Revista SescTV - Novembro de 2013

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Novembro/2013 - edição 80 sesctv.org.br

HABITAR Os diferentes modos de morar

MÚSICA Composições inéditas para as estações do ano

VIDEOBRASIL NA TV Festival celebra 30 anos de atividades


As diferentes formas de morar Direção: Paulo Markun|Sérgio Roizenblit

Domingos, às 20h 10/11 - Palafitas e Casas Flutuantes 17 /11- Repúblicas 24 /11- Casa de Arquiteto 1/12 - Casa do Colono japonês 8/12 - Casa Enxaimel 15/12 - Maloca 22/12 - Casa sertaneja 29/12 - Casa Caiçara 5/1/2014 - Casa do Colono Alemão 12/1/2014 - Casas Sustentáveis 19/1/2014 - Favelas 26/1/2014 - Fazendas 6/2/2014 - Apartamentos

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Múltiplas moradas

Nossa casa diz muito sobre quem somos. Revela hábitos, escolhas estéticas, heranças históricas e referências que definem nossa identidade cultural. É o que nos mostra Habitar, nova série do SescTV, com direção de Paulo Markun e Sérgio Roizenblit, que estreia neste mês. Realizada em 13 episódios, a série apresenta alguns dos padrões de habitação encontrados pelo Brasil e revela, por meio das construções e também pelas histórias de seus moradores, traços da cultura brasileira. A diversidade de propostas – ora embasadas em projetos arquitetônicos, ora construídas pelos múltiplos saberes populares acumulados – nos dão um panorama da riqueza e da pluralidade de referências coexistentes em nosso País. Novembro marca também as comemorações pelos 30 anos do Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil. Criado em 1983, com curadoria de Solange Farkas, o festival acompanha, repercute e apresenta a videoarte produzida no País e no exterior. Como uma plataforma de ação do festival, o SescTV relembra a trajetória desta linguagem artística em sete programas inéditos, na série Videobrasil na TV. O professor e pesquisador Eduardo de Jesus, um dos integrantes da equipe de curadoria da edição de 2013 do Videobrasil, é o entrevistado deste mês da Revista do SescTV. A programação musical apresenta o projeto 4 Estações, no qual os instrumentistas André Mehmari, Arismar do Espírito Santo, Dante Ozzetti e Nailor Proveta mostram composições inéditas inspiradas nas quatro estações do ano. Na faixa de documentários, destaque para o filme Cartas para Angola, dirigido por Coraci Ruiz e Julio Matos, que registra a troca de correspondências – e, por meio delas, de afetos e cumplicidades – entre brasileiros e angolanos. A Revista do SescTV deste mês traz ainda artigo do arquiteto e urbanista Dalmo Vieira Filho, que aborda a relação entre moradia e cultura. Boa leitura!

Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo

CAPA: Episódio Palafitas e Casas Flutuantes, da série Habitar. Foto: Gonzalo Melgar.

destaques da programação 4 entrevista - Eduardo de Jesus 8 artigo - Dalmo Vieira Filho 10 3


Música

Estações sonoras Foto: alex ribeiro

Além de criar um repertório novo, instrumental, o projeto possibilitou momentos de troca e aprendizado entre os músicos. “A gente está tendo a possibilidade de colher muita música fresca direto de uma horta muito rica que se chama Brasil”, afirma Proveta. Dante Ozzetti confirma: “Cada um tem uma particularidade e o mais importante, para mim, é o aprendizado que estou tendo com eles”. As músicas Inverno; Primavera na Cantareira; e Verão: Um baião pro Gonzagão, todas de André Mehmari, abrem o espetáculo. Proveta foi buscar em outro compositor brasileiro inspiração para traduzir seu outono, na criação Outono de Pixinguinha. Essa mesma estação é retratada nas composições de Dante Ozzetti, em Visões de Outono, e Arismar do Espírito Santo, com Outonal. Dante propõe ainda um olhar panorâmico sobre o tema, com a composição As Estações. “Cada um tem uma influência e acho que essa mistura é que deu muito certo. Tem a ver com essa diferença entre as quatro estações e os quatro compositores envolvidos”, afirma o músico convidado Neymar Dias. O espetáculo 4 Estações tem direção para TV de Rodrigo Giannetto.

