Dezembro/2013 - edição 81 sesctv.org.br
Documentário Relatos sobre mulheres vítimas de violência doméstica
Passagem de som Os ensaios e bastidores do Instrumental Sesc Brasil
Contraplano Como o cinema retrata as favelas brasileiras
Os bastidores da série Instrumental Sesc Brasil. estreia dia 15/12, às 21h
Foto: Dani Sandrini
com
TOM ZÉ
/sesctv
@sesctv
/sesctv
sesctv.org.br
Nos bastidores da arte
É próprio das linguagens artísticas um constante reinventar-se. No contato com o espectador, a obra adquire novos e diferentes significados, tocando e emocionando a cada um de forma distinta. Compreender o que motiva, instiga e comove o protagonista de um trabalho artístico, nas mais diversas naturezas de linguagem, amplia nosso olhar e nos aproxima, enquanto público, da proposta original do artista. Nesse sentido, é um privilégio e também um aprendizado acompanhar o processo criativo: ver e ouvir, do próprio autor, como ele realiza seu trabalho. Esta é a proposta da série Passagem de Som, que o SescTV estreia neste mês. O programa mostra os ensaios e bastidores do Instrumental Sesc Brasil – projeto de valorização da música instrumental, realizado pelo Sesc desde 1990, cujos espetáculos, apresentados inicialmente no Sesc Paulista e hoje, no Sesc Consolação, são gravados e exibidos semanalmente pelo canal. No episódio de estreia, o músico Tom Zé relembra sua trajetória, desde os tempos da Tropicália, e conta sobre suas invenções sonoras. Promover o debate sobre questões urgentes da nossa sociedade também está entre as ações do Sesc. Neste mês, o canal traz à tona o tema da violência doméstica contra a mulher, no documentário Silêncio das Inocentes, e também aborda os diferentes olhares do cinema sobre as favelas brasileiras, em episódio inédito da série Contraplano. O diretor de Silêncio dos Inocentes, Ique Gazzola, fala sobre a realização do filme em entrevista para esta Revista do SescTV. No artigo, a jornalista Patrícia Palumbo aborda o espaço dado pela mídia à música instrumental. Boa leitura!
Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo
CAPA: Foto: Grupo Keystone
destaques da programação 4 entrevista - Ique Gazzola 8 artigo - Patrícia Palumbo 10 3
Documentário
Foto: Julia Equi
Para romper o silêncio
“Quando uma mulher chega machucada à delegacia, o delegado pergunta o que ela fez para merecer chegar com aquele machucado”, conta a socióloga e pesquisadora Christina Vital. Trata-se de um tema complexo, porque, ao denunciar o parceiro, nem sempre a mulher tem a intenção de se separar dele. “Muitas mulheres querem ajuda para o que elas vivem em casa, em vez do rompimento com a situação, e nem querem criminalizar o marido, porque não têm muita consciência do que implica o trâmite judiciário”, explica Christina. O tema da violência doméstica contra a mulher é abordado no documentário inédito Silêncio das Inocentes, que o SescTV exibe neste mês. Dirigido por Ique Gazzola, o filme relata casos de agressão à mulher e relembra a história de Maria da Penha. Com depoimentos de vítimas e de autoridades, a obra reforça a urgência em criar um debate público sobre o assunto.
“Um dia, enquanto eu dormia, ouvi um barulho e senti a bala entrando nas minhas costas. Pensei que estava morrendo. E não tinha dúvidas de quem era o autor do disparo: meu marido” Este é o relato de Maria da Penha Fernandes, brasileira, cearense, vítima de violência doméstica, mulher que sobreviveu para contar sua história e, mesmo paraplégica, como resultado dessa violência, marcada pela dor e pelo trauma, encontrou forças para denunciar sua situação – e a de tantas outras mulheres que vivem histórias parecidas com a sua. O crime, ocorrido em 1983, tornou-se um marco da luta contra a agressão às mulheres, dando visibilidade internacional ao problema. Maria da Penha denunciou seu caso à Organização dos Estados Americanos (OEA) e sua luta resultou, duas décadas depois, na criação da lei 11.340/06, que leva seu nome e que pune com mais severidade os agressores. Apesar das conquistas trazidas pela lei, ainda há muito o que avançar nessa área. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), realizado neste ano, aponta que uma mulher morre no Brasil a cada hora e meia, vítima de agressão do parceiro. Por ano, há registros de cinco mil mortes no País por esta razão. “Violência contra a mulher é considerada violação aos direitos humanos. Por mais que as mulheres estejam lutando pela condição de igualdade, nós ainda temos uma sociedade patriarcal, conservadora e tudo isso leva a um sentimento e pensamento de que a mulher, em alguns lugares, ainda é subjugada pelo homem”, afirma Adriana Mello, juíza do 1º Juizado Especial de Violência Doméstica no Rio de Janeiro. O preconceito e a desinformação são barreiras ainda presentes no enfrentamento do problema.
