Menino Passarim

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José Fernando Entratice

Menino Passarim

Compilação e Fotos: Silvia Ferrante 2014


Foto e arte da capa: Silvia Ferrante Diagramação, Fotos e Compilação dos poemas: Silvia Ferrante Revisão: Julio Lima

Proibida a reprodução total ou parcial da obra de acordo com a lei 9.160/98.


JosĂŠ Fernando Entratice

Menino Passarim 2014



Zéfernandeando! Há(ah!) tanto mar! e não sei como navegar... Eu poderia começar a história pelo fim: “Daí os amigos foram envelhecendo, a amizade solidificou a ponto de rocha, e a vida seguiu seu rumo”. Isso se fosse para qualquer pessoa, mas para o Zé? São águas turbulentas de tantas horas de conversa sobre a vida e pela vida, tanto tempo em mesas de bares, salvando ideologias com o furor da paixão; e quanta música... Zé Fernando, poeta, cantador e tocador, o parceiro fiel de sua viola, envereda por trilhas que levam às mãos de Deus com seu canto nobre; e nós vamos de roldão ao som do tambor, seguindo o mestre em acordes bem construídos, prontos para a coiança da arte, o alimento do espírito – e eu aqui a escrever emocionado ao som puro do sertão, construído pela refinada poesia sertaneja: vai ao ápice em Aurora Sanjoanense. Um belo dia, fomos embora... cada um colocou na bagagem os sonhos, desavenças, amores, e distante um instrumento num armário qualquer... A necessidade de ganhar o sustento falava alto prá caramba; e a cidade nos recebia como se fizéssemos parte dela. E aquelas buzinas, a fuligem grudada na pele fazia-nos fugir para o fim de tarde de nossa cidade, andando pelas ruas, sentindo vir das casas o cheiro bom de carne fritando: o movimento lento do final de dia. Era a hora de sonhar...


Assim, começamos a nos encontrar nas repúblicas em que morávamos, e lá surgiram nossas parcerias junto a outros saudosos de casa, que nos ajudavam com o apoio etílico e alimentar.

Legado Quando eu for embora, Num Crepúsculo de Passarinhos, deixarei o que fiz apenas nessa Vida Errante. Como se eu fizesse parte disso aqui, levo meu Canto Barato de onde cantei, levo Minha Rua , uma Jaula de Jade, e saudades do Jaguari. Então em Desagravo Eu Canto. Antonio Maria Giffoni Rosa


As palavras quando bem colocadas, tal qual uma boa cachaça, nos embriagam a alma... As palavras quando sentidas, se transformam em melodia e nos lavam a alma... As palavras mágicas e poderosas, quando bem regidas nos enchem a vida de emoções... E é assim que me sinto após ler o trabalho de José Fernando Entratice, de quem sou fã desde há muito tempo. Seja nas composições, na cantoria ou na escrita, ele é ainda o menino aprendiz, mas sabe das coisas do mundo...

Silvia Ferrante


prosnomes Eu, vacilo em etanol Tu, um tango em si bemol Ele, beneciado ser Nós, de avatares de viver Vós, um dia iras entender. Eles, nem vão perceber.


Pensar quem nós somos emprega pensares bem grandes, de loas Pra ver é que via de regra Seremos sempre três pessoas Eu penso que bem me conheço Por onde eu fui, e onde vou portanto, em concreto, eu mereço e sei, sou o que acho que sou. Mas sempre o meu eu conhecido Não bate ao que falam de mim Nunca sei se entendi, de entendido E me sou meu engano, enm. Se bem que de tanta importância aos veres que outros me dão Por vezes dou tão relevância Que sou o que acham que sou Sou quem eu acho que sou Sou como acho que os outros me vêem E sou como, realmente, os outros me vêem.


A solidão te comove, ou só dói quando chove...?

a vida cobra, mais pelo conjunto da obra. esteja ciente: a gente é o nosso melhor presente. estou metabolizando minha vida. tem hora que não tem outra saída.


Poesia é palavra vadia. Nasce, não lavra. Tece, não a. às favas com as lavras das palavras, e suas travas.

Quem não chora não ama. Quem não ancora não ama. Quem não aora ...derrama.

Como pode um coitado pecar um pecado de amor se não existe pecado abaixo do Equador...?

quando o poeta esvazia, vira poesia. poesia escorrendo correndo vadia... como Leminski fazia.



minha árvore Minha árvore preferida, és minha por toda vida. Sei, na verdade serias, assim como um bem natural, do dono de tais cercanias, o seu proprietário legal. Mas como não serias minha após visse você assim, como se o monte explodisse em vida e beleza arvoral. Tão minha que um dia ainda te roubava, como a rosa da vizinha, e te plantava pertinho de mim, no quintal.


Os indio

- Coitado dos índio. - Índio num precisa pena, precisa dignidade. Precisa, a bem da verdade, poder ser sua essência. Fazer vida em seu cadinho, plantar sua própria semente, dormir junto c'us passarinho, cordar n'hora do sol nascente. Índio precisa ser índio, que é um outro tipo de gente.


alma de índio A minha alma não morre. Viveu no pai de meu pai e segue no lho de meu lho. Sangue da árvore andar macio de onça. Ninho da garça, calor do sol brilho de lua. Não mate a mim, nem a oresta. Nem mim, nem oresta. Somos a alma. Alma que tem, e que não sabes. Quando a procurares, estaremos aqui. Guardiões de vida, que de tão vida igual a todas as vidas, já não sobrevive.


capitu

"Capitu era mais mulher do que eu homem". “Cristalina“ Ah Capitu meu pecado. Em meio às sobras e raspas que a vida hoje me determina,

Esse teu segredo guardado na angustia da eterna quimera...

surge a beleza entre aspas. Na certa, citação divina. Por isso ela traz, marcado, nos cantos de si, tatuado, o espaço onde em tal se dena. E o belo ali delimitado, explode em mulher e seu grado, por onde passeia a menina.

Ela foi nunca sendo, ou nunca camos sabendo que na verdade sempre era?


no cristal translúcido lucina brilhos, estribilho de canção de pelúcia. velucia sombra. fúcsia difusa dos olhares de minha musa. qual seria o lado certo... decerto o tão perto do longe, ou o longe que vive aqui perto? ...tudo é tão longe no deserto...


a alma vive na arte no cume que treme e parte na visão da cena, no esplendor da imagem, no desvendar da pena, na melodia viajem.

almas falando de almas. almas lmando suas almas há que tecer a quimera.

almas pintando suas palmas.

coração que ulcera no dolorido do hiberno.

agradecidos, batemos palmas,

sobreviver ao inverno sonhando com a primavera.

com as nossas bem mais calmas. ...ou não.

e que o verão seja um inferno.

alma não escolhe estação.