Como traduzir, em som, as mais diversas sensações, impressões e inspirações trazidas pela mudança das estações do ano? A quatro compositores brasileiros foi proposto tomar esta questão como ponto de partida para um projeto musical. André Mehmari, Arismar do Espírito Santo, Dante Ozzetti e Nailor Proveta transpuseram, em notas musicais, suas interpretações para esse movimento cíclico e sensorial da natureza. Assim, primavera, verão, outono e inverno viraram samba, xote, choro e jazz, em arranjos instrumentais de piano, violão, sax e percussão. O projeto 4 Estações, apresentado no teatro do Sesc Vila Mariana, será exibido neste mês pelo SescTV. “Acho que a ideia desse encontro aqui é esse concerto climático”, explica Arismar do Espírito Santo. Para o espetáculo, os quatro compositores receberam o reforço de outros quatro instrumentistas: Fabio Peron, no bandolim; Neymar Dias, no baixo acústico e viola caipira; Sergio Reze, na bateria e percussão; e Walmir Gil, no trompete.

Espetáculo reúne composições de André Mehmari, Arismar do Espírito Santo, Dante Ozzetti e Proveta sobre as estações do ano

Música 4 Estações Com André Mehmari, Arismar do Espírito Santo, Dante Ozzetti e Nailor Proveta Dia 30/10, às 22h

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Videobrasil

Ruptura e experimentação FOTO: marco del fiori

Novas possibilidades tecnológicas ampliam as opções dos videoartistas, inclusive no trabalho de edição, que deixa de ser linear e passa a ser realizado com ajuda de softwares e programas digitais. O diálogo com outras artes, como o cinema, o teatro e as artes plásticas, e o uso da tecnologia digital geram novos debates sobre o que definiria a videoarte hoje. Neste mês, o Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil celebra 30 anos de atividades, tendo o SescTV como uma de suas plataformas de ação. O canal exibe sete programas que apresentam o percurso da videoarte no Brasil e discutem linguagem, tecnologia e novas possibilidades. Os episódios trazem depoimentos de videoartistas e outros profissionais que foram – e são – protagonistas desta história.

Edição de 2013 do Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil celebra 30 anos de atividades

Contestação, ruptura e experimentação. Estas foram inspirações norteadoras das primeiras experiências de videoarte, realizadas na década de 1960. Em comum a estes trabalhos pioneiros havia embutida a crítica ao modelo vigente, à arte que está posta, à zona de conforto. A primeira geração de videoartistas estava em busca de novos olhares, ângulos e enquadramentos. Causava impacto pelo estranhamento e entendia a linguagem audiovisual não como meio, mas como fim. Esta escolha estava na abdicação da sequência narrativa dos vídeos e na negação das salas de cinema como espaço de fruição. Assim nascia a videoarte. A ebulição social, cultural e política da década seguinte impulsionou e amplificou os trabalhos nessa área, atribuindo à videoarte um caráter subversivo. Os museus passam a ser questionados como espaços exclusivos de exposição das obras de arte e o público, compreendido como imprescindível à obra, passa a fazer parte da própria arte. Surgem as videoinstalações, a exemplo de Wipe Circle, de Ira Schneider e Frank Gilette, em que multi-monitores combinavam imagens captadas do público com outras, pré-gravadas, e Video Fish, de Nan June Paik, um dos precursores da videoarte. A videoarte alcança popularização nos anos de 1980 e 1990, quando se consolida a ideia de que a arte deve estar em qualquer lugar, nos espaços de passagem, ao ar livre. Videoartistas são contratados por emissoras de TV, suas obras chegam a um público maior. Neste contexto, em 1983, é realizada a primeira edição do festival Videobrasil, com curadoria e direção geral de Solange Farkas, dando visibilidade a este movimento cultural. Tendo o Sesc como correalizador desde 1992, o festival se tornou um espaço de debate e de trocas entre artistas, críticos e público.

