fevereiro/2012 - edição 59 sesctv.org.br
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Ficção
DOCUMENTÁRIO
Entrevista
Preconceito é tema
a vida de carlos
Marco altberg fala
de longa-metragem
Marighella em filme 1 de silvio tendler
sobre a produção
de Antunes Filho
independente no País
Temporal
Os velhos em interação com todas as gerações.
Foto: Divulgação
Série dirigida por Kiko Goifman
Episódio: Cinema e Spaghetti
youtube.com/sesctv
@sesctv
Em breve, no
Cinema para discutir e apreciaR
A diversidade de linguagens, temas e autores – um dos focos centrais de ação do Sesc – está presente na programação diária do SescTV. Dentre as diversas artes que são contempladas pelo canal, o cinema aparece nos formatos de longa e curtametragem; ficção, documentário e animação; para apreciar ou para discutir, nas exibições de filmes e em entrevistas com seus realizadores. Nesse sentido, além de ciclos temáticos, compõem a grade de programação do canal o CurtaDoc, o Faixa Curtas, o Sala de Cinema e a faixa de Documentários. Neste mês, o canal exibe nas noites de sábado quatro produções brasileiras realizadas para cinema. Dentre as atrações, a exibição inédita na TV do longametragem de ficção Compasso de Espera, dirigido pelo encenador Antunes Filho e lançado no início da década de 1970. Trata-se de uma raridade com características peculiares por sua opção estética e pela temática abordada: o preconceito racial, assunto que não pautava o cinema daquela época. Outra produção em destaque é o documentário Marighella, retrato falado do guerrilheiro. Dirigido por Silvio Tendler, o filme relata a vida de um dos líderes da luta armada no Brasil dos anos de 1970. A faixa musical deste mês celebra o Carnaval homenageando três diferentes compositores: Monarco, Cartola e Chiquinha Gonzaga. A série Dança Contemporânea traz o espetáculo Girassóis, da Cia. Druw, inspirado na vida e na obra do pintor holandês Vincent Van Gogh. A Revista do SescTV deste mês traz entrevista com o cineasta e produtor Marco Altberg, presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão – ABPITV. O artigo do jornalista Roberto de Oliveira discute a massificação de temas populares na televisão, a exemplo do que ocorre no Carnaval. Boa leitura! Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo
destaques da programação 4 entrevista - Marco Altberg 8 artigo - Roberto de Oliveira 10
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dança contemporânea
Foto: silvia machado
As flores de Van Gogh
trigo. Os movimentos coreográficos são intercalados pelas impressões do pintor, manifestadas por cartas narradas em off pelo ator Paulo Federal. “É muito emocionante e sensibilizador entrar em contato com a obra de Van Gogh, com seus pensamentos, a vida em torno. O espetáculo é uma partícula de tudo o que a gente viveu nesse processo”, diz Silvia Leblon. Girassóis foi gravado no Sesc Santana, em outubro de 2011, com direção para TV de Antonio Carlos Rebesco Pipoca. Também neste mês o canal exibe os espetáculos inéditos Ewá, do Studio 3 Cia. de Dança, dia 1/02, às 24h; Corpos Frágeis, da Cia. Fragmento de Dança, dia 8/02; e Hot 100 – The Hot One Hundred Choreographers, de Cristian Duarte, dia 22/02.
