Sonhos Yanomami

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Capa: Opiq + theri, Perimetral Norte, da sĂŠrie Sonhos Yanomami. 1976.


SERES HUMANOS COMO NÓS O encontro entre seres humanos de culturas di-

diálogos sobre esses e outros temas da socie-

ferentes nem sempre provocou consequências

dade passa pelo campo das artes: espaço pri-

positivas. A intolerância e a cobiça, associadas

vilegiado para acolher subjetividades, ampliar

ao medo do desconhecido, produziram mais

horizontes, experiências e entendimentos pos-

violência e destruição que aproximações pací-

síveis. Nesse sentido, a exposição Sonhos Yano-

ficas e trocas de saberes. A história registra uma

mami, composta por três séries fotográficas da

série de conflitos e extermínios desencadeados

artista e ativista Claudia Andujar com os povos

a partir de tais ingredientes.

dessa etnia, pode permitir, por meio de suas in-

Inúmeras minorias convivem com o risco da

terpretações imagéticas, o acesso a uma outra

extinção. Por vezes, preconceitos e distancia-

realidade, diversa e extraordinária, bem como

mento servem para corroborar atitudes de in-

a suas gentes, saberes e crenças, evidenciando

diferença e omissão. A depender dos interesses

pontos de contato e de estranhamento.

político-econômicos e da fragilidade social, os

As ações voltadas à diversidade cultural de-

discursos de ódio e o desejo de que esses ou-

senvolvidas pelo Sesc buscam a promoção de

tros sejam aniquilados reaparecem. Ao mesmo

processos educativos orientados pela intenção

tempo, há os que se identificam e se solidari-

de reconhecer o outro em sua singularidade e

zam como membros da mesma espécie, igual-

dignidade humanas. Diante de repetidos atos

mente ameaçados por forças imprevisíveis e

de barbárie e violência indiscriminada, torna-se

incontroláveis, unindo esforços pela defesa do

fundamental reafirmar e difundir os valores da

direito de existir como e onde bem entendam.

convivência e do respeito às diferenças.

Um dos caminhos para estimular reflexões e

Sesc São Paulo


Ao longo dos anos de 1960/70, Claudia Andujar desenvolve um trabalho que ganha amadurecimento técnico e discursivo a partir da convivência e do diálogo estabelecidos com os Yanomami. Em uma via de mão dupla, ambas as partes são favorecidas por uma relação de estreita cumplicidade. Do envolvimento respeitoso resulta o engajamento de Andujar em ações políticas para a preservação daquele povo. As articulações estéticas e discursivas operadas pelo trabalho da artista envolvem a sobreposição de uma série de camadas cujo acesso não se dá de maneira imediata, mas pela via de um desvelamento paulatino e cauteloso. Observar suas fotografias é pensar sobre um posicionamento a favor da cultura indígena, é pensar sobre uma atitude contrária à de um mero voyer dos acontecimentos. É, por outro lado, colocar-se frente à produção de uma artista que opta por procedimentos que escapam a estereótipos ou a formulações discursivas já conformadas e bem adaptadas. Pelas massas violentas do preto e branco, o contraste brutal e estranho entre eles, quase desprovido de detalhes, Claudia Andujar apresenta na série O invisível e Reahu imagens circundadas por mistérios irreveláveis. A síntese das composições, os efeitos de luz, a falta de referências, os intensos contrastes entre claro e escuro fazem com que as imagens de Andujar

deneguem o real à medida que seu interesse se volta para a busca por captar algo que, muitas vezes, não se deixa ver. Pelo modo como a artista trabalha a luz, sugere-se a busca por uma interioridade que estaria além da dimensão física dos objetos, pois ali tudo parece adquirir uma dimensão cósmica. Esse aspecto cosmológico, tão marcante em seu trabalho, também permeia as fotografias coloridas presentes na série Sonhos Yanomami, em que a artista recria em laboratório uma bricolagem de imagens a favor de um universo onírico que, pela fotografia, é impulsionado pela vontade de alcançar algo que é, no entanto, da natureza do intangível. Esse aspecto torna-se central, uma vez que Claudia Andujar coloca-se diante dos rituais xamânicos dos Yanomami para, então, desenvolver imagens cuja aposta não está na ideia de religião como categoria da crença, mas como possibilidade de manter uma relação íntegra com a alteridade. As imagens antes estabelecem um contato com os retratados que é de outra ordem como se fosse permitido acessar uma natureza substancial ontológica essencial por meio da dramatização da luz.