Videobrasil na TV Curadoria e direção geral: Solange Farkas

Produção Independente: Televisão e Abertura Política Dia 18/11, 23h

Vídeo: Linguagens, Tecnologias e as Novas Possibilidades Dia 25/11, 23h

Internacionalização: As Visões do Sul Dia 2/12, 23h

Circuitos Expandidos Dia 9/12, 23h

Panoramas do Sul: Natureza e Espaço, Reconfigurações do Olhar Dia 16/12, 23h

Panoramas do Sul: Memória, Identidade e Política Dia 23/12, 23h

Panoramas do Sul: Imaginários Contemporâneos Dia 30/12, 23h

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Habitar

Palafitas e Casas Flutuantes. Foto: Gonzalo Melgar

Ao sabor das águas

“A natureza nos ensina que a força das águas está na sua flexibilidade” Viver à beira do rio, estar em conexão com a natureza, acompanhando as subidas e descidas das águas pluviais, permanecendo em sintonia com essas alterações naturais de seu habitat. As populações ribeirinhas da região amazônica brasileira ensinam que é possível viver em harmonia com a força dos rios. Suas casas, aparentemente desafiadoras ao olhar técnico da engenharia, resistem ao movimento das águas, graças à sabedoria popular acumulada. As habitações, construídas em madeira pelos próprios moradores, são adaptadas aos períodos de cheia e de seca, graças ao sistema das palafitas: estacas que elevam a casa, protegendo-a da invasão das águas nesse vai e vem. “A palafita é uma síntese da relação natureza e cultura na Amazônia. Quando a gente diz que ela é uma solução do homem amazônico para se adaptar a esse ambiente, é exatamente porque ele percebe esse ciclo das águas, que faz parte da vida dele e do próprio modo de morar”, afirma a doutora em Comunicação e Semiótica Mirna Feitoza. Segundo o arquiteto Almir de Almeida, as palafitas foram criadas no processo de ocupação da Amazônia. “No início, a população amazônica era aquilo que chamamos de transeunte: vivia seis meses na várzea e seis meses na terra firme. A palafita é uma adaptabilidade a essa permanência”, diz. Para Mirna Feitoza, as palafitas constituem um patrimônio cultural e de identidade do povo ribeirinho. Opinião corroborada pelo geógrafo José Aldemir de Oliveira: “A palafita é o que nós chamamos de um gênero de vida”. As moradias ribeirinhas da região amazônica estão no episódio Palafitas e Casas Flutuantes, que marca a estreia da série Habitar, com direção do jornalista Paulo Markun e do cineasta Sérgio Roizenblit. Realizada em 13 episódios de 52 minutos, com linguagem

documental, a série apresenta diferentes modelos de habitação encontrados no Brasil e estabelece relações entre a casa e a identidade cultural. As diversas formas de morar revelam saberes populares, heranças culturais, referências e histórias que ajudam a compreender seus moradores. Com uma abordagem antropológica, Habitar realiza conexões desses espaços arquitetônicos privados com as múltiplas formas de organização familiar, revelando práticas, representações, valores estéticos e soluções dessas construções. Dentre os modelos de habitação abordados pela série, além das palafitas, estão a oca indígena, a casa sertaneja, os condomínios de luxo, a casa de arquiteto e a favela. Um novo episódio a cada semana, com estreias aos domingos, 20h (confira no quadro).

