JACAREÍ Ilustrado da Cidade Site de Jacareí 1ª Edição
Jacareí 2017
Jacareí - Dicionário Ilustrado da Cidade
Equipe do Projeto Fernando Romero Prado: Autor Dannyel Leite: Projeto Gráfico e Ilustrações Ana Luiza do Patrocínio: Revisão Histórica Eliana Romero Prado Leite: Revisão de Textos Nanci Romero Prado: Pesquisa Iconográfica
Apoio Institucional: Fundação Cultural de Jacarehy Prefeitura Municipal de Jacareí Incentivador: JTU - Jacareí Transporte Urbano Apoio Cultural: Boulevard Jacareí - Office & Mall Impressão: Resolução Gráfica
Projeto beneficiado pela Lei de Incentivo à Cultura - LIC nº 3.648 - Decreto nº552/2003 e 133/2005
Índice Prefácio............................................................................................................9 Apresentação.................................................................................................12 Referências Bibliográficas.........................................................................342 Agradecimentos..........................................................................................350
Jacareí na História Abolição dos Escravos.................................................................................15 Ditadura........................................................................................................87 Escravidão...................................................................................................105 Fundação de Jacareí...................................................................................138 Furado..........................................................................................................140 Guerra do Paraguai....................................................................................146 Guerra Mundial..........................................................................................149 Independência............................................................................................166 República.....................................................................................................252 Revolta do Sal.............................................................................................255 Revolução de 1932.....................................................................................258 Tráfico Negreiro..........................................................................................315 Vila de Jacareí.............................................................................................334
Jacareí e seus Personagens Alfredo Schürig............................................................................................19 Antonio Afonso............................................................................................22 Bertha Celeste Homem de Mello...............................................................42 Biagino Chieffi..............................................................................................46 Carlos Porto..................................................................................................53 Conde Frontin..............................................................................................80 Cônego José Bento.......................................................................................82 Corneteiro Jesus...........................................................................................84 Franz de Castro...........................................................................................135 João Américo da Silva................................................................................174 João da Costa Gomes Leitão.....................................................................175
José Maria de Abreu...................................................................................178 Lamartine Delamare..................................................................................181 Lúcio Malta.................................................................................................192 Luiz Simon..................................................................................................193 Pompílio Mercadante.................................................................................218 Ranchinho...................................................................................................235 Tinguera.......................................................................................................311 Ubiratan Pereira Maciel.............................................................................325 Waldemar Berardinelli...............................................................................337
Jacareí e seus Espaços Arquitetura....................................................................................................24 Bairros de Jacareí..........................................................................................35 Cartórios Extrajudiciais...............................................................................54 Cemitérios.....................................................................................................61 Cinemas.........................................................................................................64 Comércios e Serviços...................................................................................71 Escolas............................................................................................................95 Estrada de Ferro.........................................................................................113 Estradas Rodoviárias.................................................................................117 Fábrica de Biscoutos Jacareí......................................................................125 Fábricas e Indústrias..................................................................................127 Limites Municipais....................................................................................188 Malharia N.S. Conceição...........................................................................198 Mercado Municipal....................................................................................201 Monumentos...............................................................................................202 Museu de Antropologia.............................................................................205 Parques Municipais....................................................................................215 Pontes...........................................................................................................222 Preventório de Jacareí................................................................................231 Rio Paraíba do Sul .....................................................................................262 Ruas e Praças..............................................................................................266 Santa Casa de Misericórdia.......................................................................285 Sítios Arqueológicos..................................................................................290
Jacareí e a Sociedade Barões em Jacareí.........................................................................................39 Bolinho Caipira............................................................................................48 E. C. Elvira.....................................................................................................91 Esportes.......................................................................................................109 FAPIJA.........................................................................................................128 FEMPO........................................................................................................129 Festejos.........................................................................................................131 Guarda Nacional........................................................................................144 Iluminação Pública....................................................................................155 Imigração.....................................................................................................159 Imprensa......................................................................................................162 Jacareí Atlético Clube................................................................................171 Lendas de Jacareí........................................................................................183 Lions Clube.................................................................................................190 Maçonaria...................................................................................................195 Música..........................................................................................................207 Ponte Preta Futebol Clube........................................................................220 Prefeitos de Jacareí.....................................................................................225 Religiões e seus Templos...........................................................................237 Rotary Club ...............................................................................................264 Sociedade.....................................................................................................297 Tiro de Guerra............................................................................................313 Transportes..................................................................................................317 Trianon Clube.............................................................................................322 Viajantes e seus Relatos.............................................................................327
Jacareí e seus Símbolos Bandeira de Jacareí.......................................................................................38 Brasão de Jacareí...........................................................................................50 Cognomes.....................................................................................................68 Gentílico......................................................................................................143 Hino de Jacareí...........................................................................................153 Nome da Cidade.........................................................................................213
Dedico este livro a minha famĂlia, sempre presente em todos os momentos de minha vida. Fernando Romero Prado
Fotos da dedicatória • Jesus Romero e sua filha Neyde • Maria Aurora e Jesus Romero • Carmo e Innocência Lima Prado • Geraldo Lima Prado • Nanci, Neyde, Ana Letícia, Eliana, Renata, Lívia, Fernando Filho, Fernando e Silvio
Prefácio
Os leitores já folhearam um dicionário? Já se perderam em suas páginas e verbetes, pulando de significado em significado? Já descobriram uma palavra ao acaso que nunca conheceriam de outra forma? Pois é, e quantos desses vocábulos passaram a fazer parte de nosso cotidiano seja pela sonoridade, seja pelo significado que nos surpreendeu? Esses dicionários com que temos mais contato são chamados de dicionários gerais da língua. Porém, existem outros, como os etimológicos e os bilíngues. Há também os dicionários temáticos que geralmente são primorosas compilações de dados sobre um determinado assunto, lugar ou campo de estudo, abrangendo termos que, às vezes, só os iniciados dominam, mas ao mesmo tempo abrindo portas para que todos possam conhecê-los. Livros sobre a história de Jacareí existem muitos e bons. Entretanto, durante muito tempo a cidade careceu de uma obra mais objetiva que transmitisse não só a história, mas também outros dados, fatos e curiosidades. Tal questão pode ser resolvida no lançamento desta obra, que se afigura inédita: um dicionário conciso, mas que abre ao leitor vários caminhos para o devido aprofundamento. Justamente por ser um dicionário, sua confecção demandou muita pesquisa e uma série de desafios. Como transformar uma investigação de fatos tão remotos e tão herméticos em um texto claro e objetivo para os leigos e os jovens? Este foi o desafio a que se propôs o autor deste dicionário ao condensar em uma obra a objetividade e a modernidade de seu blog, agora acrescidas de informações tão precisas quanto possíveis. Como se diz por aí, até as verdades precisam ser provadas. Não adianta dizer que foi assim e pronto! É preciso descobrir o que aconteceu, como aconteceu e por que aconteceu. A história com “H” maiúsculo só é feita com indagações, documentos e publicidade. É preciso explicar e comprovar. As fontes devem ser reveladas para que o escritor-pesquisador obtenha total credibilidade. Além disso, não adiantaria simplesmente dizer quem foi o fazendeiro João da Costa Gomes Leitão sem contextualizar sua biografia com a época em que ele viveu. Isso diria muito pouco! Nenhum fato de sua vida teria sentido sem explicar o século XIX e suas contradições; o sistema escravocrata que ele não criou, mas da qual soube muito bem se aproveitar e o sistema político imperial 9
com o qual, como poucos, soube interagir. O mesmo pode ser dito sobre o cônego José Bento, personagem ímpar na história local, mais conhecido como mantenedor de vários colégios, junto com seu irmão, João Francisco. Teria ele o mesmo desempenho se fosse de origem pobre? Não o sabemos, mas o seu contexto familiar decidiu sua independência em relação ao meio em que vivia e ao rebanho que pastoreava. Enquanto historiadora, foi muito instigante ouvir e discutir as indagações do autor: um diálogo necessário que ligou o conhecimento universitário à sociedade, desfazendo os obstáculos que se interpõem entre estas duas realidades. Os questionamentos apresentados foram exercícios maravilhosos que me tiraram da zona de conforto que, por vezes, nos deixamos ficar. Pesquisador sagaz, o autor me punha perguntas que, às vezes, eu respondia de pronto; mas outras me davam um enorme trabalho por não ter reparado num detalhe ou num acontecimento. Como foi dito no início, esta obra é um excelente ponto de partida para aqueles interessados na história e outros detalhes sobre Jacareí. Mentes cheias de perguntas que nem sabem por onde começar. Então, por que não pela letra “A”? E daí ir pulando de verbete em verbete, conhecendo pessoas, lugares e acontecimentos. Nada mais didático e democrático. Como falar com as crianças e com os jovens sobre fatos tão remotos? Em tempos de internet e redes sociais, informações concisas são a tônica do momento. Mas também são tempos de pós-verdade, onde as pessoas põem seus pontos de vista acima dos acontecimentos e, por isso, todo cuidado é pouco com os dados pelos quais somos responsáveis. Nesse ponto, o autor prima pela pesquisa e o questionar exaustivo, procurando colocar para os seus leitores todas as informações possíveis sobre um determinado assunto ou personalidade. Muitas vezes, esbarrando pela ausência de fontes; outras tantas, descobrindo informações inéditas. Por este e por muitos outros motivos, “Jacareí - Dicionário Ilustrado da Cidade” é fruto deste cuidado e deste contínuo questionar que tanto nos faz bem, quer como historiadores, quer como cidadãos. Ana Luiza do Patrocínio
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JACAREĂ? Ilustrado da Cidade
Apresentação “Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias.” Esta frase do poeta chileno Pablo Neruda não se aplicou a este dicionário sobre a cidade de Jacareí. Não foi nada fácil! Os 87 verbetes que compõem este livro demandaram quase dois anos de pesquisas, além da triste missão de escolher aquilo que seria publicado, transformando centenas de páginas de anotações em textos enxutos e explicativos. Mas por que um sujeito que não é historiador de formação, tampouco um escritor, iria mergulhar nessa aventura? Simples: o conhecimento que adquiri após tantos anos de leituras, tantas fotos colecionadas, tantas postagens em blogs e redes sociais, me motivou a narrar – do meu jeito, a história da cidade e seus personagens. No entanto, já havia vários livros sobre Jacareí, grande parte deles da lavra de nosso maior pesquisador, o ex-prefeito Benedicto Sérgio Lencioni. Bebendo principalmente daqueles cálices de conhecimento, resolvi tentar fazer algo um pouco diferente: um dicionário, que pudesse facilitar a pesquisa daqueles interessados pelo tema. Não sabendo se teria sucesso no intento, me preparei e resolvi arriscar, seguindo meu
lema de vida: “o impossível é o possível que nunca foi tentado”. Devo reconhecer que este dicionário que ora se apresenta, não teria se tornado realidade sem a generosidade de todos aqueles que abriram a porta de suas casas e seus “álbuns de retratos”, revelando muitas histórias parcialmente encobertas pela poeira do tempo. O resultado final também não seria possível sem o aval e a revisão atenta de Ana Luíza do Patrocínio, historiadora com mestrado pela PUC- São Paulo. Confúcio já dizia que “uma imagem vale mais que mil palavras” e assim optei por fazer um dicionário completamente ilustrado. Na falta de fotos, busquei o trabalho do Dannyel Leite, designer e diagramador deste livro. Através de seus desenhos, buscamos dar certa graça aos textos, já que uma pitada de humor não tiraria a seriedade da obra final. Por fim, olhando o livro pronto, considero-o leve e interessante. Logicamente, não foi possível levantar todas as histórias e suas verdades. Há muito ainda a ser contado. Neste pequeno dicionário, espero que os leitores encontrem no passado histórico de nossa cidade, as respostas que permitam compreender o presente. Indo mais além, entendam que tudo aquilo que será relatado no futuro também depende de nós, atores atuais desta história que nunca terminará. Boa leitura! Fernando Romero Prado
Dica de Leitura:
Toda vez que constar do texto um *, haverá ao final do verbete uma pequena explicação.
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A Abolição dos Escravos O negro escravo foi introduzido no Brasil em 1533 em substituição à mão-de-obra indígena. A maior parte dos escravistas, entretanto, não se preparou para o fim da escravidão apesar de todas as leis emancipacionistas que sinalizavam o novo regime (“Fim do Tráfico Negreiro”, “Ventre-Livre” e “Sexagenários”). Preocupados em proteger seus “bens” e status social, protelavam a solução do problema aguardando um incentivo à imigração ou uma indenização da Coroa Brasileira. Dom Pedro II era um simpatizante à idéia da abolição, entretanto não tomava partido para não hostilizar os proprietários de terras, parte da classe política que lhe sustentava o trono. Tal era o enraizamento da escravidão em nossa sociedade que a abolição seria um suicídio político que poderia por fim à monarquia brasileira. A presença de escravos em nossa região sempre foi significativa em razão da necessidade da lavoura cafeeira. Em Jacareí, o auge populacional foi atingido em 1856. Trinta anos depois, apesar de sede de grandes cafeicultores e escravocratas, a cidade já não figurava como detentora de grande número de escravos. Mesmo assim, havia a preocupação dos agricultores com o movimento abolicionista que, de forma abrupta, poderia retirar dos campos a mão-de-obra escrava. O movimento de luta contra a escravidão, denominado “abolicionismo”, iniciou-se em 1880, dois séculos depois de Zumbi e bem longe do Quilombo dos Palmares. Naquele ano, ganhou força a ideia de que uma pessoa não deveria pertencer à outra, sendo tratada como “coisa”. Aliás, “Abolicionismo” é o título de um livro editado pelo farmacêutico português Antonio Gomes de Azevedo Sampaio, radicado em Jacareí desde
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Abolição dos Escravos
1868. Lançado após o fim da escravidão e da monarquia, suas páginas trazem importantes considerações sobre a abolição dos escravos na cidade além de procurar enaltecer a participação de seus antiescravistas no processo abolicionista, entre eles o autor, que junto com Luiz Simon e outros munícipes fundaram um Clube Abolicionista em agosto de 1887. No entanto, a história de Sampaio é controversa: em 1883, embora simpatizante da abolição, mas submisso aos propósitos dos escravocratas, envolveu-se com o lado oposto, subscrevendo um abaixo-assinado que pedia a expulsão da cidade de três abolicionistas: idealistas, que lutavam solitariamente pela causa em atitudes radicais que assombravam os homens de poder da cidade. Tal atitude se justificava na pequena Jacareí de dez mil habitantes, onde muitos “senhores de escravos” reprimiam doutrinas contrárias à escravidão. No entanto, em 1890, quando o livro foi lançado, Sampaio já não residia em Jacareí e deste modo peca em não nomear os escravocratas que o intimidaram, exceto Gomes Leitão, falecido em 1879. O jornal paulistano “A Redenção”, reduto dos caifazes*, foi o grande disseminador das idéias abolicionistas nas cidades do interior. No entanto, somente em fins de 1887 se posicionou declaradamente pela abolição imediata da escravatura. Sampaio, desta forma, teria aderido à causa em sua fase final, procurando organizar o movimento, conduzido, até então, por populares. Uma frase em seu livro explica bem o intuito de sua participação: “Ninguém quis prescindir da glória de ter tomaJornal da Província de São Paulo - 25/08/1887 do parte na façanha”. O Clube Abolicionista buscava auxiliar na emancipação dos negros e obstar qualquer insurreição e perturbação do trabalho agrícola. Desta forma, seus membros solicitavam aos fazendeiros que libertassem seus escravos em troca destes continuarem trabalhando por alguns anos. Assim fez o Barão de Santa
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Abolição dos Escravos
Branca ao libertar todos os seus cativos. Até então, as ações dos abolicionistas de Jacareí se limitavam àquelas toleradas pelos escravocratas, que procuravam proteger suas propriedades, onde os escravos valiam mais do que as terras. Quando incitavam ou facilitavam fugas, membros do Clube eram processados, muitas vezes presos. Os fazendeiros, apreensivos, procurando adiantar o inevitável, muitas vezes alforriavam seus escravos e deles obtinham dívidas de gratidão. Outros tentavam vendê-los buscando recuperar o capital investido. O movimento abolicionista não pode ser reduzido somente à ação dos lideres mais ilustres. Rebeliões de pequena monta sempre ocorreram no Vale do Paraíba e novos estudos têm demonstrado que na Província, de modo geral, coexistiu uma luta articulada pelos negros contra a escravidão. Em sua fase final, diante da eminente libertação de todos os cativos da cidade, o Clube Abolicionista já trabalhava nos festejos programados para serem realizados no Bairro do São João. Para abrilhantar a festa, seus membros solicitaram à Câmara Municipal a denominação de “Avenida da Liberdade” para o trecho além da ponte. Neste sentido não houve sucesso, uma vez que os políticos locais em nenhum momento antes do “Treze de Maio” manifestaram-se oficialmente favoráveis à abolição. A festa programada para o dia 18 de março de 1888 quase foi frustrada por fazendeiros, que tentaram esconder escravos em uma fazenda no bairro do Paratehy. Uma expedição de cerca de 100 pessoas partiu para libertar os cativos, chegando depois da meia-noite. Fizeram tanto barulho que assustaram até os negros. Consumado o resgate, já amanhecia quando o pequeno grupo de escravos, esfomeado e sonolento, adentrou na cidade. O dia seria somente de festas. As ruas enfeitadas de bambus em arcos, bandeiras e flores receberam, ainda de madrugada, uma banda musical tocando alvorada. Às duas da tarde, uma procissão cívica com mais de três mil pessoas acompanhou o mastro da liberdade a ser erguido no local da festa. Na frente, seguia um estandarte com os seguintes dizeres: “Jacarehy Redimido”. A Matriz, ricamente ornamentada para a missa, não comportou a massa popular. No São João, o Clube Abolicionista fez uma sessão pública, entregando a carta de liberdade ao último escravo, um homem “quase branco” de nome Vicente. A Câmara Municipal novamente desprezou o evento, que invadiu a madrugada do dia seguinte. Jacareí festejou, assim, a libertação de seus escravos, quase dois meses antes da Lei Áurea, sancionada pela princesa Isabel em um domingo, 13 de maio de 1888, por volta das 15 horas. O Brasil, pouco depois de Cuba, foi o último
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Alfredo Schürig
país das Américas a libertar seus escravos, algo em torno de 700 mil pessoas (5% da população). Em 15 de maio, os representantes da Câmara Municipal apressaram-se em organizar os festejos, mais solenes, com desfiles de estudantes e com prédios iluminados pelos proprietários. Uma rua da cidade recebeu o nome de “Treze de Maio”. Os abolicionistas jacareienses, em represália, não compareceram. A data foi por anos entusiasmadamente comemorada com desfiles cívicos, músicas e foguetório. Os negros costumavam festejá-la com samba, jongo e até bailes. Com o decorrer dos anos, tornou-se um dia comum. Os escravos tornaram-se livres, porém largados à própria sorte. Sem terras, sem escolaridade e sem profissão, não tinham condições de encarar a era industrial, que se descortinava. Acabaram formando a camada mais miserável da população, que ainda hoje luta contra a discriminação, por igualdade social e oportunidades no mercado de trabalho. Caifazes eram os seguidores de Antonio Bento, principal líder do movimento abolicionista paulista.
Alfredo Schürig Alfredo Henrique Oscar Schürig nasceu em Rio Claro, São Paulo, em 11 de junho de 1884, filho de Oscar Schürig e de Maria Blummer Kuntgen, imigrantes alemães que chegaram a Jundiaí no século XIX. Relatos feitos pelo cronista Lourenço Diaféria conta que Herr Schürig ganhava o sustento da família tocando piano à noite em bares de São Paulo. Seu filho, o jovem Alfredo, um “vendedor de praça”, teve mais sorte: ficou milionário após adquirir um premiado bilhete da Loteria do Estado de São Paulo. Ao lado do irmão Walter Arno, Alfredo aplicou o dinheiro na Fábrica Nacional de Parafusos Santa Rosa, organizada para o comércio e fabrico de ferragens diversas, principalmente durante a I Guerra Mundial quando abasteceram todo o mercado nacional, dadas às dificuldades de importações da Eu-
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APHJ - Arquivo Público e Histórico de Jaareí
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ropa. Vendida a fábrica a empresários ingleses, Alfredo, em 1930, tornou-se sócio da Casa Schill, uma das pioneiras no comércio de ferragens na afamada Rua Florêncio de Abreu. Ambos os irmãos Schürig residiam em São Paulo, entretanto passavam os feriados e fins de semana em suas chácaras na Jacareí do começo do século XX. Aqui, Alfredo, um homem pacato e bem humorado, conheceu e desposou Francisca de Siqueira (Chiquinha Schürig), moça da sociedade jacareiense. Desta união nasceram três filhos: Adelaide, Alfredo Henrique Oscar Schürig Maria (Santinha) e Alfredo Filho. Além de Milionário, Schürig era um homem generoso, presenteando Jacareí com alguns empreendimentos nas áreas esportiva e cultural. Para o “Esperança Foot Ball Club” construiu um campo à beira-rio em 1920. Um ano depois, foi lançada a pedra fundamental do edifício da sede social na Rua do Rosário que recebeu em 1923 um palco para orquestras e peças de teatro. Quando da extinção do clube, o campo foi transferido para o recém criado “Ponte Preta Futebol Clube” e sua sede social passou a sediar o Trianon Clube em 1940. Homenageado como cidadão benemérito, Schürig auxiliou a Santa Casa com importantes doações de dinheiro e equipamentos. Colaborou, também, com a Igreja Matriz e nas Festas da Padroeira. Aos jacareienses mortos na Revolução Constitucionalista de 1932 doou o mausoléu localizado no cemitério municipal. Apesar de sua forte atuação no cenário municipal, sempre esteve longe das lides políticas, jamais aceitando ocupar qualquer cargo na administração pública. Inauguração da Rua Alfredo Schürig - 1921
Acervo Santa Casa de Jacareí
Alfredo Schürig
Alfredo Schürig
Acervo de Família
Em agradecimento às benesses oferecidas à cidade, em 10 de setembro de 1921 a Rua do Rosário recebeu seu nome. Foi agraciado ainda com os títulos de Cidadão Jacareiense e também nomeado “Apóstolo da Caridade” por suas contribuições à igreja. Na Capital paulistana, Alfredo Schürig ficou conhecido por sua atuação junto ao Sport Club Corinthians Paulista, onde foi considerado um verdadeiro mecenas. Participou na construção dos dois primeiros estádios do clube, o primeiro na região da Ponte Grande. Em 1926 “emprestou” pequena fortuna para quitação de dívidas pela aquisição de grande área no Tatuapé onde foi construído o Parque São Jorge e o estádio “Alfredo Schürig”, mais conhecido como Fazendinha. Presidente do clube na gestão 1930/1933, impulsionou as atividades poliesportivas, principalmente as regatas no Tietê, época em que a âncora e os remos passaram a fazer parte do escudo do “Timão”. Alfredo Schürig faleceu precocemente, em 30 de janeiro de 1941, aos 56 anos, no Hospital Santa Cecília, em São Paulo.
Chiquinha Schürig, Alfredinho e Alfredo Schürig
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Antonio Afonso
Antonio Afonso “...um certo Antonio Afonso”. É assim que Sérgio Buarque de Holanda, em seu livro “Monções e Capítulos de Expansão Paulista” se refere ao personagem mais conhecido da história de Jacareí. O nome de Afonso surgiu primeiramente no livro de sesmarias n° 11 do antigo Cartório da Provedoria da Fazenda Real de 1645. Apesar do documento histórico ter-se perdido no correr dos séculos, a “carta de sesmaria” foi relembrada no século XVIII pelo genealogista e historiador Pedro Taques de Almeida Pais Leme, no livro “História da Capitania de São Vicente”. Antonio Afonso e seus filhos Bartolomeu, Francisco, Estevão e Antonio, o moço, passaram a ser reverenciados como os povoadores e fundadores da Vila de Nossa Senhora da Conceição da Paraíba. A partir daí, a história se propagou. O livro de Sérgio Buarque faz menção a Antonio Afonso usando como referência o livro “Apontamentos históricos, geográficos, biográficos, estatísticos e noticiosos da Província de São Paulo” de Manuel Eufrásio de Azevedo Marques. Buarque, assim como outros historiadores e pesquisadores contestam a versão oficial, apegando-se à ata de criação da Vila que coloca Diogo de Fontes como líder dos moradores que requereram a elevação do povoado. O sobrenome Afonso era relativamente comum para a época. O Arquivo Público do Estado de São Paulo detém um documento de 1611 em que uma sesmaria é concedida a Antonio Afonso, o moço, Bartolomeu Afonso e outros dois exploradores não identificados. A sesmaria não identificada, possivelmente localizava-se no litoral. Fica a pergunta: em 1611 que idade teria Antonio Afonso, o pai? E em 1645, quando recebeu a sesmaria em Jacareí? Recentemente, seu nome também foi encontrado na fundação de Guaratinguetá, onde estava elencado entre os “homens nobres da terra”. Indo mais longe: em 1666, o nome de Antonio Afonso, juntamente com outros desbravadores, surgiu na colonização da atual Florianópolis. Naqueles remotos anos, seria possível ele ter sido tão longevo? Interessante acrescentar que tanto a capital catarinense como a nossa vizinha cidade de São José dos Campos tiveram durante certo período o mesmo nome: Nossa Senhora do Desterro. Outra confusão? Agê Júnior no livro “São José dos Campos e sua História” relata a presença, em 1650, de Ângelo de Siqueira Afonso, “filho de Antonio Afonso”, em uma ses-
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Arquitetura
maria na região do Rio Comprido, mais tarde Vila Velha, próximo ao aldeamento que deu origem a São José. Seria algum homônimo ou confusão entre pai e filho? Muitas incertezas ainda rondam o personagem, não se sabendo ao certo quando ele realmente entrou em cena. Aqueles que descartam Antonio Afonso como fundador, tendo como base o livro foral da Vila, talvez não tenham se atentado ao segundo morador subscritor do requerimento: Domingos Afonço assinou antes mesmo de Diogo de Fontes. Sim, havia um Afonso entre os moradores. Com “ç”, mas um Afonso. Com certeza, pode-se apenas afirmar que Antonio Afonso era português, possivelmente de São Vicente, já que o Brasil ainda era colônia de Portugal. Seria um sesmeiro em busca de novas terras a explorar, não havendo até o momento registros confiáveis de sua presença em Jacareí. Talvez tenha se instalado provisoriamente na região e em torno de sua propriedade o povoado tenha surgido. Somente novos documentos poderão alterar a história oficial da cidade. Entretanto, afastar Antonio Afonso da fundação da cidade, levará o Legislativo local a modificar todos os símbolos oficiais da cidade, uma vez que tanto o brasão como a bandeira trazem o escudo dos “Afonsos”. A letra do hino municipal aventurou-se ainda mais, considerando Antonio Afonso o “homem eterno, o fundador, o pai, o herói”.
Arquitetura Em 2017, Jacareí passou a integrar o Mapa Nacional do Turismo na categoria “Rios do Vale” e assim se tornou elegível a receber incentivos do Governo Federal destinados a estimular o turismo. Concomitantemente, a Câmara Municipal aprovou o “Plano Municipal de Turismo” que tem como objetivo destacar os principais pontos turísticos da cidade. Alguns prédios históricos de Jacareí resistiram ao tempo. Infelizmente, outros não foram preservados, ficando de fora de um roteiro turístico que levaria as pessoas a conhecerem e observarem os diferentes estilos e tendências arquitetônicas, um resgate da história da cidade através de sua arquitetura. A Lei Municipal n° 4.557 de 26/12/2001 dispõe sobre o “dever do Poder Público em preservar o patrimônio cultural como elemento de prova e informação e como instrumento de apoio à valorização da identidade comunitária”. 24
Arquitetura
O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural – Codepac também tem como atribuição ficar atento aos vários imóveis com interesse de preservação, uma vez que o desconhecimento da história leva às demolições, predominando a ideia de que o novo é sempre melhor que o antigo. Ainda restam alguns prédios históricos, uns edificados no século XVIII, outros incorporando tendências estrangeiras e os mais modernos utilizando elementos de concreto e formas mais arrojadas. Este verbete levará o leitor a fazer um tour imaginário pelos prédios históricos da cidade. Solar Gomes Leitão
Um dos maiores fazendeiros e proprietários de escravos do Vale do Paraíba no século XIX foi João da Costa Gomes Leitão. Em 1857, auge da prosperidade cafeeira, ele finalizou a construção de sua imponente residência na cidade, local de festas e reuniões, servindo também como sede de seu Museu de Antropologia do Vale do Paraíba estabelecimento bancário. Palacete assobradado, o “Solar Gomes Leitão” foi edificado em taipa de pilão e pau-a-pique, mistura da tradição colonial com elementos do neoclássico, na mais moderna linha arquitetônica da época. O prédio, símbolo da aristocracia local, impressionou até o viajante e escritor Antonio Augusto Zaluar que assim o definiu em 1861: “dentre os prédios que merecem atenção pela sua regularidade e bom gosto, devemos notar a elegante casa do Senhor Leitão, acabada com todo o esmero, e cujos pintados e dourados salões poderiam receber com orgulho a sociedade mais seleta da capital do Império”. Localizada na antiga Rua da Ponte, a construção foi erguida por escravos orientados por arquitetos ingleses e decoradores franceses. Implantado em lote de esquina, com planta retangular, o prédio possui dezesseis aposentos, além dos porões, em sua maioria aterrados. A calçada frontal é de pedra, original da época da construção. O interior do prédio apresenta paredes e forros artisticamente decorados. O hall de entrada traz uma porta de quatro metros em arco pleno de ferro e piso de ladrilhos portugueses em preto e branco. O primeiro cômodo à di-
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reita apresenta janelas com adornos em forma de cruz, sugerindo a existência de uma capela interna. Uma vistosa escadaria de madeira dá acesso ao segundo pavimento, onde o assoalho é feito em “madeira de lei”. O Solar, em seus dois pavimentos, apresenta dezenas de portas, janelas e portas-balcão, algumas delas com gradis de ferro decorado. Deixado em testamento para sua Interior do Solar Gomes Leitão filha Josephina Eugênia Leitão Guimarães, o Solar era a propriedade que mais ostentava riqueza, ornado com mobílias caras, espelhos com molduras douradas, relógios de parede, aparelhos completos de jantar em louça importada, além de quadros, oratórios, imagens sacras e muita prataria. Quando do falecimento de Gomes Leitão, dezoito escravos ali trabalhavam. Em 1895, o edifico foi vendido ao Governo do Estado de São Paulo. Após ampla reforma e várias adaptações, o Grupo Escolar Coronel Carlos Porto passou a ocupar o espaço e ali permaneceu até meados da década de 1970. A somatória de suas características arquitetônicas e históricas contribuiu para que em 1978 o prédio fosse tombado pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo como um monumento de interesse histórico e documental. O edifício localizado na Rua Quinze de Novembro, após uma restauração que durou treze anos, em 1992 passou a sediar o MAV – Museu de Antropologia do Vale do Paraíba.
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Casa dos Quatro Cantos
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A moradia do Coronel Fabiano Martins Alves Porto Júnior foi construída em 1901 pelo empreiteiro Benedito Antonio das Neves que deixou suas iniciais no alpendre de entrada da residência. Em terreno original de 700 m², a residência tinha vinte cômodos,
Arquitetura
muitos deles ornamentados com pinturas a óleo. Todo o acabamento interno veio da Europa, desde o assoalho, os vidros jateados das janelas até as maçanetas das portas. A residência foi vendida em 23 de janeiro de 1928 por Veridiana e Isolete Nogueira Porto para Guilhermina Lopes Leal, cunhada de Pompílio Mercadante. Durante vários anos o médico jacareiense ali viveu com sua família. Naquela época a casa contava com salas de jantar, música e jogos. Entretanto, só havia um banheiro. A garagem era usada para guardar lenha e no amplo quintal encontravam-se parreiras de uvas, pés de amoras e pêssegos, além Pintura a óleo no interior do prédio de um pequeno galinheiro. Em 16 de agosto de 1944 o imóvel foi adquirido pelo empresário Pedro Eugênio Gueury que o doou ao Estado para ser utilizado como Posto de Assistência Médico- Sanitária e Serviço Lactário. Em 1974, o prédio foi parcialmente demolido pelo município para retificação da Rua Quinze de Novembro. Anteriormente ocupado pela Secretaria do Bem-Estar Social e Biblioteca Pública Municipal, o edifício encontra-se praticamente abandonado desde 2013. A Lei Municipal n° 4.764/2004 declarou o imóvel como patrimônio cultural da cidade e qualquer tipo de obra deve ser previamente autorizada pelo prefeito após manifestação favorável do Codepac, sendo vedada, em qualquer hipótese, a sua destruição, descaracterização ou inutilização.
Foto: Sandra Cavalca
Chácara Xavier
Esta antiga casa de chácara construída em meados do século XIX está localizada dentro de um condomínio residencial no Jardim Independência. Teve vários proprietários até ser adquirida em 1942 por João Gomes Xavier. O local servia como área de lazer para os funcionários do Laboratório Xavier sediado em São Paulo. Nela se hospedaram algumas pessoas ilustres como o marechal Eurico Dutra e o cantor Francisco Alves.
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Arquitetura
A casa era sede da fazenda do casal mineiro Maria e Clementino Ribeiro de Carvalho. A residência é marcada por uma grande tragédia: os proprietários morreram juntamente com uma infeliz doméstica que preparou uma omelete com arsênico pensando que era farinha de trigo.
Sede da Associação dos Expedicionários A associação, fundada em 1949, recebeu o terreno em 1964 em doação de Reinaldo Leite Pereira para erigir a sua sede. Projetado por Josimar Pinto de Oliveira, o edifício erguido Sede da Associação dos Expedicionários e Josimar Pinto de Oliveira com recursos obtidos em campanhas solidárias somente foi inaugurado em 1969 na Rua Rosalina de Siqueira.
APHJ
Manufactura de Tapetes Santa Helena
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O edifício foi construído em 1911, período inicial da industrialização no Vale do Paraíba. Inicialmente abrigava a Fábrica de Meias Alice do empresário português Manoel Lopes Leal. O prédio é composto de dois galpões, o maior deles com um grande vão livre, sem apoios intermediários. A fachada é de tijolos aparentes lembrando as formas arquitetônicas características da revolução industrial inglesa. A Manufactura foi fundada pelo húngaro Antonio Friedmann em 18 de agosto de 1923 na cidade de São Paulo e transferida para Jacareí somente em 1951. Destas instalações saíram tapetes artesanais, que embelezaram os palácios de Brasília em sua inaugu-
Fotos: APHJ/ Acervo de Família
Casa do Viveiro Municipal
ração. Localizado na Rua Barão de Jacareí, em 1990 o imóvel foi tombado pelo Condephatt - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. Em 1997, ocasião em que a Prefeitura usava o prédio como Oficina Cultural, parte das paredes e teto desabou, matando duas pessoas.
APHJ
Arquitetura
Prédio dos Denis
Residência Urbana do Barão de Santa Branca Francisco Lopes Chaves, o 1° Barão de Santa Branca, mandou construir este palácio no Largo da Matriz em meados do século XIX. Este imponente monumento arquitetônico do Vale do Paraíba tinha 24 quartos. No lado externo, decorando a fachada e as laterais do prédio, havia estátuas de 1 metro de altura representando as estações do ano. No início do século XX, a residência foi vendida para uma indústria de meias que ali permaneceu por 33 anos. Quando a Malharia Nossa Senhora da Conceição deixou o local, verificou-se a inexistência de qualquer tipo de
APHJ
Localizado na Rua Alfredo Schürig, anteriormente a este casarão, havia outro em taipa, pertencente à família Tarantino. Em 1931, o belga Eduardo Denis, pai do jornalista Jobanito, construiu o prédio, que contava com um hotel no andar superior e outros comércios com frente para a Rua Alfredo Schürig, entre eles o famoso “Bilhar dos Quatro Cantos”. O prédio foi desapropriado na gestão Osvaldo Arouca e reformulado internamente para uso público.
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Arquitetura
APHJ
APHJ
preservação, sofrendo o prédio grandes danos materiais, sendo demolido em 1939. Na época havia uma promessa que o terreno seria utilizado para a construção de uma grande galeria com hotel, cinema e restaurantes, no entanto o terreno acabou loteado na década de 1950.
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Residência Urbana do 1º Barão de Jacareí Residência de Bento Lúcio Machado, 1° Barão de Jacareí, na esquina da Rua Direita com a Rua da Prainha. A casa era muito grande, dando fundos para o Rio Paraíba do Sul, antes da mudança de seu leito. Conta-se que a viúva, baronesa Joaquina Angélica de Toledo Barreto, teve ali uma morte misteriosa, provavelmente um infarto. A parte superior do prédio feito em taipa serviu durante alguns anos como dormitório dos alunos do Ginásio Nogueira da Gama. Em 1931 ali se instalou a Fábrica de Meia Vizetti antes de se mudar para o prédio vizinho. Em 17 de março de 1945, um incêndio destruiu completamente o local que abrigava a fábrica de caixinhas de papelão do Sr. João Machado. O terreno foi adquirido pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários – IAPI, posteriormente encampado pelo atual INSS. Chácara de Alfredo Schürig Esta propriedade, originalmente formada por vários lotes e casas, foi adquirida em 1916 pelo empresário para passar os fins de semana na cidade. Em 1943, Alfredinho Schürig recebeu o imóvel em doação de sua mãe Chiquinha Schürig, vendendo-o em 1972 para o Esporte Clube Elvira que lá construiu um ginásio poliesportivo. Antes disso, o lugar era usado como “Lar das Moças”, abrigando as jovens estudantes do Preventório que desta casa somente saíam para estudar, trabalhar e casar. Desapropriado pela Prefeitura Municipal, ali foi instalado o EducaMais São João em 2011.
Arquitetura
Residência da Família Egydio
Mansão junto ao Paraíba Em 1925 Juca Azevedo vendeu o terreno para Agostinho Paiva Ferreira, que ali construiu o único imóvel registrado como mansão na Prefeitura Municipal. Em 1934, o imóvel foi vendido para o Coronel José Venâncio Diniz. Em 1941, o comerciante Lauro Martins o adquiriu de “porteira fechada”, com todo o mobiliário, pratarias, roupas de cama e até dinheiro em um cofre. Em 1951, o imóvel foi vendido para Jamil Maluf e demolido na década de 1980.
Acervo: Roberto Cambuzano
APHJ
A casa localizada no Largo da Matriz foi adquirida de José Bonifácio de Mattos em 1932. Após sua demolição, no local foi levantado o prédio do 1° Cartório de Notas.
Chácara de Dona Santinha Salles
APHJ
Maria Augusta Malta, mais conhecida como Santinha Salles, recebeu o imóvel, composto de vários lotes e casas, em doação de Alzira Salles de Siqueira em 1932.
Divulgação
EducaMais Jacareí
O mais novo cartão postal da cidade e prédio de elevado interesse arquitetônico é o EducaMais Jacareí inaugurado em 2014. Projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake, tem arquitetura arrojada com traços sinuosos e fachada pintada com quatro tons de vermelho. O
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complexo abriga a Sala Ariano Suassuna, teatro para 720 espectadores, fosso para orquestras e palco de 90 m², que pode voltar-se para uma arena ao ar livre com capacidade para 8 mil pessoas. O local também dispõe de creche, centro para idosos, salas multiusos além do Espaço de Exposições Tomie Ohtake. Em 2015, a Lei Municipal n° 5.913 determinou a preservação total destes prédios, declarando-os como patrimônio cultural diante do valor arquitetônico, não podendo, em hipótese alguma, sofrer qualquer alteração, especialmente em razão de sua forma e cores. Sala Ariano Suassuna
APHJ
Prefeitura Municipal
Originalmente uma residência, foi construída em 1870 pelo fazendeiro Delphino Martins de Siqueira e tinha assoalho de madeira de lei e paredes forradas por papel francês. Na década de 1920, João Ferraz comprou o prédio e todos os móveis, lá instalando a Prefeitura e a Câmara Municipal. Em 1936 as instalações abrigaram Rua Quinze de Novembro o recém-criado Ginásio Municipal. Quatro décadas depois, por falta de conservação, o prédio construído em taipa começou a ruir, sendo logo providenciada sua demolição.
APHJ
Outras sedes da Prefeitura de Jacareí
Praça Raul Chaves
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Praça dos Três Poderes
Divulgação
Arquitetura
Arquitetura
Acervo de Família
Patrimônio Arquitetônico de Jacareí
APHJ
APHJ
Chácara de Walter Arno Schürig / Octávio Martins / Casa Branca Eventos
Casa da Família Madid
Casa da Família Carderelli
APHJ
Acervo de Família
Casa da Família Ruston
Casa da Família Moreira
Casarão de José Ribeiro Moreira e posteriormente de Bento Faria Melo
APHJ
Pintura de Francisco Calixto
Casa da Família Machado
Casa da Família Mesquita
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APHJ
Arquitetura
Pátio dos Trilhos
Divulgação/PMJ
Arquivo Público e Histórico de Jaareí
Casa da Agricultura
Edifício Alba - 1º Prédio Residencial
Fórum e Cadeia até 1965
Jornal O Combate - 1972
Foto: Vilas Boas Imóveis
Casa no Parque da Cidade
Arquivo Público de São Paulo
Arranha-céus em construção: Edifício Juca Azavedo, Mansão do Vale e Boulevard Jacareí Office & Mall
Fórum em Jacareí
APHJ
Fórum - Inaugurado em 1965
Construção da Câmara Municipal
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Câmara Municipal de Jacareí
B Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Bairros de Jacareí
Quais seriam as origens dos bairros da cidade e o significado de seus nomes? Certamente, muitos moradores repetem diariamente seus endereços sem ao menos se questionarem a respeito. Aprender o significado destas denominações, muitas vezes pode fazer o jacareiense conhecer a história de sua cidade. Primeiramente, deve-se esclarecer que bairros e loteamentos são termos distintos. Áreas primárias da cidade, os bairros geralmente surgiram espontaneamente. Já os loteamentos são glebas de terras particulares cujo solo é loteado e destinado para a venda. Jacareí ainda possui bairros que aparecem em documentos históricos antigos, como “Angola” e “Remédios”. Outros têm origem em termos indígenas, como Avareí (Rio do Padre), Jaguari (Rio da Onça) ou Igarapés (Caminho da Canoa). Alguns continuam sendo chamados pelo nome das construtoras que os edificaram: BNH (Parque Nova América), Jaú (Parque Califórnia) e Cecap (Conjunto São Benedito).
