sinep #2
SINEP ANO 1
EDIÇÃO
FEVEREIRO
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ESTRANHAMENTE FAMILIAR As “estranhezas” aqui presentes passeiam deliberadamente entre coisas, pessoas, eventos e situações. Somos tentados a concluir que aquilo que é 'estranho' é assustador precisamente porque não é conhecido e familiar. O estranho não é simplesmente o que provoca terror, mas também é algo que foi familiar e não o é mais, porque foi reprimido, tornou-se oculto. E é algo que foi oculto e também não é mais, porque emergiu, escapou à repressão. É evidente, portanto, que devemos estar preparados para admitir existirem outros elementos, além daqueles que estabelecemos aqui, que determinam a criação de sensações estranhas.
zer algo a di m e t m é você tamb certamente de ouvi-lo s o m a í r a t s certeza go a a d o t m co
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CONTATO
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A caminho do trabalho esta manhã, presenciei alguns fatos peculiares que despertaram minha atenção. Logo de princípio, ainda dentro do carro, vi um ônibus lotado. Trabalhadores de diversas regiões da cidade amontoavam-se literalmente dentro do veículo. Pensei: "tenho uma leve impressão que a mais bela ciclovia da região (nobre) não surtiu efeito na melhora do transporte público, que por sinal, anda com um preço levemente "salgado", até mesmo para mim que sou um homem de condição financeira elevada". Não menos peculiar, a situação seguinte gerou, digamos, certo desconforto em minha pessoa. Notei que pedintes de diversas idades e etnias, mendigavam migalhas entre os transeuntes nas redondezas do prédio onde se situa meu gabinete. Novamente um pensamento veio a tona: "Homens e mulheres semelhantes a mim mendigam, enquanto outros homens e mulheres semelhantes a eles esbanjam". Pensei até em twittar esse pensamento, mas me lembrei ao longo do caminho que desigualdade é algo natural. Ao adentrar o prédio, dois pequenos detalhes me levaram a outra conclusão. O primeiro foi o jornal que trazia em destaque a demora para ser atendido nos centros de saúde/hospitais da rede pública, e o outro, foi a saudação feita por um de meus funcionários "Bom dia, Doutor". Logo as coincidências contraditórias me despertam: "Como posso eu ser Prefeito de Campinas, Ex-Deputado Federal, Professor Universitário e por último e mais notável ainda Médico, aceitar este tipo de acontecimento? Digo, o Doutor não anda cuidando da saúde? Que estranho!" Notei a dificuldade que seriam as horas seguintes do meu dia. Com todas essas idéias malucas que andavam me cercando, novamente surgiu a dúvida e o estopim estava aceso: "Isso contradiz e muito a minha campanha e tudo o que havia prometido na época das eleições, isso faz o lema criado pelo meu governo parecer até mesmo uma sátira, "PRIMEIRO OS QUE MAIS PRECISAM". Em minha opinião essa frase não condiz em nada com a política da minha cidade. Estranho! Aliás, pensando bem, por que só sou surpreendido por esses pensamentos após quase 8 anos de mandato? Esquisito, eu, uma pessoa muito bem orientada e lúcida, parando para pensar em coisas tão banais e corriqueiras. Realmente isso é muito estranho!!!
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Créditos
REFERÊNCIA
gpáginasg Introdução - inspirada em Sigmund Freud
1 I l u s t r a ç ã o
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v e n
Gummo - Harmony Korine 2 3 Ilustração / Alex Passos / Texto Dr. H
I l u s t r a ç ã o
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b e k a 4
5 Teste de Rorschach / brunodois
Y u m e - A k i r a K u r o s a w a 6/7 8/9 I l u s t r a ç ã o / Te x t o / c a l v i n
A Reprodução Proibida - Magritte 10 11 T r i â n g u l o
de
I l u s t r a ç ã o
Penrose /
y u r i 12
‘‘Era uma história bastante ingênua, mas o estranho efeito que produzia era notável’’.