Zine feita em comemoração ao álbum de Kendrick Lamar, ‘’DAMN.’’, que ganhou o prêmio Pulitzer 2018 de Música, sendo assim o primeiro artista pop a ganhar essa categoria, desde o lançamento do prêmio em 1943. As informações contidas nos artigos sobre as músicas foram tiradas de inúmeras entrevistas sobre o álbum com o próprio artista, e de um artigo da DJBooth, escrito por Yoh Phillips. EDITORES: Fábio Vargas e Gabriel Abreu LINKS DAS IMAGENS ORIGINAIS: https://variety.com/2017/music/features/kendrick-lamar-career-damn-to-pimp-abutterfly-1202619725/ https://www.comunidadeculturaearte.com/kendrick-lamar-vence-o-premiopulitzer-de-musica-de-2018/ http://atwoodmagazine.com/damn-kendrick-lamar-review/ https://www.tumblr.com/search/kendrick%20lamar%20portrait https://www.vice.com/pt_br/article/j5jekg/kendrick-lamar-entrevista https://i-d.vice.com/en_uk/article/j5gwk7/an-in-depth-conversation-withkendrick-lamar https://www.theverge.com/2015/3/17/8237311/kendrick-lamar-spotify-recordalbum-streams https://djbooth.net/features/2017-04-14-kendrick-lamar-damn-decoded
Índice
DNA/BLOOD........................................................3 FEEL........................................................................5 PRIDE.....................................................................7 XXX........................................................................9 LUST.....................................................................11 HUMBLE.............................................................13 FEAR....................................................................15 DUCKWORTH..................................................17
O álbum começa quando Kendrick vai ajudar uma mulher cega, que acaba assassinando Lamar com um tiro. Isso levanta vários pontos; a mulher cega simboliza a justiça do mundo, que é parcial e prejudica os inocentes: Kendrick morre durante um ato de bondade. Outro ponto é o que é dito durante o álbum como em ‘’FEAR.’’ e repetido em ‘’DUCKWORTHY’’: O que acontece na Terra fica na Terra. Portanto, Lamar morre, mas não pode levar os sentimentos que ele viveu durante seu período na Terra para o outro lado junto com ele; seus sentimentos se dispersam em cada música ao longo do resto do álbum. Em ’’DNA.’’, Kendrick mostra sua agressão e raiva. Após sua morte em ‘’BLOOD.’’ e durante alguns segmentos em ‘’DNA.’’ são mostrados clipes da Fox News, sendo o mais notável o de Geraldo Riveira durante o break da música, onde ele fala ‘’Hip Hop causou mais dano
na comunidade Afro-Americana que o racismo nos anos recentes’’. Kendrick percebe que mesmo após sua morte, sua mensagem ainda vai ser banalizada pela mídia em troca de sensacionalismo barato, e distorcida; a sua comunidade sempre vai ser julgada culpada de seus problemas sociais e violência sofrida, por mais que na realidade, a culpa mora em problemas estruturais muito mais enraízados na sociedade Americana. As letras de DNA se mostram satíricas na maioria da sua parte, onde Lamar afirma que a sua natureza violenta é sim por causa de seu DNA, e que ele não pode fazer nada, ele nasceu pra ser violento. É basicamente Kendrick em uma versão que a Fox News aprovaria.
Em ‘’FEEL.’’, Kendrick finalmente coloca suas inseguranças á tona. Ele mostra sentimentos de uma maneira que todos nós podemos nos relacionar: que estamos sozinhos, perdidos, que não temos controle sobre nossa vida, que somos substituíveis, que ninguém realmente se importa com a gente fora de nossos problemas; amigos falsos, a falta de paciência com o mundo, que estamos sendo manipulados e até mesmo enganados pelo mundo.
Kendrick tenta quebrar um pouco dessa barreira entre ele e as pessoas que os idolatram, mostrando ás pessoas que ele é um ser humano que nem eles, e que também comete erros. A mortalidade que também torna-se tópico importante nesse álbum, pois ele foca bastante sobre o quinto livro de Torá, o Deuteronômio, e sobre quebrar a Maldição da Desobediência, que Deus inflige sobre as pessoas que não seguem suas vontades.
‘’PRIDE.’’ mostra um Kendrick instrospectivo, e se expressa sobre como seu sucesso também causa tensão entre suas ações e ideais. Em ‘’LOYALTY.’’, Kendrick clama por lealdade e sobre como é um sentimento bonito de se ter uns com os outros, porém em ‘’PRIDE.’’ ele também se mostra franco sobre como ‘’ele não confia nas pessoas o suficiente para colocar sua fé nelas’’, e ao invés disso, coloca a fé em suas letras, esperando que ele consiga um compensar seus erros e falhas ideológicas através delas; o orgulho é um dos pecados que ele considera mais difícil de evitar. Nos últimos verso da faixa, Kendrick fala sobre como seria o mundo perfeito: Se ele vivesse no mundo perfeito ele também seria. Através disso,ele tenta aceitar suas imperfeições, e de como ele reage com o mundo ao mundo imperfeito em sua volta; ele deseja esse mundo ideal, mas ao mesmo tempo ele reconhece que ele não se pode mudar o mundo sem mudarmos antes, nós mesmos, assim quebrando a Maldição da Desobediencia.