Palafitas e Casas Flutuantes, episódio de estreia da série Habitar, retrata as moradias ribeirinhas da Amazônia

Habitar Direção: Paulo Markun e Sérgio Roizenblit Domingos, 20h

Palafitas e Casas Flutuantes Dia 10/11

Repúblicas Dia 17/11

Casa de Arquiteto Dia 24/11

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Documentário

Foto: coraci ruiz

Cartas de afeto

e criam uma empatia mútua. A memória e a afetividade são o fio condutor dessas trocas. O ato de escrever e endereçar uma mensagem torna-se um exercício para que cada um reconstrua sua própria identidade, ora se afirmando ora se contrapondo ao outro. Lançado em 2011, Cartas para Angola recebeu prêmios como o CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), no festival FESTin (Festival de Cinema Itinerante de Língua Portuguesa), em Lisboa; Melhor Documentário Internacional no FIC Luanda e Melhor Documentário no IV Festival de Filme Etnográfico de Recife. É no contato com um interlocutor, na outra margem do Atlântico, que algumas perguntas começam a ser respondidas: “Queridos amigos de África: é uma alegria imensa poder, por meio desta carta, mais uma vez nos reconectar com as nossas raízes, culturas, danças e tambores da África... Porque, no fundo, somos elo de uma mesma família que o Oceano Atlântico não separou e nunca vai conseguir separar”.

Um oceano separa dois países com tanto em comum: a mesma língua, o mesmo passado colonial, pessoas em busca de melhor compreender sua identidade. Brasil e Angola, distantes e ao mesmo tempo próximos, na partilha de referências culturais, na busca por soluções para seus problemas estruturais, na relação afetiva com aqueles que moram longe. Distância esta encurtada por meio de cartas, nas quais remetente e destinatário dialogam sobre sua realidade, seus afazeres cotidianos, mas também sobre dilemas, dúvidas, saudades. “Uma cidade é um lugar externo onde moramos, caminhamos e sonhamos com os olhos acordados, mediante a vizinhança de amigos que nos cercam? Ou uma cidade é um lugar interno que nos persegue, do lado de dentro dos olhos, e mora no nosso coração como uma âncora pesada que nos mantêm presos a memórias e lugares de outro lugar?”, cita uma das mensagens. No documentário Cartas para Angola, de Coraci Ruiz e Julio Matos, a câmera se coloca como mediadora desses encontros, à medida em que atua como provocadora e mensageira. Mas é também testemunha dessa troca de afetos presente nas mensagens partilhadas entre amigos de longa data, ou por pessoas que nem sequer se conhecem de fato. No filme, o espectador acompanha sete duplas de interlocutores que vivem em cidades como São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Taboão da Serra e, do outro lado do Atlântico, em Luanda (Angola) e Lisboa (Portugal). Os perfis semelhantes dessas duplas – poeta conversa com poeta; dançarina com dançarino; músico com músico; escritor com escritora – facilitam a aproximação

Memória, afetividade, distância e identidade são abordados no documentário de Coraci Ruiz e Julio Matos

Documentário Cartas para Angola Direção: Coraci Ruiz e Julio Matos Dia 16/11, às 22h

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entrevista

Foto: divulgação

Videoarte em novos contextos

Eduardo de Jesus é professor e pesquisador na área

As primeiras experiências com videoarte são da década de 1960, nos EUA. Quando esses trabalhos chegam ao Brasil? O vídeo, como suporte, surge nos anos 1960 e logo é apropriado por artistas. Mas antes disso, já havia iniciativas de diálogo entre a linguagem audiovisual e a produção artística no cinema experimental, nas décadas de 1920, de 1930 e, fortemente, de 1940. O vídeo se coloca de forma muito interessante, porque é mais fácil de fazer do que o cinema. Aqui no Brasil, as primeiras experiências acontecem nos anos de 1970, tendo como um dos pioneiros o Walter Zanini [historiador e crítico de arte, falecido em janeiro deste ano]. Ele estava à frente do MAC (Museu de Arte Contemporânea) e fomentou a primeira produção de videoarte no País. Outra experiência importante acontece em 1973, com a Expo-Projeção, organizada por Aracy Amaral, criando uma demanda forte para a videoarte brasileira.

do audiovisual, com ênfase em arte contemporânea e tecnologia. Graduado em Comunicação Social pela PUCMG, fez seu doutorado em Artes na ECA/USP. Compõe a equipe de curadoria da edição de 2013 do Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, realizado neste mês, comemorando 30 anos de atividades.