Transformar em movimentos do corpo as cores, os temas e as pinceladas do pintor holandês Vincent Van Gogh – foi esse o ponto de partida da Cia. Druw para o espetáculo Girassóis, apresentado em 2011, o terceiro da companhia voltado ao público infantojuvenil, que o SescTV exibe neste mês. “Em 2006, com o espetáculo Lúdico, veio a vontade de dirigir o trabalho para o público infantojuvenil. Eu me fiz estas perguntas: o que eu gosto de fazer? O que eu quero fazer com a dança? Para quem eu quero criar?”, conta a diretora Miriam Druwe. “A arte deve nascer de uma necessidade interior. Deve-se ouvir essa voz. Eu acredito muito nisso. Acho que a gente tem uma coisa para fazer, só tem que encontrar qual é”, afirma. Em seguida, a companhia montou Vila Tarsila, a partir dos trabalhos da artista Tarsila do Amaral. Para este terceiro espetáculo, o grupo mergulha na vida e na obra de Van Gogh, com especial atenção para suas telas com temas de paisagens. A coreografia foi elaborada coletivamente pela diretora e pelo elenco de onze bailarinos. “Foi um processo bem árduo. Não queríamos fazer uma coisinha qualquer, só porque era para criança. Foi um processo tão cansativo quanto para um espetáculo para adultos, com cuidado e capricho de produção”, explica Miriam Druwe. Em Girassóis, o palco transforma-se numa grande tela em branco, que vai sendo desenhada e colorida a partir dos movimentos dos bailarinos, da iluminação, do cenário e do figurino. A moldura dramatúrgica do espetáculo foi criada pela atriz e diretora Silvia Leblon, que assina a codireção. No espetáculo, os girassóis são apresentados como símbolo de amizade, esperança e gratidão. Um dos dançarinos interpreta Van Gogh em contato com um ambiente bucólico, observando os trabalhadores rurais e os campos semeados de
Cia. Druw leva ao palco o espetáculo Girassóis, inspirado na obra do pintor holandês
Dança Contemporânea Quartas, 24h
Ewá - Studio 3 Cia. de Dança Dia 1/02
Corpos Frágeis - Cia. Fragmento de Dança Dia 8/02
Girassóis – Cia. Druw Dia 15/02
Hot 100 – The Hot One Hundred Choreographers - Cristian Duarte Dia 22/02
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Instrumental
Foto: DIVULGAÇÃo
Acordes do Brasil
Tom Jobim; e Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, e composições assinadas por Amilton Godoy, como Bom dia São Paulo, Caucaia do Alto e Teste de Som. Também neste mês o canal exibe programas inéditos com Cor das Cordas, dia 6/02; Sonóris Fábrica, dia 13/02; e Thiago Delgado, dia 20/02. Instrumental Sesc Brasil é um projeto do Sesc São Paulo, com apresentações semanais de espetáculos, no teatro do Sesc Consolação, que são gravados para exibição no SescTV. O público também tem a oportunidade de conhecer mais sobre os músicos e participar do chat, através do site www.instrumentalsescbrasil.org.br. O projeto tem direção artística para televisão de Max Alvim.
No início da década de 1960, os músicos Luíz Chaves (contrabaixo), Rubens Alberto Barsotti (bateria) e Amilton Godoy (piano) foram convidados a apresentar-se ao lado da cantora Norma Bengell, na boate Oásis, no Rio de Janeiro. Era um período de efervescência da música brasileira, que celebrava a Bossa Nova e o surgimento de novos talentos, em busca de uma sonoridade genuinamente brasileira. Dentre as músicas tocadas naquele show estava Consolação, de Baden Powell e Vinícius de Moraes. Aquela experiência despertou neles a vontade de criar um grupo para aprimorar os estudos musicais com um repertório brasileiro e instrumental. Assim nascia o Zimbo Trio, cujo nome, de origem africana, remete à ideia de boa sorte, felicidade e sucesso. São quase cinco décadas de trajetória, nas quais o grupo soma 51 álbuns gravados e apresentações no Brasil e em outros 45 países. Dentre os compositores homenageados pelo grupo estão Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Djavan, Gilberto Gil, João Bosco, Hermeto Pascoal, Ary Barroso e Milton Nascimento; e tocam também músicas próprias, de autoria de Amilton Godoy. Ao longo de sua história, o grupo viveu algumas alterações em sua formação original, como por exemplo em 2007, com a morte do contrabaixista Luiz Chaves. Atualmente, o Zimbo Trio é formado por Amilton Godoy (piano), Rubens Barsotti e Pércio Sápia (que se revezam na bateria) e Mario Andreotti (contrabaixo acústico). Neste mês, o SescTV exibe episódio inédito da série Instrumental Sesc Brasil com o Zimbo Trio, gravado em setembro de 2011, no Sesc Consolação, capital paulista. O grupo apresenta interpretações de músicas brasileiras consagradas, como Domingo no Parque, de Gilberto Gil; Samba de uma Nota Só, de
