Prêmio Sesc de Literatura

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CATÁLOGO


Paraty é uma cidade que respira Literatura. Que tal passar três meses na cidade escrevendo seu livro e participando das programações do Centro Cultural Sesc Paraty?

Para saber mais detalhes, confira o edital em

www.sesc.com.br/premiosesc


CATÁLOGO


Sesc | Serviço Social do Comércio Presidência do Conselho Nacional Antonio Oliveira Santos Departamento Nacional Direção-Geral Maron Emile Abi-Abib Coordenadoria de Educação e Cultura Nivaldo da Costa Pereira Conteúdo Gerência de Cultura Gerente Marcia Costa Rodrigues Assessoria de Literatura Flavia Tebaldi Frederico Girauta Henrique Rodrigues Curadoria de Textos Henrique Rodrigues

Produção editorial Assessoria de Comunicação Direção Pedro Hammerschmidt Capeto Supervisão editorial e edição Fernanda Silveira Projeto gráfico Ana Cristina Pereira (Hannah23) Editoração Studio Creamcrackers Revisão de texto Elaine Bayma Fotos Flavio Pereira Produção gráfica Celso Mendonça Estagiários Diogo Franca (produção editorial) Wellisson Souza (design gráfico)

Prêmio Sesc de Literatura : catálogo / Sesc, Departamento Nacional - Ano 1, n. 1 (2014)- . – Rio de Janeiro : Sesc, Departamento Nacional, 2014- . v.; 25 cm. Anual. ISSN 2358-159X 1. Prêmio Sesc de Literatura – Catálogos. 2. Prêmios literários – Brasil. I. Sesc. Departamento Nacional. CDD B869.3

©Sesc Departamento Nacional Av. Ayrton Senna, 5.555 — Jacarepaguá Rio de Janeiro — RJ CEP 22775-004 Tel.: (21) 2136-5555 www.sesc.com.br Impresso em julho de 2014. Distribuição gratuita.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610 de 19/2/1998. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem autorização prévia por escrito do Departamento Nacional do Sesc, sejam quais forem os meios e mídias empregados: eletrônicos, impressos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.


CATÁLOGO ANO 1 | N. 1 | 2014 ISSN: 2358-159X

Sesc | Serviço Social do Comércio Departamento Nacional Rio de Janeiro 2014


Criado e administrado há mais de 60 anos por representantes do empresariado do comércio de bens e serviços e destinado à clientela comerciária e a seus dependentes, o Sesc vem cumprindo com êxito seu papel como articulador do desenvolvimento e do bemestar social ao oferecer uma gama de atividades a um público amplo, no esforço que conjuga empresários e trabalhadores em prol do progresso nacional. Dentre suas diversificadas áreas de atuação, a cultura se caracteriza como disseminador democrático de conhecimento, importante ferramenta para a educação e a transformação da sociedade, levada ao público de grandes e pequenas cidades por meio da itinerância de espetáculos, exposições, mostras e premiações. Ao possibilitar o livre acesso aos movimentos culturais, seja na literatura, como também nas artes plásticas, no teatro, no cinema ou na música, o Sesc incentiva a produção artística, investindo em conteúdo e estrutura para apresentações e exposições, mas, acima de tudo, promovendo a formação e qualificação do público que habita os quatro cantos do Brasil. A credibilidade alcançada pelo Sesc nesse âmbito faz da entidade referência nacional, o que revela a reciprocidade entre suas ações e políticas e as atuais necessidades da clientela. Antonio Oliveira Santos Presidente do Conselho Nacional do Sesc


O Sesc é uma entidade de prestação de serviços de caráter socioeducativo que promove o bem-estar dentro das áreas de Saúde, Cultura, Educação e Lazer, com o objetivo de contribuir para a melhoria das condições de vida da sua clientela e facilitar seu aprimoramento cultural e profissional. No campo da cultura, a atuação do Sesc acontece no estímulo à produção cultural, na amplitude do conhecimento e no fortalecimento de sua identidade nacional, condições essenciais ao desenvolvimento de um país. Nesse cenário, o Prêmio Sesc de Literatura revela talentos nas categorias Conto e Romance e promove a literatura nacional desde 2003. O concurso divulga escritores inéditos, cujas obras apresentem qualidade literária para circular em todo o Brasil. Além de incluir os autores em nossa programação literária, como nas atividades da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), o Prêmio também abre as portas do mercado editorial aos novos autores: os livros vencedores são publicados pela editora Record e distribuídos para toda a rede de bibliotecas e salas de leitura da entidade. O Prêmio Sesc de Literatura viabiliza a proposta do Sesc dentro da ação programática de cultura ao se constituir como uma ferramenta de enriquecimento intelectual dos indivíduos, propiciando-lhes uma consciência mais abrangente e aberta a meios mais estimulantes e educativos de aquisição da cultura. Maron Emile Abi-Abib Diretor-Geral do Departamento Nacional do Sesc


SUMÁRIO

8 APRESENTAÇÃO 10 VENCEDORES DO PRÊMIO Marco Aurélio Cremasco Eugenia Zerbini André de Leones Lúcia Bettencourt Wesley Peres Nereu Afonso Sérgio Guimarães Maurício de Almeida Marcio Leite Sergio Leo Gabriela Guimarães Gazzinelli Sergio Tavares Arthur Cecim Rafael Gallo Luisa Geisler Marcos Peres João Paulo Vereza Alexandre Marques Rodrigues Débora Ferraz

30 COM A PALAVRA

A vez e a voz dos inéditos, por Antônio Torres

32 FLIPANDO

Uma confraria na Flip, por Eugenia Zerbini


36 ENTREVISTA, com Lívia Milanez

Uma leitora especial

40 CRIAÇÃO LITERÁRIA

O exercício da palavra

43 CONTOS Do diário de Capitu, por Marco Aurélio Cremasco Bambalalão, por Eugenia Zerbini Isqueiro, por André de Leones Emboscada, por Lúcia Bettencourt Um pai sem margem nenhuma, por Wesley Peres Queria mesmo é que um raio caísse no final da história!, por Nereu Afonso Conto-não conto, por Sérgio Guimarães Café, por Maurício de Almeida Alguém do passado, por Marcio Leite Dedos de artista, por Sergio Leo Coragem em registro menor, por Gabriela Guimarães Gazzinelli Inspiração, por Sergio Tavares Diante do portão, sentirás um silêncio, por Arthur Cecim Sobre por que eu falhei em todas as minhas profissões, por Luisa Geisler Ecos, por Rafael Gallo Imperfeito, hipermágico, diabólico, por Marcos Peres Milho, por João Paulo Vereza


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APRESENTAÇÃO O Prêmio Sesc de Literatura, concurso exclusivamente voltado para divulgar autores inéditos, foi criado para oferecer democraticamente a qualquer pessoa a possibilidade de inserção no meio literário. A dificuldade de acesso aos meios culturais no país é amplamente conhecida, e especificamente na literatura o quadro não é diferente. A despeito das novas possibilidades de impressão por demanda e os diversos formatos surgidos com as mídias digitais, ter o livro publicado por uma grande editora e distribuído na cadeia do livro ainda é o sonho da maioria dos aspirantes a escritor. Daí termos buscado a parceria com a Record, selo que faz parte do maior grupo editorial da América Latina e que constantemente aposta em novos autores. E justamente por não ser fácil garimpar talentos Brasil afora, a editora aceitou imediatamente a proposta do Prêmio Sesc: inserir no seu catálogo romancistas e contistas totalmente desconhecidos, cuja autoria protegida por pseudônimo aponta a escolha para os critérios mais relevantes, que são o da qualidade literária, o valor estético do texto e a pulsão criativa. As inscrições passam por subcomissões regionais e depois por uma comissão julgadora final, cujos componentes assinam os textos da orelha e contracapa da obra vencedora. A fim de garantir qualidade no processo de seleção das obras, essas comissões sempre são formadas por escritores, críticos e professores reconhecidos. Após a publicação, com direito à cerimônia na Academia Brasileira de Letras e participação na programação do Sesc na Festa Literária de Paraty, os escritores são convidados a participar de diversas atividades literárias realizadas pela instituição por todo o país, como feiras de livros, jornadas


9 literárias e círculos de leitura. Desse modo, o Prêmio Sesc também quebra uma grande barreira simbólica que separa a vocação artística dos grandes meios de circulação. Esse é, aliás, um dos conceitos que o Sesc adota como premissa para todas as suas realizações na área cultural, oferecendo oportunidades para diferentes artistas de diferentes locais. Com isso, desde 2003 acompanhamos a trajetória de escritores que trabalham com vozes narrativas tão diversas. Seja uma saga histórica de Santo Reis da Luz Divina, de Marco Cremasco, seja uma melancolia geracional de Hoje está um dia morto, de André de Leones, seja uma observação lírica das relações humanas de Réveillon e outros dias, o leitor vai encontrar nos livros vencedores do Prêmio Sesc um retrato heterogêneo típico da literatura contemporânea. Oferecemos neste catálogo uma amostra da produção desses autores, em contos produzidos especialmente para esta publicação. Temos também o depoimento do acadêmico Antônio Torres, escritor que fez parte da primeira comissão julgadora do projeto, além de entrevista com uma leitora, matéria sobre oficinas literárias e um belo artigo que Eugênia Zerbini escreveu após encontrar os outros vencedores do Prêmio na Festa Literária de Paraty. Todas essas vozes compõem o coro da celebração da palavra que traduz a nossa função com o Prêmio Sesc: abrir espaço para a literatura e sua pluralidade de caminhos.


VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

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SANTO REIS DA LUZ DIVINA ISBN: 978-85-01-07024-6 Ano de edição: 2004 320 páginas

O romance aborda temas como amor e guerra, aventura e desventura, lealdade, pioneirismo e traições em um tempo atravessado da história e da política. Por meio de pesquisas históricas, lembranças pessoais e muita imaginação, o autor abre o cruzamento de diversas sagas familiares entre o período da Guerra do Paraguai até o governo Collor.

MARCO AURÉLIO CREMASCO nasceu em Guaraci, Paraná. É professor titular em Engenharia Química na Unicamp, Campinas, onde reside. Venceu a primeira edição do Prêmio Sesc de Literatura, em 2003, com o romance Santo Reis da Luz Divina, romance que foi finalista do Prêmio Jabuti. É autor também dos livros de poesia A criação (Cone Sul, 1997) Vampisales (Editora da Universidade Estadual de Maringá, 1984), Viola caipira (edição do autor, Campinas, 1995), fromIndiana (em inglês, edição do autor, 2000) e o livro de contos Histórias prováveis (Record, 2007). Em 2010 foi contemplado com a Bolsa Funarte de Criação Literária para a escrita do romance Evangelho do Guayrá.


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VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

AS NETAS DA EMA ISBN: 978-85-01-07326-1 Ano de edição: 2005 176 páginas

O título do romance faz referência à Emma Bovary, a magistral personagem de Gustave Flaubert, uma mulher que se perdeu da realidade por se apegar insanamente a um sonho. Na obra de Eugenia Zerbini, a personagem se vê diante da possibilidade de morrer e, a partir de então, reflete sobre a vida e a situação das mulheres de sua geração.