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Bairros de Jacareí
A tradição ainda fez que nomes informais como “Bica do Boi”, “Bonano” e “Caldeirão Queimado” fossem mantidos como bairros. Pode parecer brincadeira, mas o “Esmaga Sapo” ainda é um bairro oficial da cidade, um local que na década de 1940 tinha terrenos alagadiços, com pequenas lagoas repletas de peixes e rãs. Após seu aterramento, parte dele passou a abrigar a Praça dos Três Poderes. Muitos bairros contam com SABs - “Sociedades Amigos de Bairros” ou “líderes comunitários” que voluntariamente trabalham em prol de suas necessidades. Entretanto, dois bairros de Jacareí, por serem maiores, se tornaram distritos e ganharam uma subprefeitura para auxiliar a administração municipal. O maior deles é o Parque Meia-Lua com aproximadamente 30 mil moradores, abrangendo bairros como Lagoa Azul e Rio Abaixo. O nome vem da origem do loteamento realizado em formato de meia-lua pelos herdeiros de Pedro Luiz de Oliveira Costa. Já o distrito de São Silvestre tem cerca de 15 mil habitantes e conta com bairros como Vila Garcia e Bandeira Branca II. O antigo bairro teve início com a construção de uma estação de trem em 1918 num local anteriormente denominado Piruleiras, onde os moradores finalizaram a construção de uma capela de pau a pique em 31 de dezembro de 1920, dia de São Silvestre. A partir de meados do século XX, no interior de alguns bairros começaram a surgir loteamentos, ocasião que alguns empreendedores buscavam homenagear suas famílias ou a si próprios: - Jardim Leonídia – loteadores: filhos de Batista e Leonídia Scavone - Vila Garcia – loteador: Antonio Garcia Romero - Jardim Jacinto – loteador: Heitor Stolf Jacintho - Jardim Elza Maria – filha do loteador João de Almeida Caldas - Jardim Yolanda – esposa do loteador Biagino Chieffi - Jardim Emília – Maria Emília Martins Bassi, esposa do loteador Vicente Bassi. - Jardim Maria Amélia – Maria Amélia Ruivo Gonçalves, esposa do loteador do Parque Santo Antonio - Jardim Mesquita – loteador: Ederaldo Mesquita - Jardim Luiza – loteadora: a espanhola Luíza Blazquez Polo - Jardim Marcondes – loteador: Ernani Marcondes - Vila Zezé – Maria José de Souza, filha do loteador Manoel Urbano de Souza - Jardim Didinha – loteadora Maria Cândida de Campos, esposa de José Pereira Campos e mãe de Olina de Campos Onizuka - Jardim Esper – os membros da família deram seus nomes às ruas do loteamento: Dalva, Regina, Nazur, Rodolfo e Kalil
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Bairros de Jacareí
Outros tiveram origem nas propriedades originais: - Jardim Flórida – Fazenda Flórida de Maria das Dores e Avelino Sebastião Machado - Parque Santo Antonio – Fazenda Santo Antonio loteada por Manoel Gonçalves Miguel - Condomínio Terras de Sant’Anna – Fazenda Sant’Anna do Pedregulho Alguns têm aspectos interessantes: - Cidade Nova Jacareí - loteado pelo libanês Jamil Klink, pai no navegador brasileiro Amyr Klink que realizou a primeira travessia do Atlântico Sul em um barco a remo. - Jardim Siesta – o loteador húngaro Istvan Molnar inicialmente construiu um “clube de campo”, um lugar para descansar após o almoço (siesta em espanhol) e atraiu o interesse de seus amigos estrangeiros, que moravam em São Paulo, o que levou as ruas a receberem nomes de países. Posteriormente o clube foi adquirido pelo Trianon. - Jardim Liberdade – era uma várzea e quase toda a área pertencia a Antonio Eleutério dos Santos, o “Antonio Major” que ali plantava arroz. Após sucessivos aterros, no centro do terreno foi formado um campo de terra batida utilizado pelo “Liberdade Futebol Clube”. - Pagador Andrade – homenagem a Manoel de Oliveira Andrade, funcionário da Estrada de Ferro, que morreu impedindo o “assalto ao trem pagador” na estação de Sabaúna, Mogi das Cruzes, em 1954. Há ainda casos pitorescos, como os bairros criados pelo ex-vereador Itamar Alves que através de organizações comunitárias criou os bairros “Jardim Pedramar” e “Vila Ita”, denominações que levam a seu próprio nome, tendo em vista que “ita” em tupi-guarani significa “pedra”.
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Bandeira de Jacareí
Bandeira de Jacareí A origem das bandeiras remonta à Idade Média, quando os exércitos aliados usavam um pedaço de pano hasteado num estandarte com as cores e sinais de seus batalhões. Assim, buscavam fugir do “fogo amigo”. Em todos os países, o uso das bandeiras obedece a uma regulamentação rigorosa quanto à forma, cores e maneira de hastear. A vexilologia é uma disciplina auxiliar das ciências sociais que estuda a história e o simbolismo das bandeiras. A bandeira municipal é o símbolo visual da cidade de Jacareí e seu conteúdo representa toda a história de seu povo, suas convicções, lutas e esperanças. A primeira iniciativa para a criação da bandeira de Jacareí deu-se em 1961, quando o prefeito Antonio Nunes de Moraes Júnior, após projeto apresentado pelo vereador Benedicto Sérgio Lencioni, sancionou a lei municipal n° 639, que autorizava o Conselho Municipal de Cultura Artística a realizar um concurso entre a classe estudantil e demais cidadãos. Tal certame, no entanto, nunca ocorreu. Somente em 1968, o prefeito José Cristóvão Arouca, baseado em uma proposta elaborada graciosamente pela Sociedade Brasileira de Heráldica e Medalhística, encaminhou novo projeto à Câmara Municipal já determinando como seria a bandeira. A lei municipal n° 1.167 daquele ano foi sancionada com uma inexatidão, já que se referia genericamente a um “símbolo”. A bandeira jacareiense instituída em 02 de abril de 1968 pode ser assim descrita: • um campo formado por duas faixas, sendo a superior branca e a inferior vermelha. O branco representa a pureza dos ideais, a tradição e a nobreza das ações pelo bem comum. O vermelho simboliza o espírito de luta e a capacidade realizadora do povo jacareiense. • sobre o campo geral visualizam-se listas verticais e horizontais nas cores vermelha, preta e branca. Estas listas em forma de cruz evocam não só a origem cristã, como também os índios, os negros e os brancos, as três raças que fizeram a grandeza do Estado de São Paulo. • sobre todos os outros elementos, de forma centralizada e em destaque, o brasão de armas de Jacareí. 38
Barões em Jacareí
A lei n° 5.767/2013 criou a “Carta Cívica Municipal” composta pelos símbolos do Município (Bandeira, Brasão e Hino), consolidando todas as leis que os criaram.
Barões em Jacareí No período imperial, ricos cafeicultores buscavam o reconhecimento de seu prestígio e poder econômico através da obtenção de títulos nobiliárquicos. Os pretendentes já não se contentavam com as patentes da Guarda Nacional. Entrar para a nobreza constituía o coroamento de uma existência, a legitimação do poder local. Um conjunto de atitudes ou investimentos realizados, como obras beneméritas ou a construção de sofisticadas moradias, referendavam os ricos aspirantes à titulação. Em certas ocasiões, entretanto, a aspiração não era atendida, quer pela obscuridade da origem da fortuna, quer pela árvore genealógica apresentar impedimentos como bastardia ou “sangue infecto”*. Nos últimos anos do segunQuem furta pouco é ladrão do reinado, talvez em decorrência Quem furta muito é barão dos problemas enfrentados durante o processo de abolição dos Quem mais furta e esconde escravos, um generoso D. Pedro II Passa de barão a visconde. concedeu inúmeros títulos de nobreza, principalmente os barona- Quadrinha Popular na época do Brasil Império tos, procurando compensar com símbolos de status o que tirava em direito material. Foram tantos os títulos concedidos naquele tempo que, por vezes, a distinção era ridicularizada. O título de barão era o mais baixo na escala hierárquica da nobreza e todos os galardoados tinham que pagar em torno de 750$000 (setecentos e cinquenta contos de réis) pela honraria, além dos custos pela documentação e registro do brasão. No total, ao longo dos dois reinados do Império, foram concedidos 1211 títulos de nobreza, não hereditários, sendo 875 baronatos. Outra forma de agraciamento imperial era a concessão de comendas, quando o beneficiado passava a ser reconhecido como Comendador.
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Barões em Jacareí
Quatro barões habitaram as terras jacareienses: O 1° Barão de Jacareí, Bento Lúcio Machado, nasceu em 1790, filho do Capitão Salvador Machado de Lima e Anna Maria da Conceição Nogueira. Era irmão de Cláudio José Machado que recepcionou D. Pedro I em sua passagem por Jacareí em agosto de 1822. O Barão, detentor da maior fortuna da época, ocupou o posto de sargento de milícia e recebeu muitas honrarias e comendas. Foi agraciado com os títulos de Brasão do 1º Barão de Jacareí Barão em 6 de dezembro de 1849 e Barão com Grandeza em 3 de dezembro de 1852, o que lhe autorizava a usar, em seu brasão de armas, a coroa do título de visconde. Sendo um “Grande do Império”, ele tinha vários direitos como poder receber o Imperador e se manter “com a cabeça coberta” em sua presença. Podia também ostentar seu brasão na porta de sua casa e carruagem. Muito bem relacionado, conheceu os dois Imperadores, sendo também amigo pessoal de Rafael Tobias de Aguiar, marido da Marquesa de Santos. Bento foi casado com Joaquina Angélica de Toledo Barreto e não deixou descendentes. O casal residia em um solar na esquina da Rua Direita com a Rua da Prainha, local onde hoje está instalada a agência do INSS. O Barão de Jacareí foi um dos fundadores da Santa Casa de Misericórdia, tendo doado metade do valor necessário para a compra de seu terreno. Faleceu aos 67 anos, em 8 de novembro de 1857. A Baronesa morreu em 18 de março de 1861, em torno dos 60 anos, existindo certo folclore acerca de sua “misteriosa” morte, provavelmente um infarto. Ambos foram sepultados na Igreja Matriz. Os demais barões pertenciam à família Lopes Chaves: O 1° Barão de Santa Branca, Francisco Lopes Chaves, nascido em São Paulo, foi Deputado Provincial por duas legislaturas, provedor e um dos fundadores da Santa Casa de Misericórdia de Jacareí. O título de barão foi recebido em 11 de setembro de 1854. Francisco era casado com a baronesa Gertrudes de Carvalho Lopes Chaves. Dois de seus filhos, também requereram o baronato: Lícinio e Francisco. Sua filha Marcelina foi casada com Américo Brasiliense de Almeida Melo, Presidente da Província de São Paulo e Ministro do Supremo Tribunal Federal. Seu filho Joaquim Lopes Chaves, bacharel pela Faculdade de Direito de São Paulo, fez carreira política em Taubaté, sendo eleito Deputado Provincial por diversas legislaturas e Senador Federal. O Barão de Santa Branca faleceu em 18 de outubro de 1884.
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O 2° Barão de Santa Branca tinha o mesmo nome do pai e nasceu em 9 de novembro de 1838. Foi vereador por duas legislaturas, delegado de polícia, inspetor de instrução pública, provedor da Santa Casa e um dos fundadores na Cia Industrial de Jacareí, antecessora da Malharia N. S. Conceição. Era casado com a baronesa Maria José de Matos Chaves e pai do vereador Raul Lopes Chaves. Recebeu o título de barão em 20 de fevereiro de 1888 da Princesa Regente, Isabel. Meses antes do baronato, havia libertado todos os seus escravos da Fazenda Jaguary. O Barão, já viúvo, faleceu em 10 de julho de 1902. O 2° Barão de Jacareí, Licínio Lopes Chaves, nasceu em 19 de dezembro de 1840. Chefe político local, Coronel da Guarda Nacional, Comendador da Imperial Ordem de Cristo e Oficial da Imperial Ordem da Rosa, recebeu o baronato em 20 de agosto de 1889. Era caResidência urbana do 2º Barão de Jacareí sado com a baronesa Carolina dos Santos, tendo uma única filha, Xantipe, que faleceu solteira em 1906. Sua família morava em ampla residência na Rua Direita, local onde esteve instalado o Colégio Maria Imaculada. Após a proclamação da República, deixou a política por certo tempo. Faleceu em 28 de janeiro de 1909, deixando em testamento três imóveis para a Santa Casa. Os barões de Santa Branca residiram no palacete no Largo da Matriz e todos os nobres da família Lopes Chaves têm jazigo no Cemitério Campo da Saudade no Avareí. Como curiosidade, a Rua Lopes Chaves, na Barra Funda, em São Paulo, presta homenagem ao Senador Joaquim Lopes Chaves, tendo ali residido, por muitos anos, o escritor Mário de Andrade, que em muitos de seus poemas cita nominalmente o logradouro. Em um deles diz: “Nesta
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Barões em Jacareí
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Bherta Celeste Homem de Mello
Rua Lopes Chaves / Envelheço, e envergonhado / Nem sei quem foi Lopes Chaves”. Atualmente, poucos documentos históricos preservam a memória desta nobreza jacareiense, barões que ajudaram a patrocinar o Império até a Proclamação da República.
Sangue Infecto: judeu, mouro ou mulato.
Aniversários são comemorados desde o Egito antigo. Inicialmente restritos a faraós e deuses, o hábito se estendeu aos romanos até os primórdios do cristianismo quando o costume foi abolido por causa de suas origens pagãs. O Natal, aniversário de Jesus Cristo, somente passou a ser celebrado no século IV, fazendo ressurgir os festejos tradicionais. No decorrer dos tempos foram surgindo outros simbolismos como o bolo, as velinhas e a canção dos parabéns. No Brasil, todos os dias, centenas de milhares de pessoas comemoram seus aniversários e na maioria das celebrações é cantada a música mais conhecida no país: “Parabéns a Você”. A melodia americana foi criada pelas
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Acervo de Família
Bherta Celeste Homem de Mello
Bherta Celeste Homem de Mello
Bherta Celeste Homem de Mello
professoras e irmãs Mildred Jane e Patty Smith Hill. Em 1875, elas compuseram “Good Morning to All” (Bom Dia a Todos) para seus alunos na cidade de Louisville, no Kentucky. Em 1924, uma editora musical alterou o verso para “Happy Birthday to You”. A música Mildred Jane e Patty Smith Hill com apenas seis notas foi utilizada em uma peça na Broadway, tornando-se ao longo dos tempos uma das mais populares da língua-inglesa, espalhando-se pelo mundo e chegando ao Brasil no final da década de 1930, cantada nas festinhas das famílias abonadas. Em 1942, o cantor e radialista carioca Almirante, contagiado por um espírito nacionalista e irritado ao ouvir os brasileiros cantando a canção em inglês, realizou um concurso na Rádio Tupi do Rio de Janeiro para escolher uma letra em português, recebendo em torno de cinco mil cartas do país inteiro. O júri formado pelos escritores Cassiano Ricardo, Olegário Mariano e Múcio Leão, todos da Academia Brasileira de Letras, escolheu a quadrinha composta por Léa Magalhães, pseudônimo de Bherta Celeste Homem de Mello, que criou versos originais para a monótona canção original. O prêmio foi de duzentos cruzeiros, sendo a música interpretada pelo “Trio de Ouro”. “Parabéns a você Nesta data querida Muita felicidade Muitos anos de vida” Bherta Celeste nasceu em 21 de março de 1902, filha única do casal de fazendeiros José Joaquim e Maria da Conceição Varela Homem de Mello. Muito cedo ficou órfã de mãe, indo cursar o ginásio no Colégio Caetano de Campos, em São Paulo. Casada com seu primo Lorival Homem de Mello e mãe de Lorice, Bherta tinha 40 anos na ocasião do concurso e morava em Pindamonhangaba, sua cidade natal. Embora formada em farmácia, levava a vida de uma simples dona de casa que gostava de ouvir o velho rádio de válvulas, fazer poemas e crônicas. Ao descobriu os jingles, passou a criar rimas para diversos produtos, ganhando prêmios, alguns em dinheiro, outros em mercadorias.
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Bherta Celeste Homem de Mello
Porém, ela não imaginava que a despretensiosa quadrinha, criada em cinco minutos, se transformaria na música mais cantada no país. Além da canção de aniversário, compôs “Arraiá” gravada pelo cantor e apresentador Rolando Boldrin. Na área literária, uma coleção de seus escritos foi reunida em um livro por ela intitulado “Devaneios”. Aos 54 anos, Bherta e sua família mudaram-se para Jacareí, residindo na Rua Pompílio Mercadante, já que a filha Lorice veio lecionar em uma pequena escola no bairro dos Remédios. Aqui residindo, viveu grandes emoções com sua mais famosa canção, especialmente durante a festa do IV Centenário da cidade de São Paulo e também na visita do Papa João Paulo II a Aparecida em 1980. Entretanto, Dona Bherta irritava-se com os “erros gravíssimos” cometidos pelos brasileiros ao cantar sua versão: o certo seria “Parabéns a você” (e não “pra você”); “nesta” (e não “nessa”) e por fim, “muita felicidade”, no singular. Dona Bherta faleceu em Jacareí, vítima de uma pneumonia, em 16 de agosto de 1999, aos 97 anos, sendo sepultada em Pindamonhangaba. No ano anterior havia recebido o Título de Cidadã Jacareiense. Também em sua homenagem, seu nome foi dado a uma rua no loteamento Jardim Terras de Santa Helena. Curiosidades: O “Parabéns a você” é o momento mais importante de uma festa de aniversário. Terminada a canção, surge um grito de evocação: “E pro Fulano, nada! Tudo! Então como é que é? É”, seguido do conhecido e enigmático “É pic, é pic, é pic, é pic, é pic! É hora, é hora, é hora, é hora, é hora! Rá, tim, bum! Fulano, Fulano, Fulano!”. Mas de onde teria surgido este complemento que nada tem a ver com a melodia original? A versão mais conhecida, divulgada pelo site da FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, diz que a origem remonta à década de 1920 a um grupo de estudantes boêmios da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, entre eles Ubirajara Martins de Souza, apelidado “Pic-Pic”. Quando saiam para beber no bar Ponto Chic, no Largo do Paissandu, os alunos precisavam esperar meia hora por uma nova rodada de cerveja, tempo para a bebida resfriar nas barras de gelo. No momento oportuno passavam a
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gritar: “É meia hora, é hora, é hora, é hora, é hora”. Naquela época, os populares estudantes das “Arcadas” eram constantemente convidados para eventos da sociedade paulistana e o canto do “pic-pic” foi-se difundindo pelas festas de aniversário, se estendendo, depois, para todo o país. Em alguns lugares do Brasil, como o Rio de Janeiro, canta-se “É big!”, evidente influência da língua americana sobre o canto popular. E quanto ao “Rá-Tim-Bum”? Existem duas versões: naquele período, recebeu a Faculdade a visita de um rajá indiano cujo nome tinha a sonoridade parecida com Timbum, o que deu a oportunidade de os alunos incorporarem ao final dos seus cantos um novo grito de guerra: “Ra-já-Tim-bum!”. No entanto, a versão mais provável seria a tentativa de reproduzir a sonoridade de uma fanfarra e seus instrumentos como a caixa (Rá), os pratos (Tim) e o bumbo (Bum). Direitos Autorais: As autoras da melodia original registraram a canção em 1893. Trinta anos depois, o americano Robert Coleman editou um livro e sem autorização alterou a letra original para “Happy Birthday to You”. A canção ganhou popularidade e em 1933 Jessica Hill venceu uma briga judicial pelos direitos autorais da música. Em 1935, a empresa Birchtree Ltd adquiriu a canção e administrou seus direitos por mais de meio século, vendendo-a em 1988 à editora Warner Chappell. A composição passou a domínio público nos Estados Unidos em 2015. No Brasil, a composição não enriqueceu a autora da letra. Os direitos autorais só começaram a serem recolhidos dois anos depois do concurso realizado da Rádio Tupi, ocasião que a gravadora Continental adquiriu os direitos de execução. Os herdeiros da autora brasileira recebem somente os direitos sobre a letra em português, representando 16,66% do valor arrecadado pelo ECAD – Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de Direitos Autorais. O restante é dividido entre a Warner Chappell e os herdeiros das duas autoras americanas.
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Segundo a revista americana Forbes, a execução comercial da música rende em média aos cofres da Warner mais de dois milhões de dólares anuais. A Legislação Brasileira protege os direitos do autor durante a vida e após 70 anos de seu falecimento. No caso da versão nacional de “Parabéns a Você” o prazo de proteção vencerá em 31 de dezembro de 2070. No entanto, nas últimas décadas do século XX, Dona Bherta ficou sem receber metade de seus direitos autorais. Isso porque em 1978 o produtor musical Jorge de Mello Gambier criou uma segunda estrofe seguindo a mesma melodia: “A você muito amor / E saúde também / Muita sorte e amigos / Parabéns, parabéns.” Este trecho, gravado pela grupo “As Melindrosas”, liderado pela cantora Gretchen, se tornou parte da versão original e o produtor passou a ser considerado co-autor, recebendo metade dos direitos autorais, posteriormente perdidos para os herdeiros de Dona Bherta após uma disputa judicial encerrada em 2009.
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Paulistano do Brás, Biagino Chieffi nasceu em 9 de outubro de 1916. Seus pais, os italianos Antonio Chieffi e Josefina Grandinetti Chieffi, provenientes de Palermo, tiveram outros seis filhos: Antonio, Armando, Nelson, “Ziloca”, Carmem e Elza. A Fábrica de Fogos Caramuru era propriedade de seu pai. Ainda jovem, assumiu o controle dos negócios e no decorrer dos anos criou outras empresas na área pirotécnica, como a “Índios” e a “Marco Polo”, Biagino Chieffi com unidades nas cidades de Santa Branca, Santa Isabel e Santo Antonio do Monte. Em Jacareí também foi sócio da Litotipográfica Jacareí, da Imcomtex e da Fábrica de Armas Modernas – FAM. Além das atividades empresariais, criou três grandes loteamentos, com mais de 1200 terrenos: o Jardim Paraíso, o Jardim Yolanda e o Parque Caramuru.
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Amante dos bailes carnavalescos, um deles se tornou especial. Embora noivo, conheceu e apaixonou-se pela bela caçapavense Yolanda Capelli, casando-se em 24 de setembro de 1939. Entretanto, nem só de glórias viveu o empresário, que também sofreu grandes revezes financeiros. Na falência material, descobriu um tesouro até então desvalorizado: os amigos, inclusive seus funcionários, sempre próximos e leais. Pela fidelidade e dedicação, cada um deles recebeu um lote de terreno no Jardim Paraíso. Além dos amigos, sempre contou com o apoio e orações da esposa, tornando-se devoBiagino e seu sócio to de Nossa Senhora Aparecida após a recuperação Pedro Quina de Siqueira da empresa. Apesar da grande popularidade em Jacareí, nunca quis exercer ou disputar qualquer cargo político, preferindo dar ao povo grandiosas Festas da Padroeira, a maior delas em 1960. No Trianon Clube, onde foi presidente, realizou inesquecíveis carnavais, com bailes e desfiles de fantasias. Incentivou, também, o carnaval de rua, organizando em 1980 um grande desfile de escolas de samba da cidade, trazendo vários artistas como jurados. Mesmo promovendo a festa, torcia por sua escola do coração: GRES Unidos de Santa Helena. Biagino era um “bon vivant” e transbordava carisma. Assim fez um grande círculo de amigos, tanto em Jacareí como na cidade de São Paulo, onde era próximo de muitos artistas da extinta Rede Tupi, sendo inclusive padrinho de casamento do humorista Ari Toledo e do apresentador Raul Gil. Morava tanto em São Paulo, em um amplo apartamento na Avenida Paulista como em Jacareí. Aqui, dentre outros lugares, residiu em uma ampla casa na Praça Anchieta, além da Chácara Itapeva, onde reunia os amigos para um carteado regado a Grant’s, seu whisky preferido. Em seus aposentos, voltados para o Rio Paraíba, gostava de
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apreciar a paisagem e fumar seu inseparável Minister. Enquanto Biagino cuidava dos negócios, dona Yolanda realizava suas obras sociais, principalmente junto aos asilos, igrejas e Santa Casa. Juntos, o casal almejava criar um asilo para abrigar casais de idosos desamparados, ideal concretizado somente em 12 de outubro de 1998, quando foi fundado o Lar São Vicente de Paulo, atualmente desativado. Apesar de amar a vida intensamente, Biagino não abandonava o vício do cigarro, apresentando graves problemas cardíacos e pulmonares, inclusive sendo submetido a uma cirurgia no coração. Mesmo assim, teimoso e inquieto, continuou a abusar do tabaco até falecer em 11 de abril de 1984, aos 67 anos, no Hospital Beneficência Portuguesa em São Paulo. Após sua morte, seus negócios passaram a ser administrados por sua esposa que acabou transferindo as empresas para outros empresários. Com o falecimento de Dona Yolanda Chieffi em 2006, na falta de herdeiros diretos, o restante de seus bens foi deixado em testamento para amigos e funcionários mais próximos. A atuação do casal deixou marcas na sociedade jacareiense. Em 1970, como forma de agradecimento, a Câmara Municipal outorgou a ambos os títulos de “Cidadão Jacareiense”. Biagino também foi homenageado com nome de logradouros públicos em Jacareí e Santa Branca.
No Vale do Paraíba a tradição do bolinho caipira é secular, não existindo uma receita original. O jornalista João Evangelista de Faria, conhecido como João Rural, estudioso da gastronomia do Vale, defendia a tese que o bolinho seria o resultado de um processo coletivo, sendo incerta sua criação. Outra teoria sustenta que a iguaria teria surgido com os tropeiros que atravessavam a região em direção às Gerais, carregando sempre farinha de milho como 48
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Bolinho Caipira
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Bolinho Caipira
base alimentar. O recheio variava conforme as paradas, podendo ser peixe ou carne de porco. Tradicionalmente, o bolinho caipira tornou-se um prato típico das festas juninas e quermesses das cidades do Vale do Paraíba, sofrendo variações no seu preparo. Em cada localidade, as receitas foram transmitidas pela oralidade, principalmente dentro do ambiente familiar. Interessante observar que apesar de sua enorme popularidade, fora do Vale do Paraíba muitas pessoas o desconhecem. Reza a lenda que os caipiras da região evitavam comê-lo diante de forasteiros por ser um “bolinho mata-fome”, comida de pobre. Como era de se esperar, cada cidade afirma ter a receita original, havendo variações desde o formato, ingrediente base e recheio. Nesta disputa, Jacareí saiu na frente. Assim, pela Lei n° 5.497/2010, em projeto do vereador Edinho Guedes, o “Bolinho Caipira de Jacareí” foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial da cidade, procurando fortalecer a memória coletiva, o turismo e a economia do município. A iguaria deve ser preparada fundamentalmente com massa de farinha de milho branca, polvilho doce, sal, alfavaca ou cheiro-verde e recheada com carne suína ou peixe da espécie lambari. A Lei, entretanto, é omissa quanto ao formato do bolinho. A história conta que este tipo de farinha era largamente produzido na região, portanto mais barato que a farinha amarela. Quanto ao uso da carne de porco, esta era comum nas refeições dos jacareienses, base de diversas outras receitas. Em Jacareí, a história conhecida dos bolinhos remonta ao ano de 1925. Ana Rita Alves, a Dona Nicota, aprendeu a receita com a mãe e ao lado do marido Edouard Gehrke vendeu, por quase trinta anos, os quitutes nas quermesses no Largo da Matriz e em seu “Botequim do Café” no Mercado Dona Nicota, o marido Municipal. Atualmente, o boEdouard Gehrke e família - 1921 linho caipira ainda pode ser encontrado em diversos pontos da cidade, principalmente no Mercado, no “Balcão do Café São Benedito” comandado pelas filhas do Mestre da Cultura Viva, José Maria de Souza, o Zequinha do Mercadão, falecido em 2016.
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O ponto comercial tem mais de 80 anos de funcionamento e manteve a tradição de produzir o famoso bolinho caipira, inicialmente com as irmãs Joaquina e Antonina e depois com a sobrinha Teresa Arno de Souza, mãe de Zequinha, que assumiu o comando do negócio em 1962.
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Brasão de Jacareí
Zequinha do Mercadão
Em 2009, foi criada a “Feira do Bolinho Caipira”, inicialmente no pátio externo do Museu. A partir de 2012 a Feira passou a ser regional, contando com a presença de outros municípios da região que trazem suas receitas típicas e apresentações culturais, num intercâmbio gastronômico e de cultura popular. Em 2015 foi instituída a “Semana Municipal do Festival do Bolinho Caipira de Jacareí”, realizada na última semana do mês de agosto. Além de promover a gastronomia regional, a feira tem o caráter beneficente, com a participação de entidades assistenciais à frente das diversas barracas de comestíveis.
Brasão de Jacareí Brasão de Armas, ou simplesmente brasão, é um desenho especificamente criado com a finalidade de identificar indivíduos, famílias e cidades. A criação de um brasão deve obedecer às leis da heráldica. Não se sabe, com rigor, quando esta prática teve inicio. No entanto, com o declínio das aristocracias, o brasão foi 50
Brasão de Jacareí
perdendo a sua importância, ressurgindo no século XX aplicado na simbologia de municípios e outras entidades. O Brasão de Jacareí foi instituído pela lei n° 229/1952 e suas características reportam a fatos históricos da cidade, conforme descrição realizada pelo historiador Afonso de Taunay, na época diretor aposentado do Museu Paulista. - A parte central do brasão apresenta a peça mais importante: um escudo português, cortado e partido. Seus elementos são descritos do ponto de vista do portador do escudo e não do observador: I. no primeiro quartel, à direita, em campo vermelho, há um rio, de onde emerge um jacaré ao natural que representa as “armas falantes” da cidade (figura que evoca o nome do possuidor das armas); II. no segundo quartel, à esquerda, um leão de prata sobre campo vermelho, peça do escudo dos Afonsos, evocando os fundadores do povoado; III. no campo inferior, em prata, lance de muralha ao natural, abaluartado e ameiado, com portão e seteiras, recordando que Jacareí era o reduto ou casa forte de Bartolomeu Fernandes de Faria, notável sertanista do século XVIII. À porta, uma figura de sentinela encontra-se armada de arcabuz, revestida do gibão de armas dos bandeirantes paulistas. - Abaixo do escudo, uma faixa vermelha com letras de prata, apresenta os dizeres: “PRO PAULISTARUM-JURE-ET-HONORE” (Pelo Direito e Honra dos Paulistas); - Os ramos de café, frutados, lembram a importância da lavoura cafeeira na cidade; - Como tenentes, sustentáculos do escudo, figuram: à direita, um oficial do regimento “2° Corpo de Infantaria de Guaratinguetá e Vilas do Norte”, criado por Morgado de Mateus em 1766; à esquerda, um soldado da Guarda de Honra de Dom Pedro I, rememorando que Jacareí foi a segunda vila do Brasil visitada pelo Príncipe Regente logo após a Independência; - Abaixo da arte central da coroa mural, um escudete de campo azul, com a lua crescente, evocando Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade. Existindo leis internacionais que regem a heráldica, o brasão jacareiense necessita de algumas correções, entre elas a coroa mural, privativa das municipalidades, que aparece acima do escudo com apenas três torres à vista, características das aldeias ou povoados. Uma vez que o número de torres determina o status da localidade, a coroa mural da cidade de Jacareí deveria ter cinco Coroa mural correta
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Brasão de Jacareí
torres visíveis . Curiosamente, o brasão da vizinha São José dos Campos, apesar de acertar no número de torres, erra em tê-la em dourado, característica própria das Capitais. Problemas com a autoestima destas cidades valeparaibanas? Ou simples desconhecimento na arte de brasonar? Em 30/04/2013, a lei n° 5.767 criou a “Carta Cívica Municipal” composta pelos símbolos do Município (Bandeira, Brasão e Hino), consolidando todas as leis que os criaram.
Historiadores e autoridades da cidade iniciam o processo para correção do brasão municipal (Setembro/2017)
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C Carlos Frederico Moreira Porto, filho de Joaquim Custódio Moreira Porto e Gertrudes Idalina de Morais, nasceu em Jacareí em 28 de setembro de 1856, em uma casa na esquina da Rua do Cubatão com a Ladeira do Porto. Seu pai teria vindo de Portugal em 1850 para trabalhar na construção do palacete do Barão de Santa Branca. Carlos Porto, ainda jovem, trabalhava no comércio no Rio de Janeiro, só retornando a Jacareí após o falecimento do pai. Sem diploma acadêmico, entrou para a vida política Carlos Frederico Moreira Porto local e foi designado Delegado de Polícia em 1879, aos 23 anos. Durante certo período foi o responsável pelo serviço de iluminação pública da cidade, ainda à base de lampiões. Enquanto diretor do Partido Liberal local, exerceu vários cargos, quer eleito pelo povo, quer nomeado pelo Governo. Em 1889, com a Proclamação da República e a extinção de seu partido, migrou para o Partido Municipal e posteriormente para o PRP – Partido Republicano Paulista, quando foi novamente nomeado Delegado, função que exerceu até ser eleito para a Câmara Municipal, onde exerceu o cargo de Intendente (Prefeito – 1895/1898). Eleito deputado no Congresso Estadual por três legislaturas (1898/1906), era também oficial da Guarda Nacional em Jacareí com as patentes de Tenente (1881) e Coronel (1892). Entre os relevantes serviços prestados a Jacareí pode-se destacar a criação do 1° Grupo Escolar em 1895 e a equiparação do Colégio Nogueira da Gama
Tela: Acervo Museu de Antropologia do Vale do Paraíba
Carlos Porto
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Cartórios Extrajudiciais
Anuário de 1906
ao Gymnásio Nacional em 1899. Após uma doença que o deixou acamado por vários meses, faleceu aos 49 anos em 29 de agosto de 1906, deixando viúva a Sra. Mariana de Oliveira Porto. Está sepultado no Cemitério Campo da Saudade, em mausoléu construído pelos cofres públicos em 1914.
Cortejo fúnebre de Carlos Porto
Cartórios Extrajudiciais Os tabelionatos teriam surgido paralelamente ao desenvolvimento da escrita. Os tabeliães eram aqueles que na Idade Antiga escreviam em tábuas de cera denominadas tábulas ou tabulários, dando início a solenes registros de nascimento, morte, compra e venda de propriedades, empréstimos, declarações e sentenças. Inicialmente foi necessário que a Igreja assumisse esse papel, já que detinha o respeito e o poder divino, sendo os religiosos os “longa manus” estatais para anotar, registrar e dar fé aos atos e fatos. Com o passar do tempo, entretanto, parte das funções foi repassada para os doutores da lei e outros letrados de importância destacada na sociedade. O tabelionato português deixou ramificações no notariado instalado no Brasil. Até a década de 1980 era o Poder Executivo que nomeava os tabeliães, havendo certa confusão acerca de uma suposta hereditariedade, já que na vacância da titularidade do cartório geralmente era designado o substituto mais antigo, o qual poderia ser um dos filhos ou outro parente. A Constituição de 1988 e a Lei
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Cartórios Extrajudiciais
8.935/1994 mudaram essa regra e estabeleceram que para ser titular de serviço notarial e de registro é necessário além do título de bacharel em Direito, a aprovação em concurso público específico. Desta forma, estes servidores recebem delegação do poder público para registrar atos extrajudiciais e fornecer certidões, tendo fé pública para garantir a eficácia dos negócios jurídicos. Muitos acreditam que há um excesso de “carimbo público” para que se ternha uma segurança jurídica. Hoje em dia, no entanto, os cartórios vão muito além da simples função de registrar, assegurando ao Estado a mais eficiente e segura estrutura de fiscalização, sem nenhum custo para os cofres públicos. Em contrapartida, estas unidades extrajudiciais, vulgo cartórios, são fiscalizadas pelo Poder Judiciário que periodicamente promovem as devidas correições. Não existem estimativas seguras para afirmar quantas vezes uma pessoa precisa recorrer aos cartórios no decorrer de sua vida. Com certeza inúmeras são as ocasiões, seja para fazer o registro de nascimento ou casamento, autenticar assinaturas, transferir imóveis, lavrar uma escritura, averbar um testamento ou registrar um óbito. Na verdade, o brasileiro nasce e morre dependendo de um cartório.. Em Jacareí, como em todas as localidades do país, por várias décadas os cartórios foram administrados por membros de uma mesma família. Estas se tornaram tradicionais e por gerações escreveram seus nomes na história da cidade.
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1° Tabelião de Notas e Protesto
O 1° Cartório de Notas de Jacareí foi instituído em 5 de fevereiro de 1819, tendo atualmente quase dois séculos de existência. Apesar de não existir um histórico acerca dos primeiros tabeliães, sabe-se que durante muitos anos esteve sob o comando da família Mesquita. CoincidenBenedito Braga de Mesquita e família temente no século XVII já havia um ancestral familiar chamado Antonio de Siqueira que era proprietário dos ofícios de Tabelião, de escrivão da Câmara e de órfãos da Vila de Santos, na Capitania de São Vicente. Antonio de Souza Mesquita, de família de Paraibuna, era casado com Maria Osória, filha do Ajudante José Ferreira Braga, um dos primeiros cafeicultores da região. O casal era pai de Benedito Braga de Mesquita, Tabelião deste Cartório no início do século XX. Casado com Dona Hermínia Silva, 1ª Diretora Escolar no Estado de São Paulo, o casal teve sete filhos: Anibal, Gumercindo, Oscar, Jeferson, Enéas, Gastão e Benedito Filho.
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Cartórios Extrajudiciais
Enéas de Mesquita, nascido em 1901, farmacêutico de formação, sucedeu o pai à frente do Cartório em 1931, mesmo ano em que se casou com Olga de Carvalho. Desta união nasceram três filhos: Eduardo, Ederaldo e Eneida. Eduardo de Mesquita, casado com Marília de Mesquita, assumiu o Cartório em 1969, após o falecimento do pai. Esteve à frente até o final dos anos 1990, quando José Carlos Mattana assumiu interinamente o Tabelionato, fato que se repetiu entre 2011 e 2013. O primeiro Tabelião a assumir o Cartório por concurso público foi o Dr. Ricardo Alexandre Barbieri Leão que comandou o Tabelionato entre os anos de 2005 e 2011, período que implantou inovações tecnológicas e transferiu as instalações para o atual endereço na Praça Anchieta. O 1° Tabelionato teve sede na Rua Antonio Afonso até 1965, quando todos os Cartórios foram transferidos para o Fórum, lá permanecendo até a década de 1980. Posteriormente, retornou à antiga rua, onde esteve estabelecido em dois endereços distintos. Desde 2013, o 1° Cartório de Notas tem como Tabeliã Titular a jovem santista Dra. Tânia Pessin Fábrega Satudi, graduada pela PUC de São Paulo.
Equipe de Servidores do 1° Cartório de Notas de Jacareí
Cartório de Registro de Imóveis Em Jacareí, o primeiro registro imobiliário ocorreu em 14 de maio de 1866, dois anos após a criação dos Cartórios de Registros de Imóveis por Lei do Imperador Dom Pedro II. Naquela época, a Comarca de Jacareí abrangia também as atuais cidades de São José dos Campos, Santa Branca, Santa Isabel e Mogi das Cruzes. A primeira transcrição referiu-se a uma “chácara e terras” em Mogi das Cruzes. O segundo registro, datado de 4 de junho de 1866, deu-se sobre terras
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de Antonio Júlio da Costa Guimarães, no bairro do Campo Grande, em Jacareí. Desde sua criação, 15 Oficiais Registradores estiveram à frente do Cartório. O primeiro foi José Leme da Silva Ramalho (1866/1879). Já no século XX, a partir de 1921 e durante 36 anos, a família Azevedo Chaves esteve no comando, primeiramente com José Rodrigues (Juca Azevedo). Em 1945, adoecido, deixou o Cartório para seu filho e foi residir em São Vicente, falecendo em 1952. Azênio de Azevedo Chaves esteve à frente do Registro Imobiliário até seu falecimento em 1957, sendo substituído interinamente por sua esposa Elizena Porto Juca Azevedo Chaves que lá trabalhou até sua aposentadoria. Em agosto de 1958, José Pereira de Andrade, o Jucão, veio de Botucatu para assumir o Cartório de Imóveis. Aposentado em 1984, seu filho Dr. Edson de Oliveira Andrade, graduado pela Faculdade de Direito do Vale do Paraíba, foi promovido ao cargo de Oficial Delegado por Decreto do Governador do Estado de São Paulo. O Cartório esteve instalado desde 1926 em parte da residência do Oficial Registrador, no Largo do Rosário n° 1. Neste local foi erguido no início da década de 1970 o edifício Juca Azevedo, atual Pioneiro, primeiro arranha-céu da cidade. Em setembro de 1965, o cartório mudou-se para o recém construído edifício do Fórum e no ano de 1985 transferiu-se para um prédio na Rua Quinze de Novembro, ampliado e modernizado em 2009.
APHJ
Livro da Câmara Municipal de Jacareí
Cartórios Extrajudiciais
Acervo de Família
Cartório no Largo do Rosário
José Pereira de Andrade e Edson de Oliveira Andrade
Servidores do Cartório de Registro de Imóveis
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Acervo: Cláudio Cambusano
Cartórios Extrajudiciais
Cartório de Registro Civil O Registro Civil das Pessoas Naturais tem como finalidade comprovar todos os fatos legais da vida social de uma pessoa, como a naturalidade, a idade, a filiação, o estado civil e o falecimento. Este registro garante aos cidadãos uma série de direitos e obrigações. No Brasil, o registro civil teve início em 1850, não afetando, entretanto, o tradicional registro religioso. Em 1863 foi instituído o registro de casamento leigo para os acatólicos. Onze anos depois, foi regulamentado o registro civil de nascimento, casamento e óbito. Após a Proclamação da República em 1889, a evolução rompeu os obstáculos eclesiásticos com a decretação do “casamento civil”, o único oficialmente reconhecido, não impedindo, contudo, que continuasse a ser sacramentado também nas igrejas. Apesar das novas normas, muitos pais de família ainda insistiam que suas filhas nunca se casariam em um simples cartório. Em Jacareí, o Cartório de Registro Civil começou a atuar em 1° de setembro de 1875, tendo a frente Benedito Rodrigues do Prado Sobrinho como primeiro Oficial Registrador. Devidamente registrados, o primeiro nascimento foi da natimorta menina Ana, em 1° de outubro de 1875, filha de Vicente Martins de Siqueira e Maria da Conceição. O primeiro casamento deu-se em 6 de novembro de 1875, sendo contraentes Joaquim Rodrigues de Oliveira (17 anos) e Maria Joaquina das Dores (21 anos). Em 30 de setembro de 1875 deu-se o primeiro óbito registrado: Elisa, de sete meses de idade, filha de Bonfim José de Araújo e Benedita Nunes de Siqueira, faleceu em decorrência de “febre”. Durante quase 100 anos, o cartório foi comandado pela família Vianna/ Moraes: Belmiro de Oliveira Vianna Cortez (1889/1922), Esdras Benedito Vianna (1922/1933), Odilon Vianna de Moraes (1933/1950), Myette Brasiliense Monteiro Vianna (1950/1952), José de Moraes (1952/1977) e Meirinira Barbosa de Morais (1977/1981). A partir de então, o cartório teve à frente dois servidores: José Augusto Tecedor (1981/1998) e Roseli Aparecida Fernandes (1998/2007). Ao longo de todo esse tempo, esteve instalado em vários locais da cidade, inclusive em uma sala na Fábrica de Biscoutos Jacareí. A partir de 1965 até a década de 1980 Casamento Civil de Marilene Renci Cambusano esteve sediado no Fórum da cidade. e João Baptista Cambusano (Dú), celebrado por Waldomiro Dantas Cortez - Fórum 06/08/1970
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Cartórios Extrajudiciais
Atualmente localizado ao lado da Prefeitura Municipal, desde 2007 tem como Titular o Dr. Marcelo Salaroli de Oliveira, bacharel pela USP e Mestre em Direito pelo Unesp.
2° Tabelião de Notas e Protesto O 2° Cartório de Notas de Jacareí foi instituído em 22 de março de 1893 e o primeiro Tabelião foi Joaquim Miguel de Andrade que ficou a sua frente até 1919. A partir daí, por várias décadas, membros da família Egydio estiveram no comando do Cartório. O paulistano Renato Egydio de Oliveira Carvalho, filho do senador Paulo Egydio de Oliveira Carvalho, costumava vir a Jacareí visitar a irmã Marieta, casada com o Promotor Antonio de Sá Filho. Na cidade enamorou-se da jovem Renato Egydio e Maria José Maria José de Siqueira, filha do casal Rita e João de Ascom os filhos Elisa e Otávio sis Siqueira, o João do Canto, que residia na esquina da Rua do Rosário com a Rua da Misericórdia. Casados, da união nasceram os filhos Zaíra, Elisa, Renato, Ary, Otávio e Fábio. Nomeado Tabelião, Renato Egydio exerceu a função até seu falecimento em 1943, sendo substituído pela esposa que se tornou a 1ª Tabeliã do Estado de São Paulo. Sem experiência, Dona Zezé, como era conhecida, convidou seu genro Alfeu Antunes, casado com sua filha Elisa, para assumir o cargo de Oficial Maior.
Avervo de Família
Servidores do Cartório de Registro Civil
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Cartórios Extrajudiciais
Acervo de Família
Acervo de Família
Aposentadorias consecutivas levaram às alterações na titularidade do cartório: Alfeu Antunes sucedeu a sogra em 1968 e foi sucedido por seu cunhado Fábio Fernando Egydio de Oliveira Carvalho em 1984, o último da tradicional família à frente do Cartório.
