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www.campoverdenews.net.br
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S E O C OM
E N E V TÁ A
o dia 05 de março de 2014, a Venezuela lembrou um ano da morte do líder Hugo Chávez com passeatas e muitas homenagens para o líder que hoje é tratado de forma
messiânica pelo governo e pelas camadas mais pobres da sociedade. Definitivamente o clima do país um ano após a queda de seu líder é de total tensão, com violentos protestos, guerra entre governo e oposição e índices econômicos cada vez piores. o governo Maduro vive um período de complicada gestão.
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berimbaunoticias.blogspot.com
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O G U H Z UE L A DA e R A
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Crise social e inflacionária A Venezuela vem apresentando sintoma de profunda crise interna, ao mesmo tempo em que o país vem comprovando ter, talvez, a maior reserva de petróleo do mundo. Uma dúvida surge: como um país que possui tanto petróleo aparece em crises de falta de alimentos e água? O sistema implantado na América do Sul, chamado de Novo Socialismo, aumenta a importância e o poder do Estado na economia, garantindo assim um maior controle dos processos, e quase inevitavelmente chegando a casos de abuso de poder. O controle estatal elevou muito os custos do governo e a crescente indústria petrolífera ainda não acompanha os gastos do governo. nesse caso, é como se o governo não conseguisse pagar as próprias contas. A falta de alimentos e água fez com que os mercados que ainda possuíssem reservas desses produtos elevassem os preços. Nesse momento a crise inflacionária estava dando as boas vindas. No ano de 2013, a inflação da Venezuela foi a maior em 20 anos, chegando a incríveis 56,2% .
http://www.el-nacional.com
A saída foi importar esses produtos. outro problema apareceu, o bolívar (moeda venezuelana) é muito desvalorizado em relação ao dólar, tornando os produtos importados muito caros. Com a imprensa sofrendo repressões do governo e o canal estatal mostrando uma realidade melhor que a vista nas ruas, a tensão e os protestos começavam a tomar corpo.
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Novos planos econômicos O governo Maduro implantou em janeiro algumas novas propostas para diminuir os problemas venezuelanos. A primeira medida para diminuir os problemas venezuelanos foi a Lei de preços justos, pela qual foi estabelecido um teto de 30% de lucros para os empresários. Essa medida pode abaixar os preços em um curto espaço de tempo, contudo, afasta os investimentos no país e pode comprometer o crescimento do PIB, que foi de 1,6%, enquanto era esperado um crescimento entre 4% e 5%. A outra medida foi chamada de Sicads (Sistema Complementar de Administração de Divisas ). Esse programa regularia o valor do dólar comercializado no país e estabeleceria um valor baixo para setores estratégicos, como o de alimentos. Depois dos protestos, o governo anunciou o Sicads II. Agora será possível adquirir títulos da dívida externa venezuelana e receber os lucros em contas fora do país. A intenção é aumentar o volume de capital no país e garantir novamente o abastecimento completo de itens essenciais.
Um fevereiro para esquecer A situação ruim logo levou a oposição e parte insatisfeita da população às ruas. Os protestos do dia 12 de fevereiro de 2014 foram o marco desse novo momento. A oposição liderada por Leopoldo López se reuniu na praça central de Caracas e foi duramente repreendida pela polícia, deixando três mortos, dezenas de feridos e presos. O presidente Nicolás Maduro afirmou que os protestos eram uma tentativa de golpe de Estado e mandou cortar os suprimentos de gasolina para as áreas em que estavam ocorrendo os manifestos estudantis. Após novas mortes ocorrerem, incluindo o assassinato da modelo
Génesis Carmona, que tinha vencido o concurso de Miss pelo Estado de Carabobo, o apoio aos protestos cresceu e forçou o governo a tomar novas posturas em relação a isso.
noticias.r7.com
Por Cláudio Hansen
Maduro preparou um “acordo de paz” entre governo e população, e o concorrente de Maduro nas últimas eleições, Henrique Capriles, boicotou o acordo. Mesmo não chegando a um parecer com a população, Maduro preparou mudanças para diminuir a crise econômica e a insatisfação popular.
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Futuro do Novo Socialismo na América Latina veja.abril.co
A Venezuela é a principal representante da nova postura socialista na América Latina, e a sua situação de crise coloca o próprio sistema em dúvida. A oposição afirma que o país não pode defender de Maduro até 2019 (ano em que seu mandato chega ao fim) e precisa retirar o líder do seu posto. A sociedade internacional condenou a violência e mortes na Venezuela, organizações como a ONU e a OEA (Organizações dos Estados Americanos) pediram o fim da violência e o começo do diálogo.
Os EUA se manifestaram contra o uso abusivo de força do Estado venezuelano, em contrapartida Maduro afirmou que um dos grandes incentivadores dos protestos é o próprio governo americano. Obama condenou as afirmações e mais uma vez as relações entre os EUA e a Venezuela ficaram abaladas. O que constatamos é que o governo Maduro passará por grandes dificuldades para manter o poder de forma pacífica. A solução a longo prazo seria deixar o setor industrial e de petróleo mais dinâmicos na economia mundial, assim o governo poderia garantir os serviços básicos da população e diminuir a insatisfação.
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Por: Rodrigo Arantes
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ei que essa declaração, de tanto ser proferida, virou “frase feita”. Mas é com ela, no entanto, que inicio esta conversa. Não raro me pego refletindo sobre estas palavras, pois remetem à minha trajetória acadêmica. Bernardinho é um multicampeão! Colecionou títulos como jogador e ainda o faz, agora como treinador. Liderou uma geração que revolucionou seu vôlei através de conquistas expressivas e tornou-se referência, sobretudo, em obstinação, motivação e foco. Em sua biografia “Transformando suor em ouro”, relata momentos de sua trajetória e reforça sua paixão pelo trabalho, demonstrando que ter objetivo é primordial para se alcançar os mais altos patamares da profissão. Recomendo a leitura àqueles que buscam saber um pouco mais sobre a carreira e a vida de vitórias desse grande esportista brasileiro. Mas você há de pensar: afinal, o que as palavras de Bernardinho têm a ver com a rotina de estudos? E eu respondo a você: tudo! Anos atrás, eu almejava uma oportunidade de ingresso em uma faculdade pública/federal tradicional. Minha rotina de estudos, no entanto, não era tão definida. As “oportunidades” de dispersar-me eram tantas
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e tão agradáveis que por diversas vezes cedi aos encantos das famosas “peladas” na quadra próxima à minha casa, às saídas noturnas – que terminavam apenas no dia seguinte – e ao entretenimento do videogame. Estudar acabava ficando em segundo lugar, numa vida cheia de planos e pouco tempo para fazer tudo simultaneamente. Meu irmão mais velho, e talvez meu maior incentivador, percebeu que era necessária uma preparação melhor e me sugeriu a matrícula em um pré-vestibular, embora meu pai preferisse uma carreira em âmbito militar – o que, realmente, não era minha opção. Inicialmente hesitei, contudo, logo entendi a necessidade. Iniciado um curso pré-vestibular, a cada aula o desespero parecia maior. Sentia como se tivesse dormido durante anos e, ao acordar, tudo tinha mudado. Fórmulas, textos, formas... Tudo parecia acontecer rápido demais diante dos meus olhos, e isso, aliado a minha rotina pouco disciplinada de estudos, fazia com que a equação “pouco estudo + muita dispersão = insucesso acadêmico” fosse uma constante para mim durante algumas semanas.
Chega a ser cômico recordar minha sensação no primeiro simulado do pré-vestibular. Desastroso? Assustador? Frustrante? Nem sei ao certo o adjetivo que poderia descrever melhor a sensação de saber que se é um dos piores da turma. O choque foi traumático e demorei algum tempo para perceber. Pois é, tempo demais, pois quando resolvi abrir os olhos eis que era chegada a data do vestibular. Foi um verdadeiro turbilhão! Sentia-me um passageiro da agonia: sem preparo, sem organização... Sem foco! Ah, e ainda tinha que escolher o curso! Curso? Que curso? A vida real era dura demais para mim; e eu acordara há pouco. Saber qual carreira seguir seria um luxo àquela altura! Cheio de dúvidas, pensava em Biologia, Educação Física, Serviço Social... Cheguei a me submeter a um exame de qualificação para Desenho Industrial. Recordo-me de ter feito provas para UERJ, UFF, UFRJ, UFRRJ e UNIRIO. Os dias de prova eram terríveis e a falta
de preparo adequado me fazia sentir como se caminhasse rumo ao calvário. Ao mesmo tempo dizia para mim “muito conteúdo” e “prazos apertados”, e essas expressões serviam como desculpas para desviar o foco dos maus resultados. “Vencer será consequência da boa preparação!”. Não foi exatamente isso que pensei ao olhar para trás e perceber que havia desperdiçado o ano de 1997. Mas há algo nestas palavras que trazem à tona o sentimento de que desfrutei ao olhar para 1998 e pensar que aquele seria o meu grande ano.
