O PRANTO DOS INOCENTES Não há como explicar psicologicamente as cenas mostradas pela televisão de crianças chorando quando a seleção brasileira perdeu a chance de disputar mais um título mundial. São ridículas e patéticas essas cenas quando produzidas por adultos. Os adultos estão inseridos em um mundo no qual o desenvolvimento até certo ponto psicológico é compatível com seus desejos e anseios por aquilo que entendem como uma válvula de escape para suas emoções. Esses fatores (todos e quaisquer relacionados em busca de prazeres materiais) estão fortes e consolidados nas pessoas de maioridade, porque nelas a formação mental ou intelectual encontra-se completa, ou seja, passaram das fases infantil/adolescência. Independente do grau de instrução escolar, o adulto determina-se com o ambiente de sua escolha porque nele a capacidade de raciocinar é completa pela experiência dos anos. Pouco importa se suas deduções estão erradas ou certas, pois o que ele deseja é justificar-se perante si mesmo.
A situação inverte-se quando se trata da criança que, inserida no mundo fático do adulto, por vontade e desejo deste, ela mergulha de corpo e alma para elaborar tarefas de natureza física e mental, sem que esteja previamente preparada para tais misteres. Uma criança introduzida nos afazeres dos adultos é como uma fruta arrancada do galho prematuramente: a casca pode dar aparência madura, mas seu miolo é verde e duro e com o tempo vai apodrecendo. Na árvore, lentamente amadureceria. Em uma de suas preleções sobre o tema, o escritor Abdrushin admoesta: "...Nas crianças o espírito ainda não desabrochou, sendo principalmente ainda dominadas por sua espécie enteálica, e por essa razão não podem ser consideradas de pleno valor entre os adultos". Embora as crianças saibam, mas não tenham a completa capacidade de raciocínio de que os adultos devem protegê-las, estes se aproveitam da ingenuidade daquelas para alimentar e promover seu orgulho e suas vaidades. Com isso, roubam das crianças as verdadeiras experiências para as quais nasceram: viver a plenitude da infância e o autêntico desprendimento da adolescência. O pranto das crianças no exemplo do futebol é apenas um dos episódios deprimentes das centenas de atividades profissionais ou recreativas. Como se não bastassem essas indevidas intromissões nos âmbitos profissional/lúdico, as proles, ao deixarem a infância e ingressarem na adolescência, são mentalmente massacradas pela sobrecarga de entulhos disciplinares, alguns inúteis na prática da vida adulta. Estresse infantil é um fato. Para, a educadora Simone Helen Drumond, "as crianças em razão do estresse que vivem os adultos, por contaminação criam na sua mente cheia de fantasias um verdadeiro mar povoado de monstros ciclópicos".
Moral da história: "A infância tem seu próprio modo de ver, pensar e sentir, e nada é mais tolo do que tentar substituir o que é deles pelo que é nosso" (Emile Rosseau).
Fonte: http://www.jornaldebeltrao.com.br/colunista/comportamento-humano/9100/o-pranto-dosinocentes