Alfeu Antunes
Funcionários do 2º Tabelião - 1946
Fábio Fernando Egydio O. Carvalho
Em 2012, diante da vacância do cargo, foi designada a Sra. Aparecida Barbieri Leão que respondeu pela delegação até 2015, ocasião em que o Dr. Fernando Ibanez Ribeiro, graduado pela Faculdade de Direito de Sorocaba, foi nomeado Tabelião Titular.
Servidores do 2° Cartório de Notas de Jacareí
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Cemitérios
Cemitérios A palavra cemitério tem sua origem em um verbo grego, “fazer deitar”, e foi dada pelos primeiros cristãos aos terrenos destinados à sepultura de seus mortos. Na época do Brasil Colônia, o moribundo que não dispunha em testamento a vontade de ajudar a Igreja arriscava não ser enterrado em solo sagrado. O preço de um enterro naquela época variava de acordo com o local, sendo mais caro dentro das igrejas, nas partes mais elevadas ou próximas do altar. Nas partes baixas, no solo e adros, era mais barato. Imaginava-se que sepultar os corpos em lugares santos traria vida eterna e ressurreição para a alma. Procurando demonstrar hierarquia, fortuna e devoção, pessoas importantes faziam questão de descer ao túmulo usando mortalhas com símbolos de suas confrarias. O uso do sarcófago ou do caixão ainda era raro. Ana Luíza do Patrocínio em seu livro “Jacareí: Quotidiano & Sociedade de 1840 a 1870” diz que enquanto o Brasil não era uma nação laica, “as leis da Igreja Católica obrigava o enterro de pessoas em solo consagrado, respeitando a idade, o sexo e a condição social do falecido”. Entretanto, no século XIX, por questões higiênicas, os sepultamentos deixaram as igrejas. Não houve uma proibição legal, mas um incentivo ao uso do cemitério extramuros. Estes eram administrados pela autoridade eclesiástica competente em acordo com o poder público municipal. Muitos católicos reclamavam: “essa gente sem Deus não quer mais enterros dentro das igrejas”. Em 1845, Jacareí possuía quatro irmandades e dois cemitérios. Os sepultamentos se davam concomitantemente, tanto nos cemitérios como na Matriz e nas Capelas do Bonsucesso, Santa Cruz do Avareí, Carmo e Rosário, locais sagrados que continuavam a ser privilégio daqueles com maior poder financeiro. O cemitério público, localizado em um segmento da atual Rua Barão de Jacareí, era responsabilidade da Irmandade do Bonsucesso e servia somente à comunidade católica. Ao lado, o judeu Luiz Simon adquiriu um pedaço de terra para o sepultamento dos membros de sua família. Outros campos santos também foram criados para os enterramentos dos negros e mulatos, havendo um pequeno cemitério próximo ao Largo do Rosário, responsabilidade da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Em meados do século XIX, entretanto, a região do Bonsucesso começou a ser requisitada para outros tipos de ocupações. Havia muitos terrenos sem 61
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Cemitérios
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donos. Outros começaram a ser negociados. Um novo cemitério precisava ser construído, grande o suficiente para permitir uma quadra para cada confraria. Um terreno ao longo da antiga Estrada Geral, no Avareí, distante do centro urbano, foi escolhido para a construção da nova necrópole. Entretanto, não havia dinheiro para isso. Subscrições foram encabeçadas por diversas autoridades até que Bento José Branco doou as terras para o cemitério católico. O novo cemitério foi inaugurado em 1870. Construído por uma empresa de Mogi das Cruzes, sua área era bem menor que a atual. O portão de entrada dava diretamente na capela levantada em taipa de pilão. A disposição das covas respeitava a posição social e religiosa dos mortos. Havia a quadra dos barões e as quadras das irmandades. Ao fundo, duas áreas serviam aos escravos. No início a região era de difícil acesso nas épocas de chuvas. Algumas vezes era preciso que a Estrada de Ferro autorizasse o uso da linha férrea para a Antiga entrada do cemitério - 1939 passagem, tanto dos mortos, quanto daqueles que seguiam o féretro. Ao que tudo indica, o antigo cemitério da Rua Barão foi parcialmente abandonado, sendo encontradas algumas ossadas no século seguinte. Apesar do estatuto do novo cemitério prever a criação de um local para o sepultamento dos acatólicos, coube novamente a Luiz Simon adquirir um terreno paralelo e para lá transferir seus mortos, liberando também para o sepultamento de negros, protestantes, enfim, de todos os não-católicos. Em determinada ocasião, ele também permitiu que sua necrópole recebesse os cadáveres dos variolosos, renegados pelo cemitério municipal. Muitos anos depois, com o fim das questões religiosas, ambos os cemitérios foram agregados. Segundo Cristina Gimenes, bisneta de Luiz Simon, o cemitério acatólico foi doado ao município por Eva Simon Block. Atualmente, logo à entrada principal, à esquerda, encontra-se o sepulcro da família judia e isso explica haver no cemitério inaugurado em 1870, um túmulo trazendo uma data de 1850, ano da morte de Luiz Goodchaux, tio de Luiz Simon. Jazigo da Família Simon
Cemitérios
Cemitério Campo da Saudade
Túmulos de Dona Adélia e Cônego José Bento
Um século havia passado quando o Cemitério Campo da Saudade deixou de comportar novos sepulcros e os muros começaram a ser usados para depósito dos despojos. Em 1981 a Prefeitura Municipal construiu o cemitério Jardim da Paz, no alto do Parque Santo Antonio. Projetado para ser um cemitério jardim, transformou-se, com o tempo, num cemitério normal, repleto de túmulos.
A necrópole do Avareí tem um inestimável valor histórico. Apesar dos milhares de túmulos, sua quadra inaugural abriga dezenas de sepulcros centenários que guardam os restos mortais de personalidades como João da Costa Gomes Leitão, Barão de Santa Branca, Lúcio Malta, Cônego José Bento, dentre outros. Há ainda aqueles considerados milagrosos como o de Dona Adélia Braga de Siqueira, do Padre Saint Clair e da menina “Janaína”. Um verdadeiro “museu a céu aberto”, patrimônio histórico pouco preservado e explorado pela municipalidade.
Cemitério Jardim da Paz
Jacareí possui ainda um cemitério-parque, privado, onde simples chapas de metal assinalam o local da sepultura. Atualmente, tem-se adotado também a prática da cremação dos corpos, deixando de ser necessárias amplas áreas para sepultamento.
Cemitério Memorial do Vale 63
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Arquivo Público e Histórico de Jacareí
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Os irmãos Lumière inventaram no final no século XIX um aparelho chamado cinematógrafo utilizado para filmar e projetar imagens. A palavra cinema, derivada da invenção, é considerada tanto a “Sétima Arte” ou simplesmente uma sala pública onde filmes são apresentados. A primeira exibição pública e paga ocorreu em Paris em 28 de dezembro de 1895. Consistia em uma série de dez filmes com duração de 40 a 50 segundos cada. O evento causou comoção nas poucas pessoas presentes. No Brasil, a primeira projeção deu-se em 8 de julho de 1896, no Rio de Janeiro. Em uma sala alugada na Rua do Ouvidor, foram projetados oito filmes de cerca de um minuto cada, retratando cenas do cotidiano de cidades da Europa. Os ingressos eram caros e só a elite carioca participou daquele momento histórico. Desde o início, nenhuma técnica conseguia sincronizar a imagem com o som. Durante mais de 30 anos, os filmes eram mudos, acompanhados muitas vezes por músicos ou por diálogos escritos entre as cenas. Somente em 1927, a Warner Brothers lançou o filme “O Cantor de Jazz” com alguns diálogos e cantorias sincronizadas. Jacareí passou por todos esses processos. Em 1906, havia esparsas apresentações do “Cinematógrafo Falante” no velho teatro na Rua do Mercado. Três anos depois, transformado em sala de cinema, o local abrigou o primeiro cinema de Jacareí: o “Cine Ideal”, propriedade de José Bonifácio de Mattos. Anos depois, este cinema mudou-se para o Largo da Matriz, em prédio próprio, “luxuoso e cômodo”. O ano de 1911 foi especial. Em um prédio de esquina nos “Quatro Cantos”, a empresa Perretti & Cia inaugurou uma sala mais simples, o “Cine Bijou” que funcionou até 1916. Perto dali, no Largo do Bonsucesso, ainda sem calçamento, no prédio da antiga residência da família do Ajudante Cinema Popular Braga, era inaugurado o “Cinema Popular”, propriedade de Américo Mercadante & Melo. A cidade de apenas 18 mil habitantes contava com três salas de cinema. Porém, nem todos entendiam aquela forma de lazer. O jornal “O Imparcial”
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destacava “o mal que nos ocasiona a luz, cuja intensidade muitas vezes os nossos olhos não resistem”. Ou ainda: “o público não deseja ver tragédias e dramas de pavor que só nos entristecem e impressionam. Algumas pessoas viam-se obrigadas a fechar os olhos. Que satisfação poderia trazer tal espetáculo?”. Em 1918, após passar pelas mãos de Isidoro Rossi, o Cinema Popular foi vendido para Albano Máximo. Nos “Quatro Cantos”, surgiu o “Cine Guarani”, propriedade de Simone Laurino, que utilizava uma interessante estratégia de persuasão: exibia a primeira parte do filme num paredão externo no prédio vizinho de FeliAlbano Máximo pe Tarantino. Depois da sessão gratuita, o público interessado era convidado a pagar e assistir a sequência dentro do cinema. Posteriormente, o cinema mudou-se para a mesma rua, na antiga residência do Barão de Jacareí. Naquela época, tudo ainda era realizado de forma rudimentar. O projetor ficava atrás da tela branca e às vezes era necessário jogar latas de água para esfriá-la. Os músicos, utilizados para disfarçar a mudez dos filmes, também ajudavam a atrair o público sumido durante a epidemia de gripe espanhola. Muitas vezes a música era melhor que os filmes. Os proprietários dos cinemas, de maneira a divulgar as sessões, espalhavam meninos pelas ruas distribuindo boletins com os resumos e horários dos filmes. Simone Laurino Na década de 1940, dois cinemas instalaram-se na Rua Alfredo Schürig: primeiramente o “Cine Art Palácio” e depois o “Cine Paratodos”, este localizado na parte antiga do atual EducaMais Centro, propriedade de Gregório Kotler e depois vendido para Albano Máximo. Em Jacareí, muitos empreendedores atuaram nesta forma de entretenimento. Entretanto, merece destaque a “Empresa Cinematográfica Reunidas Máximo Ltda”, propriedade de Albano e seus filhos Nilo e Eliceu Máximo, que investiu na construção e modernização dos cinemas no Vale do Paraíba e Litoral Norte.
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Acervo: Cláudio Cambusano
O primeiro deles foi o Cine Rio Branco, inaugurado em 1918. Somente em 3 de agosto de 1930, com moderna aparelhagem, foi apresentado seu primeiro filme falado, “Gavião do Céu”. Apesar da inovação, jornais criticavam o som: “uma fita ou é bem falada ou é muda”. Em 1952, o antigo cinema foi demolido para dar lugar a um novo prédio, maior, com palco, criando um misto de cinema e teatro, inRoberto Carlos –Década de 1960 clusive com apresentações de shows musicais. Neste cinema, o sistema de som externo, além de tocar músicas e fazer propagandas, anunciava as sessões, às 19h e 21h, afora as matinês. As filas eram constantes, algumas vezes contornando o quarteirão, todos esperando pela “boca de espera”, uma música que sinalizava o momento de entrar. Fechado no final do século XX, o prédio foi alugado para uma igreja evangélica. Cine Rio Branco Em 16 de outubro de 1943, a família Máximo inaugurou a segunda casa da companhia. Na outrora “Padaria e Confeitaria Central” e também residência da família Nathan, ergueu-se um moderno prédio com capacidade para 1200 pessoas. Na inauguração foi exibido o filme “Sempre no meu Coração”. Esta sala de cinema atingiu seu auge nas décadas de 1950/1960 e em 1974 passou por uma ampla reforma. Após seu fechamento em 1998, o imóvel ficou abandonado por muitos anos até ser adaptado e utiliCine Rosário - 1943 zado como um restaurante. O terceiro cinema dos “Máximo” foi o Cine Avenida, inaugurado na década de 1960 com o filme “A Conquista do Oeste”. O mais simplório dos cinemas de rua, situado fora da região central da cidade, não teve vida longa. Nas décadas seguintes, se destacou como exibidor de pornochanchadas nacionais. Ficou decadente,
Arquivo Público e Histórico de Jacareí
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Divulgação
exibindo inclusive shows de sexo explícito. Como diziam: “virou um pulgueiro”. O prédio, por alguns anos, serviu também a uma igreja evangélica e recentemente passou a abrigar uma loja de revenda de pneus. A cidade passou lamentosos seis anos sem cinemas. Em 2004, um ano Cine Avenida após a inauguração do Jacareí Shopping Center, a rede de cinemas Cinemark inaugurou um complexo com cinco salas de última geração, 900 assentos, exibindo, geralmente, megalançamentos dublados. Afora as salas comerciais, outros projetos oferecem sessões de cinema. O “Cineclube Jacareí” desde 2007 tem a missão de exibir e transmitir informações desta área cultural. Promove toda quinta-feira, o “Cinema de 5ª”, projetando, entre outros, filmes independentes de cineastas locais. AnualCinemark mente premia as melhores produções com a estatueta “Corvo de Gesso”. Nesta nova fase cultural, filmes e documentários também passaram a ser produzidos na cidade. Entre os jovens cineastas, destaque para o diretor Vinicius José dos Santos, o Vini Trash, que através de sistemas de financiamento coletivo vem produzindo curtas, médias e longas metragens com baixo orçamento e boa qualidade. “Steve Cicco”, uma paródia de filmes de ação inteiramente rodada em Jacareí, mereceu até uma sequência, vencedora de diversos prêmios pelo Brasil.
Acervo: Eliceu Máximo Filho
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Cognomes Muitas cidades no mundo são conhecidas por seu cognome, um apelido em razão de alguma característica em particular. Além da homenagem propriamente dita, é uma estratégia de promover as cidades, conquistar investidores e principalmente despertar o orgulho cívico em seus cidadãos. Deste modo, o Rio de Janeiro é conhecido como “Cidade Maravilhosa” e Nova York como “Capital do Mundo”. No Vale do Paraíba, Taubaté, terra de Monteiro Lobato, é chamada de “Capital da Literatura Infantil”. São José dos Campos se intitula a “Capital da Aviação”. E Jacareí? Jacareí teve no decorrer dos tempos vários epítetos, alguns não honrosos. Séculos atrás foi denominada “Terra dos Papudos” em vista da grande incidência de pessoas com bócio, doença que ataca a glândula tireóide, provocando seu inchaço. Algumas publicações também mencionam Jacareí como “Terra dos Bexiguentos” por causa de outra doença, a “bexigas”, nome popular da varíola, que deixa muitas marcas pelo corpo. Alguns cognomes, entretanto, encheram os jacareienses de orgulho: Athenas Paulista – Certamente é o título mais honroso que a cidade recebeu, inclusive fazendo parte da letra do hino municipal, disseminando-se depois para nomes de ruas e escolas. O jornalista João Batista Denis Neto, o Jobanito, contava que o cognome foi atribuído à cidade pelo deputado Manuel Jacinto Domingues de Castro ainda no século XIX em reconhecimento ao progresso educacional e cultural de Jacareí, principalmente pela presença do famoso Ginásio Nogueira da Gama, que trouxe excelentes professores e pensadores para a cidade. O polo cultural atraiu e disseminou movimentos culManuel Jacinto Domingues de Castro turais, como peças de teatro, palestras e conferências. Nas palavras do professor e diretor Mário de Moraes, “Jacareí foi elevada a uma cidade acadêmica, constituindo-se em foco de ciências e letras onde filhos de outras terras viriam buscar a luz do conhecimento”. Em Jacareí, após a saída do Ginásio e o desaparecimento de algumas so68
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ciedades literárias, o título foi sendo esquecido. Outras cidades do Estado de São Paulo, como Jaboticabal e Rio Claro, pela grande atividade cultural, também ficaram conhecidas como Atenas Paulista. Cidade Luz – Assim Jacareí foi chamada por determinado período no início do século XX. Isso pelo pioneirismo na utilização da energia elétrica na iluminação pública, sendo a 1ª cidade do Vale do Paraíba, a 2ª do interior paulista e a 7ª do Brasil a fazer uso do serviço. Paris, capital francesa, também tem este epíteto. Todavia, o apelido dado àquela cidade decorre do movimento cultural denominado Iluminismo, com destaque aos grandes pensadores do século XVIII, como Voltaire e Montesquieu. Manchester Paulista – O apelido fazia alusão à industrialização vivida na cidade nas primeiras décadas do século XX principalmente no setor têxtil, na fabricação de meias. Podemos destacar o prédio da antiga Manufactura de Tapetes de Santa Helena como característica da arquitetura da cidade de Manchester, centro industrial inglês, repleta de prédios construídos com tijolinhos à vista. O título não é exclusividade de Jacareí, uma vez que outras cidades também receberam esta alcunha, como Sorocaba desde 1903 ou Salto, conhecida como Pequena Manchester Paulista. Terra dos Biscoitos – Jacareí é assim conhecida desde que a famosa iguaria fabricada pela “Fábrica de Biscoutos Jacareí”, fundada em 1899, ganhou projeção nacional, já que tanto os pacotes e latas dos biscoitos eram vendidos na Estação de Trens e ao longo da Rodovia Presidente Dutra. Houve época em que os biscoitos eram dados como lembrança e presente original da cidade. Atualmente outras cidades também recebem este apelido, como São Lourenço do Oeste (SC), São Tiago (MG) e Itapuca (RS) Capital da Cerveja – Blumenau, em Santa Catarina, recebeu o título de “Capital Nacional da Cerveja” por lei sancionada pelo presidente Michel Temer em 2017. A honra concedida àquela cidade catarinense deve-se principalmente pela realização da maior festa popular brasileira ligada à bebida, a Oktoberfest. Afora isso, Blumenau possui muitos produtores de cerveja artesanal além da “Escola Superior de Cerveja e Malte”. A estratégia política provavelmente proporcionará o desenvolvimento daquela cidade através do turismo, método não utilizado pelos políticos locais.
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Jacareí ainda é conhecida informalmente como “Capital da Cerveja” devido ao volume produzido. O cognome surgiu com a chegada de duas grandes indústrias cervejeiras na cidade na década de 1980, as atuais Heineken e AmBev, consideradas as maiores da América Latina, consolidando Jacareí como um dos principais polos exportadores de cerveja do mundo. A AmBev produz marcas como Skol, Brahma, Antarctica e Budweiser. Entretanto, a empresa não divulga o volume de produção da unidade jacareiense. A capacidade produtiva da Heineken em Jacareí é a maior da empresa no Brasil, em torno de 7 milhões de hectolitros ao ano, fabricando além da marca própria, as cervejas Kaiser Lager, Sol Premium, Amstel, Bavária e Xingu. Nos últimos anos, Jacareí vem sendo apontada como “Capital da Ópera no Estado de São Paulo”, sediando um dos maiores festivais de canto erudito da América Latina: o Concurso Brasileiro de Canto Maria Callas.
Antes mesmo de Jacareí ser apenas uma Vila, havia pessoas responsáveis para cada tarefa. Não era possível fazer tudo ao mesmo tempo. Uns plantavam, outros criavam animais, faziam roupas, calçados e outras atividades. No início as pessoas trocavam o resultado de seus trabalhos com os demais habitantes. Quando a troca foi substituída pela moeda surgiu o “comércio”. Ao longo dos tempos, na evolução das transações, o “dinheiro vivo” foi sendo substituído por cheques, cartões de crédito e débito e pagamentos virtuais. Assim, desde os mais remotos tempos havia negócios de mercadorias em Jacareí. Além daqueles que moravam na região, muitos mascates com seus espelhos e rendas aqui “batiam pouso”. Muitos tropeiros acabaram se estabelecendo. Uns tiveram mais sucesso que outros e marcaram seus nomes na história. As lojas comerciais geralmente eram de propriedade de famílias vindas do processo imigratório. Irmãos Madid
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Geralmente no mesmo prédio funcionava o armazém, a loja ou se prestava um tipo de serviço, tendo nos fundos a própria residência do proprietário. Muitos destes negócios recebiam nomes da família, dando uma referência ao seu local de origem. O contato entre o comerciante e o freguês ia muito além do mundo econômico: havia uma relação de confiança e amizade, na base “do fio do bigode”, onde os débitos eram anotados em cadernetas. Os bares e botequins eram os pontos de prosa e lazer, um lugar para colocar os assuntos em dia, Manoel Guardia Ruiz -Padaria Ibéricaprincipalmente os políticos. As lojas de tecidos davam bons lucros e muitos proprietários tornaram-se importantes personalidades na sociedade. Havia os sapateiros que consertavam sapatos em suas oficinas e muitas vezes confeccionavam novas peças. Eram tempos em que o leiteiro trazia o produto da roça, o padeiro entregava o pão em seus carrinhos e o alfaiate confeccionava as melhores roupas. Os serviços de saúde contavam com profissionais em que todos depositavam toda a confiança. Os médicos muitas vezes atendiam em suas residências, recebendo bolos e galinhas como pagamento. Devido aos custos e especialidades, muitos recorriam às benzedeiras e às parteiras. Os farmacêuticos Supermercado Roberto Martins manipulavam remédios. Durante muito tempo não houve bancos no Brasil, principalmente em pequenas cidades. Época em que alguns comerciantes atuavam como fornecedores de crédito e depositários de dinheiro como João da Costa Gomes Leitão, Nicolau Mercadante, Artur Máximo e Pompílio Mercadante. Aos poucos as pequenas lojas e armazéns foram sendo substituídos por grandes magazines e supermercados. O atendimento no balcão deu lugar ao auto-serviço. Surgiram os restaurantes self-services e várias casas bancárias foram adquiridas por grupos Banco Moreira Sales
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mundiais. O pujante comércio de rua ganhou a companhia de algumas galerias e um Shopping Center. Surgiu ainda, como maior concorrência, o comércio eletrônico. A história mostra que o comércio e a prestação de serviços desde sempre tiveram muita importância na economia da Jacareí Shopping Center cidade. Segundo dados do IBGE, em 2014 Jacareí estava na 31ª posição no Estado de São Paulo em arrecadação de ISS – Imposto Sobre Serviços. Muitas casas comerciais e prestadores de serviços marcaram época na cidade:
Fotos: Acervo de Família
Casa Roberto Martins – Armazém de secos e molhados fundado pelo santabranquense Roberto Martins no Largo do Rosário em 1899. Vendia de tudo um pouco, até cimento. As bombas de combustível também faziam parte do negócio. Produtos, como o feijão, eram vendidos por litro, em latas. Ao falecer em 1926, deixou os negócios aos filhos homens: Paulo, Octávio e Lauro Martins. Os negócios prosperaram, passando a loja a vender presentes e móveis, encerrando as atividades em 1984.
Roberto Martins
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Bar Guanabara – Propriedade de Paschoal Marrelli – localizado na Praça Conde Frontin, atendia aos passageiros de ônibus que circulavam entre Rio e São Paulo.
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Fotos: APHJ
Bar do Antonio – Propriedade de Antonio Pereira Alves
Fotos: Acervo de Família
Bar do Brito – Fundado por João Pereira de Brito e depois sucedido por seu filho Adauto Pereira de Brito. Em 1998 o restaurante foi adquirido por Fernando Romero Prado.
João Pereira de Brito
Dalila e Adauto Pereira de Brito
Fernando Romero e José Oliveira de Jesus, o Azeitona
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Sorveteria Leal – Fundada na década de 1930 por Maria Auxiliadora do Carmo, Dona Carminha, casada com o italiano Rafael que ensinou aos cunhados a produção do produto artesanal. Após a separação do casal, a pequena sorveteria encravada entre a Igreja do Bonsucesso e o Cine Rio Branco passou a ser administrada por Leal Alves do Nascimento, daí surgindo o tradicional nome da casa. Pedro, outro irmão, comandou a sorveteria por 55 anos, sendo sucedido por seu filho Jessé.
Maria Auxiliadora do Carmo e a Sorveteria Leal
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Padaria Santa Terezinha – Fundada em 1939 - Propriedade do casal espanhol Avelina e Ramon Goldar.
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Casa Moraes – Residente em Jacareí desde 1911, Francisco Baptista de Moraes fundou a primeira loja na Rua do Carmo.
Casa Minerva – Propriedade de Theóphilo Ferreira de Almeida, editou o Anuário de Jacareí em 1906. Era a única casa do Estado de São Paulo com capacidade para editar partituras e a maior tipografia do interior paulista.
Acervo Luiz José Navarro da Cruz
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Galeria dos Presentes – Propriedade de Lauro Martins, sucedido pelo filho Roberto Martins.
Imcomtex S.A. – Propriedade de Biagino Chieffi, Octávio Marino, Francisco Domingues de Oliveira Junior e Karan Chaiben.
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Salão Trianon - No ofício de barbeiro, Gilmar, Nana e Baiano atendem seus clientes Malek Assad, Avelino Polzin e Nestor Pereira.
Farmácia São José Propriedade de Jarbas Porto Mattos
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Farmácia Nossa Senhora Aparecida Propriedade de Joel Alves Barreto.
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Pharmácia Popular – Propriedade de Rodolfo Augusto de Siqueira
Hotel Maximo Propriedade de Manoel Máximo
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Brito Hotel - Propriedade de Adauto Pereira de Brito
Acervo de Família
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Stúdio Cambusano Propriedade de João Batista Cambusano
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Casa Scherma Propriedade de Milton Scherma
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Loja Celis - Propriedade de Celis e Jonas Bittencourt.
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Bazar Cardoso – Popularmente chamada de “Lidinha”, sua proprietária
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Bidu Modas - Jimi Daher -
Bar Brasil Propriedade de João T. Tanisho
Agência Ford Propriedade de Anibal Paiva Ferreira
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Outras casas comerciais e de serviços importantes em Jacareí 1.
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1. Farol do Rio 2. Padaria Central 3. Papelaria Osiris 4. Supermercado Dias 5. Bombas de Gasolina na Praça Conde Frontin 6. Posto de Gasolina na Avenida Siqueira Campos 7. Banco Nacional da Cidade de São Paulo 8. Hotel Santa Terezinha 9. Casa Avante 10. O Brasileiro dos Móveis 11. Hotel Central 12. Casa de Móveis Irmãos Scavone 13. Ao Século 20 Magazine 14. Machina de Beneficiar Café de Mattos & Cia 15. Fábrica de Macarrão Jacarehy 16. Casa Garboci 17. Casa São Pedro 18. Farmácia Santa Rosa 19. Loterias Sciammarella. 79
Conde Frontin
Conde Frontin André Gustavo Paulo de Frontin nasceu em Raiz da Serra de Petrópolis, atual Vila Inhomirim, distrito de Magé, no Rio de Janeiro, em 17 de setembro de 1860. Era filho dos franceses João Gustavo de Frontin e Eulália Hyppolite Rose de Frontin. Ao terminar os estudos preparatórios no Colégio Pedro II, ingressou na Escola Politécnica onde se graduou em engenharia civil e geográfica em 1879. Nos anos seguintes titulou-se também em ciências físicas, matemática e engenharia de minas. Paulo de Frontin era casado com Maria Leocádia Dodsworth de Frontin, filha do 2° Paulo de Frontin - 1913 barão de Javari. Teve três filhos: Maria Elisa, Henrique Paulo e Maria da Glória. Atuando como engenheiro, teve seu nome projetado nacionalmente em 1889 com as obras realizadas para contornar o problema de abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro. O episódio ficou conhecido como “Água em Seis Dias” e evitou a ameaça de sede e epidemias que atormentavam a população. Em 1890, fundou a Empresa Industrial Melhoramentos do Brasil, responsável por importantes obras de construção de trechos ferroviários no país e uma das primeiras imobiliárias a atuar na cidade do Rio de Janeiro. Em 1904, teve Caricatura de Paulo Frontin notável participação na política do “bota fora” Revista Ilustrada - 1889 quando foram demolidas centenas de casas no centro da cidade para a abertura da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco. Por sua atuação nestas importantes obras públicas, acabou desenvolvendo uma importante trajetória na política carioca. Foi eleito senador em 1917, 80
Conde Frontin
mandato interrompido para assumir a prefeitura do então Distrito Federal. Em 1919, em apenas seis meses, reconfigurou o espaço urbano público: duplicou e pavimentou a Avenida Atlântica, construiu as avenidas Delfim Moreira e Niemeyer, saneou parte da Lagoa Rodrigo de Freitas e abriu o túnel João Ricardo. Todas essas obras lhe valeram as alcunhas de “Prefeito da Varinha de Condão” e “Hércules da Prefeitura”. Os opositores, não deixando por menos, acusavam-no de sofrer de megalomania. Sua ação à frente do Executivo municipal gerou na imprensa especulações sobre uma futura candidatura à presidência da República, entretanto ele apoiou o derrotado e ilustre Rui Barbosa. Paulo de Frontin foi eleito deputado federal em 1919, retornando posteriormente ao Senado. Deflagrada a Revolução de 1930, acabou amargando o ostracismo imposto pelo novo governo. O “Patrono da Engenharia Brasileira” faleceu em sua casa na Rua das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, em 15 de fevereiro de 1933. Conde – Após a Proclamação da República, muitos milionários continuaram a comprar títulos de nobreza, agora fora do país. Em 1909, no Vaticano do Papa Pio X, em troca de generosa doação à instituição católica, Paulo de Frontin foi agraciado com o cobiçado título honorífico de conde. Jacareí – A relação de Paulo de Frontin com a cidade deu-se quando ele exercia pela segunda vez uma das diretorias da Estrada de Ferro Central do Brasil. Nas primeiras décadas do século XX, ele auxiliou no aterramento do antigo Largo do Bonsucesso, cedendo centenas de vagões para o transporte de terra e pedra para firmeza do solo alagadiço, sendo assim homenageado com o nome da praça pelo prefeito Dr. Pompílio Mercadante. No período Vargas, o local teve seu nome alterado para Praça João Pessoa, sendo restabelecido o nome original em 1948 no governo de Roberto Lopes Leal. Também em sua homenagem, nos Estados do Rio de Janeiro e Paraná, duas cidades foram batizadas com seu nome. Pelo Brasil, diversas ruas e avenidas também o homenageiam, inclusive o viaduto que desabou subitamente em 1971, no Rio de Janeiro, ocasionando várias mortes. Tal fato é lembrado na música de João Bosco e Aldir Blanc, “O bêbado e a Equilibrista”, no trecho: “Caia a tarde feito um viaduto...” Em tempo: a pronúncia correta é
“Frontên”.
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Cônego José Bento
José Bento de Andrade nasceu em Jacareí em 1822. Filho de Miguel Nunes de Siqueira e Claudina Maria de Andrade, neto de Antonio Nunes de Siqueira e Juliana de Jesus, naturais de Mogi das Cruzes e de Francisco Antonio de Andrade, português e da jacareiense Maria da Penha da Conceição. Bem provida de bens materiais, sua família gozava de boa reputação e posição social, “distinguindo-se pelo comportamento cristão e vivência da fé”, possuindo condições favoráveis de criar os filhos Narciso, Ana, Daniel, João Francisco e Maria, além de José Bento, que passou os primeiros anos de sua infância com sua avó Maria da Penha, José Bento de Andrade abastada fazendeira na cidade. Consagrando seu tempo aos livros, o aplicado estudante sentiu necessidade de mudar-se para São Paulo onde concluiu seus estudos, recebendo as ordens sacras no Bispado do Rio de Janeiro em 1862, sendo logo em seguida nomeado vigário da Paróquia de Santa Isabel. A seu pedido, foi posteriormente transferido para Jacareí como padre coadjutor, cidade onde tinha alguns desafetos, motivando sua remoção para a cidade de Caçapava. Não se sabe quais seriam estes inimigos, porém é certa a presença do Cônego em movimentos abolicionistas. Azevedo Sampaio, em seu livro “Abolicionismo” comete a “indiscrição” de comentar que o vigário local era “mais ou menos um ladrão de escravos”. Em 1881, após a morte de seu irmão João Francisco de Siqueira, foi nomeado testamenteiro e sucessor da “Escola Doméstica de Nossa Senhora do Amparo”, obra caridosa fundada em Petrópolis em 1871. Além da direção espiritual da casa, ficara encarregado em dirigir e administrar todos os negócios relativos à instituição. Naquela região, continuou a esmolar para a conclusão das obras do edifício que tantos serviços prestariam à infância desvalida. Naquela cidade, já se encontrava sua sobrinha Francisca que assumiu a direção da casa em 1885. A pequena obra social transformou-se na “Congregação das 82
Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Cônego José Bento
Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo” que, recentemente, iniciou estudos para beatificação do Padre Siqueira. O Cônego, retornando à Jacareí, já bastante conhecido por seus atos de caridade, fundou o Colégio São Miguel destinado a oferecer abrigo e ensino primário a meninos pobres de sua terra natal. José Bento de Andrade faleceu em 18 de junho de 1897, deixando um vasto testamento em obras de caridade a serem administradas por seus sucessores. Na família “Siqueira Andrade”, tão importante quanto José Bento, foi seu irmão João Francisco. Nascido em Jacareí no dia 16 de julho de 1837, foi ordenado padre em 1864 no Rio Grande do Sul. No ano seguinte, como voluntário, atuou como capelão na Guerra do Paraguai. De lá, voltou tuberculoso. Em 1871, fundou a “Escola Doméstica” em Petrópolis, destinada às meninas carentes, órfãs e pobres expostas ao desamparo e a miséria. O Padre Siqueira possui vasta biografia, com Padre Siqueira variados relatos de seus encontros com o Imperador Dom Pedro II, a Princesa Regente Isabel e até com Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, beatificada em 2013. O “Apóstolo da Caridade”, como era chamado, morreu aos 44 anos em São José dos Campos, em 10 de abril de 1881. Sepultado em Jacareí, seus restos mortais foram trasladados para Petrópolis em 1893. A obra assistencial do Padre Siqueira prosseguiu em mãos do Cônego José Bento e depois passou à direção de sua sobrinha, Irmã Francisca Pia, nascida em Jacareí em 21 de outubro de 1856. Batizada como Francisca Narcisa de Siqueira, filha única do irmão Narciso, após o falecimento da mãe, foi conduzida ao Colégio da Providência, no Rio de Janeiro, onde recebeu formação e concluiu o curso de professora. Em 1877, a convite do tio, seguiu para Petrópolis, onde dedicou sua vida aos cuidados e educação das crianças durante 54 anos, falecendo em 7 de janeiro de 1931. Na
Escola Doméstica Cecília Monteiro de Barros
Escola Doméstica Cecília Monteiro de Barros
Cônego José Bento
Madre Francisca Pia
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Corneteiro Jesus
Congregação é carinhosamente chamada de “Mamãezinha”. Em Jacareí, ruas homenageiam tanto o Cônego José Bento como também seu irmão Padre João Francisco de Siqueira Andrade. Em Petrópolis, uma rua recebe o nome da Madre Francisca Pia.
Corneteiro Jesus João José de Jesus teria sido um escravo em Jacareí, morto na Guerra do Paraguai como um dos “Voluntários da Pátria”. O verbo ter é usado na condicional buscando atenuar qualquer afirmação acerca da real existência do aclamado corneteiro. O assunto ainda gera muita discussão, havendo, inclusive, um livro de autoria do ex-prefeito Benedicto Sérgio Lencioni, que procura elucidar a polêmica. Diz a história/lenda que o escravo João José, propriedade do fazendeiro Joaquim Antonio de Paula Machado, fez parte do 7° Corpo de Voluntários da Província de São Paulo, composto por 666 homens, entre oficiais, músicos e praças, que trajavam blusas de pano de linho para ter alguma aparência militar. Saindo de Jacareí, teria ido para Santos, partindo num vapor rumo ao sul do continente. A bordo de outros navios, atravessou rios no Uruguai e Argentina, até adentrar em território paraguaio, onde, como corneta do 42° Batalhão, participou da Batalha de Tuiuti, o mais sangrento dos combates campais. Vencendo todas as epidemias que enfrentou pelo caminho, teria morrido em combate em 24 de maio de 1866. Mas o que fazia um corneteiro em plena guerra? Apesar dos Batalhões de Voluntários da Pátria não terem formação militar, os instrumentistas tinham funções específicas durante os combates. As cornetas, no caso, eram valiosas para a transmissão rápida de comandos estratégicos, como o avanço e recuo das tropas. Junto com as flautas, tambores, canhões e baionetas, compuseram a verdadeira trilha sonora do campo de batalha. A Guerra do Paraguai é um fato histórico, entretanto, acerca da participação/existência do Corneteiro Jesus, não há qualquer registro documental. A celeuma começa com o lançamento do vibrante e patriótico poema de autoria de José Bonifácio, o Moço, intitulado “O Corneta da Morte”. Nele, a saga do combatente Jesus, “nascido humilde e filho do povo” que mesmo com “os pobres braços cortados” pelas balas do inimigo, mantinha os comandos através do som da corneta, “morrendo entre os gigantes” e sendo esquecido 84
“sou negro brasileiro! Honrei a minha raça: onde está a minha rua, onde está a minha praça?” Sérgio Ribeiro, poeta jacareiense
Corneteiro Jesus
“sem túmulo, sem pedra e sinal de cruz”. Este é um resumo básico da obra, não havendo qualquer informação sobre a cidade de origem do soldado. Teria o autor escolhido o nome “Jesus” em referência à Ilha de Bom Jesus, no Rio de Janeiro, onde em 1868 foi construído o Asilo dos Inválidos da Pátria? A partir deste poema a história passaria a ser recontada, sempre “aumentando um ponto” ao conto original, num livre exercício de imaginação: o historiador Gustavo Barroso acrescentou que sob o comando de Osório, um ofegante e ferido João José teve forças para levar à boca o instrumento e tocar “o avançar”. Atingido por outras balas na perna e no peito, teria morrido tocando a “Marcha da Vitória”. No final da epopéia, fez surgir novamente o comandante que A Província de São Paulo - 26/09/1875 pergunta sobre a origem do soldado, sendo informado que era de Jacareí, São Paulo. Mandou, então, tomar nota na “Ordem do Dia do Exército” e prestou continência ao militar morto. Cabe ressaltar que estas anotaçõesnunca foram localizadas. Outros textos continuaram sendo escritos. Em 1944, o jornal “O Estado de São Paulo” publica uma narrativa que acrescenta que a ideia de tocar “o avançar” teria sido do Corneteiro Jesus, sendo ele o responsável pelo resultado vitorioso na batalha. Discursos e artigos levaram a história adiante: enquanto um deles conta que Osório mandou colocar uma bandeira brasileira sobre o corpo do corneteiro, outro foi além dizendo que o comandante deu um beijo na testa do soldado. A condição sobre-humana do Corneteiro fez o jornalista João Batista Denis Neto, o Jobanito, reclamar das autoridades uma rua em sua homenagem, intuito alcançado em 1940 quando a Rua Nova teve a denominação alterada para “Rua Corneteiro Jesus”. A trajetória do Corneteiro Jesus, se é que ele existiu, acabou ganhando ares de lenda. Como bem diz o pesquisador Lencioni: “a história não pode gozar de licença poética”.
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D Ditadura Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciou à Presidência da República. O vice-presidente João Goulart só tomou posse após o estabelecimento de um regime parlamentarista de governo que lhe limitou os poderes. Em 1963, um plebiscito determinou a volta do presidencialismo. Pretendendo implantar as “reformas de base” defendidas por grupos de esquerda, Jango tentou mobilizar a voz das ruas para que as medidas fossem aprovadas pelos congressistas, entre elas a desapropriação de terras e a nacionalização de refinarias de petróleo, todas anunciadas em um grande comício na Central do Brasil em 13 de março de 1964. Logicamente, empresários e latifundiários ficaram incomodados com as propostas. A radicalização amedrontava a classe média que reagia com a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. A ameaça comunista assustou os militares de alta patente, que em 31 de março destituíram Jango da Presidência, medida que contou com grande apoio da sociedade civil e também da imprensa.
Jornal O Combate - 12/04/1964 Jornal O Combate - 26 /04/1964
O que era para ser apenas um período provisório até a devolução do poder aos civis, durou 21 anos. Em determinados períodos, os militares aprofundaram a linha dura, principalmente após a outorga do Ato Institucional n° 5 pelo presidente Costa e Silva, que fechou o Congresso, possibilitando que o Executivo 87
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governasse arbitrariamente. Somente no Governo Geisel foi anunciada uma política de abertura lenta e gradual, finalizada com a anistia concedida pelo presidente João Figueiredo, tanto para os militantes presos e exilados quanto para os agentes da repressão, não diferenciando crimes comuns daqueles institucionais. Durante aquele conturbado período histórico, a “esquerda armada” se organizou inspirada nos movimentos em Cuba e China. O governo militar respondia com repressão aos opositores que eram cassados ou perdiam direitos políticos. Nos bastidores da ditadura ocorriam assassinatos e interrogatórios mediante tortura física e mental. Então, qual seria o motivo para a maioria da população não reagir a tanta arbitrariedade? Além da censura à imprensa, o governo militar havia tirado o país de uma grande crise financeira. Durante o período de 1968/1973 o Brasil viveu o “milagre econômico”, crescendo 11% ao ano. A inflação era Slogan do Regime Militar baixa, os sistemas públicos de saúde e educação atendiam de maneira satisfatória, o consumo de bens duráveis dobrou, havendo uma ligeira ascensão social. Tudo isso sustentava o governo militar. As ações contra a ditadura realizadas por grupos de guerrilheiros não tinham apoio popular, principalmente em pequenas cidades como Jacareí. Pouco tempo depois, as coisas degringolaram, sobretudo pela grande crise de petróleo. Desde o início da ditadura, a dívida externa havia aumentado 30 vezes e o poder do salário mínimo caído pela metade. Na década de 1980, movimentos populares, estudantis e sindicais, contando com grande apoio da Igreja Católica, levaram ao fim a ditadura militar. Em Jacareí, nestas duas décadas de regime militar, nada poderia ser tão fora da realidade como promover manifestações contrárias ao governo. Aliás, muito pelo contrário. A Prefeitura e Câmara Municipal homenageavam símbolos do período dando nome aos seus prédios: Palácio Castelo Branco e Palácio 31 de Março, respectivamente.
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Reprodução/CPDoc JB
Alguns sagazes estudantes ainda tentavam protestar em festivais de música e teatro. No cenário político, o vereador Djalma D’Ávila Leal combatia da tribuna e eventualmente era levado ao Regimento do Exército em Caçapava para prestar esclarecimentos. Dois personagens, entretanto, tiveram seus nomes fortemente marcados na história da ditadura. Um deles foi o General de Brigada do Exército Euryale de Jesus Zerbini que em 1964, pretendendo Djalma D’Ávila Leal confrontar as tropas favoráveis à deposição de João Goulart, assumiu uma posição legalista e partiu de Caçapava rumo ao Rio de Janeiro. Isolado diante da adesão de vários generais ao movimento, foi encarcerado no Forte de Copacabana, com direitos civis cassados sendo, depois, sumariamente reformado. Diante da inatividade militar, passou a residir em Jacareí, tornando-se administrador da Indústria de Papel Simão, no bairro do São Silvestre. General Euryale de Jesus Zerbini Por ocasião do golpe militar, o jacareiense Márcio José de Moraes, filho mais velho de uma família de classe média católica e sobrinho do professor Mário Moraes, estudava Direito na USP e até simpatizava com os militares. Em plena época de efervescência estudantil, embora estudioso, era um tanto alienado aos acontecimentos políticos no Brasil, não acreditando que houvesse torturas e mortes, apenas perseguições aos opositores do regime. Somente mudou de opinião quando soube da morte do jornalista Vladimir Herzog.