Tomei em minhas mãos uma folha de caderno e anotei cada elemento que acreditava ser importante para meu progresso: com estudos e que me fariam ter sucesso no vestibular. Leitura de artigos, revistas e jornais passou a ser parte da minha rotina. Busquei detalhes sobre as profissões para identificar aquilo que realmente pudesse me satisfazer. Estruturei um plano de estudos; estabeleci metas e comecei a cobrar-me com base nos objetivos traçados. Com a rotina reorganizada, pude aumentar o tempo investido naquilo que me proporcionaria chegar aonde queria. Não teve
jeito: foi necessário reduzir o tempo do lazer e entretenimento. Mas, no final, vi que havia tempo para tudo – ainda que mais para umas coisas e menos para outras –, só que de maneira estruturada e organizada. Mais um ano e mais uma tentativa no pré-vestibular. A sensação no início não era boa, já que era uma nova semelhante à rotina, que vivi no ano anterior. Mas a angústia que senti foi sendo eliminada aos
poucos à medida que os simulados iam acontecendo, a confiança aumentava. Já não era mais um dos últimos e ia crescendo a vontade de melhorar. Aos poucos fui tomado pela vontade de aprender mais, conseguir fazer mais, chegar mais longe. O gosto pelos estudos ia crescendo e me fazia bem a sensação de me sentir preparado, de conhecer, afinal o conhecimento, uma vez construído, é o nosso maior bem. Posso dizer que estudar deixou de ser uma rotina e passou a ser um natural compromisso comigo. Já não mirava mais a prova. Meu foco era o conhecimento. Era dele de que precisava. O bom desempenho seria consequência!
Naquele ano – 1998 –, me candidatei a vagas do curso de administração na UERJ, UFRJ, UFRRJ, UFF e CEFET. Sentia que era o meu momento! E cada vez mais debruçava-me sobre a tarefa de aprender. Nos finais de semana, tirava algumas horas de descanso. O futebol fazia falta às vezes... E o videogame? Ah... O videogame! Este também fazia falta. Mas minha escolha já havia sido feita: queria a aprovação no vestibular! Após as provas é sempre grande a ansiedade. A minha parecia querer saltar os limites do corpo. Entretanto, o resultado não poderia ser outro: aprovado para a Universidade Rural do Rio de Janeiro! A resposta ao meu empenho de um ano inteiro chegou com um delicioso sabor de dever cumprido. Ainda vieram as aprovações para a Universidade Federal Fluminense e Centro Federal de Eduação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. Esta última foi a minha opção e foi a instituição onde me formei em Administração Industrial. Depois da graduação, vieram os cursos de aperfeiçoamento e a pós-graduação, que contribuíram para o desenvolvimento de uma trajetória profissional sólida. Ninguém nasce predestinado a algo. Seja um esportista, um advogado, um administrador ou um médico, todos passaram pelas cadeiras de uma escola que lhes fornece a base para estruturar seus sonhos. O desafio do vestibular é o primeiro degrau desse desafio. Para ser bem-sucedido, é essencial estar pronto para as dificuldades que se apresentam. Por isso, planeje-se, tenha foco! Seja automotivado! Não espere que alguém desperte o interesse pelo estudo em você; faça você mesmo. O seu sucesso está em suas mãos! Segure-o firme!
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O novo episódio do país que foi construído com guerras Por Cláudio Hansen
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mundo mais uma vez passa por um turbilhão de protestos e tensões políticas internacionais. Dessa vez o epicentro da crise é a Ucrânia. A situação é tão complexa que as notícias que ouvimos e lemos abordam tantos aspectos e trazem opiniões tão adversas. Que nossa compreensão sobre o que de fato acontece no país é comprometida. Somente quando buscamos a raiz dos problemas e a posição da Ucrânia das relações internacionais europeias, começamos a ter uma noção da importância geopolítica do país. Vamos entender por que as notícias que chegam da Ucrânia falam em confrontos entre a população e a polícia; em busca por democracia; União Europeia; commodities; Crimeia e para alguns, uma Nova Guerra.
“A Ucrânia sabe defender-se, a nossa história é feita de guerras”
História e força da Ucrânia O desconhecimento sobre a História do Leste Europeu, muitas vezes só ligado à Rússia, fica evidente quando não enxergamos a raiz dos problemas atuais. A Ucrânia possui uma longa jornada de guerras e massacres, e o que destacamos como um traço marcante em todos os períodos de grande dificuldade é a força da população ucraniana diante das crises. Nas palavras de Oleksandr Nikonenko, embaixador da Ucrânia em Portugal, “A Ucrânia sabe defender-se, a nossa história é feita de guerras”, tais palavras se justificam quando Editora Maria Anézia entendemos melhor o país. O território ucraniano é e sempre foi alvo de muitos interesses internacionais, a simples observação do mapa começa a nos mostrar por quê. A Ucrânia é o maior país totalmente europeu, além disso, a sua posição extremamente centralizada a torna um divisor entre o Leste e o Oeste. Por essas razões, o território, que hoje é ucraniano, sempre foi considerado estratégico, o que fez dele o território mais cobiçado do mundo no século XI (na época era chamado de Principado de Kiev).
Do ponto de vista natural, a Ucrânia possui um destaque mundial quando o assunto é agricultura, pois conta com grande presença de Chernossolo (Tchernozion), considerado o melhor solo para agricultura do mundo. Juntando a fertilidade natural do país, a presença de grandes espaços de relevo aplainado e o extenso território, a Ucrânia é considerada o celeiro da Europa (em 2011 foi a 3ª maior produtora de grãos do mundo), sendo muito importante para os países tanto da União Europeia quanto do antigo bloco soviético. Tantos pontos importantes no mesmo país fizeram da Ucrânia o palco de muitos conflitos. Pensando apenas nos mais “recentes”, vemos que a incorporação da Ucrânia à antiga URSS foi extremamente danosa aos ucranianos.