Silêncio das Inocentes, com direção de Ique Gazzola, apresenta depoimentos de mulheres vítimas de violência doméstica
documentário Silêncio das Inocentes Direção: Ique Gazzola Dia 28/12, às 22h
4
música
Festival Batuque, show de Rodrigo Campos. Foto: Camila Miranda.
Diáspora africana Para a cantora Anelis Assumpção, o Batuque vem ao encontro de uma demanda por espaços alternativos para apresentações de estilos distintos, mas com uma base em comum. “É um festival que acolhe um público que é carente de juntar esses gêneros musicais. Acolhe também os grupos que são carentes de lugares para se apresentar. É fundamental. Acho que esse tipo de iniciativa é só positiva, sempre”, afirma. Segundo o músico Jorge Du Peixe, participar do festival, seja no palco ou na plateia, é uma oportunidade de quebrar preconceitos a respeito de um “purismo musical”. “A gente que mexe com essa ideia de não segmentar muito as coisas, de trazer tudo para uma intenção só porque, no final das contas, é tudo música. A música tem essa ideia de se transformar de tempo em tempo, de se desdobrar. A gente experimenta muita coisa. E esse festival está calcado nisso também”, acredita Du Peixe. Sem deixar, no entanto, de entender uma mesma referência presente em todos os trabalhos. “Existe uma preocupação maior de lidar com essa diáspora africana, com tudo que acaba findando na música negra. Quem vinha só para assistir hip hop está vendo outras coisas também. É importante isso: estamos quebrando essas convenções de só trazer um pensamento musical para um festival que é uma grande vitrine. Você pode dispor de várias intenções e apresentações. É uma evolução natural”, analisa. Neste mês, o SescTV exibe o musical Batuque com uma compilação do festival realizado em 2012. No repertório, releituras de músicas como Os Alquimistas Estão Chegando, interpretada por Los Sebozos Postizos; e canções próprias, como Sou de Salvador, de Rodrigo Campos; e Essa é Pra Tocar no Baile, de BNegão. Batuque tem direção para TV de Camila Miranda.
A referência africana é o ponto comum entre músicos de diferentes gêneros e estilos que se encontram anualmente, no mês de dezembro, no festival Batuque, realizado pelo Sesc Santo André. A ideia é promover a troca e o diálogo, por meio da música, e apresentar a diversidade de sons a partir da mesma base: a sonoridade afro-brasileira. “A concepção do que eu entendo do festival tem muito a ver com o que eu uso para fazer meus sons: música negra com a mente aberta. Sinto como se a gente estivesse no lugar certo, que representa o que a gente acredita. Nosso estilo é a música negra universal: do samba-jazz ao hardcore. A gente leva essa bandeira e o Batuque é um festival que tem cem por cento a ver com isso”, analisa o músico BNegão. O intercâmbio é o ponto forte do festival, como avaliam os músicos que participaram da edição de 2012 do projeto. “Tem uma coisa afro-brasileira, o soul, o rap, acho que é importante fazer um recorte dessa geração de músicos que estão vindo, fazer esse intercâmbio. É música em primeiro lugar, música boa”, elogia Rodrigo Campos.