Acorda, Clarice

Acorda Clarice que o galo já canta. Acorda e levanta, se encanta, Clarice. Acorda teus sonhos, teus ares de vice, acorda a mesmice, aurore, Clarice! Lembra o que disse o padre na missa.

olhares olhando garoas.

Esquece a preguiça,

tão densas, tão frias, tão noas

levanta, Clarice!

aos mistérios das pessoas.

O dia não para,

olhares que olham o momento

não ampara a velhice.

abrindo no sentimento,

Acenda essa cara,

portais de lembranças tão boas.

desperta, Clarice!

pra fora, se brindo pra dentro.


Las Madres de Santa Maria

As madres de Santa Maria ontem beijaram seus lhos recomendaram cuidado, e abençoaram seus sonhos. Na madrugada sentiram as coisas de mãe-madrugada. Preocupação de pontada “'será que tá bem o menino'?! Ah, deixa de tanto tino, seu pino de mãe calejada! Conheces a cria criada, e vives de amar seu destino”. E foram se dormir na certeza que à hora do café na mesa calmavam seu zelo uterino.


As madres de Santa Maria nas dores de seus desesperos buscaram seus ď€ lhos queimados. Aqueles tĂŁo bem preparados por elas na busca das lidas, no descuidado dos olhos que olham por todas as vidas, se foram em amores pisados. Sobraram conselhos sufocados de tudo que a vida nutria. Ficou o choro revoltado das madres de Santa Maria. (27.12.2012)


nem tudo que me cerca me interessa, mas tudo que me toca me converte. idólatra de opções. alma tem que ser livre.

facho você não domina o verso o verso é que te domina você quer levar pra baixo ele te leva pra cima. você só acende o facho a luz quem faz é a rima.

o laço que laça o ato, embaça o fato. o ato, de fato, é o abraço. é acerto de peito e de passo.


absinto (II) não minto: às vezes pinto cores de absinto.

dali, Salvador, o cuitelo é tragado pela or.

arranco travas

dali, tudo desvira. vira Vira, vira Amor.

desse labirinto, procuro sentido no que eu sinto. sempre sucinto... - torpor de vinho tinto.

ΚΟΣΜΟΣ. no medo do paradigma o sigma do cosmo se mora. sempre decifro o enigma, mas mesmo assim me devora.


Fuga em Ré Maior Foi de virando lira Foi subindo a nota no ar que se respira. até cair da escala, Entrando em poros suados, e pelo chão da sala nos suéteres usados, a nota foi. consultórios de doutores, Foi, de Dó partida, ouvidos de mercadores, ao Si de seus faróis. dando mais sentido às ores, Notas sustenidas. se derramando ao planeta. Nunca bemóis. Foi de virando ventos Ah, sua notinha xereta... tão sonorizados Muito vale sua falta. oitavando fados, Meu canto não segue pauta bordões espanhóis... minha viola é de veneta. Seus timbres encantados Sai desse canto cambeta. foram tocando bardos. Voa, como o som da auta. Foram abrandando fardos, emudecendo roxinóis.


eles se amam por música se tocam em acordes se anam em concordes se escrevem em teorias se encontram em coxias se beijam em colcheias. modulam pautas vazias, fazem folias nas cheias. eles se amam por música, música e amor pelas veias.


tira uma foto no espelho com aquele batom vermelho e posta na minha lembranรงa?


O impossível chão Flor de impossível brotança, cavaleiro da Triste Figura. Amanhã, sem nem Sancho Pança, me visto de minha amadura, meus sonhos, viés de loucura, e vou sufragar a esperança. Que venham monstros moinhos. Na urna escolho sozinho o destino nal de minha lança. Mesmo longe o destino e a ideia, qual beijo de minha Dulcinéia, morrerei em eterna buscança.


qual é?

Por certo não sei o que faço: Se faço o que tenho cumprido, se esse fazer faz sentido, se tem por de fato mereço. Sou poeta e tenho um preço? Ou não, sou somente começo. Ou mesmo o sendo, e sem preço, sem prelo, sem blog ou ter sido, depois de seu verso parido mendiga algum reconheço?

Contenta um sincero curtido, tocar outra alma de leve. E ca meu verso perdido tanto quanto envaidecido se lhe aveludou o ouvido e quisestes mostrar a amigos. Meu verso procura abrigos. Ou eu vivo por isso, ou jamais serei poeta.


quebrados Da cola desse sortudo Que cola o piso no chão, Se diz que colar, cola tudo. Mas eu acredito que não. Não pode colar meus quebrados E em tantos pedaços guardados

nós a sós com nossos nós somos rio na foz.

Nas caixas que estão no porão. Colasse, e seria sabida A cor que a paleta da vida Cravou neste meu coração.


Os átomos do meu coração propõem fusão. Perigas ssão de explosão. momento íntimo

Imagina!?... Aperte o botão.

O momento íntimo começa na entrega da or. Existe um pequeno caminho pra esses caminhos do amor, que o canto do teu passarinho que dá dimensão ao pudor. Para que ela seja a mulher que a que pode transcender a utopia, e ser sua mulher, seja ela qual for. Contrário, terás só um aviste de um mundo que, enm, não permitiste a ela em seus braços se expor.


contrito Me quiseste assim, e assim me teve. E por mais desencontros que conteve, s坦 ousa chamar de amor quem viveu o dito. E de tanto vive-lo em ti ouso contrito, chamar de amor, por n達o ter nome mais bonito. O tempo em que estive em ti e tu comigo, foi t達o de aconchegos loucos , t達o de abrigo, que muito de mim vive no que contigo esteve.


já caminhei teu caminho eu já sorri diferente hoje sou rosa no vinho - frio e quente. hoje sou mais passarinho talvez mais arborescente talvez mais pleno de ninho e sol poente. A alquimia da vida jamais terá solução a vida aventureira segue o coração. E coração indolente pulsa por qualquer paixão e em muito raramente bate na razão.


atitude. De tanto pensar ele um dia acordou pensamento. Abriu a janela e voou como o vento. Sondou argumentos, inventos pensantes, os mais semelhantes e os pé-nem-cabeça . E por mais que lhe cresça não cresce a pessoa. Se foi pensamento e deixou-se na proa.

declaração de amor eterno

saiba que ele sempre foi teu mesmo não estando em ti, sempre foi teu tanto carinho e atenção que recebeu quando em ti estando, em volúpias feneceu.


