Publicação Mulheres na Arquitetura

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MULHERES NA ARQUITETURA Grupo de Trabalho Mulheres na Arquitetura Edição Encontro Estadual dos Arquitetos


| REALIZAÇÃO |

| PATROCÍNIO |

Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas

| APOIO |

SECRETARIA DE CULTURA

São Paulo, Novembro de 2015 Esta publicação foi produzida especialmente para o Encontro Estadual dos Arquitetos e Urbanistas. Para conhecer outras experiências do grupo “Mulheres na Arquitetura” acesse: www.sasp.arq.br


PARA QUE UM GRUPO DE TRABALHO SOBRE

MULHERES NA ARQUITETURA? No início desse ano a Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres divulgou um relatório que aponta que em todo o mundo, em média, os salários das mulheres são 24% inferiores aos dos homens na mesma função. O estudo também mostra que 50% das mulheres com idade para trabalhar fazem parte da população ativa enquanto, no caso dos homens, esse índice é de 77%. Mas o problema não fica por aí. A pesquisa também revela que, nas atividades domésticas, as mulheres trabalham quase duas vezes e meia a mais que os homens. É justamente porque as mulheres ainda ocupam os empregos com menores remunerações e menos qualificados e continuam vivendo em condições mais precárias que criamos o Grupo de Trabalho Mulheres na Arquitetura do SASP. Os direitos econômicos e sociais das mulheres são limitados porque um mundo machista promove práticas discriminatórias. Criamos esse grupo para, mais que refletir, atuar contra essas práticas, principalmente na categoria de Arquitetura e Urbanismo.

Grupo de Trabalho sobre Mulheres na Arquitetura do SASP nasce para contribuir na luta das mulheres, com ênfase na categoria de Arquitetura e Urbanismo e suas relações de formação e trabalho

primeiro, trazer visibilidade em relação à opressão de gênero para que essa seja desnaturalizada; em um segundo momento, a conscientização, levando em conta a observação cotidiana e as evidências temporais para entender a raiz da situação; a busca de proposições como ferramentas práticas de ação em caso de opressões, no campo restrito e no legal (desde aconselhamentos de como agir caso um preconceito seja perpetrado em ambiente de estudo e ou trabalho; à propostas de leis para paridade salarial entre os sexos); e, enfim, alcançar a igualdade de gêneros através do empoderamento dessas mulheres, para que reconheçam e lutem contra as opressões diárias impostas pela profissão e pela sociedade, de maneira geral. O grupo é aberto e tem como público-alvo arquitetas e estudantes de arquitetura e urbanismo. As reuniões ocorrem toda primeira segunda-feira do mês. O local desses encontros é rotativo como forma de facilitar a participação das pessoas. Para saber onde será a próxima reunião acompanhe nosso blog no site do SASP: www.sasp.arq.br. Lá você também pode ler relatos e conteúdos debatidos nas reuniões.

Os objetivos são divididos em quatro instâncias: Grupo deTrabalho Mulheres naArquitetura

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Cenas do Cotiniano Machista da Arquitetura

CENAS DO COTIDIANO MACHISTA NA ARQUITETURA Cartunista: Arquiteta Mariana Mariano

Para contribuir com esse projeto, seja mandando relatos, ou se disponibilizando para produzir charges e ilustraçþes, entre em contato pelo e-mail: grupodetrabalhodegenero@gmail.com

GT Mulheres na arquitetura

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MACHISMO NA ARQUITETURA Campanha “Cenas do Cotidiano Machista na Arquitetura”, lançada pelo GT Mulheres na Arquitetura do SASP, alerta para situações de assédio moral e abuso de poder vividas por mulheres arquitetas

Estamos vivendo em uma época na qual podemos enxergar algumas conquistas feministas, entretanto, há muito o que se fazer para atingirmos, de fato, algo próximo da igualdade entre os gêneros na sociedade.

No dia a dia do trabalho, ou da faculdade, a arquiteta se depara com diversas situações machistas, ou seja, situações na quais ela sofre abuso de poder, moral, ou preconceito, pelo simples fato de ser mulher.