Musical inédito apresenta compilação do Festival Batuque de 2012, que reúne músicos com influência nos sons da África
Musical Batuque (Los Sebozos Postizos; Rodrigo Campos; Kamau; Doncesão & Pizzol + DJ Nato PK; Projetonave + Indee Styla; BNegão e Seletores de Frequência) Dia 25/12, às 22h
5
Passagem de Som
Artista em construção foto: Dani Sandrini
Instrumental Sesc Brasil – que traz destaques da música instrumental, em shows gravados no Sesc Consolação. Passagem de Som traz imagens de bastidores, além de entrevistas e depoimentos de músicos que acompanham a trajetória do artista. “Vamos expor alguns instrumentos em vários estágios de construção, como se o show fosse também uma espécie de artista em construção, como de vez em quando a imprensa gosta de me chamar”, antecipa Tom Zé. No episódio, ele relembra momentos de sua carreira e revela sua parceria com o luthier Murilo Ferreira. “Quando comecei a ter umas ideias que precisavam de um luthier, eu o procurei. Festejei muito o fato de ele ter imediatamente reagido com vontade de fazer, porque eram coisas que geralmente o luthier não gosta de fazer, pode pensar até que é brincadeira, que não é arte, não é trabalho sério” É criação do luthier um violão cênico que Tom Zé desmonta ao vivo, durante a execução da música O Filho do Pato. Músicos que acompanham Tom Zé também falam do desafio de criar versões instrumentais para suas composições. “É uma experiência nova para a gente fazer este trabalho, quer dizer, transformar a música do Tom Zé, que já venho cantando há 22 anos com ele, em versões instrumentais”, comenta o percussionista Jarbas Mariz. A cantora Gal Costa também é uma das entrevistadas. “Tom Zé é muito inteligente, o show dele é performático, isso é maravilhoso”, afirma. “Ele é parte da nossa história” Com Tom Zé, nada é previsível: samba vira rock e rock vira festa.
Em linguagem documental, episódio de estreia da série apresenta os bastidores do show de Tom Zé
“A minha história só pode ser contada pelo fato de eu ter descoberto a incompetência, aos 15 anos de idade. Eu vi que não cantava igual às outras pessoas, tinha sérias dificuldades. Era interessado em música e continuei estudando. Se para mim tanto fazia tocar um violão bom quanto um ruim, então eu podia tocar enceradeira, né?” Assim se apresenta Tom Zé, baiano da cidade de Irará, conhecido por sua irreverência, criatividade e autenticidade como compositor, cantor e artista performático. Tom Zé ganhou projeção no final da década de 1960, no início da Tropicália, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e de Rogério Duprat. Nas décadas seguintes, passou por uma fase de menos visibilidade, até ser redescoberto pela mídia nos anos de 1990, com o lançamento, nos Estados Unidos, do disco The Best of Tom Zé, pelo músico David Byrne. Tom Zé é o convidado do episódio de estreia da série Passagem de Som, com direção artística de Max Alvim. Em linguagem documental, com 30 minutos de duração, a série antecede e apresenta um making of do
Passagem de Som Direção artística: Max Alvim Domingos, 21h
Tom Zé Dia 15/12
Com a Corda Toda Dia 22/12
Bandolim Elétrico Dia 29/12 Na sequência, às 21h30, shows inéditos do Instrumental Sesc Brasil
6
Contraplano
Foto: pedro abude
Favela em diferentes versões
com direção de Paulo Morelli. “Neste filme, a violência é um fantasma atrás da porta. A obra abstrai a possibilidade de o jovem favelado ter outros papeis”, opina Mary del Priore. Olhares sobre a Favela é título de episódio inédito da série Contraplano, que o SescTV exibe no dia 27/12, às 22h. O programa apresenta obras cinematográficas que abordam esse assunto, analisadas por Ivana Bentes e Mary del Priore. Para ambas, o cinema brasileiro ainda não retratou a situação de mobilidade social em que se configuram as favelas na atualidade. “Estamos num momento de ressignificação da favela, que antes era vista só como carência. Hoje, ela aparece como o lugar da potência, da criação. Ainda falta esse filme, sobre o que está sendo construído hoje”, defende Ivana Bentes. Contraplano tem direção de Luiz R. Cabral.