Carolina Soares Pesquisadora e crítica de arte


Desabamento do CĂŠu/O Fim do Mundo, 1976


POVO YANOMAMI Os Yanomami formam uma sociedade de caçadores-agricultores da floresta tropical do Norte da Amazônia, cujo contato com a sociedade nacional é, na maior parte do seu território, relativamente recente. Constituem um conjunto cultural e linguístico composto de, pelo menos, quatro subgrupos. Seu território cobre cerca de 192.000 km², situado em ambos os lados da fronteira Brasil-Venezuela. A Terra Indígena Yanomami é reconhecida por sua alta relevância em termo de proteção da biodiversidade amazônica e foi homologada por um decreto presidencial em 25 de maio de 1992.

XAMANISMO YANOMAMI Uma vez iniciados, os pajés yanomami podem chamar até si os xapiripë, para que estes atuem como espíritos auxiliares. Esse poder de conhecimento/visão e de comunicação com o mundo das “imagens/essencias vitais” (utupë) faz dos pajés os pilares da sociedade yanomami. Escudo contra os poderes maléficos oriundos dos humanos e dos não-humanos que ameaçam a vida dos membros de suas comunidades, eles são também incansáveis negociadores e guerreiros do invisível, dedicados a domar as entidades e as forças que movem a ordem cosmológica.


Terra Indígena Yanomami

Os xapiripë são vistos sob a forma de miniaturas humanóides enfeitadas de ornamentos cerimoniais coloridos e brilhantes. São, sobretudo, “imagens” xamânicas (utupë) de entes da floresta. Muitos são também “imagens” de entidades cósmicas (lua, sol, tempestade, trovão, relâmpago) e de personagens mitológicas. Existem também humildes xapiripë caseiros, como o espírito do cachorro, o espírito do fogo ou da panela de barro. Existem, enfim, espíritos dos “brancos” (os napënapëripë, mobilizados, por homeopatia simbólica, para combater as epidemias) e de seus animais domésticos (galinha, boi, cavalo). Para desenvolver suas sessões, os pajés inalam o pó yãkõana, considerado como a comida dos espíritos. Sob seu efeito, dizem “morrer”: entram num estado de transe visionário durante o qual “chamam” a si e “fazem descer” vários espíritos auxiliares, com os quais acabam identificando-se, imitando as coreografias e cantos de cada um em função da sua mobilização na pajelança.

Fonte: https://pib.socioambiental.org/pt/povo/yanomami


FLÁVIA BAXHIX

PROGRAMAÇÃO Além de apresentar o olhar sensível e crítico de Claudia Andujar sobre o povo Yanomami, o Sesc Birigui propõe uma série de ações educativas que buscam ampliar as reflexões sobre a situação indígena em nosso país.

OFICINAS

O DESPERTAR DA FOTOGRAFIA COMO ARTE Com Flávia Baxhix Fotografia é arte? Qual a diferença entre fotografia documental e fotografia autoral? Estas e outras dúvidas pertinentes a linguagem fotográfica, processo criativo, ou como desenvolver um projeto autoral, serão abordadas a partir do trabalho da fotógrafa Claudia Andujar. 28 a 30/8, terça a quinta, 18h30 às 21h30. Sala Múltiplo Uso 2. Vagas limitadas. Grátis. Inscrições no Portal Sesc. 16 anos.


FOTOCOLAGEM Com educadores da exposição Partindo de imagens e referências do trabalho da fotógrafa Claudia Andujar em suas pesquisas etnográficas junto ao povo Yanomami, a oficina propõe a experimentação em fotocolagem para a criação de pequenos livros artesanais. 30 e 31/8, quinta e sexta, 14h às 17h. Sala Múltiplo Uso 3. Vagas limitadas. Grátis. Sem inscrição prévia. 10 anos.

GRAFISMOS INDÍGENAS COM ISOGRAVURA Com Deva Bhakta Criação e reprodução de grafismos indígenas por meio da técnica de isogravura, com bandejas descartáveis e materiais não cortantes. 7/9, sexta, 10h às 13h. Espaço de Tecnologias e Artes. Vagas limitadas. Grátis. Inscrições no Portal Sesc. 10 anos.