Tem dia que o dia pede silĂŞncio. Shhhhhh!


esta noite

noite seca

tem gritos estranhos Secas noites de agosto.

de bicho e de gente.

As plantas sentem, os bichos choram,

essa noite tem dente

e nós agonizamos.

e me morde gelada.

E o coração já estalante se esturrica em fundo de lodo seco,

esta noite é cilada.

rachando que nem chocolate.

essa noite é doente.

Late cachorro, late. Átono, tono sustenido. Só pode revelar o seu latido, a noite seca e seu vento ralo.

Vai sinal! Cutuca nesse meu calo a ferroada que vem chuva... Diz que o chão seco adoça a uva: o instinto da parreira busca a melhor sementeira, que garanta tempos hostis. Que venha então árida noite. Racha o meu chão no açoite. Adoça meus sonhos febris.


lua linda

Aposto que foi a lua que apagou a cidade inteira, pra que a reparassem faceira, Alinhados

brilhando de fazer sombra. Cintila! Ofusca! Assombra!

A lua

Amanta prata na rua.

reluz meio assim assustada, prateando seu segredo: no fundo morre de medo de coisas de alinhamento. Desvia o pensar dos amantes. Aqueles pensares que antes, causaram esse jeito ciumento. Se avexe nĂŁo, linda lua. Meu alinhar te cultua. Prateia meu esquecimento.

És lua de lobo uivador, mais lua ainda. De suave esplendor. Sua linda!


LUA Fria, branda e acalmada Breve brisa benfazeja Vá buscar a minha amada Onde quer que ela esteja

Teus mistérios, teus tão nada Micha noite sertaneja Fazem ser a madrugada O que quer que ela seja

Lua cheia escancarada Hoje a Terra não te sombra E expões ensolarada

Lua cheia ensolarada Hoje a Terra não te sombra E expões escancarada Teu penado sortilégio De espiar sobre as sacadas Das meninas do colégio.

Teu penado sortilégio De espiar sobre as sacadas Das meninas do colégio. Oh Lua...


cafĂŠ com leite

macauveiras, beira de serra. verde de perto, longe azul. e ali no alto começa Minas, vales, campinas, seu sul.

sobre esse manto minha alma deite. sobre esse espanto cafĂŠ com leite.


passarinhos engraçados. tão sempre agitados. parecem com pressa, olhando assustados pra todos lados. ...sinal fechado na avenida, turba salta, vida atravessa. pressa e pressão alta. gente e passarinho, pro mundo redemoinho, não fazem falta. somem no espaço da pauta. imperceptíveis, inaudíveis e assustados.


pó de estrelas.

Ouça o que dizem essas estrelas falam de coisas que você não sabe. Sabes de vento vento que sentes vento que passa onde estrela não cabe. Pega teus ventos ouça as estrelas. Faz merecê-las antes que acabe. ..

...não as estrelas, não céu profundo. Como entendê-las tão outro mundo? Como medi-las com sua trena. Como ouvi-las alma pequena?! Esquece o vento deixe a medida. Olhe pra dentro,

Pó-vida-pó.

frágil tua vida.

Pó de estrela. Se ouvi-las, decifras teu enigma.


bem te vi

Eu co aqui num tão quetim no meu cantinho apreciano, na paia do cigarrinho, lá das Salinas sempre vem uma margosa. E uma viola no cantinho, prestimosa, só esperano arguma prosa de versinho. Narguma veiz inté me pego em cantoria naqueles tronxo-coração de m de tarde, quando me bate um alegrar sabedeusdonde. Ou a saudade vem brincar seu pique-esconde de argum cherume que deixemo no caminho. Mas quero memo é cunversê de ioá pra dentro. Buscá nos calo dos badalo do meu centro, qual a tonânça da vibrança do meu sino. Qual a timbrança que ecuô no meu destino? -Bem te vi... Me diz o passarinho.


Bônus e pequenos ônus

Nas tardes então, nem te falo.

Tem neste meu chão paulista

O eco do sexto badalo

um toque de boa vista

do sino da Catedral

e uma majestosa serra.

é o horário ocial

Barulho de gado que berra,

do belo prostrar-se à beleza.

bom dia de galo que canta.

A nossa mãe Natureza

O dia tão claro levanta

dadivosa homenageia,

que bem-te-vi sai voando,

e a passarada envia.

com olhos de mal-enxergando,

Do singrar da cotovia

gritando na força do peito:

ao ratatá das maritacas,

'te vi, mas não muito direito'.

vai virando sinfonia.

E o dia...ah, o dia arrasta...

Lá no fundo o sol espelha

no tanto e no quanto que basta.

rastilhos de coisa vermelha,

Se aponta aperreio nos tédios,

de amarelo maravilha,

só sai dos 'da frente' dos prédios

que explode e estampilha

e tem verde-azul mantiqueiro.

nas nuvens que por ali cam.

Tem vento de macaubeiro,

Falares abdicam

pras calmas, um santo remédio.

de tentar descrever.


A noite chega mansa e quase pedindo licença. “Uma lua des'tamanho”, igual a que Tonhão contou pra mim, numa canção para ninar nesta cidade. Nos sonhos das vontades que carreguei, no vão das saudades que ainda não matei. Inevitável chegarem outras...


céu de 5 anos.

A estrela brilha e pulsa. Daqui, avulsa. Mas acho que lá, nem tanto. Lá onde vive, em seu canto, num tanto que não cabe em verso, nos rincões do Universo, há cinco anos atrás, brilhou essa estrela fugaz. Aqui hoje, é céu estrelado. O tempo do seu brilhado, já hoje não existe mais.

Te olho em paz. A paz do meu tempo esperado, como a estrela que brilha e pulsa.


se tivesse idade Ai se eu tivesse idade roubava aquela menina lhe dava uma margarida vestia um casaco amarelo encaixotava seus sonhos montava uma comunidade. Ai seu tivesse idade vivia com ela num jeep aquele viver meio hippie, de banho só de cachoeira de noite em sarau fogueira viajem de som, liberdade. Mas se tivesse idade, teria a idade que tive.

E meus poetas tão tristonhos, caram aí, pela cidade.

Tempo de vida em aclive, garrafas que envasam sonhos.