EUGENIA ZERBINI, nasceu e vive em São Paulo. Formada em Direito, teve seus contos publicados na revista Cult, no jornal Rascunho e no blog Prosa e Verso (jornal O Globo). É colunista no site Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com.br).


VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

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HOJE ESTÁ UM DIA MORTO ISBN: 978-85-01-07629-5 Ano de edição: 2006 160 páginas

Hoje está um dia morto é um romance metalinguístico sobre suicídio. O livro aborda as ambições comuns e a falta de utopias de toda uma geração de jovens, como os personagens Jean e Fabiana, que lutam para escapar de uma vida cheia de tédio, tristezas e incertezas. Ainda assim, não é (apenas) um livro sobre jovens ou uma suposta falta de perspectivas, mas também sobre a própria gênese e a construção de uma narrativa, sim, ficcional.

ANDRÉ DE LEONES (Goiânia, 1980) venceu o Prêmio Sesc de Literatura 2005 com o romance Hoje está um dia morto, publicado no ano seguinte pela Record. É também autor dos romances Terra de casas vazias, Dentes negros e Como desaparecer completamente, lançados pela Rocco. Weblog: vicentemiguel.wordpress.com.


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VENCEDORES DO PRÊMIO

CONTo

A SECRETÁRIA DE BORGES ISBN: 978-85-01-07351-2 Ano de edição: 2006 176 páginas

A narrativa deste livro gira em torno de situações drásticas de mudanças na vida dos personagens. Como no conto “O divórcio”, em que uma mulher sente em plenitude a potencialidade de sua nova situação. Outro conto em que a personagem feminina passa por uma arrepiante mudança de opinião – na verdade, quase uma mudança mais radical de postura – é o bem-humorado “Tatuado no braço”.

LÚCIA BETTENCOURT, carioca, costuma dizer que vive por escrito. Seus contos já receberam os prêmios Sesc, Josué Guimarães e Osman Lins; traduzidos para o inglês, se acham publicados nas revistas The Drawbridge, Words Without Borders, Brasil/Brazil, The Dirty Goat e Review. Seus livros, publicados pela Record, chamam-se A secretária de Borges ; Linha de sombra e O amor acontece. Também é autora de livros infantis, publicados pela editora Escrita Fina: O sapo e a sopa; A cobra e a corda e Botas e bolas. Seu livro O banquete: uma degustação de textos e imagens recebeu o prêmio de ensaios da Academia Brasileira de Letras. Em breve lançará seu próximo romance, sobre a morte de Rimbaud.


VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

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CASA ENTRE VÉRTEBRAS ISBN: 978-85-01-07942-8 Ano de edição: 2007 224 páginas

O romance gira em torno das tentativas de um homem em escrever uma carta sobre si mesmo para uma personagem chamada Ana. Por meio dessas cartas nunca escritas, ele sugere a intenção de se autoenviar a ela. Com texto construído à base de prosa poética, o narrador tenta compor um dicionário de si próprio com um anseio de ordem e harmonia, como um conjunto de vértebras.

WESLEY PERES é autor, na categoria Romance, de As pequenas mortes (Rocco, 2013), Casa entre vértebras (Record, 2007), finalista do Prêmio São Paulo 2008, vencedor do Prêmio Sesc de Melhor Romance 2006 e indicado ao Portugal Telecom 2008. Publicou os livros de poesia: Palimpsestos (Editora da UFG, 2007); Rio revoando (USP/ComArte, 2003), Água anônima (AGEPEL, 2002). É também psicanalista, Doutor em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília (UnB); Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Mora atualmente em Catalão, GO.


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VENCEDORES DO PRÊMIO

CONTo CORREIO LITORÂNEO ISBN: 978-85-01-07945-9 Ano de edição: 2007 80 páginas

Os contos de Correio litorâneo circundam notícias de um jornal fictício homônimo ao livro. As oito histórias da obra, dividida em dois blocos denominados “uns” e “outros”, são trabalhadas pelo autor com humor e lirismo. Os temas percorrem as cenas do cotidiano dando voz à sabedoria, ao crime, à viagem para a solidão, à morte e ao amor.

NEREU AFONSO nasceu em São Paulo, em 1970. Formado em Filosofia pela USP, enveredou para o teatro. Estudou na École de Théâtre Jacques Lecoq, em Paris. Durante dez anos, escreveu, atuou, lecionou e dirigiu nos palcos da França. Fez parte da equipe do Labo du Conte, instituição francesa dedicada à pesquisa da literatura oral, e atuou como diretor teatral para a Maison du Geste et de l’Image. De volta ao Brasil, prosseguiu em suas atividades literárias e teatrais. Seu primeiro livro de contos, Correio litorâneo, venceu o Prêmio Sesc de Literatura 2006. Em seguida, lançou As graças – circular teatro. Em 2010, participou da coletânea Como se não houvesse amanhã (Record). Para o teatro, escreveu, entre outros, Mi corazón sufre e foi coautor de Marias da Luz. É diretor da Vai Antonio! Cia de Teatro, palhaço dos Doutores da Alegria e baterista no Circo Zanni.


VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

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ZÉ, MIZÉ, CAMARADA ANDRÉ ISBN: 978-85-01-08255-8 Ano de edição: 2008 304 páginas

O romance Zé, Mizé, camarada André é construído a partir dos diálogos entre dois personagens: Mizé, uma angolana em plena revolução, e Zé, um jornalista estrangeiro. Os comentários de ambos percorrem temas como o processo político e as mudanças sociais de Angola após a independência. A obra trata da vivência do próprio autor no país entre 1978 e 1980.

SÉRGIO GUIMARÃES. “Sou caipira de Santo Anastácio desde março de 1951. Um tal Zé, Mizé, camarada André, romance, foi vencedor do Prêmio Sesc 2007, no susto. Professor mais que primário. Casei uma vez e, com a baiana Marinildes, fizemos três: Daniel, Hélder e Gustavo. Já com Paulo Freire, foram seis livrinhos até bem educados. Enfim: vinte e sete anos pelo mundo com a Unesco e a Unicef, a começar por Angola, passando por Moçambique, Haiti, Marrocos, Angola (bis) e Guiné-Bissau, e terminando por Honduras, com direito a golpe. Por ora, respiro, estudo e professo em Buenos Aires. Mais curto que isso, melhor me calo.”


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VENCEDORES DO PRÊMIO

CONTo BEIJANDO DENTES ISBN: 978-85-01-08256-5 Ano de edição: 2008 80 páginas

O livro de contos Beijando dentes trata dos problemas de comunicação entre as pessoas por meio de contos fortes, tanto pela temática, geralmente sombria, como pela linguagem. A partir de cenas e diálogos banais do cotidiano, os textos avaliam as tensões nas relações humanas por intermédio de personagens extasiados.

MAURÍCIO DE ALMEIDA nasceu em Campinas, em 1982. É autor de Beijando dentes (Record, 2008), livro vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2007 na categoria Conto. Participou das coletâneas Como se não houvesse amanhã (Record, 2010), O livro branco (Record, 2012) e do 4º número da Machado de Assis Magazine. Mais: mauriciodealmeida.blogspot.com.br.


VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

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O MOMENTO MÁGICO ISBN: 978-85-01-08707-2 Ano de edição: 2009 176 páginas

O momento mágico aborda as constatações da vida na velhice. O personagem, um homem de 88 anos, deseja dramaticamente a morte, sem ser contemplado por ela. A narrativa retrata uma autoanálise do personagem por meio das lembranças do passado e a procura final por provas de que ainda esteja vivo.

MARCIO LEITE é médico e escritor, membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames). Seu romance O momento mágico venceu o Prêmio Sesc de Literatura 2008. O segundo romance, Pelas frestas do telhado, ganhou o Prêmio Internacional da UBE-RJ, em 2011. Recentemente O relojoeiro, conto de sua autoria, venceu o Festival de Música e Poesia de Paranavaí (FEMUP-2013).


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VENCEDORES DO PRÊMIO

CONTo MENTIRAS DO RIO ISBN: 978-85-01-08706-5 Ano de edição: 2009 144 páginas

Os contos de Mentiras do Rio retratam os dois lados da vida no Rio de Janeiro: o cotidiano em uma bela cidade onde vivem pessoas interessantes, e, ao mesmo tempo, a tensão da violência do dia a dia. A obra aborda ainda as relações entre ficção e relato jornalístico ao rememorar vivências pessoais e profissionais da época em que o autor vivia no Rio de Janeiro.

SERGIO LEO é escritor, jornalista e artista plástico. Seu livro de contos Mentiras do Rio recebeu o Prêmio Sesc de Literatura em 2008. Em 2014, lançou o livro-reportagem Ascensão e queda do império X. Atua no jornalismo desde 1983 e já ocupou cargos na reportagem ou na chefia dos jornais O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Valor Econômico, na TV Globo e nas revistas IstoÉ e IstoÉ Dinheiro. Atualmente escreve uma coluna semanal no Valor Econômico. É graduado em Jornalismo pela UFRJ e em Artes Plásticas pela UnB, onde também cursou Especialização em Relações Internacionais. Participou das exposições coletivas Diálogos da Resistência e SeuMuseu Expoexperimento no Museu Nacional de Brasília.


VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

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PROSA DE PAPAGAIO ISBN: 978-85-01-09097-3 Ano de edição: 2010 176 páginas

Prosa de papagaio é a história de uma família contada por seu papagaio, Louro. Compõe-se de pequenos episódios da vida cotidiana, que o papagaio pinta com suas ideias filosóficas, literárias e outras. A visão de pássaro, errática e ligeira, revela, aos poucos, fragilidades e anseios das diferentes personagens. Por meio do olhar do outro, da figura híbrida de uma ave que fala, que observa e narra um mundo ao qual não pertence, a autora leva o leitor a pensar a questão da alteridade, o olhar para o outro e ser o outro, dois lados da mesma moeda.

GABRIELA GUIMARÃES GAZZINELLI nasceu em Belo Horizonte, em 1982. Graduada em Letras, é mestre em Filosofia, pela UFMG; e Diplomacia, pelo IRBr. Cursa, atualmente, o doutorado em Literatura Brasileira na Universidade Brown. Prosa de papagaio (Record, 2010), seu primeiro romance, recebeu o Prêmio Sesc de Literatura 2009 e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2010 (categoria Autor Estreante). É autora também de Fragmentos órficos (UFMG, 2007) e A vida cética de Pirro (Loyola, 2009).


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VENCEDORES DO PRÊMIO

CONTo

CAVALA ISBN: 978-85-01-09096-6 Ano de edição: 2010 96 páginas

Coletânea de quatro contos, Cavala apresenta ao leitor tramas que se localizam no limiar entre a loucura e o sexo. São personagens acometidos de compulsões, desvios patológicos, que tentam uma espécie de refúgio em amores, lembranças ou dores. Narradas em primeira pessoa, as histórias conduzem o leitor por situações em que o real e o irreal equilibram-se numa linha tênue. Histórias que se baseiam, segundo o autor, em tramas retiradas da sua vivência no jornalismo.

