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Exposição Coletiva – Verdes Moradas
Esta exposição coletiva, assertivamente denominada Verdes Moradas, vem sensibilizar-nos para a fragilidade da natureza e a crise ecológica atual, resultado da ação humana no nosso planeta.
Poucas manifestações do intelecto humano como a arte serão tão ideais na expressão da complexidade da natureza e da sua beleza intrínseca.
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Atrevo-me a afirmar que o ecossistema natural foi, desde os princípios da humanidade, fonte de inspiração para as primeiras obras de arte que o homem criou.
A influência da natureza na arte ao longo dos tempos tem permitido a sua evolução, alimentada pela diversidade dos materiais naturais utilizados pelo homem na criação artística. Desde a escultura à cerâmica, às cores dos minerais, todos permitiram novas e diferentes formas de expressão.
Por outro lado, se a arte é, também, a procura da essência das coisas e das ideias, o homem tentou sempre alcançar o âmago da natureza através da representação da luz ou das suas sombras.
A descoberta dos infinitos padrões e formas com que somos surpreendidos na sua observação, serviu com certeza de inspiração e modelo, para muitas criações artísticas.
Se a natureza muito contribuiu para a criação artística, chegou a hora em que os artistas sentem o apelo de poder contribuir com as suas obras para impressionar a sociedade, comovendo o homem com o forte apelo da representação artística.
A arte é um meio privilegiado para despertar e estimular consciências e alterar o rumo autodestrutivo em que a humanidade está lançada.
As Verdes Moradas é, sem dúvida, uma exposição que nos toca e sensibiliza para o atual estado do mundo, em plena crise ecológica. Os seus autores, Inez Teixeira, Jorge Feijão e Maria Capelo, coadjuvados com as fotografias do arquiteto e fotógrafo Duarte Belo, conseguem tocar-nos e levar-nos para esse mundo natural que é a nossa génese e que importa defender e preservar.
Presidente da Câmara Municipal da Guarda
Collective Exhibition – Green Mansions
This collective exhibition, assertively tittle Green Mansions, comes to sensitize us to nature’s fragility and current ecological crisis resulting from human action on our planet.
Very few manifestations of the human intellect are as ideal in expressing nature’s complexity and intrinsic beauty as art is.
I dare to affirm that the natural ecosystem has been, since the beginnings of mankind, a source of inspiration for the first works of art created by man.
The influence of nature in art throughout the times has allowed its evolution, nurtured by the diversity of natural materials employed by man in the artistic creation. From sculpture, to ceramics, to the colours of the minerals, all of them have allowed new and different kinds of expression.
On the other hand, if art also is the search for the essence of things and ideas, man has always tried to reach the true core of nature through representation of light and its shadows.
The discovery of the infinite patterns and shapes that surprise us upon contemplation, has certainly been an inspiration and model for numerous artistic creations. If nature has contributed a lot for the artistic creation, the time has come for artists to feel the call allowing them to contribute with their works to impress society, touching mankind with the strong appeal of the artistic representation.
Art is a privileged mean to awake and stimulate consciousness and change the auto destructive course mankind is on.
Verdes Moradas is, undoubtably, an exhibition that touches us and sensitizes us to the current state of the worlds, in full ecological crisis.
The authors, Inez Teixeira, Jorge Feijão e Maria Capelo, aided by the photography of Duarte Belo, architect and photographer, can touch us and take us to the natural world that is our genesis, and that must be defended and preserved.
S ÉRGIO C OSTA Mayor of Guarda
E eu sentia-me purificado e com a estranha sensação de estar a apreender uma secreta inocência e uma secreta espiritualidade da natureza, a pressentir a realidade de uma fronteira, talvez incalculavelmente distante, para onde todos nós nos dirigimos, e de um tempo em que a chuva do céu nos tenha lavado de todas as manchas e vergonhas.
