Revista Época

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Nota 10 para

Tocantins Como a parceria entre uma ONG, o governo estadual e municípios colocou o mais jovem estado do país no mapa do ensino de qualidade p or

R en é Da n i el De col

ALUNOS NA SAÍDA DO COLÉGIO São José, em Palmas, no Tocantins: a parceria pela educação vem gerando resultados concretos, de dar inveja a outros estados 40

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FOTO_Claudio Rossi/Editora Globo: edição de imagem_marcelo biscola

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ocantins, o estado mais jovem do Brasil, costuma ser pródigo em más notícias. Seu Indicador de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dos mais baixos da federação: se fosse um país independente, perderia para Jordânia, Irã, Azerbaijão, Jamaica, Vietnã e Turcomenistão. O norte do estado abriga bolsões de pobreza de arrepiar. Na região do Bico do Papagaio, entre Maranhão e Pará, 12 pessoas, na maioria crianças, ficaram cegas há dois anos, após ter contato com as águas do rio Araguaia. Suspeita-se do parasita trematóide, transmitido por caramujos. Mas há uma área na qual o estado vem se destacando, e muito: na educação pública. Parte da explicação é a política - ou melhor, a ausência da política onde nomeações são usadas habitualmente como moeda em troca de apoio eleitoreiro. A atual secretária de educação do estado, Maria Auxiliadora Seabra Rezende, mais conhecida como professora Dorinha, de 44 anos, assumiu o cargo em 2000, quando a então titular se ausentou para disputar um

cargo eleitoral. Dorinha era uma técnica competente e mostrou-se à altura do desafio. Tanto que tem sido mantida no cargo ao longo das três últimas administrações, algo tão raro que hoje é a secretária da educação mais antiga no país. Depois de sua chegada, as escolas nos municípios ganharam autonomia para administrar seus recursos e mestres, pais e alunos tornaram-se co-responsáveis pela gestão escolar. Dorinha também foi bem-sucedida ao se cercar de ONGs competentes para assessorála na hercúlea tarefa de erguer quase do zero a educação do estado. O resultado está em indicadores de fazer inveja a outros estados, como um salto espetacular no percentual de alunos em nível adequado de aprendizagem ao final da 4a série: de 5% em 2003 para 91% em 2007 (veja quadro abaixo). Um dos principais parceiros pela educação no Tocantins é o Instituto Ayrton Senna (IAS), criado por Viviane Senna, irmã do piloto. Voltada para o treinamento de professores da rede pública, a organização vive dos royalties do licenciamento da imagem de Ayrton e do personagem Senninha,

e de contribuições de empresas como Microsoft, Vale e Unibanco. Apesar de ser uma organização do terceiro setor, o instituto funciona exatamente como uma consultoria de gestão de negócios: faz diagnósticos, propõe soluções, dá treinamento de pessoal, mas não executa diretamente os projetos. As próprias secretarias e escolas colocam a mão na massa. “Conseguimos colocar 97% das crianças do país em sala de aula, mas a qualidade despencou: as crianças não aprendem, repetem ou saem da escola”, diz Viviane. É um desperdício estimado em mais de R$ 10,5 bilhões por ano. “Pior do que o desperdício de recursos, é o desperdício dos oito anos de vida mais importantes na formação de milhões de crianças.” Seu objetivo ao criar o instituto, em 1993, era encontrar formas de combinar qualidade em educação com impacto em grande escala: “Fazer projetos no varejo é bonito, mas não é relevante para o tamanho dos problemas que temos no Brasil”, afirma. O IAS administra cerca de R$ 16 milhões por ano e, desde sua criação, já aplicou mais de R$ 161 milhões no treinamento de professores do Centro-

O SALTO DE TOCANTINS

Alguns indicadores mostram como o estado vem conseguindo, em pouco tempo, resultados expressivos na educação