“Havia um desejo da videoarte de invadir a TV, até por entender o alcance que a televisão tem”

Qual era o cenário brasileiro nesta primeira fase? O Brasil estava no contexto da ditadura. Havia poucos espaços para apresentação de trabalhos ar-

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tísticos, um dos poucos era a Bienal Internacional de São Paulo. Tínhamos um cenário muito refratário a esse tipo de manifestação artística. Os primeiros trabalhos de videoarte foram registros de performances artísticas, como a proposta Made in Brazil, performance de Letícia Parente, em que ela bordava essa frase na planta dos pés, registrando a experiência com uma câmera. Esse trabalho foi um marco. Outros artistas também se destacaram nessa fase, como Hélio Oiticica, Lygia Pape e Arthur Omar.

“A videoarte deixou um legado de visualidade, seja para o cinema, o videoclipe, a televisão. E essa herança tem de se reposicionar de acordo com os novos contextos onde a arte está”

Qual o perfil dos primeiros videoartistas? São pessoas que já tinham uma relação com a arte em outros suportes. Alguns, inclusive, pararam por aí, ou seja, experimentaram essa linguagem, mas depois seguiram por outras vertentes. A geração seguinte, dos anos de 1980, já tinha um perfil mais ligado à produção independente, quando um realizador é contratado para fazer um trabalho, por exemplo, numa emissora de TV. Começam a aparecer os trabalhos de profissionais como Fernando Meirelles, Marcelo Tas, Tadeu Jungle.

de contaminação. Expandiu. A televisão absorveu muito essa linguagem, na questão do enquadramento, dos efeitos, de sujar a imagem, algo que antes não era aceito no padrão de TV e hoje nós assistimos até em propagandas comerciais!

A videoarte surge abrindo mão da sala de cinema como espaço primordial de exposição das obras. Era necessária uma ruptura com a sétima arte? Acredito que sim, era importante romper com o cinema tradicional, narrativo e comercial. A videoarte tinha de romper com este lugar. Há um teórico dos anos de 1970, Jene Young Blonde, que criou o termo “expanded cinema” (cinema expandido), que abrigava essa arte que ia além das salas de cinema. É a proposta de colocar o espectador em contato com novas experiências, concretizadas nas videoinstalações.

Com os avanços tecnológicos, o que definiria a videoarte hoje? Hoje, tudo mudou muito. O próprio vídeo, como suporte, não existe mais. A expressão videoarte tem sido substituída por outras, como “linguagem audiovisual” ou “experimentação de imagem em movimento”, para dar conta dos mais diversos suportes disponíveis hoje. Não faz mais sentido falar em vídeo. Aliás, hoje não nos fixamos mais no suporte. Não importa se uma proposta foi realizada com fotografia ou numa câmera digital, numa Super 8, numa 16 mm ou até numa pinhole. O que importa é: o que virou o trabalho? Dialoga com questões contemporâneas? Vivemos a era do pós-mídia, que é o pós-suporte. Essa sensação reposiciona o lugar das coisas. A videoarte deixou um legado de visualidade, seja para o cinema, o videoclipe, a televisão. E essa herança tem de se reposicionar de acordo com os novos contextos onde a arte está.