SÉRGIO TAVARES é jornalista e escritor, autor de Queda da própria altura (Confraria do Vento, 2012), finalista do 2º Prêmio Brasília de Literatura, e Cavala (Record, 2010), vencedor do Prêmio Sesc de Literatura – categoria Conto. Também foi premiado no Concurso Literário da Fundação Escola do Serviço Público (Fesp-RJ, 2005) e tem textos publicados em jornais, revistas e sites literários nacionais e internacionais.


VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

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HABEAS ASAS, SERTÃO DE CÉU! ISBN: 978-85-01-09477-3 Ano de edição: 2011 272 páginas

Romance mítico, em que a vida dos homens são complexificadas com a vida dos pássaros. Habeas Asas, sertão de céu! é uma parábola, na qual elementos sagrados e profanos, mundanos e supramundanos, coexistem como um só, vistos no mesmo espelho da alma. O livro é uma busca pela bem-aventurança na Terra. Ele fala de um sertão da alma, que habita em todos nós, todos os seres do universo.

ARTHUR CECIM nasceu em Belém, no Pará, em 1971. Professor e tradutor de inglês, mestrando em Filosofia na UFPA, estreou com Habeas asas, sertão de céu!, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2010.


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VENCEDORES DO PRÊMIO

CONTo

RÉVEILLON E OUTROS DIAS ISBN: 978-85-01-09987-7 Ano de edição: 2012 160 páginas

Um idoso, recém-viúvo, está em uma festa de ano-novo com seu filho surdo e mudo, que deixará o país na manhã seguinte. Prestes a perder o papel de pai, um dos últimos que lhe resta, o velho mergulha em uma profunda reflexão, buscando encontrar algum sentido na vida e na morte. Esse é o ponto de partida de Réveillon e outros dias e da jornada do leitor pelas mais diversas experiências humanas, nas quais as relações do homem com seus semelhantes e seu ambiente são percebidas sob um olhar crítico e desmistificador.

RAFAEL GALLO é autor de Réveillon e outros dias, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2011/2012 e finalista do Prêmio Jabuti na categoria Contos. Foi um dos selecionados para a Machado de Assis Magazine, sendo publicado em tradução para o espanhol.


VENCEDORES DO PRÊMIO

CONTo

CONTOS DE MENTIRA ISBN: 978-85-01-09478-0 Ano de edição: 2011 128 páginas

Breves histórias que são verdadeiros curtas cinematográficos, cheios de desafios e determinação. Na coletânea Contos de mentira, as personagens estão em trânsito, suspensas entre um fato e outro, um gesto e outro, uma e outra espera. Dessa suspensão emerge o ser humano sempre solitário, envolto no tempo que passa lentamente sem trazer a possibilidade de redenção ou apenas de acolhimento.

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VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

QUIÇÁ ISBN: 978-85-01-09986-0 Ano de edição: 2012 240 páginas

A obra Quiçá é protagonizada pelo jovem Arthur, parente do interior, expulso pela família, e Clarissa, a solitária prima de 11 anos, boa aluna e boa filha. O primo passa a ser, com o decorrer das semanas, o único olhar a definir e entender Clarissa, ante a discreta desconfiança dos pais da menina, ausentes do seu dia a dia. As cenas fragmentárias do romance revelam vidas descosidas umas das outras: nas relações a dois, nas relações familiares e nas amizades, tudo soa precário. Mesmo a ligação que une Arthur e Clarissa não se dá por inteiro, e alguns segredos desconfortáveis assomam como breves fantasmas ao longo do texto. Uma reunião de Natal, a que toda a família comparece sem vontade, apenas sublinha o esgarçamento do tecido que uma vez os uniu.

LUISA GEISLER é autora de Contos de mentira (Record, 2011) e Quiçá (Record, 2012). Ambos os livros foram vencedores do Prêmio Sesc de Literatura e finalistas do Prêmio Jabuti. Quiçá – que já foi publicado na Espanha – também foi finalista do Prêmio Machado de Assis e do Prêmio São Paulo de Literatura. Luisa tem textos publicados em mais de 10 países e, em 2012, foi selecionada pela revista britânica Granta como uma das melhores autoras brasileiras com menos de 40 anos.


VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

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O EVANGELHO SEGUNDO HITLER ISBN: 978-85-01-40369-8 Ano de edição: 2013 352 páginas

Este é um romance notável de um leitor obcecado por Jorge Luis Borges a ponto de imputar-lhe uma infâmia que nem o próprio teria inventado: a de ter engendrado, com sua imaginação infernal, o fermento profético que possibilitou Adolf Hitler e o nazismo. O evangelho segundo Hitler faz aquilo que o borgiano Pierre Ménard fez com o Quixote de Cervantes: reescreve produzindo diferença.

MARCOS PERES tem 29 anos. Nasceu em Maringá, no Paraná, é graduado em Direito pela Universidade Estadual de Maringá e, além de escritor, é servidor do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Venceu o Prêmio Sesc de Literatura 2012/2013 com o romance O evangelho segundo Hitler.


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VENCEDORES DO PRÊMIO

CONTo

NOVELELETAS ISBN: 978-85-01-03975-0 Ano de edição: 2013 192 páginas

Ousadia é a marca de Noveleletas, livro de contos vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2012/2013. Na era das fórmulas e da repetição, Vereza inova na linguagem e foge da chamada “literatura ajornalistizada”, nos transportando à região das Minas Gerais de Guimarães Rosa, Lúcio Cardoso e Cornélio Penna. Em seus relatos, Noveleletas nos traz não a verdade, mas a simulação da verdade. Fantasia e expansão do real que são, desde a primeira linha, o contrato sobre o qual a ficção se ergue.

JOÃO PAULO VEREZA escreve desde que se lembra. Carioca, 34 anos, casado, redator publicitário. Tem formação musical e é baterista de garagem. Mora em São Paulo desde 2006. Vencedor do Prêmio Sesc 2012/2013, com o livro de contos Noveleletas.


VENCEDORES DO PRÊMIO

CONTo

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PARAFILIAS ISBN: 978-85-01-03997-2 Ano de edição: 2014 160 páginas

Os contos de Parafilias tratam das dificuldades de comunicação e dos relacionamentos, costuradas com reflexões sobre a própria literatura como representação desses conflitos. A solidão e a busca do próximo marcam as histórias, permeadas por um mosaico de vícios, obsessões e perversões que mimetizam a condição humana.

ALEXANDRE MARQUES RODRIGUES, 34 anos, é bancário, formado em Psicologia. Parafilias é o seu primeiro livro.


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VENCEDORES DO PRÊMIO

ROMANCE

ENQUANTO DEUS NÃO ESTÁ OLHANDO ISBN: 978-85-01-03975-0 Ano de edição: 2014 368 página

Enquanto Deus não está olhando é sobre o que a autora chama de instante modificador, aquele ínfimo de segundo que pode transformar completamente a trajetória de alguém. Também é sobre a relação pai e filha, a perda, a insegurança de ingressar na idade adulta sem preparo.

Pernambucana de 27 anos, DÉBORA FERRAZ é jornalista e cursa Mestrado em Culturas Midiáticas.


ANTテ年IO TORRES

A vez e a voz dos inテゥditos

Escritor e membro da Academia Brasileira de Letras


Instituído em 2003 em âmbito nacional, o Prêmio Sesc de Literatura consolidou-se como um dos mais importantes do país, cujo resultado passou a ser aguardado, todo ano, por uma legião de candidatos ao pódio das Letras. Desde o seu princípio, e de forma ininterrupta, ele vem contribuindo para a revelação de novos valores das mais diferentes procedências. Dedicado inicialmente ao romance, a partir da sua terceira edição, em 2005, passou a incluir a categoria Conto, o que o tornou ainda mais concorrido, como demonstram as quase seis mil inscrições já recebidas. Tamanho interesse aponta para o acerto da premiação: garantia de publicação e divulgação dos livros vencedores por uma editora de grande porte – a Record; aquisição pelo Sesc de uma parcela das tiragens iniciais dessas obras para a sua rede de bibliotecas; e a participação dos premiados nas programações dessa instituição, levando-os a um contato direto com o público leitor pelo Brasil adentro e afora, pois, ao mesmo tempo que procura identificar e promover obras literárias de qualidade, o Sesc investe em atividades que contribuem para a formação de leitores. Tendo participado, juntamente com o poeta, crítico literário, professor e editor Italo Moriconi, do júri de sua primeira edição, o autor destas linhas recorda aqui o histórico começo desse raro projeto dedicado a textos inéditos. Em meio a 34 finalistas que passaram pelo crivo das comissões regionais, deparamo-nos com um concorrente cujo entusiasmo despertado a partir da primeira leitura se manteve até a avaliação final: um painel épico aliando história, política e saga familiar, intitulado Santo Reis da Luz Divina. Na trama, amor e guerra, aventura e desventura, desbravamento, pioneirismo – do Rio de Janeiro ao tempo da Guerra do Paraguai até os anos de 1990, no Paraná, numa trajetória em que se entrecruzam as migrações no sul do país. E tudo isso com uma estratégia narrativa inovadora. O mais surpreendente: por trás de um professor de engenharia química na Unicamp se escondia um senhor romancista, o paranaense Marco Aurélio Cremasco. E vale lembrar: tão importantes quanto as características do Santo Reis foram as condições em que autor e obra surgiram. Não fosse o prêmio, esse grande romance provavelmente ainda estaria escondido na gaveta. Hoje, já são 20 livros premiados, cujos autores vêm de todos os lados do país, selecionados pelo mais importante critério: o da qualidade literária. Prêmio que segue.


uma confraria na Flip

Após participar da programação do Sesc na Flip em 2013, Eugenia Zerbini publicou artigo sobre os livros dos seus companheiros vencedores do prêmio.

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EUGENIA ZERBINI

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O que de melhor veio na bagagem da última Flip? Certamente os dois livros vencedores do Prêmio Sesc de Literatura em 2013: O evangelho segundo Hitler, de Marcos Peres, na categoria Romance, e Noveleletas, de João Paulo Vereza, na categoria Conto. Os vencedores desse prêmio, sempre autores estreantes, são editados pela Record. A festa de premiação, no Centro Cultural Sesc Paraty, coincidiu com a comemoração dos 10 anos do Prêmio, cuja primeira edição (2003) contemplou o romance Santo Reis da Luz Divina, de Marco Aurélio Cremasco. Publicado no ano seguinte, narra sagas familiares, da Guerra do Paraguai à era Collor. Santo Reis da Luz Divina, elogiado pelo crítico exigente que foi Wilson Martins (1921-2010), ficou entre os finalistas do Prêmio Jabuti, em 2005. Nesse ano, foi publicado o romance As netas da Ema, de minha autoria, após a vitória do Prêmio, em sua segunda edição.