COGUMELOS YANOMAMI Com Rubens Salfer Os Sanöma (subgrupo do povo Yanomami) detém grande conhecimento sobre a biodiversidade de seu território. Rubens Salfer elaborará receitas com os cogumelos coletados pelos Yanomami, enquanto conta sobre a origem e os conhecimentos relacionados a esse produto. 13/9, quinta, 18h às 20h. Sala Múltiplo Uso 1. Vagas limitadas. Grátis. Inscrições no Portal Sesc. 16 anos.


INTRODUÇÃO À FOTOGRAFIA COM SMARTPHONE Com educadores da exposição A oficina trará dicas e apresentará ao público técnicas básicas para melhor aproveitamento dos smartphones na captura de imagens. 20 e 21/9, quinta e sexta, 15h às 17h. Sala Múltiplo Uso 3. Vagas limitadas. Grátis. Inscrições no Portal Sesc. 14 anos.

RETRATO: A FOTOGRAFIA DO ENCONTRO Com Cassio Cricor Abordagem sobre o retrato a partir de técnicas fotográficas de iluminação e ângulo, além da relação entre fotógrafo e modelo e sobre como traduzir na imagem as intenções do fotógrafo e os sentimentos do retratado. 16 a 18/10, terça a quinta, 18h30 às 21h30. Sala Múltiplo Uso 2. Vagas limitadas. Grátis. Inscrições no Portal Sesc. 16 anos. ESPETÁCULO

PORACÊ Com a Cia Dançurbana A palavra PORACÊ, do Nheengatu, significa dança indígena de celebração ou baile, arrasta-pé. “Poracê - O outro de nós” é um espetáculo sobre a força do conjunto, uma celebração de estar em comunidade e dos laços com o território. 17/10, quarta, 20h. Teatro. Grátis. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. Livre.


DIVULGAÇÃO

EXIBIÇÕES

TERRA VERMELHA Direção: Marco Berchis | Brasil | 2008 | Drama | 106 min. | DVD Um grupo de índios vive em uma fazenda trabalhando como escravos e ganham alguns trocados para posarem como atração turística. Eles decidem reivindicar suas terras e de seus ancestrais, começando um grande conflito com os fazendeiros. 16/10, terça, 19h30. Teatro. Grátis. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. 12 anos.

XINGU Direção: Cao Hamburger | Brasil | 2012 | Drama | 92 min. | DVD Conheça a história dos irmãos Villas-Bôas em sua jornada de desbravamento do Brasil. Eles entram em contato com aldeias indígenas, ajudando a defender a sua cultura e criando o Parque Nacional do Xingu. 30/10, terça, 19h30. Teatro. Grátis. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. 12 anos.


PONTO DE CULTURA APÖWẼ

OCUPAÇÃO XAVANTE Curadoria: Aline Yuri Hasegawa Os A’uwẽ Uptabi/Xavante são um povo indígena brasileiro que vive no Cerrado do Planalto Central, no Estado do Mato Grosso, e sua trajetória recente está intimamente ligada à produção audiovisual. Nesta experiência bem-sucedida de apropriação do audiovisual, das tecnologias digitais de informação e da internet, foi decisiva a instalação de um laboratório de edição audiovisual rodando em Software Livre na Aldeia Wede’rã. A Ocupação Xavante reúne lideranças indígenas, parceiros estratégicos e apresenta esta trajetória a partir de três frentes: discussão teórica, exibição de filmes e realização prática audiovisual. PALESTRAS

A PRÁTICA DO DOCUMENTÁRIO NA CULTURA XAVANTE Com Caimi Waiassé e Leandro Parinai’a Caimi Waiassé, cineasta indígena, realizou o curta-metragem “Tem que ser curioso”, selecionado para uma mostra no Museum of Modern Art (MoMA). Leandro Parinai’a, da segunda geração de cineastas Xavante, corealizou o curta-metragem “Ondas Curtas” , vencedor do prêmio Pierre Verger de Filme Etnográfico da Associacão Brasileira de Antropologia (2014). 7/11, quarta, 19h30. Teatro. Grátis. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. 14 anos.


CINEMA XAVANTE E OUTRAS ESTRATÉGIAS PARA A DEFESA DO CERRADO Com Paulo Cipassé Líder político xavante, ex-funcionário da Funai em Água Boa-MT, liderança histórica do movimento indígena e do Núcleo de Cultura Indígena. Responsável pela articulação e fundação do Ponto de Cultura Apowẽ, pólo de produção cultural presente na aldeia Wederã. 8/11, quinta, 19h30. Teatro. Grátis. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. 14 anos.