91%

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100

Alunos aprovados ao final da 4ª série

Número de livros lidos por ano 99%

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Alunos com nível adequado Alunos com distorção de aprendizagem (4ª série) idade/série (1ª a 4ª série)

83%

VIVIANE SENNA (centro) com a diretora Margareth Goldemberg e a coordenadora Inês Kisil: o instituto trabalha como consultoria de gestão

32% 17%

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Média nacional

Média em Tocantins*

fonte _MEC, Fundação Carlos Chagas, Instituto Ayrton Senna

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CRIANÇAS NO cantinho da leitura (à esq.) e Maria Auxiliadora, a professora Dorinha, secretária de educação mais antiga do país: ela aceitou soluções vindas de fora e soube se cercar de ONGs competentes

SALA DE AULA EQUIPADA com mapas e outros materiais (à esq.) e o aluno Sidney Sinparte (abaixo), índio xerente: as escolas adotam soluções simples para estimular o aprendizado e valorizam a cultura local

Oeste, Nordeste, São Paulo e Tocantins. “Formulamos soluções simples que podem ser replicadas pelo país afora”, diz Margareth Goldenberg, diretora executiva do IAS. “O professor tem de estar na sala de aula, tem de ter material de ensino de boa qualidade e seus resultados tem de ser monitorados.” A administração da ONG é enxuta. Cerca de 60 profissionais, como a coordenadora Inês Kisil, administram o trabalho de 70 consultores independentes em diferentes estados. A organização investe praticamente tudo o que arrecada nos programas educacionais. “Temos um custo operacional baixo, de apenas 9%”, diz Margareth. “O grosso, 91% da nossa verba, chega diretamente ao públicoalvo.” Também como uma consultoria de negócios, é nos números que o instituto gosta de exibir resultados: em Pernambuco, onde começou a atuar em 2003, investiu R$ 7 milhões na capacitação de professores. Com a melhoria do ensino, houve queda na repetência, o que representou uma economia de R$ 150 milhões para os cofres do estado. No caso de Tocantins, a parceria começou há cinco anos, quando o estado adotou o Se Liga, programa que 44

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O IAS investe 91% de sua verba no público-alvo atende crianças com dificuldade de alfabetização. O instituto entrou com sua tecnologia pedagógica, treinamento de professores e material didático. Com isso, os resultados têm sido surpreendentes: o índice de crianças com defasagem escolar entre a 1ª e a 4ª série caiu de 32% em 2003 para 17% em 2007. O programa também tem como meta um número determinado de leituras anuais: 30. Mas a garotada não se contentou e ultrapassou o objetivo, cravando a marca de 37 livros. Em 2004 foi iniciado o Acelera Brasil, cujo objetivo é reforçar o aprendizado formal, concentrando todo conteúdo de quatro anos em apenas um. A aprovação tem sido igualmente alta. A meta de leitura anual também foi superada: era de 40 li-

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vros, mas os alunos acabaram lendo 56. O Se Liga e o Acelera se tornaram políticas públicas, adotadas também em Goiás, Pernambuco, Paraíba, Sergipe e Mato Grosso. Mas é em Tocantins que o instituto produz seus resultados mais visíveis.. Na Escola Estadual Antônio Benvindo da Luz, em Tocantínia, uma hora ao norte da capital Palmas, é possível encontrar professores motivados, crianças interessadas e salas de aula equipadas, ainda que de forma básica: três mapas pendurados na parede - um do estado, um do Brasil e um mapa-múndi -, um relógio (tipo “cebolão” de ponteiro) e o “cantinho da leitura” - uma mini-biblioteca com os livros preferidos (clássicos como João e o péde-feijão, Flicts, de Ziraldo, e dicionários). Os mapas servem para introduzir o conceito de vista superior ou vertical, fundamental na matemática e na geografia, e o relógio induz a dimensão de tempo e fusos horários. Quando o professor usa esse material simples para estimular a curiosidade das crianças, elas acabam no cantinho da leitura, o que estimula o gosto pelo aprendizado. A rigor, a maioria das escolas do país tem este kit básico. No entanto,