Problema social; lugar de fascínio; berço de uma cultura popular rica e complexa; espaço da violência. São diversas e, às vezes, contraditórias as abordagens que o cinema brasileiro traz sobre as favelas do País. O tema, em diferentes contextos, despertou a curiosidade de cineastas ao longo das décadas, que retrataram as favelas não apenas como cenário ou pano de fundo dos enredos, mas como foco central das narrativas. Em 1957, o diretor Nelson Pereira dos Santos abordava a produção cultural presente nas favelas, com o filme Rio Zona Norte. Na obra, Grande Otelo interpretava Espírito da Luz, um compositor de samba, morador do morro, que decide construir sua carreira na rádio, mas que se depara com a barreira do preconceito. “É um homem negro da cultura popular sendo espoliado de todas as formas. Ele depende da cantora branca e do radialista para obter reconhecimento”, analisa a pesquisadora e ensaísta Ivana Bentes. Como contraponto a esta obra de 1957, dois anos depois o cineasta francês Marcel Camus vem ao Brasil para realizar Orfeu do Carnaval, baseado na peça de Vinícius de Moraes. Neste filme, a favela é retratada como o lugar por excelência da alegria e do lirismo. “É um filme edulcorado, que mostra pessoas dançando, crianças sorridentes e mulheres de corpo escultural carregando latas d’água na cabeça”, aponta a historiadora Mary del Priore. A obra recebeu críticas na época de seu lançamento, especialmente dos profissionais que viam o cinema como espaço de denúncia social. “Esta favela estetizada ia contra a ideia defendida pelo Cinema Novo. Mostrava uma pobreza romântica, uma ditadura da alegria como o mito do povo brasileiro”, afirma Ivana Bentes. Nos anos 2000, tendo como marco a obra de Fernando Meirelles, Cidade de Deus, apresenta a favela no contexto da violência e do crime. Um dos desdobramentos do filme foi a série de TV Cidade dos Homens, lançada também na versão cinematográfica, em 2007,
Mary del Priore e ivana bentes debatem sobre como o cinema retrata as favelas brasileiras
Contraplano Sextas-feiras, 22h
Hollywood Imaginário Latino-Americano Dia 6/12
Cotidiano Clandestino Dia 13/12
Relações Contemporâneas Dia 20/12
Olhares sobre a Favela Dia 27/12
7
entrevista
O cinema que dá voz Foto: divulgação
Ique Gazzola é cineasta e professor. Começou a carreira no teatro, como ator, e também trabalhou no mercado publicitário. É diretor do documentário Silêncio das Inocentes, que reúne entrevistas com mulheres vítimas de violência doméstica. O filme estreia no SescTV, dia 28/12, às 22h (leia mais nesta edição).
Como surgiu seu envolvimento com o cinema? Comecei na música, como baterista, e paralelamente como ator, participando da fundação da Cia. Atores de Laura, na qual trabalhei por 11 anos. E foi do teatro que surgiu o desejo de fazer cinema, que acabou por me tirar dos palcos e me lançar nos sets. Foi quando comecei a trabalhar como estagiário em publicidade, produção e assistência de direção. Nesse período, dirigi meus próprios filmes: um curta-metragem, Natureza Humana, em 16 mm; outro filme, com um minuto de duração, Mãe Coruja, também em 16 mm; e o documentário Choro Novo, em 2001, que recebeu o prêmio Tatu de Prata na Jornada Internacional de Cine de Salvador. Nesse ponto da minha carreira, já era também diretor de filmes publicitários. Hoje, além de dirigir filmes, sou professor na Oficina Pequeno Cineasta e estou terminando o bacharelado em Cinema, já pensando no mestrado. Mas tem um longa-metragem no meio desse caminho. Você dirigiu o documentário Silêncio das Inocentes, que aborda a violência doméstica contra mulheres. Como foi feito o trabalho de pesquisa para o filme? O trabalho de pesquisa foi muito difícil, pois a maioria das mulheres em situação de violência doméstica não queria filmar, temendo represálias. Nossa pesquisadora entrou em contato com várias instituições de apoio às mulheres por todo o Brasil, para encontrar pessoas dispostas a falar sobre suas histórias.