Com cinco décadas de história e 51 álbuns gravados, o Zimbo Trio leva a música brasileira pelo País e para o exterior
Instrumental Segundas, 22h
Cor das Cordas Dia 6/02
Sonóris Fábrica Dia 6/02
Thiago Delgado Dia 20/02
Zimbo Trio Dia 27/02
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musical
Foto: Divulgação
Foto: Gal Oppido
No ritmo das folias
No carnaval de 1899, Chiquinha Gonzaga, já consagrada compositora, foi procurada por integrantes do cordão Rosa de Ouro com a encomenda: preparar um hino para as folias daquele ano. Ela aceitou o desafio e compôs Ó Abre Alas, que levaria o cordão à vitória do Carnaval e inauguraria as chamadas marchas carnavalescas, e ainda se tornaria um sucesso nas festas dos anos seguintes. O Carnaval está presente em todo o território brasileiro, mas com características distintas em cada região do País. A música acompanha essa diversidade e apresenta-se com formatação própria, embora o samba seja o ritmo predominante. Neste mês, o SescTV exibe três musicais que representam essa pluralidade. A obra do cantor e compositor Monarco é mostrada no espetáculo Uma Família no Samba em Azul e Branco (foto à direita). Considerado um ícone da escola de samba Portela, Monarco é autor de sambas conhecidos, produzidos por ele e em parceria com outros compositores, como Proposta amorosa; Portela na avenida; e Eu nunca vi você tão triste assim. Seu trabalho influenciou as novas gerações da família, como seus filhos e neta, que também enveredaram para a música. Chiquinha Gonzaga é a homenageada no musical Chiquinha em Revista (foto à esquerda). Os cantores Suzana Sales, Ná Ozzetti, Rita Maria, Vange Millet e Carlos Careqa interpretam sucessos de Chiquinha Gonzaga, com arranjos da pianista Ana Fridman e do baixista Gilberto Assis. No repertório, Suspiro; Passos no choro; Fogo foguinho; Sou morena; e Corta jaca. Outro representante do samba carioca em destaque na programação é o cantor e compositor Cartola, um dos criadores da tradicional escola de samba do Rio
de Janeiro Estação Primeira de Mangueira. Nascido Angenor de Oliveira, Cartola é autor de clássicos como As rosas não falam; O mundo é um moinho; e Quem me vê sorrindo. Apesar de ter-se popularizado na década de 1930, Cartola passou quase vinte anos afastado do mundo da música, até ser redescoberto pelo jornalista Stanislaw Ponte Preta, que o encontrou trabalhando como lavador de carros. A partir de então, passa a ser admirado pelas novas gerações de músicos e sambistas de todo o País. Gravado por ocasião da comemoração pelo centenário de seu nascimento, o espetáculo Cartola – 100 Anos relembra suas composições memoráveis, interpretadas por Jair Rodrigues, Célia, Milena e Leny Andrade.
SescTV exibe três espetáculos com diferentes vertentes da música que embala o Carnaval brasileiro
Musical Uma Família no Samba em Azul e Branco Dia 8/2, às 22h
Chiquinha em Revista – Uma Homenagem a Chiquinha Gonzaga Dia 15/2, às 22h
Cartola – 100 Anos Dia 22/2, às 22h
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cinema
Foto: Alexandre nunis
Foto: GIROS PRODUÇÕES
Longa inédito de Antunes Filho
O preconceito racial é o foco da experiência inédita do encenador Antunes Filho (foto à direita) no cinema de ficção. Esta foi a temática escolhida por ele para protagonizar a direção de um longametragem, lançado no início da década de 1970 e até hoje não exibido na televisão. O filme Compasso de Espera traz o ator Zózimo Bulbul no papel do protagonista Jorge, poeta e publicitário. Apesar de sua emancipação econômica, conquistada graças ao apadrinhamento do antigo patrão de sua mãe, ele não escapa de reações de discriminação racial – ora velada, ora escancarada na forma de insultos e até de agressões físicas, e convive com conflitos internos, por não se envolver mais radicalmente na luta do negro no Brasil. Jorge tem um caso com Emma, mulher branca, bem mais velha e sua chefe na agência, mas quando se apaixona pela modelo Cristina, interpretada por Renée de Vielmond, vê sua rotina se transformar. Com estética e música da década de 1970 e direção de fotografia de Jorge Bodanski, o filme foi vencedor de vários prêmios, como Melhor Argumento (Antunes Filho) e Revelação de Atriz (Renée de Vielmond) pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, em 1975. O SescTV exibe Compasso de Espera no dia 25/02, às 23h. Outros três filmes estarão na grade de programação deste mês. No dia 4/02, o canal apresenta o documentário Jogo de Cena, dirigido por Eduardo Coutinho. Ele convida 23 mulheres para contar sua história de vida. Esses depoimentos são intercalados pela interpretação desses mesmos relatos feita por atrizes convidadas, desafiando assim os limites entre realidade e ficção. Participação de Andréa Beltrão, Marília Pêra e Fernanda Torres. Na sequência, o canal apresenta o documentário Família Diniz (foto à esquerda), dirigido por Belisario