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A difícil conquista do próprio território: entre soviéticos e nazistas
Não bastando o genocídio da população, os soviéticos atacaram a base cultural da Ucrânia, eliminando pessoas influentes na tentativa de impedir que o sentimento nacionalista aflorasse. Nesse contexto, estimativas apontam para o assassinato de mais de 4000 professores, ou seja, aqueles que possuíam poder de ensinar os valores e a cultura ucraniana. Tal momento foi acompanhado de uma enxur-
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http://www.matrixgames.com/ Modificado por Editora Maria Anézia
rada cultural russa, com livros e quadros espalhados pelo país e com a imposição do aprendizado do idioma russo. A situação ficou ainda mais complicada quando o exército nazista de Hitler decidiu atacar a URSS. Esse momento mostrou mais uma vez a força da população ucraniana, pois a resistência que o exército nazista encontrou em Kiev foi surpreendente. Muitos ucranianos chegaram a apoiar a chegada dos nazistas, pois enxergavam ali uma maneira de fugir do domínio soviético, entretanto a extrema violência utilizada, a perseguição contra os judeus ucranianos e a manutenção de políticas como a das fazendas coletivas despertaram mais uma vez a luta do povo contra o domínio estrangeiro. Certamente um dos episódios mais impressionantes da história ucraniana gira em torno de um time de futebol, o FC Start de Kiev. Muitas versões para o jogo apareceram, mas mesmo assim alguns pontos merecem destaques. O time foi formado por exjogadores do Dínamo de Kiev e do Lokomotiv, muitos após retornarem de exílios, prisões e torturas. O time era considerado imbatível, goleava os adversários, incluindo uma vitória sobre a força aérea alemã, o Luftwaffe. Os nazistas pediram uma revanche e dessa vez o jogo não foi da mesma maneira. O árbitro, muito provavelmente oficial nazista, avisou aos jogadores antes do jogo que autoridades nazistas estariam no estádio e que os
jogadores deveriam condecorá-los com o saudar alemão. Ordem não foi acatada pelos jogadores. Em um jogo de extrema violência por parte alemã (o primeiro gol foi feito após o goleiro do FC Start ter tomado um chute na cabeça, e claro que o juiz não marcou falta). Em resumo, além de ganhar o jogo, o FC Start humilhou os alemães quando um jogador driblou todo o time, incluindo o goleiro e, na hora de fazer o gol, parou em cima da linha, virou e isolou a bola em direção ao meio de campo. Tenho certeza que imaginamos o final, a prisão dos jogadores e a morte de alguns deles tornou o episódio um símbolo de heroísmo nacional. Até hoje a estátua dos jogadores mortos é um ponto muito visitado. Obviamente, após os episódios relatados, a população ucraniana era totalmente contrária ao nazismo
http://footysphere.com/
http://russiasperiphery.blogs.wm.edu/
Com a Revolução Russa de 1917, muitos Estados ucranianos exaltavam a sua independência. Obviamente a resposta não foi positiva. O território ucraniano acabaria dividido e uma parte menor dominada por poloneses na porção ocidental e por soviéticos (russos) no restante do país. O domínio soviético logo deixou as suas marcas. Com o grande crescimento industrial da URSS, os trabalhadores rurais ucranianos foram forçados a aumentar sua produção de comida em fazendas coletivas do Estado. Para garantir o abastecimento dos soviéticos, os camponeses ucranianos trabalhavam sob grande ameaça militar e policial, além do fato de só receberem sua comida após abastecer os soviéticos com sua enorme cota de alimentos. Essa política foi chamada de Holodomor (1932-1933) e levou milhões de ucranianos à morte, seja pela violência contra aqueles que se opunham ou pela incalculável fome que se espalhava pelo país e acumulava corpos pelas ruas das cidades.
Ucrânia livre: a formação democrática e os protestos atuais Após o processo de independência, a Ucrânia passou pelo mesmo processo da maior parte dos países que compunham a URSS: forte crise econômica, dificuldades de adaptação a moldes capitalistas, enormes escândalos de corrupção e fraude (herança de poderes conquistados em períodos ditatoriais). Com a estabilidade política e a economia voltando a crescer, a Ucrânia alcançou enfim um período mais calmo, até o ano de 2004. Eleito presidente de uma maneira muito duvidosa, Viktor Yanukovych (o mesmo envolvido nos protestos atuais) foi investigado até que as fraudes eleitorais foram comprovadas. Nesse contexto, uma enorme manifestação pacífica tomou as ruas da Ucrânia, aliada a fortes greves e ao intenso uso da cor laranja (cor da campanha eleitoral da oposição liderada por Viktor Yushchenko). Esse protesto ocorreu em tempo integral, com grande polarização em Kiev, e foi chamado de Revolução Laranja. Mais um elemento da Revolução Laranja foi o envenenamento de Yushchenko, que o impossibilitou de cumprir todos os compromissos de campanha, além de gerar deformações em sua pele. Mesmo assim, Yushchenko assumiu a presidência da Ucrânia.
http://johnsonbanks.co.uk/
Mesmo acusado de corrupção, Viktor Yanukovich conseguiu se eleger de forma democrática e governar entre 2010 e 2014. A grande raiz da crise atual é a posição que à Ucrânia irá tomar, se favorável à União Europeia ou a Rússia. No ano de 2012, Yanukovich deu inicio a um processo de aproximação com a União Europeia
para os protestos. A força do movimento cresceu com a mesma proporcionalidade da violência policial que logo chegaria a um nível inaceitável. O presidente Yanukovich mandou sua força especial, o Berkut, retirar a população da praça Maidan, enquanto assinava um acordo de redução de barreiras alfandegárias com a Rússia.
http://s.webry.info/sp
que exigiu novas posturas da Ucrânia, principalmente em relação a atitudes que violariam o direito básico da democracia. A assinatura do acordo entre Ucrânia e União Europeia estava marcada para o dia 29 de novembro de 2013, contudo, no dia 21 de novembro de 2013, o então presidente Yanukovich afirmou que o acordo não seria tão vantajoso para a Ucrânia e ainda a afastaria dos países do Leste Europeu (com destaque para a Rússia). Sendo assim, estava decidido que a Ucrânia não mais assinaria o acordo com o bloco europeu. A decisão de Yanukovich logo despertou reações na população e uma série de protestos começou no dia 24 de novembro, tomando as ruas de Kiev e se concentrando na praça da Independência (Praça Maidan). Muito importante lembrar que a população ucraniana nunca foi unânime em relação a que lado da Europa a Ucrânia deveria aumentar sua integração; na parte oriental o apoio à Rússia era muito maior. O que fez as manifestações tomarem uma proporção muito maior foi a perseverança dos manifestantes e a resposta do governo aos protestos. Ocupando a Praça Maidan por três meses seguidos, a população enfrentou o frio em temperaturas negativas e a neve por um propósito que chamou cada vez mais pessoas
A pressão popular exigia não apenas a aproximação com a União Europeia, o pedido agora era pela deposição do presidente Yanukovich e de seus líderes aliados. As manifestações evoluíram para invasões em sedes do governo. Nesse momento a violência do governo já tinha registrado as primeiras mortes de manifestantes. Esse era o estopim para um embate mais forte entre população e polícia. A imagem acima deixa clara a tensão existente. Não é difícil imaginar que ninguém queria o confronto direto, mas parecia ser tarde demais. No auge da crise civil, o primeiro ministro Mykola Azarov renunciou ao cargo e esperava que isso fosse diminuir os protestos. Infelizmente não foi suficiente, o alvo era Yanukovich. No dia 22 de fevereiro, alguns órgãos estatais de Kiev foram invadidos e o presidente Yanukovich tinha viajado para a região “russa” da Ucrânia, localizada na parte Leste do país. Tal atitude foi encarada como um “abandono de funções em momentos de crise” e a partir desse contexto um impeachment foi votado e o presidente Yanukovich teve o seu poder cassado e uma ordem de prisão logo seria emitida, acusando-o de crimes de assassinato em massa. A prisão não aconteceu porque Yanukovich, sem surpresa alguma, conseguiu refúgio na Rússia.
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e buscava uma maneira de superar as milhões de mortes que o período trouxe. Sendo parte da URSS até o seu fim em 1991, a Ucrânia adquiriu certa autonomia e até integrou a ONU, contudo o país ainda viveu o maior acidente nuclear do mundo, o episódio com a usina de Chernobyl (1986).
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Esses protestos ucranianos de 2013-2014 ganharam o nome de EuroMaidan em referência ao local dos protestos e à intenção de integração com o bloco europeu. Ao que parece o nome veio de uma hashtag do twitter, #Euromaidan.
http://www.truthinsideofyou.org/
A crise da Crimeia e a tensão mundial em foco Em meio às notícias do conflito na Ucrânia, um novo foco surgiu, a crise na Crimeia, região até então desconhecida para muitos do mundo ocidental. De forma bastante resumida, a Crimeia é uma região autônoma de ocupação majoritária de população russa. O problema é que a península fica ao Sul da Ucrânia e compõe de maneira legal o território ucraniano. Nesse contexto, a dúvida mais comum é: como uma região da Ucrânia é ocupada em grande parte por russos? A resposta é relativamente simples, a Crimeia foi um “presente” do líder soviético Nikita Khrushchev para a Ucrânia no ano de 1954. Nesse momento, a região já era ocupada por russos desde o século XVIII. E os laços entre Rússia e a Crimeia superam a origem da população, giram em torno das necessidades alimentares, militares e comerciais dos russos. Com o clima mais ameno que na maior parte da Rússia, a Crimeia é a grande área produtora de alimentos e provedora de acesso à água não congelada no Mar Negro. Aliás, ao sul da Crimeia, na cidade de Sebastopol, fica a maior base da marinha russa. Analisando rapidamente a ligação entre a Crimeia e a Rússia, fica fácil entender por que o presidente Vladmir Putin mandou tropas para garantir que a onda de aproximação com a União Europeia não chegasse a Crimeia após a queda de Yanukovich.