poucas a usam no dia-a-dia, por mais tacanho que possa parecer. “Muitas diretoras escondem o material porque acham que as crianças vão estragá-lo”, diz Gisela Wajskop, doutora em educação pela Universidade de São Paulo e de Paris, ex-assessora do Ministério da Educação na gestão FHC e diretora do Instituto Singularidades, especializado na formação de professores. Em outras escolas, esse equipamento básico é mantido em salas especiais, ou na biblioteca, longe da visão das crianças. É um erro. Mapas não servem apenas para o ensino burocrático de geografia. Servem também para estimular a inteligência. Douglas Bezerra de Lima, de 12 anos, é aluno do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência, em Lajeado, 60 quilômetros ao norte de Palmas, onde participa do programa Acelera. Adora futebol e é capaz de localizar no mapa-múndi os países onde jogam seus ídolos. “O Kaká joga bem aqui, ó”, diz ele, apontando para Milão, na Itália. Ele pode repetir a façanha com cada um dos jogadores brasileiros atualmente no exterior, de Robinho a Alex. O campo de futebol, por sua vez, é um excelente artifício para estudar geFOTOs_rene daniel decol

ometria. É com soluções simples, mas inteligentes, que o instituto consegue se diferenciar de tantas outras ONGs que trabalham em educação no país.

quadro negro “A qualidade do ensino no Brasil é tão ruim que a perda entre primeira e oitava série chega a 41%”, diz Viviane. “E, sem o domínio da língua e da matemática, essas crianças não vão poder participar de uma economia globalizada”. A perda mencionada por Viviane é resultado do seguinte cálculo: considerando-se a população brasileira como um todo, cerca de 3,3 milhões de crianças deveriam passar a cada ano pelo primeiro ano do ensino fundamental. E, se tudo desse certo, outros tantos deveriam chegar à oitava série. A realidade é que, devido à repetência, há quase o dobro, 5,7 milhões na primeira série - 2,3 milhões a mais do que o que seria de se esperar pela idade. Outros tantos continuam empacados nas séries seguintes. Na média, uma criança leva 10,8 anos para concluir o ciclo, que deveria levar apenas oito. “Não é difícil convencer os empresários da gravidade da situação”, diz Margareth. “Basta comparar, por

O que é o Instituto Ayrton Senna Principais característas da organização que ajuda a melhorar a educação em Tocantins >>Organização não-governamental que oferece consultoria em e d u c a ç ã o f u n d a m e n t a l p a ra

1.360 municípios. Alguns de seus projetos foram adotados como políticas públicas em Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Pernambuco >> Vive de recursos próprios (100% dos royalties de licenciamento da imagem do piloto Ayrton Senna e do personagem Senninha) e da contribuição de empresas >> Gerencia um orçamento anual de R$

16 milhões. Em 14 anos, R$ 161 milhões em

já aplicou

treinamento de professores >>Um de seus principais projetos, o Se Liga, de combate ao analfabetismo no ensino fundamental, já treinou 4 mil professores

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promoção congestionada O fluxo escolar deveria ter a forma de um cone. Mas, devido ao mau desempenho, virou uma pirâmide, com milhões de alunos retidos