Franca, no dia 11/02. O filme conta a história do compositor, cantor e músico Hildemar Diniz, mais conhecido por Monarco, participante da ala dos compositores da escola de samba Portela. Depoimentos de seus filhos, os músicos Marcos e Mauro Diniz, e relatos do início de sua carreira compõem a produção. A vida do político e guerrilheiro Carlos Marighella está no documentário Marighella, retrato falado do guerrilheiro, com direção de Silvio Tendler. Dirigente do Partido Comunista, Marighella fundou a Ação Libertadora Nacional e representou a luta de resistência contra a ditadura militar após 1964. Com narração de Othon Bastos e trilha sonora do maestro Eduardo Camenietzki, o filme narra a trajetória de Marighella e a polêmica em torno de sua morte. Dia 18/02.
compasso de espera com Renée de Vielmond e zózimo bulbul aborda o preconceito racial
CINEMA Sábados, 23h
Jogo de Cena Direção: Eduardo Coutinho - Dia: 04/02
Família Diniz Direção: Belisario Franca - Dia 11/02
Marighella, retrato falado do guerrilheiro Direção: Silvio Tendler - Dia 18/02
Compasso de Espera Direção: Antunes Filho - Dia 25/02
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entrevista
A vez da produção independente Foto: Gladstone Campos/real fotos
O senhor iniciou sua carreira no cinema como assistente de diretores do Cinema Novo. Que diferenças percebe nesse mercado nas últimas décadas? Essa pergunta, na verdade, renderia uma tese de muitas páginas... Mas para resumir, poderia falar que vivíamos então numa época de certa inocência, poucos atores de mercado, equipes pequenas, muito heroísmo, pioneirismo, abertura de caminhos, aprendizado. Hoje é mais complexo, há mais informações acumuladas e outras novas chegando a cada instante. Mais gente, mais janelas, sem necessariamente representar mais resultados. Antes era apenas o cinema, hoje o audiovisual, que envolve TV e Novas Mídias – internet, celular, games, aplicativos etc. Como o senhor avalia a atual produção audiovisual brasileira? Lembro que nos anos 1970, alguém disse que era necessário quantidade para se ter qualidade, no caso referindo-se ao cinema. Isso em parte é verdade: há mais chance de se obterem melhores produtos audiovisuais se houver uma indústria. No Brasil, a atividade cinematográfica sempre deparou com essa questão. O braço mais industrial do audiovisual é a TV. No cinema, enquanto persistir a política de filme a filme (ou seja, o eterno recomeço), não haverá uma indústria com fluxo contínuo. Temos quantidade, sim, porém com muito esforço desperdiçado pelo fato de não existir uma política industrial para o setor. Isso é o que estamos tentando há mais de dez anos, desde que criamos a ABPITV – Associação Brasileira de Produtoras Independentes de TV. Entendo que o fortalecimento das empresas com seus programas de projetos no longo prazo é o que possibilitará a criação dessa indústria. De que forma as novas plataformas e os avanços tecnológicos interferem na produção audiovisual brasileira? Não seria concebível hoje um projeto audiovisual, de cinema ou de TV, sem incluir versões transmídia. O cinema é uma primeira janela, a TV em suas versões (paga e aberta) também. Há conteúdo para internet, celular e, quando for o caso, jogos eletrônicos. As novas mídias são parte integrante de qualquer produto audiovisual. Abrir mão disso é jogar o produto no lixo. O senhor preside a Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão. Quais são as
Marco Altberg é cineasta e produtor de projetos para cinema e televisão, como a série Revista do
Cinema Brasileiro, exibida semanalmente pela TV Brasil. Em 1999, foi um dos responsáveis pela criação da ABPITV, a Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão, da qual é o atual presidente. A entidade atua na organização e representação das produtoras independentes do País, setor que ganhou destaque no debate nacional, nos últimos meses, com a sanção da lei 12.485/11, que atualiza a legislação da TV por assinatura no Brasil.
