Para Respirar Liberdade

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Sesc Bauru 16 de janeiro a 14 de junho de 2020



REAPRENDER O ÓBVIO A Declaração Universal dos Direitos Humanos nos lembra que compartilhamos um destino comum, somos interdependentes e coexistimos com os demais seres e o planeta. A simplicidade e a obviedade desses ideais causa espanto. Mais ainda quando notamos que uma parte deles está sob ataque. O contexto atual tem evidenciado um crescente avanço de posições e questionamentos em sentido inverso, qualificando-os como excessivos. Desconsideram o óbvio: somos iguais em direitos e deveres. A longa história de lutas em favor da dignidade humana merece ser cultivada e valorizada. Por vezes, a percepção de que algo sempre nos pertenceu faz com que fiquemos acomodados e indiferentes. Esquecemos que, ao longo da existência, aprendemos e reaprendemos por meio da educação, da convivência, da experimentação e da cultura, entre outras dimensões do conhecimento. Os Direitos Humanos requerem o compromisso permanente das sociedades. Por isso nunca será cedo ou tarde demais debater, de maneira crítica, a condição do ser humano, recorrendo a abordagens e propostas diversas. Nesse sentido, a exposição Para Respirar Liberdade - 70 Anos da Declaração dos Direitos Humanos, realizada em parceria com o Instituto Vladimir Herzog, a partir de interpretações do artista Otávio Roth, convoca para uma reflexão sobre uma organização social mais justa e igualitária, centrada no exercício da autonomia e na solidariedade. Ao incorporar atividades complementares colaborativas, abrem-se canais de participação, interação e sensibilização para públicos de diferentes faixas etárias e formações. Como instituição sociocultural de caráter educativo, o Sesc acredita que reafirmar o óbvio, muitas vezes, seja necessário para destravar as amarras invisíveis que atravancam os espaços públicos de encontro, escuta e diálogo. Esse ideal de desenvolvimento cidadão, amparado pelos princípios do bem-estar social e da qualidade de vida, está intimamente ligado ao cuidado, ao respeito e ao afeto em relação aos outros. Danilo Santos de Miranda Diretor do Sesc São Paulo


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Brasil é um país marcado por feridas históricas que nunca foram curadas. Com a ditadura militar, por 21 anos, nosso país conviveu com o horror da perseguição política, da censura à imprensa, da tortura e da morte de quem ousou se posicionar pela democracia. Não podemos nos esquecer desse passado. Um país sem memória perde a oportunidade de corrigir seus erros e de pensar seu futuro em termos de dignidade humana. O acesso à memória e à verdade é um direito. A memória coletiva de um povo é fundamental para a democracia. Nesse sentido, o Instituto Vladimir Herzog, em parceria com o Sesc São Paulo, apresenta a exposição Para Respirar Liberdade – 70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com obras do artista e ativista político Otávio Roth. A partir do trabalho delicado do artista, a mostra valoriza os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um documento histórico que precisa ser resgatado em meio ao contexto de acirramento da violência e do discurso de ódio. Aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, a Declaração é uma resposta aos crimes contra a humanidade cometidos ao longo da Segunda Guerra Mundial, atos de barbárie que levaram milhares à morte. Setenta anos depois, acompanhamos inúmeros retrocessos dos direitos sociais, uma assustadora ascensão do fascismo e uma perversa criminalização dos direitos humanos. Não é possível admitir que tais violências sejam apresentadas como discursos legítimos. Em um momento tão frágil de nossa democracia, o Instituto Vladimir Herzog reforça sua missão na defesa dos direitos humanos e reafirma sua posição de luta por meio do diálogo e da valorização da cultura. Acreditamos que a arte, especialmente quando engajada politicamente, é essencial para transformar a cultura de violência. É ela quem tem a potência de acessar o que há de mais humano em cada um de nós e de nos mobilizar para a construção coletiva de um mundo mais justo e digno. Esta exposição nasce em um momento crucial, e esperamos que a força da obra de Otávio Roth possa nos inspirar para a resistência e para a defesa dos valores democráticos, abrindo caminhos para que todos e todas possam respirar liberdade. Rogério Sottili Diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog


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távio Roth foi um artista plástico e ativista a frente de seu tempo: foi papeleiro e proponente de grandes instalações de arte participativa entre os anos 1980 e 1990, quando tanto o papel artesanal quanto o fazer coletivo ainda eram pouco conhecidos e explorados no Brasil. Sua produção é colorida e vibrante e, ainda assim, singela e delicada. Durante vinte anos de produção, Otávio experimentou a fotografia, a gravura, o desenho livre, uma grande variação de técnicas em papel artesanal, além da construção de grandes instalações, algumas colaborativas e outras individuais, misturando técnicas de colagem, dobradura, desenho e escrita. A marca de seu trabalho não está, pois, nos recursos plásticos e materiais que explorava, mas sim nos valores que se propunha a disseminar através de sua obra: o respeito aos direitos humanos, a liberdade de expressão, a igualdade no diálogo. A defesa desses valores, basilares na estruturação de uma sociedade mais justa e harmônica, é legada ao Acervo Otávio Roth (AcOR) como sua principal missão. Entendemos o papel social da arte como aquele de sensibilizar pessoas, agregar ideias e possibilitar o estabelecimento de uma rede entre indivíduos e instituições comprometidas com a criatividade e o pensar livre, sempre pautada no respeito e na promoção dos direitos fundamentais de todos. Sob esse espírito, estruturamos o Acervo como uma organização em rede, focada na preservação e promoção da obra deixada por Otávio e aberta ao desenvolvimento de novos projetos, para que de maneira orgânica possamos continuamente celebrar esse legado, que junto ao de tantos outros artistas e ativistas, nos orienta para pensar o futuro. O Projeto A Árvore (1990) materializa nossa essência: em 2018, a obra volta a crescer, graças a ação de milhares de jovens colaboradores que nutrem um novo - e esperamos longevo - ciclo de crescimento da obra. Essa longa jornada que decidimos retomar ilustra nossos esforços de contribuir para a permanente promoção de uma cultura de paz e inclusão. Convidamos todos a se juntarem a nós nessa missão, pois acreditamos que uma sociedade mais justa, inclusiva e próspera depende da contribuição de todos. Isabel Roth Curadora do Acervo Otávio Roth


PARA RESPIRAR LIBERDADE 70 ANOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada por 48 Estados, com oito abstenções. Cabe destacar que não houve nenhum questionamento nem pedido de alteração ao texto apresentado, nenhum voto contrário. Hoje, o texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU tem significado universal, seus princípios são cada vez mais relevantes e regem os valores fundamentais do mundo civilizado. O Instituto Vladimir Herzog e o Sesc Bom Retiro uniram esforços para realizar em 2018 a exposição Para respirar Liberdade – 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A mostra também homenageou o artista plástico Otávio Roth (1952-1993) que dedicou sua vida e sua expressão artística à defesa e à difusão dos direitos humanos, consagrados na declaração da ONU.

OTÁVIO ROTH E OS DIREITOS HUMANOS Em depoimento realizado em 1979, Otávio Roth revelou que a epígrafe do túmulo do jornalista Vladimir Herzog, causou um enorme impacto na sua obra: “Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerar seres humanos civilizados.” Segundo ele, no texto de Vladimir Herzog “estava toda a essência que eu procurava para minha arte – a defesa dos direitos humanos.” Em 1972, Roth foi estudar em Londres, na Inglaterra, onde desenvolveu técnicas de impressão e de fabricação de papel artesanal. Nesse período tornou-se aluno e amigo do artista e militante social Peter Paul Piech (1911-1996), cujos ensinamentos influenciaram sua postura de artista e sua expressão gráfica. Quatro ano depois mudou-se para Oslo, na Noruega, e lá produziu sua primeira série de gravuras contendo a totalidade dos artigos contidos na Declaração Universal, em norueguês.


