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O ATELIER DE JOÃO CUTILEIRO

Henrique Pavão

A artista agradece a Ana Cristina Pais, Ana Sousa, Anísio Franco, Dinorah Lucas, Filipa Oliveira, Henrique Pavão, Joana Capucho, Joaquim Caetano, Jorge Conceição, José Cassinda, José Pedro Croft, Manuel Rosa, Margarida Lagarto, Maria Miguel Lucas, Pedro Reis Gomes, Rafael Alfenim, Ramiro A. Gonçalves, Rui Sanches.

Com um agradecimento especial a Maria da Graça Carmona e Costa e a Tiago Praça pelo seu apoio incondicional.

Vive e trabalha em Lisboa, onde nasceu em 1957. Fez o curso da Escola António Arroio e o curso de Cerâmica do IADE. Frequentou os departamentos de Desenho, Pintura e Joalharia do Ar.Co e o atelier de tapeçaria de Gisela Santi. Criou a tp (loja de autor) em Lisboa (2004-2018).

Expôs o seu trabalho recentemente no Museu Nacional do Azulejo (Lisboa), Convento dos Capuchos (Almada), Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves (Lisboa), Appleton Square (Lisboa), MUDE – Museu do Design e da Moda (Lisboa), Museu de Artes Decorativas da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva (Lisboa), entre outros. Encontra-se representada em colecções privadas e institucionais, nacionais e internacionais das quais se destacam: Fundação Carmona e Costa, Museu Nacional do Azulejo, MUDE – Museu do Design e da Moda e Museu Nacional do Traje.

João Cutileiro

Nasceu a 26 de Junho de 1937, em Lisboa, e aí faleceu em 5 de Janeiro de 2021. Vivia e trabalhava em Évora desde 1985. Frequentou os ateliers de António Pedro, Jorge Barradas e António Duarte de 1946 a 1950, tendo feito a sua primeira exposição individual (Tentativas Plásticas) em 1951, com 14 anos, em Reguengos de Monsaraz, onde apresentou esculturas, pinturas, aguarelas e cerâmicas.

Em 1953 ingressou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, onde esteve até 1955, e expôs trabalhos seus no VII e no VIII Salão Geral de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa. No final desse ano, foi para Londres, onde se fixou e frequentou, entre 1955 e 1959, a Slade School of Art. Aí, foi aluno de Reg Butler, tendo recebido três prémios no final do curso: composição, figura e cabeça. Nessa época trabalhou durante seis meses como assistente de Reg Butler e expôs na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa (1957), e duas vezes na galeria Young Contemporaries, AIA, em Londres (em 1957 e 1959).

Datam de 1964 as primeiras figuras articuladas, e de 1966 o início do uso de ferramentas eléctricas, para o trabalho da pedra, utilizando essencialmente o mármore, de que fazia surgir, além das figuras femininas, as paisagens, as caixas e as árvores. Ao longo da década de 1960, Cutileiro fez diversas exposições em Lisboa e uma no Porto.

Em 1970 regressou a Portugal e instalou-se em Lagos, criando aí uma das suas obras de referência, D. Sebastião, elemento central construído para uma praça naquela cidade, que constituiria, nas palavras de José-Augusto França, «a ruptura escandalosa» com a tradição escultórica que se vivia nessa época em Portugal, e abriria definitivamente o caminho à mudança que as artes plásticas vinham anunciando.

No ano seguinte, conquistou uma menção honrosa no Prémio Soquil e, cinco anos mais tarde, as suas esculturas e mosaicos foram expostos na Unikat-Galerie, em Wuppertal (na Alemanha), seguindo-se exposições na Royal Academy of Arts, em Londres e no Museu de Lagos (1978), na XV Bienal Internacional de São Paulo, Brasil (1979) e em Évora (1979 e 1981), entre outras. Em 1980, a sua obra voltaria à Alemanha (Munique e Wuppertal), tendo exposto também nos Estados Unidos, no II Congresso da International Association of Sculptors realizado em Washington, entre muitas outras exposições, colectivas e individuais, que o consagraram, nas décadas seguintes, como grande criador em Portugal e além-fronteiras.