“Não seria concebível hoje um projeto audiovisual, de cinema ou de TV, sem incluir versões transmídia”
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principais atividades e objetivos da entidade? A ABPITV foi criada em 1999 para organizar, representar e defender as produtoras independentes que de alguma forma atuavam na TV. No início eram poucas, mas hoje as produtoras associadas somam 175 em todo o País – fora as que não são associadas e trabalham no mercado de TV. De lá pra cá, muita coisa mudou. Conseguimos colocar no mapa e no calendário da TV, no Brasil e internacionalmente, as produtoras de TV. Havia uma política no audiovisual muito setorizada no cinema, e do outro lado os canais de TV. Precisávamos construir um espaço de atuação para a produção de conteúdos de TV. E assim foi feito, junto aos governos (federal, estaduais e municipais), às instituições públicas, ao Legislativo, aos canais de TV (abertos, fechados, públicos e privados) e aos produtores associados. Foi um caminho construído com muita parceria com o mercado, com os canais nacionais e internacionais e com as instâncias governamentais e legislativas competentes. Foi necessário, em certo momento, buscar alternativas no mercado internacional. A ABPITV é responsável pelo BTVP (Brazilian TV Producers) projeto de exportação apoiado pela APEX-Brasil, Secretaria do Audiovisual do MinC e EBC/TV Brasil, responsável pela internacionalização dos nossos produtos. A partir desse projeto pudemos desenvolver com sucesso o segmento de animação, com diversos casos bem sucedidos de séries infantis brasileiras no mercado interno e externo. Qual sua expectativa para o mercado de produção independente após a sanção da lei 12.485/11, que atualiza a legislação da TV por assinatura no Brasil? Existe muita expectativa acerca da regulamentação da Lei 12.485, que deve sair em breve, após consulta pública pela Ancine. Essa Lei deveria ser objeto de um estudo de caso, pois foram quase cinco anos até a sua sanção pela Presidente! Foi um exemplo de negociação com idas e vindas, surpresas de última hora, estratégias de procedimentos legislativos até a sua aprovação, primeiro na Câmara e depois no Senado. De forma geral, a Lei em que todas as partes cederam para haver acordo certamente irá causar (acredito que já está causando) grande impacto no mercado. Permite a entrada das empresas de telefonia no mercado – o que vai gerar mais concorrência com barateamento do preço do serviço de assinatura ao consumidor; cria espaço para conteúdo brasileiro semanal, incluindo a produção independente; cria fonte de recursos para produção independente, através do Fundo Setorial do Audiovisual, entre outras medidas que projetam o crescimento para o setor dos atuais 12,5 milhões de assinantes para 30 milhões.
“ As novas mídias são parte integrante de qualquer produto audiovisual”
O senhor acredita que a definição de uma cota para exibição de produção independente brasileira nos canais pagos irá incrementar esse mercado? As cotas de conteúdo brasileiro previstas na Lei (Três horas e meia), sendo a metade de produção independente, na verdade são quase simbólicas. Porém são importantes em significado para o mercado. É um reconhecimento para a produção independente. Hoje já existe a parceira entre os produtores e os canais por assinatura. São interdependentes. A cota igualmente importante prevista na Lei é a cota de canais de conteúdo qualificado, que representará a criação de novos canais e novas oportunidades de conteúdos brasileiros. Parte dos canais, operadoras e até telespectadores manifestaram-se contrários à aprovação dessa lei. Em sua opinião, por que houve essa resistência? Não tenho notícia de telespectadores que tenham-se manifestado contra a Lei – pelo menos com conhecimento adequado dela – e sim talvez induzidos por uma publicidade enganosa que tentou sem sucesso colocar o assinante contra a Lei. Como disse, o processo de discussão até a aprovação da Lei teve capítulos dignos de um roteiro de suspense, com setores contrários que acabaram acomodandose a partir de acordos; e até mesmo quem era a favor passou a ser contra, e vice-versa. No final, foi a celebração do possível. Assim é na democracia. Quais são seus próximos projetos para cinema e/ ou televisão? No cinema estou trabalhando em dois projetos: um mais adiantado, que é um longa infantil de animação (Nautilus), e o outro em fase de desenvolvimento (Minha Fama de Mau), baseado nas memórias de Erasmo Carlos. Em TV produzo uma das mais longevas séries independentes, a Revista do Cinema Brasileiro e o CurtaTV, ambos na TV Brasil. Estou finalizando um documentário sobre o etanol de cana de açúcar (Sinal Verde), entre outros projetos em curso para TV e Novas Mídias. Acalento um sonho de criar uma programação de conteúdo indígena para TV.
