o mar. Um sonho que se revela! É ela, a bela, Que vai voltar! Fecho os olhos e ouço o mar
É NO MORRER DOS POETAS, QUE NASCEM AS MAIS VIVAS POESIAS!
ESPELHO No reflexo Do espelho convexo, Uma eterna desilusão. Uma face clara Que brilha em pranto, Diante do seu misterioso encanto. As marcas do tempo, Estampadas em minha alma, Vagueia em seu brilho, claro e precioso, Em busca, do meu próprio sorriso.
MAR MAR QUE DEVASTA A TERRA, QUE LEVA NOSSAS CINZAS E AS DESINTEGRAM TÃO LONGE! CONFORTAI A MINHA ALMA SENSÍVEL.... AO EXORCISMO DE SUAS ÁGUAS, ONDE A FORÇA NÃO IMPERA, AO AZUL DO SEU OCULTISMO!
RIO TIETÊ Vagando em vão, Ocupei o vagão dos meus sonhos E deslizei sobre os trilhos Das minhas ilusões. Até chegar às margens do rio Tietê. Ao ver tanta sujeira chorei! Minhas lágrimas caíram em seu leito, Que já não é mais tão corrente. Suas águas densas, turvas e barrentas, Deslizam vagarosamente Por esta imensa cidade. Quanto mais se afasta Desta babilônia poluída, Mas limpo fica! Tornando-se, até, cristalino. Após cumprir esta divina Transição, Ele se junta à magia do mar! A visão é contagiante! Eu vejo voltar a vida, Um corpo frio, Que não queria morrer! Como o meu! Minha alma subiu ao ar, O ar estava carregado,
Como um rio a transbordar. E, eu, Só queria ficar neste mundo, De dor e prazer, Céu e inferno na própria terra. Assim, Como as barreiras do céu, São superadas pelas boas almas, As do inferno, são visões atrativas. E, a minha alma, não superou barreiras, E tampouco se rendeu ao mal. Razão pela qual, Sempre me lembrarei do velho e sujo rio, Buscando e se entregando a uma nova vida. Caminho que percorremos juntos.