http://www.energy.org/cat00043206.html
Interferência externa e tentativa de separação da Crimeia Com a justificativa de proteger a população de origem russa, Vladmir Putin aumentou a presença russa na região e apoiou a iniciativa do corpo legislativo local de apoiar a separação da Ucrânia. A postura russa não agradou as potências europeias e os EUA, que enxergaram na atitude russa uma afronta ao território da Ucrânia. Quando a ONU votou a anulação do pedido de separação da Crimeia, o primeiro-ministro, Sergei Aksyonov, afirmou que um referendo pela separação da região poderia ocorrer sem nenhum problema constitucional, mesmo não sendo reconhecido pelo governo central ucraniano. Podemos lembrar que separação parecida ocorreu entre Ossétia do Sul e Georgia (também com apoio russo). A votação ocorreu no dia 16/03/2014 e determinou que a Crimeira seria anexada à Rússia. Com 96,8% dos
votantes a favor, a península se separou do governo de Kiev e passou a prestar contas a Moscou. Entre as maiores mudanças na Crimeia destacamos a adoção do fuso horário russo, o uso do rublo (moeda russa), a expulsão de militares favoráveis a Kiev, o uso de livros didáticos com a visão russa sobre as Guerras Mundiais e a Guerra Fria, construção de uma ponte com a Rússia e a mudança dos passaportes ucranianos para russos. A separação da Crimeia será complicada do ponto de vista logístico, pois a eletricidade e a água consumidas na península têm origem na Ucrânia. Além disso, a Rússia não possui uma conexão física com a Crimeia, somente a Ucrânia possui ligações diretas com a região. Obviamente cada um está defendendo os seus interesses. No caso europeu, o interesse gira em torno da chegada de um novo mercado ao bloco e o acesso à maior fonte de gás da Europa, pois a maior parte dos gasodutos russos passa pela Ucrânia.
http://es.noticias.yahoo.com/
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Essas políticas justificadas pela defesa do povo russo estão aumentando a popularidade de Vladmir Putin, que alcançou 68% na última pesquisa. O líder russo, ex-agente da KGB, superou Obama e foi considerado o homem mais importante do mundo no ano de 2013 (Forbes). Em mais um discurso contra EUA, Putin deu a entender que a defesa do povo é superior ao Memorando de Budapeste, e fez referência a outros desrespeitos internacionais. Provavelmente o discurso do líder russo fazia menção ao desrespeito americano na Guerra do Iraque, pois o Conselho de Segurança da ONU, único órgão realmente deliberativo, vetou o ataque americano e mesmo assim a invasão ocorreu.
Seria essa uma nova Guerra Fria? Precisamos ter muito cuidado com a comparação do momento atual a outras conjunturas. As inúmeras comparações com a Guerra Fria precisam ser analisadas com cuidado. Quais são as semelhanças com o período bipolar vivido pós 2ª Guerra Mundial? Os protagonistas são os mesmos, Rússia e EUA lideram os dois lados do atual conflito da Ucrânia, e desse fato surge a comparação dire-ta com a Guerra Fria, a presença de armas nucleares entre os países envolvidos no conflito e o palco ser um território que pertencia a URSS. Contudo, as motivações indi-viduais dos países não são de cunho ideológico
(imposição de modelos), mas sim por áreas de expansão de influência de força de mercado. Tais pontos nos remetem a momentos como a busca por colônias do Imperialismo, lógica que criou a rede de tensões que culminaram na 1ª Guerra Mundial. http://eugenyshultz.livejournal.com/489425.html
Por parte americana, a intenção é aumentar a área de influência militar, pois a criação de uma base militar da OTAN, lê-se base americana, na Ucrânia, permitiria uma posição muito ofensiva em relação à Rússia. Se um míssil fosse lançado da Ucrânia, alcançaria Moscou em menos de trinta minutos, e isso aumentaria a influência americana contra uma Rússia que recentemente vem se colocando como grande obstáculo para os avanços americanos em países como a Síria e a Coreia do Norte. O discurso americano contra as atitudes russas gira em torno da legalidade de seus movimentos militares, pois, no ano de 1994, foi assi-nado o Memorando de Budapeste entre EUA, Rússia, Reino Unido e Ucrânia. Segundo esse documento, as fronteiras ucranianas seriam protegidas de qualquer ameaça, se a Ucrânia aceitasse entregar o seu grande arsenal nuclear de guerra (entre os maiores da Europa). Na visão americana, os russos não estão respeitando o memorando quando apoiam a separação da Crimeia e ajudam na opressão a militantes pró-Ucrânia na região. Sob ameaça diplomática de ter negociações travadas com o Ocidente, vistos negados e bens de russos congelados no exterior, a Rússia vem avisando que é mais forte que parece e vem deixando aflorar um desejo de criar maiores relações com um bloco euroasiático e diminuir a dependência com o Ocidente. Com manobras muito calculadas, a Rússia enviou soldados sem identificação para a Crimeia, assim não configuraria uma manobra oficial do país. Além disso, pelo acordo militar da base de Sebastopol, a Rússia pode ter vinte e cincomil soldados, logo não estariam cometendo nenhum crime internacional.
Vladmir Putin
Outro ponto a se analisar é que a questão não será resolvida somente por Rússia e EUA, a posição de países como a China será determinante para a solução diplomática ou não do conflito. O mundo de hoje é diferente no que diz respeito à capacidade de expressão (redes sociais) e direitos (governos não ditatoriais), assim parte da população russa pede que o país não entre em novos conflitos, inclusive comparando Putin a Hitler (referência à invasão da Ucrânia) Obviamente esperamos uma saída diplomática, não sabemos se os motivos ucranianos poderiam justificar uma guerra entre as potências. De qualquer maneira, contamos com o período em que as disputas serão meramente questão de conversa e não de imposição militar a custo de vidas.
http://elindalico.es/wp-content/uploads/2014/03/CRIMEA-RUSIA
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1964
cinquenta anos depois
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“Atenção, Brasil! Atenção, Minas Gerais! As tropas do 2º Exército sob o comando do General Kruel já sitiaram o Estado da Guanabara”. Parte 1
por César Menezes
Fonte: http://veja.abril.com.br
Militares ocupam as ruas de Copacabana no Rio de Janeiro. A classe média aplaudiu entusiasticamente aquilo que eles chamavam de “Revolução Democrática”.
O quadro político brasileiro era de um complô civil–militar, cuja origem está na década de 1950 e a trama que possibilitou o golpe costurava múltiplos pedaços: o temor da classe média diante da ascensão do movimento operário, que poderia culminar, a seu ver, na implantação de uma república sindicalista, de tonalidade vermelha; os interesses contrariados de companhias estrangeiras; o moralismo udenista, irritado com a descontração dos líderes sindicais e as constantes denúncias de corrupção na máquina administrativa; a virulência da imprensa, desligada da superestrutura do poder; e a reação da oficialidade à aparente deterioração dos princípios da hierarquia. Sem tiros de canhão, João Belchior Marques Goulart saiu de Brasília, em nervosa viagem aérea, para entrar exilado, no Uruguai, e contraditoriamente na História, deixando atrás de si os destroços da ordem constitucional brasileira. Quarenta anos depois, tentamos reconstituir, nesse artigo, o antes, o durante e o depois desse momento que mudou a vida brasileira.