No âmbito da arquitetura não é diferente. Vemos mulheres se destacando na área, entretanto os nomes de maior reconhecimento ainda são de homens. Nas faculdades a maioria das obras e vidas estudadas são de homens. Considerando que a participação da mulher na arquitetura não é pequena, representando 61% do total de profissionais em atividade, podemos constatar que há uma clara injustiça sobre elas (nós).

Infelizmente muitas dessas situações passam despercebidas por quem a pratica e também por quem sofre com elas. Pensando nisso, o Grupo de Trabalho Mulheres na Arquitetura do SASP (Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo) lança o projeto “Cenas do Cotidiano Machista na Arquitetura”, que consiste em charges ou ilustrações mensais com o objetivo de desnaturalizar

tais situações e contribuir com a conscientização e empoderamento das mulheres. As charges são ilustradas por mulheres e os fatos são baseados nas vivências das profissionais e estudantes de arquitetura. A arte que acompanha esta matéria ilustra um exemplo comum observado em relatos de arquitetas que participam do GT. Muitas vezes as contribuições dadas por mulheres, em determinadas situações de trabalho, são ignoradas pelos(as) líderes, sendo que a mesma sugestão vinda de um homem é ouvida e até mesmo bem aceita. Isso mostra que a cultura de silenciar as mulheres se reflete no âmbito profissional, a ponto de nossos ouvidos, inconscientemente, selecionarem o que ouvirão e de quem ouvirão. Temos consciência de que embora a identificação de uma discriminação de gênero por si só não resolva o problema, é uma premissa para que possamos cobrar mudanças.

Grupo deTrabalho Mulheres naArquitetura

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EFERVESCÊNCIA DA QUESTÃO DE GÊNERO Parcerias do SASP com outras entidades buscam fortalecer o papel das arquitetas e das mulheres na sociedade

O Grupo de Trabalho Mulheres na Arquitetura do SASP mantém importantes parcerias com outras entidades sindicais, como a das engenheiras e engenheiros, que desenvolvem importantes ações no tema. A Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (FISENGE), por exemplo, já incorpora a temática feminista em suas ações por meio de uma diretoria relacionada aos direitos trabalhistas da mulher. A diretoria criada pela FISENGE visa definir políticas de gênero dentro dos sindicatos de engenheiros, ampliar a

participação das profissionais no movimento sindical e o número de filiadas, pautar os direitos de gênero nas negociações realizadas pelos sindicatos, incentivar a participação das engenheiras nas mesas de negociação e contribuir e participar das lutas das mulheres trabalhadoras.

(FeNEA), o que tem contribuído para a criação de coletivos locais em inúmeras universidades pelo Brasil. Observamos também uma ampliação no número de pesquisas, trabalhos finais de graduação, dissertações e teses chamando atenção ao papel da mulher nas mais diversas áreas de atuação na arquitetura.

Alegra-nos identificar que a criação do GT do SASP se insere em um contexto de emergência desse debate na arquitetura. Presenciamos, recentemente, a criação de um coletivo de mulheres na Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura

Neste sentido cabe destacar a importante contribuição das pesquisas elaboradas pelo grupo “Arquitetas Invisíveis”, com o qual estamos muito felizes de iniciar uma parceria visando fortalecer o papel das arquitetas e das mulheres na sociedade.


ARQUITETURA E MULHERES, UMA RELAÇÃO DESIGUAL Pesquisas sobre a relação entre arquitetura e gênero apontam: seja no exercício da profissão ou mesmo na realização de projetos arquitetônicos e urbanísticos, mulheres sofrem com machismo institucionalizado Essa mudança no perfil dos profissionais também se reflete em pesquisas. Cada vez mais, cresce a produção de trabalhos acadêmicos que discutem arquitetura e gênero e de grupos de trabalho e pesquisas, como o do SASP, que apesar das dificuldades encontradas, produzem relevantes materiais para combater a falta de informações e os preconceitos.