33 A partir de 2005/2006 é que a categoria Conto foi incluída no certame, com a premiação, além do romance Hoje está um dia morto, de André de Leones, do livro de contos A secretária de Borges, da talentosa escritora carioca Lucia Bettencourt, também vencedora dos concursos de contos Osman Lins, no Recife, e Josué Guimarães, no quadro das famosas Jornadas Literárias de Passo Fundo. O evangelho segundo Hitler seduz pelo inusitado da trama inteligente, bem urdida, e pela escrita corrente. André Sant’Anna, que assina as orelhas, deixa anotado que Marcos Peres, contrariando o mote de Leon Tolstoi (se quiser ser universal, começa pintando sua aldeia), foi muito além da vizinhança. Viajou pelo mundo e pelo tempo. Em seu romance, Peres, paranaense de Maringá, cria um homônimo do gênio argentino Jorge Luiz Borges, que passa a ser tomado pelo original. Há interpretações enviesadas de textos de Borges que se misturam à ascensão do Partido Nazista na Alemanha, textos de filósofos gnósticos e cultos secretos. Marcos Peres dá mostras, além do perfeito domínio da obra do grande Borges, de

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maturidade em seu ofício. É o crítico Manuel da Costa Pinto, na quarta capa, quem afirma, sem meias-palavras: O evangelho segundo Hitler é um romance notável. Já João Paulo Vereza, em Noveleletas, de certa forma também escapole de sua aldeia. Urbano (é carioca, radicado em São Paulo), conquistou seu primeiro lugar com um texto recheado de regionalismos e pontuado por neologismos. Além disso, um texto peculiar. Contos? Mas não são muito longos? Além de extensos, um deles está em versos! José Castello, membro do júri, nas orelhas do livro mata a charada: na época das fórmulas e da repetição, Vereza apostou na coragem, na ousadia.


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A exemplo de Marco Aurélio Cremasco e Lucia Bettencourt, outros vencedores do Prêmio Sesc Literatura obtiveram reconhecimento também por meio de outras premiações. Wesley Peres, ganhador do Prêmio Sesc Romance, edição 2006/2007, com Casa entre vértebras – e que lançou recentemente As pequenas mortes (Rocco) –, figurou não apenas entre os finalistas do Prêmio São Paulo, em 2008, mas também entre os indicados para o Prêmio Portugal Telecom desse ano. Também em 2008, o romance Zé, Mizé, Camarada André, de Sergio Guimarães, ficou entre os finalistas do Portugal Telecom. Continuando, Mauricio de Almeida, premiado pelo

34 Que esse resumo das obras dos ganhadores do Prêmio Sesc Literatura sirva tanto de isca para novos leitores como de estímulo para os autores inéditos que almejam a publicação.

Sesc (2007/2008), com seus contos reunidos em Beijando dentes, teve a confirmação de seu talento como finalista no concurso Off Flip, em 2012; Marcio Leite, autor do romance O momento mágico, premiado pelo Sesc na edição 2008/2009, conquistou o Prêmio Internacional da União Brasileira dos Escritores, em 2011, com novo romance, Pelas frestas do telhado (Novo Século). E Luisa Geisler, que se sagrou duplamente vencedora do Prêmio Sesc Literatura – a primeira vez na edição 2010/2011, na categoria Conto, com Contos de mentira, e a segunda, na edição seguinte, com o romance Quiçá. As duas obras figuraram entre os finalistas do Prêmio Jabuti – em 2012 e 2013 – e Geisler foi incluída na edição da revista Granta, que mapeou os melhores jovens autores brasileiros da atualidade. Tudo sem deixar de lado o talento de Nereu Afonso da Silva, que divide seu tempo entre São Paulo e Paris, onde é um dos colaboradores do Laboratório do Conto, na Maison du Conte, autor da vitoriosa coletânea de contos Correio Litorâneo, vencedor da


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edição 2006/2007; do jornalista Sergio Leo (edição 2008/2009), com seus inspirados contos reunidos em Mentiras do Rio, deliciosamente ilustrados com vinhetas de Rubem Grilo (que também é o autor da ilustração da capa); de Gabriela Gazzinelli e Sergio Tavares (ambos da edição de 2009/2010), a primeira, com seu romance narrado pela língua sabida de Louro, o Prosa de papagaio, e o último, com seu livro de contos Cavala. Tavares, no ano passado, lançou novo livro de contos Queda da própria altura (Confraria do Vento). Como fecho, cabe reservar amplo e merecido espaço para ainda dois ganhadores: Arthur Martins Cecim, nascido em uma família de escritores com raízes no norte do Brasil (é filho de Vicente Franz Cecim e neto de Yara Cecim), foi o vencedor, na categoria romance, da edição 2010/2011, com Habeas asas, sertão do céu, e Rafael Gallo, multitalentoso, já que músico e escritor, conquistou o Premio Sesc Literatura, na categoria Conto, com o maravilhoso Réveillon e outros dias (edição 2011/2012), finalista do Prêmio Jabuti, no ano passado. Que esse resumo das obras dos ganhadores do Prêmio Sesc Literatura sirva tanto de isca para novos leitores como de estímulo para os autores inéditos que almejam a publicação. Que se juntem a essa confraria a jovem romancista de João Pessoa, Débora Ferraz, e o contista Alexandre Marques Rodrigues – os novos colegas da edição 2014 – como também de todas as próximas –, enriquecendo a paisagem da literatura brasileira contemporânea, frutificada pela iniciativa generosa do Prêmio Sesc de Literatura.

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ENTREVISTA

uma leitora especial Lívia Milanez sempre gostou de boa literatura. Vivendo desde 2001 em Brasília, onde trabalha como analista de relações internacionais, essa piauiense frequenta a biblioteca do Sesc e tem um olhar crítico e apurado sobre a produção literária brasileira contemporânea. “Acho que os operadores da literatura têm o desafio de redemocratizá-la para que ela possa refletir com mais acuidade o sentimento de nossa época”, afirma. Foi assim que, após ler algumas das obras vencedoras do Prêmio Sesc, criou um blog no qual vem publicando resenhas dos livros.

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37 Sesc: Como você descobriu o Prêmio Sesc de Literatura? Lívia Milanez: Descobri o Prêmio logo no começo, em 2003, enquanto lia o caderno cultural do Correio Braziliense. Como o Sesc faz um bom trabalho de divulgação em todo o Brasil, continuei recebendo informações sobre o concurso ao acompanhar jornais e telejornais de vários estados brasileiros nos anos seguintes. Sesc: Considerando que o Prêmio é exclusivo para autores inéditos e ainda pouco conhecidos na mídia cultural, o que você encontrou nesses livros que a motivou a criar um blog só para resenhá-los? LM: Em primeiro lugar, eu tenho interesse por literatura brasileira contemporânea, por isso gosto de saber o que os escritores deste meu tempo estão escrevendo, e como estão escrevendo. Em segundo lugar, sou atraída justamente pelo fato de o prêmio revelar autores porque vejo nisso um termômetro mais fidedigno da produção do país. Um escritor anônimo e inédito é independente e audacioso. Ele participa de concursos para testar a aceitação de seu trabalho e é mais provável que sua obra reflita melhor suas reais convicções artísticas, pois ele ainda não foi moldado por projetos editoriais ou podado pela crítica. Acho maravilhosa a oportunidade de ler quase em primeira mão o que grandes escritores potenciais estão produzindo, é como se eu participasse da construção da literatura do meu tempo, e eu gosto de participar, não de aceitar passivamente um cânone literário. Escrevo as resenhas para formular minhas opiniões de leitora e, quem sabe, motivar outros leitores a conhecerem novos autores.

ENTREVISTA


ENTREVISTA

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Sesc: Você também escreve? Caso sim, já participou de outros concursos literários? LM: Atualmente, eu mais pesquiso e planejo do que propriamente executo textos literários. Tenho alguns projetos, mas não tenho pressa em publicá-los, porque sou muito crítica e sei que esse trabalho ainda está longe de ficar pronto. Participei de concursos literários até o começo da adolescência. Publiquei contos em festivais do estado de Roraima e fui premiada em um concurso nacional promovido pelo Jornal do Commercio (Pernambuco) por ocasião dos 500 anos do Brasil: escrevi um ensaio em forma de carta muito poética e apaixonada a Pero Vaz de Caminha, na qual idealizava uma epopeia da formação do povo brasileiro. Já superei esse pensamento, mas, na época, eu tinha apenas 14 anos e os prognósticos foram de que eu seguiria a literatura, mas fugi da vocação e me dedico profissionalmente a outra área.

Sesc: Como foi seu primeiro contato com a literatura, e o que manteve o seu interesse pela leitura ao longo da vida? LM: Eu fui uma criança introvertida que gostava de ficar na biblioteca na hora do recreio e, aos seis anos, comecei a ler o que havia na escola, no caso, livros de Monteiro Lobato, Marina Colasanti, Haroldo Maranhão, Lygia Bojunga Nunes, entre outros. Não sei o que manteve meu interesse pela literatura. Gostar de ler sempre foi uma das coisas mais sinceras em mim. Sesc: Que tipos de livro gosta de ler? LM: Gosto de livros cuja estrutura demonstre o respeito do escritor pelo tempo do leitor. Gosto de trabalhos que demonstrem pesquisa histórica, cultural ou social. Só gosto de literatura inspirada ou “automática” se conseguir perceber um sofrimento sincero no escritor, mas tenho preferido obras mais secas e objetivas.


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Sesc: Na sua opinião, qual a importância da literatura na sociedade contemporânea? LM: Em nossos dias, a literatura chegou a um tal grau de profissionalização e sofisticação que deixou de ser uma forma de diálogo entre escritor e leitor para se tornar um diálogo entre escritores, então, atualmente, ela é importante como campo científico/acadêmico, e não artístico. Acho que os operadores da literatura têm o desafio de redemocratizá-la para que ela possa refletir com mais acuidade o sentimento de nossa época. Se isso não ocorrer, as representações estéticas às quais a posteridade recorrerá para nos compreender serão outras (talvez a moda, o cinema e a música), mas não a literatura. Homero, Shakespeare, Camões e Cervantes sobreviveram em nosso imaginário porque refletiram o sentimento de suas coletividades. Eles empregaram às letras material histórico e referenciais estéticos difundidos na coletividade de seu tempo em vez de se apegarem à metalinguística. A literatura de hoje precisa abrirse para a coletividade, tornando-se compreensível a ela; precisa representar o espírito da época em vez de se concentrar tanto na forma e em experimentos linguísticos que talvez não sobrevivam a alguns poucos anos.

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CRIAÇÃO LITERÁRIA

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o exercício da palavra Oficinas literárias promovem a formação de leitores e aprimoram técnicas de escrita.

Não existe uma fórmula para o surgimento de grandes escritores. Ao se observar a trajetória de cada autor, percebe-se que cada uma é singular, resultado de uma mistura de vocação, persistência e até um pouco de sorte, além de muitos outros fatores. No entanto, mesmo que não haja um roteiro de dicas infalíveis para se conseguir um lugar no meio literário, alguns caminhos podem ajudar bastante o aspirante a escritor. As oficinas de criação literária são um deles.

e Romance (Quiçá), foi aluna da tradicional oficina oferecida pelo Programa de Pós-graduação em Letras da PUC-RS, ministrada pelo escritor Luis Antonio de Assis Brasil, criada em 1985. Presente na edição de 2012 da revista britânica Granta, que selecionou os mais proeminentes prosadores brasileiros com menos de 40 anos, Luisa acredita que a oficina ampliou não só as suas técnicas de escrita, mas também a tornou uma leitora mais atenta: “Além de entender melhor meu texto, entendi melhor o texto alheio. Se me fez uma boa escritora, não posso garantir, mas ter feito uma oficina de criação literária me fez melhor leitora.”