Por isso hoje choro a inverdade: Ah! Se eu tivesse idade!


pira versos de bar Se um dia me for poeta serei de falar de poucos serei de falar de outros falando tão de mim mesmo. Serei de falar a esmo da alma do seu desejo. Serei de trair com beijo, serei de ternar afago. Serei de dar forma ao vago serei de domar lira, tombar o fogo da pira, serei de causar estrago. Terei a alma completa, se um dia me for poeta.

Amigo eu não sou surdo, nem mudo felizmente. Sou única e tão somente, poeta em fome de mostra. Pois feito, mostrar se gosta. Até pra ver se ainda aposta em ousar pela poesia. Surdo de tua empatia. Mudo em falar sem resposta. Quero deixar-te meus versos. E deixo, em públicos dispersos, com um intento de mereço: O risco do teu apreço, e o preço dos meus submersos.


transcritas do sânscrito, palavras viraram verbo. se conjugaram no termo e no tempo dos escribas, e de seus patronos. tantos reis, poucos tronos, palavras viraram seus donos. poetas lhes trazem outonos.

Poeta tem alfa e tem beta. Se aborboleta, encasula, enlagarta. Ao contrĂĄrio. Da asa Ă larva.


Procura direito por mim no micro-sistema-xaxim. Se olha direito, me enxerga. Estou sobre a folha que verga. No inicio, no meio e no m.

Pequeno como a sementinha da folha da Paulistinha E tonto, mas ante a beleza da sua Renda Portuguesa, talvez pela sua cozinha. E canções que a tí permito E rendas e pregas de saias não mais que tuas samambaias, me escondem, de fato é verdade. Num arroubo de vã sanidade. De nylon imitando cambraia.

Nelas falo, canto e grito O lácio da sana loucura O frio ranger da armadura Onde em silêncio habito.


libertas... O que acontece se um dia as linhas da pauta arrebentam? As notas se transformariam em coisas que os sons lhe inventam, voando na essência macia que as brisas da pauta lhe ventam. Mas há que se ter bem cuidado. Liberta, não será mais nota. Será o sentimento que brota de quando ainda nota, tocada. De choro em chorar de enxurrada ou felicidade em compota. Melhor as mantermos na pauta voando no doce da auta que o incauto da vida sabota.


a viola solta, na palheta, vira cítara. hindu-nordestina. pego essa menina.

Cantar

brinco com seus brincos. terças e quintas. sábado, sozinho. É o que tem, com ela me dou

Entre orar e cantar eu prero cantar. Há tantos deuses nas crenças, ódios nas diferenças.

bem.

Canto e chego onde os deuses preferem morar.


Deixe o chorar para o choro dos chorões Deixe o sofrer para as dores e desilusões Mas tem que rezar pela sua cartilha O nobre de sua partilha É o coro dos violões A gente tem mais que brindar ao que vida cantou Mas tem que ser nessa harmonia que ele praticou Bi confesso. Assim, de viagem bem mais que vivida Que inveja de tua vida! Tem dia que eu sou violeiro Que fome do que plantou! tem dia que eu sou sambista. Nasce o que chega primeiro cresce o que a alma conquista. Quando canta um passarinho, nasce uma alma caipira. Se a saudade sai na bola, canto um samba do Cartola, e levo pra onde a alma atira.


atract No outro, me atraem os loucos os loucos de riem sozinhos de se aventurar com moinhos de desdenhar da ventura de maquiar amargura nas bocas vermelhas dos vinhos. No outro, me atraem os insanos de ousar recitar para a lua pichar todo muro da rua de odes ao inusitado que inspiram o inesperado, no plano real em que atua.


bis

É claro que eu vejo o óbvio.

vivi a vida

É que jogo

procurando espelhos,

todas as chas

e só encontrei

no improbo.

eu mesmo.

No óbvio, sobrevivo.

côncavo e convexo,

No improbo renasço.

reexos de mim que nem conheço. preço em que z o meu mereço.

solidão

agora vou pro bis.

vem inspiração sinta-se em casa.

Tou me virando

assopra meu peito em brasa

do avesso.

e espalha o fogo no chão. que hoje eu preciso re-verso. re-pensamento disperso. re-dispersar solidão.


e se eu morresse agora? E se eu morresse agora seria uma morte morrida daquelas bem merecidas por quem só viveu em glória Ou no revés da história seria uma morte fuleira sem pompas de carpideira Se me chegasse a dita em seu alforje e esqueleto Sombrada em seu manto preto num de repente e sem causa Sembrando innita pausa no cume da minha vivência sem aviso ou procedência


ainda que Pergunto então se estaria

de verve

prá execução preparado,

questionável,

de pronto e cumprido mandado

sou reciclável.

da minha livre vivência.

quando morrer,

Teria deixado inuência,

me ajuntem

alguma digna lembrança

e me

de coisa profunda e sentida

vendam.

que fez valer essa vida?

pensar de vida As vezes eu penso na vida, no que espero ser lá no m e logo minha alma convida a seu pensar de pasquim: e se um dia a paixão suicida, eu morro antes de mim?


É muito tosco. Saudades de nem sei.

A vida virou prum gosto mais amargo. De fato, um mundo cada vez mais chato. Biscoito água e sal vira coisa legal.

Às vezes dá saudades de um não sei... Um algo que em memoria não lembrei, mas tá marcado aqui não sei aonde. Não sei o que é, nem onde se esconde, nem posso garantir que é saudade. Verdade é um vazio-gela-peito,

E legal de Lei. - Seriam bardos se soubessem o que eu sei. Nessa noite proibida,

que passa e nem dá pra sentir direito, e vai deixando um ash indecifrável. Um rabo de lembrar impenetrável, que aige, vai embora e não responde.

aos grandes prazeres da vida jamais me confessarei. Estarei nu, como o rei.


a inevitável. Na Primavera me renasço, Quero assim: um mal súbito, uma dor forte. Olhar bem nos olhos da morte e lhe perguntar anal. Se dei o que bastava quando em cena, se tive a vida em alma não pequena,

ores forjando aço. No Verão me cresço,

siderúrgico amadureço. No Outono desapego, ferrugem no corte cego.

do tal poeta lá de Portugal. Talvez me diga então a tal melena: - por certo já terá valido a pena,

E no Inverno me morro, de luva, fogueira e gorro.

se teve esse intento em cabedal. ...E o que virá? – o nal.

do pólen ao pó, sem dó nem socorro. Agosto será rococó, em setembro saio do forro.