A estudante de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Telmi Adami, por exemplo, conta que já realizou duas iniciações científicas sobre o assunto: uma sobre a área profissional das mulheres na arquitetura e outra sobre história e ideologia. Uma de suas queixas sobre a produção de conhecimento nessa área Grupo deTrabalho Mulheres naArquitetura

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é que, embora haja extensa bibliografia internacional que abarca diferenças salariais, premiações e invisibilidade da mulher arquiteta, o Brasil ainda carece de materiais, embora esteja dando passos para constituir mais investigações sobre o tema. Outro ponto lembrado por Adami é que o arquiteto homem, como figura máxima de um escritório de arquitetura, infelizmente, ainda é muito divulgada entre o meio e endossado por instituições e premiações, como, por exemplo, o Pritzker, que conta apenas com Zaha e Kazuyo na premiação anual desde 1979; ou mesmo em capas das principais publicações de arquitetura.. “O que gera isso é, realmente, o machismo, um carma da nossa sociedade que ainda se arrasta, apesar das inúmeras conquistas das mulheres desde a década de 1960”, afirma a estudante. “Encaramos diversas desigualdades e a mais latente é a salarial, porque vivemos em uma sociedade capitalista. Quando falamos que as mulheres não ganham premiações, que elas não têm cargos representativos dentro de entidades como o IAB, o

CAU e o SASP é uma coisa. Mas dizer que, ainda hoje, as mulheres ganham metade dos salários dos homens - ou até menos -, é algo que deixa as pessoas chocadas”. Outra pesquisa importante realizada na área é a da arquitetura e urbanista Terezinha Gonzaga, autora do livro “A Cidade e a Arquitetura Também Mulher”. Em seu trabalho, fruto de seu mestrado e doutorado, a conclusão é que, mesmo em projetos de habitações de interesse social (HISs), a mulher não é levada em consideração desde suas necessidades mais básicas. “No ímpeto de reduzir custos, não se planeja adequadamente as cozinhas e as áreas de serviço. Comprime-se esses espaços ao máximo, justamente o espaço que muitas mulheres utilizam para realizar atividades domésticas. Mulheres obesas, por exemplo, não cabem nessas áreas, já que é apenas um corredor estreito; outros não têm ventilação cruzada e, ao cozinhar, acaba-se engordurando todas as roupas. Muitas HIS precisam sofrer reformas devido a essa falta de planejamento”, analisa ela.

“Em nossa sociedade, o trabalho doméstico acaba ficando a cargo da mulher e isso não é visto pelos arquitetos e pelo governo”, lembra Gonzaga. “Fazem uma compactação absurda da área de serviço. As crianças não têm espaço de lazer. As escadas exteriores desconsideram que as mulheres sobem com sacolas e bebês e tantas outras coisas não lembradas. Projetar também é um ato político”. Outro ponto que a pesquisadora levanta em seu trabalho é quanto ao desenho urbano servindo para reforçar as desigualdades de gênero. “O direito à cidade esbarra na violência de gênero e no assédio sexual, mas nos projetos urbanos não se leva em consideração os problemas do zoneamento, que não garante segurança. Por isso, as mulheres precisam andar em grupo, já que o direito de ir e vir ainda não está garantido. O zoneamento deveria ser misto. Além disso, temos o problema do transporte público: os itinerários de muitas linhas de ônibus não perpassam postos e creches. Muitas mulheres têm que andar várias quadras para levar o filho para uma creche ou ao médico”.


A opinião é compartilhada pela arquiteta e urbanista Marina Rago. “Percebe-se que aqui há uma maior impermeabilidade à crítica feminista, mas que parece estar sendo dissolvida recentemente com pesquisas pontuais que dão visibilidade às arquitetas e às questões de gênero no planejamento urbano”, afirma ela. Rago realizou uma pesquisa sobre as mulheres periféricas na cidade, a partir da seguinte constatação: há forte presença de mulheres nos movimentos de moradia, onde “percebem sua voz, sua força, todo o seu potencial reprimido pelos homens, mulheres, familiares, por elas mesmas”. “Nos movimentos sociais elas encontraram espaço para discutir problemas de gênero, de violência sobretudo, e puderam lidar com essas questões. Mas militantes e arquitetas que se engajaram também construíram um trabalho dentro dos movimentos para que essas conversas ocorressem. Não é simplesmente por estarem muitas mulheres juntas que se tratava de um movimento feminista. Muitas mulheres também são machistas,

infelizmente. Mas a situação dentro dos movimentos era e é muito propícia para este debate”. Um ponto a ser destacado são os constantes ataques aos direitos e liberdades fundamentais das mulheres, que estão sendo realizados recentemente pelo Congresso Nacional, considerado o mais conservador desde 1964. Terezinha Gonzaga considera importante ocupar esses espaços de disputa do poder para realizar discussões como essa – ou, ao menos, impedir mais retrocessos para as mulheres. “Hoje, falar de gênero é visto como uma ideologia, mas o patriarcado também uma ideologia”.