Com diferentes formatos, cargas horárias e metodologias, esses encontros se espalham pelo país, aproximando pessoas de todas as idades e com experiências diversas, mas que têm em comum a paixão pela leitura e escrita. Essa paixão às vezes pode render bons resultados. A jovem gaúcha Luisa Geisler, vencedora do Prêmio Sesc de Literatura nas categorias Conto (Contos de mentira)

Essa possibilidade de compartilhar leituras é um dos grandes ganhos das oficinas, uma vez que elas não são simples aulas para transmissão de conteúdos e sim um ambiente de trocas. O escritor Carlos Henrique Schroeder, que desde 2006 ministra oficinas em Santa Catarina no projeto Arte da Palavra: Programa Sesc de Criação Literária, acredita nesses encontros


“Além de entender melhor meu texto, entendi melhor o texto alheio.” Luisa Geisler

como um momento rico para os jovens autores: “As oficinas mais legais são as que realmente são um laboratório de autoria, algo orgânico, que acompanha o pulsar dos participantes, e não um conjunto de regras engessadas.” Para Schroeder, que também é editor, trata-se de uma oportunidade democrática de descoberta de novos nomes, especialmente no interior. “Circulei por dezenas de cidades no estado e assim conheci muitos bons escritores, inclusive publiquei alguns em minha editora. Algumas cidades têm uma livraria, outras nenhuma, então é muito importante esse processo para os autores locais, pois você chega compartilhando textos, livros, referências, filmes e, principalmente, a pulsão de escrever”, afirma. O escritor Marcelo Backes, que inaugurou o circuito de oficinas literárias do Sesc no Espírito Santo em 2014, surpreendeu-se com a receptividade dos capixabas, fazendo-o repensar a sua própria perspectiva diante do fazer literário.

“Na oficina, a interação com o público é direta, há uma certa necessidade de compreender inclusive os meandros do outro para ajudá-lo a palmilhar melhor o caminho em que está andando, e isso acaba criando uma transferência bem maior”, reflete o autor. Essa transferência é o resultado de um trabalho que desperta, sobretudo, um olhar aguçado do escritor com a palavra, a capacidade de observar os sentidos por trás dessa matéria básica da literatura. É o que afirma a jovem catarinense Helidiani Costa, que teve aulas do programa Arte da Palavra com o escritor Luiz Bras: “A oficina me desenvolveu a sensibilidade para identificar grandiosas obras de arte por trás de cada palavra. Grandiosas ao ponto de, humildemente, concederem ao leitor o amplo direito à interpretação, construção de cenários e intensidade de sentimentos.”


CRIAÇÃO LITERÁRIA

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Para quem deseja ser escritor, a sensibilidade e a intuição devem se somar ao trabalho árduo. O escritor pernambucano Raimundo Carrero, que ministra oficinas regulares em Recife, estimula seus alunos a analisar a tradição literária. “Sempre estudo dois ou três livros de clássicos e autores consagrados, quando posso incentivar a leitura e o estudo sistemático nas aulas”, explica. Ao conhecer profundamente diferentes vozes literárias, os novos escritores podem mais facilmente encontrar o próprio modo de narrar. As oficinas de criação literária constituem, portanto, uma via de mão dupla, uma vez que também tiram escritores da solitária rotina da escrita. O curitibano Luis Henrique Pellanda define bem esse processo na sua trajetória: “As oficinas fizeram de mim um escritor melhor, porque hoje tenho mais vozes dentro de mim. São essas vozes que os alunos também podem levar consigo, a partir de nossos encontros.”

“As oficinas mais legais são algo orgânico, que acompanha o pulsar dos participantes, e não um conjunto de regras engessadas.” Carlos Henrique Schroeder


CONTOS


Do diário de Capitu

44 MARCO AURÉLIO CREMASCO

CONTOS

O tempo nos torna solitários; casmurros, escrevem alguns. Confesso-me atenta, minuciosa e tranquila, mesmo acusada de oblíqua e duvidosa. Trago sorriso claro e espontâneo. Talvez por isso envolvi-me com alguém destinado a ser um protonotário apostólico, que abandonou a batina em favor da toga e nem assim perdoou aquele naquela cova. Havia tanto ciúme, tanto, a ponto de ele querer o pescoço de qualquer um que nos cruzasse, para encravar-lhe garras de gavião enlouquecido. Nessas horas me vejo na encruzilhada entre morrer ou escrever. Escolho escrever (é mais divertido). Não basta a insegurança de olhar para o meu filho e não saber se trilho o caminho que nos obrigam? É como se eu fizesse macumba escondida no quarto. E faço! Despacho meus sacis-caveiras em títulos provisórios: Não se apanha um vaso Swarovski com luvas de boxe. Da arte de cultivar libélulas sem espetá-las. Corte os lábios para sorrir. Escrevo. Fragmento-me. Vivo na obscuridade do engano. Já fui mais sonhadora e a vida não se cansa de cavoucar lembranças. Rabisco cartas e posto poucas. O mar não está para garrafas aleatórias.

Ninguém pescará minhas palavras, as vagas fizeram o papel de naufragar desejos pueris. Passei da fase de me envergonhar e procurar desculpas por eu ser, plenamente, mulher. Não mais suporto dedos acusando-me, apimentando pesadelos de quem procura, no umbigo, sujeiras surreais. A idade se encarregou de lavar pecados, se é que existem. Então, sofro. Solto meus bichos. Perdime em escritos e não pretendo que este diário seja mais um... Cubro-me com o morno das lágrimas, pois essa coisa de escrever é irreal, entende? Quem me entende? Ficaria na imaginação, mas percebi que nenhuma pessoa é totalmente livre e a sociedade cobra ações ditas corretas, concretas. Por falar nisso, amanhã, logo pela manhã, me porei aceitável e corruptível. Vestirei o meu melhor tailleur, dosarei no batom e voltarei à realidade, assim dissimulada como me querem, feito aquele muro que nos separa da solidão. Agora, enquanto a lua faz um esforço danado para ser feliz, curtirei a tal esperança, que havia muito não brotava dessa maneira: purinha, sem interpretação, tortura ou vício.


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CONTOS

Bambalalão “Bambalalão, senhor capitão,

Tutum, tutum, tutum... – Que barulho é esse, Gabi? – brada a voz esganiçada do quarto. Era Gabi, montada num cavalinho de pau na sala. Para frente, para trás. Tutum, tutum, tutum...

– Não me inferna – vocifera a adolescente de 12 anos, relâmpago que atravessou a sala e arrancou Gabi do brinquedo. O choro da menor disparou. Marina, a crescida, então berra:

– Juscelinaaa! Olhe essa chata. Juscelina materializa-se na sala, com Marina (de roupa de dormir, apesar de serem duas da tarde), encarando a irmãzinha. – Vem, Gabi – diz a empregada, içando a pequena do chão, onde, com os lábios franzidos (rabo de galinha que se nega a botar), agitava-se em frenesi. – E você, Marina, se aquieta senão conto pra tua mãe. Você vai ver.

EUGENIA ZERBINI

Espada na cinta, ginete na mão”

– Vou ver o quê? Ela se mandar pro quarto e chorar porque o pai da Gabi foi embora? – Marina respondeu olho no olho em Juscelina, que volta para a cozinha com Gabi. Na cozinha, Juscelina senta Gabi e liga a TV, ave de bom tamanho, pousada sobre o balcão como num poleiro.

– Qué uma bolacha, fia? Juscelina nem espera resposta e empurra o pacote para Gabi.

– Eu também quero – diz Marina, aparecendo na cozinha, como força de pensamento ruim, e tomando o pacote da menina, o que aciona novas lágrimas. – É meu, choraminga Gabi, estendendo os bracinhos, inclinando-se para frente. Quase cai, como um anjo, há tempos, também do céu caiu. – Sai Marina, parece atentada, prima do Tisnado. – Não estou fazendo nada – retruca Marina rindo e devolvendo o pacote de bolacha. – Juscelina, bata um leite com chocolate. Vou almoçar leite e bolacha. A camisola de Marina

deixa as coxas à mostra. Sob uma penugem, sinais de cortes marcam a pele.

– Faço qualquer coisa, mas deixa sua irmã em paz. – Irmã nada, sua burra, meiairmã. Nossos pais são diferentes. – Marina, não dá. Não tem leite nem chocolate. A garota volta para o quarto, com uma batida de porta. Sentada na beira da cama suspira. Quando foi que vira seu pai pela última vez? No caos dos lençóis, tateia um compasso. Com a ponta de metal, risca a coxa direita. Enquanto observa as gotinhas de sangue que desabrocham, por um segundo esquece a angústia que lhe atazana a garganta. Só por um segundo.


Isqueiro Ela fazia aquela coisa com o isqueiro. Riscava, esperava um pouco, fechava. Era um pouco mais assustador no escuro em que nos encontrávamos. Acho isso meio irritante, eu disse. Você nem fuma e anda com essa porcaria o tempo todo. A resposta dela foi riscar, esperar um pouco, – a chama como que borrando o espaço ao redor, e depois fechar. Eu esperei você aqui a noite inteira. Você demorou demais. O que foi aquela conversa mais cedo? Aquelas coisas que você disse e tal? Pressenti que ela ia fazer de novo. O braço direito se erguendo no escuro. Adivinhei onde estava e tomei o isqueiro dela. Não esboçou reação. Chega dessa merda. Ela, então, virou as costas para mim. Como se estivesse pronta para dormir.

46 Estiquei o braço esquerdo até o interruptor do abajur. As costas dela. Acho isso meio irritante, repeti. O que você queria? Você não fuma. Por que anda por aí com esse troço? Choveu a noite inteira. O dia amanheceu fechado. Precisei acender a luz do quarto para achar minhas peças de roupa espalhadas pelo lugar. Você não vai tomar banho?, foi a primeira coisa que ouvi ela dizer em quase vinte e quatro horas. Eu já tinha vestido a calcinha e o sutiã. Fiquei olhando para ela naquela semiescuridão, mal a enxergava deitada ali na cama,

ANDRÉ DE LEONES

CONTOS

inteiramente descoberta. Que horas são?, perguntou. É muito cedo? Não, respondi. É quase meio-dia. Tirei a calcinha e o sutiã. Ela se levantou e foi até a janela. As persianas já estavam abertas. Ficou olhando a rodovia, o movimento no posto mais abaixo. Eu nem sei onde a gente está. Sorri: E como é que você chegou até aqui? Você vai me devolver o isqueiro? Não sei. Quando a gente for embora, acho. Estiver se despedindo. Por quê? Ela se virou, olhou para mim. Eu me sentei na beira da cama. Porque ele não é meu. Mas sempre que a gente se vê você está com ele. Eu sei. Mas ele não é meu. Ela atravessou o quarto, entrou no banheiro. Ouvi quando ela levantou o assento do vaso. Tenho que voltar antes de anoitecer, ela disse. Não quero que ele desconfie. Não quero que ele fique me enchendo como da outra vez. Levantei-me, fui até a porta do banheiro. Ela estava sentada. Entra logo e fecha essa porta, pediu. Eu entrei e fechei.