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artigo
Uma festa imodesta Todo ano ela faz tudo sempre igual! – parafraseando o
só começa no Brasil depois do Carnaval”, era exaustivamente
clássico de Chico Buarque “Cotidiano”. Quando o assunto é o
propagado. A TV, então, assim como todo o País, deu uma
Carnaval, a TV brasileira nos últimos anos vem-se repetindo
guinada. Estreias na programação logo no começo do ano
à exaustão. Pela ótica da telinha, a maior festa do País
surtiram efeito, tanto do ponto de vista comercial como do da
restringe-se, basicamente, aos desfiles das escolas de samba
audiência. E assim segue.
na Marquês de Sapucaí, no Sambódromo paulistano e nas
É notório que o Carnaval tem uma cobertura maciça.
avenidas abarrotadas pelo colorido berrante dos abadás.
Pesquisas das próprias redes revelam que o folião brasileiro
É claro que essa concentração midiática tem uma
é, em sua maioria, de poltrona. Que tal, então, se as emissoras
explicação mercadológica: Rio de Janeiro, São Paulo e
começassem a repensar a transmissão e a cobertura do
Salvador concentram as maiores fatias publicitárias destinadas
Carnaval brasileiro? Essa “apoteose da alegria popular” ainda
ao Carnaval made in Brazil. Esse montante tem geralmente
é, para a grande massa, a festa mais esperada do ano. Seu
como origem as grandes marcas de cerveja do País.
espetáculo, porém, é bem mais do que o recorte encaixotado
Devido ao grande apelo popular, o Carnaval das escolas de
feito pelas transmissões televisivas. Quem sabe o público não
samba tanto do Rio de Janeiro como de São Paulo tornou-se
queira ver outros tipos de manifestação carnavalesca?
praticamente prisioneiro do próprio sucesso. Entra também
A pauta da grande folia poderia ser mais eclética, assim
nessa dança o desfile de celebridades, que se exibem em cima
como é o Carnaval. Quem são os novos mestres rabequeiros?
dos trios elétricos pelas avenidas da capital baiana – Camille
E o legado do maracatu rural? Além da devastada São Luís do
Paglia que nos diga.
Paraitinga, por onde reinam as marchinhas? Por falar nelas,
Não seria exagero afirmar que a transmissão carnavalesca
cadê a cobertura dos “hypados” blocos carnavalescos do Rio
se tornou um “fenômeno exótico”, “para inglês ver”. Em outras
de Janeiro, que, a cada ano, juntam uma diversidade de foliões
palavras: um pacotão de atração turística, extrato televisivo
de fazer inveja ao Carnaval “mainstream”, de torcida?
do Carnaval brasileiro. Que rasgue a fantasia quem conseguir
Blocos como “Me Beija Que Sou Cineasta”, “Cordão
se lembrar de algum samba-enredo do ano passado ou de um
da Bola Preta”, “Suvaco do Cristo” e “Mulheres de Chico”
tema escolhido por uma grande escola de samba.
representam a mais clara retomada do Carnaval brasileiro.
Sejamos sinceros. Qualquer um que tenha visto um
Mereciam mais destaque do que apenas flashes-relâmpago
desfile ao vivo sabe que se trata de um espetáculo difícil de
nos telejornais da madrugada.
ser televisionado. A graça, a grandeza e até mesmo a beleza
Restringir a transmissão à farta oferta de corpos nus pela
correm o risco de perder força na TV.
passarela é limitar a grandeza de uma festa de proporções continentais como a nossa. Que tal repensar o paradigma da
Histórico
programação televisiva durante a semana mais festiva do País? Até mesmo os tradicionais bailes carnavalescos tornaram-se
O Carnaval, acredite, já foi uma espécie de divisor da grade
manifestação em extinção. Muito folião trocou o salão repleto
das grandes emissoras. Houve tempos em que a TV brasileira
de confete e serpentina pelo conforto preguiçoso do sofá.
só abria sua programação anual depois da “festa da carne”. O
Preferiu anestesiar-se diante da TV a entregar-se às marchas e
período entre o Réveillon e o Carnaval transitava a órbita do
aos sambinhas ingênuos do passado.