‘’XXX.’’ é a ideia de caos total, de acordo com Kendrick em sua entrevista com a Beats 1: ‘’É sobre completo caos, completa loucura. E sobre nós no meio disso tudo tentando controlar esse caos, e no meu caso seria simplesmente pelo meio da música em organizar essa ideia, esse conceito de ‘’esse é o mundo que a gente vive’’. Isso fica mais evidente nos últimos versos da música, onde ele conjura uma espécie de lamento pela situação onde seu país se encontra, com Trump, violência com armas, barreiras raciais, preconceito, e drogas. No hook final da música, é dito que os Estados Unidos não é um lugar e sim um ‘’som’’, e que é preciso fechar os olhos para entender melhor o mundo em nossa volta, o que nada mais é do que outro convite para olharmos e compreendermos a nós mesmos, para assim podermos entender melhor a situação caótica do mundo em nossa volta.
‘’LUST.’’ se mostra simplesmente como uma extensão da idéia sobre a corrupção do mundo ; é citado Tiago 4:4 :‘’ Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.’’. Kendrick nessa música canta sobre a perspectiva de um homem completamente imerso nas tentações e superficialidade
do mundo: Um estilo de vida de luxúria, com dias desperdiçados em maconha, lean, armas, sexo, festas, e descompromissos. Um homem que se entregou em seus desejos, luxúria e egoísmo e se tornou um membro completamente inútil para a sociedade e sua comunidade.
‘’PRIDE.’’ e ‘’HUMBLE.’’ funcionam como antíteses: não há muito orgulho contigo em ‘’PRIDE.’’, assim como não há muita humildade contida em ‘’HUMBLE.’’, exceto onde Kendrick expressa o medo de perder seu senso de modéstia. Kendrick revela durante sua entrevista com a Rolling Stones que a mensagem de ‘’HUMBLE.’’ é direcionada a si mesmo: ‘’É por isso que eu fiz uma música assim, onde eu apenas não dou a mínima, e eu falo para o ouvinte que
ele não pode mexer comigo. Mas no final, é apenas eu olhando para mim mesmo no espelho.’’ Essa idéia é muito abordada ao passar das músicas: A ideia de ‘’wicked our weakness[maldade ou fraqueza]’’; você deve portar uma atitude de não dar a mínima para parecer forte, pois o mundo espera isso de você. O mundo retratado por Kendrick é um mundo corrompido, onde você assume suas fraquezas ou o mundo te obriga a escondê-las.
‘’FEAR.’’ é uma das músicas mais importantes do álbum. Durante os 3 versos de ‘’FEAR’’, Kendrick revela seus medos durante 3 fases de sua vida: Quando ele tinha 7, 17, e 27 anos. Aos 7 anos o medo se manifestava através de sua mãe. Sua mãe o ameaçava durante sua infância e empregava táticas de medo como uma maneira de manter Kendrick fora de más influências, durante um ambiente cercado de violência, drogas e pobreza. Aos 17, os medos de Kendrick mudam; ele teme à morte.
Medo de morrer aos 17 anos como muitos de seus amigos, e não ser lembrado, pois se considerava irrelevante para o mundo nessa época. Aos 27, seus medos mudam junto com sua nova fama e dinheiro; o medo de perder isso tudo com a mesma facilidade com que ganhou. Kendrick conhece muitas celebridades que faliram por mal uso de seus recursos financeiros, tema que também foi bastante falado em seu último álbum, ‘’To Pimp A Butterfly’’.
Sendo a última música,a história contada em ‘’DUCKWORTH.’’ é sobre seu pai, Ducky, e seu amigo, Anthony, e as circunstâncias não tão estáveis nos quais eles se conheceram. Anthony veio de uma família de gangsters, e seguiu o mesmo caminho que seus semelhantes, tornando-se um traficante bem sucedido. Ducky também fazia contravenções menores, porém trabalhava em um KFC para ajudar a ter um emprego estável e garantir o futuro de sua família, KFC no qual Anthony já havia assaltado e atirado em um cliente no passado. Sabendo disso, Ducky como maneira de evitar violência, foi generoso com Anthony, oferecendo coisas como biscoitos de graça e comida extra toda vez que ele aparecia por lá. Kendrick afirma no final da música que esse ato de generosidade de Ducky foi o suficiente para combater a Maldição da Desobediência: Ao escolher fazer a coisa certa, o karma impactou o futuro; pois se escolhessem o conflito, Kendrick poderia ter nascido sem um pai e ter sucumbido á violência e não estar vivo contando sua história, e Anthony poderia ter pego prisão perpétua. Um tiro ocorre no
final, revertendo todo o álbum de volta para o início, simbolizando duas coisas: Se Anthony morresse, Kendrick que conhecemos hoje não existiria, e logo, as músicas em reverso significaria a anulação da história contada pelo álbum que acabamos de presenciar. E também que ao mesmo tempo que um ato de bondade salvou o pai de Kendrick no final do álbum, um ato de bondade matou Kendrick no início, que volta ao que Kendrick prega no álbum sobre fraqueza ou maldade: Ao escolher ser bom, você ainda se torna fraco e ainda fica á mercê do mundo sobre as coisas que não estão sobre seu controle.