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Em bos cada

O velho usava roupas gastas. As mãos repousavam sobre as pernas imóveis e, de vez em quando, faziam um movimento como se tentando esticar as calças sobre as coxas magras. As costas mantinham-se eretas, o rosto inclinava-se para baixo e desaparecia sob a aba do antigo chapéu de feltro, descorado. O jovem sentava-se com os braços abertos sobre o encosto de madeira, ocupando quase todo o banco. Vestia roupas boas, casaco, tênis e mochila de couro macio.

O trem se aproximava. Não querias ir.

LÚCIA BETTENCOURT

Sentavam-se lado a lado, no banco da velha estação. Era primavera e as pessoas da terra gostavam de flores. Os insetos da terra também gostavam de flores e zumbiam, constantes, em sua visitação.

CONTOS

O lugar era Nine. Quando pequeno, pensava que se tratava do verbo ninar. Depois descobriu que aquela era a nona parada da linha hoje quase em desuso. Os trens de carga haviam desaparecido e somente um trem de passageiros passava por ali, de madrugada, a caminho do norte, e voltava ao final da tarde, preguiçoso, parando por obrigação. O velho tossiu. Eu me lembro. Sua voz ainda era forte, mas agora estava rouca, por falta de uso. O jovem olhou-o surpreendido e até os insetos pararam de zumbir, como se quisessem saber qual lembrança inesperada vinha perturbar a placidez da estação. Tinhas uns dez anos. O jovem também se lembrava do homem estranho que aparecera e lhe dissera ser seu pai. Vinha buscá-lo para ir morar do outro lado do oceano.

Adeus, avô. Volto ano que vem, prometo! Foram estas as palavras que me disseste. Há mais de vinte anos. A composição soltou um apito, ia partir. O jovem embarcou e acenou. O avô esfregou as mãos nas pernas, como se estivesse esticando as calças surradas. O rapaz se lembrava dessas mãos. Mãos de lavrador. Esperei-te por todo esse tempo. Ao partir, gritaste: “Amo-te, ó avô!” Seu coração perdeu o compasso indiferente e se acelerou, como as rodas do trem. O sentimento, que ele procurara na casa de pedra, nos campos malcuidados, no velho taciturno em que o avô se tinha transformado, estava emboscado ali, na plataforma. E agora ia embora com ele, sufocando-o, como o pólen da estação. Amo-te, ó avô! – as palavras, inúteis, zumbiram entre insetos e flores.


CONTOS

Circunspecto em círculos. A fumaça do cigarro. Sozinho no alpendre, pensa aos tragos. Envergonha-se do nome, pensa nisso. Paul Daniel, Paul Daniel. Não sabem nada da loucura, só a loucura sabe dela mesma. A loucura é uma voz tão para dentro que se verte numa escrita vinda de um Deus que perdeu os dedos – cresci ouvindo coisas assim e assado, cresci ouvindo meu pai pronunciando absurdidades e encerrando blocos de absurdidades com “assim e assado”. Entenda-se, o “assim e assado” era o ponto que fechava o feixe das palavras alucinadas e retransmitidas aos meus ouvidos por sua boca. Depois do “assim e assado”, num lusco-fusco de lucidez, meu pai era um homem partilhável, quase que um pai mesmo. Um pai intermitente, meu pai.

que Laura é a mulher que entrará na história porque ele a ama, ou coisa parecida. Ela não entrará na história. Ele apenas lembra que Laura tem olheiras permanentes, dentes enormes como as mães, e que não é muito nem pouco velha. De velha, somente que é oracular, que vive a pronunciar frases em itálico, e que não terá lugar nesta história.

WESLEY PERES

Um pai sem margem nenhuma

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Estão todos a acertar as contas com os pais, que com as mães só os mais pios para esperar algum tipo de aparamento de arestas. Mãe é sempre uma mulher muito velha, com uns dentes enormes. Sei que tenho o meu quinhão de loucura, que essa herança se transmite por todos os códigos. O genético, inclusive. Laura, por exemplo, pensa no meio do círculo, dos círculos. Laura aninha-se mentalmente na angústia seguinte, que lhe dá casa: “Que se não fui ou sou, é porque serei louca, o DNA não mente, apenas cifra e recifra as modulações que nos trazem de volta à morte.” Não, não pensem

Se eu quisesse, enlouquecia, ele se diz. Se eu quisesse, enlouquecia. Repete a palavra loucura e seus derivativos, justo para que não enlouqueça, para não haver a tentação de se entregar a uma espécie de iluminação — hospício eu ainda tolero, mas não mosteiros búdicos. Ele sabe que já estou louco. Não o suficiente para compartilhar sintaxes com o pai, não o suficiente para manejar, com os ouvidos, a voz dele. E olha que ele, o pai, não construirá nenhum barco a fim de não pisar nunca mais em terra alguma. Nessas coisas que pensa, no alpendre. Apaga o cigarro, amassando-o contra um cinzeiro-caixinha-de-Bischocolate-branco. Os círculos se extinguem. E com eles, todas e quaisquer margens. Pensa sem tragos. Pensa que bom seria ser um corpo sem nome.


Em casa as coisas tinham ficado pra lá de carcomidas. Uma voz elevada durante o jantar, uma ética enviesada no meio da louça, uns cacos de sentimentos fora do ar, isso era o que guiava nosso desacerto. Qualquer suspiro era motivo para Por que você está bufando assim? Na única estação do rádio do carro, Roberto Carlos comemorava seu meio século de embuste (eu não acreditava em uma vírgula das sandices daquela múmia com microfone). No para-brisa embaçado, a imagem do trevo na rodovia ali na frente, alaranjado pela iluminação de poucos postes, era apenas um borrão úmido de gotículas paralelas e perpendiculares estampadas no vidro. Difuso desencaixe.

Nisso, como na maioria das coisas, ela estava com a razão.

Em casa as coisas tinham ficado pra lá de carcomidas:

– Raymond Carver

– Você não tem clareza, não comparece nem desaparece.

Na noite do dia 11 de julho, chovia um chuá na SP-304 rumo ao noroeste do estado. Eu rodava asfalto afora. As cidades grandes ficaram para trás, as médias também. As luzes das usinas eram cada vez mais escassas. Sinal de celular, nem pensar. Só relâmpagos, trovões e eu no volante.

– E sua clareza é postiça. – E a sua verdade, movediça.

NEREU AFONSO

Queria mesmo é que um raio caísse no final da história!

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CONTOS

– Mas pelo menos tenho uma verdade. – Não, você só tem retórica! – Pfff... – Por que você está bufando assim? – Por nada! – Aonde você vai com essa chuva? – Torcer para que um raio caia na minha cabeça! Nessa hora, um caminhão saiu do trevo alaranjado pela iluminação de poucos postes e, junto com o último relâmpago da noite, entrou gingando com tudo na contramão na minha frente. Nessa hora, o dia 11 era quase dia 12. Chovia um chuá na SP-304 rumo ao noroeste do estado. E na única estação de rádio o rei cantava Eu te amo, eu te amo...


CONTOS

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Conto-não conto Provável leitor/a, Antes que alguém aí pergunte, meu nome é Tegus. Tegus Cigalpa Laínez de Melo. Fosse por minha mãe, Mercedes Laínez, de quem saí num 29 de setembro, seria Miguel Arcángel, louvor ao padroeiro da Real Villa de San Miguel de Tegucigalpa. Mas venceu João Cabral, embaixador do Brasil, que sem querer fez de mim – licença poética tardia – seu sexto rebento e ponto-final. Esquisito? Até hoje estou na dúvida. Há quem vislumbre em meu nome “morros de prata”, e quem só veja mesmo “pedras pintadas”. Uns puxam raiz

mexicana de origem nauatle, “lugar de residência dos nobres”. Outros, “lugar sobre a casa do amado senhor”. Desisti de entender, com o tempo me acostumei. Hondurenhobrasileiro, além de orgulho pelo nome da terra, cada vez mais me encanta ser dos poucos que não têm xarás. Indo ao ponto: escrever, até então, só relatório, por força desse ofício de pular de país em país, rabiscando lenga-lengas para as Nações Unidas. Aí vem o Golpe-não golpe, chega setembro, volta Mel, e o tempo fecha na rua República del Brasil. Romper o cerco e levar água, comida, remédio e roupa, só sendo a ONU, e lá vou eu visitar Zelaya, no próprio quarto em que fui feito, e mais não conto.

SÉRGIO GUIMARÃES

São Paulo, 28 de junho de 2013.

Dali, foi seguir as pistas e, discretamente, buscar uns quantos protagonistas do tal realismo mágico que virou Honduras do avesso. Quanto ao gênero, um amigo insano até sugeriu romance, mas cadê fôlego? Escrevente de primeira água, preferi salto mais modesto e tratei de pôr mãos à obra. Feito roupa em varal, cada personagem foi se pendurando no fio do tema, e saiu de tudo: gravações transcritas, “torpedos”, telefonemas, carta, bilhete, programa de rádio, e-mails e variações afora, em formatos e tamanhos desconformes. No final, uma vintena de peças que o vento há de secar. Um, dois calhamaços depois, três da manhã, quatro anos e tal de gaveta, até quando? Publico? Certo, se desse misto pintar conto que o valha, posso pensar numa segunda aventura. Mas, e se der chabu, e o resultado da coletânea for pífio? Nesse conto-não conto, por enquanto, só lhes peço um favor severino: não espalhem por aí que sou filho do meu pai, poeta enorme. Indecididamente, Tegus.


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Café

CONTOS

Drawing hands M. Escher

que me distrai e não percebo o cigarro apenas uma guimba me queimando os lábios porque estou às voltas com palavras que não me saem, muito embora saiba me bastar um detalhe para desencadear qualquer frase. Afinal está posta a necessidade de capturar o ao redor (tão cheio de quedas e ascensões, irrupções e loucuras, acontecimentos que não se questionam a razão) e organizá-lo letra após letra, o mundo inteiro numa ordem inteligível de ideias. Mas me assusto e me irrito ao descobrila entrando no quarto para avacalhar esse momento solitário que é tão vazio e angustiante e, ao mesmo tempo, prenhe de possibilidades. Ouço os passos dela que me fazem ansioso e disperso, um ruído me distanciando de palavras e frases e outras cadências: nada me toca ou me comove e o mundo outra vez uma confusão de aleatoriedades, um caos que não consigo moldar às mãos, artesanato impossível. Penso em desistir.