feminista’ que estamos vivendo no Brasil espero que este debate ganhe cada vez mais espaço dentro e fora dos movimentos sociais”, diz Marina Rago. “Até um momento que não será mais tido como um problema ‘das mulheres’. Tratase de uma mudança que a sociedade precisa incorporar e uma nova cultura, com preconceitos e atitudes, em que cada um também precisará se reinventar”.

Para Telmi Adami, a cultura machista permeia as relações sociais no Brasil e deve ser combatida. “Isso tudo acontece simplesmente pelo de sermos mulheres. Produzimos o mesmo, estamos em todas as áreas, mas, com esse machismo escancarado, a mulher arquiteta não ganha o mesmo salário, muitas vezes justificado pelo fato delas engravidarem”. “Agora com esta ‘primavera Grupo deTrabalho Mulheres naArquitetura

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| REVISTA DO GRUPO DE TRABALHO MULHERES NA ARQUITETURA |

| SINDICATO DOS ARQUITETOS NO ESTADO DE SÃO PAULO |

Presidente | Maurílio R. Chiaretti Diretor Vice-presidente | Guilherme Carpinteiro de Carvalho Diretor Administrativo | Wagner Domingos Diretora Financeira | Cintia Teixeira Zaparoli Diretor de Assuntos Jurídicos e Legislativos | Victor Chinaglia Junior

de

Estudos

Diretora Técnica de Estudos e Pesquisa | Ana Gabriela Akaishi Diretor de Cultura e Comunicação | Alcides Luis Moraes de Barbosa Diretor de Relações Sindicais e Institucionais | Eder Roberto da Silva Diretor Adjunto Financeiro | Marco Antônio teixeira da Silva Diretor Adjunto de Assuntos Jurídicos e de Estudos Legislativos | Thiago Guedes Font Diretor Adjunto Técnico de Estudos e Pesquisas | André Luís Queiroz Blanco Diretora Adjunta de Cultura e Comunicação | Laisa Eleonora Marostica Stroher


Diretor Adjunto de Relações Sindicais e Institucionais | Bráulio Cardinal Duarte Campaña

Diretor Regional Adjunto | Adelino Fontana Junior

Conselho Fiscal | Ailton Pessoa de Siqueira

Diretor Regional Adjunto São josé do Rio Preto | Ricardo Fernandes Adreano do Couto

Adjunto Conselho Fiscal | Gerson Geraldo Mendes Faria

Diretor Regional Adjunto Baixada Santista | André Rogério de Santana

Adjunto Conselho Fiscal | José Miguel dos Santos

Diretor Regional Adjunto Barretos | Carlos Américo Kogl

Diretor Regional Bauru | Eraldo Francisco da Rocha Diretor Regional Ribeirão Preto | Jadiel Wylliam Tiago Diretor Regional São José do Rio Preto | Kedson Barbeiro Diretor Regional Baixada Santista | Paulo André Cunha Ribeiro

Diretora Regional Adjunta Grande São Paulo | Gabriela Gonçalves Franco Diretor Regional Adjunto Alto Tietê | Claudio Pereira Coelho Diretor Regional Adjunto Presidente Prudente | Dilson Luiz Leite

Diretora Regional Barretos | Ana Luisa Miranda Diretor Regional Grande São Paulo | Lício Gonzaga Lobo Júnior

| EXPEDIENTE |

Diretora Regional Campinas | Laura Reily de Sousa Diretor Regional Vale do Paraíba | Walter Brant Zaroni de Paiva

Textos | Ana Júlia Fanton, Ana Teresa Carvalho, Gabriela Franco, Laísa Stroher, Paula Rodrigues, Roney Rodrigues

Diretor Regional Presidente Prudente| Carlos Alberto Baroza Guimarães

Diagramação | Ana Teresa Carvalho

Diretora Regional Bauru| José Afonso Barbosa Condi Grupo deTrabalho Mulheres naArquitetura

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