“Algumas dessas mulheres nutriam um sentimento de culpa pela sua situação, o que é um sintoma de mulheres vítimas de violência, um tipo de Síndrome de Estocolmo”
O filme reúne uma série de depoimentos de mulheres com diferentes perfis sócio-econômicos. Como foi feita a escolha dessas personagens? Escolhemos as histórias que pudessem descrever a infeliz variedade de violências praticadas contra as mulheres, não só física, mas verbal e psicológica. Que estivessem não só no âmbito matrimonial,
8
mas também em outras relações familiares. Um exemplo disso é a história da filha maltratada pelos próprios pais. Que tipo de dificuldades a equipe encontrou, levando em conta que o filme trata de um assunto que ainda hoje enfrenta resistência e até preconceitos? Não foi fácil fazer o filme! A nossa principal dificuldade foi conseguir filmar as histórias sem sermos impactados por essa realidade bruta, covarde e criminosa. Por várias vezes, cortei a câmera para a entrevistada chorar e também para me recompor. Mas algumas dessas mulheres nutriam um sentimento de culpa pela sua situação, o que é um sintoma de mulheres vítimas de violência, um tipo de “Síndrome de Estocolmo”. Algumas delas falavam baixo como se seu agressor estivesse atrás da porta; muito trauma e vidas destruídas por um ato que não pode ser tolerado em nossa sociedade ou encarado com normalidade de que um “tapinha não dói!”
“Escolhemos as histórias que pudessem descrever a infeliz variedade de violências praticadas contra as mulheres, não só física, mas verbal e psicológica”
Em quanto tempo o filme foi realizado e qual foi sua circulação até o momento? Participou de festivais? Acho que o processo durou uns cinco meses ao todo. A parte da pré-produção foi maior. A produção em si foi rápida e, na pós-produção, foram dois meses. O filme esteve em vários festivais nacionais e internacionais; foi selecionado na Mostra Brésil en Mouvements, de Paris (França), neste ano. Levou o prêmio de melhor média-metragem na sétima edição da Mostra Cinema de Direitos Humanos na América do Sul.
Não queríamos firulas ou distrações, o assunto tinha que ser colocado diretamente, sem rodeios. Qual o papel dos meios de comunicação – em especial, da televisão – para abordar questões como a violência doméstica? Desde a Lei Maria da Penha, a questão ganhou os veículos, primeiro como notícia e, depois, através de novelas. Mas acho que o assunto não é interessante para os seus anunciantes. Um bom papel para a grande mídia seria colocar um foco nessa questão, para um debate social e reflexão, pois esse tipo de violência é muito comum no nosso dia a dia. Mas, infelizmente, somente quando “dá manchete” a notícia é interessante.
Existe a intenção de disponibilizar o filme para Organizações Não Governamentais, escolas e instituições que trabalham com formação de público? O documentário já foi disponibilizado para diversas ONGs e instituições brasileiras como contrapartida de patrocínio e de interesse publico. Além disso, fizemos debates após apresentações, como no auditório do Senac, aqui no Rio de Janeiro.
Que aprendizados e contribuições este documentário trouxe para seu trabalho como cineasta? Acho que esse filme me aponta um caminho cinematográfico natural, que são as questões políticas e sociais da nossa civilização. O maior aprendizado foi ser testemunha de que mesmo numa situação terrível como essa existe esperança de algo melhor pela frente! Que existe algo de belo para contar.
Em ternos de linguagem, o documentário praticamente não tem momentos de respiro, ao apresentar, na sequência, um grande número de entrevistas, com histórias que ilustram diferentes tipos de agressão. Foi uma opção artística do diretor? Sim, foi! Queríamos inicialmente, eu e o roteirista Rodrigo Azevedo, apresentar as personagens, contar suas histórias e mostrar o ponto de virada delas, o que foi o mais emocionante. E, para isso, a sequência das violências era importante para impactar o público, para que percebesse a força e determinação dessas mulheres em seguir adiante.
Quais serão seus próximos projetos? Também estão relacionados a temas sociais? Estou preparando um filme de longa-metragem sobre a Campanha da Legalidade, que aconteceu antes do golpe de 1964! A produção será de Layla Brizola, neta de Leonel Brizola, o principal articulador da resistência popular.