MAURÍCIO DE ALMEIDA

sumir num acaso)

E sinto cheiro de café. Talvez eu devesse mesmo me resignar e encará-la nos olhos para agradecer que venha me encontrar, afável e tranquila, uma xícara de café, mas, observando a janela aberta, o movimento ordinário do dia, alguma coisa como a coceira de Cortázar me instiga a não desistir daquele certo momento (improvável, indefinível, momento que possivelmente sequer acontece de fato) no qual um detalhe me surgirá aos olhos e a ele me apegarei como se encontrasse a ponta de um novelo que desenrolarei (não sem me embaraçar as mãos)

pelo prazer de desenrolá-lo. Por isso, gostaria de dizer a ela que me deixasse em paz, porque sua presença fulmina o despropósito calmo dessa iminente descoberta, além disso, sei que ela me convocará a amenidades que me impedirão o mergulho profundo, o intocável iceberg de Hemingway que me permitirá, na medida em que o encontro e o compreendo, encontrar-me e compreender-me. Entretanto, fico quieto e a observo colocar ao meu lado uma xícara de café da qual escapa uma fumaça mínima e sinuosa que some calmamente. Escrevo: ao meu lado uma xícara de café (e uma fumaça mínima e sinuosa se desprende ao alto para


CONTOS

Alguém do passado

Durante o abraço, o passado lançou-se sobre nós como se um dos andares do edifício em frente tivesse desabado. Nossa amizade, esfumaçada no tempo e na distância, fazia convergir outra vez destinos tão diferentes. Lembrei-me do último ano na escola e o dia em que dois cabeludos chegaram à Ribeira prontos para serem atletas olímpicos no remo. A raia do Porto dos Tanheiros estendia-se nebulosa até o Lobato, permeada de pequenos barcos e escunas.

germinavam. Foi pungente quando se apaixonou por uma patinadora do Holliday On Ice, assistiu a todos os espetáculos de graça e sumiu com ela. Semanas mais tarde retornou com o sábio argumento de que o amor dura tanto quanto o dinheiro. Inúmeras vezes vimos o pôr do sol em Mont Serrat, o nascer no Alto de Ondina ou vice-versa. Serestas, babas na Boa Viagem, noitadas na casa de um e outro, quando segurávamos os livros e fingíamos estudar. O mundo livre em breve acabaria.

Cheiro de peixe. O funcionário não se convenceu de nossa decisão entre bocejos, pediu que voltássemos com mais convicção. Foi a única vez que tentamos ser atletas. Veio-me à memória também a zanga do guarda ao nos flagrar teclando um rock do Rick Wakeman (talvez fosse Alice Cooper) no painel do fuscão azul (ele já dirigia!), com o sinal aberto e um punhado de carros a buzinar. Ele era minha aposta em alguém que detonaria o mundo e coagularia nossos sonhos. Símbolo da resistência, formava com Pink Floyd e seu Dark side of the moon, Gil, Caetano, Chico, Raul e Rita, meu particular exército da salvação. Ao som de suas canções duas vidas

MARCIO LEITE

Exultei vê-lo novamente após tantos anos. Semblante pesado, barriga comprimida sob o paletó. A novidade ficou por conta dos cabelos ausentes (aqueles cabelos longos e loiros de que me lembro), restando apenas fios brancos rodeando uma área de calvície, dando a impressão de uma ilha ensolarada num mar de histórias esquecidas. Os olhos verdes (estes não mudaram) notaram-me.

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Lembramos, sem nada falar (nunca há tempo para todo o necessário num encontro casual) dos bailes à fantasia, das praias noturnas, das garotas por quem nos apaixonávamos. Quando a emoção assentou, perguntei por seu pai (já se foi, o meu também!), por sua mãe (felizmente ainda viva, como a minha). Pedi notícias da Barra do Paraguaçu, pedaço do céu onde seu pai tinha casa de veraneio. Na ponte sempre havia um moleque bom de violão e meninas de coração mole. Fulano morreu, Cicrano vive longe... A partir daí apenas murmúrios incompreensíveis, a massa disforme das coisas aborrecidas. A alegria escoou por rugas comuns, a fisionomia do menino dissipou-se. A realidade sacudiu-nos violentamente. Abri os olhos e vi um senhor careca entrar circunspecto no edifício dos correios.


Dedos de artista

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CONTOS

Em todo ofício, às vezes, cedemos aos impulsos. Cedi, já disse, por precisão, sem pensar no futuro, nas consequências. Talvez porque sempre se pode pagar uma fiança, mais tarde, para comprar a liberdade.

A economia de gestos, a firmeza na decisão, a consciência clara e a noção de dever. Na arte, tanto quanto na gestão de um orçamento; na poesia ou na ciência; na Justiça e no crime. Precisão diz tudo: exatidão e necessidade. Sendo médico, é certo, inevitável, cobrar de mim destreza e grandes aspirações. E nem cirurgião sou. Clínico geral. Há muito. Dores nas costas, o paciente disse. Na região lombar. Mandei-o tirar a camisa. – As calças também, doutor? (Eu não pretendia. Ele fez a pergunta. Isso poderia ser lembrado em meu favor. Um atenuante. Mas nem aleguei em minha defesa.) – É, as calças também. Enquanto largava as roupas no chão, sem cuidado, o paciente, irrequieto, explicou que não, não sentia a dor irradiar para a coxa. Não fazia esporte regularmente, mas também não era sedentário; sim, passava bastante tempo ao volante do carro.

Indicação clara: dor de caráter inflamatório. Tez normal, as faces gordas e coradas; excesso de peso, mas não muito. As coxas, grossas. A roupa de baixo com um pequeno furo no canto inferior esquerdo das nádegas, como que roído por inseto. De costas para mim, ele olhava para a parede e tagarelava. Eu lhe daria um tanto mais de tempo, fosse eu o velho médico baiano que cativou meu pai engenheiro em passagem pelo interior, e a mim, que o amei e decidi ter a mesma profissão. Mas fui rápido. Por exigência do plano de saúde e, no que me dizia respeito, por precisão, contrariei, é claro, o bom exemplo do meu mentor, há muito esquecido. Culpa dessa modernidade, em que até o afeto é cotado nas Bolsas de Valores. Um caso fácil, de fácil alívio. Na despedida, nervoso, o paciente distraía-se com as próprias palavras.

SERGIO LEO

Em tudo que é belo há precisão. Cirúrgica.

Ainda na clínica, já de saída, o paciente notou a falta da carteira no bolso de trás das calças. Com ajuda de funcionários, logo a encontrou, próxima à janela do meu consultório. Sem dinheiro nem os cartões de plástico. Nem tentei argumentar que era aquele volume seu problema de coluna.


Coragem em registro menor

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Diminuto e cândido reservatório de leptospirose, peste bubônica, tifo murino, inter alia.

Sobressalto-me. Do canto dos olhos, percebo uma mancha cinza. Desaparece no vão entre a bancada e o piso de taco. Fixo os olhos no rodapé. Passados alguns segundos, ressurge. É um rato. Se bem que pequenino. Mais para camundongo. Ou filhote. Cinza e gorducho. Delicadas orelhas róseas, olhos que são pura candura, o charme radial de bigodes longuíssimos. Mas, por pequenino que seja, um rato inspira terror.

Ficar ou partir? De um lado, o medo atávico. De outro, a promessa do café pingado com bolinhos de chuva. E mais. Alguns minutos de estado suspensivo enquanto espero o pedido. O pequeno prazer na interrupção das tarefas por fazer. Ah, como aprecio o sossego da pausa! Estremeço ante a contradição dos movimentos da razão e da vontade. Procuro a resposta à minha volta. O balconista segue ensimesmado. Inocência das janelas. Nem uma nuvem no céu para me apressar. Longe, a chuva de verão para me reter. Tento me distrair, percorro a paisagem humana e alheada. Em cada mesa, uma solidão. Se bem que solidões relativas encontram consolo eletrônico. Num canto,

GABRIELA GUIMARÃES GAZZINELLI

CONTOS

o silêncio da música em surdina (encapsulada nas conchas dos fones que cancelam ruídos). Dispersos diálogos mudos em telas de cristal líquido (ao todo, três, a correrem os circuitos de platina de microchips). O rumor dos teclados rói o tempo. Uma presença ausente se materializa em farelos, na xícara vazia e no desleixo de guardanapo em flor (que cai rota). Espectros de um passado recente. Em minhas retinas, a ausência muito presente da lembrança da fera iníqua de patas almofadadas. A consciência do rato torna minha solidão maior que as outras. Desvio os olhos da bancada. Deito-os no livro aberto. Procuro retomar a leitura. Em vão. Há minutos, na mesma página. Vou desfolhando esperanças de salvação. (O amigo que, pelo visto, não vem...) É quando me voltam uns ecos da leitura. A coragem é uma virtude. E a virtude, bem o sei, requer prática constante. Portanto, preciso praticar a coragem. Hoje. Agora. Sempre. Ou seja, devo permanecer. É isso; a calma me sobrevém como sombra ao entardecer. E, de quebra, me dão café com bolinhos.


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Ins pi ra ção

Sinto-o à beira de mim, a respiração finar remansosamente e, por fim, o corpo recender o éter. É um procedimento rascante, a morte de um menino. De modo que sempre me comove a reincidência. O menino e a pena. Daí desconfio que seja o mesmo menino, reprocessando a morte infinitamente. Porém me recordo das caixas de sapato acondicionando uma soma de retratos destintos pelo tempo, que a minha mãe preserva no fundo do guarda-roupa. Ali estão feições de vários meninos, os meninos que morrem em série. Um deles sopra, de um pito de gesso, uma bolha de sabão. Os meninos povoam os sábados de um trecho dos anos oitenta.

SERGIO TAVARES

Toda a vez que termino um conto, um menino morre.

Eles circulam num shopping que abriga a boutique de sapatos femininos onde a mãe deles trabalha. No segundo piso, há uma locadora de filmes. Os meninos passam a tarde encarando a vitrine, cuja face interna está vestida pelas capas das fitas. Na inexistência de um videocassete em casa, eles imaginam como seriam as histórias e, assim, inventam as próprias histórias. Os meninos acreditam que a ânsia de escrever decorre desse confronto com o inacessível. Portanto, para os meninos paralisados em frente à vitrine, a inspiração é o conteúdo vaporoso de uma bolha de sabão. Basta extraí-lo com sua viloquência de dentro de si. Ocorre que escrever é construir o pito antes. Misturar o gesso, encontrar a liga, derramar no molde, esperar secar, tirar da forma, pintar, acertar o líquido viscoso e, finalmente, soprar. Os meninos são irresistentes feito a superfície de uma bolha de sabão. E, apanhados de chofre por essa rotina, ficam de sobremaneira exaustos, que o esforço do sopro os leva à morte. No rebordo do ponto-final, repousam. Até que a ideia sugere intenções de um novo conto, e um menino se mune do pito de gesso contra os lábios.

CONTOS

Escrever é superar o exercício que vem antes da bolha, depois encher a esfera com a ilusão de um espanto e vê-la decolar para longe de si, até espargir seu conteúdo no mundo. É proclamar a independência de seus atos, fechar-se numa redoma de matéria líquida onde nascer e morrer não sirva a uma ordem devida. Enquanto houver ar, o escritor flutua no limbo junto aos seus meninos mortos.


CONTOS

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Diante do portão, sentirás um silêncio

A pobre solidão ali se contorcia toda de dor.