Os Anos Dourados de JK Entre Vargas e Jango, os dois principais protagonistas das tragédias do trabalhismo brasileiro, o Brasil teve três presidentes eleitos: João Café Filho, Juscelino Kubitschek de Oliveira e Jânio da Silva Quadros. Café Filho completou o período presidencial de Vargas; Jânio tomou posse em janeiro de 61, numa Brasília recém-inaugurada e renunciou espalhafatosamente em agosto do mesmo ano; somente JK foi o único a cumprir integralmente seu mandato, aliás o único presidente civil do Brasil que, após a Revolução de 1930, chegou incólume ao fim de seu mandato. O Brasil de JK vivia efetivamente um período de paz, otimismo e esperança. O Flamengo sagrava-se tricampeão de futebol no Rio enquanto o Corinthians ainda comemorava o titulo do IV Centenário de São Paulo. O secretário geral do PCB, o ex-senador Luiz Carlos Prestes, beneficiado por um “habeas – corpus”, saía da longa noite de seu exílio interno ao mesmo tempo em que os soviéticos lançavam o primeiro Sputinik ao espaço. No Teatro Municipal do
Rio de Janeiro surgia um novo conceito rítmico - melódico para a música popular brasileira: a bossa nova, editada pioneiramente pelo poeta Vinícius de Moraes e pelo maestro Antônio Carlos Jobim na peça musicada “Orfeu da Conceição” com cenários de Oscar Niemeyer, que posteriormente inscreveria seu nome como um dos maiores arquitetos do século XX ao projetar em pleno Planalto Central, Brasília, a Capital da Esperança. Era a euforia. A síndrome do Brasil novo. Tudo parecia colaborar para a boa imagem do governo JK. O teatro nacional projetava novos autores seja através do TBC, do Grupo Oficina de Afonso Celso Martinez Corrêa em São Paulo ou o Teatro de Arena, responsável pelo surgimento de teatrólogos como Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Pontes, Paulo Afonso Grisoli, Armando Costa e o mais festejado de todos, Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha. Os costumes se tornaram mais liberais, uma vez que as mulheres, embora ainda recatadas, começavam a ousar seja no que usavam, seja no que falavam, seja no que ouviam. Desde que Maria Ester Bueno escan-dalizou o mais conservador dos torneios de tênis Fonte: http://terramagazine.terra.com.br
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esta maneira, o “Repórter Esso” comunicou ao Brasil o inicio do mais negro período de sua história.
Criador e criatura - JK diante do Palácio da Alvorada. Brasília, mais do que um sonho foi uma verdadeira obsessão do “Presidente Bossa Nova”.
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O Presidente João Goulart é recebido em Porto Alegre pelo seu cunhado, Leonel Brizola. A ação do governador gaúcho impediu que 1964 ocorresse em 1961.
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final do período juscelinista, o capital transnacional controlar 98% da indústria automobilística, 85% da de fumo, 88% da farmacêutica e 76% da química. A transferência de recursos para o exterior era de grande monta ao passo que a inflação, resultado de uma louca política emissionista, era galopante. Tudo isto mais a obsessão presidencial em construir Brasília tornaram as “Metas” inviáveis, o que, no entanto, não impediram suas realizações, embora a um preço social por demais alto. Os “anos dourados”, por certo, só beneficiaram alguns setores da sociedade. Para outros, o Governo JK não passou de uma ilusão, de uma “belle-epóque” tupiniquim, de um breve sonho de legalidade, que ruiria com a instalação do regime militar. Os anos dourados se tornariam, em breve, os anos de chumbo.
Jânio Quadros e a Vassoura O fenômeno Jânio Quadros é algo até hoje inexplicável na vida recente do Brasil. Inicialmente pode-se tentar justificar sua ascensão pela lacuna deixada no Estado populista desde a morte de Vargas em 1954, uma vez que nem o ex-presidente JK nem o duas vezes vice-presidente João Goulart, o Jango, tinham o carisma e a liderança do “Velho”. Jânio soube, como poucos, capitalizar esses descontentamentos da sociedade e encaixá-los na sua verve demagógica e oportunista. A vassoura ia começar a varrer o Brasil. Jânio foi um homem de fulminante carreira política. De vereador da cidade de São Paulo à presidência, Quadros percorreu todos os cargos públicos sem aparatos partidários. No Planalto, ele alternaria atitudes exóticas – os bilhetinhos, e seus decretos como que proibia a briga de galo, com gestos de um verdadeiro estadista. No plano interno, Jânio deu vazão ao seu mais retrógrado conservadorismo. Entre outras ações, Jânio proibiu a realização de rinhas de galo, aboliu o uso de biquíni em desfiles de beleza e restringiu as corridas de cavalo somente para os finais de semana. O país elegeu alguém que julgava um estadista e o presidente tinha atitude de um delegado de costumes.
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do mundo, Winbledon, usando uma saia bem acima do joelho e Maria Yeda Vargas usando um maiô, mais cavado que o normal, arrancou suspiros de um júri que lhe conferiu o titulo de Miss Universo a mulher brasileira definitivamente não era a mesma. A chegada ao Brasil do Rock in Roll através do filme “A hora do rock” lançava as bases de uma nova juventude que tinha em Elvis Presley e em especial James Dean seus principais ícones: era a juventude transviada. No país começavam a circular os carros fabricados pelas multinacionais, utilizando-se da abundante e barata matéria prima nacional e uma mão de obra contratada a preço absurdamente baixo, se comparados aos salários pagos por essas mesmas empresas, aos técnicos e operários estadunidenses e europeus que trabalhavam em suas matrizes. O governo JK é, pois, marcado por profundas transformações na área econômica e financeira, sintetizadas no “Plano de Metas”, que mostrava a ideologia desenvolvimentista do presidente e fazia do Estado o coordenador do desenvolvimento nacional, estimulando o empresariado brasileiro, como também, favorecendo a entrada de capitais internacionais na forma de empréstimos ou na criação de empresas multinacionais no país. É evidente que os maiores recursos dos grupos internacionais sufocaram a indústria brasileira a ponto de, ao
Jânio condecora o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Ernesto “Che” Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana.
As contradições de Jânio chegavam também ao setor econômico. Embora eleito com o apoio da conservadora UDN, o presidente bloqueia as remessas de lucros internacionais, desengavetando uma lei originariamente enviada ao Congresso por Vargas em maio de 1954. Inaugurou uma política externa independente que se coadunava com a formação de um bloco terceiro-mundista, reatando relações com a União Soviética, com a China, além de se posicionar favoravelmente ao governo cubano de Fidel Castro. O pingo d’água do estremecimento nas relações entre o governo federal e os grupos conservadores nacionais e internacionais foi à condecoração com a Ordem do Cruzeiro do Sul, ao ministro de Cuba Ernesto “Che” Guevara, um ato meramente protocolar, mas tomado como uma provocação pelos setores mais à direita, dentre os quais a UDN. Sem apoio no Congresso Nacional e com sua base política bastante erodida, Jânio surpreende a nação renunciando à Presidência da República atribuindo o ato a pressões de “forças ocultas”. A renúncia refletia o estilo personalista e autoritário do presidente. Ele, na realidade , segundo a opinião quase unânime dos observadores, desejava se manter no poder através de um governo forte com o apoio dos militares. Ledo engano. A surpresa da renúncia causou na sociedade um sentimento de manutenção da ordem constitucional. Rei morto, rei posto. Era hora de garantir a estabilidade democrática dando posse a João Goulart.
Mas foi assim tão fácil? Com sua renúncia, Jânio deu início a uma crise sem precedentes na história do Brasil.
Devido à ausência de João Goulart no Brasil, em razão de sua visita oficial à República Popular da China, assumiu temporariamente a presidência da República, o deputado Pascoal Ranieri Mazzili, presidente da Câmara dos Deputados. Os três ministros militares, Odílio Denys do Exército, Grun Moss da Aeronáutica e Silvio Heck da Marinha, declaram “Estado de Sítio” objetivando proibir toda e qualquer manifestação política. A verdade era que nem os militares nem a UDN aceitavam João Goulart na presidência. Visto como um “perigoso comunista”, Jango na realidade era o herdeiro político de Vargas e da sua política trabalhista, baseando sua liderança nos sindicatos e nas camadas populares urbanas. Entretanto, mesmo que fosse socialista, impedir a posse de João Goulart seria um absurdo completo, pois feria frontalmente a constituição de 1946. A situação tensa do país se agrava. A intervenção em vários sindicatos e a prisão de diversas personalidades, dentre os quais o ex-ministro da Guerra, Marechal Lott, somente porque concedeu entrevistas dizendo-se a favor da legalidade, levaram a uma cisão militar e política. No Rio Grande do Sul, o general Machado Lopes, comandante do III Exército, declara-se favorável à manutenção de ordem constitucional, ou seja, posse de Jango e, juntamente com o governador gaúcho, Leonel de Moura Brizola, convoca as rádios do Estado criando assim a “Cadeia de Legalidade” emitindo notas em defesa da constituição e conclamando o povo a ir ao palácio Piratini defender a posse de Jango. Rapidamente a resistência gaúcha se espalha pelo Brasil e, diante desse fato e do medo que uma guerra civil pudesse transformar o Brasil em uma nova versão da Revolução Cubana, leva o governo dos EUA, através dos seus representantes em Brasília, a tentar dissuadir os ministros militares a aceitar a posse de Jango impondo-lhe
Fonte: www.jblog.com.br
A Crise de 1961 – O breve sonho da legalidade.