No 30º aniversário da Declaração (1978), Roth apresentou sua segunda versão em litogravura dos 30 artigos da Declaração realizando cartazes em língua inglesa. A primeira imersão do artista voltada para os direitos humanos foi eminentemente gráfica. Roth obteve sínteses surpreendentes e de fácil compreensão ao ilustrar conteúdos às vezes áridos e complexos, detendo-se nos aspectos essenciais de cada artigo. A crítica de arte Radhá Abramo (1934-2013) chamou atenção para a força expressiva desse conjunto de gravuras: As figuras, como de uma casa ou de uma criança, compostas ao lado de palavras, assumem um papel de alegoria plástica, deixando de ser uma mera ilustração. Elas complementam o significado dos direitos. A proeza do gravador vai mais além; o texto escrito reporta-se invariavelmente ao raciocínio, faz o leitor pensar abstratamente. O texto plástico, apreendido sensorialmente pela visão, pelo tato, estimula a sensibilidade do espectador. Ora, Otávio Roth eleva seu discurso artístico à sua potencialidade máxima, já que a imagem dos direitos – impressa na gravura – atinge o raciocínio e a emoção do espectador simultaneamente. O poder de comunicação do conjunto gráfico de Otávio Roth despertou enorme interesse na Europa e nos Estados Unidos. Em 1981, a versão em inglês foi adotada pela ONU, e desde então, permanece em exposição nas sedes de Genebra (Suíça), Viena (Áustria) e Nova York (Estados Unidos). Roth desenvolveu versões em diversas línguas, em técnicas variadas, sendo que uma delas foi realizada no Japão e executado em parceria com o mestre de caligrafia artística Ryoichi Kogi. Para a versão japonesa, Roth teve de recorrer a símbolos orientais para imprimir imagens que fossem inteligíveis aos japoneses e que representassem os conceitos expressos na Declaração. Depois dessa experiência, Roth evoluiu para novos conceitos plásticos, atuou além da fronteira gráfica, e passou a explorar novas possibilidades de expressão no espaço. Criou ambientes envolventes que transformaram o espectador em protagonista, isto é, em participante ativo do seu processo criativo. Seus projetos uniam um grande número de pessoas. O artista percebeu que os conceitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos não dependiam apenas da


compreensão racional, mas para serem efetivamente adotados precisavam ser vivenciados através de experiências coletivas e solidárias. O projeto A Árvore foi desenvolvido com o propósito de criar uma obra coletiva, através de um intenso processo participativo. Crianças de todas as idades eram incentivadas a criarem um desenho que remetesse a um sonho ou um desejo e uma mensagem sobre um papel em forma de folha. Centenas de folhas eram fixadas nos ramos pintados em nanquim e mais uma centena era acrescentada a cada semana de trabalho, formando uma frondosa árvore. A Árvore exposta na itinerância Sesc é resultado do trabalho de milhares de jovens e forma um conjunto envolvente e solidário. O projeto desenvolvido por Otávio Roth permanece vivo e aberto. Não finda, ao contrário, multiplica-se e atravessa gerações. Muitos dos pais que hoje acompanharam seus filhos nesse projeto, já participaram anos atrás, quando eram pequenos. Com isso Roth criou uma corrente de comunicação solidária, inclusiva – com energia humana ensolarada. Na época em que Roth produzia sua obra humanista e libertária, o processo democrático ainda não havia sido retomado no Brasil. Mesmo vivendo no exterior, o artista ofereceu sua criação gráfica para difundir as lutas libertárias, participou de diversas ações da Anistia Internacional, e envolveu-se com os movimentos que lutavam para restabelecer a democracia no Brasil. Anos depois, em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito depois 21 anos (1964-1985) de ditadura militar. Contudo, a eleição, apesar de ter restaurado a democracia, obedeceu às regras do regime militar e ocorreu pelo voto indireto, através do colégio eleitoral do Congresso Nacional. Todavia, a restauração democrática exigia uma nova Constituição, que, depois de promulgada em 1988, foi chamada por Ulisses Guimarães de “Constituição Cidadã”. O novo texto constitucional consolidou a legislação sobre os direitos humanos e, como afirma Flávia Piovesan: “A partir dela, os direitos humanos ganham relevo extraordinário, considerando-se a Carta de 1988 como o documento mais abrangente sobre os direitos humanos, jamais adotado no Brasil.” A nova Constituição consagrou os direitos individuais e a liberdade de opinião, de manifestação e de organização; criminalizou o racismo; aboliu a pena de morte e o banimento; garantiu a liberdade religiosa; repudiou a tortura e os tratamentos desumanos e degradantes.


Otávio Roth percebeu o enorme significado e a importância da “Constituição Cidadã” e se propôs a realizar com ela um trabalho semelhante ao feito com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A obra chama-se Mural Cívico e apresenta um conjunto de oito painéis construído com a participação de cinco mil brasileiros, em 1998. Roth reproduziu o preâmbulo (caput) do artigo 5º da Constituição Federal, que define os Direitos Fundamentais: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade […]”. A obra viajou por cinco capitais antes de ser doada ao Congresso Nacional. Além do Mural Cívico, Otávio Roth criou mais dois projetos referentes à Constituição de 1988, sendo um deles a edição de cinco exemplares em papel artesanal e capa feita em Pau Brasil. Um exemplar foi doado a Ulisses Guimarães, e os demais: ao Presidente da República; ao STF, ao patrocinador; e um exemplar que se encontra com a família do artista.

ALGUMAS ANOTAÇÕES SOBRE ARTE, PREOCUPAÇÃO SOCIAL E DIREITOS HUMANOS NO BRASIL Há na história da arte, notadamente após a revolução francesa, exemplos contundentes de repulsa à crueldade e ao abuso dos poderes constituídos. Talvez a obra mais relevante seja a série de pinturas de Francisco Goya Os Desastres da Guerra realizada entre 1810 e 1814. Nas telas de Goya a guerra é representada de modo inglório, sem heróis, conduzida por assassinos cruéis. Na Europa do século 20, o tema das duas grandes guerras foi tratado por diversos artistas. O painel Guernica de Pablo Picasso, realizado em 1937, denuncia as atrocidades cometidas pelo fascismo e foi apresentado no Pavilhão da República Espanhola por ocasião da Exposição Internacional de Paris. A grande tela de Picasso comoveu o mundo e repercutiu no ambiente artístico brasileiro. O painel mostrava o criminoso bombardeio da aviação nazista contra a população da cidade de Guernica em 26 de abril de 1937, em favor das tropas lideradas por Francisco Franco, durante a Guerra Civil Espanhola. Outro exemplo de repercussão internacional que denunciou a injustiça foi a pintura A Paixão de Sacco e


Vanzetti, do artista americano, Ben Shahn. Na tela os dois anarquistas italianos aparecem em caixões abertos diante dos juízes que os condenaram à morte. Mesmo sem provas os dois imigrantes foram executados em 1927. No poema América, de Allen Ginsberg, há menção a injustiça: “América o Sacco & Vanzetti não podem morrer”. Cinquenta anos depois (1977), o governador de Massachusetts, promulgou um documento que os absolvia. Vale ressaltar que a obra de Ben Shahn era admirada por Otávio Roth, que via nela um caminho artístico a ser seguido – denunciar toda injustiça. No Brasil, apenas com o modernismo as artes plásticas refletiram, de modo explícito e intencional, os conflitos da sociedade brasileira, mas foi, sobretudo a partir da década de 1930 que essa preocupação ganhou força, e atraiu um número expressivo de artistas a tratar de temas que abordavam as injustiças sociais. Desde os anos 1930, Di Cavalcanti já produzia para imprensa ilustrações com críticas contra o fascismo. Portinari mostrava o drama da miséria e exaltava a

Exposição Para Respirar Liberdade (Sesc Bom Retiro, São Paulo, nov/2018). Foto: Isabel Roth


força do trabalhador e suas qualidades humanas. Em 1957, os painéis Guerra e Paz de Portinari foram instalados na sede da ONU, e tratam o tema da guerra com ênfase no sofrimento do povo e não na violência dos combates. No Brasil, a gravura foi a técnica mais utilizada para a expressão de crítica social, certamente por permitir ampla reprodução. A imagem gravada servia também para ilustrar panfletos e cartazes com a intenção de propagar ideias e mobilizar a sociedade e os trabalhadores. Nesse contexto, nos anos 1950 surgiram clubes de gravura, em diversas cidades do país (Bagé, Porto Alegre, São Paulo, Santos, Rio de Janeiro, Recife). O Clube de Gravura de Porto Alegre, criado por Carlos Scliar e Vasco Prado, foi o mais ativo e duradouro. Logo se associaram ao clube outros artistas, como Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues e Danúbio Gonçalves. A década seguinte (1960) foi de recrudescimento da Guerra Fria que atingiu a América Latina em decorrência da revolução cubana, mas foi também uma década de grandes transformações no campo das ideias, dos costumes, das ciências e das artes. No começo desse período, o Brasil vivia um momento de otimismo desenvolvimentista e de mudanças sociais que foi frustrado pelo golpe militar de 1964. A quebra do regime democrático retirou direitos políticos, baniu do país as principais lideranças, prendeu opositores e introduziu a censura na imprensa e nas expressões artísticas. Em 1968, com a promulgação do Ato Institucional nº 5, teve início o período que ficou conhecido como “anos de chumbo”, quando a população, privada de seus direitos e garantias civis, assistiu a uma escalada repressiva e ao endurecimento do poder militar. Ainda assim, houve resistência libertária na cultura e nas artes, provocada em grande parte pela mudança nos costumes. Enquanto isso, nos países democráticos da Europa o movimento da “contracultura” mobilizou a juventude e atacou o modus vivendi político, a ética vigente, a sociedade machista e os hábitos burgueses. Pois bem, nesse caldeirão de transformações e retrocessos, de sonhos e de rebeldias, os artistas procuraram criar suas obras na velocidade dos acontecimentos políticos e sociais. A arte deveria preocupar-se com a inovação de sua linguagem e, ao mesmo tempo, com a transformação da sociedade. Era preciso colocar-se à frente das ideias políticas e estar na vanguarda das propostas estéticas.