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Dr. Márcio José de Moraes
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Foto: Silvaldo Leung Vieira
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Vlado Herzog, iugoslavo naturalizado brasileiro, casado e pai de dois filhos, era diretor de jornalismo da TV Cultura. Embora ligado ao Partido Comunista, era contra a luta armada. No dia 25 de outubro de 1975, aos 38 anos, apresentou-se espontaneamente ao DOI-CODI para prestar esclarecimentos. No mesmo dia, no período da tarde, foi divulgada sua morte por suicídio, uma das maiores farsas da cruel ditadura militar brasileira. Três anos depois, o processo movido pela viúva Clarice Herzog seria julgado por João Gomes Martins, juiz titular da 7ª Vara Vladimir Herzog assassinado Federal, às vésperas de sua aposentadoria. em cela do DOI-CODI paulista No entanto, um mandado de segurança impetrado pela União proibiu a prolação da sentença. Os autos foram parar nas mãos do juiz substituto Márcio José de Moraes. Contando 33 anos e em início de carreira, o magistrado mandou sua família para a casa dos pais em Jacareí e sentenciou durante suas férias. Mesmo diante de prováveis retaliações do Governo Federal e em plena vigência do AI-5, redimindo-se da alienação da juventude e diante de provas incontestáveis, Dr. Márcio condenou a União pela prisão, tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog. Somente em 2013, em decorrência da histórica sentença, um novo atestado de óbito foi entregue à família, atribuindo a morte às lesões e maus tratos sofridos durante o interrogatório. O Estado ainda continua omisso quanto à indenização e à determinação para identificar os responsáveis pelo crime. Em 2016, o caso Herzog chegou à Corte Interamericana de Direitos Humanos, na Costa Rica, onde será julgado.
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E. C. Elvira A história deste clube jacareiense tem início em 1917, quando Ubirajara Mercadante Loureiro, Renato Ramos de Freitas e Francisco de Lima Sobrinho, operários da Fábrica de Meias Elvira, resolveram formar um “football team”, a princípio composta por atletas dos Clubes Esperança e Vila Mariana. Entretanto, diante de desavenças entre seus jogadores, os diretores da fábrica decidiram formar um time próprio, inicialmente com seus operários e depois incorporando outros craques da cidade. O nome do time que surgia no cenário esportivo local foi uma homenagem à jovem Elvira, filha do português Manoel Lopes Leal, proprietário da fábrica de meias. O progresso conseguido pela pequena empresa instalada na Rua do Meio permitiu que seus proprietários adquirissem um amplo terreno no quarteirão entre as ruas Barão de Jacareí, Rua do Meio e General Carneiro, onde construíram uma nova unidade fabril: a Fábrica de Meias Alice, cujo prédio abrigou posteriormente a “Manufactura de Tapetes Santa Helena”. Seu Manoel, procurando apoiar seu grupo de funcionários, perElvira Lopes Leal mitiu que ali se instalasse um campo de futebol onde o time pudesse treinar após o expediente laboral. A partir daquele pequeno grupo de jogadores, poucos anos depois, em 25 de julho de 1920, foi fundado o “Esporte Clube Elvira”. Seus primeiros dire-
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tores foram Antonio Jordão Mercadante (sócio e gerente da fábrica de meias), Amadeu Jácomo, Cecílio Celeste, Paschoal Marreli, Brás Zicarelli, Ubiratan Pamplona e Arnaldo Lopes Leal. O pequeno campo atrás da fábrica ganhou uma bela arquibancada em 1924, inaugurada em jogo contra o “Palestra Itália”. No time do Elvira destacava-se o atacante Câncio, o “Cabeça de Ouro”.
Inauguração das Arquibancadas do Campo do Elvira – 1924
O “Vermelhinho” foi progredindo durante os anos, sagrando-se Campeão do Interior em 1926. Três anos depois já excursionava pelo nordeste do país. Em 1949 conquistou o vice-campeonato do interior e o título de “Campeão do Vale do Paraíba”. As partidas do Elvira eram acompanhadas com muito interesse por trabalhadores, crianças e até por uma banda de música. Quando os jogos eram fora da cidade, a torcida ia de trem e chegava a encher vários vagões. No início da década de 1950, na gestão de Jerônimo Scalisse, foi adquirido um terreno para a construção de um novo estádio com capacidade para três mil torcedores e que recebeu o nome do fundador Antonio Jordão Mercadante. O campo foi inaugurado pelo presidente José Medeiros, na mesma época em que o Elvira incorporou o Clube Náutico, às margens do Rio Paraíba.
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Estádio Antonio Jordão Mercadante
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A estrutura adquirida permitiu que o clube se profissionalizasse, sagrando-se vice-campeão da Terceira Divisão Paulista em 1957, em uma conturbada final contra o Tanabi, jogo que o Elvira perdeu por walkover (WO) e mesmo assim foi alçado a 2ª Divisão. Em sua trajetória, o clube participou de sete edições do Campeonato Paulista de Futebol, a última em 1962. Naquele áureo período, craques da bola como Hugo, Werther, Fico, Walter Grecco, Onda e os irmãos Nizio, Fredo, Mir e Hélio Cambuzano faziam a alegria da torcida elvirista.
Atletas do Elvira: Leônidas Máximo (Onda) entre os irmãos Mir e Fredo Cambusano
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Quando o time já não tinha condições econômicas para disputar campeonatos profissionais, houve uma mudança radical na condução do clube. Em 1959, o comerciante Milton Scherma foi alçado ao posto de presidente, cargo que manteve até 1985. Durante estes 26 anos, um grande impulso foi dado à área social: aquisição e demolição da bela casa da Obras do Ginásio de Esportes – 1976 família Schürig no bairro do São João para a construção do ginásio de esportes; no Náutico foram construídas piscinas e salão de festas; numa área próxima ergueu-se o Ginásio Hélio D’Avila; a sede na Praça Conde Frontin foi demolida e reconstruída, passando a oferecer bailes semanais, geralmente animados pelo Conjunto R7; a juventude elvirista conheceu a “discoteca” e grandes carnavais foram realizados. Em seu auge, o Elvira chegou a ter sete mil associados. Assim como diversos outros clubes, o Elvira passou por grandes dificuldades financeiras. No início dos anos 2000, o velho estádio foi vendido para a construção de um condomínio residencial e seu clube recreativo foi negociado com a Prefeitura Municipal que lá instalou o EducaMais São João. Apesar de tudo, o Elvira ainda continua ativo, proporcionando bailes e eventos em Sede Social na Praça Conde Frontin sua sede social. Arte na Fachada: Josimar Pinto de Oliveira
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Foto: Fernando Silveira
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Escolas O livro “Jacareí: Quotidiano & Sociedade de 1840 a 1870”, obra da historiadora Ana Luíza do Patrocínio, traz a informação que o documento mais antigo sobre a educação na cidade data de 1800. Nele, um padre é requisitado para dar aulas de gramática latina de “forma provisória”, o que faz supor que já havia alguma escola funcionando na localidade, ainda que na zona rural. Em 1836, o precário sistema escolar jacareiense era dotado somente de uma classe de primeiras letras com 68 alunos. Quarenta anos depois, já eram quatro cadeiras de instrução pública para ambos os sexos, predominando as classes masculinas. Durante o Império, o currículo a ser cumprido não tinha tempo certo de duração. A mudança de classe dava-se de acordo com o progresso individual de cada aluno. Após a Proclamação da República, foram criados os grupos escolares, com cursos seriados e organizados. Entretanto, diante das inúmeras dificuldades dos alunos e das constantes repetências, era grande a evasão escolar. Em Jacareí, ao longo dos tempos, foram criados inúmeros colégios públicos e particulares. As escolas mencionadas neste dicionário merecem destaque pela relação histórica que tiveram com o município.
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Colégio São Miguel
O Vigário Colado da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Jacareí, Cônego José Bento de Andrade, preocupado com a juventude local, fundou o Colégio São Miguel em 29 de setembro de 1885. Carinhosamente conhecido como “Coleginho”, a escola estava instalada nas cercanias da cidade em uma área recebida em doação,
parte de uma antiga e centenária fazenda. O objetivo do Cônego era dar recolhimento e formação para meninos entre 7 e 12 anos de idade. A escola era gratuita para filhos de escravos, órfãos e para todos aqueles que comprovassem a miserabilidade. Os que detinham 95
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recursos financeiros pagavam uma mensalidade e uma jóia anual. A escola também contava com as esmolas e doações recebidas da população local. Os meninos pobres, além das disciplinas regulares, recebiam principalmente orientação para a vida futura. Desta forma, ao lado das “primeiras letras”, caligrafia, as quatro operações e doutrina cristã, os alunos recebiam aprendizado de ofícios como sapateiro, alfaiate e marceneiro. Desde sua fundação, a instituição enfrentava dificuldades financeiras decorrentes da natureza incerta das doações. Assim, acabou fechando as portas antes mesmo da morte do Cônego. Mesmo sem dinheiro em caixa, o Colégio possuía certo patrimônio imobiliário. Após o falecimento do Cônego José Bento em 1897, aberto seu testamento, todos os seus bens passaram a ser administrados pelo testamenteiro e sucessor Cônego Amador Bueno de Barros. Sem o mesmo carisma e comprometimento de seu antecessor, Barros tentou reabrir o Colégio, como externato, em um pequeno prédio da cidade. Em fins de 1905, o Colégio deixou efetivamente de funcionar. Apesar de fechado, o Colégio continuou a existir juridicamente, tendo bens na cidade e terrenos em São Paulo deixados em herança pelo padre pernambucano Joaquim Floriano Wanderley. Inicialmente, a responsabilidade pela administração ficou a cargo do Bispado de São Paulo. Após a criação da Diocese de Taubaté, travou-se uma batalha judicial pelos bens deixados em espólio. Vitoriosa, a Diocese valeparaibana acabou amealhando um exorbitante valor arrecadado na venda dos terrenos localizados em São Paulo: o atual bairro do Pacaembu. Além de adquirir uma grande área em Jacareí para a instalação de uma escola, grande parte da fortuna foi destinada ao Seminário Diocesano em Taubaté. Ginásio Nogueira da Gama A família Nogueira da Gama era tradicional na área de ensino. O professor Francisco Antonio foi fundador de escolas em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Seu filho Lamartine Delamare criou na capital paulistana o “Externato Delamare”, denominação depois alterada para “Colégio Delamare” e “Ginásio Paulista”, que funcionava num velho casarão na Rua Senador Queiroz. Sem um ambiente adequado que atendesse aos ideais do jovem educador, Lamartine passou a procurar outra localidade para instalar um novo colégio. Naquela época, Jacareí era descrita como uma cidade “isenta de moléstias e epidemias” e com uma “população laboriosa e moralizada”. Na Chácara dos
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Foto: Anuário Histórico Literário de Jacareí - 1906
Leões, na Rua da Prainha, Lamartine fundou em 24 de julho de 1893 o famoso Colégio Nogueira da Gama, oferecendo todos os requisitos indispensáveis para uma excelente educação como gabinetes de física e química, laboratórios, biblioteca e sala de música. Aos alunos internos eram fornecidos oito dormitórios instalados num imponente sobrado do outro lado da rua, ligado à escola por um extenso viaduto. O Colégio também era dotado de encanamentos de água potável e rede de esgoto, serviços ainda não oferecidos à população local. Uma singular legenda adornava o pavilhão central da escola: “sinite parvulos venire ad me” (Deixai vir a mim os pequeninos). À frente do edifício havia uma majestosa estátua de Minerva, deusa da sabedoria e do conhecimento.
Colégio Nogueira da Gama - 1893
Os professores, de reconhecida capacidade moral e técnica, utilizavam um verdadeiro e moderno arsenal pedagógico adquirido na Europa. Entre outras matérias, eram ministradas aulas de francês, inglês, latim, alemão e grego. O Colégio Nogueira da Gama era um internato e externato particular de ensino primário e secundário, servindo apenas a uma pequena parcela da população, exclusivamente rapazes entre 7 e 16 anos. Rígido em suas normas disciplinares, qualquer desobediência era punida com severidade, cabendo, inclusive, uma reprimenda perante todo estabelecimento. Pelas carteiras do Colégio passaram ilustres brasileiros, como o poeta Cassiano Ricardo.
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Considerado um dos principais colégios do Estado de São Paulo, durante o Governo Campos Salles, em 2 de dezembro de 1899, através da Lei 3.518 foi equiparado para todos os efeitos ao Ginásio Nacional (Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro), passando a denominar-se “Gymnásio Nogueira da Gama”. Tal promoção foi alcançada com o auxílio dos deputados Manuel Jacinto Domingues de Castro e do coronel Carlos Porto. Em Jacareí, casas enfeitadas, foguetórios e bandas deram o tom da comemoração pela notícia. A escola que havia iniciado suas atividades com apenas 25 estudantes, após este reconhecimento passou a receber pedidos de matrículas de todo o país. Seus alunos, ao término do curso, passaram a receber o grau de bacharel em Ciências e Letras, permitindo, assim, o ingresso em faculdades nacionais e até em algumas universidades estrangeiras. O Ginásio Nogueira da Gama trouxe para a cidade excelentes professores e pensadores, disseminando movimentos culturais como teatros amadores, jornais, palestras e conferências. Jacareí passou a ser reconhecida como a “Athenas Paulista.”
Tudo ia bem até 1911, quando o ministro da Justiça e dos Negócios Interiores, Rivadávia da Cunha Corrêa, decidiu criar um exame para selecionar aqueles que poderiam entrar nas universidades públicas. Estava criado o vestibular, tirando o privilégio dos estudantes provindos de ginásios tradicionais como o “Nogueira da Gama”. A alteração no sistema educacional alterou drasticamente os planos de trabalho do professor Lamartine que acabou fechando
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o estabelecimento de ensino, passando a dedicar-se a outros ramos de atividades, sendo inclusive Tabelião em São Paulo. Anos depois, ainda alquebrado pelo desgosto, num encontro casual com um ex-aluno no Rio de Janeiro, foi convidado a reabrir sua escola em Guaratinguetá, para onde se transferiu em 1920. Para a continuidade de sua missão, recebeu do Governo local subvenções e isenção de impostos municipais, tendo o Ginásio permanecido no mesmo endereço por 54 anos. Na escola de Lamartine Delamare lecionou o professor de português, André Rodrigues de Alckmin, avô do médico e político Geraldo Alckmin. O aluno Euryclides de Jesus Zerbini, futuro médico vanguardista no transplante de coração também passou por suas carteiras. Após a morte do fundador em 1940, por longo período o estabelecimento educacional sofreu com revezes de natureza financeira. Em 1974, a escola sob a mesma denominação reabriu em novas instalações, com nova direção e proprietários. Grupo Escolar Coronel Carlos Porto No final do século XIX, qualquer escola da região ficava à margem da tradicional escola do Dr. Lamartine Delamare. No entanto, planejando criar uma escola pública no município, o presidente do Estado, Dr. Bernardino de Campos, visitou o palacete herdado pela Dona Josephina Eugênia Leitão Guimarães, adquirindo-o pela expressiva soma de 30 contos de réis. A antiga moradia do cafeicultor Gomes Leitão, erguida em 1857, passou a ser reformada e adaptada para receber um grupo escolar. Em 1° de outubro de 1895 foi criado o Grupo Escolar Coronel Carlos Porto, agregando as pequenas escolas urbanas que existiam na cidade. Instalado provisoriamente em um antigo prédio na esquina da Rua Direita com a Rua XV de Novembro, no primeiro ano só atendeu estudantes do sexo feminino. O “Grupão” só viria a ocupar o SoGrupo Escolar Coronel Carlos Porto lar Gomes Leitão em 14 de julho
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de 1896, ainda assim, apenas no pavimento superior. Oficiais da Guarda Nacional, o coronel Carlos Porto e o major Olímpio Catão, inspetor escolar na época, tiveram efetiva participação na unificação das escolas e instalação do novo grupo escolar. O primeiro diretor da escola foi o professor Antonio Rodrigues Alves Pereira. Apesar de poucas crianças em idade escolar procurarem o ensino púbico, em 1901 o Grupão possuía 360 alunos matriculados. Meninos e meninas continuavam em ambientes rigorosamente separados. Na trajetória histórica desta instituição educacional, destaque para Mário de Moraes, seu diretor entre 1954 e 1976.
Homenagem ao diretor Mário Moraes - 1976
Em 1978, o prédio centenário foi tombado pelo Condephaat, e destinado para sediar um museu dois anos depois. Nos fundos da antiga propriedade foram edificadas novas instalações para abrigar o tradicional colégio. Desde 2014, a escola oferece ensino médio em período integral, atendendo 513 alunos no ano de 2017. Escola Agrícola A Escola Técnica Estadual (ETEC) “Cônego José Bento”, conhecida em Jacareí como Escola Agrícola ou Escola Profissional, é uma instituição de ensino mantida pelo Governo Estadual e subordinada ao Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. A escola teve origem em uma iniciativa do Cônego José Bento em fins do século XIX quando criou o Colégio São Miguel. Após sua morte, seu testamento
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determinava que os recursos financeiros seriam destinados à continuidade de sua obra educacional. Desta forma, a Mitra Diocesana de Taubaté adquiriu uma extensa área de 33 alqueires que pertencia ao coronel Virgílio Malta, edificando uma escola e dormitórios para rapazes e moças receberem educação gratuita. Em 1935, atravessando uma crise financeira, a Mitra fez um contrato de 20 anos com o Governo do Estado que passou a administrar o imóvel e a instituição educacional, criando a Escola Profissional Agrícola-Industrial Mista que começou a funcionar somente dois anos depois. A escola seria um externato e internato, este destinado aos alunos dos cursos agrícolas. O curso mecânico-industrial ensinava a construir máquinas para a agricultura. A escola preparava operários, capatazes e administradores agrícolas, difundindo conhecimentos e técnicas do trabalho rural e também a formação de donas de casa orientadas para as atividades do campo. Em 1954, as escolas agrícolas e industriais foram transformadas em escolas agrotécnicas. No ano seguinte, o imóvel foi desapropriado pelo Governo Estadual. Atualmente, a ETEC “Cônego José Bento” atende cerca de 780 alunos e oferece cursos como administração, meio-ambiente e logística, dentre outros.
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Grupo Escolar João Feliciano O 2° Grupo Escolar de Jacareí foi criado em 1932, subordinado à Delegacia de Ensino de Taubaté. Inicialmente funcionava em uma casa alugada na Rua Barão de Jacareí, propriedade da viúva Fressati. A escola somente teve ensino regular a partir de 1933, quando foi nomeado diretor o professor Dorotóveo Gaspar Viana. Em outubro de 1944, o Interventor Federal Fernando João Feliciano
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Costa decretou que o patrono do grupo escolar fosse o professor, poeta e jornalista João Feliciano Ferreira da Silva, jacareiense muito estimado na cidade e falecido em 28 de maio daquele ano, aos 82 anos de idade. Curiosidade: A escola Chico Ferreira - o “Verdinho” homenageia Francisco Feliciano Ferreira da Silva, irmão de João Feliciano.
2º Grupo Escolar na Rua Barão de Jacareí
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Colégio Antonio Afonso Nas primeiras décadas do século XX, as autoridades municipais faziam um grande esforço pelo retorno dos áureos tempos do Ginásio Nogueira da Gama. Assim, em 21 de novembro de 1936, o prefeito Hélio Navarro da Cruz fez instalar o Ginásio de Jacareí, único estabelecimento de ensino secundário da cidade. Seu primeiro diretor foi José Benedito Cursino. A escola funcionava em algumas salas no prédio da Prefeitura Municipal, a antiga e imponente residência do fazendeiro Delphino Martins de Siqueira, construída em 1870 e adquirida pelo prefeito João Ferraz em 1924.
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Foto: Fernando Silveira
Em 1938, o Governo Municipal encontrava-se impossibilitado de continuar dirigindo a escola. Buscando evitar que a cidade ficasse sem tão importante estabelecimento de ensino, o prefeito Odilon Augusto Siqueira decidiu abrir concorrência para locar o prédio, o mobiliário e demais materiais escolares. Três anos depois, no salão nobre do Ginásio, em sessão presidida pelo prefeito Gilberto Martins Moreira, foi fundada a Sociedade Mantenedora de Ensino de Jacareí, sem fins lucrativos, que assumiu a responsabilidade pela organização e condução do Ginásio. A manutenção do Ginásio sempre se mostrava deficitária diante do número insuficiente de alunos. Em 1944, para contornar uma de suas constantes crises financeiras, foram instituídos os cursos para normalistas e a Escola Técnica de Comércio, uma iniciativa no farmacêutico Roberto Lopes Leal. A partir de 1948, funcionando nas mesmas instalações, o Conservatório Musical de Jacareí passou a formar centenas de músicos. Em 1962, a Escola Técnica alterou sua denominação para Colégio Comercial de Jacareí, oferecendo também o curso técnico de contabilidade. Estava criado o Ginásio e Escola Técnica de Comércio Antonio Afonso. O Colégio, um dos mais importantes que a cidade conheceu, passou por vários momentos críticos. O pior deles se deu em 1974 quando seu prédio foi demolido após risco de desmoronamento provocado por infiltrações em suas paredes de taipa de pilão. Descaso das autoridades? Até hoje o assunto é discutido. No entanto, em razão deste lamentável acontecimento, a sociedade mobilizou-se para que se preservasse o prédio vizinho, o Solar Gomes Leitão. No mesmo terreno, a Sociedade Mantenedora construiu outro prédio para abrigar a escola. Erguido em blocos de concreto, nem de longe lembra o esplendor do antigo palacete com pisos em madeira de lei e paredes revestidas com papel francês. Atualmente a escola oferece cursos do Ensino Fundamental e Médio, possuindo em suas carteiras cerca de 300 alunos.
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CENE – Silva Prado A criação de um Ginásio Estadual em Jacareí foi decretada pelo Interventor Federal no Estado de São Paulo, Dr. Fernando Costa, no dia 13 de junho de 1945. No entanto, para que o ensino secundário fosse implantado na cidade, a Prefeitura teria que doar ao Estado um terreno de 10 mil m² para a construção do futuro prédio da escola. Antes disso, seriam usadas as instalações do Ginásio Municipal localizado em um velho casarão na Rua Quinze de Novembro. No dia 7 de dezembro de 1947, em nome do governador Ademar de Barros, o Secretário da Viação e Obras Públicas do Estado, Dr. Caio Dias Batista, veio a Jacareí presidir o ato que marcaria o início da construção do maior edifício público da cidade e que abrigaria a Escola Normal e Ginásio Estadual. Uma parte do terreno na Rua Barão de Jacareí foi doado por Zeca Moreira, grande proprietário de terras.
Somente em 17 de agosto de 1957, dez anos depois, foi inaugurado o CEEN – Colégio Estadual e Escola Normal. Com o tempo, procurando facilitar a pronúncia, as iniciais deram origem à famosa denominação: CENE Em 1962, por decreto do Governador Dr. Carvalho Pinto, após indicação do vereador Antonio Nunes de Moraes Júnior, a escola passou a ser denominada “Colégio Estadual e Escola Normal “Dr. Francisco Gomes da Silva Prado” em homenagem ao ex-oficial da Força Expedicionária Brasileira e Deputado Federal que sempre buscou auxiliar nas demandas da cidade. Dois anos depois, em 19 de outubro de 1964, a Escola Normal foi transformada em Instituto de Educação, funcionando juntamente com o Colégio Estadual. O I.E. Silva Prado fez muito sucesso nos tradicionais Concursos Colegiais de Bandas e Fanfarras promovidos pela Rádio e TV Record. Os alunos e professores do CENE também criaram o FEMPO e o TEJA - Teatro Estudantil Jacareiense Amador.
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Antonio Nunes de Moraes Júnior, Carvalho Pinto e Francisco Gomes da Silva Prado
Em 1967 foi criado um anexo à escola, para o antigo “curso primário”, devidamente separado dos “mais velhos” que cursavam o ginasial, o clássico ou o científico. Atualmente, após várias adaptações, grande parte dos edifícios abriga a Diretoria de Ensino que jurisdiciona seis municípios da região. No início de 2017, a Escola Estadual “Dr. Francisco Gomes da Silva Prado” recebia em suas classes mais de 800 alunos, oferecendo o Ensino Fundamental II (6° ao 9° ano), Ensino Médio e a EJA – Curso Supletivo destinado à Educação de Jovens e Adultos.
Escravidão Como pode uma pessoa possuir outra, tratando-a como coisa ou animal? Hoje nos parece fácil discernir sobre o tema e tomar uma posição, visto ser claro o ultraje à condição humana. Entretanto, na história do mundo, os humanos sempre estiveram em guerra e os vitoriosos conquistavam escravos, palavra que vem de “eslavos”, os povos do leste europeu. Se hoje relacionamos somente os negros aos escravos é que a escravidão africana foi a última a ocorrer. Por mais desumana que nos pareça, a situação naquela época era considerada normal. Ter escravos era um costume tido como correto pela lei e por milênios de tradição. Somente de forma lenta e gradual as pessoas passaram a perceber a injustiça da atividade escravagista. A escravidão no Brasil se deu primeiramente sobre os índios que habitavam a região, assim denominados já que a América era conhecida como as
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Escravidão
Índias Ocidentais. Além dos colonizadores, os jesuítas também os regimentaram para o trabalho produtivo e cativo, contrariando as ordens do Rei que desejava controlar a riqueza da Colônia. Quando os “militares de Cristo” foram expulsos do Brasil, os colonos passaram a ter acesso direto aos indígenas, os quais foram se transformando em escravos camponeses, num processo lento e destrutivo de sua cultura. Os “negros da terra” ou “ouro vermelho” serviram principalmente na lavoura, garantindo a vida dos primeiros povoadores. Além de tudo, caçar índios era sentido como um dever, já que o custo deles era menor, em torno de 20% do que se pagava por escravos vindos da África.
“Ciclo da Caça ao Índio”, de Henrique Bernardelli (1925) e “Apresamento de Indígenas” de Jean Baptiste Debret (sec XIX)
Caravanas de comércio de escravos africanos já existiam muito tempo antes dos europeus atingirem a costa oeste daquele continente. O tráfico humano era comum: povos inimigos eram atacados e os aprisionados transportados nos porões dos navios negreiros, os “tumbeiros”. Os traficantes europeus nem precisavam sair à caça de escravos que eram vendidos pelos chefes tribais africanos. Na história, o negro não foi somente o protagonista da escravidão, mas também coautor da tirania que se estabeleceu por longos séculos. APOGEU - Os escravos africanos começaram a chegar ao Brasil em 1533 e representavam um grande investimento. Durante os dois primeiros séculos de colonização, o Vale do Paraíba apresentava uma economia de subsistência baseada na mão-de-obra indígena. A presença do negro escravo era insignificante. Em Jacareí, o mais antigo documento a mencionar nome de
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Escravidão
Acervo Instituto Moreira Salles
Acervo Instituto Moreira Salles
escravos data de 1695. Somente na primeira metade do século XVIII ocorreria a introdução da mão-de-obra escrava de origem africana em substituição ao trabalho indígena. Os escravos, logicamente, não escolhiam seus destinos. Em uma posição privilegiada, entre a Capital da Colônia e a Província de São Paulo, Jacareí era abastecida por uma rede bem organizada que vendia os recém-chegados da África, conhecido como “boçais”. A acelerada expansão da lavoura cafeeira em Jacareí na primeira metade do século XIX fez registrar uma grande entrada de africanos, “mercadorias” essenciais para suprir o mercado de mão-de-obra. Como plantar café sem os negros? Comprar gente tornou-se um ato corriqueiro e as propriedades agrícolas passaram a ser exploradas com o braço escravo, cujo número máximo foi atingido em 1836: 1996 cativos, número que representava 20% da população local.
“Escravos na colheita de café | Vale do Paraíba” (1882) e “Partida para a colheita de café com carro de boi | Vale do Paraíba” (1885) - Marc Ferrez / Coleção Gilberto Ferrez -
Durante muito tempo, o trabalho escravo gerou riquezas para seus proprietários. Em contrapartida, os cativos recebiam subalimentação, higiene precária e castigos frequentes. Como consequência deste tratamento, a mortalidade era alta, principalmente a infantil, em torno de 88%. Ao mesmo tempo, a taxa de reprodução de cativos era negativa. Esta realidade fez o tráfico negreiro tornar-se a melhor opção na reposição das “peças”. Neste movimento traficante, Jacareí marcou seu nome na história. Na província de São Paulo foi um dos polos centrais, tendo na figura de João da Costa Gomes Leitão, seu maior expoente.
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Escravidão
DECLÍNIO – O café vinha dizimando as matas e os negros. Em 1850, a produtividade já havia atingido seu ápice. No entanto, diante do alto preço dos escravos e também do café, os fazendeiros e traficantes locais continuaram lucrando. O alto preço de um cativo obrigava os senhores a redobrarem sua atenção. Senzalas eram trancadas à noite e recompensas atraiam capitães-do-mato na caça dos fugitivos. Em contraposição, concessões de liberdade, as alforrias, não deixaram de ocorrer, muitas vezes motivadas por sentimentos humanitários. Alguns senhores libertavam seus escravos condicionando à prestação de serviços. Sem pensão alguma, os “forros” eram livres, mas continuavam dependentes. Alguns conseguiam ascender socialmente e por vezes compravam escravos, passando de coisa possuída a possuidor. Mesmo assim continuavam a carregar o estigma da cor. Jacareí, como outras tantas cidades, tinha no século XIX um Código de Posturas que buscava disciplinar as relações sociais e a convivência entre todas as pessoas, muitas vezes estabelecendo regras de comportamento e conCorreio Paulistano – 1855 vívio entre brancos e negros. Regulamentado em 1884, data bem próxima à Abolição, legislava prevendo os perigos que os escravos pudessem causar, numa postura preventiva da ordem e da segurança pública. Trazia normas que tratavam os escravos como raça inferior, delimitando, por exemplo, a distância a ser mantida entre gente livre e gente escrava em alguns serviços públicos, como abertura de estradas. Nas duas últimas décadas da escravidão, a lavoura cafeeira já havia esgotado o solo jacareiense. Os fazendeiros migravam para a Região Oeste em busca de terras virgens. O período áureo do café havia passado e Jacareí, apesar dos grandes cafeicultores e escravocratas, já não detinha grande número de cativos. Pelo alto custo, pequenos proprietários não podiam comprar escravos. Apesar da opressão, surgiram forças opositoras ao escravismo. Ideais de liberdade conflitavam com o direito de propriedade alegado pelos fazendeiros. A abolição dos escravos estava próxima, vindo a ocorrer em 1888.
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Esportes
Esportes
Foto: Lauro Martins
A prática desportiva, quase sempre vista pelo aspecto competitivo, na verdade é um importante fator de saúde e educação. Os esportistas de Jacareí, de tempos em tempos, se destacam em alguma modalidade, seja através do tradicional atletismo, voleibol ou handebol ou outras menos conhecidas como o badminton. Em comum, dentre todas, para obter alto desempenho, os atletas sempre precisam de apoio de empresas patrocinadoras e das autoridades governamentais no oferecimento de estruturas esportivas.
Hipódromo em Jacareí -1925
Entre os séculos XIX e XX, afora as práticas náuticas no Rio Paraíba, os jacareienses costumavam praticar o ciclismo, havendo relatos da existência de um velódromo na Rua Barão de Jacareí. As corridas de cavalo, ou turfe, também tiveram relativa importância na década de 1920, quando centenas de pessoas frequentavam um hipódromo nas proximidades do Mercado Municipal. O futebol, introduzido no Brasil pelo inglês Charles Miller no final do século XIX, inicialmente era praticado somente pelas pessoas de elite. Cheio de estrangeirismos, em Jacareí “os matchs de foot-ball eram realizados no ground da Vila Mariana, quando os teams batiam-se valorosamente em busca de goals”. Algumas décadas depois, o Esporte Clube Elvira e o Ponte Preta Futebol Clube brilhaGazeta de Jacareí - 1906 109
vam e rivalizavam nos gramados da cidade. Atualmente, a cidade possui um time profissional de futebol, o Jacareí Atlético Clube, além de inúmeros times amadores que disputam um tradicional torneio amador chamado “Jacarezão”. Trocando os pés pelas mãos, Jacareí também teve uma fase épica no basquetebol, quando a equipe do Trianon Clube sagrou-se vice-campeã paulista e brasileira em 1972/1973. Antes disso, na década de 1950, o clube já havia revelado para a modalidade a atleta Norminha, bicampeã nos Jogos Pan-Americanos de 1967 e 1971, considerada uma das cinco melhores jogadoras do século XX. Também jogado com as mãos, há Norma Pinto de Oliveira, a Norminha poucos anos o Rugby passou a ser também motivo de orgulho para os jacareienses. Em 2017, os “jacarés”, como são conhecidos os jogadores do Jacareí Rugby, sagraram-se campeões nacionais no “Super Sevens” e também no “Rugby XV”.
Divulgação
Confederação Brasileira de Bascketball
Esportes
Equipe de Rugby de Jacareí - Campeã Brasileira de 2017
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Esportes
Divulgação/PMJ
Associação Paulista de Bicicross
A cidade também tem uma forte tradição no bicicross, contando com a excelente pista “Luciano Bruni”. Muitas gerações iniciaram suas pedaladas sob a orientação do técnico Pedro José de Andrade, o Pedrão, inclusive Marcos Carlos dos Santos, o conhecido “Chokito”.
Pedro José de Andrade, o Pedrão
Marcos Carlos dos Santos, o “Chokito”
Acervo de Família
Mestre Paulo Graça, do Clube Rodoviário de Judô, é a referência da prática deste esporte em Jacareí.
Mestre Paulo Graça
Atualmente, a maior prática de atividades físicas é realizada em aparelhadas academias espalhadas pela cidade. A “Academia de Esportes do Dr. Marrelli”,
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Esportes
Antonio Leme, o Tó
Tocha Olímpica no Parque da Cidade
Divulgação/PMJ
Divulgação/PMJ
instalada nas proximidades de seu consultório médico, se notabilizou pelas aulas de boxe, com destaque para os pugilistas Brasílio Oliveira e Rodolfo Esper. Jacareí também gravou seu nome nos esportes paralímpicos. Após a cidade recepcionar a tocha olímpica em 26 de julho de 2016, o atleta Antonio Leme, o Tó, portador de paralisia cerebral, conquistou a medalha de ouro na modalidade “bocha adaptada” nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Antes disso, havia ganhado duas medalhas de bronze nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto, em 2015 no Canadá.
Emídio Marques de Mesquita
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Acervo de Família
Acervo de Família
Todas as competições esportivas necessitam de um árbitro para fazer cumprir suas regras. Neste cenário, Jacareí também teve seu representante: Emídio Marques de Mesquita, engenheiro de formação, primeiramente se destacou nas quadras de basquete, atuando entre as décadas de 1950/1960. Em 1968, após fundar uma escola de árbitros em Jacareí, foi convidado a integrar o quadro de profissionais da Federação Paulista de Futebol, iniciando também sua trajetória pelos gramados. Emidinho, como é conhecido, atuou em importantes partidas de futebol, com destaque para o jogo de despedida de Pelé do Santos em 1974.
Estrada de Ferro
Estrada de Ferro Em meados do século XIX, os cafeicultores se deparavam com grandes problemas diante da ampliação de sua produção. Além da custosa mão-de-obra escrava, o transporte do café, feito em “lombos de mulas”, gerava considerável prejuízo. Os caminhos e o transporte precisavam ser melhorados. O capital, antes aplicado no tráfico negreiro, passou então a dinamizar a implantação de ferrovias, aumentando consideravelmente os lucros dos capitalistas e fazendeiros. Na outra ponta do negócio, os tropeiros, os criadores de muares e as estalagens tiveram sua importância social e econômica drasticamente reduzida pela inovação. Na Inglaterra, a primeira linha ferroviária a vapor foi inaugurada em 1830. No Brasil, duas décadas depois, após concorrência lançada pelo Governo, uma companhia assumiu a construção da Estrada de Ferro D. Pedro II que, saindo do Rio de Janeiro, iria transpor a Serra do Mar e tomar duas direções: o tronco demandaria para Minas Gerais e o ramal seguiria para o Vale do Paraíba paulista. As obras privadas iniciaram em 1854 e poucos anos depois passaram ao domínio estatal. A estrada primeiramente chegou à Petrópolis, atingindo Cachoeira de Lorena, em São Paulo, somente em 1874, parando nas barrancas esquerdas do Rio Paraíba do Sul. Em Jacareí, uma década antes, em 1864, o cafeicultor e vereador João da Costa Gomes Leitão já requeria à Assembléia uma linha férrea que passasse pela cidade. Em 1871, o Presidente da Província fez a contratação da “Estrada de Ferro do Norte”, cuja construção ficaria a cargo dos subscritores da Companhia São Paulo – Rio de Janeiro, entre eles Joaquim Floriano de Godoy, antigo médico em Jacareí, além do próprio Leitão. Este permaneceu na concessão até o ano seguinte, passando sua cota para Ângelo Tomas do Amaral. A linha férrea, com bitola estreita de 1 metro, sairia de São Paulo e passaria por várias cidades, inclusive Jacareí, até atingir Lorena, onde encontraria a Estrada de Ferro D. Pedro II. A obra foi iniciada em 1873 e muitos estrangeiros chegaram para implantar a ferrovia, o que fazia o povo espantar-se ao ver homens brancos e livres executando trabalhos braçais. Inúmeros testes foram realizados antes da viagem inaugural em 2 de julho de 1876, um domingo, às 11h30. O trem oficial partiu da Estação do Norte, trazendo cerca de 200 pessoas, entre elas o Presidente da Província. Uma comissão, encabeçada pelo Dr. 113
Estrada de Ferro
Lúcio Malta, recepcionou as autoridades numa estação totalmente ornada com arcos e bandeiras. O comboio partiu de volta para a Capital às 15 horas.
Jornal A Província de São Paulo - 02/07/1876
APHJ
O encontro entre as duas ferrovias se deu em 9 de julho de 1877. No entanto, as duas estradas ficavam separadas pelo Rio Paraíba, sendo necessária a baldeação de mercadorias e passageiros. Mesmo se não houvesse o rio, a ligação não seria possível haja vista que a bitola da Estrada que vinha do Rio de Janeiro era maior, de 1,6 metro. No ano seguinte, no dia 11 de setembro, Jacareí teve a honra de ver passar por sua estação em comboio especial, Sua Majestade D. Pedro II e sua esposa D. Tereza Cristina, acompanhados de grande comitiva.
Inauguração da Bitola Larga - 1905
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Estrada de Ferro
Entre 1896/1908 deram-se os serviços de alargamento da bitola na “Estrada do Norte”. Em 1890, com o advento da República, a estrada paulista foi comprada pelo Governo Federal e o conjunto das vias férreas teve a denominação alterada para “Estrada de Ferro Central do Brasil”. A “bitola larga” chegou a Jacareí em 29 de novembro de 1905 e novamente houve uma grande festa prestigiada por autoridades e a sociedade local, com destaque para o professor Lamartine Delamare que discursou na ocasião. Igualando-se as bitolas e construindo-se uma ponte, foi finalmente possível a unificação física das estradas. A chegada dos trens havia transformado a vida de Jacareí. As máquinas significavam rapidez na locomoção de passageiros, contato maior com as Capitais e aumento das possibilidades de prosperidade. O centro da cidade foi deslocado, uma vez que a linha férrea teve que passar fora do perímetro urbano, precisando-se aterrar um trecho do Largo do Bonsucesso para recebimento dos trilhos. Tal obra teve o auxílio do então Diretor da Estrada de Ferro, Paulo de Frontin.
Fotos: APHJ
Estação Ferroviária em Jacareí
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Estrada de Ferro
Foto: Jarbas Porto Mattos Neto
O movimento na Estação impulsionou o comércio que enfrentava uma crise desde a abolição da escravatura. Além de ser o “ponto chique” da cidade, em seu torno surgiram diversos tipos de vendas e prestadores de serviços, sendo o “Hotel Máximo” um marco daquela época. Destaque, ainda, para os famosos “Biscoutos Jacarehy” que caíram no gosto dos passageiros e era uma compra obrigatória para qualquer viajante. O parque ferroviário aqui instalado, com oficinas de reparos e armazéns de carga, fez crescer o número de “ferroviários” que tanto destaque tiveram ao longo dos anos. O início da decadência da chamada “Era Ferroviária” deu-se no início dos anos 1950, quando a política nacional elegeu o transporte rodoviário, implantando a indústria automobilística e construindo a Rodovia Presidente Dutra. Em 1957 a “Central do Brasil” foi incorporada pela “Rede Ferroviária Federal S.A”. O trecho entre Mogi das Cruzes e São José dos Campos, incluindo a Estação de Jacareí, foi abandonado no fim dos anos 1980 com a construção da eficiente variante do Parateí. Em 1998 o transporte de passageiros entre o Rio de Janeiro e São Paulo foi desativado. Era o fim do “Trem de Prata”. A velha “linha” passou a ser apenas uma alternativa nas emergências para a passagem de vagões de carga transportando matéria-prima para as indústrias. Naquele ano, a MRS (Malha Regional Sudeste) passou a ser a concessionária responsável pelo trecho. Os trilhos permaneceram até 2004, quando foram retirados para a reurbanização da área central. Um pequeno trecho foi preservado em frente ao velho conjunto de prédios ferroviários. O local agora é denominado Pátio dos Trilhos.
Pátio dos Trilhos
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Estradas Rodoviárias
Estradas Rodoviárias Alguns séculos atrás, a região do Vale do Paraíba não possuía estradas, somente trilhas e picadas abertas e utilizadas pelos indígenas. A população colonial temia avançar pelo “sertão” e a expansão só ocorreu pela ação dos bandeirantes que costumavam caminhar até o início da tarde, quando faziam uma parada, um pouso, que tornados fixos vieram a se transformar em novos povoados e vilas. O “Caminho Velho dos Paulistas” ou “Caminho Geral do Sertão”, mais tarde “Estrada Geral”, originada na “Trilha dos Guaianases”, foi a rota original das primeiras bandeiras e expedições que partiam da Vila de São Paulo e passavam pelo Vale do Paraíba, inclusive Jacareí, em direção às Minas Gerais. Era um caminho estreito utilizado nos comboios de escravos e pelos tropeiros na transposição de muares e boiadas. Também eram transportadas mercadorias essenciais como toucinho, aguardente, açúcar e milho. Ao longo do caminho, havia algumas pequenas pontes e balsas. Já naquela época, moradores das vilas exigiam um “pedágio” pela travessia, cobrança que se tornou institucionalizada com o aval da Coroa Portuguesa e do Governo Provincial diante de uma nova possibilidade de arrecadação de impostos. Esta estrada precária foi utilizada por muitos anos. Na metade do século XVIII, mascates com malas de madeiras nas costas percorriam a região vendendo seus badulaques: eram os chamados caixeiros-viajantes. O caminho também foi importante no escoamento do principal produto de exportação, o café. No entanto, advindo a ferrovia no último quartel do século XIX, a Estrada Geral perdeu um pouco de sua importância. Estrada Velha Rio – São Paulo A Estrada Geral voltou ao cenário político e econômico na década de 1920 quando se aproveitou quase a totalidade de seu traçado para construir uma nova via de comunicação. Washington Luís, Presidente da República, tinha um slogan informal ainda quando estava à frente do executivo paulista: “Governar é abrir estradas”, frase muitas vezes vista como a opção que o país faria pelo transporte rodoviário. O projeto da nova estrada foi apresentado em 1920 e a construção foi iniciada em 2 de maio de 1923, ano em que Jacareí sediou uma reunião de autoridades governamentais para apresentação do “gigantesco plano das estradas de rodagem”. 117
Acervo Museu Republicano – USP
Estradas Rodoviárias
Discurso do Presidente do Estado Washington Luis em almoço oferecido pela Câmara de Jacareí em 14 de outubro de 1923
Revista Estrada de Rodagem SP - Jacarehy - 1924
Ligando o Rio de Janeiro a São Paulo, foi a primeira estrada de longo traçado no país, inaugurada em toda sua extensão em 5 de maio de 1928 em solenidade pública na cidade de Cachoeira Paulista. A maior parte de seus 508 quilômetros era de chão batido, sem asfalto e sequer pedregulho. Os viajantes ficavam sujeitos ao pó e a lama, geralmente precisando de duas peças de roupa: uma para a viagem e outra para a chegada.
