D. Afonso, em Lafões

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D. Affonso que nas suas audaciosas e temerárias correrias contra os sarracenos, poz cerco a Badajoz, cidade forte, que estava sob a protecção de D. Fernando II, rei de Leão e seu genro. Audaz e valoroso, leva D. Affonso de vencida a amuralhada cidade, mas a guarnição conseguiu refugiar-se na Kassba, alcaçova, onde offerecia alguma resistência. O sitio aperta-se e os sitiados julgam-se perdidos, quando as tropas de Leão, capitaneadas por D. Fernando, accodem e cercam por sua vez o rei dos portuguezes que, depois de grande destroço e mortandade, se vira forçado a abandonar Badajoz. Correndo à rédea solta para sair por uma das portas, bateu com a coxa direita no ferrolho do portão e quebrou-a. Cahido, foi alcançado pelos soldados do genro que o vê a seus pés prisioneiro, mas o seu nobre caracter e a generosidade de sua grande alma, manda, em breve o sogro em paz, com a condição porém de lhe restituir as praças dos districtos de Limia e Toronha e abandonar as margens do Guadianna. Depois de dois mezes de tratamento e assentes as pazes, voltou o rei de Portugal às suas terras, mas os 60 annos da sua aventurosa e brilhante vida, o desgosto da derrota, mais naturalmente do que a fractura do femur, faziam n’o regressar á patria, abatido, vexado e irremediavelmente inhabilitado para a vida das armas. (...) das dores atrozes que tornavam o monarcha - insoffrivel, insofrido e enraivado -, recorreu D. Affonso ás caldas de Alafões, para convalescer da enfermidade, não podendo todavia soffrer o estarem aquellas terras á mercê das aguerridas tropas mabometanas. Cuidou em remediar esse grande mal que lhe estava a minar o seu sonho dourado — dilatar a sua querida monarchia. Relanceou os seus homens d’armas, os seus velhos companheiros dos dias gloriossíssimos de Santarém, Lisboa e das suas innumeraveis batalhas; queria encontrar um guerreiro audaz e valente, cujo braço não fraquejasse e fizesse reluzir ao sol brilhante dos combates o forte e destemido montante. Lembra-se então dos seus fieis templarios, onde se destacava nobre e grande o vulto illustre do seu egregio mestre — o valoroso D. Gualdim Paes, e commette a este a defensão e conquista do Alemtejo, doando á Ordem do Templo a terça parte de tudo o que podesse povoar e adquirir n’essa provincia e tambem a casa de Évora, com o condição de despender a Ordem as rendas que d’essas terras lhe deviam provir no serviço d’elle e de seus successores emquanto continuasse a guerra entre christãos e serracenos. Tal era a confiança que lhe inspiravam os seus confrades e a relevância do mestre para lhe dar o cumprimento de tão alta missão!


D. Affonso ainda poude ver o empenho, o ardimento com que D. Gualdim Paes e os seus companheiros defendiam essas terras, cumprindo bizarramente vontade do seu rei e seu companheiro d’armas como templario que era. Ainda poude o Glorioso fundador do reino de Portugal ver levantar, cumprindo assim D. Gualdim a expressa letra da doação, d’um penhascoso ilhéo no meio do Tejo,o valente e audaz castello d’Almourol que tanto devia de servir a causa da Fé e da Patria. Morto D. Affonso Hcnriques, succede-lhe seu filho D. Sancho que também encontra nos templarios o mesmo amor ao seu chefe militar e os mesmos cooperadores na grande obra da independencia e povoamento de Portugal. D. Sancho tambem não é avaro para com os valentes guerreiros, embora pareça provarse que um dia, naturalmente de apuros, se apossara de capitaes templarios no entanto mais de uma concessão de direitos e doações de terras provam a consideração que tinha pelos companheiros de seu Pae.


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