Jornal do Brasil, um dos mais importantes periódicos do Brasil na década de 1960, noticia que o país estava em calma, mas os três ministros militares (foto) ainda não havia se pronunciado sobre a proibição da volta e posse de João Goulart.
algumas restrições. A solução teria que partir dos meios políticos e ser aceita pelos militares. Por iniciativas dos deputados Raul Pilla e Plínio Salgado, o Congresso aprova em “Regime de Urgência” uma Emenda Constitucional Parlamentarista que extinguia o presidencialismo, limitando assim os direitos do Presidente da República. Apesar da insegurança que paira em Brasília, com ameaças como a “Operação Mosquito” (que consistia em abater o avião presidencial quando estivesse chegando à capital), João Goulart aceita a solução parlamentarista e é empossado em 7 de setembro de 1961. Estava encerrada a crise, mas ela deixou sequelas. No dia seguinte, em um discreto apartamento da Avenida Atlântica, no Leme, uma reunião entre militares golpistas e empresários preocupados com o governo de Jango marca o início da conspiração que levaria ao 31 de março de 1964.
Outono de 1964 – a segunda tragédia do trabalhismo O trabalhismo brasileiro enfrentou ao longo da história uma série de crises e incompreensões. A primeira grande “tragédia” havia sido o suicídio de Getúlio Vargas em agosto de 1954. Embora, emocionalmente, mais devastadora do que a deposição de Goulart, a morte do “velho” manteve, ainda que combalida, a já frágil democracia brasileira do
pós-guerra. Depois do Golpe de 1964 ,as estruturas do Estado de Direito foram à lona e ergueu-se um regime de força, controlado com mão de ferro pelos setores mais conservadores da sociedade brasileira. Mas, afinal, como se chegou a tal situação? O governo Jango iniciou-se como vimos, com uma enorme crise que acabou instituindo o Parlamentarismo, votado em regime de urgência e o país em Estado de Sítio. O cargo de Primeiro-Ministro é entregue a Tancredo Neves, velha “raposa” política do PSD mineiro. Ex-companheiros no Ministério de Vargas, Jango e Tancredo buscaram um entendimento, apesar de pertencerem a partidos diferentes. O Primeiro Ministro era um político bastante habilidoso, mas não conseguiu pacificar o país, evidentemente dividido em razão da maneira como foi conduzida a crise da renúncia de Jânio Quadros. A UDN via em Jango um inimigo do poder econômico internacional e a esquerda brasileira, que apoiava o governo, entendia o Parlamentarismo como uma maneira de cercear os direitos do presidente. Embora transitório, o parlamentarismo servia como uma forma de restringir a atuação do governo, visando possíveis transformações no país. O plebiscito, que resolveria a continuidade ou não do sistema político vigente, aconteceria em 1965, quando ocorreriam também as próximas eleições presidenciais. É claro que esta “coincidência” de datas não era um mero acaso, e sim uma maneira de tentar exercer o controle sobre o governo.
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Entretanto, a ineficácia do sistema, que teve em pouco mais de um ano, três primeiros-ministros, (depois de Tancredo, vieram os deputados Brochado da Rocha e Hermes de Lima), tornou fácil a Goulart conseguir a antecipação do plebiscito para janeiro de 1963. O resultado não deixava margens para dúvidas ou manobras golpistas, pelo menos por enquanto. A esmagadora maioria dos quase 12 milhões de brasileiros que compareceram às urnas escolheram a volta ao presidencialismo que obteve uma votação expressiva de mais de 9 milhões, enquanto apenas 2 milhões optaram pela continuidade do sistema parlamentarista de governo. Com o retorno do Presidencialismo, Goulart teria em suas mãos as prerrogativas que o parlamentarismo havia lhe tirado, pondo a partir de então uma nova política econômica em funcionamento.
O professor da UFF, Jorge Ferreira, em seu brilhante livro, “Jango, uma biografia”, publicado pela Civilização Brasileira em 2011, afirma que: “o plano visava a um duplo objetivo: de um lado, obter o apoio político dos grupos conservadores e da opinião pública em um momento de transição para o regime presidencialista; de outro, procurava ganhar a confiança dos credores externos, em especial os norte-americanos, assegurando o refinanciamento da dívida externa e permitindo ajuda financeira adicional”. Por outro lado, a política de Goulart, se apoiava no velho trabalhismo, ou seja, sustentava-se na classe operária e nos sindicatos controlados em grande parte pelo seu partido, o PTB. Esta ambiguidade demonstra as contradições existentes no estado trabalhista e o enfraquecem perante os partidos oposicionistas, notadamente a UDN.
A verdade é que o Plano Trienal não conseguiu “decolar”, uma vez que o sucesso do plano dependia primordialmente da capacidade do governo de formar uma coalizão, com base em acordos e concessões entre grupos, que claramente queriam o enfrentamento e não o consenso. Tampouco pode ser considerado um plano articulado com os interesses políticos das forças hegemônicas, o que mostra as dificuldades que o governo teve para sua execução. O fracasso do plano é resultado muito mais no contexto do contexto político da época do que do estruturalismo do seu conteúdo. A rejeição do Plano no Congresso, tanto a esquerda quanto a direita, levaram o governo a assumir compromissos políticos que tornaram inviável a governabilidade.
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É importante ter em mente que o governo Kubitschek, no início da década de 1960, a economia brasileira, que vinha apresentando um viés de crescimento, tiveram em 1962 uma drástica redução do nível de investimentos, o que comprometeu crescimento industrial, levando o país a uma brutal recessão em 1963, o que fez com que a crise política tivesse outro ingrediente que era a crise econômica. A taxa inflacionária chegava ao valor recorde de 51%, enquanto a nossa dívida externa atingia a casa dos 3 bilhões de dólares. Expressa pelo Plano Trienal de autoria de Celso Furtado, ministro do Planejamento, um novo modelo começou a ser gestado, tendo como principais pontos a redução da inflação de 52% para 10% ao ano até 1965, um nível anual de crescimento econômico de 7%, a renegociação da dívida externa e, principalmente, a elevação do nível de investimentos no setor social (Habitação, Saúde, Educação). Ora, é óbvio que, para ser efetivado, tal plano supunha uma série de medidas austeras, como o congelamento dos salários e a contenção dos gastos públicos, além da restrição do crédito e até a contratação de empréstimos externos. É evidente que estas medidas irão contra a classe trabalhadora, já sacrificada pela galopante inflação.
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O plano que não houve
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O legado de Mandela:
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a vida e luta do maior líder sul-africano.
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“A
Educação
é a mais poderosa
arma,
pela qual se pode mudar o mundo.” 21
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Por Cláudio Hansen
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África do Sul: o complexo palco de Mandela.
Buscar entender a luta de Mandela sem conhecer a África do Sul é algo incoerente e quase posso dizer, impossível.
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Um país marcado por uma disputa étnica na qual a população negra (representando aproximadamente 70% do total de habitantes) teve seus direitos restringidos por uma minoria branca, que dominava o poder político, e econômico, foi o cenário para o surgimento da figura do líder que se tornaria o primeiro presidente negro da África do Sul democrática. Obviamente, a descrição acima foi a forma mais resumida de falar do problema enfrentado na África do Sul, um país que conta com onze idiomas oficiais e três capitais (Pretória – Cidade do Cabo – Bloemfontein) e mesmo assim nunca conseguiu criar um ambiente de real representação política de sua população. Todos os momentos da África do Sul, desde a sua formação enquanto nação moderna, foram marcados por intensas disputas por poder político. Outra marca do país é a desigualdade social. Atualmente, vemos um cenário de desemprego que já alcança a marca de 25% da população, ao mesmo tempo em que o país se firma no mercado internacional como uma promissora economia emergente, membro dos BRICS desde 14 de abril de 2011. Em meio a esse cenário de disputas e desigualdades, um jovem advogado, começava a trilhar o seu caminho para entrar definitivamente para a história.
O que foi o Apartheid? É muito importante frisar que o apartheid não foi a segregação étnica em si, pois, esse tipo de prática já acontecia desde o período colonial na África do Sul.
Então, afinal, o que foi o Apartheid? Foi a institucionalização do processo, ou seja, o momento em que a segregação racial virou lei.