And I felt purified and had a strange sense and apprehension of a secret innocence and spirituality in nature – a prescience of some bourn, incalculably distant perhaps, to which we are all moving; of a time when the heavenly rain shall have washed us clean from all spot and blemish.
Verdes Moradas [ensaio sobre os ritmos da natureza]
Verdes Moradas, título pedido de empréstimo à tradução portuguesa de Green Mansions* – novela, publicada em 1904, da autoria de W.H. Hudson –, dá nome a uma exposição que reúne três artistas cujo percurso se tem regularmente cruzado com a programação da Fundação Carmona & Costa – Inez Teixeira, Jorge Feijão e Maria Capelo –, a que se junta um quarto elemento, o arquitecto e fotógrafo Duarte Belo.
O livro, que usamos como papel de cenário exemplar para assentar as poderosas visões projectadas pelos quatro artistas presentes, é um radioso e comovente canto de exaltação da natureza enquanto lugar, vivido e imaginado, próximo e distante, no qual se plasmam conflitos interiores, paixões, memórias e aspirações propriamente humanas.
Assim, reunindo obras que são atravessadas por uma particular sensibilidade e atenção ao estado do mundo, esta exposição colectiva constitui-se, também, como uma reflexão sobre a crise ecológica, de uma magnitude sem precedentes, que a humanidade vive presentemente e tem como pano de fundo a natureza e a sua tematização. Participa, inscreve-se, destaca a relação milenar que a arte tem com a natureza e as possibilidades de reparação que convoca e/ou engendra.
Tomando partido da generosa dimensão das galerias de exposição temporária do Museu, esta exposição integra um extenso conjunto de obras de pintura e desenho, que têm como contraponto e pano de fundo uma série de imagens fotográficas da autoria de Duarte Belo, recolhidas em inúmeras incursões à Serra da Estrela e apresentadas em diaporama, sob forma de projecção.
Duração, composição, repetição, enquadramento, são questões intrínsecas aos trabalhos expostos que, também por partilharem a grande dimensão, convocam a noção de ecrã e se apresentam como superfícies de reflexividade – quer dizer, pensando-se a si mesmas constituem-se como campos de reflexão.
Na histórica abordagem dos artistas à natureza (sobretudo a pintura, entendida como prática de espectro alargado, mas também a fotografia) cruzam-se duas tradições, que são, simultaneamente, dois modos de ver e de imaginar; de criar imagens que se (de)encontram em espelho: olhamos o mundo natural e vemos o passado; olhamos o mundo natural e vemos o futuro (a redundância não é um esquecimento). Um duplo-movimento de forças aparentemente contrárias que é inato ao ser humano na sua relação com o tempo e o espaço e também com os outros seres com quem partilha a vida na Terra.
Duas aproximações que podendo coexistir nem sempre coincidem: uma é activada pela memória e increve-se na tradição da paisagem – melancólica, é da ordem da prece; a outra inscreve-se numa linhagem espiritualista ou visionária – luminosa, é da ordem da exaltação. Ambas nos devolvem o espírito de uma dada época, o «espírito de um tempo».
Vejamos bem: este conjunto de obras tem como denominador comum a impermanência. Perante estas superfícies – estes ecrãs –somos afectados, estimulados, mais do que como passivos espectadores, fisicamente, fisiologicamente, fenomenologicamente.
Num momento, as imagens parecem dissolver-se, derretem, mudam subtilmente, imperceptivelmente, apenas, o nosso ponto de vista, o nosso posicionamento (o lugar de onde olhamos) – mais do que atenção reclamam acção. Noutro, como que explodem em fragmentos vários, parecem arder, consumidas pela voragem (há, sabemo-lo demasiado bem, uma longa tradição profética da tematização da extinção na arte ocidental). Olhando-as, habitando-as, acedemos à realidade para além da realidade em que se constituem: acedemos ao mundo. E prosseguimos esperançosos num futuro (ainda) possível.
N UNO F ARIA
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