Nos anos de 1970, a videoarte passa a ser associada a uma arte de caráter subversivo. Por quê? Naquele contexto, o trabalho dos videoartistas é de nítido cunho político. Era um momento em que a identidade brasileira estava muito tortuosa. Havia uma postura desses videoartistas para dar conta daquilo que a TV não mostrava. Na década de 1980, isso passou a existir de forma mais regular. Havia um desejo da videoarte de invadir a TV, até por entender o alcance que a televisão tem. Era um desejo político de revelar o que a TV não revelava.

Como a videoarte dialoga com outras expressões artísticas? A videoarte está totalmente absorvida. Não existe nenhuma exposição de arte contemporânea sem a linguagem audiovisual! Ela foi levada para outros patamares. Chega ao universo do entretenimento e das festas, com o trabalho dos VJs. Há inúmeros exemplos de colaboração com a dança, quando o cenário é um vídeo ou, até de forma mais intrínseca, quando possibilita o encontro entre dois bailarinos, através do vídeo. A coisa mais interessante é que o vídeo e a videoarte eram fortemente ligados à arte de forma marginal. Hoje, ocupam a centralidade.

De que forma a videoarte influenciou a produção de TV? A TV brasileira dos anos de 1980 permitia pouca ou nenhuma experimentação de linguagem. Era muito careta, fechada, e como tal a chegada dos videoartistas deu uma renovada geral na linguagem, mostrou novas possibilidades. Quando Goulart de Andrade chamou profissionais como Fernando Meirelles e Marcelo Tas para a TV, criou um momento

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artigo

A casa como referência de cultura e identidade A casa reproduz o núcleo mais íntimo do convívio social: a maneira pela qual uma família se organiza no interior da cidade ou no espaço rural. Toda cultura, ao longo dos séculos, criou formas próprias de construir o abrigo familiar, individual ou coletivo, criando modelos que acabaram assumindo peculiaridades próprias. Em nosso País, a fórmula de morar conheceu soluções bem determinadas que traduziram de forma direta a evolução dos modos de vida, das noções e dos valores que ao longo dos tempos, marcaram a sociedade brasileira. A oca indígena, com seu caráter coletivo, espaço coberto de livre circulação, não podia servir aos portugueses, herdeiros da longa tradição de casas que abrigavam grandes famílias patriarcais, agregados e escravos, onde as mulheres viviam quase em regime de reclusão. Para abrigar a sociedade colonial, criou-se um modelo que guardava muito dos modos de vida europeus, mas profundamente influenciado pelas tradições dos sete séculos de presença árabe na península ibérica: sobrados onde o térreo era usado para comércio ou depósito e a casa propriamente dita se desenvolvia no pavimento superior, onde havia uma sala frontal, de estar e visitas, e outra nos fundos: o comedouro e o estar íntimo. Entre elas, um longo corredor, ao longo do qual se distribuíam as alcovas, os quartos desprovidos de janelas da época. Esse tipo de casa era despojada, com poucos móveis ou ornamentos, dotada de paredes grossas, caiadas de branco, altos pés-direitos, onde não havia vidraças e os forros, assoalhos, e escuras das portas e janelas eram de madeira. Essa solução de morada, a casa luso-brasileira, difundida por todos os recantos do território continental do Brasil, foi a base doméstica de uma sociedade profundamente ciosa de si e de seus valores, e que se estendeu de meados do século XVI ao XIX. Depois das enormes transformações que varreram o mundo com a revolução industrial, foi só a partir de meados do século XIX que o ecletismo reuniu forças para impor um novo modelo de habitação no Brasil, País que se mantinha rural e escravocrata. Novas visões de mundo e diferentes opções construtivas disponibilizadas pela Abertura dos Portos, foram a base da arquitetura que rompeu com os padrões coloniais e se estendeu até adiante do Estado Novo, já na metade do século XX. Foi a época da casa térrea a de porão alto, rodeada de jardins, dotada de varandas, com portas e janelas envidraçadas, e onde todos os compartimentos deveriam receber a luz solar. Nesse período, em contraponto à casa burguesa, surgiram inúmeras vilas e bairros operários inteiros, onde casas simples ainda reproduziam as plantas do período colonial, como ainda hoje ocorre em inúmeros lugares do Brasil.