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o dia 05 de dezembro de 2013, o mundo recebeu a triste notícia da morte de Nelson Mandela. A insuficiência pulmonar, que já havia se tornado um símbolo da luta do ex-presidente de 95 anos, havia acabado de vencer a luta contra umas das figuras mais importantes da história mundial no século XX. Compreender a vida e a luta de Madiba, apelido de Mandela, requer uma cuidadosa análise de um líder que mudou drasticamente a sua postura e não perdeu o foco de sua luta, a liberdade e a igualdade de direitos.
As eleições de 1948 colocaram Daniel François Malan no poder. Sua candidatura levantava a bandeira da segregação como uma forma melhor de controlar
Nascido em um ambiente rural do interior sul-africano, a vida de Rolihlahla Mandela certamente foi diferente da
A luta de Mandela e seus companheiros do CNA começou de forma pacífica e atuava a partir da desobediência civil, não atendendo às ordens impostas pelas leis do apartheid. No ano de 1952 Mandela foi porta-voz do Dia do protesto, no qual a população negra deveria usar os ambientes destinados a brancos, a exemplo de correios, espaços públicos, entre outros. Condenado como líder, Mandela foi preso por dois dias. Essa seria uma rotina que Mandela viveria mais vezes, incluindo julgamentos por traição e proibições de exercer lideranças políticas. Obviamente a perseguição do governo crescia para cima de seus opositores, e uma das medidas mais contestadas do apartheid entrou em vigor, a Lei do Passe, que levou à obrigatoriedade do uso de identidade étnica para maiores de 18 anos, assim impedindo que a população negra tivesse acesso a espaços brancos. Os protestos aumentaram na mesma medida da repressão do Estado, culminando no Massacre de Shaperville em 21 de março de 1960, quando um grupo
de milhares de pessoas que marchavam pacificamente foi metralhado pela força do Estado, levando ao número de 69 mortes e a atenção mundial para a causa do apartheid.
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Tendo esse cenário como marco, o CNA de Mandela ergueu o seu braço armado, o Umkhonto we Sizwe (Lança da nação) e começou uma série de sabotagens e ataques contra o governo. O primeiro passo do Governo foi colocar o CNA na ilegalidade caçar os seu líderes. No ano de 1963 Mandela foi preso e no famoso julgamento de Rivonia, em 1964, Mandela fez seu famoso discurso: “É um ideal pelo qual estou pronto para morrer”. foi condenado à prisão perpétua e mandado para a prisão na Ilha de Robben, onde ocupou a cela 466/64.
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O caminho de Mandela até o topo
maior parte da população negra de seu país. Filho da nobreza e de líderes tribais, Rolihlahla teve oportunidade de estudar e conhecer os caminhos legais quando se formou em Direito em Johanesburgo. Em um colégio anglicano Mandela assumiu e passou a carregar o nome Nelson.
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a África do Sul. Após a sua posse, uma série de leis começaram o processo de separação do país em quatro grupos, ou, como foram chamadas, em quatro federações raciais. Nesse modelo, a África do Sul seria dividida em territórios de brancos, negros, “de cor” e indianos. A pergunta mais importante de todas precisa ser feita nesse momento. O que uma elite que já detinha o poder ganharia dividindo parte da África do Sul em espaços independentes menores? Ganharia maior controle sobre o poder político futuro, pois não precisaria de nenhuma habilidade matemática para perceber que em um país com eleições democráticas a população negra logo tomaria o poder nas urnas. A ideia do Apartheid era criar “novos estados negros”, ou seja, deslocar a população negra para espaços próprios, os bantustões. desse jeito a minoria branca de origem holandesa perduraria à frente do país. Na prática, o processo foi muito mais intenso que na teoria, pois as leis ficaram longe de se tratar apenas de acesso a poder político, logo as medidas do apartheid estavam restringindo a entrada da população negra em espaços ditos brancos. Além disso, a oferta de serviços para a maioria negra do país era extremamente inferior. Essa conjuntura motivou uma série de protestos e lutas contrárias ao regime, incluindo a ascensão de um grupo jovem do CNA (Congresso Nacional Africano) que tinha como um de seus líderes o ainda jovem Nelson Mandela.
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O objetivo dessa política estava muito distante da ideia de simples segregação, pois a medida deixava a população negra na função de mão de obra barata, garantindo uma reserva produtiva para o crescimento econômico da África do Sul. O resultado do movimento foi a extrema violência contra a população que, enquanto caminhava para um estádio em que seria feito um comício, foi surpreendida por bombas de gás lacrimogênio e tiros de armas automáticas. O episódio deixou 4 estudantes mortos, incluindo um menino de 13 anos.
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O tempo em que Mandela passou na cadeia foi de intensa solidão e alienação em relação a muitos acontecimentos do mundo, pois, na ilha, era proibida a circulação de jornais e as informações chegavam incompletas. Enquanto Mandela estava fora de cena, o apartheid se tornava mais rigoroso e a tensão entre governo e população negra era mais evidente. Um episódio considerado um dos grandes marcos da revolta sul-africana contra o apartheid foi o Soweto Uprising (Levante de Soweto), ocorrido em 1976. A manifestação aconteceu no maior Bantustão da África do Sul, o Soweto – subúrbio de Johanesburgo, e contou com mais de dez mil pessoas que exigiam melhorias no sistema de educação para a população negra. O Estado colocava a população negra para estudar em ambientes superlotados e com professores de baixa capacitação. como se não fosse o bastante, a população negra precisava pagar pelo ensino ao mesmo tempo em que a população branca tinha um ensino de qualidade totalmente bancado pelo Estado.
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overcomingapartheid
Do cárcere ao Nobel da Paz
Por tais consequências, o dia 16 de junho (data do Levante de Soweto) passou a ser o dia das crianças na África do Sul. Enquanto o sistema apertava a população, a figura de Mandela era cada vez mais vista como uma saída para o imbróglio. as cartas que ele enviava de maneira clandestina da prisão eram vistas como mensagens de esperança, logo a pressão pela libertação de Mandela crescia tanto nacional quanto internacionalmente. Fóruns da ONU condenavam o regime e decidiram colocar sanções contra a África do Sul. Tais medidas, além de diminuir a capacidade comercial do país, incentivaram a saída de muitas empresas transnacionais que temiam o aumento dos conflitos e da violência. O Governo de Pieter Willem Botha (1984-1989) foi marcado pelo incrível número de mais de 50 mil pessoas presas, torturadas e mortas. Para diminuir os intensos conflitos, Botha chegou
a propor uma saída condicional para Mandela ajudar na diminuição da violência. o fato de não ser uma liberdade definitiva fez Mandela recusar a proposta. A situação insustentável começou a mudar quando assumiu o presidente Frederik Willem de Klerk. A postura neoliberal de Klerk exigia uma aproximação com os países mais importantes e com suas grandes empresas. a posição cada vez mais consolidada como potência regional fazia com que a África do Sul se adequasse à realidade do mundo globalizado. Com o intuito de diminuir os conflitos no país, Klerk legalizou o CNA (Congresso Nacional Africano) e a partir de um manifesto assinado pelo partido e por lideranças brancas antiapartheid, em 1987, libertou Nelson Mandela. Após 27 anos de prisão, no dia 11 de fevereiro de 1990, o mundo acompanhou a cena de Mandela livre ao lado de Winnie Mandela, sua esposa na época. De alguma forma o mundo sabia que as coisas começariam a mudar na África do Sul e na luta mundial contra a segregação racial.
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O número de sua minúscula cela (aprox. 2,1m x 2,5m) acabou virando um símbolo da luta de Mandela e até hoje é utilizado em manifestos nacionalistas, a exemplo do que aconteceu no amistoso entre África do Sul e Brasil, no qual os jogadores africanos entraram com o número 46664 na camisa.
Com o discurso da política do arco-íris, em que os ideais da população branca e negra precisavam encontrar um ponto de interseção de interesses e não mais de imposição de política e poder, Mandela junto com Klerk ganhou o prêmio Nobel da Paz de 1993.