“recesso da preguiça”.
Talvez a graça e a riqueza do Carnaval como grande
Pela pauta televisiva, não valia a pena apostar em nenhuma
espetáculo tenham sido minimizadas, sobretudo pelo
estreia antes do Carnaval. Há praticamente dez anos, era esse
enquadramento limitado da TV brasileira. Que outras
o protocolo em cena das grandes redes. Novas novelas, novos
máscaras venham colorir essa festa.
programas e novas séries só davam o ar da graça depois da folia. Era um tempo em que aquele velho bordão, “o ano novo
Roberto de Oliveira é jornalista da Folha de S. Paulo. 10
último Bloco Foto: Fábio Andrade Foto:
Visões sobre a modernidade
Os mais acessados das mídias sociais O SescTV exibe, neste mês, uma seleção dos programas que mais repercussão tiveram na internet. São filmes e espetáculos de música e dança cujos vídeos no youtube obtiveram grande número de acessos. Dentre as atrações, o show de Fábio Zanon, na série Movimento Violão, que irá ao ar no dia 5/02, às 21h. Outro destaque é o show dos Racionais MC´s, que será exibido no dia 4/02, às 19h. Dentre os espetáculos de dança, Paraíso Perdido, do Balé da Cidade de São Paulo, no dia 11/02, às 21h; e Formas Breves, de Lia Rodrigues, no dia 21/02, às 24h. Confira programação e classificação indicativa no site.
Foto: divulgação giros
A série Artes Visuais leva o telespectador para uma visita guiada à exposição Um Outro Lugar, que esteve em cartaz no MAM-SP entre julho e setembro do ano passado. A crítica de arte Luísa Duarte apresenta trabalhos de artistas que representam a modernidade como ideia de utopia e de progresso, mas que não se cumpriu. “Queremos lidar com o mundo. O mundo gera incômodo e vamos tentar transformá-lo em uma escala mais próxima, diferente da modernidade”, explica. A arquitetura e a paisagem são representadas em diferentes suportes, como gravuras, instalações, esculturas, fotografia e videoinstalações. Dia 22/02, às 21h30.
A arte nas periferias
A cidade do ouro
O impacto de ações culturais nas periferias é apresentado em três curtas-metragens no episódio inédito Arte Contato, da série CurtaDoc. Venda (2009), de Ricardo Alvarenga, mostra a experiência da Uai Q Dança Cia., com coreografia de Fernanda Bevilaqua, que realiza espetáculos em feiras livres e praças públicas de Belo Horizonte, a custo de R$ 1. O Que Era Fraco Começou a Ser Forte (2011), de Eduardo Crispim, enfoca a tradição da renda de bilro nos Morros de Mariana, em Ilha Grande (PI). O curta Saraus (2010), de David Alves da Silva, retrata a força da literatura e dos saraus fora do eixo central de São Paulo. Os filmes são comentados pela professora de artes cênicas Marisa Naspolini. Dia 28/02, às 21h.
Ouro Preto, em Minas Gerais, primeira cidade do Brasil a ser reconhecida pela Unesco, em 1980, como Patrimônio Histórico da Humanidade, está em episódio inédito da série Coleções. O programa apresenta os principais pontos turísticos do município, como o mirante do Morro do Cachorro, de onde se avista o Parque Estadual de Itacolomi; o Museu da Independência; e a Igreja de São Francisco de Assis. O episódio também resgata a história da cidade, no período da exploração do ouro, no século 17, quando era chamada de Vila Rica e chegou a ter mais de 300 mil habitantes, superando a população de Londres daquela época. Dia 9/02, às 21h30.
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Uma série-documentário que narra a história de crianças, jovens e adultos a caminho da escola. Direção Geral: Heloisa Passos
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