Estrada margeando o Rio Paraíba do Sul
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Estradas Rodoviárias
Revista Estrada de Rodagem SP - Jacarehy - 1924
A rodovia oficialmente denominada “Washington Luís” passava dentro de cada cidade. Em Jacareí, ruas centrais como Alfredo Schürig e Barão de Jacarei faziam parte de seu trajeto e os ônibus tinham parada na Praça Conde Frontin. A ponte sobre o Rio Paraíba servia como um ponto estratégico para a fiscalização rodoviária e também da Fazenda Estadual, que tinha um posto instalado no bairro do São João. O trecho entre São Paulo e Jacareí, com 89 quilômetros foi inaugurado em 1924, abarrotando a cidade de automóveis de várias marcas, até então desconhecidas da população jacareiense. Postos de combustível não existiam, obrigando os motoristas a levar a benzina, a borracha, o macaco e o calço em caso de algum imprevisto. A estrada era cheia de curvas e ir até São Paulo demandava cinco horas, metade do tempo que distanciava Jacareí do Rio de Janeiro. Empresas de transportes de passageiros surgiram nesta época como a Pássaro Marron e a Cabrillana.
Estrada Washington Luis – Chegada a Jacareí
No entanto, o destino da rodovia foi selado com a inauguração da Rodovia Presidente Dutra, passando a ser conhecida apenas como “Estrada Velha Rio - São Paulo”. Deixando de ser federal, a administração e a responsabilidade foram repassadas para os Estados em seus respectivos trechos. Em São Paulo surgiu a SP-66, atualmente ligando a Capital à cidade de São José dos Campos. Ao passar por Jacareí, alguns trechos receberam novas denominações:
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Estradas Rodoviárias
- Euryale de Jesus Zerbine por projeto apresentado pelo deputado Luiz Máximo em 1983. O trecho tem 5,5 quilômetros de extensão e liga o município até o Distrito de São Silvestre.
-Henrique Eroles por projeto apresentado pelo deputado Ary Kara José em 1986. O trecho tem 49,8 quilômetros de extensão e liga o Distrito de São Silvestre até a cidade de Suzano.
-Geraldo Scavone por projeto apresentado pelo deputado Arnaldo Jardim em 1989. O trecho tem 12,3 quilômetros de extensão e liga Jacareí até a cidade de São José dos Campos.
Rodovia Presidente Dutra Getúlio Vargas ainda estava no governo do país quando se constatou a necessidade de uma nova ligação viária mais segura e eficaz ligando o Rio de Janeiro a São Paulo. Em 1946, recém-eleito presidente da República, o General Eurico Gaspar Dutra apresentou ao Congresso Nacional o “Plano Salte”, o primeiro ensaio de um planejamento econômico que tinha entre seus pilares o setor de transportes, investindo-se principalmente no setor rodoviário em detrimento ao ferroviário. Uma comissão especial, encabeçada pelo engenheiro-chefe Edmundo Régis Bittencourt, foi responsável pela criação da Rodovia Presidente Dutra, um trecho da BR-116 com 402 quilômetros de extensão que corta 34 cidades, inclusive
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Estradas Rodoviárias
Acervo de Família
Jacareí. Quase toda retificada, poucos quilômetros foram aproveitados do antigo traçado da Estrada Velha. Inaugurada em 19 de janeiro de 1951 pelo próprio presidente Dutra em uma solenidade na cidade de Lavrinhas, a então BR-2 possuía pista simples, exceto nos trechos iniciais, nas proximidades de Guarulhos e Baixada Fluminense. A duplicação total somente foi completada em 1967. Inauguração da Via Dutra em Lavrinhas Na época de sua implantação, muitos jacareienses acreditavam que a cidade seria prejudicada, já que o tráfego de veículos passaria ao largo da cidade. No entanto, a nova rodovia trouxe um importante impulso econômico para a região valeparaibana. Hoje, aproximadamente 50% do PIB – Produto Interno Bruto brasileiro é transportado pela Rodovia Presidente Dutra. Nas décadas de 1980/1990, o Governo Paulista construiu a Rodovia dos Trabalhadores, atual Ayrton Senna, prolongada pela Rodovia Governador Carvalho Pinto. Ambas as estradas acabaram por aliviar o fluxo de veículos na Via Dutra, principalmente naqueles trechos com movimento mais intenso.
Empresa comercial da família Nader às margens da Via Dutra – 1959
Via Dutra - 2017
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Estradas Rodoviárias
A principal autoestrada do país é administrada pelo Grupo CCR Nova Dutra. Mensalmente, as cidades que são cortadas pela Via Dutra recebem um repasse do ISSQN (Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza) arrecadado, proporcionalmente às suas participações territoriais voltadas para a rodovia, independente da existência de cabines de pedágio. Jacareí, com 18,5 quilômetros, é o terceiro município do Vale do Paraíba que mais recebe valores, sendo superado por São José dos Campos (23,66 km) e Pindamonhangaba (19,19 km).
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Foto: Maubertec
Foto: Maubertec
Rodovia Governador Carvalho Pinto A Rodovia Governador Carvalho Pinto, SP-70, foi inaugurada em toda sua extensão em 1998. Seus 70,15 quilômetros de extensão têm início no entroncamento com a Rodovia Ayrton Senna, no município de Guararema, e término na cidade de Taubaté, cortando aproximadamente 18 quilômetros do território jacareiense. A obra atendeu uma necessidade histórica, vindo a aliviar o tráfego que congestionava a Rodovia Presidente Dutra, tornando-se uma alternativa entre a capital paulista e o Vale do Paraíba, Rio de Janeiro, Litoral Norte e Campos do Jordão. Em Jacareí, a rodovia possui obras arrojadas, como o viaduto próximo ao bairro do São Silvestre, a ponte sobre o Rio Paraíba do Sul além de seis túneis, localizados em ambos os sentidos. A concessionária Ecopistas tem contrato para sua administração até 2039.
Estradas Rodoviárias
Rodovia Dom Pedro I
Rodovia Nilo Máximo A história desta rodovia remonta à época do Império, sendo conhecida como a “estrada rumo ao mar”, ligando Jacareí à Paraibuna, passando pela Vila de Santa Branca. Atualmente, nas proximidades da Fazenda Harmonia, ainda se podem observar pequenos trechos do leito abandonado do antigo traçado. A antiga estrada começava na periferia da cidade, hoje Parque Santo Antonio, subia e descia morros e desembocava em determinado trecho da atual rodovia. Seguia até alcançar o Rio Paraíba, onde uma precária ponte de madeiConstrução da Estrada de Santa Branca
Acervo: Leopoldo José Rodrigues
A Rodovia Dom Pedro I, SP-65, faz a ligação das Regiões Metropolitanas do Vale do Paraíba e de Campinas, partindo da Rodovia Henrique Eroles em Jacareí e terminando na Rodovia Anhanguera. Inaugurada em 25 de novembro de 1972, nas comemorações do sesquicentenário da Independência do Brasil, a rodovia tem 145,5 quilômetros de extensão, 18,45 deles em território jacareiense. Antes de sua abertura, ambas as regiões somente eram atingidas após passagem pela cidade de São Paulo. Na ocasião em que a rodovia foi aberta ao tráfego, seu traçado iniciava nas proximidades da Avenida Lucas Nogueira Garcez, em Jacareí. Em 1994, com a inauguração da Rodovia Carvalho Pinto, seu trajeto foi alterado, cruzando a Rodovia Presidente Dutra, sem passar pela área urbana da cidade. A rodovia possuiu três praças de pedágio e é administrada pela concessionária Rota das Bandeiras, empresa do grupo Odebrecht, com contrato até 2039.
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Estradas Rodoviárias
ra e uma balsa permitiam a travessia das águas. A partir daquele local conhecido por Barra, sentido Jacareí-Guararema, a estrada acompanhava o trajeto do rio até a entrada da Vila de Santa Branca. Em 1902, o Governo Provincial mandou construir uma ponte metálica para atravessar o Rio Paraíba, sendo, então, necessária a abertura de um novo caminho de quatro quilômetros a partir de Santa Branca em substituição ao antigo trecho que era usado somente por carros de boi e tropas de mulas. Em 1922, trabalhadores vieram abrir a nova estrada entre Santa Branca e Jacareí, aproveitando parte do antigo traçado. Em meados dos anos 1960 a estrada recebeu sua primeira camada de asfalto e sofreu pequenas retificações no seu trajeto. A atual Rodovia Nilo Máximo, SP-77, tem 40 quilômetros e liga Jacareí à Santa Branca e Salesópolis. A denominação foi dada em 1979 através de um projeto de lei do deputado Malek Assad.
Trecho da Estrada para Santa Branca
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Trecho da Estrada para Salesópolis
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Acervo de Família
Após o declínio da fase cafeeira em Jacareí, algumas pequenas fábricas começaram a ser inauguradas, contribuindo para o desenvolvimento da cidade. A maior parte delas dedicou-se à fabricação de meias. Entretanto, uma empresa do setor alimentício projetou o nome da cidade Brasil afora: a FáFábrica de Biscoutos Jacareí brica de Biscoutos Jacareí. O mineiro Amâncio Dias, casado em segundas núpcias com Leonor Chaves Dias, fundou a fábrica em 1899. Produzidos de forma artesanal, os biscoitos eram embalados individualmente e vendidos principalmente nos trens que passavam por Jacareí. Após a morte prematura do fundador em 15 de janeiro de 1915, aos 50 anos, a viúva Leonor, grávida de seis meses, viu-se numa difícil situação: continuar os negócios do marido e cuidar dos outros 11 filhos. Entretanto, ela conseguiu muito mais que isso, sendo personagem importante por ocasião da Revolução de 1932, inclusive condecorada com uma medalha de mérito e agraciada pelo Estado com uma pensão vitalícia. Leonor Chaves Dias ladeada pelos filhos
APHJ
Fábrica de Biscoutos Jacareí
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Fábrica de Biscoutos Jacareí
Acervo de Família
Na década de 1940, “a Fábrica de Biscoutos Viúva Amâncio Dias” foi vendida para Indalécio Villar e seu sócio Otávio Marino, que logo deixou a sociedade. Utilizando fornos a lenha, Indalécio ampliou a empresa adquirindo os imóveis vizinhos à antiga sede, alterando também sua razão social. Na década seguinte, indo residir em Mogi das Cruzes, a empresa passou a ser comandada por seu filho e sócio Hilário Villar Mercadante que modernizou a produção com fornos elétricos italianos. As vendas dos biscoitos, antes comercializados na Estação Ferroviária, tiveram grande impulso com a construção da Via Dutra em 1951, quando várias barraquinhas passaram a vendê-los nas cercanias da cidade. Em seu apogeu, a fábrica chegou a empregar mais de 100 funcionários e produzir 250 toneladas de biscoitos por mês. Havia uma grande variedade de produtos: sequilhos, rosquinhas, torradas e diversos tipos de biscoitos. O mais famoso deles, o “Flor de Jacareí”, era grande, farinhento e levemente adocicado, sendo inclusive premiado durante os festejos do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Em 1964 ocorreu uma situação inusitada: uma lei tentava impedir que produtos levassem nome de cidades, o que viria prejudicar a Fábrica de Biscoutos Jacareí. A questão foi resolvida após um juiz sentenciar que “não era a cidade que tornava os biscoitos conhecidos, mas o inverso, a cidade que se tornava afamada por eles”. Afora os produtos, as instalações comerciais ficaram marcadas na memória jacareiense, desde os balcões de mármore preto até o “jacaré empalhado” que ficava no alto das prateleiras. As latas azuis durante muitos anos serviram como uma recordação da cidade. Atualmente, passaram a ser utilizadas como objetos de decoração e vendidas em antiquários. Os “biscoutos Jacareí” eram 80% artesanais, com um custo muito alto de produção. A chegada dos produtos industrializados fez as vendas caírem, tornando a empresa inviável comercialmente. Em 1980, já sob o comando da terceira geração, Hilário e demais herdeiros venderam a fábrica para Regis Villar que encerrou as atividades poucos anos depois, se desfazendo de todas as instalações, exceto os imóveis que permanecem na posse dos herdeiros.
Hilário Villar Mercadante 126
Fábricas e Indústrias
Fábricas e Indústrias Antes mesmo de Jacareí ser elevada à vila, já havia na região pequenas indústrias artesanais com fabricação de velas, tijolos e aguardente. Passado o grande ciclo do café, pequenas empresas familiares começaram a surgir nas primeiras décadas do século XX, principalmente na área da tecelagem. Porta de entrada para o Vale do Paraíba, a industrialização se concretizou com a inauguração da Via Dutra, fazendo de Jacareí uma das maiores economias do Estado, representada por um parque industrial diversificado, produzindo desde automóveis até latinhas de alumínio.
APHJ
Fábrica de Fogos Caramuru Fundada em 1915, Biagino Chieffi comandou a empresa em seu auge nas décadas de 1950/1960, realizando shows pirotécnicos nas inaugurações da Disneylândia e Brasília além das primeiras festas de Reveillon em Copacabana.
Divulgação
Foto: Instituto Sergio Rodrigues
Oca O arquiteto Sérgio Rodrigues produzia móveis de forma artesanal na Taba, sua empresa no Rio de Janeiro. Pretendendo ter escala industrial, fundou a Oca nas antigas instalações da Cititex em Jacareí. Cebrace Tendo planta em uma antiga fazenda, a Companhia Brasileira de Cristal foi fundada em 1974, inicialmente uma joint-venture entre a Providro e a Santa Marina. É a empresa líder no mercado brasileiro do segmento de vidro plano.
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Fibria A “Papel Simão” iniciou atividades na década de 1950, sendo adquirida pela VCP em 1992. A Fibria é líder mundial no setor, produzindo milhões de toneladas de celulose e papel.
Diocese de São José dos Campos
FAPIJA
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A FAPIJA - Feira Agropecuária e Industrial de Jacareí foi considerada a maior exposição agropecuária do Vale do Paraíba e a terceira do Estado de São Paulo. A maior atração festiva da região era promovida pelo Sindicato Rural de Jacareí desde 1983 nas dependências da Escola Agrícola Cônego José Bento objetivando o fomento do agronegócio. A Feira que integrava a pecuária, a agricultura, a indústria, o comércio e o turismo rural, contava com a presença de importantes criadores de todo o país, gerando milhares de negócios e aproximadamente três mil empregos, diretos e indiretos. Realizada anualmente no mês de julho, o evento durava dez dias, tendo um público médio de 500 mil pessoas, sendo que 80% delas entravam gratuitamente no período Padre João Osmar da manhã. Nas amplas dependências da escola eram realizados torneios leiteiros, leilões de animais e o tradicional rodeio, sempre finalizado com a “Missa do Peão” celebrada pelo padre boiadeiro João Osmar. O público também era atraído pelos grandes shows musicais, principalmente com nomes consagrados do sertanejo nacional. A feira também contava com parque de diversão e uma ampla praça de alimentação. Os shows foram a razão da suspensão da feira a partir de 2012. Devido ao alto volume sonoro, um grupo de moradores fez um abaixo-assinado e apre-
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FAPIJA
sentou uma denúncia ao Ministério Público em 2010. Instaurado o inquérito, no ano seguinte técnicos apuraram o excesso de ruído, levando a Promotoria do Meio Ambiente a entrar com uma ação civil pública visando tão somente inibir os decibéis excessivos dos shows noturnos, FAPIJA nas dependências não tendo como alvo a visitação púda Escola Agrícola Cônego José Bento blica, tampouco os negócios agropecuários realizados durante a feira. Às vésperas da FAPIJA/2012, já com grande parte das estruturas montadas e shows programados, o Sindicato Rural decidiu suspender a feira, prevendo que os futuros eventos seriam realizados no Agrocentro, sua nova sede localizada no Jardim Colônia, na antiga Fazenda Boa Vista, com área de 500 mil m², próxima às Rodovias Carvalho Pinto e Nilo Máximo. Desde então, o local vem recebendo a estrutura necessária para a realização da 30ª edição da Feira, como baias para eqüinos, pavilhão para bovinos, pistas de provas, espaços para leilões, rodeios e shows além de um estacionamento para 15 mil veículos, restando somente a construção de uma via de acesso, convênio assinado entre o Departamento de Estradas de Rodagem – DER e a Prefeitura Municipal em 2012. Agrocentro
Sindicato Rural de Jacareí
Sindicato Rural de Jacareí
FEMPO
FEMPO Nos loucos e criativos anos da década de 1960, a cidade vivia uma efervescência cultural. A música fazia parte da vida da “rapaziada” que lotava os coretos das praças e os palcos dos clubes, cinemas e da Rádio Clube Jacareí. O sucesso dos festivais de música realizados pela TV Record motivou alguns alunos e professores do Colégio Silva Prado, o CENE, a pensar na realização de um festival estudantil. Apesar de a ideia ser inicialmente vetada pela direção,
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preocupada com a possibilidade de manifestações de cunho político, os idealizadores sugeriram intercalar cada canção com um poema, o que certamente acalmaria ânimos mais exaltados. Nascia ali o FEMPO – Festival de Música e Poesia, evento que marcou época em Jacareí. A 1ª edição do Festival realizado em 1969 teve o incentivo de vários professores, principalmente José Simplício e Marli Cardoso. As músicas e poesias passavam por uma “censura” realizada pelos próprios professores do Colégio que retiravam aquelas mais “impertinentes” para o momento de repressão política, aproveitando também a Professor José Simplício oportunidade para eventuais correções no uso da língua-portuguesa, salvaguardando as denominadas “licenças poéticas”. A inquietude juvenil deu mostras durante o Festival, momento em que alguns participantes se apresentaram de costas para o público ou distribuíram rosas para a platéia após a declamação de alguma poesia em velado protesto aos militares. Ao final da competição, o Festival apresentado pelos estudantes João Bosco Lencioni e Madre Selva Leal Moreira teve como principais vencedores o compositor Jaime Alem com a canção “Não Valia Tanto”, a intérprete Nair Cândia e a poetisa Cláudia Gaspar. Muitos talentos locais brilharam nas diversas edições do FEMPO, entre eles Luiz Carlos Bertoncello, Didi Guedes, Lizete Mercadante, Paula Gaspar, José Carlos Zandonadi de Oliveira, João Antonio Grecco, José Roberto Zan, Mir Cambuzano, Ludmila Saharov, Alê Freitas e Carlos Bueno Guedes. Muitos seguiram a carreira profissional como o casal Jaime e Nair, os bateristas Magdo Bissoli, Elber BedaJaime Alem e Nair Candia - 1974 que e Jurim Moreira, os cantores Xico Pupo, Celi Redondo e Marcelo Serrano. O Festival, inicialmente restrito ao palco do salão nobre do Silva Prado, ganhou outras edições nos ginásios do Elvira, Trianon e até na Prainha do Rio Paraíba. Sem poesias, o evento teve o nome alterado para “Festival de Música
Foto: Carlos Bueno Guedes
Acervo de Família
FEMPO
Popular” sendo incluído no calendário turístico do Estado de São Paulo pela lei n° 4.297/1984, projeto do deputado Luiz Máximo. Até o início dos anos 2000, grandes nomes da MPB como Nara Leão, João Bosco e Titãs abrilhantaram as competições, atraindo grande público para os eventos. Nara Leão – FEMPO 1986 No ano de 2013, durante as festividades da Semana José Maria de Abreu, a Fundação Cultural de Jacarehy promoveu um comovente show comemorativo intitulado “Revivendo o FEMPO” que lotou o antigo salão de bailes do Trianon Clube.
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APHJ
Festejos
Revivendo o FEMPO - 2013
Festejos Datam da segunda metade do século XVIII os primeiros registros de festas populares no Brasil. Geralmente religiosos e católicos, os eventos eram aguardados com expectativa pela população que excepcionalmente podia deixar a monotonia da rotina da labuta diária no campo ou dos afazeres domésticos. Há muitas décadas, entretanto, uma festa profana acabou se consolidando como o maior festejo nacional: o carnaval.
Festas Religiosas
Festa da Padroeira – Feriado Municipal, o dia 8 de dezembro é celebrado pela comunidade católica em consagração à Imaculada Conceição, padroeira 131
Foto: Marco Aurélio de Souza
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da cidade de Jacareí. Além das tradicionais missas e procissões, por vários dias os festejos movimentam a Praça da Matriz, palco maior da celebração. Há mais de 100 anos são realizadas quermesses com várias barracas de comes e bebes e um grande foguetório ao meio-dia. A festa, entretanto, já foi bem maior, com Festa N.S.Conceição – 1919 a cidade sendo costumeiramente enfeitada por arcos e colunas. Importantes casais da sociedade, como Elvira e Pompílio Mercadante, Arlindo e Jovita Scavone e principalmente Yolanda e Biagino Chieffi foram os responsáveis pelas maiores festas outrora realizadas. Festa do Divino – Realizada no dia de Pentecostes, a festa portuguesa chegou ao Brasil e misturou-se às tradições indígenas e negras. Durante os preparativos, os Foliões do Divino visitam várias casas recolhendo prendas e cantando os feitos e poderes do Divino Espírito Santo. Na casa do festeiro, denominada ImFesta do Divino – 1935 pério, é erguido um altar e pratos e bebidas típicas são servidos, como o afogado, um ensopado de carne de vaca com farinha e uma bebida a base de pinga chamada “rosa-sol”. Festa da Carpição – Esta manifestação do catolicismo popular é realizada anualmente no mês de agosto. Durante os festejos, as pessoas capinam um pedaço de chão em torno de uma capela, cavocam e embalam um punhado de terra num pedaço de pano que é aplicado sobre a parte enferma Festa da Carpição – Bairro de Santana do corpo. Festa Junina – Existem duas versões para a origem do termo junino: uma delas diz que seria em função das festividades ocorrerem em determinados dias no mês de junho: Santo Antonio (13), São João (24) e São Pedro (29). Outra versão considera o termo “joanina” como uma homenagem apenas a
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Festejos
São João. A festividade foi trazida ao Brasil pelos portugueses e conta com várias influências de elementos culturais ibéricos (dança com fitas), chineses (enfeites de papel e fogos de artifício) e espanhóis e franceses (quadrilha) que misturados à cultura brasileira tomou características Casamento Caipira – Ponte Preta – 1959 particulares. As roupas caipiras, por exemplo, remetem às pessoas do campo que celebravam os bons resultados das colheitas. Os alimentos servidos nas festas são geralmente derivados do milho: pamonha, cural, canjica e pipoca. O quentão e o vinho doce são as bebidas tradicionais dos festejos juninos. Antigamente, na Igreja do São João, um mastro era levantado e as festas eram comemoradas com muito foguetório e música. A imagem do santo era carregada em procissão até o Rio Paraíba onde era banhada perto da ponte e depois levada de volta à igreja. Folia de Reis – Tradição que homenageia a peregrinação dos três Reis Magos a procura do menino Jesus. Vestindo roupas coloridas e floridas, os foliões visitam moradores e presépios carregando uma bandeira enfeitaFolia de Reis no Museu de Antropologia da com fitas.
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Festejos
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Carnaval
O carnaval foi o festejo popular que mais sofreu alterações ao longo dos tempos. Na segunda metade do século XIX, os bailes com fantasias e máscaras eram realizados em locais fechados, fossem residências ou pequenos clubes. Anos depois, a folia saiu às ruas: corsos carnavalescos eram desfiles de carros de luxo, abertos e ornamentados, que transportavam foliões fantasiados atirando confetes e serpentinas. Além desta pequena elite, havia também espaço para grupos populares como os ranchos, cordões e blocos. Os entrudos, formados por brin-
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Festejos
Grandes Foliões – José Pinto de Oliveira, o Pintinho Barbeiro
Acervo de Família
Foto: Fernando Silveira
Os Bambas - Clube Recreativo e Carnavalesco criado em 1934 por Vicente Scherma
Acervo de Família
Bloco Carnavalesco Sangue e Areia
Banda do Gordo com Edmundo Pereira e José Luiz de Brito
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Acervo de Família
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calhões oriundos das camadas mais populares, tinham como principal característica atirar contra outros foliões pequenas bolas de cera recheadas de água. A festa era arrematada com muita farinha jogada por cima dos corpos molhados. Já no século XX, durante muitos anos, grandes clubes como Elvira, Trianon e Ponte Preta realizavam animadas matinês para as crianças enquanto os adultos adentravam as madrugadas, lotando e brincando em seus enfeitados salões. Havia blocos muito bem organizados como o “Sangue e Areia” comandado pelo comerciante Romeu de Barros. Biagino Chieffi era considerado o “General da Banda”.
Baile Carnavalesco – Trianon Clube – 1976
Os festejos de Momo também costumavam lotar a Praça Conde Frontin. Em 1965, locutores da Rádio Clube deram incentivo à criação da COCAJA – Comissão do Carnaval de Jacareí que auxiliada pela Prefeitura Municipal organizava todos os detalhes da folia. Em 1974, blocos e escolas de samba passaram a competir diante de uma comissão julgadora. Os desfiles desciam a Rua Barão de Jacareí, contornavam a Praça Conde Frontin e tinham ponto final nos Quatro Cantos. Em 1980,
Foto: Fernando Silveira
Franz de Castro
a administração do prefeito Benedicto Sérgio Lencioni realizou um grande carnaval de rua composto por um júri técnico formado por artistas paulistas e cariocas, além de contar com uma arquibancada para o povo vibrar diante dos passistas. Durante anos pelas “passarelas do Mocidade Independente do São João Praça Conde Frontin - 1978 samba” desfilaram várias escolas como Unidos de Santa Helena, Bafo da Onça, Unidos do Álcool, Império do Samba, dentre outras. O carnaval aos poucos foi perdendo seu dinamismo. Muitas pessoas preferem aproveitar o feriado prolongado para descansar nas praias no litoral ou simplesmente ficar em casa vendo os grandes desfiles do Rio de Janeiro e São Paulo pela televisão.
Acervo de Família
Franz de Castro Fluminense de Barra do Piraí e descendente de alemães, Franz de Castro Holzwarth nasceu em 18 de maio de 1942, filho mais velho do casal Franz e Dinorah e irmão de Heloísa, Sonia, Peter e Ruth. A família muito católica, sempre esteve ligada à caridade, ajudando, inclusive, a construir uma igreja dedicada a Santa Terezinha ao lado da casa onde residia. Na pequena cidade, Franz estudou nas Escolas Estaduais Joaquim de Macedo e Nilo Peçanha. Aos Franz de Castro Holzwarth 14 anos teve seu primeiro emprego no Cartório do 1° Ofício Judicial, posteriormente trabalhando no Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais.
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Acervo de Família
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O sonho de estudar Direito em São José dos Campos o trouxe à Jacareí em 1962. Residindo com seus tios Lygia e Quinzinho, em 1965 começou a trabalhar como assistente administrativo no Fórum da cidade. Em seus tempos de Faculdade não gostava das matérias penais por ter aversão ao crime e a criminosos, o que o levou a advogar em causas cíveis após inscrever-se na OAB – Ordem dos Advogados do Brasil em 1968. Apesar de sua Franz de Castro aos 14 anos figura humilde, magra e tímida, era um competente profissional de “olhar bondoso e penetrante” que intimamente desejava concluir um curso de Teologia. Apesar do impulso ao sacerdócio, nunca teve “coragem” para se decidir. Tudo mudou em 1972 com a criação da APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados em São José dos Campos. Certa vez, convidado para preparar alguns presos para o sacramento da crisma, Franz ficou impressionado e comovido com o sofrimento moral e espiritual dos detentos, passando a defendê-los nos tribunais. Defensor inconteste dos direitos humanos, sua vida passou a ser dedicada a ações em favor dos encarcerados pobres, ajudando-os na reintegração à sociedade. Esta proximidade entre Franz e os detentos teve um fim trágico. Em 14 de fevereiro de 1981, um sábado, a cadeia pública de Jacareí foi tomada por uma rebelião. O Juiz de Direito Orlando Pistorezzi solicitou a presença de Mário Ottoboni e Franz de Castro, presidente e vice-presidente da APAC, para mediar o conflito em que 12 detentos mantinham três reféns para garantir a fuga. Policiais civis e militares, além de autoridades e anônimos, enchiam parte da avenida em frente à delegacia. Helicópteros da polícia sobrevoavam baixo. Apesar da tensão, a princípio as negociações avançaram em bom termo: utilizando o automóvel oficial da Prefeitura, Dr. Mário conseguiu deixar o local levando sete presos além do carcereiro Adolfo e o chefe dos escrivães José Be-
Acervo de Família
Franz de Castro
Franz de Castro
Fotos André Freire - Processo de Sindicância 02/81
nedito Aparecido. Algumas horas depois, os três reféns estavam libertos. Nas mãos dos presos revoltosos restava o soldado Macedo, que a PM exigia fosse libertado. Após uma negociação entre o Juiz de Direito, o comandante da Polícia Militar e o Delegado Seccional de Polícia, Franz de Castro assumiu o lugar do refém para garantir a saída dos rebelados. Apesar de todas as garantias oferecidas pelas autoridades presentes, na saída do segundo automóvel, uma Belina oferecida pelo investigador João Campos, um inusitado tiroteio matou todos que estavam dentro do veículo: cinco detentos e o advogado Franz, atingido por mais de 25 projéteis. O capitão da Polícia Militar Antonio de Oliveira também foi atingido por dois tiros, falecendo horas depois em um hospital. Outras treze pessoas foram atingidas por balas perdidas, dentre elas oito populares que assistiam ao desfecho do caso. Embora algumas testemunhas garantam que os primeiros tiros partiram de dentro de um camburão da polícia, o inquérito instaurado não determinou os autores dos disparos que mataram as sete pessoas. As cenas da rebelião foram matéria de reportagem da Rede Globo e ganharam repercussão nacional. O corpo de Franz de Castro foi velado na Câmara Municipal e depois na residência de seus pais em Barra do Piraí, onde foi sepultado no cemitério Santa Rosa sob forte comoção popular. Os amigos mais próximos contam que Franz pressentia sua morte semanas antes do motim, não sabendo, contudo, “se as balas assassinas viriam dos
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marginais ou da polícia”. Havia se despedido de algumas pessoas, inclusive da mãe, solicitando que fosse sepultado com o “terno marrom”. Após seu assassinato, inúmeras homenagens foram prestadas ao “mártir do cárcere”, título de um livro biográfico. O nome de Franz foi dado a ruas em Jacareí, São José e Volta Redonda, além de um prêmio lançado pela OAB/SP que laureia personalidades que se destacam na defesa dos direitos humanos. Em 2009, vinte e oito anos depois da morte de Franz de Castro, a Diocese de São José dos Campos abriu um processo para requerer a sua beatificação. Após extensa investigação e pesquisa, uma série de documentos foi enviada para a Congregação da Causa dos Santos, no Vaticano. Franz de Castro foi declarado “Servo de Deus” em 2011. Seguindo os trâmites eclesiásticos, seus restos mortais foram exumados e entronizados na Igreja Matriz Restos Mortais de Franz de Castro incensados durante de São José dos Campos. O cerimônia na Igreja Matriz de São José dos Campos processo se dará por “martírio” e não por milagres, já que Franz passou por “sofrimento extremo e perdeu a vida no testemunho da palavra de Cristo”. No entanto, para ser canonizado, ou seja, declarado “santo”, será exigida a comprovação de um milagre após sua beatificação.
Fundação de Jacareí Eis aqui um tema polêmico. Muitos historiadores e pesquisadores já se debruçaram sobre ele, sem chegar a uma conclusão. Infelizmente, diante da falta de documentos, ainda não sabemos exatamente como tudo ocorreu. Por ora, nos livros históricos e sites oficiais, a fundação de Jacareí continua sendo atribuída a Antonio Afonso e seus filhos.
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Foto: Agência Estado
Fundação de Jacareí
Furado
Questionamentos surgiram: o mais atuante pesquisador histórico sobre a cidade, o professor Benedicto Sérgio Lencioni não credita a fundação a Antonio Afonso, uma vez que o ilustre “bandeirante” sequer é mencionado no foral de criação da Vila. Afonso teria sido somente um sesmeiro em busca de novas terras, sem intenção de formar um núcleo populacional. Em contraposição, outros historiadores atestam que ausência do nome de Antonio Afonso não significa que ele não tenha passado ou se estabelecido por certo tempo no local, dando, assim, origem ao povoado. Estes afirmam que muitos documentos se perderam ao longo do tempo. Sem eles, perdeu-se também a história. Enquanto não encontrada a história real, a obra de Pedro Taques de Almeida Pais Leme, “História da Capitania de São Vicente”, escrita no século XVIII, algumas décadas depois da provável fundação, segue como referência à história oficial: “A vila de Nossa Senhora da Conceição do rio Paraíba “Jacaraí” foi ereta em tempo do donatário Diogo de Faro e Sousa, pelos anos de 1652, e dela foi povoador e fundador a custa da própria fazenda o paulista Antônio Afonso, com seus filhos Antônio Afonso, Francisco Afonso, Bartolomeu Afonso, Estêvão Afonso”. Ao escrever este pequeno trecho sobre a criação da Vila, Taques, sobrinho-neto de Fernão Dias Pais, o “Caçador de Esmeraldas”, usou como referência o livro de sesmarias n° 11 do antigo Cartório da Provedoria da Fazenda Real”, que infelizmente acabou desaparecendo no correr dos séculos. Esta dúvida sobre a fundação só fez aumentar as confusões em torno da data em que se deve comemorá-la, atualmente em 3 de abril, data da elevação da vila à cidade. É possível, porém, continuar essa aventura na história de Jacareí. Estudos e pesquisas poderão, um dia, talvez, trazer luzes ao seu legítimo fundador e à data mais próxima da verdade.
Furado Em meados do século XIX chuvas abundantes jorravam sobre a cidade. O Rio Paraíba passava bem próximo aos fundos da Igreja Matriz e costumeiramente causava grandes alagamentos. As autoridades da época, procurando evitar prejuízos, resolveram oficiar ao Governo Provincial propondo a mudança do curso do rio. Sugeriram que ele passasse por terreno do cafeicultor Gomes Leitão, do lado de cima da primitiva ponte com pilares de pedra. Sem esperar au140
Furado
torização, em 1851 Leitão contratou Cláudio José Franco e outros trabalhadores que engenhosamente começaram a fazer um “furo” que formaria com as forças das águas o novo caminho por onde o rio fluiria. Entretanto, interromperam a obra quando perceberam que não poderiam controlar a grande quantidade de água. Aqui fica claro que não passam de lendas as histórias contadas sobre a abertura do novo leito “por escravos e em uma única noite”. A obra causava controvérsias e dúvidas: seria ela realmente útil? Que prejuízos ela traria à cabeceira da ponte do lado da cidade e a outros proprietários, como Joaquim Miguel de Siqueira e Bento Lúcio Machado, o Barão de Jacareí? Entretanto, o novo encanamento do rio continuou sendo aberto. O Barão não conseguiu embargar a obra que tirava muito valor de sua propriedade, cujos fundos davam no rio. O inspetor da Estrada Geral que acompanhava a obra nada podia fazer. Além de autorizada por portaria do Presidente da Província, havia a cessão do proprietário do terreno a ser alagado, beneficiado pela nova proximidade do rio com sua moradia fora zona urbana. Não vingaram as alegações de que o desvio do rio causaria prejuízo à população. A obra era tratada pelas autoridades como uma medida de saneamento, uma vez que muita gente vivia próxima ao Paraíba. Assim, o rio, que antes realizava uma forte curva bem atrás da Santa Casa, teve seu curso desviado em cerca de 400 metros. Afora a questão urbanística, o “furado” provocou desavenças entre Gomes Leitão e o Barão de Jacareí, os “poderosos” da cidade. Ambos beneméritos na Santa Casa de Misericórdia, o Barão chegou a oferecer uma vultosa quantia ao hospital caso o ajudassem a fazer retornar o rio ao seu antigo leito. Apesar do título de nobreza, foi derrotado na pretensão, deixando a Irmandade em 1855. Antes da conclusão do “furado”, muita “água rolou debaixo da ponte”. As disputas entre as partes faziam a obra atrasar. Enquanto isso, a parte baixa da cidade continuava sendo inundada pelas grandes enchentes. Durante anos, o leito do rio percorreu duas canalizações, provocando desmoronamentos na nova margem direita, criando um recôncavo, ameaçando alcançar novamente o leito primitivo. No início da década de 1860, verbas ainda eram requeridas à Assembleia Provincial para conclusão do trabalho da canalização do rio. Por fim, o rio acabou se acomodando em seu novo leito. Após o desvio do rio, um trecho do antigo leito teve que receber diversos aterros. Este local ficou conhecido como “Aterrado da Ponte”, ao lado de uma grande área baixa, alagadiça, que ficou conhecida como “Esmaga Sapo”. Para
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Furado
percorrer o local, precisou-se inclusive implantar um pontilhão onde hoje está instalado o Cartório de Imóveis. Passados vários anos, todo o local acabou sendo recuperado, permitindo a implantação do Jardim Leonídia e a Praça dos Três Poderes.
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G Gentílico
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Acervo da Bola
Jacareiense (Ja-ca-re-i-en-se) é o gentílico adjetivo daquele que nasceu em Jacareí e também a palavra que adjetiva algo relativo à cidade. É importante ressaltar que esta classe de palavras que atribui uma característica à pessoa nascida em algum país, estado ou cidade, não segue regras rígidas, mas comumente deriva diretamente do nome do local. Na língua-portuguesa os sufixos mais comuns são –ense (joseense), -ano (italiano), -ão (alemão), -eiro (mineiro), -ês (português), -ista (santista). Entretanto, alguns gentílicos não recebem simplesmente um sufixo. É o caso, por exemplo, de capixaba (Espírito Santo), gaúcho (Rio Grande do Sul) ou soteropolitano (Salvador). O gentílico “jacariano”, embora não tenha se consagrado no decorrer dos tempos, foi utilizado em muitos documentos oficiais nos séculos XVIII e XIX. Algumas pessoas não nascidas em Jacareí, homenageados por vereadores da cidade com o título de cidadão, também são considerados jacareienses.
Alfredo Ramos, jogador de futebol, nasceu em Jacareí em 1924
Ronaldo Esper, estilista de moda, nasceu em Jacareí em 1944
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Fotos: Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Guarda Nacional
O médium Chico Xavier recebeu o título de cidadão jacareiense em 1975, somente entregue na cidade de Uberaba em 1998
O ex-governador Orestes Quércia recebeu o título de cidadão jacareiense em 1994
Por favor, nunca diga “jacariense”. Isso está incorreto
Guarda Nacional O Brasil, após a abdicação de Dom Pedro I ao trono em 1831, passou a ser governado por uma Regência Trina liderada por Diogo Antonio Feijó. Revoltas eclodiram pelo país requerendo o retorno no monarca. O Exército Brasileiro, precário, não dava conta de tantas conturbações. Seguindo, então, uma tendência dos Estados Unidos da América e da França, criou-se a Guarda Nacional pela Lei de 18 de agosto de 1831, inspirada na “Garde Nationale” francesa, tendo como objetivo “defender a Constituição de 1824, a liberdade, a Independência, a integridade do Império, para manter a obediência e a tranqüilidade pública.” Inicialmente, o alistamento para suas fileiras era realizado de forma local e obrigatório aos homens entre 18 e 60 anos, que tivessem renda mínima e direito ao voto. Excluída, então, a maioria da população, a Guarda Nacional era formada por 144
Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Guarda Nacional
homens livres da burguesia que defendiam principalmente seus interesses políticos e econômicos. Não por acaso, a maioria das funções de comando dessa instituição militar era ocupada por indivíduos provenientes das elites proprietárias de terra. Em 1864, a Guarda Nacional era constituída por 212 comandantes superiores, um grande quadro de oficiais e mais de 500 mil praças, tendo importante participação na Guerra do Paraguai (1864/1870), fornecendo metade de seus soldados. A Guarda Nacional esteve presente em quase todo o território nacional, inclusive no Vale do Paraíba onde seus principais chefes, detentores de elevada expressão política, econômica e social, eram indicados pelo Presidente da Província ou pelo Governo Central. Jacareí tinha uma posição de destaque com uma unidade da infantaria. Entretanto, o comando superior aqui existente possuía um pequeno e arruinado armamento. Os postos mais graduados eram ocupados pela aristocracia rural e por pessoas politicamente poderosas e influentes, como os coronéis Carlos Porto, João Ferraz, Francisco Leitão, Custódio Moreira Porto, Licínio Lopes Chaves e Francisco de Paula Ortiz; o tenente-coronel Onofre de Oliveira Ramos; os majores José Bonifácio de Mattos, Acácio Ferreira e Major Acácio Garibaldi de Paula Ferreira Joaquim Arouca; o capitão Salvador Preto e o alferes* João da Costa Gomes Leitão. Todas estas patentes significavam quase um status nobiliárquico.
Alferes era aquele que tinha a honra ou a obrigação de levar a bandeira do batalhão no desfile ou nos campos de batalha.
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Guerra do Paraguai
A Guarda Nacional, com o passar das décadas, foi perdendo importância diante do fortalecimento do Exército. Em 1918 suas unidades e comandos foram dissolvidos pelo Governo Federal. Apesar de extinta, as patentes foram conservadas, mantendo intacto o poder e prestígio dos aristocrátas. Apesar de desmobilizada, o Presidente Artur Bernardes continuou a emitir cartas-patentes de oficiais da Guarda Nacional até 1924, intentando consolidar a autoridade dos patenteados junto a sua comunidade. O poder dos oficias foi desarticulado de forma definitiva somente com a Revolução de 1930.
Guerra do Paraguai A Guerra do Paraguai, também conhecida como “Guerra da Tríplice Aliança” ou “Guerra Grande”, foi o conflito militar mais importante e sangrento ocorrido na América Latina no século XIX. Travada entre 1864 e 1870, deixou aproximadamente 350 mil mortos, a maioria por doenças, como cólera, varíola e diarréia. Muitos foram vitimados pela fome ou pelo frio. Na época havia um quadro de tensão muito grande na Região Platina. Entretanto, a responsabilidade do conflito coube aos países beligerantes, cada qual com sua motivação específica. O estopim foi a intervenção brasileira no Uruguai a favor do colorado Venâncio Flores, uma vez que o governo blanco de Bernardo Berro restringia o assentamento de brasileiros criadores de gado e detentores de 30% das terras da ex-Cisplatina. Do lado argentino, interessava a Bartolomeu Mitre afastar a possibilidade de um governo uruguaio que atuasse como refúgio de seus adversários federalistas. O Paraguai, liderado por Francisco Solano Lopez, não tinha papel de peso na região, mas, preocupado com o equilíbrio de forças na região, exigiu que o Brasil não interferisse nos assuntos uruguaios. A guerra explodiu como um desdobramento dos conflitos uruguaios e por iniciativa de Lopez, pois nem a Argentina, tampouco o Brasil, pareciam preocupados com o Paraguai no início da década de 1860. Quando as tropas brasileiras invadiram o Uruguai, o Paraguai retaliou: apreendeu o navio mercante “Marques de Olinda”, invadiu o Mato Grosso e no final 146
Guerra do Paraguai
de 1864 declarou guerra a um país 22 vezes mais populoso que o seu. Para apoiar os blancos do Uruguai, Lopez precisava atravessar o território argentino, o que lhe foi negado. Deste modo, invadiu algumas províncias e declarou guerra à Argentina. Com a vitória de Flores no Uruguai, o Paraguai conseguiu reunir contra si os três países numa guerra sem precedentes: estava formada a Tríplice Aliança contra a ditadura do insensato Solano Lopez. Superestimando o potencial militar brasileiro e apostando na neutralidade argentina, o Paraguai, apesar de uma fase inicial com ilusões de vitória, passou a sofrer grandes derrotas como na Batalha Naval do Riachuelo e na Batalha do Tuiuti. O país sucumbiu somente em 1870, quando Lopez, depois de cinco anos fugindo dos aliados, foi encurralado e perdeu a vida. Terminada a guerra, o Brasil se encontrava atolado em empréstimos, à beira da ruína. A monarquia estava abalada. A indenização que o Paraguai deveria pagar ao país, uma praxe na época, acabou perdoada na década de 1930 por Getúlio Vargas. Mas onde Jacareí entra nesta história? Bem, a guerra trouxe a tona o despreparo do mal armado exército brasileiro, fato somente compensado pela adesão da Guarda Nacional e pelos “Corpos de Voluntários da Pátria” que juntos constituíam 75% do efetivo militar brasileiro. Muitos libertos e escravos se ofereciam para lutar, quer substituindo seus senhores ou filhos deles, quer os convencendo a vendê-los para a guerra, pois em ambos os casos tinham a garantia, por lei, de alforria imediata. Muitos, entretanto, foram recrutados forçosamente: eram os “Voluntários a pau e corda”. Os primeiros soldados, vindos de São Paulo e outras províncias, viajaram a pé até o Pantanal, um terço deles morrendo pelo caminho devido às epidemias. Muitos foram ao Paraguai de navio. Em 1865, o Governo Provincial pediu que a Câmara Municipal acertasse com capitalistas e fazendeiros de Jacareí a libertação de alguns escravos para lutarem na guerra. Não havia interesse que o conflito fosse longo, o que traria desorganização total na economia cafeeira. De Jacareí partiram 25 voluntários, nem todos escravos, 20 deles apresentados pelo grande cafeicultor José da Costa Gomes Leitão, cujo pai, o velho Leitão, tomou para si as despesas dos que ficassem prejudicados ou inutilizados na guerra, além de custear suas despesas de viagem. Antes da partida, o Dr. Joaquim Floriano de Godoy hospedou e trajou todos os voluntários às suas expensas. Um banquete, no palácio do falecido Barão de
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Guerra Mundial
Jacareí, foi oferecido pela grata sociedade jacareiense. Mas quem foram os jacareienses que teriam participado da guerra, como convocados ou voluntários? Um deles seria o escravo João José de Jesus, propriedade do fazendeiro e vereador Joaquim Antonio de Paula Machado. O termo “seria” aqui é usado diante das controvérsias acerca da real existência do aclamado “Corneteiro Jesus”. Numa lista oficial apareceu o nome do Corneteiro Tibúrcio de Paula, que faleceu na Batalha de Tuiuti, recebendo elogios transcritos na “Ordem do Dia” do chefe do exército, sendo também condecorado com o “hábito da Ordem de Cristo” pelo Governo Imperial. Outro voluntário foi o marceneiro José de Paula Abreu que pela participação na Guerra recebeu um soldo até sua morte em 1918. Há também o registro de um voluntário chamado Inocêncio, possivelmente negro ou pardo, que morreu livre e foi enterrado no cemitério de São Benedito. Os voluntários que sobrevivessem à guerra, no regresso, teriam sua manutenção e até mesmo a vida assumidas por alguns ricos fazendeiros. Entretanto, terminada a guerra nada existe que comprove tais benevolências. Voltar vivo talvez tenha sido o prêmio de muitos deles.