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No ano de 1994, o mundo assistiu ao fim do apartheid e à primeira eleição democraticamente livre do país, sem grandes surpresas. Nelson Mandela é eleito o primeiro presidente negro da África do Sul. Infelizmente isso não resolveu o problema da população e nem a organização do país. Toda a luta de Madiba foi sem dúvida o maior passo já dado, na luta pela liberdade na África do Sul, mas as desigualdades continuam monstruosas no país. De um lado a riqueza continua concentrada na mão da minoria branca, que hoje representa aproximadamente 9% do total e possui em torno de 70% da terra fértil do país. Do outro lado, lideranças negras dentro do CNA lutam por não concordarem com a política de aproximação étnica criada por Mandela e propõem medidas mais drásticas para aumentar o poder da população negra. Outro ponto que abalou Madiba foi a separação de sua esposa, Winnie Mandela, em meio a um público caso de traição. O caso de traição, aliado à terrível fama que ela criou ao longo dos anos por acusações de sequestros, torturas e mortes, levantava muitas especulações sobre a posição de Nelson Mandela em meio a isso tudo. Winnie foi condenada à prisão e em meio a decisões judiciais conseguiu se livrar da prisão, entregando os seus cargos políticos e saindo da vida política pública. A postura da esposa de Mandela ficou eternamente manchada quando ela disse em meio a um discurso que “com nossas caixas de fósforos e os nossos colares vamos libertar este país”. Essa frase faz referência a prática do Necklacing (forma de assassinato em que a pessoa é colocada viva dentro de pneus e em seguida é queimada).
Além de todos os problemas mencionados, um governo que na prática não trouxe tantas mudanças reais para a população, o alto número de mortes e dezenas de licitações públicas vencidas por parentes de Nelson Mandela, nos levam a pensar que os problemas sociais da África do Sul estão longe de acabar. Essa realidade é muito comum dos integrantes do grupo de países emergentes (Brasil, México, Argentina...), que aliam destaque econômico a baixos índices sociais.
Qual é o real legado de Mandela? A maior herança de Mandela para a África do Sul e para a própria humanidade foi o símbolo que ele virou na luta pela maior igualdade de direitos e pelo fim de qualquer tipo de segregação racial. A transformação de um jovem ativista político, pronto para encarar uma luta armada pelo seu ideal, em um homem que pregava a busca pacífica e igualitária das pessoas foi o grande exemplo a ser seguido. Desde a sua “aposentadoria” da vida pública, em 2004, até a sua última aparição pública em abril de 2013, Mandela nunca saiu dos noticiários. Até que no dia 05 de dezembro, Jacob Zuma (presidente da África do Sul) anunciou a morte do líder Mandela. No dia da morte de Mandela, sua página oficial no facebook colocou em vários idiomas uma frase proferida pelo líder no ano de 1996. A frase sem dúvida fez total sentindo com a situação: “A morte é inevitável. Quando um homem fez o que considera seu dever para com seu povo e seu país, pode descansar em paz. Acredito ter feito esse esforço, e é por isso, então, que dormirei pela eternidade.”
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Escândalos e crises ainda abalam a África do Sul
Seu funeral reuniu o maior número de líderes mundiais em um mesmo ato, mostrando o peso de Mandela para a história. As homenagens continuaram por todo o país e certamente continuarão cada vez que alguém levantar uma bandeira contra a segregação racial.
INVICTUS
(William Ernest Henley )
Dentro da noite que me rodeia Negra como um poço de lado a lado Agradeço aos deuses que existem por minha alma indomável Sob as garras cruéis das circunstâncias eu não tremo e nem me desespero Sob os duros golpes do acaso Minha cabeça sangra, mas continua erguida Mais além deste lugar de lágrimas e ira, Jazem os horrores da sombra. Mas a ameaça dos anos, Me encontra e me encontrará, sem medo. Não importa quão estreito o portão Quão repleta de castigo a sentença, Eu sou o senhor de meu destino Eu sou o capitão de minha alma. Esse texto serviu de inspiração para os momentos de fraqueza de Mandela enquanto esteve preso.
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem 25 ser ensinadas a amar.” (Nelson Mandela)
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Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta De que me vale ser filho da santa Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Quero lançar um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra a qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa De muito gorda a porca já não anda De muito usada a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade Mesmo calado o peito, resta a cuca Dos bêbados do centro da cidade Talvez o mundo não seja pequeno Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça perder teu juízo Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguém me esqueça Chico Buarque
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Jogos
Pra não dizer que não falei das flores Caminhando e cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou não Nas escolas nas ruas, campos, construções Caminhando e cantando e seguindo a canção
Palavras Cruzadas
Vem, vamos embora, que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer Vem, vamos embora, que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
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Pelos campos há fome em grandes plantações Pelas ruas marchando indecisos cordões Ainda fazem da flor seu mais forte refrão E acreditam nas flores vencendo o canhão Vem, vamos embora, que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Vem, vamos embora, que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Há soldados armados, amados ou não Quase todos perdidos de armas na mão Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição De morrer pela pátria e viver sem razão Vem, vamos embora, que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Vem, vamos embora, que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Nas escolas, nas ruas, campos, construções Somos todos soldados, armados ou não Caminhando e cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou não Os amores na mente, as flores no chão A certeza na frente, a história na mão Caminhando e cantando e seguindo a canção Aprendendo e ensinando uma nova lição Vem, vamos embora, que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Vem, vamos embora, que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Geraldo Vandré
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Visão Matemática 01.
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Você tem três caixas de frutas. Uma contém apenas maçãs, outra contém apenas laranjas, e a última possui as duas frutas misturadas. Todas as caixas estão etiquetadas: uma diz “maçãs”; outra diz “laranjas”; a última diz “maçãs e laranjas”. Contudo, sabe-se que nenhuma das caixas está etiquetada corretamente. De que maneira você poderia etiqueta-las corretamente, se só lhe é permitido pegar uma fruta de apenas uma das caixas?
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Paulo Costa
02.
Três homens, que participavam de uma expedição na floresta, foram capturados por canibais. Foi dada a eles uma chance de escapar com vida. Os homens foram colocados em fila e amarrados a estacas, de maneira que o que estava no fim da fila podia ver as costas dos seus dois companheiros, o que estava no meio podia ver as costas de companheiro da frente, e o que estava na frente não podia ver nenhum dos dois companheiros. Depois, foram mostrados 5 chapéus aos homens: 3 pretos e 2 brancos. Os homens foram vendados e cada um recebeu um chapéu, sendo que os 2 chapéus restantes foram escondidos. As vendas foram tiradas e os canibais disseram que, se um dos homens dissesse qual era a cor do chapéu que estava usando, os 3 sairiam com vida. O tempo passava e ninguém dizia nada. Finalmente, o homem da frente, que não via seus companheiros, acertou a cor de seu chapéu. Qual era a cor do chapéu e como ele deu a resposta correta?
Luan Gonçalves
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01. Pegando uma fruta da caixa onde está escrito “maçãs e laranjas”. Caso a fruta selecionada seja uma maçã, nesta caixa só poderia conter maçãs. Com isso, a caixa onde se lê “laranjas”, não poderá ser a caixa contendo apenas maçãs, e nem a caixa contendo apenas laranjas. Logo, será a caixa que contém maçãs e laranjas misturadas. Enfim, a caixa restante, onde se lê “maçãs”, será a caixa contendo apenas laranjas. Se, no caso a fruta selecionada tivesse sido uma laranja, a solução sairia pelo mesmo raciocínio: a caixa onde está escrito “maçãs e laranjas” é a caixa que contém apenas laranjas; a caixa onde se lê “maçãs”, é a caixa contendo maçãs e laranjas misturadas e a caixa onde se lê “laranjas”, é a que contém apenas maçãs.
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Caça-Palavras
02. O homem que estava no final da fila podia ver quais chapéus os dois companheiros da frente usavam. Logo, se os chapéus dos dois fossem brancos, ele saberia que o seu chapéu seria um preto. Mas, como ele não disse nada, com certeza viu pelo menos um chapéu preto à sua frente. Já o homem que estava no meio da fila percebeu que o de trás não conseguiu definir a cor de seu chapéu. Deduziu, assim, que deveria existir pelo menos um chapéu preto, usado por ele ou pelo homem da frente. Se ele, agora, visse que o da frente usava um chapéu branco, poderia definir, com facilidade, que seu chapéu era preto. Porém, este também se manteve calado, dando a entender que o chapéu que ele via à sua frente era preto. Por fim, o homem da frente percebeu que ninguém se pronunciou e utilizando a lógica desse raciocínio, pode deduzir que seu chapéu era preto. E afirmou, corretamente: “Meu chapéu é preto!”.
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