55 (I) Já rezei tanta reza em pescoço quebrado, já esteve ao meu lado tanto ombro amigo, que por certo eu lhe digo: Qualquer canto é pousada! Qualquer beira de estrada pro corpo é abrigo. Já chorei tanto choro de amor mal amado, tenho tão calejado o meu coração, que por certo eu lhe digo: Qualquer beijo não basta! Qualquer cheiro me afasta, ou qualquer sensação.

Já vivi tanto sonho tanta realidade, tenho tanta saudade de todo o viver, que por certo eu lhe digo: Viveria de novo! Plantaria esse povo, e deixava crescer. As respostas já tenho, só me fogem perguntas, e se a vida me assunta eu não sei responder. Mas por certo eu lhes digo: Dê-me um cheiro de chuva. Dê-me o doce da uva, e me deixem morrer.


envazio Hoje eu estou assim, meio vazio. Um pouco é o efeito do frio, o resto é cio. Tempo de brota exige poda, e é foda esses dias de casas vazias. Sem samba, sem verso, sem moda.


junho Em junho, eu juro, derrubo pedra a pedra esse meu muro. Recorto o céu da barraca de Casmurro. Entorto a ponta da faca com meu murro. Em junho, asseguro, me escuro

Espero meu junho

no lácio do frio.

em junho.

Em junho me envasio.

Espero o que o punho

Frio, não triste.

resiste.


olhos de cão azul E enm, eu sou de quem? meu cigarro

Sei lá se sou de alguém.

é de palha de fumo, o vento

Acho que sou daquela

é o meu rumo,

que à noite me sonda a janela

eu não tenho

a espera do sono profundo.

raiz.

Invade meu sonho e meu mundo, e pela manhã vai embora,

gitano cigano

tão cedo, e em cima da hora.

feliz.

Até em sonhos improváveis. Olhos de cão azul indecifráveis.

não tenho tudo que quero, mas quero tudo que z.


Tudo que faço sobra.

parola

O que não faço falta. No hiberno, me encaixo melhor no inferno.

eu quero dizer que eu não queria dizer isso palavra se faz compromisso no tanto que o outro entender. e explicar pra compreender

Se machuco, cutuco a proeza. Se no truco, me subo na mesa.

causa até mais reboliço. eu sempre digo o que penso penso sempre no que digo. se às vezes me falta o bom senso sobra em noção de perigo.

Sempre o dedo no furo da represa. Sempre o medo, insegura certeza.

só falo onde acho que devo. onde o meu chão tem relevo e minh'alma tem abrigo.


55 (I)

virtudes

Já rezei tanta reza em pescoço quebrado,

Palavras nobres são nobres

já esteve ao meu lado tanto ombro amigo,

quanto estas se pretendem.

que por certo eu lhe digo:

Surpreendem, inspiram,

Qualquer canto é pousada!

buscam os nobres que conspiram Qualquer beira de estrada no fundo da coisa mundana. pro corpo é abrigo. Se não torna-las em atitudes, se perderão, amiúdes, na sacra e não na profana, no silvo da zarabatana, nas ideias e não nas virtudes.

Já chorei tanto choro de amor mal amado, tenho tão calejado o meu coração, que por certo eu lhe digo: Qualquer beijo não basta! Qualquer cheiro me afasta, ou qualquer sensação.


sorrisos

Sei que eu sou nada mais que um lhote de cão abandonado. Que escreveu e já não sabe ler o seu passado. Que da vida já não pede mais do que lhe deu. Mas não sou nada além do que z construir no meu caminho. Todo o mal, todo bem que me z, me z sozinho. E tão só com mim mesmo essa vida me acolheu. Tanto z, tão tentar ser feliz e buscar felicidade. Pra depois descobrir que ela nasce, na verdade, do que volta de cada sorriso que causou. Tanto faz como esteja esse meu coração desregulado, pois seu pulso carrega os sorrisos do passado, e outros novos que esse meu sorrir desabrochou


waves Ondas, ondas, ondas, por onde andam? Por onde andam os tempos em que em mim quebravam, e em mergulho, das encostas me arrancavam? eu...que nunca fui de mar. Por onde andam as ondas quando a vida sereniza, tuf達o de mar revolto se converte em brisa, em mar de lago manso, poente de luar? Est達o por certo donde de antes me arrancaram. Jogando em mar revolto outros que chegaram, prostraram e estancaram, com medo do mar.


Santa morena.

Santa morena, único credo! Tanta crença, que também creio. Creio. Creio no povo de onde cê veio: Rio, peixe, pescador de vila, vara, rede, imagem de argila. Creio em crença de santança, lavrada no afã da esperança, de teu povo sofredor. Creio no chão contaminado, que teu crente traz tatuado, em sol a pino e suor. Creio no sangue deitado do murmúrio amargurado do escravo e do açoitador.

E creio. Creio no tempo remoto em que a força do teu devoto o torne em seu dono e senhor.


Esse mundo tá estranho. Um monte de gente pregando um Cristo que não conheço. Sua chibata, seu preço, tua graça e teu mereço. Do Cristo só a ideia dos tempos da Galileia. Coisas do arco-da-véia. Meu Cristo pegou carona no caminhão da humanidade e viajou na boleia. Maria, bem mais que matrona, ainda é meio mãezona. Mas mais Quixote, menos Dulcinéia.


somos o Brasil da 2ª via, somos o Brasil no seu rincão. os que morrem de disenteria

voa aí,nas coxias, os gritos das 2ªs vias.

assistindo o Faustão.

quem sabe um sim, televisão, todo dia. comprada a prestação com esmolas que os outros nos dão.

pedimos dignidade, e o voto do cidadão. aqui segue nossa vontade de um dia apertar sua mão aí nessa bela cidade. o grito aqui cai no chão.

mais que não.


rugas As rugas são os cânions cravados pelos sorrisos, que mostram em traços precisos sorrisos que sorristes em vida. Pois só quem sorriu à ferida sin perder jamás

ternando sua própria amargura, logrou se despir da armadura,

tantos desmandos blasfemos forjaram nossa armadura, que no quando endurecemos perdemos nossa ternura? aonde foi que pusemos os remos da nossa bravura?

lixou de sua alma a oxida. tanta lambança e querença essa vida de crença bença de esperança e na hora que cansa amansa a canseira. essa vida de bêra

todos os sonhos que temos são os cerzis que zemos no roto da nossa costura.

essa lida sem êra no quanto balança escancara a portêra.


Saudade

Todas as saudades já matei. Porem os ns de tarde serão sempre saudosos. Pois noite nos chegando em vendavais

saudades

crepusculosos trazem sentimentos novos.