Durante a ditadura os órgãos de repressão e de censura estavam sempre vigilantes. Inúmeras obras foram consideradas ofensivas ao poder militar e eram retiradas de circulação ou destruídas. Em certas ocasiões, agentes atuavam em plena exposição, vandalizando obras que criticavam o regime ditatorial. Outras eram previamente censuradas e, assim, impedidas de serem expostas. Os direitos humanos foram constantemente desrespeitados e recrudesceu a violência do Estado. Pessoas eram presas, torturadas e assassinadas nos porões da repressão. Vladimir Herzog foi morto sob tortura em 25 de outubro de 1975, nas instalações do DOI-CODI, no quartel general do II Exército de São Paulo. A morte do jornalista causou enorme indignação. O laudo oficial, entretanto, tratava de suicídio, embora todas evidências demostrassem que havia sido assassinato. Em protesto, milhares de pessoas enfrentaram as barreiras policiais para assistir à missa ecumênica na Catedral da Sé em sua memória e para manifestar-se contra a violência e a ditadura. O artista Antônio Henrique Amaral, pintou a tela intitulada A morte no Sábado e Cildo Meireles criou um carimbo com a frase “Quem matou Vladimir Herzog?”, que era aplicado às notas de dinheiro que voltavam a circular, denunciando a violência do aparato repressivo da ditadura. Nos setenta anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, A Árvore de Otávio Roth se mostrou frondosa no hall de entrada do Sesc Bom Retiro, em São Paulo. Agora, dando sequência a este sucesso, o Sesc Jundiaí apresenta uma nova montagem suspensa da Árvore enquanto, no Sesc Bauru, ela é disposta de maneira inédita como um penetrável. A Árvore é uma produção coletiva, resultado da ação de milhares de crianças. Ela é, sobretudo, expressão da vontade que temos de respirar liberdade e de ver os preceitos dos direitos humanos florescerem entre nós. Fabio Magalhães Curador


OS SETENTA ANOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS ATRAVESSANDO UM MAR DE CONTRADIÇÕES1 No ano em que celebramos 70 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos, perguntamo-nos: onde estamos exatamente? Temos realmente algo a comemorar? Aniversários de declarações e tratados internacionais carregam, em geral, certa carga de frustração, inevitável se compararmos os ideais neles consagrados com a realidade atual. A Declaração, em seu preâmbulo, proclamava que “o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”. A Declaração foi concebida como um equilíbrio cuidadoso das liberdades individuais, proteção, oportunidade econômica e deveres para a comunidade. Essa visão holística é tão relevante hoje como foi há 70 anos. Um dos fatores que contribuem para o sucesso da Declaração é precisamente que ela transcende o direito internacional ao enunciar princípios morais gerais aplicáveis a todos. Seu caráter de non biding, não vinculante, é uma de suas maiores vantagens, tendo seus artigos alcançado um status próximo de normas de direito internacional consuetudinário. Sua flexibilidade oferece amplo espaço para novas estratégias a fim de promover direitos humanos. A Declaração serviu como plataforma para inúmeras iniciativas no direito internacional de direitos humanos, como os dois pactos internacionais de direitos civis e políticos e o de direitos econômicos, sociais e culturais, em 1966; os mandatos de relatores especiais por país e temáticos; e a pletora de órgãos de tratados com experts independentes do Tribunal Penal Internacional, em 1998. A Revisão Periódica Universal, criada em 2006 com o Conselho de Direitos Humanos (que sucedeu a Comissão de Direitos Humanos, fundada em 1946), Uma versão anterior deste texto foi apresentada no “I Fórum de Direitos Humanos da AASP - 70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos”, Associação dos Advogados de São Paulo, em 24 de abril de 2018. A versão aqui apresentada foi publicada originalmente no catálogo da exposição “Para Respirar Liberdade - 70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos” do Sesc Bom Retiro, em dezembro de 2018. 1


compreende o exame da situação dos direitos humanos em todos os estados membros, tendo como fundamento legal a Declaração. Os relatórios voluntários dos estados membros ao Conselho de Direitos Humanos, com respeito ao padrão non biding, não vinculante, da Declaração parecem mais efetivos que as chamadas obrigações vinculantes impostas pelos tratados de direitos humanos. Desde a adoção da Declaração, a maioria dos governos introduziu normas internacionais de direitos humanos em suas leis e constituições, enquanto um número ainda maior de organizações e redes da sociedade civil no mundo inteiro apela para o dever de responsabilização, accountability, dos autores de violações. Entretanto, ainda hoje, a dignidade de milhões de pessoas continua a ser violada em consequência de governabilidade fraca ou ineficaz, pobreza, desigualdade, corrupção e guerra. Continua a existir um fosso entre as altas aspirações dos direitos humanos e sua implementação, entre a retórica de governos e sua falta de vontade política para realizar as promessas.

UM FOSSO ENTRE A DECLARAÇÃO E A REALIDADE Hoje, mais de 1 bilhão de pessoas – um em cada seis seres humanos – vivem em condições de pobreza extrema. No Brasil, segundo o IBGE, o número de pessoas em extrema pobreza passou de 13,34 milhões em 2016 para 14,383 milhões em 2017 – um aumento de 11,2%. A desigualdade de renda aumentou em todas as regiões do mundo nas últimas décadas. Em 2016, a parte da renda nacional dos 10% mais ricos era por volta de 55% na África Subsaariana, no Brasil e na Índia. Todo ano, entre 500 milhões e 1,5 bilhão de crianças em todo o mundo sofrem alguma forma de violência física, psicológica e sexual no lar, na escola, no trabalho, em instituições judiciais e na comunidade. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 11 milhões de meninas entre 5 e 17 anos exercem trabalho doméstico, considerado uma das piores formas de trabalho infantil. Só no Brasil são 3 milhões, sendo elas, em sua maioria, negras. Nós, agora, estamos assistindo a níveis altíssimos de pessoas deslocadas de sua moradia. São cerca de 65 milhões, sendo que 22,5 milhões são refugiadas


– a metade delas menores de 18 anos. Em consequência da guerra na Síria, em março de 2018, havia 5 milhões de refugiados – 1 milhão desses na Europa. O grande desafio do século 21 é fechar ou pelo menos reduzir significativamente o fosso entre as normas de direitos humanos e a realidade de sua não aplicação. Uma estratégia de direitos humanos para a próxima década deve responder eficientemente ao desafio da pobreza e da desigualdade. O mais paradoxal quanto à implementação das normas internacionais é que ela requer o fortalecimento dos sistemas nacionais de proteção eficazes. Esses mecanismos incluem o sistema judicial, a polícia, as prisões, os ministérios sociais, a legislatura, assim como as organizações nacionais de direitos humanos e organismos oficiais de monitoramento, complementados pelo espaço assegurado para os defensores de direitos humanos. Não esqueçamos que o governo democrático no Brasil nunca conseguiu garantir a segurança aos defensores de direitos humanos. Segundo a Anistia Internacional, o Brasil é o país das Américas onde mais defensores de direitos humanos foram mortos nos últimos três anos. Em 2017, foram 58 – a maioria composta de ativistas envolvidos com questões ligadas ao meio ambiente e à terra.

PROGRESSO NA LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS Devemos reconhecer que, em meio a tantos horrores, a luta pelos direitos humanos progrediu mais do que o esperado. Como poderíamos imaginar, em meados do século 20, que o poder supremo do Leviatã, o princípio sacrossanto de soberania do Estado, poderia ser mitigado por órgãos internacionais e desafiado por relatores especiais? Mas essa evolução sempre sofreu a interferência da outra face do Estado moderno, justamente por deter o monopólio do uso legítimo da força física. Pois o Estado é o lugar da contradição: ao mesmo tempo, o maior violador de direitos humanos e o defensor pacis, protetor dos fracos, garantidor dos direitos. Em consequência, a luta pelos direitos humanos ocorre num campo de contradições, pois gravita em torno do Estado e da política. Não há política sem contradição, não há luta pelos direitos humanos sem conflitos, obstáculos e resistências.


Creio que nos iludimos ao pensar que essas contradições, de certa maneira, tivessem sido solucionadas na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos de Viena, em 1993, com sua Declaração e Programa de Ação, em que a democracia figura como o regime que mais tende a proteger os direitos humanos. A democracia não é capaz de, por si só, prevenir as violações ou de eliminar o autoritarismo socialmente implantado no Brasil, por exemplo, que precede a ditadura, continua nela e sobrevive na democracia. Na América do Sul, democracias saídas da transição política da ditadura ocultam a opressão sofrida pela parcela da população economicamente mais desfavorecida, a corrupção de políticos e agentes estatais e a cumplicidade de ambos com o crime organizado. No Hemisfério Norte, o governo dos Estados Unidos da América, durante a invasão do Iraque, legalizou o uso da tortura contra suspeitos e prisioneiros por terrorismo. Em algumas democracias europeias, vemos o fortalecimento de partidos autoritários na França e na Itália e até mesmo o florescimento de partidos nazistas na Grécia, que chegam a integrar coalizões de governo na Áustria e na Alemanha. Essas democracias consolidadas sem nenhum respeito à convenção sobre refugiados e ao princípio de non refloulement reprimem, prendem e expulsam refugiados sírios e confinam famílias e crianças em centros de detenção por longos prazos.