9
artigo
Música pra ver Cenário do Instrumental Sesc Brasil. Cenógrafo: Zé Carratu. Foto: Adi Leite
É uma questão de buscar o alvo certo, entre tantas coisas, é claro. Mas esse ponto é fundamental. Tocar pra quem quer te ouvir. Eu adoro música, seja instrumental, jazz, erudito, canção. E sei exatamente onde buscar cada gênero. Não vou à Sala São Paulo pra ouvir rock europeu ou ao Cine Jóia pra assistir a um concerto. Como não acho que a música pop mais interessante feita no Brasil hoje não vai ganhar nada com uma aparição num programa popular de domingo numa TV aberta. Não falo da ideia de “biscoito fino para as massas”, falo de otimizar e pensar muito bem onde gastar seus cartuchos. Hoje com a internet e as TVs por assinatura já temos mais ofertas de música pra ver e ouvir. Há novos canais para buscar. Ainda que sejam poucos programas realmente dedicados ao tema. Canais só de música são raríssimos. Tendem a buscar público jovem - que se acredita só gostar de pop, rock ou de gêneros populares como o pagode e o sertanejo. Canais de variedades apresentam eventuais coberturas de festivais. E, na margem, estão os canais da rede pública com pouca audiência. Cross media é a saída. A música tem que estar no rádio, na TV e na internet. E as emissoras de rádio e TV também. Tem que se reinventar, usar as redes sociais como baliza e medição. Na internet qualquer um pode criar o seu canal, ser seu próprio veículo. Temos exemplos muito bem sucedidos do uso dessa ferramenta. Mallu Magalhães começou assim, postando vídeos de voz e violão. E vejam onde foi parar a menina! Conteúdo compartilhado com uma poderosa rede de ouvintes, espectadores, artistas e quem mais chegar. Uma revolução democrática, um espaço livre para divulgação da nossa música. Novos programas, jornalistas e comunicadores também têm encontrado seu espaço na internet. As iniciativas se multiplicam, mas ainda são poucas, se pensarmos na diversidade que se pode encontrar na produção artística nacional. Há poucos anos gostar de MPB era coisa careta. Com a atual quebra de fronteiras entre gêneros, estilos e até acentos regionais, fazer música pop no Brasil é muito bacana! Quem sabe possamos ver daqui a pouco uma retomada do que foi a década de 1960 para o instrumental no Brasil, quando eram muitos os trios de bossa nova, sambalanço e jazz? E que esses artistas criem seus espaços, procurem os veículos certos, valorizem o que tem e façam crescer muito seu alcance. Cauda longa para todos!
Uma das maiores bobagens que ouvi nessa minha vida de jornalista que trabalha com música foi “instrumental não tem público”! Já perdi a conta de quanto tempo faz que apresento o Instrumental Sesc Brasil e muito raramente vi os shows com pouca gente. Com a transmissão pela TV já tive momentos engraçados nos lugares mais improváveis pelo Brasil afora ao ser reconhecida na rua justamente por apreciadores da música instrumental. Cada vez mais sou adepta e fã do tal conceito da “cauda longa”, uma ideia organizada pelo físico, escritor e editor Chris Anderson. Ele fala da nova ordem do mercado mundial para bens culturais à margem da mídia de massa, mas que tem sucesso em nichos. E por muito tempo. Longevidade, persistência, conteúdo, estofo. Tudo isso nós temos na música instrumental feita no Brasil. E ouço cada vez menos artistas reclamando das tão faladas dificuldades porque esses, mais antenados, já sabem que o mundo mudou, estão acompanhando o processo, fazendo parte da mudança e trabalhando bem.
Patrícia Palumbo é jornalista especializada em música. Apresenta o programa Vozes do Brasil, disponível em oito emissoras de rádio e também na internet.
10
foto: Giros Produções
Foto: foto: divulgação
último Bloco
Em busca do ouro
A casa e sua gente Diferentes modelos de moradias encontrados Brasil afora e sua relação com as identidades culturais são o foco da série Habitar/ Habitat, dirigida por Paulo Markun e Sérgio Roizenblit. Neste mês, o SescTV exibe cinco episódios inéditos: Casa do Colono Japonês, dia 1/12; Casa Enxaimel, dia 8/12; Maloca, dia 15/12, Casa Sertaneja, dia 22/12; Casa Caiçara, dia 29/12. Domingos, às 20h.
