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INÉDITOS

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DE VOLTA AO “VELHO NORMAL” TURÍSTICO?

Ainda em meio à pandemia de Covid-19 (que, segundo a ciência, passará a fazer parte de nossas vidas de maneira controlada, assim como outras pandemias e endemias da história), a atividade turística está em pleno processo de recuperação dos resultados anteriores a 2020. O avanço da vacinação, a diminuição no número de mortes e contágios, a abertura das fronteiras internacionais e a flexibilização dos protocolos sanitários aqueceram a atividade e a indústria turística voltou a mostrar indicadores em alta em vários segmentos de sua cadeia produtiva, como transportes aéreo e terrestre, hotéis, atrativos e alimentação.

A retomada trouxe à tona novas, mas também (e principalmente) velhas questões. Ainda como um dos vetores de propagação da pandemia, o turismo volta a ser realizado, em muitos lugares, de maneira pouco planejada, massificada e benéfica para poucos, privilegiando pequenos grupos ao custo de trabalho precarizado, sem nada contribuir para a qualidade de vida dos residentes ou para o benefício dos próprios destinos turísticos. Para muitos (e para mim mesma) foi marcante ver a cidade de Veneza, na Itália, durante a pandemia: a diminuição do tráfego de navios de cruzeiro e outras embarcações deixou seus canais mais limpos, com águas transparentes, onde moradores afirmaram ver a volta dos peixes, os mesmos moradores que puderam caminhar por sua própria cidade com mais tranquilidade, sem o fluxo incessante de turistas, e até fazer o uso de bicicletas e de suas tradicionais embarcações em suas atividades cotidianas, impossível nos tempos pré-pandemia.

Em diferentes proporções, de Veneza à cidade de Capitólio, em Minas Gerais, a história se repetia: visitei a cidade em 2019 e, naquele ano, o turismo na região já sinalizava um crescimento acentuado, porém sem uma estrutura que considerasse o meio ambiente e a limitação na capacidade de atendimento de turistas, assim como a geração de benefícios à cidade. Os passeios se concentravam na visita ao Lago de Furnas e aos cânions, onde havia um único restaurante com capacidade para atender grupos de turistas, simultaneamente. Na rodovia, chegando à cidade, largas áreas foram expandidas para estacionar os ônibus, que ficavam enfileirados por quilômetros. O que mudou entre 2019 e 2022 nesse destino? Na região do entorno do lago, houve um crescimento do comércio, o aumento de novos atrativos disponíveis e do fluxo de turistas; mas para a cidade de Capitólio propriamente, muito pouco mudou.

Mesmo com os efeitos negativos do turismo massivo somados aos da pandemia, será que queremos retornar ao "velho normal" sem reconsiderar questões essenciais de conscientização e boas práticas de sustentabilidade em toda a cadeia que compõe o turismo, com a conservação ou a regeneração dos destinos, além do apoio às comunidades receptoras?

O Turismo Social do Sesc São Paulo retoma agora as ações já desenvolvidas antes da pandemia, dando mais relevância ao desenvolvimento de atividades desaceleradas, realizadas em grupos menores, com conteúdo pautado na educação para um turismo mais ético e solidário e uma permanente conexão e profunda parceria com as pessoas e locais visitados.

ROBERTA OLIVEIRA DOS SANTOS, formada em Administração de Empresas e especialista em Marketing de Produtos e Destinos Turísticos, é assistente de Turismo Social do Sesc em São Paulo.

Foto: Roberto Assem

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