Em 2018, no Centro Internacional de Arte José de Guimarães, a exposição intitulada Constelação Cutileiro ensaiaria, finalmente, conforme consta do catálogo então publicado, «uma espécie de cartografia celeste da geometria das relações, afectos e interacções de que Cutileiro, espécie de astro solar, foi o ponto referencial e o campo magnético de uma conjugação energética» que viria a transformar radicalmente a escultura portuguesa do século XX, aportando contributos essenciais para a sua definição no século XXI.

Em Évora foi o motor, com o Ar.Co, da organização do I Simpósio Internacional de Escultura em Pedra, em 1981, que constituiu um marco fundamental no espectro da produção escultórica em Portugal no século XX, reunindo nesta cidade, onde haveria de fixar-se definitivamente em 1985, um grupo excepcional de escultores estrangeiros, nomeadamente Sergi Aguilar (Espanha), Andrea Cascella (Itália), Minoru Niizuma (japonês naturalizado norte-americano), Syoho Kitagawa (Japão) e Pierre Szekely (húngaro residente em França), e um grupo de jovens escultores portugueses, Rui Anahory, Brígida Arez, José Pedro Croft, Amaral da Cunha, Pedro Fazenda, Luísa Periennes, Pedro Ramos, Manuel Rosa e António Campos Rosado. Muitos destes farão parte da «constelação Cutileiro» a que já aludimos — artistas que, pela influência directa, pela cumplicidade criativa, pelo estímulo ou pela convivialidade, constituem parte da herança cultural e artística de João Cutileiro.

João Cutileiro foi condecorado com a Ordem de Sant’Iago da Espada, Grau de Oficial, a 3 de Agosto de 1983. Receberia ainda doutoramentos Honoris Causa pela Universidade de Évora e pela Universidade Nova de Lisboa, este último concedido em 2017.

Consciente do seu papel, e generoso na convicção de que um seu legado poderia contribuir para o desenvolvimento cultural do seu país e para estímulo e oportunidade de trabalho de outros, particularmente de novas gerações de escultores, entregou ao Estado português a sua casa de Évora, que compreende o seu atelier, todo o seu arquivo pessoal e uma importante selecção de obras representativas do seu percurso artístico.

João Cutileiro é, indiscutivelmente, um dos mais singulares artistas portugueses do século XX. Excessivo, festivo, generoso, o seu trabalho marcou decisivamente a paisagem artística e cultural em Portugal a partir do final dos anos 1950 e início dos anos 1960.

Em reconhecimento do inestimável trabalho de uma vida dedicada à arte, à criação artística e à divulgação e fomento da escultura, difundindo amplamente, em Portugal e no estrangeiro, a Cultura portuguesa, o Governo português concedeu-lhe, em 2019, a Medalha de Mérito Cultural.

Este livro foi publicado por ocasião da exposição

«Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra» – Teresa Segurado Pavão e João Cutileiro , com curadoria de Filipa Oliveira, realizada no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, de 5 de Janeiro a 26 de Março de 2023.

Trabalhos em ferro: Pedro Reis Gomes

Olaria: Tiago Praça

© Sistema Solar Crl (chancela Documenta), 2023

Rua Passos Manuel 67 B, 1150-258 Lisboa imagens © Herdeiros de João Cutileiro, Teresa Segurado Pavão, Henrique Pavão textos © os Autores

1.ª edição, Março de 2023

ISBN 978-989-568-087-0

Fotografias: Tiago Ferreira Pinto e Paulo Castanheira (assistente)

Design gráfico: Manuel Rosa

Revisão: Helena Roldão

Depósito lega l : 512774/23

Pré-impressão, impressão e acabamento: Gráfica Maiadouro SA

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