Das veis saudade danada

O germinar de outros ovos

bate naquelas que arde.

que na vida cultivei.

Me aprumo lá pra sacada,

E a falta transforma em verdade,

precio um m de tarde.

e vira uma nova saudade

O sól vermeio no fundo

das coisas que me lembrei.

sai pincelano o mundo de um colorado profundo,

“Essa saudade tida,

passarinhez faz alarde.

êta saudade linda, êta saudade livre...”-

Tudas saudades que tenho

(Renato dos Santos Jr)

valem o pendão de onde venho. Valem meu lado covarde.


fotos de face.

Depois de passado o sonho Se por tí deixado

que foi nossa mutua presença, parece que estamos felizes,

terei que limpar meu passado de teu nome e teu cheiro embrenhado

se pelas fotos tu dizes o exato do que nos parece.

num você quando e quanto foste eu.

Você, e seus sonhos matrizes. Eu, e o vidar que envelhece.

Se por ti deixado

só em mim num chorar tão sentido Brindemos encontros e crises. de rasgar e escarrar teu vestido

Brilhemos, que a vida merece.

e sem ti mais em mim, sem mais meu.

E se me perguntarem se verso assim por vive-lo em mim Não direi se lo vivo, ou se lo vivesse seria assim.


festa de são joão Festa de São João não tem mais em São João. Ninguém mais manda coração, maçã do amor. Ninguém solta bombinha na porta da cozinha e afufa sanfoneiro e cantador. Ninguém marca quadrilha na vitrola de pilha, a cobra, a chuvarada, vai chover, ponte quebrou. E lá barraca adentro prendeiro em movimento gritando o ultimo lance que escutou.

Paixões de estudante, correio elegante “será que o pai dela hoje deixou?” O beijo nunca dado o quase namorado o fogo da fogueira que apagou.


santa terezinha

Eu fui nascido e criado

lá não tem

na Santa Terezinha ali se avizinha

Lá não tem noite que assombra

toda a minha saudade.

nem lua que o brilho faz sombra

Ali felicidade de tão pequenininha,

na ponta da cumeeira. Lua de tanta clareira

morava na alegria

carece de óculos de lua

do sino da igrejinha.

que tão clara ca a rua, e a sombra da gameleira.

Ali meu eu menino riscou o meu destino

Lá num tem céu tão se dado esse céu escancarado

no traço frio e no

por cima da eira e da beira.

por onde a vida caminha.

Lá num tem choro dobrado, e o canto do choro chorado da minh'alma brasileira.


Ipê orido explosão de amarelo a beleza fez o belo contemplando tua cor. Flamboyant na beira lago faz do lago seu espelho reetindo seu vermelho cor do beijo, teu amor. amarelos

Ai, os Ipês Amarelos. Formosos, singelos, tão eles, tão belos. Evocam castelos, colorem masmorras. Assopram as borras do resto do inverno.


JAGUARI Água, cio, curva de rio, pedreira, pedra e pó. Marrom-beira, Marrrontiqueira. Da cor de água e sol. Lava a areia,

Sol caliente,

canoa cheia

mormaço quente,

da furta cor, brilhar.

calor de fogo e fel

Leva acesa

Que evapora

na correnteza

E leva embora

a luz do meu olhar.

Meu Jaguari pro céu.


lhos Segue a vida. Inda que doa na lida, seus lhos não são mais seus. São muito do jeito que és. O mesmo suor nos pés e os mesmos olhos plebeus. Que olham outros Coliseus, já sangram por próprios leões. E de um tanto do que lhes deu, coração maior que o teu, pleno de nobres paixões. É tudo que eu tanto queria: Vê-los fortes na coxia vibrando em seus diapasões.


JAULA DE JADE É tão difícil conter essa minha vontade De me embalar, me perder, me entregar à cidade Nesse meu jeito caseiro, nos papos com meu travesseiro Se esconde um boêmio contido, garrido e matreiro Em meio a um cigarro, um pigarro, a TV me anuncia O que para mim foi vazio, pro mundo foi dia E os fatos que se sucederam, Passaram, marcaram, morreram E a noite que nasce é o oposto de um gosto vazio O cheiro de noite que entra por essa janela Me mostra uma vida que acena e me chama pra ela Mas sai dessa realidade e amarra a minha vontade Na força que me imobiliza em jaula de jade.


todavia,

todos os céus que o céu

todas as quintas-feiras

possa em si abrigar

eu vou à lavanderia.

pode ser nenhum céu pode ser num sei lá.

levo roupas com sujeiras, mal cheiras de minha fobia.

seja o que for seu céu lembre de acreditar

...e delas limpam meus medos

que nada cai do céu,

no molho, em sabão na bacia.

o céu nada nos dá.

quaram ao sol meus segredos,

a crença que nos move

friccionam entre os ossos dos dedos

nos leva lá.

as manchas da minha agonia. seja no céu, sexta me viro em brinquedo,

ou no povaréu

e medo se vira em poesia.

no tropel, depende o chapéu que usar.


vale a vida

Quanto vale uma vida? Energia

Vale o que foi vivida.

tem no vento que assovia.

Vale o que deu guarida

Quando em fé, tua ave maria

e não vale o que não deu. Pois se viveu perdida,

te energe no quanto se a.

um dia terá jazida,

No sol que assola o solário,

a pouca virtude esquecida, na água que roda as turbinas, e a existência de teu eu. Morto, serás o que amparas.

no olhar em que olhas teu lho. Liga tuas coisas e teu brilho

Aquilo terá tua cara e a chama que um dia acendeu.

nas ondas de aguas salinas,

em tudo que toca, e que aprove.

Só então que se valida

Tudo que ao m te comove

o que valeu aquela vida

e à vida se dá serventia,

por vidas que ela protegeu.

turbilha a força que move o cerne de tua energia.


perrengues

Eu ponho às sete e meia pra sair às oito e meia Meu Deus! Eu ando escravo do despertador.

Por vez a coisa é feia, falo o que me dá na teia. Meu Deus! O que eu preciso é de um balizador.

Eu sei que o povo fala, e o veneno escorre Meus Deus! Só me dê mole e cale meu censor.

Mas sem amor decente ninguém vive. Morre. Meu Deus! Eu tô de porre de falta de amor


VIDA ERRANTE

E a cada abraço De um conhecido muito antigo

Às vezes penso

Desconhecido e velho amigo

Em todas coisas que passaram

Que de tão velho já tornou-se igual

Em todas coisas que marcaram E acabo só me perguntando, pra que?