No que se refere às habitações, o racionalismo do século XX passou rapidamente pelo decô e transitou para o modernismo, onde novos valores, inclusive estéticos, e possibilidades tecnológicas antes impensáveis impuseram formas renovadoras, traduzidas principalmente nos edifícios de apartamentos, a verdadeira máquina de morar do século XX. Nesse mosaico de realizações que já se forma há meio milênio, a casa brasileira, sem modéstia, pode incluir-se entre as grandes realizações da arquitetura residencial do planeta. As extraordinárias casas de pedra e cal do período colônia, das quais as mais conhecidas estão em Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Maranhão e Rio de Janeiro, podem ser admiradas em todo o território nacional, assim como as residências ecléticas, presentes em todos os estados, e que poderiam ser exemplificadas por suas representantes de São Paulo e Rio de Janeiro. Antes do ciclo modernista, de expressão verdadeiramente universal, vale destacar a arquitetura vernacular, criadora de obras que em nada ficam devendo para suas congêneres eruditas, nem para a riqueza dos conventos e igrejas, que sempre pontificaram no Brasil. É importante destacar também a contribuição dos imigrantes, que principalmente no sul do País, engrandeceram o patamar das casas brasileiras com contribuições plásticas e construtivas vindas da Itália, Alemanha, Polônia, Ucrânia e Japão. Assim, nesse cenário de realizações, é necessário redefinir a casa brasileira do século XXI. Para manter o patamar de significância que a arquitetura brasileira desfrutou até há pouco, será necessário valer-se de estéticas renovadas, da tecnologia e, principalmente, dos estoques inesgotáveis de criatividade da civilização brasileira. Para tanto, sem dúvida, a prática da arquitetura precisará unir-se aos ideais de justiça e democracia, construindo modelos que contemplem todas as categorias e incluam, com urgência, arquitetura de interesse social e de qualidade universal. Esse será, talvez, o maior desafio dos arquitetos do futuro: ultrapassar o único patamar em que seus precursores não foram mestres em âmbito mundial, a casa digna com um bem disponível, equiparado aos direitos de todos.

Dalmo Vieira Filho é arquiteto e urbanista, especialista na área de proteção e valorização do patrimônio cultural. É professor do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Santa Catarina e superintendente do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (SC).

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foto: Ariel maritini

Foto: foto: divulgação

último Bloco

SescTV no Goiânia Mostra Curtas O SescTV participou da 13ª edição do Goiânia Mostra Curtas, festival que apresenta e premia filmes brasileiros de curtametragem, realizado entre os dias 8 e 13 de outubro. O canal concedeu o Prêmio Aquisição SescTV, na categoria Curta Mostra Brasil, ao filme Malária, de Edson Oda. Ao todo, 90 filmes de 14 Estados participaram desta edição do festival, divididos em quatro categorias de premiação. O grande vencedor foi o curta de ficção Au Revoir, da pernambucana Milena Times. Destaque ainda para o filme A Onda Traz, o Vento Leva, de Gabriel Mascaro, vencedor do prêmio de melhor direção, pelo júri oficial, e melhor filme da categoria, pelo júri popular.

Composições inéditas de Itamar Assumpção, lançadas em 2010 pelo Selo Sesc, nos álbuns Pretobrás II e III, formam o repertório do musical Itamar Assumpção Inéditos, que o SescTV exibe no dia 27/11, às 22h. As músicas são interpretadas por cantores convidados, como Zélia Duncan, Suzana Salles, Vange Milliet e Elza Soares. O programa traz ainda depoimentos de amigos e familiares do músico, como as filhas Serena e Anelis Assumpção, que relembram sua trajetória, características e lembranças. Direção para TV de Daniel dos Santos.