Olhares do Sul Como uma plataforma de ação do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, o SescTV exibe, neste mês, cinco programas inéditos que trazem um panorama da videoarte contemporânea. Com curadoria de Solange Farkas, os episódios repercutem a participação do chamado eixo sul geopolítico na produção artística atual. A edição de 2013 propõe ainda um olhar retrospectivo, já que o festival completa 30 anos de atividades. Internacionalização: as Visões do Sul, dia 2/12; Circuitos Expandidos, dia 9/12; Panoramas do Sul: Natureza e Espaço: Reconfigurações do Olhar, dia 16/12; Panoramas do Sul: Memória, Identidade e Política, dia 23/12; Panoramas do Sul: Imaginários Contemporâneos, dia 30/12. Sempre às 23h.
A série Coleções traz três episódios inéditos sobre estradas e rotas com relevância histórica e cultural para o País. O programa do dia 15/12 apresenta a Estrada Real, cujo maior trecho se localiza em Minas Gerais. A rota era usada para escoar o ouro extraído na região de Ouro Preto até Paraty e, de lá, para Portugal e também para o Rio de Janeiro. Ainda neste mês, Rota do Açúcar, dia 5/12; e Rota do Gado, dia 19/12. Sempre às 21h30. Com enfoque na valorização da cultura regional brasileira, a série Coleções tem direção de Belisario Franca.
Teatro em múltiplas linguagens Atores, diretores, dramaturgos e pesquisadores da área teatral refletem sobre o teatro contemporâneo na série de documentários Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, que o SescTV exibe às sextas-feiras deste mês, às 20h. Os episódios apresentam a atual cena teatral e trazem entrevistas, depoimentos e trechos de peças apresentadas em duas edições do festival, promovido pelo Sesc em parceria com a prefeitura de Santos, o Instituto Nacional de Bellas Artes e o Consejo Nacional para la Cultura e las Artes, ambos do México. Confira programação completa no site.
Para sintonizar o SESCTV: Anápolis, Net 28; Aracaju, Net 26; Araguari, Imagem Telecom 111; Belém, Net 30; Belo Horizonte, Oi TV 28; Brasília, Net 3 (Digital); Campo Grande, JET 29; Cuiabá, JET 92; Curitiba, Net 11 (Cabo) e 42 (MMDS); Fortaleza, Net 3; Goiânia, Net 30; João Pessoa, Big TV 8, Net 92; Maceió, Big TV 8, Net 92; Manaus, Net 92; Natal, Cabo Natal 14 (Analógico) e 510 (Digital), Net 92; Porto Velho, Viacabo 7; Recife, TV Cidade 27; Rio de Janeiro, Net 137 (Digital); São Luís, TVN 29; Uberlândia, Imagem Telecom 111. No Brasil todo, NET 137; Oi TV 29 e Sky 3. Assista também em sesctv.org.br. Para outras localidades, consulte sesctv.org.br
SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO – SESC
Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente: Abram Szajman Diretor Regional: Danilo Santos de Miranda
A revista SESCTV é uma publicação do Sesc São Paulo sob coordenação da Superintendência de Comunicação Social. Distribuição gratuita. Nenhuma pessoa está autorizada a vender anúncios. sescsp.org.br Coordenação Geral: Ivan Giannini Supervisão Gráfica e editorial: Hélcio Magalhães Redação: Adriana Reis Editoração: Rosa Thaina Santos Revisão: Marcelo Almada
Este boletim foi impresso em papel fabricado com madeira de reflorestamento certificado com o selo do FSC® (Forest Stewardship Council ®) e de outras fontes controladas. A certificação segue padrões internacionais de controles ambientais e sociais.
Direção Executiva: Valter Vicente Sales Filho Direção de Programação: Regina Gambini Coordenação de Programação: Juliano de Souza Coordenação de Comunicação: Marimar Chimenes Gil Divulgação: Jô Santina, Jucimara Serra e Glauco Gotardi Envie sua opinião, crítica ou sugestão para atendimento@sesctv.sescsp.org.br Leia as edições anteriores em sesctv.org.br Av. Álvaro Ramos, 776. Tel.: (11) 2076-3550
Sincronize seu celular no QR Code e assista ao vídeo com os destaques da programação.
Foto: Divulgação
Jorge Mautner convida Gilberto Gil dia 1º de janeiro, quarta, às 22h
/sesctv
@sesctv
/sesctv
sesctv.org.br