Sinto a distância Tornar-se a constância

A gente muda

De uma conversa formal

E as coisas todas se transformam Somente a vida permanece

Então eu vejo

Numa transposição de um ponto irreal

Que tudo é desconhecido

E a cada instante, a vida é um errante

Letal, banal e proibido

Que nunca consegue chegar

Que a vida corre independente de ter Uma saudade, losoa ou liberdade

Quando eu repasso Pelos lugares que vivia

O material é a verdade Que quase todos buscam sem perceber

Por todas coisas que fazia A vida volta como um sonho irreal

E que o perigoso, nocivo e venoso A bem da verdade é viver


COMO SE EU FIZESSE PARTE DISSO AQUI

Quando chego, à cidade me recebe Como se eu zesse parte disso aqui Nas esquinas, um bando de gente-máquina Faz a guerra ao brilho dos automóveis De onde eu venho, o dia é manso E a tarde é branda E há no ar, um cheiro forte de capim Aos domingos, aos bandos, as andorinhas Fazem festa ao dia que amanhece Ah! Quem te esquece não conhece A beleza que amanhece Junto ao sol do interior E no contraste dessas ruas Feias, negras, sujas, cruas Mora o próprio desamor


sonhar

Estamos nus e a parreira está seca. Bom momento pra começar a pensar

Ninguém sonha teus sonhos.

em como se vestir de novo.

Porque não sonhas os de outros.

Com que roupa nós vamos?

Sonha o teu, em tí, sozinho, que ao longo de teu caminho,

- Onde? Pra história, pegar o bonde.

alguns de teus sonhos esbarram em outros que se escancaram sonhando em tão parecido. Aí então é sabido que os sonhos dessas encontranças Meu deus eu não sei onde mora, forjam caminhos e tranças meu deus eu não sei onde vive. do teu destino parido. Meu deus é o de bom que aora, de todos os deuses que eu tive.

Ídolos foram-se embora, o esperançar sobrevive .


E encontra teus mares para os novos ‘desbravares’. Para todos cultivares, mares

que na busca onde andares tiveste em agreste regar.

Não há caminhos que não levem ao mar. Há mais distantes. Tantos caminhos pra se desbravar.

Pois o regar, é sabido, tem gosto de riso sofrido. Vem dele o saber escondido

Bem mais que antes. sentido no seu mergulhar. Irás saber no enquanto caminhas, que o prazer doce-frutado de suas vinhas, valoram dores, tão danadas, tão daninhas, cultivo eterno, em eternos caminhares. E quando parreira forte, acha teu norte.


e o pai ca aqui tomando cachaça tocando viola... o pai nunca foi na escola, o pai se criô em arrimo. que sorte a desses minino que hoje aprendeu a sê gente. no meu tempo? – Diferente. era bem menor a esmola. enquanto brigava com a vida, virei povo, virei lida, tomei pinga e coca-cola.

e hoje eu tomo cachaça, e hoje eu toco viola. passando na vida que penso, pensando na vida que passa. que o que passou, que passamos, grude nos sonhos mundanos dos sonhos de nossos mininos. fazendo lá, seus distinos. e façam. porque hoje pode. porque zemos poder. Poder... mas um dos que não te fode.


todos os dias cortinas

acordo em zeta, trabalho em beta,

Não fechemos as cortinas

e me inspiro em alfa.

para as coisas cristalinas, para o lume das retinas,

afeto ao alfabeto,

para o ato de olhar.

mas sempre depende do trajeto...

Antes, las escancaremos.

Eu morro

Pra crer em tudo que cremos,

de inveja

e mais que crer, arquitetar,

do teu bem.

claremos clarar profundo.

Mas só

Pra iluminar nosso mundo

quando

e refazer novo olhar.

ele te tem... Não sou nada do que convém.


feeling Pássaros desajustados ambientais, fazem ninhos em samambaias e caixas de correio. Mas não é em qualquer casa. Só na que a aura vaza em brasa de canto-auteiro. Onde alma chega primeiro. Em casa com cheiro de ninho, de gente mais passarinho. Que um dia, vai que ele some... vai embalar seu ovinho, e o lhote não morre de fome.


chuva passarinha

Ai essa chuva mansinha num tardim de tardezinha e lá no fundo o sol descendo - logo ali num tá chovendo.

Per meios.

E essa chuva passarinha descarada aqui se aninha

Permeie o impermeável,

num chover de entristecendo.

entenda o indescritível. O indescrito se sente bem antes de ser-se crível. E só depois de mostrar-se eterno, etéreo e falível, se faz descrito e visível.

penetre o impenetrável. A alma de Gaia no mínimo sua samambaia


ego Sei lá onde se encontram certas coisas que tão desesperados procuramos. Sei lá se procuramos com certeza... Sei lá se tão queremos nosso intento. Sei lá se assim não vai meio que ao vento, sem tento e sem virtude de nobreza. Seremos probos homens que ansiamos? Buscamos isso em nossa natureza? Ou o ego é constrói o movimento?


O CORONÉ E O XÔ MINERADORAS!!!! - Coroné, o que é que passa de tanta terra nesses trem? - Levam montanhas de Minas, já num carregam ninguém. Carregam uns diabo duns troços que acharam no nosso chão, que em cada tanto de Poços que passa em cada vagão,

Porque esse 'poder, pode tudo'

leva carne, deixa os ossos,

só pode pro povo que é mudo.

buraco e devastação.

Eles diz lá pro povo

E do jeito que a coisa tá

que dispois faiz tudo de novo.

a Prata vai viajá

Como se o chão num tivesse

logo,logo,nesses vagão.

a base da vida que cresce

- Mas Coroné, alí num pode não!

por cima da casca do ovo.

- Podê inté pode meu o.

Tempos moderno minino.

Vai dependê é dos brio

Ninguém é mais passarinho...

que o home tem no seu chão.


oncotô

eu tou no corpo no cheiro do gado morto tou no reto e tou no torto tou no porto, na enseada,

Cafelância

Queria um bule de café desses que a gente punha sobre a chapa quente no braseiro do fogão. Já pretejado

no cheiro da madrugada tou na seca da cacimba, tou no golinho de pinga que a gente brinda pro santo no galo que solta o canto e vai botá homi na lida tou no casqueiral da vida tou no cheiro desse horto.

num verde meio azulado um opaco no esmaltado de um desenho de São João. E o café fresco ia cheirando na cozinha e toda vida que se tinha ao redor do casarão. Vinha no cheiro de uma prosa consentida num falar de toda vida cafelando o coração.


terno quente

Pra ele é tudo uma gostosa safadeza Pra ela é um jeito especial de se entregar Pra ele é a dama, a que ama, a que prende, e que na cama vez em quando surpreende. Pra ela é o terno,

bucaneiro

que no inferno, é terno quente,

Venham os vendavais turbulentos.