A DECLARAÇÃO E O BRASIL Mas, afinal, aqui no Brasil, o que significou o retorno ao governo democrático constitucional para a implementação dos princípios da Declaração? Pela primeira vez na história republicana, quase meio século depois da Declaração, os direitos humanos foram assumidos como política de Estado, desde o retorno ao governo civil, em 1985, com a Constituição de 1988 e, de forma mais definida, desde 1995, pelos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Deve-se reconhecer que todos os governos anteriores foram coniventes e, por vezes, responsáveis pelo reinado nas sombras dos cleptocratas de sempre.


O PMDB (atual MDB), não por acaso, esteve presente em todos os gabinetes presidenciais desde 1985. Esses governos, sem maioria no Congresso, foram obrigados a formar coalizões com partidos conservadores e fisiológicos – o famoso presidencialismo de coalizão, cunhado por Sérgio Abranches, ou de cooptação, segundo Fernando Henrique Cardoso. Mas, para o bem ou para o mal, sob Dilma, Lula e Fernando Henrique, ao menos, existia uma pressão contrária que variava muito de intensidade e de prática, dependendo da conjuntura, que exercia um contrapeso progressista para a promoção dos direitos humanos ao conservadorismo de nosso establishment político-partidário, que jamais assumiu a hegemonia no bloco no poder, como agora, no presente governo. Isso tudo tornou possível, naqueles mandatos presidenciais, a implementação de iniciativas sob os princípios da Declaração, como: políticas sociais de combate à pobreza extrema, como o Fome Zero e o Bolsa Família; criminalização da tortura; criação do Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado; ratificação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos; reconhecimento da jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA; os três PNDH (Programa Nacional de Direitos Humanos); a Lei Maria da Penha; a lei contra castigo físico de crianças; as políticas afirmativas de direitos dos afrodescendentes; as Comissões Nacional da Verdade e de Mortos e Desaparecidos; a erradicação do sub-registro civil de nascimento; os programas de proteção a defensores de direitos humanos, a crianças ameaçadas de morte e a testemunhas; o ProUni; o Estatuto da Criança e do Adolescente; o Estatuto do Idoso.

O GOLPE CONTRA A DEMOCRACIA E OS DIREITOS HUMANOS Todo esse desenvolvimento virtuoso da política de Estado de direitos humanos no Brasil, inspirado pela Declaração, toda a operacionalidade que levamos mais de 20 anos para montar foi posta abaixo numa penada, como disse o ex-ministro José Gregori, pelo governo que emanou do golpe institucional do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.


Por isso a situação atual é tão grave. Não foi apenas um golpe contra um partido ou um programa ideológico, mas visando a reverter os mínimos ganhos em direitos humanos pela maioria mais pobre da população. Os alvos dessa operação de retrocesso são amplos e diversos. Os mais aberrantes já aprovados violam tratados de direitos humanos que o Brasil ratificou: a PEC 55, bloqueando gastos em níveis inadequados e rapidamente decrescentes na saúde, educação e segurança social, colocando toda uma geração futura em risco de receber uma proteção social muito abaixo dos níveis atuais, congelando o gasto social por 20 anos; e a reforma trabalhista, sem consultas formais obrigatórias com as organizações de trabalhadores, autorizando acordos coletivos e individuais a prevalecer sobre a legislação trabalhista, liquidando a jornada de oito horas, reivindicação desde as greves de 1907, e diminuindo a idade mínima para o ingresso no mercado de trabalho. A pauta regressista, apoiada pela base política retrógrada do presente governo, compreende ainda a revogação do Estatuto do Desarmamento; revisão e obstáculos para a demarcação de terras indígenas; modificação do Estatuto da Família, recusando o reconhecimento das relações homoafetivas; e a lei de atendimento às vítimas de violência sexual, dificultando o aborto. Essa desconstrução agravou-se no processo eleitoral de 2018, com uma onda de informações falsas, violência nas ruas, apoio à tortura e discursos de ódio contra mulheres, negros, indígenas e LGBTQ. Convivemos, ao longo da campanha eleitoral, com um candidato à Presidência da República fascista, que teve como principal bandeira a negação dos direitos humanos. Independentemente do resultado dessas eleições, é preocupante o apoio de grande parte da população brasileira a esse projeto autoritário e desumano. Trata-se de um patamar de violência ao espírito democrático que não vivíamos desde a redemocratização. Em face desse quadro regressista, não há alternativa a não ser a reafirmação da democracia no Brasil, da própria política e da construção de um grande arco democrático cujo denominador comum seja a Declaração em torno de tolerância, luta contra a desigualdade e o racismo, aumento dos programas sociais para os mais pobres, melhores soluções contra a violência criminal e pela segurança cidadã, debelação da corrupção, garantias para os defensores de direitos humanos, pela liberdade de expressão e associação, pela retomada de uma política de Estado de direitos humanos.


Acredito que não exista nenhum outro elenco de princípios senão aqueles fundados na Declaração, que possa permitir, na diversidade universal, respeitando exigências fundamentais, que o ser humano viva de maneira digna e respeitável, em todo o mundo e no Brasil hoje. Os direitos humanos continuam sendo o horizonte do século 21. Paulo Sérgio Pinheiro Presidente da Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria Coordenador da Comissão Nacional da Verdade no Brasil


OTÁVIO ROTH VIDA E OBRA Otávio Roth nasceu em São Paulo, em 1952. Morou em Israel, Inglaterra, Noruega e Estados Unidos. Viajou como pesquisador por países da Europa, das Américas e da Ásia, coletando amostras de materiais, papéis e objetos, documentando em fotos e textos diferentes técnicas de feitura de papel artesanal e adquirindo livros raros que hoje compõem a biblioteca especializada do Acervo Otávio Roth. Estudou fotografia, cursou comunicação na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, e desenho gráfico na Hornsey College of Art, em Londres, Inglaterra, sob a orientação do mestre do ‘political-graphics,’ Peter Paul Piech. Lá, desenvolveu sua técnica como gravador e seu interesse por temas políticos. Em Oslo, na Noruega, onde viveu por três anos, produziu em xilogravura a primeira série ilustrada da Declaração Universal dos Direitos Humanos (em norueguês), composta por 30 peças. Posteriormente, realizou uma série em inglês e, após sua exposição na Automation House (Nova York, EUA) e o reconhecimento da crítica, três álbuns foram adquiridos pelas Nações Unidas. Estão em exposição permanente nas sedes da ONU em Nova York (EUA), Genebra (Suíça) e Viena (Áustria) desde 1981. Depois das primeiras versões em xilogravura, Roth reescreveu o texto da Declaração em português, francês, espanhol, dinamarquês e japonês, experimentando técnicas tão diversas quanto pulp painting, aquarela e crayon. Seu engajamento político rendeu outras parcerias com as Nações Unidas, Anistia Internacional, Comitê Brasileiro de Anistia, entre outros movimentos de defesa de direitos humanos. Como sintetizou Gonçalves Filho: [Roth] idealizou magníficos posters de temas implicitamente políticos, entre eles o famoso “Liberdade para os presos políticos”, ou o que fez para a campanha de libertação de Flávia Schilling (...) Participou de todos os movimentos libertários


Roth discursa na abertura da exposição Declaração Universal dos Direitos Humanos na Organização das Nações Unidas. Abaixo: Doutor Kurt Waldheim, Secretrário-Geral da ONU, visita a exposição (Nova York, EUA, 8 de dezembro de 1981). Arquivo da família.


Produção de papel artesanal em ateliê (Nova York, EUA, 1980). Arquivo da família.

na época negra da repressão, mas ainda consegue manter o doce sorriso dos justos (...) Não há quem tenha lutado por uma sociedade mais justa, no Brasil, que não tenha, ao menos uma vez, deparado com as gravuras de Roth (1981). Além da produção gráfica, seu engajamento político resultou em produtiva união com a autora Ruth Rocha, com quem publicou 11 títulos voltados para o público infantojuvenil, dos quais dois foram especialmente encomendados pelas Nações Unidas para desenvolver temas de direitos humanos e sustentabilidade para crianças. Os livros Declaração Universal dos Direitos Humanos e Azul e Lindo, Planeta Terra Nossa Casa foram traduzidos para mais de dez idiomas e utilizados por braços institucionais da ONU em diversos países. Como consequência do trabalho como gravador e da curiosidade pela produção de ferramentas, tintas e suportes para suas obras, Roth desenvolveu robusta pesquisa sobre papel artesanal, sendo precursor do uso da técnica no Brasil.