Guerra Mundial A II Guerra Mundial, maior conflito militar global, durou seis anos, entre 1939 e 1945. O conflito que teve como ponto inicial a invasão da Polônia pela Alemanha Nazista envolveu muitos países, incluindo todas as grandes potências, organizados em duas alianças opostas: os Aliados e o Eixo. Marcada pelo Holocausto e pelo uso de armas nucleares, a Guerra matou mais de 50 milhões de pessoas e terminou com a vitória dos Aliados liderados pelos Estados Unidos, União Soviética e Grã-Bretanha. O Brasil foi a única nação da América Latina a participar da II Grande Guerra. O livro “FEB 70 anos – Os pracinhas de Jacareí na Segunda Guerra”, obra conjunta de Ana Maria Blumle e da historiadora Ana Luiza do Patrocínio, relata que apesar de “nosso país naquela época ser praticamente uma grande fazenda”, com uma população majoritariamente analfabeta e com níveis medíocres de saúde e educação, ele viu-se obrigado a declarar guerra aos nazi-fascistas em 31 de agos149
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to de 1942 após o afundamento de diversos navios brasileiros por submarinos alemães. Integrando o esforço de guerra americano, o Brasil criou a FEB - Força Expedicionária Brasileira em 23 de novembro de 1943. Apesar dos números serem controversos, Patrocínio informa que oficiais norte-americanos treinaram e equiparam mais de 25 mil combatentes brasileiros. Enviados aos campos italianos, 465 foram mortos em combates e acidentes, 2.722 ficaram feridos, 35 resultaram prisioneiros e 16 simplesmente desapareceram. Jacareí foi a segunda cidade do interior do Estado em número de soldados enviados à Itália. Todos os 153 expedicionários foram incorporados ao 6° Regimento de Infantaria de Caçapava. Os batalhões se deslocaram de trem para o Rio de Janeiro e embarcaram para Nápoles em 2 de julho de 1944 Antonio Nunes de Moraes Júnior para uma monótona viagem de 14 dias. Mal chegaram à Itália, enfrentaram um terrível inimigo: um inverno rigoroso, com 20° negativos. Somente na Europa os combatentes foram conhecer a maioria dos equipamentos de fabricação americana. No combate campal, junto às tropas aliadas, a FEB foi colecionando vitórias em Massarosa, Camaiore, Monte Prano, Gallicano, Barga, Monte Castello, Torre de Nerone, Castelnuovo, Soprassasso, Montese, Paravento, Zocca, Marano sul Panaro, Collecchio e Fornovo di Taro. Durante o período da guerra, havia grande carência de determinados produtos e Jacareí esteve sob um rigoroso racionamento e fiscalização de uma Coordenaria Municipal. Farinha de trigo, açúcar e gasolina eram vendidos em cotas familiares. Novenas e orações eram realizadas na cidade, principalmente na casa da família de Roberto Cambusano que se encontrava no campo Roberto Cambusano no front da Guerra
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de batalha. Quando as rádios noticiaram a rendição da Alemanha, o povo da cidade saiu às ruas a festejar. Aglomerados no Largo da Matriz, todos choravam e cantavam de alegria ao som das badaladas dos sinos. O 1° Escalão retornou da Itália em 18 de julho de 1945. Na Guanabara, várias embarcações escolRetorno dos Expedicionário - 1945 taram o navio que trazia os pracinhas. Após uma grandiosa parada na Praça Mauá, os heróis nacionais permaneceram alguns dias no Rio de Janeiro aproveitando a excelente acolhida do povo carioca. Somente em 1° de agosto, um batalhão simbólico do 6° Regimento de Infantaria veio desfilar na capital paulista. Chegada dos Pracinhas em Jacareí – 11/08/1945 Em Jacareí, ocorreu uma grande programação desde as primeiras horas do dia 11 de agosto: bandas de música, missas, desfiles cívicos, sarais dançantes e até o sobrevôo de aviões do aeroclube de São José dos Campos lançando flores e papéis coloridos sobre a cidade. Após o retorno, a maioria dos Missa na Matriz – 11/08/1945 soldados foi até a cidade de Aparecida agradecer pela graça de estarem vivos. A partir daí, cada qual seguiu seu caminho, alguns se destacando na sociedade local como o ex-prefeito Antonio Nunes de Moraes Júnior, o empresário Álvaro Lourenço e o comerciante Milton Scherma. O único pracinha jacareiense que não retornou com vida foi João Américo da Silva que tombou em combate em Monte Castelo. Durante o conflito, mas fora do “teatro da guerra”, quatro marinheiros de Jacareí morreram a bordo do cruzador Bahia após uma explosão acidental em águas pernambucanas.
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Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Em homenagem aos ex-combatentes da II Guerra Mundial, em 30 de junho de 1946 foi inaugurado um monumento na Praça João Pessoa. Atualmente, os nomes dos pracinhas se perpetuam em placas de várias ruas e avenidas da cidade. Além disso, o dia 8 de maio foi consagrado como Dia do Combatente de Jacareí.
Monumento aos Expedicionários - Praça João Pessoa
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H O Hino de Jacareí foi oficializado pela lei n° 1.252/69 sancionada pelo Legislativo local após projeto encaminhado pelo prefeito Malek Assad. A letra da composição oficial do município é do poeta Benedito José Mendes Silva e a melodia original de Messias Santos, cidadão jacareiense por Decreto de 1984. Recentemente, os maestros Mauro Messias Bueno e Mauro Messias Jr. criaram um novo arranjo para o hino, numa versão sinfônica, diferente do anterior feito para ser executado por uma banda marcial. Na nova versão, além dos instrumentos de sopro, foram incorporados violinos, flauta transversal e contrabaixo acústico, entre outros.
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Hino de Jacareí
Messias Santos
Letra do Hino de Jacareí: Antonio Afonso, homem eterno o fundador, o pai e o herói deste torrão gentil e mui terno, que a grandeza da Pátria constrói! Berço puro de filhos brilhantes, tradição de inegável valor, 153
Hino de Jacareí
ESTRIBILHO (Bis)
teu passado foi feito de instantes de trabalho, de força e de amor! “Morada do Progresso” luto por ti! Cidade-paz Jacareí! E bem sei que o futuro não dista, novamente serás grande “Atenas Paulista”. És terra e a todos encanta e ver teu Rio Paraíba altaneiro é perceber que o vento nos canta grande ventura em ser brasileiro! Os teus bairros tranquilos, serenos, tuas praças e teus cidadãos que são negros, são loiros, morenos, sempre iguais como puros irmãos! ESTRIBILHO
(Bis)
E a tua alma é um sonho brilhante, pra conduzir teu povo feliz! És bela flor do Vale gigante, bem como orgulho deste País! Lar de escolas, de fé e de igrejas, de comércio tão firme e leal! Lar da indústria, é preciso que sejas deste Vale a incomum Capital! ESTRIBILHO
(Bis)
Em 30/04/2013, a lei n° 5.767 criou a “Carta Cívica Municipal” composta pelos símbolos do Município (Bandeira, Brasão e Hino), consolidando todas as leis que os criaram.
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I Iluminação Pública Nas primeiras décadas do século XIX, o anoitecer em Jacareí trazia uma enorme escuridão, somente minimizada pela luz do luar. Excetuando os corajosos que se aventuravam nas ruas carregando rudimentares lanternas, a maioria da população ficava em suas casas iluminadas precariamente com velas de parafina, lampiões a querosene ou candeeiros a base de banha de porco ou óleo de mamona. As fachadas dos prédios eram iluminadas por tochas somente em dias festivos. No restante do país, em meados daquele século, algumas cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo já utilizavam a iluminação a gás, serviço que perdurou até o século XX. A energia elétrica somente chegou à Capital Federal após o Imperador brasileiro convidar Thomas Edison a trazer para o Brasil os aparelhos que tinha inventado. Assim, em 1879 iluminou-se a Estação Central da Estrada de Ferro D. Pedro II. Em 1883, a cidade fluminense de Campos foi a primeira da América do Sul a utilizar a energia elétrica para iluminar suas ruas. No ano seguinte, a paulista Rio Claro foi a segunda do país a dispor do serviço. Em Jacareí, 50 lampiões com querosene fino iluminavam as poucas ruas centrais da cidade. Diariamente, um funcionário tinha a obrigação de acendê-los na Ave Maria* e apagá-los ao amanhecer. Às 21 horas, os sinos da cadeia velha assinalavam o toque de recolher para a população. Havia muitas reclamações quando alguns lampiões não eram acesos ou se apagavam. A presença de um vigilante era obrigação contratual. Vândalos que quebrassem, danificassem ou apagassem os lampiões, além da multa e dos custos dos danos, sofriam uma pena de oito dias de prisão. 155
Arquivo Público e Histórco de Jacareí
Iluminação Pública
Em 1894, a Câmara Municipal concedeu permissão à Cia Luz Elétrica Jacarehyense para produzir e distribuir energia elétrica. A usina era termoelétrica (movida à lenha) e suas máquinas, importadas da América do Norte, estavam instaladas na Rua do Pastinho. No início houve muita resistência à inovação e muiUsina de luz elétrica na Rua do Pastinho tos acreditavam que as lâmpadas “ofereciam perigo aos olhos”. Produtores e comerciantes de velas, lampiões e querosene também reclamavam do prejuízo que a novidade proporcionava. Em 25 de agosto de 1895 preparou-se uma grande festa para a inauguração da luz elétrica, inclusive com a presença do Presidente do Estado, Bernardino de Campos, acompanhado de uma grande comitiva, todos vindos num trem especial. Primeiramente visitaram o Paço Municipal, o Colégio Nogueira da Gama, a Santa Casa e a Companhia Industrial Jacareiense, empresa instalada no antigo palacete do Barão de Santa Branca. Quase ao anoitecer, às 18h30, a usina foi acionada estabelecendo a comunicação com a iluminação pública. Acesas as 100 lâmpadas de 20 velas, Jacareí saia da era do querosene para a eletricidade, sendo a 1ª cidade do Vale do Paraíba, a 2ª do interior paulista e a 7ª do país a utilizar a inovação. Após a inauguração, o intendente Lúcio Malta e demais autoridades saíram em passeio pelas ruas enfeitadas e iluminadas. Muitas pessoas saudavam o acontecimento histórico amplamente noticiado na imprensa da Capital. Encerrando as solenidades, às 19 horas um banquete foi oferecido na residência de Francisco Nogueira Cardoso, um dos diretores da empresa. Um baile às ilustres personalidades foi realizado no elegante palacete do Coronel Delphino Martins de Siqueira, onde a sala destinada às danças estava amplamente iluminada com 63 lâmpadas de luz elétrica, artisticamente dispostas.
A oração da Ave Maria geralmente é rezada às 18h.
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Fotos: Arquivo Público e Histórco de Jacareí
Iluminação Pública
Arquivo Público e Histórco de Jacareí
José Bonifácio de Mattos
Apesar das expectativas, o serviço era precário e pouco confiável. Algumas fábricas ainda optavam por manter antigas máquinas a vapor em suas atividades. O major José Bonifácio de Mattos, tendo adquirido a companhia, procurou atender a crescente demanda, obtendo a concessão para construir uma usina hidrelétrica na Cachoeira do Putim, em Guararema, utilizando uma queda d’água de 65 metros. A nova empresa denominada Cia Força e Luz Jacarehy-Guararema detinha também os direitos de comercialização de produtos elétricos que surgiram em substituição àqueles que exigiam paciência e força de quem os utilizava, como os ferros de engomar.
Cia Força e Luz Jacarehy-Guararema
Ruínas da Usina na Cachoeira do Putim em Guararema
Ainda que houvesse melhoras, o fornecimento continuava deficiente. Apesar das 300 lâmpadas espalhadas pelo centro, nos bairros ainda predominavam os lampiões de querosene ou carbureto. As constantes quedas de energia geravam certa tensão entre o povo, a Câmara e a empresa. Houve, inclusive, um quebra-quebra, ocasião que um grupo armado com “varas de bambu” quebrou quase todas as lâmpadas dos postes. Mattos alegava que não obtinha recursos suficientes para fazer novos investimentos e a iluminação das ruas permaneceria “diminuta, avermelhada, amortecida e frouxa”. O empresário costumeiramente reclamava dos atrasos no pagamento pelos serviços e solicitava autorização para cancelar o contrato.
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Na verdade, sua intenção era negociar a companhia com a Light and Power, empresa canadense que estava absorvendo pequenas empresas nacionais de energia. Raciocinava como um homem de negócios, buscando na iniciativa privada a multiplicação do capital investido. Diante da vultosa quantia que movimentaria a transação, até o Prefeito João Ferraz serviu como intermediário no negócio, concretizado em São Paulo em 1927. A oposição política fazia sua parte, tachando a venda como uma “falcatrua ou negociata”. Na época, a Light enfrentava uma verdadeira batalha ideológica. Havia uma oposição popular à “entrega antipatriótica de uma empresa de utilidade pública” a um conglomerado estrangeiro, o “polvo canadense”, que queria “dominar o Brasil”. Por sua parte, a empresa procurava demonstrar os benefícios do serviço. Usando o slogan “Boa luz é a vida de seus olhos” acabou convencendo a população. A nova fase de desenvolvimento foi inaugurada com um banquete na sede do Clube Esperança. O capital estrangeiro permitiu consideráveis progressos na distribuição de energia e maiores benefícios aos jacareienses. A demanda por energia sempre foi crescente. Desta forma, novas empresas foram se sucedendo quando eram necessários novos investimentos. Em 1965, os serviços foram novamente estatizados, sendo criada a Cia de Eletricidade São Paulo - Rio. Na administração do prefeito Malek Assad, entre 1969/1972, as lâmpadas comuns de filamento de tungstênio foram trocadas pelas de vapor de mercúrio, fazendo de Jacareí uma das cidades mais bem iluminadas do interior de São Paulo. Em 1981, a Eletropaulo – Eletricidade de São Paulo S.A. assumiu as operações de geração, transmissão e distribuição da energia elétrica nos municípios paulistas que estavam sob o controle da Eletrobrás. Em 1998, a partir da cisão da Eletropaulo, foi criada a Empresa Bandeirante de Energia, privatizada no ano seguinte e adquirida por um consórcio liderado pela EDP – Eletricidade de Portugal. A iluminação pública continua sendo um serviço essencial, especialmente em questão da segurança da população. Em 2015, a Aneel - Agência Nacional de Energia Elétrica determinou que as prefeituras voltassem a ser responsáveis pela manutenção da rede pública antes mantida pela concessionária. A questão gerou muitas discussões, já que não se sabia quem pagaria pelos mais de 25 mil pontos de iluminação na cidade: a prefeitura ou os consumidores? Certamente, no futuro, isso também fará parte desta história.
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Imigração No final do século passado, imigrantes de diversas procedências começaram a chegar a Jacareí promovendo um hibridismo cultural que enriqueceu os costumes e as tradições locais. Além dos portugueses (Leal, Máximo, Mesquita, Simões), espanhóis (Borrego, Romero) e franceses Família Leal (Truyts), a cidade oficialmente celebra festas típicas homenageando as colônias japonesa, árabe e italiana. Italianos Após a Proclamação da República em 1889, muitas famílias italianas foram convidadas a imigrar para o Brasil para suprir a mão de obra agrária que sofria desfalques com a abolição da escravatura. Em Jacareí acabaram implantando uma política de desenvolvimento e empreendedorismo, com indústrias e pequenos negócios. Curiosidade: O casal proprietário de um armazém nos “Quatro Cantos”, Rinaldo e Carolina Zonzini veio para o Brasil no final do século XIX estabelecendo-se na região de Campinas. Tiveram uma numerosa prole de filhos, todos recebendo nomes de locais do continente americano: o mais velho, AmériFamília Zonzini co, foi seguido por Montevidéu, New York, Brazil, Rio Grande, Chile, Bolívia, Colômbia, México e Paraguay. A grande colônia italiana na cidade está representada pelas famílias Cam-
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Imigração
busano, Lencioni, Sciammarella, Capucci, Scherma, Mercadante, Scavone, Corbani, Zonzini, Guazelli, Baccaro, Pellogia, Lippi, Bonocchi, Bertucci e Verdelli.
Família Lencioni
Família Mercadante
Família Sciammarella
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Árabes
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Família Cambusano
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Acervo: Roberto Cambusano
Tradicionais Famílias Italianas de Jacareí
Ao contrário das demais colônias, os imigrantes libaneses e sírios vieram de forma espontânea para o Brasil na década de 1870, com recursos próprios e sem subvenção oficial. Atraídos por seus patrícios, em Jacareí encontraram forte estímulo diante da presença do ramal ferroviário e excelente localização, Jorge Madid e conterrâneos - 1936 próxima da Capital paulista, facilitando a compra de produtos que viriam a comercializar. Entre as famílias, destacam-se os Madid, Ruston, Chaquib, Raad, Daher, Nader, Esper, Abdo, Abrahão, Neme, Assad, Massud, Ahmed, Mogames, Ale e Rachid.
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Fonte: Livro de Julia Naomi Kanazawa
Japoneses Os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao país em junho de 1908 a bordo do navio “Kasato Maru”. Tanto o Japão como o Brasil incentivaram a imigração, custeando a viagem de muitos deles. Os japoneses, por seu lado, enfrentavam uma viagem de 60 dias pensando em conseguir algum dinheiro para depois retornar ao país de origem. Os primeiros japoneses chegaram a Jacareí na década de 1920, formando núcleos ou colônias principalmente nos bairros do Rio Abaixo, Tanquinho, Lambari, Figueira, Santana e Bom Jesus. A última leva de imigrantes chegou na década de 1970. De costumes completamente diversos dos brasileiros, sentiram muita dificuldade na integração com a sociedade, tanto pelo idioma, como também pela alimentação e religião. As famílias se dedicaram principalmente à agricultura e avicultura, plantando arroz, tomates, laranjas, caquis, morangos, melancias e uvas. Também cultivaram flores, especialmente crisântemos, rosas e plantas ornamentais. Outras, entretanto, se dedicaram a atividades comerciais, com destaque para o Bar Brasil e a Fábrica de Balas Japonesas. Em 1938, um grupo de japoneses fundou uma unidade da Cooperativa Agrícola de Cotia em Jacareí para onde os produtores enviavam as safras. Em 1951, no Parque Meia Lua, a colônia japonesa edificou a sede da Associação Cultural e Desportiva Nipo-Brasileira de Jacareí – Bunkyo. Dez anos depois, o governo japonês adquiriu com o apoio da Jamic – Imigração e Colonização Ltda uma área de 613 hectares, dividindo-a em lotes, estimulando a geração de pequenas propriedades. Entre as famílias japonesas podemos destacar os Tanisho, Yamaguchi, Amagai, Narita, Murakawa, Shoji, Nomoto, Takamori e Sasaki.
Associação Japonesa no Parque Meia-Lua
Cooperativa Agrícola de Cotia
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Imprensa
Imprensa Todos os veículos de comunicação que exercem o jornalismo e outras funções de comunicação informativa são designados de “imprensa”. O termo deriva de “prensa móvel”, processo gráfico aperfeiçoado pelo alemão Johannes Gutenberg no século XV e utilizado 300 anos depois para imprimir os primeiros jornais. O século XX foi marcado por outras formas de transmitir informação, como o radiojornalismo e o telejornalismo. Mais recentemente, com o advento da internet, surgiram os jornais online. Mesmo diante de tamanha evolução, o termo foi mantido, sendo a imprensa fundamental para o desenvolvimento da democracia. Jornais Mesmo após alguns séculos de sua invenção, os jornais demoraram a circular no Brasil. A imprensa só surgiu em 1808 com a chegada e iniciativa oficial da família real portuguesa. Na época, não se podia publicar no país aquilo que fosse contrário a religião, ao governo e aos bons costumes do Reino. No pobre cenário valeparaibano, a circulação de jornais não era propícia diante dos enormes gastos com a produção. O primeiro jornal no Vale do Paraíba, “O Mosaico”, surgiu em Guaratinguetá em 1858. Em Jacareí, há evidências de jornais na década de 1860. Entretanto, o mais antigo jornal ainda preservado é uma edição do “Correio do Norte” de 1874. A hemeroteca do Arquivo Público Municipal é uma fonte inestimável de informações sobre a história da cidade. Entretanto, o consulente deve sempre ficar atento à época e à visão dos Jornal “Correio do Norte” – 1874 jornalistas responsáveis pelos periódicos que muitas vezes se mostram tendenciosos, buscando beneficiar amigos e destruir adversários. Muitos foram os proprietários de jornais na cidade. Idealistas como João 162
Porto, Aparício Lorena e Francisco Miragaia Lemes (Chiquitinho) faziam na tudo: catavam os tipos móveis, imprimiam manualmente e distribuíam os jornais porta a porta. Eram obstinados pela função, tal qual outro grande nome do meio: João Baptista Denis Neto, o Jobanito. Atualmente, a cidade conta com dois jornais impressos: o “Diário de Jacareí”, fundado por Jair Rocha em 1968, por muitos anos publicou os atos oficiais da Prefeitura e da Câmara Municipal. Ao longo dos tempos também esteve sob o comando de Ulisses Guedes, Jobanito Maria Eloisa Nascimento e Ângelo Ananias, seu atual proprietário. O “Semanário de Jacareí”, criado em 1993 por Inez Valezi, há muitos anos vem contribuindo no resgate da história local através de crônicas escritas por Jobanito (Pelas Ruas da Cidade), Luiz José Navarro da Cruz (Retratos da Cidade) e Benedicto Sérgio Lencioni (A Cidade no Tempo). Ambos os jornais têm versões on-line, tal qual os portais de internet “Nossa Jacareí” de Nicolas Macrina e o “Site de Jacareí” da 3F Comunicações e Marketing Ltda.
Jornal “O Combate”
Imprensa
Rádios Rudolf Hertz descobriu a existência de ondas capazes de transportar mensagens sonoras em 1877. Aquele fato despertou a atenção do cientista Guglielmo Marconi que inventou em 1896 um aparelho que transmitia aquelas ondas: o rádio, considerado “a maravilha do século”. Inicialmente, o rádio servia somente para a comunicação interpessoal, como um telégrafo sem fio. Depois foi aproveitado para transmitir músicas e notícias para um grande número de ouvintes. A primeira transmissão mundial deu-se no Natal de 1906, em Massachusetts, nos Estados Unidos. No Brasil, a primeira emissão radiofônica ocorreu em 1922 durante as comemorações do centenário da Independência brasileira. Em Jacareí, os primeiros ensaios na área foram realizados por Karan Shaibe e Guilherme Flessati que na década de 1940 transmitiam programas de auditórios aos domingos.
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Acervo: Rádio Clube
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A Rádio Clube Jacareí, prefixo ZYR-20, foi implantada em 7 de setembro de 1950 pelas Emissoras Unidas da Rádio Record, tendo como diretores locais Eliceu Máximo e José Carvalho de Godoy. A emissora, um marco na história da cidade, exerceu grande influência na vida cultural, artística e política de Jacareí. Esteve Rádio Clube Jacareí no Largo do Rosário inicialmente instalada no andar superior de um sobrado no Largo do Rosário e suas antenas ficavam no alto do morro da Caixa d’ Água como “dedos de aço apontados para os céus do Brasil”. Em 1954, a Rádio foi comprada por Aureliano Sales de Oliveira que criou vários programas de auditório, alguns transmitidos do Trianon Clube e do Cine Rio Branco. Mesmo com alta audiência, a emissora não dava lucros e acabou vendida ao empresário João Saad em 1959, passando a fazer parte da “Cadeia Verde-Amarela da Rádio Bandeirantes”. Em 1973, a emissora mudou-se para um dos andares de um moderno edifício na Rua Alfredo Schürig. No início da década de 1980, a Prefeitura precisou ampliar a estação de tratamento de água, ocasião em que as antenas foram deslocadas para um terreno na Avenida Faria Chagas e Silva com a cantora Ângela Maria Lima, para onde os estúdios também foram transferidos em 1991. Três anos depois, a Rádio Clube Jacareí foi vendida para a Diocese de São José dos Campos que mudou seus estúdios novamente para o centro da cidade. Ao longo dos anos, a emissora deu impulso às carreiras de vários radialistas como Darcy Reis, Loureiro Júnior, José Carlos Guedes Filho e Ângelo
Acervo: Rádio Clube
Imprensa
Acervo de Família
Ananias. Muitos outros profissionais também foram fundamentais para o sucesso da Rádio Clube de Jacareí, dentre outros Gilberto Ferretti, Chagas e Silva, Ciro Armani, Jorge Araújo, Carlos Monteoliva, Gilberto Vasconcellos, Paschoal Júnior, Ângelo Maria Lopes, José Narita, Mário Moraes, Norival Soares, Joaquim Carvalho Nogueira, Dorny Leal Moreira, Jairo Antunes, Roberto Barbosa e Donizete Eugênio. Anteriormente conhecida como “Rádio Simpatia” e “Rádio Amizade”, a Rádio Clube Jacareí sustenta há mais de duas décadas o nome fantasia “Rádio Mensagem”, podendo ser sintonizada na freqüência 1470 AM.
Acervo de Família
Imprensa
Darcy de Oliveira Reis
A Rádio 8 de dezembro, depois 8 FM, foi inaugurada em 1981 pelo jacareiense José Jota Pereira, cuja carreira teve início em 1958 na Rádio Clube Jacareí. A emissora totalmente digital e informatizada se intitulava como o 4° Poder da Praça dos Três Poderes e tinha como slogan “Tá na 8, tá legal!”. Suas anteJosé Jota Pereira nos estúdios da Rádio 8 FM nas instaladas a quase 700 metros acima do nível do mar, permitiam a cobertura de uma imensa área, atingindo milhões de pessoas, inclusive de outros Estados. Após a morte de Jota Pereira, a Igreja Pentecostal Deus é Amor adquiriu as instalações e passou a usar o prefixo e a frequência da Rádio. A empresa permanece sob o controle de seu filho Jota Júnior que continua disponibilizando pela internet antigas vinhetas de épocas passadas, além da Prece de Cáritas, veiculada diariamente ao meio-dia. Televisão A primeira televisão foi inventada por Philo Farnsworth, um jovem rapaz norte- americano que fez as primeiras transmissões na década de 1930. A TV Tupi de São Paulo, primeira emissora do Brasil, foi inaugurada em 18 de setembro de 1950 por Assis Chateaubriand.
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Divulgação
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A TV Câmara Jacareí foi criada pelo Poder Legislativo Municipal em 28 de abril de 2008, objetivando dar mais transparência ao trabalho realizado pelos vereadores. O canal público de informação e cidadania exibe vários programas de conteúdo local, podendo ser sintonizada pelo canal 61.4 UHF e Estúdios da TV Novo Tempo na Rodovia Euryale de Jesus Zerbine também pelo canal 12 da NET. A rede comercial de televisão “TV Novo Tempo”, que pertence à Igreja Adventista do Sétimo Dia, tem sede e estúdios em Jacareí desde 2005, disponibilizando seu sinal nas Américas, África e Europa, com programas em português, inglês e espanhol.
Independência Augustin de Saint-Hilaire, botânico e naturalista francês, percorreu o Vale do Paraíba em 1822. Em março, ao passar por Jacareí, ele encontrou uma vila miserável “com grande número de prédios muito pequenos, parecendo pouco habitada”. A maioria dos habitantes trazia olhos estreitos característicos na raça indígena. As fisionomias eram inexpressivas. Os homens falavam pouco e pareciam indiferentes a tudo. Excetuando-se a Câmara Municipal, é de se supor que os fatos que ocorriam tanto em Portugal quanto no Rio de Janeiro não tinham a menor influência sobre os habitantes da vila. O povo alheio a tudo, não expressava qualquer entusiasmo com a mudança de governo. No Rio de Janeiro, entretanto, o jovem Dom Pedro estava confuso, devendo lealdade tanto à terra natal quanto ao Brasil, onde vivia desde os 9 anos de idade. Após o retorno do seu pai a Portugal em 1821, levando todo o dinheiro do Banco do Brasil, seu Reino na América havia mergulhado num verdadeiro caos econômico. Apesar das exigências das Cortes Portuguesas para que Pedro retornasse, ele optou por ficar, instante inicial da rachadura que resultaria na independência. Além dos problemas financeiros, havia desordens por toda parte. As pro166
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víncias do norte continuavam fiéis as Cortes de Lisboa. Uma disputa política entre os governantes de São Paulo e os Andradas obrigou Dom Pedro a viajar à capital paulista para impor sua autoridade e apaziguar os ânimos, unindo todos em torno da causa separatista. Em 14 de agosto de 1822, montado em uma mula, Dom Pedro partiu do Rio de Janeiro acompanhado de outras cinco pessoas. Muitos autores relataram o percurso, entre eles o ajudante de ordens e cronista da viagem, major Francisco de Castro Canto e Melo. O percurso durou 12 dias e o Vale do Paraíba serviu de passagem ao Príncipe em direção a São Paulo. Todas as vilas e povoados acolheram a comitiva real com muito entusiasmo, recepcionando o Regente com flores e repicar de sinos. As pessoas simples do Vale nunca haviam visto um membro da família real portuguesa e ficaram surpreendidos com a simplicidade e modos quase grosseiros do príncipe. Na região, muitos jovens aproveitaram para se agregar à caravana. Em Pindamonhangaba, inclusive, foi organizada a sua “Guarda de Honra”. Em Taubaté, diversas autoridades e representantes apresentaram-se ao Príncipe, dentre eles o capitão Rafael José Machado, que em nome da Câmara e do povo da Vila de Jacareí saudou Sua Alteza Real. O Auto de Vereança datado de 19 de agosto vinha assinado por Lino José de Moraes e subscrito por outras 21 autoridades. O padre Manoel de Siqueira Pereira, também de Jacareí, levou uma mensagem do vigário Fabiano Martins de Siqueira onde este patenteava seus leais sentimentos de obediência. Dom Pedro, através de Portarias, mandou responder ambas as congratulações. Era uma quinta-feira, 22 de agosto, quando Dom Pedro deixou Taubaté rumo à Jacareí. Não Mensagem da Câmara de Jacareí ao Príncipe Regente
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entrou em Caçapava tampouco em São José. Às margens do Rio Paraíba, a comitiva real foi aguardada pela Câmara Municipal, oficiais de milícias e pelo capitão-mor Cláudio José Machado, irmão do futuro 1° Barão de Jacareí, Bento Lúcio Machado. Uma balsa enfeitada esperava o príncipe para a travessia. Ao ver a multidão, Dom Pedro, suado e empoeirado, esporeou a montaria e atirou-se nas águas do rio. Em pouco tempo alcançou a outra beira, porém molhado até a cintura. Não querendo prosseguir com a roupa ensopada, trocou de calções com Adriano Gomes Vieira de Almeida, um jovem de Pindamonhangaba, que atravessara de barco. Muitos anos depois, Adriano contaria que teria perdido com a troca, já que seus calções eram novos em comparação com os do príncipe. Depois de formada a Guarda de Honra, D. Pedro possivelmente deve ter adentrado a Vila entre duas alas. Após as honras de praxe e assinaturas de algumas Portarias, teria pernoitado em uma pequena casa no Largo da Matriz, transformada modestamente naquela ocasião em “Paço Real”. No dia seguinte partiu para Mogi das Cruzes sem que ninguém de Jacareí seguisse com a comitiva real. No entardecer do dia 7 de setembro, um sábado, quando retornava de Santos, Dom Pedro não estava bem de saúde. Tinha muitas cólicas intestinais precisando constantemente apear-se para “empregar os meios naturais de aliviar seus sofrimentos”. Isso fez com que ele ficasse para trás na cavalgada. Antes de chegar à Colina do Ipiranga, onde seus acompanhantes o aguardavam, recebeu uma mensagem vinda do outro lado do Atlântico. Era quase um ultimato determinando seu retorno à Corte Portuguesa e ordens que limitaCasa histórica onde D. Pedro teria pernoitado vam seus poderes de Regente. Outras duas cartas, de José Bonifácio e de sua esposa Leopoldina, recomendavam-lhe a independência imediata do Brasil. Vários são os relatos sobre o exato momento do rompimento dos últimos vínculos entre Brasil e Portugal. Dom Pedro, enfurecido, teria dito uma frase bem mais longa que a simples “Independência ou Morte”. Os dias que se
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seguiram à Independência foram de festas e aclamações. No dia 9 de setembro, o Príncipe deixou São Paulo e atravessou o Vale do Paraíba sem festas ou recepções. Pouco se sabe desta viagem, somente que a despeito das chuvas e temporais, teria durado somente cinco dias. Na noite do dia 14 de setembro, no Rio de Janeiro, encerrou-se a histórica jornada da independência do Brasil. O príncipe foi aclamado Imperador no dia 12 de outubro, seu aniversário de 24 anos. Ali teve início o Império do Brasil, o primeiro e único em terras americanas. Em 1831, D. Pedro I abdicou ao trono brasileiro em favor de Pedro, seu filho mais novo, partindo para a Europa onde morreu tuberculoso aos 36 anos, em 1834.
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J Jacareí Atlético Clube Durante muitos anos, desde a época áurea do Elvira, mesmo forte no futebol amador, Jacareí não contava com uma equipe disputando os campeonatos oficiais organizados pela Federação Paulista de Futebol. Em 1979, a cidade conquistou pela primeira vez o título de campeão de futebol nos Jogos Regionais, fato que alavancou a ideia de criação de um novo clube para representar a cidade, principalmente por iniciativa da equipe esportiva da Rádio Clube Jacareí. O JAC – Jacareí Atlético Clube foi fundado em 27 de outubro de 1980, tendo Adilson Arice como seu primeiro presidente e Getulio Camargo como primeiro técnico. Utilizando as cores preta, vermelha e branca, o “Tricolor do Vale”, em seu primeiro ano de existência disputou seus primeiros jogos oficiais com um time formado por atletas que disputavam os campeonatos amadores locais. O primeiro jogo foi disputado contra o Jabaquara Futebol Clube de Santos com uma derrota por goleada: 6 x 0. Em 1988, com apenas oito anos de existência, o JAC conquistou seu mais importante título: Campeão da Terceira Divisão do Campeonato Paulista, derrotando o Olímpia F.C. e o Capivariano F.C. em um triangular final. O município, procurando incentivar o clube, concedeu um terreno no bairro Cidade Jardim, abaixo da estátua do Cristo Acolhedor, para a construção do estádio municipal. As obras não passaram da terraplanagem, continuando o JAC a mandar seus jogos nos estádios do El-
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Jacareí Atlético Clube
Divulgação
Foto: Luiz Oliveira
vira e do Ponte Preta. Em 1989, disputando a Segunda Divisão, o clube teria a chance de acessar a elite do futebol paulista. No entanto, sem sucesso, o clube foi rebaixado, voltando a disputar a série A3. Entre os anos de 2000 e 2005, o clube esteve sob o comando da empresa Sports International, parceria entre um investidor grego e o renomado ex-jogador e técnico Eduardo Amorim. Nas instalações municipais do Centro Poliesportivo “Dú Cambusano”, a empresa construiu o modesto estádio “Stavros Papadopoulos” com capacidade para 4.200 pessoas, sem setores cobertos, tampouco sistema de iluminação para jogos noturnos. O estádio, construído sobre um sítio arqueológico indígena, teve seu jogo inaugural realizado em 27 de maio de 2001, um empate em 1x1 contra o Osan de Indaiatuba. Em 2005, com o fim da parceria, o estádio que ficaria com o clube por dez anos foi devolvido à Prefeitura.
Stavros Papadopoulos
Estádio do JAC
Durante o ano de 2007, o clube foi gerido por empresários poloneses da Academia Ptak, disputando o Campeonato Paulista da Série B e a Copa São Paulo de Futebol Júnior. A partir do ano seguinte, o clube passou a disputar campeonatos com recursos próprios. Em 2013, o JAC terceirizou seu departamento de futebol, associando-se à empresa Conexão Esportes de São Paulo, o que possibilitou a disputa da 4ª Divisão Estadual de 2014. Esta foi sua última participação em jogos oficiais já que o Ministério Público exigiu a interdição do estádio por questões de segurança, estando o JAC licenciado das disputas da Federação Paulista de Futebol. Em 2017, um acordo com a Prefeitura Municipal permitiu que o clube retornasse à gestão do estádio possibilitando, dentro em breve, seu retorno às competições profissionais.
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Jacareí Atlético Clube
Hino do JAC Compositor: Luis Bulara Em mil novecentos e oitenta Na minha Jacareí Nasceu o glorioso JAC Uma bandeira pra gente seguir Suas cores exuberantes Enriquece o seu esporte És o orgulho desta cidade Com o nosso JAC forte JAC ó meu JAC – glorioso tricolor JAC ó meu JAC – eu vou aonde você for JAC ó meu JAC – nasceste pra ser campeão És a alegria do seu povão Que tem você no coração É na defesa É no ataque Ninguém segura o nosso glorioso JAC A sua fiel torcida É o doze da sua camisa Sempre permanece unida Na força que você precisa Quando você entra em campo É toda uma explosão Tanto na vitória, quanto na derrota Sou JAC e não abro mão
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João Américo da Silva
Acervo de Família
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João Américo da Silva nasceu em Jacareí na Rua Sete de Abril, atual Vicente Scherma, em 27 de dezembro de 1917, terceiro dos quatro filhos do casal José Benedito e Benedicta Américo da Silva. Seu pai era um carroceiro que comercializava água extraída de uma “biquinha” existente em sua residência na Rua da Liberdade. João trabalhava no Matadouro Municipal e era um modesto clarinetista da Banda Musical Coronel Carlos João Américo da Silva Porto. Prestou o serviço militar como voluntário em 1935 e integrou o 1° Escalão da Força Expedicionária Brasileira - FEB, pertencendo ao 6° Regimento de Infantaria de Caçapava, que seguiu para o Rio de Janeiro para completar o treinamento. A história de sua participação na II Guerra é curiosa e trágica: durante a preparação para o combate, certa vez resolveu vir visitar o pai doente em Jacareí, não imaginando que as tropas embarcariam definitivamente para a Itália. Considerado um desertor, foi preso em Caçapava. Entretanto, a primeira-dama jacareiense, Presidente da Legião Brasileira de Assistência, Dona Francisca da Costa Siqueira, esposa do prefeito Odilon Augusto de Siqueira, interveio a seu favor, convencendo as autoridades por sua libertação, permitindo sua incorporação ao 1° RI (Regimento Sampaio de Infantaria) e seu embarque João Américo com uniforme militar rumo ao “teatro da guerra”.
Acervo de Família
João Américo da Silva
João da Costa Gomes Leitão
Dentre os 153 jacareienses que foram à II Guerra Mundial, João Américo foi o único a falecer em batalha. Morreu em seu primeiro combate, em Monte Castelo em 29 de novembro de 1944, atingido por uma rajada de metralhadora. Conservado pela neve, o corpo do pracinha somente foi encontrado em 21 de fevereiro de 1945 pelo exército americano, sendo enterrado no cemitério militar na cidade de Pistoia. Em 1960, os restos mortais dos soldados brasileiros foram repatriados e sepultados no Mausoléu aos Mortos na II Guerra Mundial localizado no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro. Em Jacareí, em 11 de agosto de 1945, uma placa de bronze foi afixada na fachada de sua antiga residência localizada na Rua da Liberdade, atual Rua João Américo da Silva.