O CINEMA NA TRAJETÓRIA POLÍTICA DOS XAVANTE Com Samuel Leal Antropólogo e pesquisador em cinema, doutor em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense. Realizou o curta-metragem Ondas Curtas, vencedor do prêmio Pierre Verger de Filme Etnográfico da Associacão Brasileira de Antropologia (2014). 9/11, sexta, 19h30. Teatro. Grátis. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. 14 anos.

APROPRIAÇÃO TECNOLÓGICA POR POVOS TRADICIONAIS: ANTROPOLOGIA E A FRONTEIRA COLONIAL Com Chico Caminati Cientista Social, pesquisa experiências de apropriação tecnológica por povos tradicionais. Doutor em Sociologia (UNICAMP), professor da UNESP (Presidente Prudente/SP), trabalha com a comunidade Xavante de Wederã desde 2008. 10/11, sábado, 10h30. Teatro. Grátis. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. 14 anos.


MOSTRA DE FILMES OI’Ó (26’, 2009, Caimi Waiassé)

DARINI - INICIAÇÃO ESPIRITUAL XAVANTE (46’, 2001, Caimi Waiassé) Após a exibição haverá debate com o diretor Caimi Waiassé, cineasta indígena 7/11, quarta, 17h. Teatro. Grátis. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. 12 anos.

WAPTÉ MNHÕNO - A INICIAÇÃO DO JOVEM XAVANTE (51’, 1999, Divino Tserewahú) TEM QUE SER CURIOSO (15’, 1996, Caimi Waiassé) Após a exibição haverá debate com o diretor Caimi Waiassé, cineasta indígena. 8/11, quinta, 17h. Teatro. Grátis. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. 12 anos.

IMANADO (49’55’’, 2011) [ da série Danhono de 2011] ONDAS CURTAS (14’55’’, 2014) Após a exibição haverá debate com Leandro Parinai’á, cineasta indígena. 9/11, sexta, 17h. Teatro. Grátis. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. 12 anos. CURSO

MINI-CURSO DE PRODUCÃO DE DOCUMENTÁRIO Com Caimi Waiassé, Leandro Parinai’a e Samuel Leal A partir de discussão com os convidados, os participantes escolherão um tema para realizar um curta metragem documentário que deverá levar em conta a possibilidade de articular as especificidades da trajetória cultural e artística dos realizadores com as propostas do grupo. 7 a 10/11, terça a sábado, das 14h às 17h. Espaço de Tecnologias e Artes. Vagas Limitadas. Grátis. Inscrições no Portal Sesc. 16 anos. Programação completa: sescsp.org.br/birigui


SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDENTES

TÉCNICO-SOCIAL Joel Naimayer Padula COMUNICAÇÃO SOCIAL Ivan Giannini ADMINISTRAÇÃO Luiz Deoclécio Massaro Galina ASSESSORIA TÉCNICA E DE PLANEJAMENTO Sérgio José Battistelli GERENTES

ARTES VISUAIS E TECNOLOGIA Juliana Braga de Mattos ESTUDOS E DESENVOLVIMENTO Marta Colabone ARTES GRÁFICAS Hélcio Magalhães DIFUSÃO E PROMOÇÃO Marcos Ribeiro de Carvalho SESC BIRIGUI Silvio Luis França

SONHOS YANOMAMI EQUIPE SESC Marcos Roberto Martins, Juliana Okuda, Leonardo Borges, João Paulo Guadanucci, Alex Dias, Bárbara Guirado, Robson de Souza Moreira, Paulo Cesar Gonçalves Ferreira, Fábio Moriel, Everaldo Fiumari, Graziela Schoenacker, Luiz José Bittencourt Frank, Amanda Silva, Marinho Rodrigues, Vinícius Oliveira PRODUÇÃO Melanina Cultural PROJETO EXPOGRÁFICO Isa Gebara e Denise del Giglio (assistente) PROJETO DE ILUMINAÇÃO Camille Laurent MONTAGEM Install CENOTECNIA Cenotech TRANSPORTE Vanguardian LAUDOS MUSEOLÓGICOS Bernadette Ferreira PROJETO GRÁFICO Edson Ikê


Sonhos Yanomami 23 de agosto a 16 de dezembro de 2018 Terças a sextas, 13h30 às 21h30 Sábados, domingos e feriados, 10h às 18h

Sesc Birigui Rua Manoel Domingues Ventura, 121, Vila Xavier CEP 16.203-009 • T. (18) 3649-4730 sescsp.org.br/birigui


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