Fundou, em 1979, a Handmade – primeira oficina de papel artesanal do país, com a finalidade de produzir papéis de qualidade para uso artístico. No começo dos anos 1980, desenvolveu pesquisa no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Na mesma época, realizou a exposição Criando Papéis (Masp, 1982, e MAM-RJ, 1982), a primeira sobre o tema no país, sobre a qual P.M.Bardi disse: Num tempo de exibições rotineiras de pintura e de escultura hieroglificadas em formas que, às vezes, confundem a cuca do visitante, é gostoso neste Masp encontrar motivos de fuga do normal, para interessar o visitante em problemas diferentes, contra a corrente habitual. Hoje nestas salas, que já viram a fundição de uma escultura em bronze e tecelãs produzir tapeçarias, Otávio Roth está fabricando manualmente papel, o nobre produto base dos destinos da Humanidade. Fabricada para si, empregando-o, como artista e idealista, generosamente, em mensagens que podem ser definidas como exemplares (1982). A fim de expandir o acesso ao público sobre conhecimentos relativos ao papel, publicou O Que É Papel (1983) pela Coleção Primeiros Passos, primeiro livro escrito em língua portuguesa sobre o assunto. Anos depois, lançou, em coautoria com Ruth Rocha, a coleção O Homem e a Comunicação, pela qual foram agraciados em 1993 com o Prêmio Jabuti nas categorias Melhor Coleção e Melhor Projeto Gráfico e com o Prêmio Monteiro Lobato (Academia Brasileira de Letras). Difundiu seus conhecimentos sobre papel e sobre a história do livro em cursos, palestras e oficinas, tendo influenciado fortemente a formação de papeleiros e pesquisadores do livro em todo o país, conforme relatado pela professora Thérèse Hofmann Gatti em A História do Papel Artesanal no Brasil. Entre 1979 e 1986, realizou cursos livres em seu ateliê sobre a história da comunicação e da escrita e sobre a história e técnicas de feitura de papel artesanal. Foi ainda convidado a ministrar cursos no Masp (SP), MIS (SP) MAM-RJ, Projeto Axé (BA), UnB (DF) e Ministério da Justiça (DF), entre outros locais.


Em paralelo ao trabalho de pesquisa e disseminação das técnicas papeleiras, Roth desenvolveu identidade artística própria como papeleiro e artista plástico. A partir da menor folha de papel artesanal que ele conseguiu produzir, chamada de Peninha, montou instalações de grandes proporções, prestigiadas em museus de diversos países, como Alemanha, Dinamarca, Japão, Estados Unidos e Brasil. Suas experimentações evoluíram para obras de arte colaborativas, amplamente

Fragmento de matéria de Angélica de Moraes, Roth: Direitos Humanos como Arte (Zero Hora, Porto Alegre, ago/1984) . À direita, fragmento de matéria de Beatriz Schiller, Um brasileiro desenha os direitos humanos na ONU (Estado de São Paulo, São Paulo, dez/1981)


Antônio Gonçalves Filho, “ONU expõe xilos do brasileiro Roth”, Folha de S.Paulo (São Paulo, 10 de dezembro de 1981, Ilustrada)


exploradas no Brasil dos anos 1980. Dentro desse eixo de produção, a obra de maior projeção é, certamente, A Árvore (1990). Trata-se de uma instalação itinerante de arte colaborativa composta por folhas adesivas pintadas individualmente por milhares de crianças do mundo inteiro, que o artista esperava exibir, na virada do milênio, como um manifesto em defesa da paz e harmonia entre os povos. Roth também atuou como curador. A ele, não bastava promover sua obra: esforçou-se para que o papel artesanal como suporte e expressão artística conquistasse o reconhecimento nas artes plásticas brasileiras, atuando, para isso, como incentivador e promotor de outros artistas. Trouxe para o cenário brasileiro nomes estrangeiros importantes, a fim de disseminar o conhecimento e o contato do público nacional com técnicas papeleiras tradicionais e novas tendências em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Pela Funarte, coordenou o Projeto Papéis do Papel, composto pelas mostras Papéis do Mundo, Papel Artesanal no Brasil e por um Fórum de debates de 3 dias, que reuniu especialistas em restauração, fabricação e comercialização de papel, artistas e críticos para debater questões relacionadas ao tema. Seu objetivo era apresentar ideias “e sugestões para ordenar as pesquisas sobre papel no Brasil, estabelecer uma política de conservação para nosso acervo em papel e avaliar a importância dessa nova forma de expressão” (Roth, 1984). Em paralelo à essa iniciativa, outras ações relacionadas ao universo do papel foram coordenadas naquele ano, como “a mostra Entre o Meio e o Fim, organizada pela Galeria da Universidade Federal Fluminense, e a exposição Papéis de Trapo, na Galeria Cesar Aché, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, a Galeria Arco realiza Papel Imagem Construção, enquanto o Centro de Convenções Rebouças oferece um curso prático intensivo sobre fabricação artesanal de papel, levado a seguir ao Museu de Arte Moderna do Rio” (Roth, 1984). Paralelamente, Roth convidou artistas brasileiros a experimentar trabalhar com o papel artesanal, oferecendo papéis de manufatura própria e garantindo espaço expositivo de relevância na década de 1980 em espaços culturais destacados, no Brasil e nos EUA. Principal


exemplo desse esforço foi a mostra Brazil 10, realizada em co-curadoria com Bob Nugent, que levou obras em papel de nomes como Amilcar de Castro, Nelson Félix, Manoel Fernandes, Ivald Granato, Ester Grinspun e Ubirajara Ribeiro para uma itinerância de dois anos a cinco cidades americanas. Foi agraciado quatro vezes pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA): em 1979, como melhor gravador, em 1985, por sua pesquisa, e em 1989 e 1991, como melhor ilustrador infantojuvenil. Roth morreu em 30 de agosto de 1993, aos 40 anos.

A ideia de que a cultura deve se dirigir a todos, que seja emanada da expressão de todos, está presente na obra do Otávio. Essa dinâmica, que soma a mensagem artística, valores e a participação de pessoas transmite muita força. Não são propostas de um único artista, são reflexões validadas por todas as pessoas que participam da obra. Alexandre Machado Jornalista da Rádio Cultura FM



OS ARTIGOS A ideia de transformar o texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos em imagens gráficas surgiu em 1976. Vivia na Inglaterra e ali participava dos movimentos de defesa dos direitos humanos. Acreditava, assim como ainda hoje, que os princípios contidos na Declaração representavam as mais nobres aspirações humanas. Daí ter feito dela meu estandarte de luta. Mas, além das palavras, impunha-se a necessidade de imagens simples e diretas que melhor ajudassem a divulgar e memorizar seu conteúdo. A realização deste projeto consumiu dois anos de trabalho. A primeira versão da obra foi exposta em Oslo comemorando o 30o aniversário da Declaração em 1978. Seguiu-se uma série de exposições: Palais de Chaillot (Paris, 1978), Nações Unidas (Nova Iorque, 1981), Palais des Nations (Genebra, 1981), International Centre (Viena, 1981). Este ano (1983) Tóquio e Rio de Janeiro. Ao longo desta trajetória tive a grata recompensa de ver pouco a pouco meu trabalho surtir efeito: pessoas atraídas pelo grafismo da obra tomavam conhecimento de cada um dos artigos da Declaração. Desta forma a Declaração Universal dos Direitos Humanos tornava-se o denominador comum dos anseios dos mais diferentes indivíduos. Por isto, otimista, confio que algum dia viveremos regidos por seus ideais. Só é preciso que queiramos.

Otávio Roth Dezembro de 1984


Otávio Roth Artigo 10, Série Declaração Universal dos Direitos Humanos em português (1984) Pulp painting e aquarela sobre papel artesanal 100 x 75 cm Coleção da família Reprodução: Fábio Praça


Otávio Roth Artigo 5o, série Declaração Universal dos Direitos Humanos em espanhol (1988) impressão offset (original em crayon sobre papel artesanal pertencente à Coleção Kunsten Museum of Modern Art Aalborg, Aalborg, Dinamarca) 65 x 45 cm Coleção da família Tradução: Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes


Otávio Roth Artigo 13, Série Declaração Universal dos Direitos Humanos, em francês (1988) impressão offset (original em crayon sobre papel artesanal pertencente à Coleção Kunsten Museum of Modern Art Aalborg, Aalborg, Dinamarca) 65 x 45 cm Coleção da família Tradução: I) Toda pessoa tem o direito de circular livremente e escolher sua residência no interior de um Estado. II) Toda pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar a seu país.


Otávio Roth Artigo 23, série Declaração Universal dos Direitos Humanos em japonês (1983) impressão offset (original em aquarela e nanquim sobre papel de arroz pertencente à Coleção Jinken Yogo Kyouryokukai, Tóquio, Japão) 65 x 45 cm Coleção da família Tradução: I) Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego. II) Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. III) Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e a sua família uma existência conforme a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de proteção social.