exemplo, com um fabricante de geladeiras onde, de cada 100 produtos, 40 não passassem no controle de qualidade.” A origem do problema está, em parte, no crescimento quantitativo do contingente de crianças que a escola teve que acolher. Eram 12 milhões em 1970, quando o país tinha 90 milhões de habitantes. Devido ao crescimento demográfico (a população brasileira dobrou de tamanho desde então, ultrapassando os 180 milhões), à urbanização intensa e às campanhas de inclusão escolar, hoje são 35 milhões de alunos. Nesse contexto, indicadores positivos chamam atenção – como ocorre em Tocantínia, ao lado da única aldeia xerente do país. Ramo da família Jê, há apenas 1 624 índios dessa etnia no Brasil, segundo dados do anuário indígena do Instituto Socioambiental. As crianças xerentes representam cerca de 20% dos alunos da escola Antônio Benvindo da Luz, a única de Tocantínia, e freqüentam as aulas com disposição: dizem saber que sem domínio do português e da matemática não terão nenhuma chance no mundo lá fora. Ao mesmo tempo, garantem adorar a vida indí-

gena de “pescar, caçar, andar no mato”. Aldair Sremtowe é um xerente de 11 anos. Por falar a língua materna em casa, sua alfabetização em português estava capengando. Foi colocado, então, no programa Acelera, do Instituto Ayrton Senna. Agora Aldair não só lê com fluência como foi cativado pela leitura. “Tô levando livro para ler em casa”, diz. Sidney Sirnapte, outro jovem índio de 12 anos, gosta de ler e, como prefere dizer, “produzir textos”. Obra preferida? “Aldeia Sagrada”. Sonho? “Melhorar a vida na aldeia”. Os xerentes, que foram “descobertos” apenas em 1937, pelo antropólogo Curt Nimuendaju, um explorador alemão que chegou ao Brasil em 1903, produzem um artesanato extremamente elaborado com palha dourada, um material natural da região. Colares, cestos e bolsas são disputados nas butiques chiques de artesanato solidário em São Paulo e Rio e nos lugares de veraneio da moda como Trancoso, na Bahia. Aldair e Sidney têm suas tradições valorizadas na sala de aula. Outro rincão ermo de Tocantins só recentemente incorporado ao mapa econômico do país é Arraias, no sudeste do

estado. Arraias é mais velha que muitas capitais importantes das Américas. Ali os portugueses descobriram ouro no começo do século 18. Com o fim do ciclo do metal, a região foi abandonada à própria sorte. Luciano Alves de Araújo, 12 anos, aluno da segunda série da Escola Estadual Brigadeiro Felipe, de Arraias, é freqüentador do programa Se Liga. “Quero ser advogado quando crescer”, diz. O Se Liga parece ter despertado seu interesse pela escola. “Gosto muito daqui”, diz. A mesma disposição aparece na conversa com Felipe Sodré de Moura Rodrigues, aluno de 12 anos da Escola Estadual Silva Dourado, também de Arraias, participante do programa Acelera. “Antes eu não sabia muitas coisas”, afirma. “Agora tô aprendendo demais.” “A realidade destas crianças é bem difícil”, diz a professora Liz Adriana, de 33 anos. Ela conta que o pai de Luciano saiu de casa atrás de trabalho e ele mora só com a mãe. “Em casos assim é fundamental resgatar a auto-estima da criança, que já não acredita mais em si mesma.” Aliás, o trabalho ali pode ser sintetizado em uma fórmula: elevar a auto-estima do aluno e do professor em

Os alunos avançam O percentual de repetência caiu nos 1.360 municípios em que o programa Acelera Brasil foi implantado. Alguns exemplos:

Altamira (PA)

Sinop (MT)

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Teresina (PI)

São Vicente (SP)

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*Redução na distorção idade/série* (1ª a 4ª série do ensino fundamental)

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2007 fonte _Instituto Ayrton Senna

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uma região onde falta tudo, a começar por identidade e marcos históricos. Liz Adriana é também diretora regional de ensino e supervisora direta de 11 turmas em seis municípios. “A parceria com o Instituto Ayrton Senna tem contribuído para melhorar a educação do estado como um todo”, afirma. “O sistema de monitoramento, acompanhamento e supervisão funciona muito bem.” O resultado é que os municípios de Lavadeiras, Combinado e Novo Alegre corrigiram a distorção idade/série e seus alunos já ultrapassaram coleguinhas em estados ricos como São Paulo.