Memória e jogo

Paranoias urbanas

A obra da artista plástica Rivane Neuenschwander, de Belo Horizonte, é apresentada em dois episódios inéditos da série Artes Visuais. Linguagem, jogo de palavras, memória, formas e cores compõem o trabalho da artista, conhecida também por suas parcerias com o videoartista e cineasta Cao Guimarães. Formada em Artes Plásticas, com pós-graduação na Royal College, de Londres, Rivane ganhou destaque a partir de sua obra Cartas Famintas, na qual ela expôs pedaços de papel manteiga devorados por lesmas. “Sua arte com frequência envolve um jogo doce e amargo com o tempo, a memória e o humor, e seu próprio formato, que evoca a estrutura dos jogos”, afirma a crítica de arte Rachel Thomas. Dias 20/11 e 27/11, às 21h30. Direção de Cacá Vicalvi.

A paranoia sobre violência, insegurança e medos urbanos, apresentada de forma cômica, a partir de uma narração irônica, em off. Este é o enredo do curta-metragem Angelo Anda Sumido, uma produção da Casa de Cinema de Porto Alegre, com direção de Jorge Furtado, que o SescTV exibe neste mês, na série Faixa Curtas. No filme, dois amigos tentam chegar a um restaurante para jantar e se perdem no labirinto de grades, muros e cercas de uma cidade. O mesmo episódio apresenta ainda o curta Cheirosa, de Carlos Segundo (2009), sobre uma mulher em má fase que, no trânsito, tem um encontro de forma inesperada. Faixa Curtas exibe filmes de curta-metragem, no gênero de ficção, com curadoria de Luís Carlos Soares.

Inéditas de Itamar Assumpção

Para sintonizar o SESCTV: Anápolis, Net 28; Aracaju, Net 26; Araguari, Imagem Telecom 111; Belém, Net 30; Belo Horizonte, Oi TV 28; Brasília, Net 3 (Digital); Campo Grande, JET 29; Cuiabá, JET 92; Curitiba, Net 11 (Cabo) e 42 (MMDS); Fortaleza, Net 3; Goiânia, Net 30; João Pessoa, Big TV 8, Net 92; Maceió, Big TV 8, Net 92; Manaus, Net 92; Natal, Cabo Natal 14 (Analógico) e 510 (Digital), Net 92; Porto Velho, Viacabo 7; Recife, TV Cidade 27; Rio de Janeiro, Net 137 (Digital); São Luís, TVN 29; Uberlândia, Imagem Telecom 111. No Brasil todo, NET 137; Oi TV 29 e Sky 3. Assista também em sesctv.org.br. Para outras localidades, consulte sesctv.org.br

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A revista SESCTV é uma publicação do Sesc São Paulo sob coordenação da Superintendência de Comunicação Social. Distribuição gratuita. Nenhuma pessoa está autorizada a vender anúncios. sescsp.org.br Coordenação Geral: Ivan Giannini Supervisão Gráfica e editorial: Hélcio Magalhães Redação: Adriana Reis Editoração: Rosa Thaina Santos Revisão: Marcelo Almada

Este boletim foi impresso em papel fabricado com madeira de reflorestamento certificado com o selo do FSC® (Forest Stewardship Council ®) e de outras fontes controladas. A certificação segue padrões internacionais de controles ambientais e sociais.

Direção Executiva: Valter Vicente Sales Filho Direção de Programação: Regina Gambini Coordenação de Programação: Juliano de Souza Coordenação de Comunicação: Marimar Chimenes Gil Divulgação: Jô Santina, Jucimara Serra e Glauco Gotardi Envie sua opinião, crítica ou sugestão para atendimento@sesctv.sescsp.org.br Leia as edições anteriores em sesctv.org.br Av. Álvaro Ramos, 776. Tel.: (11) 2076-3550

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artes visuais

Nazareno. Foto: Divulgação

Quartas, às 21h30

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