Otávio Roth Série Declaração Universal dos Direitos Humanos em inglês (1978) xilogravura sobre papel artesanal 71 x 51 cm Coleção da família Reprodução de Fábio Praça ARTIGO 1 Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.


ARTIGO 2 I) Todo o homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. II) Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.


ARTIGO 3 Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.


ARTIGO 4 Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos estão proibidos em todas as suas formas.


ARTIGO 5 Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.


ARTIGO 6 Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.


ARTIGO 7 Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos tem direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.


ARTIGO 8 Todo o homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.


ARTIGO 9 Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.


ARTIGO 10 Todo o homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.


ARTIGO 11 I) Todo o homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias a sua defesa. II) Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituiam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.


ARTIGO 12 Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques a sua honra e reputação. Todo o homem tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.


ARTIGO 13 I) Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. II) Todo o homem tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.


ARTIGO 14 I) Todo o homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. II) Este direito não pode ser invocado em casos de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.


ARTIGO 15 I) Todo homem tem direito a uma nacionalidade. II) Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.


ARTIGO 16 I) Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, tem o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. II) O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. III) A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.


ARTIGO 17 I) Todo o homem tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. II) Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.


ARTIGO 18 Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observâcia, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.


ARTIGO 19 Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras.


ARTIGO 20 I) Todo o homem tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. II) Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.


ARTIGO 21 I) Todo o homem tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. II) Todo o homem tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. III) A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.


ARTIGO 22 Todo o homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indipensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade.


ARTIGO 23 I) Todo o homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. II) Todo o homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. III) Todo o homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como a sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. IV) Todo o homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.


ARTIGO 24 Todo o homem tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.


ARTIGO 25 I) Todo o homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à seguranca em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. II) A maternidade e a infância tem direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.


ARTIGO 26 I) Todo o homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnica profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. II) A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. III) Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.


ARTIGO 27 I) Todo o homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de fruir de seus benefícios. II) Todo o homem tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.


ARTIGO 28 Todo o homem tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.


ARTIGO 29 I) Todo o homem tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. II) No exercício de seus direitos e liberdades, todo o homem estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. III) Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.


ARTIGO 30 Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer direitos e liberdades aqui estabelecidos.



A ÁRVORE, 1990 A Árvore é uma instalação itinerante de arte participativa formada por folhas de papel pintadas individualmente por crianças do mundo inteiro. A obra foi idealizada por Otávio Roth durante uma atividade desenvolvida na Escola Internacional das Nações Unidas (UNIS, Nova Iorque), em 1990. Nos anos subsequentes, o projeto foi apresentado em diferentes países, como EUA, Dinamarca, Alemanha, Israel e Brasil, incluindo uma montagem na galeria principal do lobby para visitantes do edifício-sede das Nações Unidas (NY, EUA), no verão de 1992, e uma montagem no MAC-USP, no mesmo ano, como parte da programação “Projeto para Arte e Meio Ambiente”(coord. Ana Mae Barbosa). Roth buscou celebrar a paz e integrar pessoas de todo o mundo nesse projeto por um futuro comum. Na concepção original, A Árvore deveria chegar a 1 milhão de folhas até o ano 2000, quando seria projetada sobre a fachada do edifício-sede da ONU em Nova York, promovendo uma mensagem de paz e compromisso com o futuro. Devido à morte prematura do artista, em 1993, a obra não foi finalizada à época. Ainda assim, durante os três anos em que esteve à frente do projeto, o artista trabalhou diretamente com 65 mil crianças de 70 países, produzindo uma instalação bidimensional de quase 400 metros quadrados. Cerca de vinte anos após sua interrupção, o Projeto A Árvore é relançado pelo Acervo Otávio Roth como uma obra que materializa o processo contínuo de promoção da cultura de paz, através da sensibilização de crianças de diferentes origens e – como em 2020 A Árvore completará 30 anos – de diferentes gerações. Sob esse novo olhar, entende-se que a força da obra reside em seu constante crescimento, sem prazo para ser finalizada nem limitação no número de participantes. Através de uma ampla rede de parceiros e apoiadores, o projeto pretende seguir mobilizando crianças de todas as idades, ao longo de gerações, contribuindo para o entendimento da arte como um espaço de trocas e livre expressão de todos. Sob seu guarda-chuva, oficinas com enfoque no ensino de direitos humanos e sustentabilidade socio-


Registros da primeira turma de participantes do Projeto A Árvore (Escola Internacional das Nações Unidas, UNIS, Nova York, EUA, 1990). Arquivo da família.


Roth apresenta o projeto para estudantes durante exposição temporária no lobby de visitantes da Assembléia Geral das Nações Unidas (Nova York, EUA, jul/1992) Arquivo da família.

ambiental ganham contornos leves e delicados, convidando à reflexão de maneira responsável, criativa e não traumática. Além das monumentais dimensões da instalação e do grande número de participantes, A Árvore é a base para o desenvolvimento de uma série de discussões. Ela fala da arte como ponto de encontro de crianças de todo o mundo e se apresenta como espaço de relativização das diferenças. Ao mesmo tempo, transmite a todos o sentimento de pertencimento a uma mesma humanidade: à expressão da individualidade de uma criança – seu desenho em uma pequena folha de papel – soma-se a de milhares de outras crianças, simbolizando a contribuição do indivíduo para a constituição da coletividade. Essa proposta, executada com simplicidade, traz consigo uma grande lista de provocações, como a reflexão sobre a paz e a coexistência pacífica; a descoberta de outras culturas; a arte como meio de expressão e comunicação interpessoal e intercultural; questões ligadas à infância


Acima: Oficina em escola particular (São Luís do Maranhão, out/1995). Foto: Denise Machado Lorch. À direita: Montagem da instalação A Árvore no 21o Panorama de Arte Atual Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM, 1991) Foto: Ana Roth. Abaixo: A Árvore, Instalação Itinerante de Arte Participativa (1992). Arquivo da família.


e à juventude; uma reflexão sincera sobre os direitos humanos; e o desenvolvimento de um olhar voltado à sustentabilidade socioambiental do planeta. A Árvore é uma síntese do processo criativo de Otávio Roth, pelos signos que carrega, pelo processo de construção colaborativa que provoca e pelo resultado estético que alcança. O artista já havia explorado a imagem da árvore e suas folhas em pelo menos outras três obras, encomendadas pelas Nações Unidas por ocasião do lançamento de selos comemorativos da World Federation of UN Associations (“Con-


servation and Protection”, Nova York, 1982; e “Medicinal Plants”, Nova York, 1990) e a também instalação de arte participativa Corações Abertos (1991), essa última voltada para o corpo de funcionários de uma fábrica em Cruzeiro, SP. Da mesma forma, Roth já havia experimentado de maneira pioneira outros tantos processos de construção de instalações participativas, convidando crianças e adultos para conhecer e refletir sobre o conteúdo da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Documento da Paz, Jerusalém, 1989 – instalação participativa feita com crianças israelenses e palestinas), da Constituição Federal (Mural Cívico, São Paulo,

Detalhe de produção da folhinhas, em oficina realizada no Sesc Paulista (São Paulo, set/2018). Ao lado: folhinhas enviadas de diferentes cidades brasileiras. Fotos: Isabel Roth



1988 – projeto de construção colaborativa do preâmbulo e artigo V da Carta Magna envolvendo 5 mil pessoas) e sobre a coexistência pacífica de maneira ampla (Face a Face, Cruzeiro, 1991, e Versos de Fim de Ano, São Paulo, 1993). Essa constante preocupação em propiciar um espaço de trocas, convidando seus colaboradores a compartilhar a autoria de seus projetos, explicita o indiscutível respeito do artista pelos conteúdos com que se propunha a trabalhar: a valorização do espírito coletivo, o respeito à diversidade, o pioneiro trabalho em rede, o compromisso com a disseminação dos direitos humanos.