Pois mares bravios e ventos, que esse vivente mereceu se desfrutar. meus tentos ensinam a domar. Careço de nau indomável. Preciso do insuportável. Pois mares em vã calmaria repetem a mesma poesia. Não levam a nenhum lugar.


meus mares

meus mares são de navegar à deriva, mijar na ponta da ogiva. às vezes acalmam, mas sempre é tormenta.

não sabem de coisas de rotas seguras. naufragam suas próprias loucuras, turbilham, empalmam, até a nau arrebenta.

E quantas naus meus machados terão que forjar? - Quantas entregue ao mar.

Em cada nova que eu crio vai mais robusto o navio. Meus mares vão me navegar.


Cachorro de muito dono

Mas o menino da Maria fuma pedra, seu prefeito. Senhor acha que isso tá direito? Róba as coisa da famia,

E a Maria já num sabe

some lá pro m do dia

a quem socorre esse malfeito.

e só vórta daquele jeito.

Já tentou um certo empreito:

Se ela fala o bicho some, tá de bando com uns home

Procurô lá no bispado, que mandô pro delegado,

de entorná o trem do sujeito.

que por lei lhe pôs rejeito.

Doutô, com todo o respeito:

Que essas coisa de criança

As Maria e os menino

era pra ver com a vereança,

merece no seu distino

o Promotor, e o home eleito.

gurino mais perfeito.

Tô sentino é abandono, seu prefeito. Cachorro de muito dono morre cego e sem patrono pois ninguém cuida direito.


em armas

Severina morte

Forjo o brasão de meu escudo

Quando eu morri não tinha leito.

na honra de minha comenda.

Morri ali no corredor.

Não desfrutai meu veludo

O adaputa do prefeito

se honra é brasão que se renda.

internado cumas dor

Meu heráldico saúdo:

tava na tal da suíte

Dinheiro só compra tudo,

com crise de apendicite,

se tudo estiver a venda.

a mando do governador.

fusa

Mas eu morri foi ali mesmo onde a atenção vem ao esmo

À mulher e sua fusa,

de onde mais geme na dor.

sempre lhe peça uma dança.

Morri morte de desvalido.

Nunca lhe basta ser musa,

Em estado de desassistido,

e a dona da tua lembrança.

de vivente sem valor.

Tem que voar nas colcheias.

Que na morte em solidão

Se arriscar em suas teias,

merece nem a atenção

mais bemol que sustenido.

do atestado do doutor.


as frias estrias das noites frias,

Fases

esgarçam peles macias. Quantos quartos de lua tenha quente a tua. velucia feita em trama estreita à luz da lua.

tem uma quarto crescente? E uma minguante que mingua, minguará eternamente? E quando cheia, se enche de mais do que só solada? Ou crescente vira em nova, dileta, crua e abusada!? Lua. De vidas fases. Fases. De vidas-Luas Vida. De luas e fases.


vírgulas

Ai, as vírgulas mal colocadas. Caem na frase, caladas, com ares de bem situadas. Mas nas viagens aladas

bacamarte

das leituras assustadas, fazem bagunças danadas. Traiçoeiras, essas vírgulas. Tropeços por nossas estradas.

aquilo deu meio que um espanto... saudares de acalanto. escancarou-o de um tanto prostrou-o na beira do mar num esperar de navios. de seus canhões sem pavios nos seus porões sem navios, lhe assopra uma brisa a brisar. Brisa tudo, bacamarte. vela em navio que parte nunca se a em voltar.


bullyings retrô

Pobre Sambalelê. Doente, cabeça quebrada, e ainda receitam palmada. - Barra da saia pisada. O gato, apesar da paulada, sobreviveu, não morreu. Chica pirou no berrô. - Crueis bullyings retrô. Chinelos, varas de marmelo, modas de anquinhas, pavor de caretas. Bois de cara preta, ninando meu sono e meu medo. Segredo de tempo-espaço. - Mariquinha, tem dó de mim! - Mariquinha, me dá um abraço.


parolun felinus Ok, encaremos os fatos: Hoje eu converso com gatos. De ratos, de coisas que rendem, e tão de louco esses meus atos, eu acho que eles me entendem. Me entendem, dos jeitos dos gatos que sempre nos surpreendem. Fazem o que lhes dão nos tratos. Dão de fato, não se vendem. Quando ternos, tão por perto. Quando espertos, ganham o mundo.


serenar a besta

sereno no feno de leve na neve a alma me escreve e eu jĂĄ vou responder. de senos e plenos leve Nureyev leveza que deve ditar o viver. dizer de tristeza quando alma de triste lembrar que persiste a razĂŁo afetiva A besta que mora no ser da sua palma se nutre da alma que vocĂŞ cultiva.



Nasceu em São João da Boa Vista, dia 06/02/1958. Seu pai cuidava da subestação da Companhia de Energia Elétrica que ficava na esquina da antiga Leco, e eles moravam numa casinha nos fundos. Mais ou menos uns seis anos depois, mudaram-se para uma casa da família, na Vila Santa Terezinha (perto da antiga Fiatece), onde cresceu, se criou e virou gente (segundo suas palavras). Fez o pré-primário e primário no Colégio das Irmãs que existia na Rua Wandenkolk, o ginasial no Colégio Santo André e de lá, foi para o “Ginasinho” . Terminou na Escola de Comércio. É filho de Palmira da Silva Entratice e Ferdinando Entratice. Sua mãe faleceu quando ele tinha 5 anos de idade. É o caçula e único homem numa família de 8 irmãos. Então, costuma dizer que perdeu uma mãe e ganhou sete. - Com muito orgulho...(diz com ênfase). Em 1978 foi para São Paulo. Em 1981 voltou para São João, quando entrou na Caixa Econômica Federal, e partir daí já rodou bastante por conta da carreira profissional. Hoje, aposentado da Caixa, está de volta a São João. A música e a poesia sempre foram constantes em sua vida. Tem uma vasta obra de muita sensibilidade. Além de ser um violeiro de primeira linha e cantor dos bons, faz músicas e poemas que generosamente reparte com seus amigos.. Será sempre nosso amigo «Passarim». José Fernando aos 8 anos de idade


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