João da Costa Gomes Leitão nasceu em 1805 em Balazar, pequena aldeia próxima ao distrito de Braga - Portugal. Figura controversa na história de Jacareí, muitos o têm como um cidadão benemérito e outros o execram como um homem que traficava escravos e emparedava pessoas em sua mansão. Muitas dessas histórias, frutos da imaginação popular, transpassaram o tempo e nos chegaram enlameadas de inverdades. Existem poucas informações acerca de suas atividades iniciais, sabendo-se apenas que o filho de Domingos da Costa Gomes e Josefa Maria Leitão era um
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João da Costa Gomes Leitão
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João da Costa Gomes Leitão
tropeiro de burros de carga que transportavam café, momento em que fez negócios em nossa região. Homem ambicioso e desprovido de cultura formal, acabou por amealhar grande fortuna em pouco tempo. Antes dos trinta anos, sem propriedades, já estava casado com Dinah Maria da Conceição, sobrinha do 1° Barão de Jacareí, Bento Lúcio Machado, com quem teve oito filhos: Lindonice, Amélia, Francisca, Maria Osória, Anna Leopoldina, Josephina, José e João Jr., todos casados, exceto o último. Alguns anos depois, entretanto, já era detentor de grande fortuna, participando expressivamente em vários setores da cidade. Gomes Leitão foi um grande fazendeiro que dominou a região do Alto-Paraíba, proprietário de vasta extensão de terras. Em Jacareí foi comerciante e negociante de café além de banqueiro, inspetor de obras, vereador, delegado e juiz. Apesar de não exercer função militar, era alferes da Guarda Nacional. Acredita-se que sua fortuna se deve à prática da agiotagem e ao tráfico de escravos, motivo este que o teria desqualificado para o recebimento de um título nobiliárquico. No entanto, em 1854 foi-lhe negada a acusação de traficante. A seu pedido, a Câmara Municipal até expediu uma certidão declarando-o “digno de consideração pública pelos muitos atos de filantropia praticados em beneficio desta população”. Considerado o maior escravocrata do Norte da Província, na década de 1860, após o efetivo fim do tráfico negreiro, passou a investir em outros negócios como a companhia de transporte fluvial entre Jacareí e Cachoeira e a construção do trecho paulista da Estrada de Ferro São Paulo – Rio de Janeiro. Por meio de sua casa bancária, emprestava dinheiro mediante hipoteca de
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João da Costa Gomes Leitão
escravos ou propriedades. Sua fortuna lhe permitiu adquirir várias fazendas (Velha, em São José dos Campos; Santo Antonio, Santa Clara e Monteiro em Caçapava; Santo Agostinho e Rio do Peixe em Santa Isabel; Caeté e Cachoeira em Santa Branca e Ribeirão da Prata em Jacareí), casas (no Largo da Matriz, Vila do Patrocínio, Santos e na Rua da Candelária no Rio de Janeiro) sem contar o seu majestoso palacete na Rua da Ponte, o Solar Gomes Leitão, e sua quinta no Bairro do São João, posteriormente conhecida como Chácara Xavier. Benfeitor, doou metade da quantia necessária para a compra do terreno da Santa Casa de Misericórdia, mandando fazer o altar de sua capela e ajudando no sustento dos doentes do hospital. Para a Túmulo de João da Costa Gomes Leitão Igreja Matriz fez donativos para o levantamento de sua parte frontal, além de doar o forramento do teto e dois sinos. Leitão também tem seu nome marcado na história da cidade por sua participação na transposição do Rio Paraíba e também por financiar voluntários de Jacareí e do Vale do Paraíba na Guerra do Paraguai. Por uma notícia de jornal recentemente resgatada pela historiadora Ana Luíza do Patrocínio, soube-se que o “coronel” Gomes Leitão tentou o suicídio em 1872 com um tiro de revólver na cabeça, quatro meses após sofrer uma severa paralisia, possivelmente um derrame cerebral. Na ocasião foi salvo pelo Dr. Luís Pereira Barreto, jovem médico casado com uma de suas netas. Apesar da fama, o contraditório Leitão, em 1873, seis anos antes de sua morte, deixou testamento libertando vários cativos negros. Já viúvo, deixou como herdeiros, quatro filhas e muitos netos. Alguns de seus descendentes receberam títulos de nobreza, como a Baronesa de Castro e Lima e a Condessa Moreira Lima, ambas residentes em Lorena. Seu bisneto, Armando de Salles Oliveira, foi Governador do Estado de São Paulo. João da Costa Gomes Leitão faleceu em 26 de abril de 1879, sendo sepultado no Cemitério do Avarehy. Entre seus bens ainda constavam mais de 300 escravos. 177
José Maria de Abreu
José Maria de Abreu nasceu em Jacareí no dia 7 de fevereiro de 1911. Aprendeu a tocar vários instrumentos, principalmente o piano, por influência dos pais, o maestro Juvenal Roberto de Abreu e Leopoldina de Souza Abreu. Tinha dois irmãos: João Maria, grande pianista em São Paulo, e Jesus Maria, que não seguiu a carreira artística. Em 1917, sua família deixou Jacareí. Após um período na capital paulista, mudou-se para a cidade de Itapetininga onde aos 11 anos de idade já tocava na banda da escola, compondo sua primeira música, o “Hino do Grupo Escolar”. Aos 15 José Maria de Abreu anos, musicava pequenos teatros de revista que percorriam o interior paulista. Também era músico fixo na orquestra do cinema da cidade, o Cine Íris. Em 1927 iniciou o curso de Farmácia, entretanto não deu continuidade aos estudos, dedicando-se somente à música. No ano seguinte, em São Paulo, empregou-se como pianista em diversas casas noturnas. Além disso, passou a reger a orquestra do Teatro Boa Vista e acompanhar, ao piano, alguns artistas da Gravadora Colúmbia. Abreu ganhou projeção nacional após Francisco Alves e Januário de Oliveira gravarem suas canções. Em 1932, compôs, com Ari Kerner Veiga de Castro, o hino da Revolução Constitucionalista, chamado “Vencer ou Morrer”. Um ano depois, deu o grande passo de sua vida artística, mudando-se para o Rio de Janeiro. Logo de cara venceu o concurso de músicas juninas promovido pelo jornal “A Noite”. Durante um longo período, foi maestro e pianista da Rádio Mayrink Veiga e também da Rádio Clube do Brasil, depois Rádio Mundial, atual CBN – Central Brasileira de Notícias. 178
Revista Fon-Fon - 1939
José Maria de Abreu
José Maria de Abreu
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Revista “O Malho” - 15/07/1937
José Maria de Abreu ficou conhecido como “O Rei da Valsa” apesar de ser um compositor eclético, compondo sambas, boleros, marchas carnavalescas e até jingles. Ao longo de sua carreira, musicou canções de Noel Rosa e Lamartine Babo. Entretanto, merecem destaque, as parcerias com Francisco Mattoso e Jair Amorim.
Ao piano, José Maria de Abreu é acompanhado por Orlando Silva e Francisco Matoso
Dentre suas mais famosas canções em parceria com Mattoso, destaque para a valsa “Boa Noite, Amor”, considerada um clássico romântico da década de 1930. A música, além de prefixo da Rádio Nacional, foi gravada e regravada por vários cantores como Francisco Alves, Cauby Peixoto, Emilio Santiago e Elis Regina. Na década de 1980, a música era tema de abertura do programa de Flávio Cavalcanti na TV Bandeirantes. Também é desta dupla as conhecidas “Pegando Fogo” e “Onde está o Dinheiro”, clássicos populares na voz de Gal Costa na década de 1980, apesar de gravadas originalmente 50 anos antes. Após a morte de Mattoso, em parceria com Jair Amorim compôs muitos outros sucessos, sendo o maior deles o samba-canção “Alguém Como Tu”, gravado por Dick Farney em 1952, tendo seis regravações em dois meses. A carreira musical de José Maria de Abreu transitou entre grandes composições gravadas por artistas como Aracy de Almeida, Orlando Silva e Carlos Galhardo, como também direções artísticas de espetáculos estrelados pela atriz Dercy Gonçalves e pela vedete Luz Del Fuego. Além disso, foi diretor da orquestra da Gravadora Continental e diretor artístico da Rádio Mundial do Rio de Janeiro. José Maria de Abreu, portador de insuficiência renal crônica, faleceu pre-
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José Maria de Abreu
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cocemente no Rio de Janeiro em 11 de maio de 1966, aos 55 anos de idade. Era casado com Irene Machado, de família jacareiense, tendo contraído núpcias em 4 de fevereiro de 1937, na cidade de Aparecida. Desta união nasceram três filhos: Marilena, Juvenal Roberto e José Maria Júnior.
Casamento de José Maria de Abreu e Irene Machado
Para homenageá-lo, em 1978 foram inaugurados uma praça e um busto de bronze no Jardim Liberdade, em Jacareí. Em 1993 José Maria de Abreu tornou-se também patrono da Fundação Cultural de Jacarehy.
Praça José Maria de Abreu
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L Lamartine Delamare Nogueira da Gama nasceu em Barbacena, Minas Gerais, em 2 de junho de 1862, filho do professor Francisco Antonio Nogueira da Gama e Dona Maria Inácia Josefina de Mello Alves. Eram seus irmãos: Eugênio, Aurora, América do Brasil e Abel Nazaré. Devotado ao aprendizado, Lamartine sempre estudou em boas escolas, acompanhando a carreira profissional do pai. Assim, fez os estudos primários na cidade fluminense de Valença, em colégio de propriedade de sua famíLamartine Delamare Nogueira da Gama lia. Aos 18 anos, na cidade de Resende, fez parte do curso secundário no colégio São Carlos, onde seu pai era vice-diretor, terminando aquele período escolar no “Atheneu Mineiro” na cidade de Juiz de Fora. Em 1883, estando apto a fazer o curso superior, mudou-se com a família para São Paulo. Neste período, já aflorava a nítida personalidade e vocação
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Lamartine Delamare
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Lamartine Delamare
de Lamartine. Assim, em 1885, mesmo cursando o terceiro ano do curso de Direito, inaugurou o “Externato Delamare” sob sua exclusiva direção. Como consequência natural de seus esforços, esta escola viria a se transformar em “Colégio Delamare” e mais tarde em “Ginásio Paulista”. Em 1887, graduou-se com distinção em Ciências Jurídicas e Sociais e em 1º de janeiro do ano seguinte casou-se com Flávia Chaves Ribeiro. Entretanto, o excesso de atividades trouxe consequências. Lamartine, cansado da “Paulicéia”, precisava de repouso e de um recanto tranquilo onde pudesse prosseguir em sua jornada, estabelecendo um colégio-modelo voltado à formação da juventude. O instituto educacional estabelecido na Capital era afamado, com reputação consolidada e atraia o interesse de várias localidades do interior. Assim, Lamartine acabou optando por Jacareí, onde inaugurou o Colégio Nogueira da Gama em 24 de julho de 1893. A escola foi estabelecida em uma chácara, local onde também montou residência com a esposa e os filhos Alcebíades, Flávio e Lamartine Filho. No mesmo aprazível ambiente também havia um elegante chalet onde morava seu pai, o velho mestre Francisco. Lamartine, professor de porte esguio, de lunetas de aros de ouro, simpático, de voz serena e paternal, fez sua escola crescer em prestígio. Em 1899, o Colégio Nogueira da Gama foi equiparado, para todos os efeitos, a melhor escola do Brasil, o Ginásio Nacional no Rio de Janeiro. O Ginásio Nogueira da Gama fez Jacareí adquirir notoriedade e ser reconhecida nacionalmente como “Athenas Paulista”. Lamartine também ganhou prestígio local e regional, elegendo-se vereador em 1897, nomeado coronel da Guarda Nacional em 1906 e eleito deputado pelo Partido Republicano Paulista para o Congresso Legislativo de São Paulo no triênio 1907/1909. No entanto, suas atividades políticas desagradaram muita gente. O Ginásio passou a perder alunos e ter dificuldades no pagamento dos professores. O Ginásio subsistiu até a segunda década do século XX, encerrando suas atividades diante de reformas realizadas no sistema de ensino. Lamartine tentou adaptar-se a outro ramo de atividade, sendo inclusive nomeado Tabelião no 12° Cartório de Notas da Capital. Apesar da vitaliciedade do cargo, lá permaneceu por pouco tempo. Mantendo seus propósitos educacionais, reabriu seu Ginásio em Guaratinguetá em 1920, onde novamente obteve êxito, vivendo feliz com os triunfos de seus alunos. Lamartine Delamare foi um típico educador de elites que mesmo em seus
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últimos meses de vida, quase inválido, fazia questão de percorrer as dependências de sua escola, inspecionando os serviços. Exerceu o magistério durante 60 anos e educou milhares de brasileiros. Faleceu numa sexta feira, em 28 de março de 1940. Lamartine Delamare foi homenageado com nomes de rua, tanto em Jacareí como em Guaratinguetá. Em 1947, o Grupo Escolar do Preventório de Jacareí também recebeu seu nome.
Lendas de Jacareí É evidente que um simples verbete relatando as lendas que circulam em Jacareí não trará a mesma magia das histórias narradas por um bom contador que, misturando fatos verídicos com a ficção e o sobrenatural, certamente mexeria com o imaginário dos ouvintes. O Monstro do Rio Paraíba Dentre as várias lendas que circulam pela cidade, muitas têm praticamente o mesmo enredo. Existem vários relatos narrando como a imagem de Nossa Senhora da Conceição foi atirada no Rio Paraíba em Jacareí para acalmar algum tipo de “monstro”. A pequena escultura da padroeira da Vila teria rodado rio abaixo, tendo se partido em duas partes encontradas em 1717 por três pescadores de Guaratinguetá: Felipe Pedroso, João Alves e Domingos Garcia. A aparição da imagem trouxe abundância de peixes e a santa achada nas águas do Paraíba passou a ser reverenciada pelo povo com o nome de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Esta história é contada de várias formas, sendo que o monstro poderia ser uma serpente, um jacaré, um minhocão ou até um dragão. Os motivos, alguns: o bicho estaria comendo as barrancas, ameaçando a cidade ou devorando as moças donzelas. Após os devotos terem lançado a imagem nas águas do rio em busca de um milagre, qual teria sido o destino do temível monstro? Uns dizem que ficou preso no fundo do Paraíba, com o rabo em Jacareí, a cabeça em Queluz e o corpo atravessando todo o Vale do Paraíba; também é contada a versão que a imagem milagrosamente encantou o animal, levando-o para bem longe da Vila. Nestes dois casos, o monstro poderia retornar e destruir toda a
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Foto divulgação/PMJ
cidade. No entanto, os mais radicais narram que após uma grande peleja, capturado, morto e esquartejado, o bicho teve o corpo enterrado em várias partes da cidade, sempre embaixo de uma igreja. Algumas pessoas, não idólatras, simplesmente contam que um marido muito rude teria quebrado a imagem da santa de devoção da esposa, atirando as partes no rio. O resto seria lenda.
Cortejo da Cobra Grande
Rio Paraíba Conta-se que o Rio Paraíba originou-se após a batalha de um índio guerreiro com o Deus Cobra por causa de uma virgem dada em sacrifício. Quando a Cobra foi derrotada, ao cair sobre a terra abriu um sulco por onde passou a correr o rio. Em sua volta, separada pelas águas, se ergueram as Serras do Mar e da Mantiqueira que representam respectivamente o índio valente e a virgem ofertada.
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O Rio Paraíba ainda traz algumas histórias fascinantes como a do Caboclo d’Água ou Mãozinha que vive dentro do rio e tem como hábito querer afundar os barcos de pescadores. Ou ainda a lenda da serpente encantada que atravessa o rio a cada sete anos, sempre devorando alguma pessoa, cujo corpo jamais é encontrado. E por fim, a história da Mãe d’Água que tem a forma de um peixe muito grande e que chora durante a noite. Gomes Leitão Um personagem constantemente lembrado é o alferes Gomes Leitão. Conta-se que após uma discussão com o Barão de Jacareí ele desviou o leito do Rio Paraíba em uma única noite, utilizando mais de 300 escravos. Ou ainda que após quinze dias de chuvas e com prejuízos à plantação, ele teria se irritado com Deus e disparado vários tiros para o céu. Naquele momento o chão se abriu debaixo de seus pés e ele desapareceu no meio da lama. No seu enterro, por falta de corpo, teriam colocado dentro do caixão um talo de bananeira. Ou ainda, que teria sepultado viva uma de suas filhas dentro de uma parede do Solar onde residia, simplesmente por ela ter se apaixonado por um rapaz pobre. Diariamente, depois da meia-noite, a assombração da filha costuma descer as escadas do casarão usando roupa de festa. Além dela, as almas dos escravos vagam pelos cômodos da casa arrastando correntes pelo chão. Em outra propriedade, no bairro do São João, se ouvem barulhos, conversas e cantos vindos da antiga senzala. O barqueiro da Meia-Noite Conta-se que a alma penada de um barqueiro assombrava o Rio Paraíba quando ainda não existia a ponte. Nas noites escuras, entre nevoeiros, surgia uma voz gritando: “Oi, passagem!!”. Era o sinal para o povo chispar do local. A assombração somente corria atrás daqueles que resolviam enfrentá-la. O Poço de Ouro do Rio Abaixo Conta-se que os fazendeiros ricos costumavam guardar seus tesouros em baús que precisavam ser muito bem escondidos. Um deles, morador do Rio Abaixo, mandou seus escravos cavarem um buraco na parede de um poço e esconder seu baú. Para manter o segredo do lugar, o fazendeiro mandou assassinar todos eles. Desde então, todas as maldições passaram a cair sobre sua cabeça. Após um temporal e uma grande cheia do Paraíba, o poço
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tragou tudo que havia em volta: animais, escravos, o próprio fazendeiro e seu precioso tesouro. Até hoje muitos se aventuraram a procurar aquela riqueza, nunca encontrada. O Corpo Seco Conta-se que uma pessoa que era muito malvada em vida, depois de sua morte nem a terra a aceitava. Para dar sinais de que precisava deixar a sepultura, o defunto tirava a mão ou o pé para fora da cova. O corpo seco, um esqueleto coberto de pele e em estado de decomposição, após deixar o sepulcro grudava nas costas de alguma pessoa, obrigando a carregá-lo até um lugar próximo onde ele tinha morado enquanto era vivo. Chegando ao local, o corpo seco precisava ser amarrado numa árvore e o carregador deveria ir embora sem olhar para trás para não ser hipnotizado pela assombração. A Cobra que Mama Conta-se que em determinada época, a mãe, após dar à luz a um bebê, precisava tomar cuidado para não dormir com a criança no colo, pois naquele momento costumava surgir uma cobra que subia na cama, tirava a boca do bebê do seio da mãe e dava o seu rabinho para a criança chupar. A cobra, então passava a mamar na mãe da criança até ficar saciada. A Loira da Dutra Conta-se que uma linda, atraente e sedutora mulher loira costuma pedir carona aos caminhoneiros na rodovia Presidente Dutra. Muitos que atendem ao seu pedido ficam ainda mais atordoados quando, subitamente, ela desaparece diante de seus olhos. Dizem que a loira da Dutra pode ser a representação da morte, já que ela somente aparece em trechos onde aconteceram acidentes fatais. O Homem da Capa Preta Conta-se que no século XIX morava no bairro do Avareí um capataz de fazenda que sempre montava a cavalo usando uma capa preta. Numa noite escura o homem foi degolado por um escravo que também matou o cavalo. Passados sete dias do enterro, as pessoas que moravam perto do cemitério ouviram fortes relinchos. Quando espreitaram pela janela viram um homem sem cabeça e de capa preta gritando e galopando pelas ruas. Apesar das novenas das beatas, nada
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acalmou a alma penada e todos os anos o espírito do cavaleiro ainda aparece por aquelas bandas. Cemitério do Avareí Conta-se que naquela necrópole está sepultada uma senhora que teria sido muito ruim com seus escravos. Ela tinha por hábito molestar as escravas mais bonitas, deixando cicatrizes em seus corpos ou então queimando seus seios. Diz-se que seu túmulo possui uma imagem que mostra a língua quando apertado seu dedo.
Foto divulgação/PMJ
Procissão dos Mortos Conta-se que numa procissão em direção ao Avareí, várias pessoas seguravam velas nas mãos. Durante a marcha, parando em frente a uma janela, um dos caminhantes pediu para a moradora guardar a vela que levava. No dia seguinte, ao voltar para buscar a vela, encontrou em seu lugar um osso da canela de um defunto.
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Limites Municipais
Limites Municipais Quando Jacareí foi elevada à Vila em 1653, foram definidos seus limites territoriais: São Francisco das Chagas de Taubaté, Guacatuba e Santa Anna das Cruzes de Boigi Mirim. Ao norte, só havia o sertão. Possuindo uma área de 2.555 km², atingia até o alto da Serra do Mar. Na ocasião, o Governador Geral do Brasil, Jerônimo de Ataíde, 6° Conde de Atouguia, recebeu muitas reclamações dos mogianos descontentes com o desmembramento. As queixas perduraram até que as vilas foram separadas pela criação da Freguesia de Guararema em 1846. Anos mais tarde, a insatisfação mudou de lado. Em 1759, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas do Reino de Portugal e suas colônias. A Aldeia de São José, antes administrada pelos religiosos, foi entregue à direção do CapitãoMor de Jacareí, José de Araújo Coimbra, que deu grande incentivo à povoação. Em 1767, no intuito de impulsionar a recém-criada Capitania de São Paulo, o governador-geral dom Luís Antonio de Sousa Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, criou várias vilas, entre elas, a Vila Nova de São José, fazendo Jacareí perder quase a metade de sua área: 1.118 km² de terras altas, planas e férteis. O fato trouxe discórdias entre os moradores, acarretando na morte de Coimbra, assassinado com dois tiros em uma emboscada. Em 1815, o capitão-mor de São José, Inácio de Araújo Ferraz, também foi morto em tocaia pela mesma causa. As divisas entre as cidades sempre trouxeram discussões. Ainda hoje são questionados alguns marcos divisórios na região do Bairrinho Univap. Em 1832, Santo Antonio do Parahybuna foi elevado à categoria de vila e Jacareí perdeu 714 km², afastando-se da Serra do Mar. A Capela Curada de Santa Branca foi ereta Freguesia em 1841 e em Vila em 1856, pois seus moradores tinham dificuldade de atravessar o Rio Paraíba para terem assistência religiosa. Jacareí perdeu, desta vez, 270 km². Em 1964, um plebiscito realizado naquela cidade reivindicou uma área rural onde estava estabelecida uma indústria denominada “Couraça” que produzia utensílios de alumínio e empregava muitos moradores daquele município. Como a proposta traria um impulso econômico àquela comunidade, a Lei foi aprovada pela Assembleia Legislativa, sem oposição das autoridades jacareienses. Hoje, neste último espaço perdido, estão estabelecidas a empresa Wirex Cable e o River’s Restaurante.
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Limites Municipais
Em relação às outras cidades vizinhas, não houve perda territorial. Santa Isabel e Guararema desvincularam-se de Mogi das Cruzes; Jambeiro era um antigo bairro de Caçapava, elevado a município em 1876; Igaratá originou-se da antiga Capela de Nossa Senhora do Patrocínio, em Santa Isabel e tornou-se município em 1954. Após tantas transformações, atualmente Jacareí é a 186ª cidade do Estado de São Paulo em área territorial, possuindo somente 464,272 km². Os atuais limites da cidade são: Santa Branca (sudeste), Guararema (sul), São José dos Campos (norte), Jambeiro (leste), Igaratá e Santa Isabel (oeste).
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Lions Clube
Lions Clube
Acervo: Lions Clube Jacareí
O leonismo teve origem em Chicago no ano de 1917, ocasião que o norte-americano Melvin Jones, aproveitando o companheirismo existente num clube de homens de negócios, se propôs a contribuir com o bem estar da comunidade local. O Lions International tornou-se a maior organização de clubes de serviço do mundo onde cada deles é uma sociedade civil sem fins econômicos. Seus membros são denominados “Companheiro(a) Leão” e as esposas dos “CL” são chamadas de “domadoras”. Pelo mundo, vários membros do clube tiveram destaque em suas áreas de atuação como Juscelino Kubitschek, Winston Churchill e Michele Obama, dentre outros. O slogan do clube é “Nós Servimos”. O nome Lions não foi escolhido aleatoriamente. A combinação das letras transmite o verdadeiro significado da cidadania: liberdade, inteligência e segurança da Nação (Liberty, Intelligence, Our Nation’s Safety). Além disso, o leão representa a força, a coragem, a fidelidade e a vitalidade. O clube tem no emblema dois leões, um olhando para o passado mostrando orgulho de suas tradições e o outro mirando o lado oposto em sinal de confiança no futuro.
O deputado Ulisses Guimarães discursando durante evento do Lions Clube de Jacareí
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Acervo: Lions Clube Jacareí
Dr. Augusto Bartolomeu Silva e Oliveira
O movimento leonino chegou ao Brasil, no Rio de Janeiro, em 16 de abril de 1952. O Lions Clube foi fundado em Jacareí em 3 de maio de 1957, ocasião em que o Dr. Augusto Bartolomeu Silva e Oliveira foi eleito presidente. O clube recebeu a carta constitutiva somente no ano seguinte em evento que contou com a presença do deputado Ulisses Guimarães. Entre seus 32 sócios fundadores podemos destacar Arlindo Scavone, Jarbas Porto Matos, Nilo Máximo e Biagino Chieffi.
O clube tem por objetivo reunir pessoas de diversas origens, profissões, credos e funções e transformá-los em “companheiros leões”. Deste modo, ao longo dos anos, o Lions Clube Jacareí sempre contribuiu com a comunidade local: construiu o antigo prédio do “Cantinho da Providência”, além de sua capela e da “Vila São José” que abrigava idosos. Em 1967, na primeira gestão do CL Walter Francisco, comprou um prédio na rua Santa Terezinha e o ofereceu ao Serviço Social da Indústria – SESI que o utilizou Companheiro Leão Walter Francisco como escola por 25 anos. Presenteou a cidade com outros bens materiais, como o antigo relógio da igreja do São João e o bonde doado pelo governador Carlos Lacerda e colocado em um parque infantil no bairro do São João, local atualmente ocupado pela JAM. Tal bondinho foi posteriormente transferido para o Parque dos Eucaliptos, sendo de-
Acervo: Lions Clube Jacareí
Acervo: Lions Clube Jacareí
Lions Clube
Vila São José
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Lúcio Malta
pois desmontado e encaminhado aos depósitos da Prefeitura Municipal. O Clube sempre foi ativo junto à área de saúde do município. Em 1964, com os recursos advindos de um baile promovido no Trianon Clube com a orquestra de Dick Farney, construiu e equipou um centro cirúrgico para a Santa Casa de Misericórdia. Atualmente, possui um banco de cadeiras de rodas que empresta aos necessitados e um serviço denominado “Sightfirst” que realiza testes de conscientização da diabetes e acuidade visual, além de doar óculos e oferecer consultas oftalmológicas e cirurgia de cataratas através da Fundação Lions International. Anualmente, realiza em sua sede uma festa de Natal para os deficientes visuais e familiares, com farta distribuição de lanches e cestas de Natal. À imagem e semelhança do Clube, em setembro de 1965 foi fundado em Jacareí o “Clube de Castores”, organização de serviços e trabalhos sociais realizados pela juventude leonina.
Lúcio de Toledo Malta era jacareiense, nascido em 1845, filho do português José Francisco Malta e de Edwiges Carolina Cortez de Toledo Malta. Eram seus irmãos: Procópio, Joaquim, Virgílio, Carlotta Josephina e Francisco de Toledo Malta, este Deputado Federal em São Paulo no período 1892/1900. Relatos trazem Lúcio Malta na juventude: moreno pálido, com barba e cabelos pretos, de estatura regular e muita espinha no rosto e que, embora inteligente, era mais afeiçoado às diversões que aos estudos. Mas nem tudo estava perdido! Em JacaLúcio de Toledo Malta reí, tornou-se um cidadão assaz conhecido, gozando de elevada estima. Além de exercer a advocacia, foi um membro destacado no cenário político-administrativo, atuando como Intendente Munici-
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Anuário Histórico de Jacarehy -1906
Lúcio Malta
Luiz Simon
pal entre 1893 e 1895. Sempre exerceu a advocacia. Atuou também como Juiz Municipal, gerente de banco e provedor da Santa Casa. É mencionado como fecundo e erudito analisador da Lei Hipotecária e companheiro fiel do coronel Carlos Porto no Partido Liberal. Lúcio Malta era casado com Adelaide Elvira de Salles Malta e pai de Francisco de Salles Malta. Jornal de sua época relatava que era um apaixonado pelo lírico, a ponto de cantarolar trechos de óperas enquanto passeava e brincava com crianças. Faleceu em 1° de julho de 1903, aos 58 anos. Em Jacareí, leva seu nome uma das principais ruas comerciais, a popularmente conhecida “Rua do Mercado”.
Luiz Simon, jacareiense nascido em 30 de agosto de 1850, era filho primogênito de Simon Simon e Sophie Sereth Lehmann Simon que, provenientes da Alsácia-Lorena, chegaram a Jacareí em 1845. Na cidade nasceram os outros filhos do casal: Elisa, Leon, Eva, Henriette, Sanson e Carlos. Simon Simon era um mascate que progrediu na vida, permitindo-se estabelecer com um hotel, bazar e “casa de pasto” no quarteirão entre a Rua da Vala e o Largo da Quitanda, de frente para a Rua de Luiz Simon Baixo, onde a família viveu até 1870. Luiz Simon foi educado na França para as atividades comerciais e falava diversos idiomas. Aos 19 anos, antes mesmo da morte do pai, já dirigia os negócios da família. Em 1876, mudou de ramo e em sociedade com o irmão Leon criou uma pequena tecelagem e um comércio de jóias. Três anos depois, no intuito de modernizar a empresa, enviou o irmão à Aix, na França, para aprimorar-se na arte da tecelagem, comprar maquinários e ainda trazer um contra-mestre para ensinar o operariado local. As primeiras máquinas compradas na França e Holanda perderam-se num naufrágio, mas o valor do seguro permitiu a aquisição de outros equipamentos.
Acervo de Família
Luiz Simon
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Luiz Simon
Em 1881, Leon retornou da Europa casado com uma prima, Sara Sophie Khonraad, “guarda-livros” de profissão. Foi redigido, então, o primeiro contrato formalizando a empresa “Luiz Simon & Irmão”, pioneira na fabricação de malhas na América Latina. Segundo relatos obtidos no livro “Fragmentos de uma Vida”, de Arthur D’Acajiré Simon, tal acordo deu a Leon “carta branca” para conduzir a tecelagem, a qual foi vendida em 1885 e transferida para um palacete no Largo da Matriz., onde se tornaria a famosa Malharia N. S. Conceição. Conta, ainda, que Leon Simon teria comprado uma área e instalado outra fábrica no Rio de Janeiro, entretanto somente em seu nome, deixando seu irmão Luiz na miséria. Este demorou a acionar judicialmente o irmão e ao que tudo indica, sem sucesso. Luiz Simon, judeu, era casado com a católica Guilhermina Leme do Prado Simon, de São José dos Campos. Desta união nasceram cinco filhos: Amélia, Arthur, Carlos, Benjamim e David, os quais se juntaram a Marcos, filho de Guilhermina. Diante da pobreza, Luiz teve que recomeçar. No Rio de Janeiro foi até carroceiro para manter a família. Aos poucos e a custa de muito trabalho, melhorou de sorte, voltando a vender jóias obtidas em consignação. Em 1891, retornou a Jacareí onde hospedou mulher e filhos na casa de gente amiga e modesta. Após algum tempo, passaram a residir em uma casa na Rua Treze de Maio. Com sacrifício, conseguiu educar os filhos. Três deles, formados farmacêuticos, incentivaram a família a retornar para a então Capital Federal, onde compraram duas farmácias, no Catete e no Caju. Paralelamente às suas atividades profissionais, Luiz Simon envolveu-se nas causas antiescravagistas ao lado de seu cunhado Antonio Gomes de Azevedo Sampaio, criador do Clube Abolicionista em Jacareí. Adepto, também, das causas republicanas, deu o nome de Benjamim ao filho nascido em um 15 de novembro, homenagem a Benjamin Constant, um dos fundadores da República brasileira. Como curiosidade, sabe-se que grande parte do atual cemitério no Avareí pertencia à necrópole da família Simon, cujos membros, judeus, não podiam ser sepultados junto aos católicos. Luiz Simon faleceu em 1º de junho de 1921, no Rio de Janeiro. Em sua homenagem, a antiga Rua de Baixo recebeu seu nome. É também patrono da atual escola SENAI, inaugurada em Jacareí em 1995 e que em breve terá novas e modernas instalações na cidade.
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M Maçonaria A Maçonaria é uma entidade discreta, na qual homens livres e de bons costumes que se denominam mutuamente de irmãos, cultuam a liberdade, a fraternidade e a igualdade. O termo maçonaria deriva do francês “maçon” e do inglês “mason” e significa pedreiro ou construtor. Estas Símbolo Maçônico na Praça Charles Gates corporações ganharam traços de alquimia e rituais simbólicos nos séculos XVI e XVII, iniciando uma fase voltada para o conhecimento filosófico, que dura até hoje. As Lojas Maçônicas, como são chamados os grupos de reunião, surgiram na Inglaterra em 1717, país que abriga a Grande Loja de Londres, considerada o marco inicial da Maçonaria Moderna. Nas Lojas, os maçons buscam refletir sobre suas atitudes, procurando o caminho do bem e da perfeição, o que naturalmente levaria ao progresso da sociedade. A Maçonaria tem hierarquias, regras e rituais. O ingresso de um candidato é um processo lento, sendo necessário o convite de outro maçom, entrevistas e uma investigação de sua vida pregressa. O candidato precisa ser maior de 21 anos, acreditar em Deus e não ter qualquer deficiência física que o impeça de praticar determinados atos. Os maçons se identificam através de toques e sinais teoricamente secretos, como num aperto de mãos ou os três pontos após a assinatura. Alguns céticos, entretanto, sugerem que o grande segredo é não existir segredo algum. Aqueles que não
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pertencem à maçonaria são chamados de profanos e as mulheres apenas participam de uma atividade para-maçônica denominada Fraternidade Feminina. As sessões ocorrem em templos repletos de simbologia: não há janelas e a entrada é voltada para o Ocidente. O Venerável Mestre comanda as sessões do Oriente, local de onde viria o conhecimento. Mesmo não sendo mantidos quaisquer vínculos com religiões ou crenças, durante as cerimônias os homens vestem aventais para venerar G...A...D...U..., o Grande Arquiteto do Universo, como os maçons se referem a Deus, planejador e criador de tudo o que existe. Símbolos que representam a Maçonaria podem ser vistos pela cidade, como o compasso (instrumento que desenha círculos perfeitos e significa a busca pela perfeição), o esquadro (cujo ângulo reto mostra o dever do homem em levar uma vida honesta) e os três pontos (...) que se referem ao tripé “liberdade, igualdade e fraternidade” ou ainda às qualidades indispensáveis ao maçom: amor, vontade e inteligência. No século XIX, maçons como José Bonifácio de Andrade e Silva e Gonçalves Ledo tiveram importante influência na Independência do Brasil e posteriormente iniciaram na Maçonaria o próprio Dom Pedro I, o qual numa ascensão meteórica, atingiu em apenas dois meses o maior cargo na fraternidade: Grão-Mestre da Ordem no Brasil. Entretanto, 17 dias depois, o Imperador proibiu as atividades maçônicas no país, pois receava ter seu poder questionado diante da igualdade cultuada por seus membros. Somente após sua abdicação em 1831, a maçonaria renasceu, aliando-se aos movimentos abolicionistas, anticlericais e mais tarde republicanos. A primeira Loja Maçônica brasileira, “Cavaleiros da Luz”, foi fundada em Salvador, Bahia, em 1797. No Estado de São Paulo, a Loja “Inteligência” de Porto Feliz data de 1831. “Harmonia” foi a primeira Loja no Vale do Paraíba, mais precisamente em Areias no ano de 1833. Em Jacareí, a 1ª Loja Maçônica, denominada João de Assis Siqueira e Major Custódio Porto “Amor e Trabalho 2” foi fundada em 8 de junho de 1898. O primeiro Venerável Mestre foi Affonso Berardinelli e entre os fundadores da Loja estavam João de Assis Siqueira, o João do Canto e o Major Custódio Moreira Porto. Três anos depois, em 23 de outubro de 1902, o professor Acácio Garibaldi de Paula Ferreira foi iniciado na Loja.
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APHJ e Anuário de Jacarehy - 1906
Maçonaria
Maçonaria
Foto: José de Souza Pereira
Existem relatos de alguns movimentos liderados por maçons em Jacareí antes da fundação da pioneira Loja, principalmente durante o período da abolição dos escravos e a Proclamação da República. Possivelmente, aqueles protagonistas foram iniciados em outras Lojas da região ou até mesmo na Europa, tendo suas ideias liberais muitas vezes confrontadas pelos conservadores da localidade. Após a primeira Loja “abater colunas” em 1925, somente em 25 de janeiro de 1967 foi fundada a Loja “Integridade e Justiça”, com sede provisória na Rua Barão de Jacareí, no escritório do 1° Venerável Mestre, Dr. Pérsio Correa Lara Filho. A maçonaria simbólica compreende três graus obrigatórios: Aprendiz, Companheiro e Mestre, sendo que o Rito Escocês Antigo e Aceito, adotado no Brasil, prevê a existência de 33 graus. Existem seis Lojas Maçônicas em Jacareí: “Integridade e Justiça”, “Arquitetos da Harmonia”, “Sementes do Amanhã” e “Verbo Divino”, instaladas na Rua Waldemar Berardinelli. As Lojas “Universo Templário” e “Orvalho de Hermón” estão sediadas na Avenida Edouard Six.
Fachada do Templo na Avenida Edouard Six
Há alguns anos, existem Ordens patrocinadas pela Maçonaria, como a “Ordem DeMolay” para jovens entre 13 e 21 anos e também a “Ordem dos Escudeiros da Távola Redonda” destinada aos meninos de 7 a 13 anos de idade. As Lojas Maçônicas em Jacareí exercem um importante papel na sociedade, principalmente na área social. Exemplo disso é o “Lar Fraterno da Acácia”, no bairro Cidade Salvador, que abriga idosos desde 1981. Preparativos para a tradicional feijoada
Divulgação
Interior do Templo na Rua Waldemar Beradinelli
do Lar Fraterno da Acácia
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Malharia N. S. Conceição
APHJ
Malharia N. S. Conceição
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As meias produzidas em malha existem desde a década de 1580 quando o reverendo inglês William Lee inventou o primeiro tear manual. Em 1864, outro inglês, o monge Willian Cotton, aperfeiçoou o processo e patenteou uma máquina que obtinha tecidos de malha Fábrica de Meias Hoffmann-Jacarehy muito finos, emoldurando melhor as pernas das mulheres. As meias foram consideradas eróticas e Cotton, perseguido no Reino Unido, precisou fugir para a França onde ensinou seu ofício a outros empreendedores, entre eles Leon Simon, sócio da empresa “Luiz Simon & Irmão”, criada em Jacareí em 1876 e instalada em um prédio de esquina no Largo da Quitanda. A fábrica de meias da família Simon foi a primeira instalada na América Latina. Utilizava 14 teares, todos europeus. Produzindo 14 mil dúzias de meias sem costura por ano, foi logo premiada em uma exposição no Rio de Janeiro em 1881. A mão-de-obra, em sua maioria, era composta por mulheres sem competência técnica que precisaram ser treinadas por mestres estrangeiros como o alemão August Fritz e o francês Júlio Briant. O belga João Baptista Dennis, avô do jornalista Jobanito, foi o primeiro “folguista”, conduzindo o “vapor”. Em 1885, a empresa foi vendida aos fazendeiros Dr. Joaquim Ribeiro de Mendonça, Coronel Delphino Martins de Siqueira, Barão de Santa Branca e Alfredo Alberto Ribeiro de Mendonça, sendo as instalações transferidas para um palacete no Largo da Matriz. Treze anos depois, revendida para Ferraz Fester & Cia, teve a razão social alterada para Companhia Industrial de Jacarehy. Em 1901, o negócio foi adquirido por imigrantes alemães, prepostos da empresa capitalista Theodore-Wille. A tecelagem, oficialmente denominada “Hoffmann, Ahlgrenn e Cia.”, adotou o nome fantasia “Fábrica de Meias Hoffmann-Jacarehy”.
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A companhia teve um período de prosperidade até 1912, sendo premiada em exposições em São Luis (1904 - Medalha de Ouro) e no Rio de Janeiro (1908 – Grande Prêmio). Na ocasião era uma grande empresa com 300 operários, diversos teares para fabricação de meias finas e grossas, dezenas de máquinas de costura, uma completa fábrica de caixinhas de papelão e uma moderna tinturaria. Entretanto, a Interior da Malharia - 1930 situação agravou-se após a I Guerra Mundial, tornando difícil o investimento germânico no Brasil. Desta forma, para permanecerem em atividade, agiam de maneira discreta e esperta, continuando a usar prepostos para gerir seus negócios. Em 1918, o nome da empresa foi alterado para Malharia Nossa Senhora da Conceição. Inovando em novos maquinários e com grande visão de mercado, a empresa adquiriu em 1927 a Fábrica de Meias Marina na Rua Barão de Jacareí. Ampliando e modernizando a velha fábrica, a Malharia para lá transferiu suas instalações em 1936.
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Malharia N. S. Conceição
Malharia Nossa Senhora da Conceição na Rua Barão de Jacareí
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Foto: FIESP
Malharia N. S. Conceição
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No período da II Guerra Mundial, o governo colocou um interventor na empresa com o objetivo de desapropriar seus bens, haja vista a participação de alemães no quadro societário da empresa. Em agosto de 1944, Miguel Haddad, de família libanesa, adquiriu a Malharia por meio de um processo licitatório. No período pós-guerra, a empresa foi beneficiada pela falta de competição no mercado externo e interno e também pela construção da Rodovia Presidente Dutra em 1951. Em meados do século XX, a Malharia foi a pioneira na produção de meias femininas em tamanho único e sem costura, sendo a primeira fabricante de meias de náilon no continente americano. Lançou também a meia-calça como alternativa à meia fina. Em ambos os casos, importava o Nylon e a Lycra, marcas registradas pela americana DuPont. Foi nesta época que a empresa focou em uma marca própria: a Lolypop. Na década de 1970, as calças jeans chegaram para prejudicar os negócios da empresa, encobrindo totalmente as pernas das mulheres, inclusive as meias. Foi preciso inovar, fabricando meias esportivas para outras marcas como Topper, Rainha, Adidas e Nike e também produzir lingeries, calcinhas e soutiens, com aplicação inédita de estamparia localizada. Além disso, a Malharia passou a fazer parcerias com grandes redes de lojas, atuando junto à C&A, Makro e Mappin, tal qual já havia realizado com a Sears em 1949. Nos anos finais do século passado, a empresa construiu novas e modernas instalações na Avenida Getúlio Vargas, pretendendo utilizar o prédio da Rua Barão de Jacareí para instalar um Shopping Center. Por entender não ser do ramo, decidiu vender o novo empreendimento. No novo prédio, mesmo utilizando máquinas italianas com sistemas computadorizados, a empresa não conseguia superar a alta carga tributária e a competição com os países asiáticos. Elias Miguel Haddad, presidente da empresa desde 1960, momentaneamente reduziu a produção e utiliza uma loja virtual para venElias Miguel Haddad der as peças que mantém em estoque, esperando que ventos favoráveis venham a ajudar o combalido setor têxtil brasileiro.
Mercado Municipal
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Mercado Municipal Na província de São Paulo, o mercado teve sua origem no século XVIII quando foram construídas as “casinhas” que vendiam produtos alimentícios não perecíveis como arroz, milho, farinha e carne-seca. As quitandas, palavra de origem angolana, do quimbundo kitanda (feira), eram barracas onde se vendiam gêneros perecíveis, como legumes e frutas. No final do século XIX, o vereador capitão Salvador de Oliveira Preto, com idéias desenvolvimentistas, planejou a criação de uma Casa de Mercado para substituir a feira a céu aberto que era realizada no Largo da Quitanda. O projeto definia a localização e o tamanho do prédio que deveria ser erguido na Rua da Vala, um caminho ermo que ligava a Rua de Baixo, centro comercial da época, à Estação da Estrada de Ferro. O terreno não era bom. Alagadiço, precisou receber muitos aterros até a conclusão da obra, interrompida várias vezes por falta de recursos. A construção do primeiro prédio, em taipa de pilão, foi iniciada em 1880 e somente concluída em 1906. O governo municipal que sempre estivera instalado em imóveis alugados, pela primeira vez construía um grande edifício público. Considerada uma obra gigantesca para a época, o prédio era diferente do mercado atual, possuindo uma área central descoberta, formando um pátio. Não havia bancas abertas, apenas as “casinhas”, com porta e janela. Dentro delas, um modesto balcão e as mercadorias a serem vendidas, geralmente provenientes da zona rural da cidade. A construção do Mercado Municipal trouxe outro melhoramento viário que facilitaria o acesso à nova zona de compras: a abertura da Avenida Coronel Carlos Porto, antes apenas um beco. Em 1924, o prefeito coronel João Ferraz reformou o prédio, desta vez com tijolos aparentes. No entanto, aquele prédio não sobreviveria aos tempos modernos. Mal conservado, ele foi demolido em 1959, na gestão do prefeito João Victor Lamanna. Durante o período que o mercado ficou 1º prédio do Mercado Municipal desativado, as vendas voltaram para a antiga praça. A feira foi apelidada de “Brasilinha”, decerto por causa da construção da nova Capital Federal. O novo mercado somente foi inaugurado em 18 de agosto de 1962, no mandato do prefeito Antonio Nunes de Moraes Júnior. 201
Fotos: APHJ
Monumentos
3º prédio do Mercado Municipal
Durante 50 anos, o prédio serviu a seus propósitos. Muitos produtos se tornaram tradições do lugar, como o bolinho caipira, o pastel, o caldo de cana e o sorvete americano. Entretanto, o tempo desgastou o prédio e suas instalações. Após um longo processo de revitalização, tanto interna quanto externamente, o centro comercial mais tradicional da cidade foi entregue renovado no final de 2015. Atualmente, o Mercado Municipal conta com 120 boxes distribuídos em 12 corredores internos. O movimento continua intenso, principalmente aos finais de semana. Mercado Municipal - 2017
Monumentos
Estátua do Cristo Acolhedor
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A historiadora Helena Pignatari já dizia que “um povo sem memória é um povo sem história”. A partir desta frase, deduz-se que os monumentos podem ter um duplo propósito: integrar a arte ao espaço urbano além de perenizar fatos e personagens ilustres, permitindo que o passado interaja com o presente. Afora a arte tumular encontrada no Cemitério do Avareí, Jacareí é uma cidade pobre em monumentos, contando com menos de uma dezena de exemplares. A história do maior deles teve início
Foto: André Júnior
2º prédio do Mercado Municipal
em 1979 quando o cônego Antonio Borges, da Paróquia de São João Batista, formalizou um pedido ao prefeito Benedicto Sérgio Lencioni para que este intermediasse junto à Lavalpa, loteadora do bairro Cidade Jardim, buscando receber em doação uma área onde pretendia levantar um monumento cristão. Obtido o terreno, iniciou-se a captação de recursos junto à comunidade, tarefa conduzida pelo vice-prefeito Dionísio Ottoboni. Para a execução da obra foi contratado José Demétrio da Silva, o Demétrius, considerado o maior escultor do Vale do Paraíba. Construído em concreto armado e uma resina especial, o “Cristo Acolhedor” tem 10 metros de altura e difere dos demais cristos espalhados pelo país, já que tem as mãos abertas e estendidas num gesto Demétrius na construção do Cristo Acolhedor em 1982 de paz e boas-vindas. Atualmente a estátua sofre constantes pichações, encontrando-se num processo de abandono que contribui para a degradação das áreas que o circundam. Em 2016 iniciou-se um processo pela sua preservação, buscando declarar a obra como patrimônio cultural do município em razão de seu significado histórico e religioso. Além do Cristo Acolhedor, muitos anos antes, em 1946, o embaixador José Carlos de Macedo Soares, Interventor Federal em São Paulo, doou à cidade um monumento esculpido em bronze pelo artista plástico italiano Luiz Morrone. Originalmente, havia em seu pedestal a seguinte inscrição: “Jacareí contribuiu gloriosamente com seus filhos para a defesa da Pátria”.