A Árvore é uma obra de arte pensada pelo Otávio, mas executada pelas crianças através dos tempos e através do mundo inteiro. É o símbolo da paz. Sintetiza a ideia de que, se você cuidar, valorizar, tratar direito, a árvore cresce, floresce. Ruth Rocha Escritora




A ÁRVORE, HOJE A obra ganha fôlego com a exposição Para Respirar Liberdade – Setenta Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Sesc Bom Retiro, nov/2018-abr/2019; Sesc Jundiaí, ago/2019-jan/2020; Sesc Bauru, jan-jul/2020), com expografia assinada por Pedro Mendes da Rocha. Modular, a obra pode ser adaptada a diversos espaços expositivos. Para o átrio interno do edifício de quatro andares do Sesc Bom Retiro, ela foi construída no formato de um grande móbile, suspenso a três metros do chão, atingindo a marca de 13 metros de altura. O projeto, adaptado para Jundiaí, foi repensado como penetrável em Bauru, onde os módulos da Árvore foram dispostos no nível do chão. Desde a definição da itinerância da Árvore pelo circuito Sesc, mais de 30 mil crianças foram convidadas a contribuir com o crescimento da obra, desenhando seus próprios sonhos e desejos de futuro comum para compor a generosa e multicolorida copa. Oficinas livres foram realizadas no Sesc Belenzinho, Bom Retiro, Paulista, Pompéia, Jundiaí e Bauru e discussões sobre direitos humanos e o projeto Para Respirar Liberdade foram conduzidas pelo Projeto Curumim em diferentes unidades. Com a chancela da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, Acervo Otávio Roth e Instituto Vladimir Herzog realizaram workshop formativo do projeto para coordenadores e professores de mais de 20 Centros Educacionais Unificados (CEUs), que multiplicaram as oficinas da Árvore em todas as regiões da capital. Atividades também foram realizadas em escolas particulares da cidade, como Escola da Vila, Escola Viva, Porto Seguro e Vera Cruz. Em muitos casos, as provocações iniciais geradas pela obra inspiraram educadores a elaborarem novas atividades em sala de aula, agregando suas próprias pesquisas e experiências pedagógicas em processos plurais e interativos. Desde o relançamento nacional do projeto, o Acervo Otávio Roth tem buscado articular parcerias com instituições de ensino e educadores de outras regiões do Brasil, a fim de ampliar e garantir representa-


A Árvore no átrio do Sesc Bom Retiro (São Paulo, nov/2018). Fotos: Isabel Roth



tividade a essa ampla rede de arte-educação que se articula. Assim, somam-se às milhares de folhinhas produzidas em São Paulo no último ano, desenhos de crianças de Araguaína (TO), Dois Córregos (SP), Igaraçu do Tietê (SP), Ipaussu (SP), Jataí (GO), Nova Olinda (CE), Piracicaba (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Valparaíso (SP). A expectativa é que o projeto volte a visitar todas as regiões brasileiras até o final de 2020, quando A Árvore completa 30 anos. A partir de então, será iniciado um novo ciclo de itinerância internacional da obra. Nomes, idades e país de origem de todos os jovens participantes do projeto são registrados durante as oficinas, compondo fichas que podem ser consultadas por todos que visitam a obra.

Registro de oficina A Árvore, Sesc Paulista (set/2018). Foto: Borda


Projeto de Pedro Mendes da Rocha para montagem da Árvore no Sesc Bauru.

O pluralismo, a ideia de tolerância, a ideia de liberdade, são inerentes ao direito de educação que todos os jovens têm que ter. Todos nós temos que nos engajar ao longo dos próximos anos para que a educação não seja sequestrada dos direitos humanos: ela é um direito humano e ela também deve promover os direitos humanos. Esse é o ciclo virtuoso que a Declaração propõe. Oscar Vilhena Diretor da Escola de Direitos de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fundador da Conectas Direitos Humanos


V

lado Educação é um dos eixos de trabalho do Instituto Vladimir Herzog. Trabalhar com educadores tornou-se uma militância que faz parte do escopo dos esforços desenvolvidos pelo instituto em busca da construção de uma sociedade democrática e justa. Nesse sentido, falar e estudar a obra de Otávio Roth com educadores é uma imensa honra e uma grande responsabilidade, sendo o artista também militante por um mundo que tenha os direitos humanos plenamente respeitados. É essencial falar de arte para crianças, entre outros tantos motivos, porque o fazer artístico, assim como todas as outras áreas do conhecimento, ajuda a elaborar e entender o mundo que nos cerca. O processo educativo nos fala, cada vez mais, da urgência em não deixar ninguém de fora de todo e qualquer pensamento sensível e político, para os quais somos incansável e freneticamente chamados. Otávio Roth disse “sim” a todo esse chamamento. Os educadores respondem, anos mais tarde, a esse “sim” e continuam a colocar folhinhas em sua árvore. Porque educadores apostam sempre no futuro. E como trabalham todos os dias nessa crença, o futuro é sempre também hoje. Celinha Nascimento Mestre em Literatura, militante da Educação em Direitos Humanos Pesquisadora de Cultura Popular e Literatura Clássica Educadora do Instituto Vladimir Herzog




INSTALAÇÕES COM PENINHAS Uma peninha é uma folha de papel artesanal de algodão colorida com pigmentos naturais e moldada sobre palitos de dente. Essa peça foi desenvolvida com o conceito de menor folha de papel do mundo em uma viagem de Roth ao Japão, no início dos anos 1980, por ocasião de um congresso internacional de papeleiros em Tóquio. O artista desafiou-se a produzir a menor folha de papel artesanal, utilizando-se, para isso, dos instrumentos disponíveis em seu quarto de hotel. Usou um retalho de algodão da manga da camisa como fonte de celulose; mastigou a peça até criar uma polpa, substituindo assim o processo de maceração das fibras em um moinho; utilizou como molde um palito de dente; substituiu a prensa pela pressão entre seus dedos; e ao invés de pendurar as folhas em um varal, deixou-as espetadas em um pequenino suporte para secagem. A partir dessa unidade com inspiração no minimalismo japonês, Roth compôs diversas peças tridimensionais, usando como suporte os materiais que compõem um molde de papel artesanal: cordas, bambus e madeira. Obras dessa série foram expostas em galerias em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, além de galerias nos estados da Califórnia e Nova Iorque (EUA), ao longo da década. No fim dos anos 1980 e a partir dessa mesma pequena peça de papel artesanal, Roth criou imensas instalações de arte em formatos variados, estruturadas sobre placas de madeira ou cerâmica ou aplicadas diretamente sobre o piso e as paredes. Entre diversas instalações compostas sobre essa técnica, destacam-se algumas, como População (Leopold Hoesch Museus, Düren, Alemanha, 1988), composta de 6.200 peninhas dispostas em um octógono de acrílico suspenso, montada in loco pelo artista, com a participação do público, durante a abertura da exposição; O Grande Rabo (Nordjyllands Kustmuseum, Aalborg, Dinamarca, 1988), instalação composta de 100 mil peninhas, montada com a participação de crianças; e a série O Jardim, composta de instalações montadas no Museu de Arte Moderna (São Paulo, Brasil, 1988), no Kyoto Museum (Quioto, Japão, 1989) e no Azabu Museum (Tóquio, Japão, 1989).



Apresentação das etapas de confecção de uma peninha por Otávio Roth. Fotos: Nelson Kon


Para a exposição Para Respirar Liberdade, o Acervo Otávio Roth desenvolveu uma nova instalação, livremente inspirada nas obras População e O Jardim. População II é uma instalação linear de 10 metros de extensão feita de papel artesanal e madeira, composta de 3.500 peninhas, moldadas uma a uma, reproduzindo a técnica desenvolvida pelo artista. As cores da peça remetem à primeira instalação do tipo, População (Düren, Alemanha, 1988), concebida no ano da promulgação da Constituição Federal. Em 2018, essa obra completa 30 anos de existência – assim como nossa Carta Magna. Pelo simbolismo da data e pela convergência de seu conteúdo com a temática dos direitos humanos abordada na presente exposição, optou-se por fazer referência à peça População através das cores das peninhas – tons de azul, verde e amarelo e marfim. Já o formato linear remete às instalações da série O Jardim, montadas anteriormente em Tóquio e Quioto (Japão) e expostas pela última vez em São Paulo em novembro de 1993, em uma mostra in memoriam organizada no Masp poucos meses após a morte prematura de Roth.

Otávio Roth Jardim (1989) 20 mil elementos aplicados sobre o piso Coleção da família Foto: Valdir Barros Montagem realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM, 1989)


Otávio Roth População (1988) instalação com 6 mil elementos sobre acrílico Coleção Leopold Hoesch Museum (Düren, Alemanha) Foto: Otávio Roth Montagem realizada no Leopold Hoesch Museum (Düren, 1988)



As peninhas nos provocam de muitas maneiras. As instalações dessa série são de grande beleza plástica. Através da valorização do processo artesanal e da questão cromática, ele obtém um resultado de grande organicidade. Além disso, exprime sua visão de mundo: o respeito pelo indivíduo, pela unidade na construção do coletivo. Essa linguagem, tão particular e ao mesmo tempo tão universal, pôde ser comunicada através de montagens em museus do mundo inteiro. Evelyn Ioschpe Presidente da Fundação Iochpe Presidente do Instituto Arte na Escola