inteligência Ser gestor público de educação requer mais do que dedicação: é preciso estar atualizado sobre cognição e inteligência - campos que tem avançado com a velocidade de uma Ferrari -, e acima de tudo, ter comprometimento com resultados de longo prazo. “As poucas escolas públicas de qualidade no Brasil são administradas por um educador, e não por um cabo eleitoral”, diz o consultor Celso Antunes. “São profissionais, e não figuras itinerantes e inconseqüentes.” O retrato cabe como uma luva à professora Dorinha. Natural de Goiânia, formada em pedagogia, assumiu a diretoria da Universidade do Tocantins (Unitins) em 1991. No final de 1996, foi nomeada para um cargo técnico na Secretaria de Educação, chegando ao comando da pasta em 2000. “Quando assumi, Tocantins estava no último lugar no ranking nacional na avaliação do ensino básico, tanto em português como em matemática”, diz. As falhas estavam concentradas entre a primeira e a quinta série. “Passei o ano seguinte procurando formas de sanar o problema.” Dorinha foi atrás de instituições com larga experiência em ensino: o

3.180.616

8ª Série

3.476.179

7ª Série

3.891.386

6ª Série

4.520.875

5ª Série

4.146.400

4ª Série

4.177.063

3ª Série

4.417.501

2ª Série

5.724.541

1ª Série

O Brasil colocou 97% das crianças na escola. Se o sistema funcionasse direito, 3,3 milhões de alunos passariam pela primeira série e chegariam à oitava. Devido à repetência, 5,7 milhões continuam no primeiro ano (2,4 milhões a mais do que o esperado pela idade) e outros tantos ficam retidos nas demais séries. No total, a perda é de 41,3%

fonte _INEP/Censo Escolar 2005

Conselho Britânico, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Ayrton Senna. Parte do segredo dessas organizações é um sistema detalhado de indicadores e acompanhamento. Um método tão simples quanto eficiente, que já está sendo adotado pela secretaria de educação de Tocantins para o conjunto do estado, consiste em fazer avaliações mensais de cada uma das turmas envolvidas nos projetos especiais. Todo dia 10, impreterivelmente, uma planilha eletrônica contendo informações como número de faltas dos alunos e dos professores, lições de casa não feitas, e livros lidos é enviada por e-mail para Palmas. A seguir, as coordenadoras, reunidas em uma espécie de central da inteligência na sede da Secretaria, detectam se há alguma falha no sistema. Se houver, ela é localizada e diagnosticada - muitas vezes enviando-se a coordenadora para a sala de aula em questão para entender a origem do problema. O método funciona tão bem que já foi adotado como política pública em outros estados. Outro princípio é a autonomia. “A escola sempre foi um espaço disputado por políticos, pois dispõe de grande número de empregos e recebe

recursos financeiros significativos”, diz Dorinha. “Mas aqui não há ingerência política.” Em Tocantins, os 25% do orçamento do Estado que, segundo a Constituição, devem ir para a educação, vão integralmente para a garotada. “Em outros lugares, costuma-se incluir nessa conta itens como o ensino superior.” Com foco, o estado já conquistou avanços importantes. Seus professores estão entre os mais bem pagos do país. Por ser a secretária de educação há mais tempo no cargo no Brasil, Dorinha assumiu a presidência do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). Durante sua gestão, Tocantins foi o estado que mais avançou no Sistema de Avaliação da Educação Básica. Em português, a rede estadual teve desempenho próximo ao do Rio de Janeiro. O mais interessante é que, no lugar da rejeição habitual a um corpo estranho, o sistema público do seu estado está incorporando as inovações vindas de fora, como aquelas criadas pelo Instituto Ayrton Senna. “Quando há uma parceria entre ONGs competentes e um governo bem intencionado, a educação pode funcionar”, diz a especialista Gisela Wajskop.

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