A velha silenciosa casa rangia. Uma velha silenciosa solidão morava ali. Em meio aos lírios do campo e dos crisântemos. Áspera vida aérea de vento. todos os dias oscilavam as flores, nos fundos tenebrosos daquele quintal dourado pela caridade do sol. Há muito tempo a porta não se abria, mas rangia por dentro de saudades de ninguém. E o lustre da luz banhava o telhado que se congelava com o frio de todo amanhecer, quando um par de pássaros vindo acasalar e fomentar ninhos ali pairava. Se demoravam muito, escolhendo a estação e seus portos seguros.

Dentro da velha casa rangida, resmungando do tempo. em meio aos dias desconhecidos, quando os quintais se emudeciam sob o passar das sombras no inverno, dois pássaros pequenos se acomodaram dentro de uma das calhas, e depois expulsos pelos repentes de uma chuva que desatou todas as suas flores e choros nas biqueiras e alambiques da enxurrada. Nunca mais foram vistos. Nem entrevistos entre as folhagens que cerceavam a casa e compunham quadro morto com a copa de uma árvore baixa que não mais gemia quando do alvorecer do vento em seus galhos frágeis, minguados. Depois desse dia, a

A pobre solidão ali se pensava.

ARTHUR CECIM

Partiam, desconfiando daquela morada que não mais reconhecia os ventos rarefeitos de horizontes distantes.

casa perdurou muitos meses até se recuperar do profundo sono que a chuva lhe causara. Lhe causara, lhe contara um grande sonho. Dentro da velha casa tingida de breu. Comungando em sua igreja sem alma. Nunca rezava, apenas ouvia os afagos da ventania que lhe sombreava a vida. E os quintais se emudeciam com o passar da mão do sol pelo chão ainda noturno sob a árvore, de tão sombra. que o dia se estendia no mar de nuvens do céu, clarão de flor entreaberta. Era verão. E a casa antiga, onde adormecia alguém mais antigo do que ela, a infinita solidão, se condoia toda, com dor nas juntas. E dois pássaros um dia pressagearam em seus telhados impingidos de luz. a casa olhou para o solo e desmoronou. Os pássaros se foram. Era o fim do tempo.


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CONTOS nos visualizara como casal de artistas, meio Frida Kahlo e Diego Rivera, me entristecia. Mas ele não era nem um autor publicado, porque nunca terminara de escrever um romance. Fazia referências a Joyce e a peças de Machado de Assis, mas nunca terminara um romance sequer. E achava que meu gato tinha um nome ruim e nenhuma função.

Sobre por que eu falhei em todas as minhas profissões

Isso que o Diário da Cidade disse que a Combustão Humana Espontânea era “imagético em demasia”. Imagético. Em demasia. Que porra isso quer dizer? (O ideal seria trabalhar como roteirista de jogos de videogame. Mas acho que pra isso eu teria que ser formada em algo na área. Teria que saber uma coisa ou outra sobre jogos, algo além de Pokémon, Mortal Kombat e Portal.) Ao mesmo tempo, depois de três anos publicando pela Celsius Editora — a casa editorial com as capas indiscutivelmente mais bonitas —, disseram que não iam publicar meus ensaios. Não do jeito que estão, disse o editor. — A linguagem me faz pensar num livro juvenil mal-adaptado — o Carlos riu. Já jantei na casa do Carlos, mais de uma vez.

Perguntei se as histórias, que modestamente chamei de Parábolas, eram o problema. — Está aventuresco demais. — Aventuresco? — Cheio de peripécias, namoriscos. — Ahn? (Quando era bem pequena, sonhava ser veterinária. Agora me pergunto por que Letras, e não Veterinária. Eu poderia ser como um daqueles adestradores famosos. Sabia que cobram cento e cinquenta reais a hora? Mais barato comprar um cachorro novo, ou adotar vinte.) — E qual a função desse gato, o… — meu marido perguntou — Taco. Taco Cat. Qual a função do bicho? Não tinha função. Era um gato. Era um palíndromo. Eu tinha achado bonitinho. Ele não gostou. Eu, que sempre

LUISA GEISLER

(Demorei a entender que queria ser tatuadora. As pessoas te davam uma ideia, tu sugeria algo, talvez criasse algo em cima. Mas o primeiro passo não era teu.)

(Isso sem falar que meu primeiro vestibular foi pra Teatro.) A jornalista tinha lido todos os meus livros, incluindo o de ensaios. Tinha uma opinião. Cheirava a um perfume caro demais. Perguntou se as coisas A, B e C eram autobiográficas, afinal, tinham a ver com a minha vida nos momentos X, Y e Z. Perguntou se eu ia mesmo me aposentar, se não eram boatos. Mas ela sabia que não era, pois já tinha sido divulgado mais de uma vez. — Não levo muito jeito pra escrita. — A conclusão só depois de tantos anos? — A gente morre tentando, eu acho — eu sorri.


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CONTOS

I Ai, foi um estrondo horrível. Eu acordei gelada, assombrada com ideias de morte. Tentei afastá-las, mas aí ouvi as sirenes, a movimentação pelo prédio, e tive certeza. Fui até a varanda e vi lá embaixo o corpo em uma geometria impossível para alguém vivo. Um círculo de pessoas se formou ao redor, velando o homem. Horrível. Sei que eu devia ter descido, mas voltei pra cama. Não consegui e não conseguiria mais dormir. Nas noites seguintes, os ecos do suicídio me arrancavam do sono: o estrondo do corpo ao chão, as sirenes e a movimentação no prédio se repetindo em meus ouvidos. A insônia foi me consumindo.

II No elevador, subiu uma vizinha que nunca havia visto, muito parecida comigo na idade e no aspecto deplorável. Imaginei que tínhamos o mesmo problema enquanto via nossas replicações nos espelhos. Os sons daquele suicídio ecoam na minha cabeça e não consigo dormir, eu disse. Ela respondeu, com um riso nervoso: Você acha que são ecos na sua cabeça?! São os outros moradores se jogando! Fiquei aterrorizada. Você não percebeu o prédio cada vez mais vazio? Não sobrou mais ninguém. O som das movimentações após os estrondos havia mesmo diminuído, mas pensava que era só na minha cabeça. Hoje será a minha vez, eu vou saltar. Quando você ouvir, vai saber que não foi só um eco da sua cabeça. Amanhã será você. À noite, ouvi o estrondo e as sirenes. A sensação não foi diferente da dos ecos de antes, a não ser pelo silêncio do prédio. Tive vontade de ir até a varanda, confirmar que a moça não estava lá caída, que tudo não passara de uma brincadeira perversa sua ou uma alucinação minha. Mas não tive coragem de olhar.

RAFAEL GALLO

Ecos

III Amanhã será você – eu ouvia os ecos da voz dela sem parar, desde cedo até a noite. Chegou a minha vez. Eu poderia escapar? Preciso pregar os olhos, ter algum alívio. Meu Deus, vou entrar em colapso. Eu vou morrer, eu vou morrer. Talvez possa me salvar se atravessar essa madrugada: não vai mais ter ecos, só sobrou eu. Chega, não consigo suportar! Vou até a varanda. O chão lá embaixo me recorda a imagem do homem morto. Foi horrível aquilo. Penso nele e nos outros que se foram sem eu dar atenção. A única coisa que temo é não haver mais ninguém aqui pra me velar.


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CONTOS

1. Destrua/ pulsante/ e crave/ no peito/ do errado/ menino/ que nada/ sabia/ que o mundo/ é louco/ para que / se conjugue/ o verbo/ existir. Como Um Deus, com ritmo e signos, crio oração e coração: sístoles adjetivos, diástoles advérbios, inserto o infante, incerta infâmia até o fim (para ele); a palavra que cria um coração foi promessa de amor de salvação – na perdição, abraço-o, e ele diz que não há redenção sem expiação; que um dia nos encontraremos. E Este É O Céu. 2. Meu Próprio homem, conheci-o aos 17 ao pintar telas sacras, incipiente artista, insipiente noviça. Errático amor, ele pregou e me doei por completo: o sangue uno dá o Milagre dos pães, apesar da expulsão do convento. 3. Não sou virgem e simétrica por culpa do homem, o filho Me odiará; crescido, verá que sou um monstro pecador.

4. Preciso de um alívio, ligo a tv, maldita exegese, em tudo vejo minha aberração; um apresentador mostra como sobreviver na selva; captura um cervo, erige uma faca para Matálo, e a vertigem me invade. 5. a faca é erguida: pela fé, um homem morreu na cruz; pela crença, minha carne foi penetrada. Para Que o assassino sobreviva, a faca perfura o peito do pequeno ser imolado. Meu Coração acelera, sinto vertigem. 6. a vertigem não cessa; desligo a tv, um arrepio toma meu corpo. Para o berço corro; lá, redento e rebento, o ser febril não sabe que o cervo deve morrer: tem febre e eu sinto piedade. Que culpa tem meu pequeno servo? Minha Criação deve sofrer por minha assimetria? Sangue meu e Do Outro. Do Que Me Mutilou, deixando-me; busco uma faca, corto uma uva, o filho sente fome, mas nega a fruta, nega-me. 7. Não há como o bebê saber: seu próprio pai me fez crer na mutação; pregou que a mutilação da orelha traria genialidade: busquei Vincent, fui vil, fui enganada, fui mutilada. Mais,

MARCOS PERES

Imperfeito, hipermágico, diabólico

fui expulsa do convento: eis a aberração, meu filho é minha carne, cortada; o sofrimento sucede a promessa e origina a redenção; no limbo, aqui, o castigo pulsa e não é crime acabar com a vida – que o céu exista, mesmo que meu lugar Seja o Mutilado círculo dos assimétricos: este é o inferno. Imperfeito: 1-2-3-4-5-6-7 Hipermágico: 2-7-3-4-6-5-1 Diabólico: Apenas palavras maiúsculas de 4-5-7-6-3-1-2


Milho Eu gosto.

De enfiar a mão num monte de milho. Na vendinha de seu Aubécio tinha que era cheio. Lentilha, feijão, arroz, amendoim, feijão – agora daquele mais claro. Os sacões de palha seca, vindo de longe do lombo do burrico. Coloridos, riquezas, grãos do arco-íris.

JOÃO PAULO VEREZA

60

CONTOS

Mamãe pro balcão, cachaça pro pai, o resto descrito no papel pardo, café, toucinho, papel de bunda. Eu perdido, o mercadão labirinto, caminhando pelas torres de lata, as bolachas glacê, os shampoos trancados de cadeado na vidreira. O chão corrido de madeira murcha, frestinhas pro submundo escuro, o calção da porta apagado de tanto pisão. E enfiava a mão no milho, dourado, milhões. As duas, mergulhadas – era água de poço de tanto milho, no ar, as mãos casadas irmãs como dois passarinhos. Tinha energia aquele milho, do chão e da terra, do super-herói voador, mexer era passe de mágica. Grão duro, amarelo vivo, natural, o pontinho branco que nem unha, essa me olhando agora. Era daquilo, do milho, do tato, disso aí que diz do sensorial. Gostei de muita coisa depois. Na vida hoje são mais poucas. Até morrer vai ser menos, menos.


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CATÁLOGO


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