UNIDADES DE INTERPRETAÇÃO As instalações com peninhas sintetizam o encontro entre dois grandes eixos da obra de Roth: o estudo do papel artesanal e a proposição reflexiva, de maneira singela e delicada, sobre o papel do indivíduo na coletividade. A peninha é a síntese de quase duas décadas de pesquisa de Roth sobre o papel artesanal. Do início dos anos 1970 até sua morte, em 1993, o artista realizou inúmeras viagens de pesquisa a países asiáticos e europeus, que visitava a fim de listar fibras, coletar amostras, conhecer e registrar técnicas de feitura diversas. Desse extenso acervo documental, que hoje compõe a Biblioteca Especializada do Acervo Otávio Roth, ele obtinha as referências para desenvolver as próprias experimentações com fibras e texturas e, pouco a pouco, foi deixando de trabalhar o papel como suporte para suas obras para elevá-lo ao status de obra em si. A peninha materializa a capacidade de síntese do pesquisador e artesão, que consome a história e a tradição milenar de papeleiros orientais para regurgitar – literalmente – uma pequena e simples amostra-síntese desse conhecimento acumulado. Esse processo ilustra o constante compromisso do artista em simplificar sua obra, facilitando a transmissão de seus valores e ideias para um público amplo e heterogêneo. Reside, aí, um traço presente também em suas escolhas como artista gráfico e professor: sua permanente preocupação em democratizar o acesso às informações aprendidas, como se pode ver através do extensivo trabalho de reescrita e ilustração dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos em várias línguas e técnicas. As grandes composições de peninhas sugerem igualmente uma bem-humorada provocação do artista sobre a relação entre o tempo de se fazer arte, à medida que posicionam a unidade artesanal em meio a uma série de escala praticamente industrial. Márcio Doctors aprofunda tal dicotomia entre o artesanal e o industrial – a produção repetida e


infindável – estabelecendo um paralelo entre o fazer asiático e o fazer europeu: “Há nessa série de trabalhos atuais outro encontro interessante a se destacar: o oriental e o ocidental. Essa ideia toma ainda mais força quando descobrimos que a origem desses trabalhos aconteceu na solidão de um quarto de hotel em Tóquio. (...) A partir de condições mínimas – à la Robinson Crusoé –, Otávio Roth reconstruiu da maneira mais simples possível todo um processo bastante mais sofisticado. Há, além desse episódio oriental, um sentido que nós, ocidentais, deixamos enterrado na Idade Média e que hoje determina a especificidade japonesa: a capacidade de gerar o novo a partir da repetição. Se, por um lado, o artista incorporou a fantasia ocidental que identifica em um único sujeito heróico a capacidade de reconstruir o mundo a partir de condições mínimas, contando mais do que tudo com a deliberação de sua vontade, por outro, à moda da fantasia japonesa, repetiu-se, copiou-se infinitamente, para executar um rearranjo do novo” (Doctors, 1989).

Otávio Roth Jardim I (1989) 20 mil elementos sobre granito Coleção Azabu Museum, Tóquio, Japão Foto: Osvaldo Masakazu Kitahara Detalhe de montagem realizada no Azabu Museum (Tóquio, 1989)


Otávio Roth Jardim II (1989) papel artesanal com pigmentos naturais aplicado sobre o piso e as paredes Coleção Kyoto Museum, Quioto, Japão Foto: Osvaldo Masakazu Kitahara Montagem realizada no Kyoto Museum (Quioto, 1989)


Otávio Roth O Grande Rabo (1988) 20 mil elementos sobre borracha Coleção Nordjyllands Kunstmuseum (Aalborg, Dinamarca) Foto: Otávio Roth Registro de montagem realizada no Nordjyllands Kunstmuseum, por ocasião da exposição Declaração Universal doa Direitos Humanos (Aalborg, 1988)

O resultado da obra propõe ainda uma experiência de dois níveis para o espectador, à medida que ele é convidado a vivenciar a composição no espaço expositivo e, simultaneamente, levado a estabelecer uma relação intimista, aproximando-se da obra para perceber seus detalhes e reconhecer suas unidades básicas. Desse jogo de afastamento e aproximação, de percepção da totalidade e reconhecimento dos elementos constituintes, deriva uma leitura mais política da obra.


Germinação (1990) 8 mil elementos sobre madeira Coleção da família Foto: Otávio Roth Registro da exposição Gente de Fibra (Sesc Pompéia, 1990)

De forma metafórica, essa grande composição de milhares de peças singulares remete à contribuição de cada indivíduo para a construção da coletividade. Esse ideal de reconhecimento e valorização do grupo permeia outras tantas obras de Roth, de maneira mais explícita em v A produção artística de Roth está ligada à defesa inequívoca dos direitos humanos, ao respeito e à valorização da coletividade e ao compromisso total com o acesso democrático à informação. O reconhecimento desses três eixos norteadores de seu percurso profissional é o que nos permite conectar obras à primeira vista tão díspares quanto


seu trabalho gráfico e figurativo que versa sobre os artigos da Declaração, suas grandes instalações de arte colaborativas e suas delicadas e intimistas peças de papel artesanal.

Otávio Roth teve um papel pioneiro, em uma época em que pouca gente tinha sensibilidade para os direitos humanos. Ele percebeu por intuição que os direitos humanos são a síntese das aspirações da humanidade. Tudo que se deseja para o aperfeiçoamento da humanidade está nos direitos humanos. Ele realizou uma obra artística com uma grande qualidade didática, uma capacidade de comunicação. É sobretudo uma obra que transmite alegria e esperança, e nada é mais necessário no mundo de hoje do que alegria e esperança. Emb. Rubens Ricupero Diretor da Faculdade FAAP Presidente do Instituto Fernand Braudel




SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Danilo Santos de Miranda Superintendentes Técnico-Social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli Gerentes Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga de Mattos Estudos e Desenvolvimento Marta Raquel Colabone Assessoria de Relações Internacionais Aurea Leszczynki Vieira Gonçalves Artes Gráficas Hélcio Magalhães Difusão e Promoção Marcos Ribeiro de Carvalho Sesc Bauru Renata Salvador Equipe Sesc Bauru Adriano Alves Pinto, Cibele Mion, Maria Denise Leite, Raquel Fonseca, Thais Franco, Viviane Lourenço INSTITUTO VLADIMIR HERZOG Presidente Clarice Herzog Presidente do Conselho Ivo Herzog Diretor Executivo Rogério Sottili Vlado Educação Ana Rosa Abreu (Diretora), Neide Nogueira (Coordenadora Educacional) e Raquel Souza (Coordenadora Executiva) Vlado Prêmios Ana Luisa Zaniboni Gomes (Curadora) Vlado Direito à Memória, Verdade e Justiça Lucas Paolo Vilalta (Coordenador) Comunicação Semayat Oliveira (Coordenadora), Carol Baggio, Carolina Vilaverde, Giuliano Galli e Lucas Barbosa Administrativo Sandra Faé (Coordenadora), Bruno Diniz, Cristina Berger, Francisco Monteiro, Rosi Barbosa e Tatiana Rocha Assistente Geral Maria Aparecida Leite Estagiária Nathália Souza ACERVO OTÁVIO ROTH Direção Executiva Ana Roth Curadoria Isabel Roth Consultoria Maria Helena Webster Educação Felipe Faya Museologia Denise Lorch


PARA RESPIRAR LIBERDADE 70 ANOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Curadoria Fabio Magalhães e Isabel Roth Produção Ana Helena Curti (coordenação), Eduardo Toni Raele, Fernando Lion e João Luiz Calmon Equipe de produção para Oficinas de Folhinhas Ana Maria Matos, Ana Paula Lopes, Bianca Zecchinato, Bruno Coltro, Cadu Gonçalvez, Carolina De Angelis, Eloise Zadig Martins, Isadora Mellado, Jornada Braz, Julia Cavazzini, Jussélia Bernardo, Luciara Ribeiro, Marcela Nigro, Mona Perlingero, Natame Diniz, Priscila Menegasso, Rodolfo Pitarelo e Victor Santos Projeto expográfico Pedro Mendes da Rocha (projeto), Brigida Garrido e Debora Tellini Carpentieri (Assistentes) Projeto de Programação Visual Luis Bueno Museologia Denyse L. A. P. da Motta Coordenação de Montagem e Projeto de iluminação Lee Dawkins Equipe de Montagem Caio Caruso, Elvis Moreira, Felipe Albertin, Juan Manuel Wissocq, Marcia Moreira, Rodrigo Primo e Victor Caruso Instalação da obra População II Denise Machado Lorch e Valdir Barros Vídeo João Falsztyn (direção, fotográfica e montagem), Área47 Audiovisual (produção executiva), Helena Martins (Edição de Som e mixagem), Marco Caramelli (técnico de som), Renan Gusmão (assistente) Pesquisa de imagens de arquivo Conceito Revisão de textos Fabiana Pino Transporte Artworld Seguro Affinité Seguros INSTALAÇÃO A ÁRVORE Todas as folhas que compõem a obra “A Árvore” foram produzidas em oficinas educativas realizadas em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo / rede de Centros de Educação Unificada (CEUs), escolas particulares e equipes do projeto Curumim do Sesc São Paulo. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Alexandre Machado, Ana Mae Barbosa, Celinha Nascimento, Evelyn Ioschpe, Oscar Vilhena, Rubens Ricupero e Ruth Rocha pelas entrevistas concedidas a Isabel Roth para a pesquisa e produção do minidocumentário “Para Respirar Liberdade”, durante o período de setembro de 2018 a outubro de 2019.


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Sesc Bauru Avenida Aureliano Cardia, 6-71 17013-411 (14) 3235-1750 /sescbauru sescsp.org.br


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