Fotos Acervo Mir Cambusano
Acervo: Mir Cambusano/ Valeparaibano - 1982
Monumentos
Maquete do Monumento em homenagem aos Expedicionários de Jacareí. Ao lado Mir Cambusano restaurando a estátua
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Monumentos
Acervo: Mir Cambusano
A obra sempre é alvo de confusões históricas, aludindo-se a uma incorreta homenagem ao Corneteiro Jesus ou ao corneteiro João Américo da Silva. No entanto, a estátua homenageia todos os ex-combatentes de Jacareí que lutaram na II Guerra Mundial. Mesmo estando em pleno centro da cidade, em certa ocasião, a estátua foi parcialmente destruída por um grupo de vândalos. Após permanecer esquecida em galpões da Prefeitura, a obra foi restaurada pelo multiartista Mir Cambusano. Afora os maiores monumentos, a cidade conta com algumas esculturas de personagens históricos: O Dr. Pompilio Mercadante está representado por dois bustos: um deles está localizado no átrio da Santa Casa de Misericódia e o outro na Praça Barão do Rio Branco, obra do célebre escultor Gildo Zampol, inaugurada em 1951. Em 1969, o busto do ex-presidente Castelo Branco, obra do escultor Luiz Morrone, foi doado pelo Rotary Clube de Jacareí para compor o monumento à bandeira em frente à Prefeitura Municipal. O busto do compositor José Maria de Abreu é uma obra do escultor Demetrius e está localizado no Jardim Liberdade. Outrora, na Praça Conde Frontin, quase em frente à Igreja do Bonsucesso, havia um pequeno obelisco, marco geográfico da cidade que acabou soterrado após várias intervenções urbanísticas realizadas no local.
Busto de José Maria de Abreu 204
O obelísco original e Mir Cambusano indicando o local onde ele estaria localizado
Acervo: Mir Cambusano
Museu de Antropologia
Outras obras estão localizadas em propriedades particulares: O antigo terminal rodoviário de Jacareí, atualmente um centro comercial, conta com um busto do ex-presidente norte-americano John Fitzgerald Kennedy esculpido por Albano Vizotto Filho em 1963. Finalmente, no Parque Califórnia, uma escultura de São Francisco de Assis, criação de Mir Cambusano, enfeita os jardins de um hospital filantrópico que leva o nome do santo católico.
Museu de Antropologia Em meados da década de 1970, um movimento popular entre amigos, encabeçado pelos professores Osmar de Almeida e Maria Lúcia Sant’Ana, preocupado com a recente perda do prédio do Colégio Antonio Afonso e procurando preservar o “Solar Gomes Leitão” que abrigava a Escola Estadual Coronel Carlos Porto, passou a dialogar sobre a possibilidade da criação de um museu na cidade. Sem o conhecimento técnico para tal empreitada, passaram a ser orientados pela renomada museóloga Waldisa Russio Camargo Guarnieri. Apesar da discordância de alguns munícipes que preferiam a criação de um museu que contasse a história da cidade, o prefeito Benedicto Sérgio Lencioni deu o apoio necessário para que o museu fosse “um espelho onde o homem valeparaibano pudesse analisar suas origens, refletir e posicionar-se sobre o futuro, fortalecendo, assim, sua identidade cultural.” 205
A partir da criação de um Setor de Pesquisa e Documentação foi dada origem à Fundação Museu de Antropologia do Vale do Paraíba. Durante o processo surgiram alguns núcleos especiais como o de Arqueologia e o Arquivo Público, todos englobados pela futura Fundação Cultural de Jacarehy. A iniciativa também permitiu o tombamento do prédio pelo Condephaat em 1978. Em dezembro de 1980, após a construção de uma nova escola no quintal do Solar, este foi entregue para o município instalar o Museu. No projeto original, ambos os prédios, o antigo e o novo, deveriam ser integrados, havendo apenas um jardim suspenso a separar os espaços. Durante vários anos o Museu lutou para sobreviver. Administrações municipais se sucederam e nunca havia recursos públicos para sua manutenção e restauro. O Museu de Antropologia do Vale do Paraíba - MAV somente foi aberto ao público em 24 de setembro de 1992, sob a direção de Adelmir Morato de Lima, com grande apoio da primeira-dama e presidente da Fundação Cultural de Jacarehy, Maria Ada Cherubini Arouca. O prédio em estilo neoclássico sempre encanta o visitante pela beleza e valor histórico. Além de suas instalações físicas, o Museu possuiu um acervo constituído em sua grande maioria por peças de arte religiosa. Dentre as artes plásticas, a principal atração é um óleo sobre tela de autoria do pintor Almeida Júnior. Datado de 1888, o quadro retrata o 2° Barão de Santa Branca. Entretanto, o maior destaque do acervo é a rica Tela do pintor Almeida Júnior coleção de “Paulistinhas”, a segunda maior do Estado, contando inclusive com peças do século XVIII. “Paulistinhas” são imagens sacras de cunho popular, feitas em barro e queimadas à lenha, ocas por dentro e com altura entre 10 e 20 centímetros. Modeladas por “santeiros”, as “paulistinhas” representam santos de devoção popular no Estado de São Paulo, daí a origem do nome. Estas peças eram usadas pelos colonos pobres em suas orações, contrapondo aos ricos fazendeiros que costumavam adquirir imagens trazidas de outros Estados ou até mesmo da Europa. Grande parte da coleção encontrada no MAV foi doada pelo médico Eduardo Etzel, que percorreu o Vale do Paraíba no estudo da arte Magela Borbagatto
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Divulgação/PMJ
Museu de Antropologia
Música
sacra. Santa Isabel foi a cidade com a maior produção destas peças, onde residia o último grande santeiro: Benedito Amaro de Oliveira, o “Dito Pituba” (1848/1926). Atualmente, na produção e no estudo das referidas peças, destaque para o artista plástico jacareiense Magela Borbagatto, Mestre da Cultura Popular Brasileira. O Sistema Estadual de Museus constata a existência de 415 instituições museológicas, públicas e privadas, em 190 municípios no Estado de São Paulo. O MAV é um deles. No entanto, após quase 40 anos, o Museu de Antropologia ainda não conseguiu cumprir a missão para a qual foi criado, não tendo uma relação direta com o homem do Vale do Paraíba. Atualmente é apenas um prédio, uma importante peça histórica representante de uma época da riqueza produzida pela lavoura cafeeira. Vários administradores passaram pelo MAV trazendo programações ecléticas, exposições e apresentações musicais variadas. Gerido oficialmente pela Fundação Cultural, autarquia municipal detentora de todo seu patrimônio, o Museu ainda não tem personalidade jurídica, sem possibilidades, portanto, de auto-gestão e captação de recursos próprios para seu empoderamento.
Fotos: Arquivo Público e Histórico de Jacreí
Música Várias são as expressões culturais desenvolvidas no município. Poder-se-ia falar das artes cênicas, literárias, audiovisuais e artesanato, todas elas contando com o incentivo da Fundação Cultural de Jacarehy. Entretanto, é consenso geral que a cidade de Jacareí é um celeiro de grandes talentos na área musical. Muitos nomes de destacaram desde o final do século XIX, havendo, logicamente, um lento e gradual processo de mudanças de acordo com os gostos e as tendências. A figura do professor, maestro e compositor Laudelino de Morais aparece em relatos históricos no século XIX. Em 1913, juntamente com sua esposa Adelaide, fundou a Escola de Música Santa Cecília, uma das primeiras do interior do país. Uma de suas alunas, Dionísia Nogueira Zicarelli, se tornou maestrina e criou a OrLaudelino de Moraes e Dionisia Nogueira Zicarelli questra Sinfônica de Jacareí em 1940. 207
Música
APHJ
Nas primeiras décadas do século XX, destaque para corporações musicais como o grupo Fila Bóia fundado por Norival Barbosa em 1925 e a Orquestra do Verâno Câmara. Pouco depois, o nome de Jacareí foi levado Brasil afora pelo compositor José Maria de Abreu.
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Já em meados dos anos 1960, o Colégio Silva Prado era o templo da música jacareiense, não só pela realização de festivais musicais como também por contar com professores de música como Dona Maria Bernadete Loureiro Mendonça. Naqueles anos dourados, várias bandas nasceram influenciadas pela banda inglesa “The Beatles”. Muitos talentos da
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Grupo Musical Fila-Bóia e Verano Câmara e sua Orquestra
Aula de Educação Musical com a Prof. Bernadete Mendonça
cidade seguiram rumo ao Rio de Janeiro buscando melhores oportunidades, muitos deles incentivados pelo produtor musical jacareiense Esdras Pereira. Bateristas como Chuim, Elber Bedaque e Jurim Moreira, além do contrabaixista Jorjão Carvalho e o guitarrista Carlos Roberto Rocha passaram a trabalhar com grandes nomes da música popuThe Wood Pakers lar brasileira. Vencedores do 1° FEMPO, o casal Jaime Alem e Nair Cândia fez carreira consolidada na capital carioca. O maestro, inclusive, foi arranjador e diretor
Música
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musical de Maria Bethânia por quase três décadas. Jurema de Cândia, irmã de Nair, após trabalhar com vários nomes da MPB, desde 2002 é backing vocal da banda de Roberto Carlos.
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Jaime Alem e Nair Cândia
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Esdras Pereira gravando com Sarah Vaughan e Dori Caymmi
Roberto Carlos e Jurema Cândia
Elber Bedaque
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Foto: Antonio Nunes de Moraes Neto
As décadas de 1960 e 1970 foram especiais para a Corporação Musical de Jacareí e as fanfarras estudantis que venceram várias competições estaduais.
Fanfarra do CENE e Corporação Musical de Jacareí
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Música
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Conjuntos musicais como o R7, liderado por Benedito Miragaia, e outros mais voltados para um ritmo específico, como o Xiboca, fizeram muito sucesso na cidade.
Conjunto R7
Grupo Xiboca
Foto: Junior Soares
Foto: Claudio Campos
Ao longo dos anos, muitas vozes engrandeceram o cenário musical jacareiense. Atualmente, novos gêneros musicais vêm conquistando espaço. Jacareí já conta com um Festival de Blues comandado pelo guitarrista Danilo Simi e Marcelo Naves, considerado um dos maiores gaitistas de blues do Brasil.
Tuia Lencioni
Maysa Ohashi e Cecília Militão
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Foto: Vitor Campos
Celi Redondo
Marcelo Serrano
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Marcelo Naves e Danilo Simi
Música
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A música erudita conquistou os jacareienses pela bela voz do tenor Paulo Abrão Esper, criador da Cia e também pelo fato de a cidade sediar o Concurso de Canto Lírico “Maria Callas”.
Paulo Abrão Esper
Concurso “Maria Callas”
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As novas gerações também criaram o seu espaço realizando a “Batalha dos Trilhos”, uma celebração do hip-hop.
Batalha dos Trilhos,
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Divulgação/PMJ
As perspectivas futuras também são excelentes, já que Jacareí continua investindo no surgimento de novos talentos. A Fanfarra Municipal (Famuja) criada em 1978 é atualmente a Orquestra Sinfônica Jovem de Jacareí (Osijja) que sob o comando do maestro Mauro Messias Bueno Júnior foi a grande vencedora do “Open Brasil 2017”, considerado o maior festival de bandas e fanfarras do Brasil.
Escola de Música fundada por Juvenal de Abreu - 1935
Orquestra Sinfônica Jovem de Jacareí
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N Nome da Cidade O local onde a cidade de Jacareí está localizada não tinha uma denominação oficial até o povoado ser elevado à Vila em 1653. As pessoas que aqui moravam eram informalmente chamados de “Moradores da Paraíba”, numa referência ao rio que corta a cidade. O primeiro nome oficial, “Nossa Senhora da Conceição da Parahyba” deve-se à religiosidade portuguesa e ao culto à Imaculada Conceição. Possivelmente, o nome atual, Jacareí, de origem tupi-guarani, tenha surgido espontaneamente antes de 1710, sendo, posteriormente, agregado ao nome oficial para distinguir a Vila das outras existentes na região, como Taubaté e Guaratinguetá, que também eram chamadas de Vilas da Paraíba. Esta denominação indígena sofreu alterações ao longo dos tempos: Yacarahy, Jacarahy, Jacarehy e finalmente Jacareí. Existem algumas versões que explicam o nome da cidade: o “Diccionário Geográphico da Provincia de S. Paulo”, obra do Dr. João Mendes de Almeida, informa ser uma corruptela de “Y-agûa-yerê-ei” que significa “rio-de esquina-e volta desnecessária”, haja vista que o Rio Paraíba é sinuoso e em determinado local faz uma grande curva, indo em direção contrária ao curso normal; outra tradução invoca o termo “yechá-caré”, que significa “aquele que olha de lado, de soslaio”, como um jacaré. Entretanto, a versão mais aceita, adotada pelos estudiosos Alfredo Moreira Pinto e Eugênio Egas, é que a denominação vem de “îakaré-y” ou “jacare-ig” que poderia ser traduzido como “água ou rio de jacarés”, tendo em vista que esses répteis, possivelmente jacarés-de-papo-amarelo, habitavam o rio Paraíba e lagoas próximas, possuindo “carnes boas para comer, cheirando almíscar, principalmente os testículos”, segundo relato do Padre José de Anchieta.
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Nome da Cidade
Outra história, de origem folclórica, diz que muitos moradores da região, por serem portadores de bócio endêmico, um papo no pescoço causado pelo mau funcionamento da glândula tireóide, produziam um som esganiçado ao falar. Assim sendo, ao avistarem um jacaré, pronunciavam o nome do animal acrescentando um sonoro e demorado “iii”, surgindo, assim, a palavra Jacareí. Uma vez que “Villa de Nossa Senhora da Conceição da Parayba de Jacarehy” era um nome muito extenso, o uso popular fez reduzir o nome de origem cristã para Jacarehy, como já havia ocorrido com Taubaté ou Mogi das Cruzes. Esta designação foi alterada para Jacareí após o acordo ortográfico de 1943.
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P Parques Municipais Os parques públicos da cidade são áreas verdes que trazem qualidade de vida para a população, possibilitando o contato com a natureza, atividades físicas e de lazer, trazendo diversos benefícios à saúde física e mental, amenizando o estresse do cotidiano urbano.
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Parque da Cidade Inaugurado em 2008, este complexo de lazer, esporte e cultura tem 42 mil m² e está localizado no coração da cidade, antiga área da Rede Ferroviária Federal. O local oferece atividades variadas, desde aulas abertas de ginástica, quadras de esportes e pista de caminhada, além de um jardim japonês como área de contemplação. Tanto o parque como seu entorno é comumente utilizado para apresentações musicais e grandes eventos da cidade.
Antiga área da Rede Ferroviária Federal
Parque da Cidade
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Parques Municipais
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Parque dos Eucaliptos Este parque construído na década de 1970, está localizado na região central da cidade, ao lado da biblioteca municipal. A sua área de 28 mil m² já não possui os eucaliptos que lhe deram a denominação. Após passar por profundas transformações, o parque atualmente possui vários atrativos como um lago artificial, quiosques, academia de ginástica ao ar livre, pista de skate, palco para shows, uma mini-cidade com pista infantil para Educação do Trânsito e um “Espaço Pet” com 350 m² de área verde, com muita sombra e diversão para cães.
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EducaMais Parque Santo Antonio O parque foi inaugurado em 2010 num local conhecido como Vale do Cedrinho, onde havia um grande vazio urbano. Apesar da topografia acidentada do terreno, o lugar oferece pista de caminhada, quadras poliesportivas e playgrounds. Ao lado do parque, está localizada a pista de bicicross “Luciano Bruni”.
Parques Municipais
Espaço Liberdade Este pequeno parque é praticamente destinado às praticas esportivas, principalmente as caminhadas e também por skatistas que utilizam uma das melhores halfpipes do Vale do Paraíba. A Capela Nossa Senhora Aparecida antes integrada ao local, recentemente foi isolada e cercada por grades.
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Viveiro Municipal “Seu Moura” O Viveiro está localizado em um fragmento da Mata Atlântica no bairro do Campo Grande e tem uma área de aproximadamente 600 mil m². Este patrimônio natural em plena zona urbana da cidade foi criado pelo ambientalista Francisco de Moura, o “General da Ecologia”, que ali pretendia implantar um Jardim Botânico e um “Museu do Mundo” com árvores típicas de vários países. O principal objetivo do Viveiro é mostrar a importância da preservação do meio ambiente, produzindo mudas de árvores e plantas ornamentais e medicinais. O local possui 12 nascentes que deságuam no Rio Paraíba do Sul, quatro trilhas ecológicas, um plenário ao ar livre, uma catedral gótica construída de bambus além de um casarão histórico.
Francisco de Moura 217
Pompílio Mercadante
Pompílio Mercadante foi um dos mais devotados e estimados médicos de Jacareí. Nascido em 23 de abril de 1884, descendentes de italianos e holandeses, filho de Pedro Mercadante e Luiza Eppinghaus, era sobrinho do comerciante Nicolau Mercadante. Eram seus irmãos: Bráz, Leonídia, Américo, José, Olívia, Benedito, Waldemar, Pedro e Elisa, os dois últimos falecidos ainda crianças. Após os estudos realizados no Colégio Nogueira da Gama, Pompilio ingressou na Escola de Farmácia e Odontologia de São Paulo, diplomando-se em 1907. No ano seguinte, montou a “Pharmácia da Fé”. Na política, ocupou o cargo de prefeito entre 25 de fevereiro de 1914 a 14 de janeiro de 1920, sendo o responsável pela urbanização do Largo do Bom Sucesso. O jovem de olhos verdes foi casado em primeiras núpcias com Araminta dos Santos. O casal teve sete filhos: Dinorah, Othon, Ernani, Eunice e Gerson. Rute e Homero faleceram ainda crianças. A esposa também morreu precocemente aos 41 anos de febre puerperal em 1922. Na ocasião, o industrial português Manoel Lopes Leal, residente em São Paulo, pediu que a filha Elvira o representasse no funeral. Aos 29 anos, a moça rica e educada no Colégio Sion, que falava corretamente inglês e francês, tocava harpa e piano, acostumada a passar suas férias na Europa, veio a Jacareí e conheceu o “farmacêutico pobretão”. Meses depois, após um noivado de 27 dias, casaram-se em 4 de novembro de 1923. Enquanto os cinco filhos ficaram com tias e madrinhas, a breve lua de mel foi passada em Jacareí, na linda “Chácara Elvira” onde passaram a residir, vizinhos de Jucy Madid. O casal teve outras quatro filhas: Zilah, Magda, Yara e Thais, esta última nascida quando a mãe já contava com 49 anos. José, o único menino, morreu no mesmo dia de seu nascimento. Inúmeros foram os netos de Pompílio, entre eles o economista e político Aloizio Mercadante, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. 218
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Pompílio Mercadante
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Pompílio Mercadante
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1948 - Bodas de Prata de Elvira e Pompílio Mercadante – na foto todos seus filhos, genros e noras
Apesar de farmacêutico, Pompílio intencionava estudar medicina. Sem recursos, só teve o sonho realizado com a ajuda financeira da esposa e do sogro, formando-se em 1927 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. O auxílio de Elvira também foi essencial para que seus filhos Othon e Ernani também se tornassem médicos. Formado, Pompílio Mercadante foi recebido com festa em seu retorno da Capital Federal. Algumas casas comerciais até fecharam as portas para saudar o antigo farmacêutico, agora doutor. Em Jacareí, o médico recém-formado montou consultório em duas salas na casa de seu genro Rogélio Rodrigues, exercendo a medicina como um verdadeiro sacerdócio. Conta-se que só pagavam a consulta aqueles que tinham algum recurso, recebendo, muitas vezes, frangos vivos, rapadura, paçoca e doces caseiros como pagamento. Quando necessário, Pompílio Mercadante os pacientes eram atendidos na própria casa do méFoto de Formatura dico e receitas eram aviadas até pela janela. Assim, passou a ser conhecido como “médico dos pobres” e respeitado por toda a comunidade, a ponto da banda municipal tocar anualmente em seu aniversário. Em 1933 passou a ocupar a direção clínica da Santa Casa de Misericórdia, onde prestou relevantes serviços até poucos dias antes de seu falecimento em 7 de setembro de 1950, aos 66 anos, de infarto cardíaco, em sua residência na Rua Corneteiro Jesus. 219
Ponte Preta Futebol Clube
Pompílio Mercadante sempre morou em Jacareí, inclusive no casarão de esquina nos “Quatro Cantos”. Como era asmático e não gostava muito de sair de casa, ali criou o “Clube Florisbela”, local onde os amigos se reuniam para conversar, ouvir música e declamar poesias. No mesmo ano de sua morte, na gestão do prefeito Tito Máximo, a antiga Rua do Carmo recebeu o seu nome. Uma escola no bairro do São João também o homenageia. Dois bustos em ferro fundido também procuram resgatar a memória deste grande médico, um deles colocado logo à entrada principal da Santa Casa. O outro foi instalado na Praça Barão do Rio Branco, procurando relembrar a ocasião em que o médico insurgiu-se contra o corte de uma árvore, ameaçando até abandonar a cidade caso o fato fosse consumado. Diante de seu enorme prestígio, a árvore lá permaneceu.
Ponte Preta Futebol Clube Os futebolistas das primeiras décadas do século XX puderam presenciar grandes partidas de futebol disputadas entre os clubes Elvira e Esperança. Os respectivos campos ficavam repletos de torcedores em cada clássico local. Porém, na década de 1930, o Esperança Futebol Clube foi desativado, criando um vazio no esporte bretão jacareiense. Alfredo Schürig que já havia fundado o “Esperança”, novamente foi chamado a desempenhar um papel relevante na criação de um novo clube. Assim, liderando um grupo de esportistas, em 31 de janeiro de 1933 fundou o “Ponte Preta Futebol Clube”, nome inspirado na ponte de ferro que transpunha o Rio Paraíba do Sul. Utilizando o antigo campo de futebol do “Esperança”, Alfredo Schürig construiu um pequeno estádio de futebol dotado de lance de arquibancadas, muros e até pequenas cercas de madeira ao redor do gramado. Neste “stadium”, o “Ponte”, como o time era conhecido, conquistou inúmeros campeonatos. 220
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Ponte Preta Futebol Clube
Estádio do Ponte Preta
Time do Ponte Preta – 1° de maio de 1935
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O clube teve algumas sedes sociais provisórias, prédios alugados na Rua Antonio Afonso e na Praça Raul Chaves, onde a família pontepretana participava de reuniões dançantes e recreativas. Após perder a posse do campo de futebol à beira rio, na década de 1950 a Prefeitura Municipal doou ao alvinegro jacareiense um terreno de 4 mil m² no famoso “Esmaga Sapo”, exigindo que o clube lá erguesse sua sede e quadras poliesportivas. Entretanto, por não dar início às obras dentro do prazo estipulado, o Ponte Preta perdeu os direitos sobre a área. Em 1957, o Ponte Preta, presidido por Joel Barreto, comprou um terreno de 20 mil m² no Jardim Santa Maria, propriedade de Orlando Felipe Bonano, para finalmente edificar sua sede e seu estádio. No ano de 1973, contudo, o Poder Executivo expropriou a área, iniciando uma longa batalha judicial. De posse do imóvel, a Prefeitura construiu a arquibancada, a pista de atletismo e outras benfeitorias. Somente em 1984, o clube conquistou de volta seu patrimônio, voltando a crescer através de campanhas para reativação do quadro associativo, podendo, assim, construir o parque aquático, o salão de festas e a atual sede social.
Conjunto Aquático do Ponte Preta
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Pontes
Pontes Nas primeiras décadas do século XIX não era fácil transpor o Rio Paraíba em Jacareí. Assim como Dom Pedro a caminho da Proclamação da Independência, os mais audaciosos atravessavam o rio montados em seus animais. Menos arriscado, entretanto, era cruzar o rio em balsas e canoas. No entanto, durante anos a Coroa teve a prerrogativa de cobrar uma espécie de pedágio para atravessá-lo, competindo a um arrendatário manter um porto e embarcações, conservando parte da renda como pagamento. Como relata Auguste de Saint-Hilaire em sua passagem pela região em 1822, “para atravessar as águas do Paraíba cada pessoa pagava dois vinténs. O dobro era cobrado pelos barcos e cavalos, mesmo estes tendo que atravessar a nado.” Além da separação que o rio impunha aos habitantes, o volume da cultura cafeeira também justificava a construção de uma ponte na cidade. Desta forma, ainda na segunda década do século XIX, o capitão-mor Cláudio José Machado e Manoel Rodrigues Munhoz, sogro do Ajudante Braga, propuseram construir uma ligação entre as duas margens. Aprovado o projeto pelo Governo Provincial, foi erguida uma ponte de madeira com cabeceiras e pilares de pedra. Foram precisos vários aterros para que o novo caminho atingisse a futura Rua da Ponte. A partir dali, conservar a ponte passou a ser um problema. O Arquivo Público do Estado de São Paulo detém alguns ofícios jacareienses requerendo verbas para o conserto do assoalho e do vigamento. Na década de 1850, a mudança do leito do rio através de um “furado” também tirava o sono das autoridades que temiam perder as cabeceiras de pedra. Em 1864, um conserto mais demorado fez a população voltar a pagar pelas travessias em canoas particulares. Em setembro de 1876 a ponte de madeira foi demolida. Uma excelente ponte metálica, de ferro, com piso em assoalho de madeira foi erguida no local. Nesta “ponte preta”, as cabeceiras, as fundações e alguns pilares eram de pedra. No começo do século XX, em 1902, o engenheiro Euclides da Cunha, encarregado das obras públicas do Estado, declarava que a ponte já se encontrava estragada, principalmente as tábuas do piso. Na década de 1920, a rodovia Rio - São Paulo passava por dentro da cidade e a circulação de grande número de veículos trouxe a necessidade da construção de uma nova ponte. 222
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Pontes
Ponte Metálica (Ponte Preta)
APHJ Foto : Nissim Cohen – 1969
Acervo: Luiz José N. da Cruz
Nos anos 1930, o prefeito Francisco Baptista de Moraes mandou construir uma passarela de madeira para que a ponte metálica fosse demolida e o tráfego de pedestres não fosse interrompido. No entanto, a Revolução de 1932 atrasou a obra. Somente em 1935, na gestão do prefeito Hélio Navarro da Cruz, foi construída uma ponte de concreto, com três belos arcos arquitetados para sua sustentação. O progresso chegava e a nova ponte permitia, enfim, tráfego de mão dupla além de servir de trampolim para alguns rapazes impressionarem as moças da cidade.
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Pontes
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Apenas três décadas depois, o uso constante e intenso por carros e caminhões abalou as estruturas da “ponte de arcos” e ela acabou sendo interditada. Em 1966, o governo paulista em vez de consertá-la, resolveu construir uma nova ponte ligando o centro da cidade a uma plantação de arroz, hoje Jardim Flórida. Até hoje esta ponte é conhecida como “Ponte Nova” apesar do nome oficial ser Nossa Senhora do Rosário desde 1990.
Ponte Nossa Senhora do Rosário
Inauguração da Prainha, local que o povo apelidou de “Copacaponte”
Em 1972, a ponte que ligava o centro da cidade ao bairro do São João foi derrubada. Ao lado dela foi novamente levantada uma passarela de madeira para o trânsito de pedestres. A obra da nova ponte, custeada pelo Governo Estadual e Prefeitura Municipal, estendeu-se até 1974. Mais larga e possuindo calçadas laterais, a ponte Nossa Senhora da Conceição continua em uso.
Construção da Ponte - década de 1970
Ponte Nossa Senhora da Conceição
Procurando melhorar o fluxo de veículos na cidade, há anos é anunciada uma terceira ponte ligando a Avenida Malek Assad ao Jardim Emília. Promessas de campanha? Só o tempo dirá. Outras duas pequenas pontes também fazem parte da história da cidade: Em meados do século XX, havia uma balsa particular para atravessar o rio Paraíba no bairro do São Silvestre. O serviço era tarifado e as pessoas contribuí-
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am com o valor que desejassem. Em 1948, o serviço foi municipalizado e o balseiro contratado pela Prefeitura. Somente dez anos depois foi construída a nova e atual ponte. Até a década de 1960, a ponte metálica ao lado do River’s Restaurante fazia a divisa entre Jacareí e Santa Branca. A construção foi autorizada por uma Lei Estadual em Ponte em São Silvestre 1895, entretanto somente em 1900 foi possível contratar a empresa londrina Fry Miers e Cia para o fornecimento de uma ponte de aço, sistema Eiffel, com 63 metros de extensão e 44 toneladas. O Estado incumbiu o escritor e também engenheiro Euclides da Cunha para vistoriar as obras, sendo a ponte finalmente inaugurada em 15 de novembro de 1902. Em 1983, uma nova ponte de concreto foi erguida ao lado da ponte metálica que atualmente está desativada e em ruínas. Ponte Metálica “Euclides da Cunha” - década de 1950
Acervo: Leopoldo José Rodrigues
Prefeitos de Jacareí
Prefeitos de Jacareí Ao longo dos tempos, as cidades foram governadas, ora pelas Câmaras Municipais, ora pelos prefeitos. No período colonial, a Autoridade Régia era representada pelo Capitão-Mor que, nomeado para o cargo, exercia um número maior de funções na administração pública, seja no Executivo, Legislativo e até no Judiciário. Por sua vez, as Câmaras eram eleitas pelos homens brancos, os bons, que nem sempre se entendiam. Muitas vezes as decisões acabavam nas mãos do Rei. No período imperial, eram eleitos o juiz de paz e os vereadores, cabendo a estes a responsabilidade pela vida administrativa das vilas e cidades. Naquela época, havia muita fraude, suborno, pressão e violência para se obter a vitória. 225
Prefeitos de Jacareí
Mulheres, escravos, libertos e pessoas condenadas não votavam. Curioso, também, observar que o eleitor tinha que ter renda de 100 mil réis por ano para ser votante, valor majorado para 200 mil em 1846. Entre 1824 e 1842, a cédula era assinada pelo eleitor e o alistamento eleitoral era feito no dia da eleição, sendo admitido o voto por procuração. As eleições eram realizadas nas Igrejas e precedidas por uma missa especial. Após a votação, era cantado o “Te Deum”, um hino litúrgico. A Câmara Municipal, composta por sete membros nas vilas e nove membros nas cidades, era presidida pelo vereador mais votado. Advindo a República, o regime democrático ainda não ficaria livre das influências do poder econômico. As eleições, mais do que expressar as preferências dos eleitores, por muito tempo serviram para legitimar as elites políticas locais na condução do governo. Somente os homens alfabetizados maiores de 21 anos podiam votar. Em contrapartida, foi abolida a exigência de renda para ser eleitor ou candidato. O Poder Legislativo era exercido por um Conselho Municipal e a cidade governada por um “intendente” que, na maioria das vezes, também era o presidente da Câmara. Em 1930 foi criada a figura do prefeito, tal qual conhecida atualmente. Somente em 1932, durante o primeiro período getulista, foi assegurado o voto feminino. Dois anos depois, reduziu-se a idade da capacidade eleitoral para 18 anos e o prefeito passou a ser escolhido secreta e diretamente pelo povo. Os avanços democráticos retrocederam entre 1937-1945 com a instituição do chamado “Estado Novo”, regime autoritário adotado por Getúlio Vargas que suspendeu as eleições e extinguiu os partidos políticos. Não havia poder Legislativo, somente os poderes Executivo e Judiciário. Em 1947, ao fim da ditadura Vargas, foi restituído o sufrágio universal, o voto obrigatório, direto e secreto, além do retorno do Poder legislativo. A história administrativa da cidade pode ser dividida em quatro períodos:
Fonte: Arquivo Público e Histórico de Jacareí
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Prefeitos de Jacareí
Intendentes eleitos entre os vereadores
Joaquim Miguel Martins de Siqueira - 1889
José Pinto Bastos – 1890
Benedicto Manoel Pinto Ribeiro – 1891
Licínio Lopes Chaves (Barão de Jacarehy) – 1892
Lúcio de Toledo Malta – 1893/1895
Carlos Frederico Moreira Porto – 1895/1898
Diogo de Araújo Ferraz Sobrinho – 1899/1901
João Batista Moreira Porto – 1902/1905
Diogo de Araújo Ferraz Sobrinho - 1905
Francisco Antunes da Costa – 1906/1908
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Prefeitos de Jacareí
Prefeitos da República Velha eleitos pelo povo
Francisco Antunes da Costa – 1908/1910
Luiz Alves Vieira de Lima – 1911/1913
Pompílio Mercadante – 1914/1920
Gusmão Nogueira Porto - 1921
João Ferraz – 1922/1928
Norberto de Alcântara – 1929
Gusmão Nogueira Porto – 1930
Prefeitos nomeados no período Vargas
Antonio Jordão Mercadante – 1930
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Francisco Baptista de Moraes – 1930/1933
Prefeitos de Jacareí
Hélio Navarro da Cruz – 1933/1938
Odilon Augusto de Siqueira – 1938/1940
Gilberto Martins Moreira – 1941
Virgílio Carderelli – 1941
Antonio Alves de Carvalho Rosas – 1942
Odilon Augusto de Siqueira – 1943/1945
Prefeitos eleitos na República Nova
Antonio Alves de Carvalho Rosas – 1946/1947
Roberto Lopes Leal – 1948/1949
Luiz de Araújo Máximo – 1950
Ubirajara Mercadante Loureiro – 1951
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Prefeitos de Jacareí
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Luiz de Araújo Máximo – 1952/1955
João Victor Lamanna – 1956/1959
Antonio Nunes de Moraes Júnior – 1960/1963
José Cristóvão Arouca – 1964/1968
Malek Assad – 1969/1972
Antonio Nunes de Moraes Júnior – 1973/1976
Benedicto Sérgio Lencioni – 1977/1983
Thelmo de Almeida Cruz – 1983/1988
Oswaldo da Silva Arouca – 1988/1992
Thelmo de Almeida Cruz – 1993/1996
Preventório de Jacareí
Benedicto Sérgio Lencioni – 1997/2000
Marco Aurélio de Souza – 2001/2004 e 2005/2008(reeleito)
Hamilton Ribeiro Mota – 2009/2012 e 2013/2016 (reeleito)
Izaias José Santana – 2017/2020 (em exercício)
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Preventório de Jacareí O Preventório de Jacareí foi uma instituição criada pelo Governo Estadual para abrigar filhos sadios de pais portadores de hanseníase. Esta doença recebeu este nome em 1873, homenageando o médico norueguês Gerhard Armauer Hansen, o qual descobriu o bacilo causador da doença, o Microbacterium Leprae que pode ser transmitido pelas vias aéreas ou pelo contato íntimo e prolongado com outros doentes sem tratamento. A “lepra”, como também é conhecida, carrega um estigma social desde tempos anteriores a Cristo, associado a pecados ou culpas gravados no corpo do indivíduo doente. No Brasil Colônia e Império só havia ações filantrópicas contra a hanseníase, não existindo um departamento de saúde pública que atendesse aos doentes.
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Preventório de Jacareí
Cada região tratava do assunto de maneiras diferentes. Em 1884, no Código de Posturas de Jacareí havia um artigo que “ressaltava a importância de proibir a passagem ou parada de doentes morféticos pela cidade sob pena de serem conduzidos ao lazareto da Capital”. No Brasil existiram 36 hospitais colônias para onde eram levados compulsoriamente os portadores de lepra entre 1928 e 1967. No início, principalmente na Era Vargas, a segregação era marcada Gerhard Armauer Hansen por ideais eugênicos que predominavam entre a intelectualidade brasileira. Apesar de a legislação prever o isolamento dos doentes, na prática muitos portadores de hanseníase acampavam pelas estradas e viviam de esmolas. No Estado de São Paulo houve uma intensa campanha contra a doença a partir de um tripé profilático, que procurava segregar as pessoas: os asilos-colônias, os dispensários e os preventórios. Centenas de doentes portadores da hanseníase foram internados compulsoriamente em cinco importantes “leprosários”, sendo pioneiro o Santo Ângelo, em Mogi das Cruzes. Nos dispensários eram realizados exames baciloscópicos para diagnosticar novos casos de doenças. Entretanto, com o internamento dos pais Margarida Galvão portadores da hanseníase, surgiu outro problema: o que fazer com seus filhos sadios? No início, todos eram levados ao Asilo Santa Terezinha, em Carapicuíba, projeto desenvolvido em 1927 por um grupo de senhoras pertencente à liga católica paulista, liderado e presidido por Margarida Galvão, uma importante dama da alta sociedade paulistana. No entanto, a superlotação obrigou o governo estadual a adaptar o antigo Ginásio Nogueira da Gama e fundar em 7 de julho de 1932 o Preventório de Jacareí, que ficaria responsável por receber crianças do sexo masculino maiores de 12 anos e também aquelas com alta médica, egressas de asilos-colônia. A maior parte das crianças era proveniente da cidade de São Paulo e 16 anos era a idade limite para os internos viverem na instituição. No entanto, diante das fichas de
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Preventório de Jacareí
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internamento encontradas nos porões da casa do Viveiro Municipal, pode-se observar que foram acolhidas crianças de várias faixas etárias, desde recém-nascidos até maiores de idade, meninos e meninas, muitos por terem rompido com os vínculos familiares de maneira definitiva.
O Preventório buscava proteger a população sadia, como também disciplinar os internos retirados do seio familiar, prometendo uma “infância sadia, com lazer e educação”. O cotidiano para os internos era mais severo que no Asilo Santa Terezinha, já que as diretrizes da instituição eram pautadas pelo Departamento de Profilaxia da Lepra que nos anos 1930/1945 era dirigido por Francisco Sales Gomes, cunhado de Guido Martins Moreira, dentista jacareiense que dirigiu o Preventório na cidade. Logo que chegavam à instituição, as crianças recebiam uniformes, sendo queimados todos os seus pertences, principalmente as roupas e sapatos. As crianças eram separadas por sexo e idade. Os menores eram encaminhados para a Casa Maternal, localizada na “roça”, numa área de 40 alqueires no Campo Grande. Além dos banhos frios impingidos a todos os meninos, os maus tratos e castigos eram corriqueiros. Quanto à educação, além das matérias obrigatórias havia a prática esportiva, o ensino cívico, trabalhos manuais e algum aprendizado profissionalizante. Em 1947 foi criado o Grupo Escolar Lamartine Delamare nas dependências do
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Preventório. Em um belo casarão no bairro do São João, antiga propriedade de Alfredo Schürig, foi criado o “Lar das Moças” destinado a receber as adolescentes e prepará-las para serem boas “donas de casa”. Diante da ausência dos pais e sem condições de serem adotadas, muitas crianças eram apadrinhadas por membros da sociedade jacareiense, passando, assim, a receber quase tudo do que precisavam para viver dignamente. A partir de 1952, a instituição passou a denominar-se “Educandário de Jacareí”, uma tentativa de retirar o estigma que a nomenclatura “preventório” representava para os internos. Não obstante, o local continuou a segregar menores contribuindo para a formação de um novo grupo social: os filhos de Casa Maternal no Campo Grande leprosos, discriminados por parte da sociedade sadia, que acreditava que a doença era hereditária. Tanto assim, que quando as crianças podiam ir às matinês de cinema, já havia um lugar reservado para os alunos do Educandário. Em 1967, o assistente social Paulo Recco assumiu a direção do Educandário onde fez importantes mudanças no sistema educacional da unidade, humanizando e dando perspectivas de futuro aos internos da instituição. Na década de 1980, houve nova alteração na denominação: Fundação Estadual para o Bem Estar do Educandário de Jacareí Menor – FEBEM, que recebia também órfãos ou aqueles cujos pais haviam perdido a guarda dos filhos. Com a desativação da unidade no início dos anos 1990, o prédio passou a ser utilizado por departamentos públicos municipais. Após mais de sete décadas de política de exclusão e segregação, em 2007 foi criada uma lei instituindo uma pensão especial às pessoas doentes ou sadias que foram atingidas pela hanseníase e submetidas a isolamento e internação compulsórios, uma maneira tardia de compensar financeiramente todos aqueles que sofreram abusos pelas políticas empregadas pelo Estado.
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Preventório de Jacareí
R Ranchinho Diésis dos Anjos Gaia, nasceu em Jacareí em 23 de maio de 1913, filho primogênito de Theódulo e Cecília Gaia. Tinha cinco irmãos: Thesis, Nemesis, Arsis, Chresis e Eleusis, os quatro últimos nascidos do segundo casamento de seu pai. Após o falecimento do patriarca, a família mudou-se para Santos onde Diésis começou a cantar aos 18 anos. Na Rádio Clube local interpretava músicas românticas, principalmente “Rancho Fundo”, composição de Ary Barroso e Lamartine Babo. Vem daí o primeiro apelido, “Rancho”. A parceria com Murilo Alvarenga, mineiro de Itaúna, deu-se em 1933. Diésis, que era baixi- Diésis dos Anjos, o Ranchinho nho, aproveitou o apelido para criar uma das mais populares duplas sertanejas de todos os tempos: Alvarenga e Ranchinho. No início da carreira, apresentando-se em circos, cantavam em duas vozes, basicamente valsas, tangos e chorinhos. Estranhamente, quando a dupla cantava, a plateia ria. Aproveitando estas oportunidades, a dupla passou a incluir piadas entre uma música e outra, tal qual faziam “Jararaca e Ratinho”. Em busca do sucesso, a dupla seguiu para a capital paulista, alterando a maneira de vestir e falar, incorporando o tradicional personagem caipira: camisa xadrez e chapéu de palha. Entre 1934/1935, trabalharam na Rádio São Paulo e participaram de “Fazendo Fita”, primeiro filme falado produzido em São Paulo. Em 1936, já no Rio de Janeiro, após várias apresentações na Rádio Tupi,
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Divulgação
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Ranchinho
Alvarenga e Ranchinho, garotos propaganda da brilhantinha Glostora
Ranchinho no programa “Som Brasil” ao lado de Rolando Boldrin em 1981
gravaram seu primeiro disco pela Odeon, sendo contratados em 1937 por Assis Chateaubriand para estrear nos “Diários e Emissoras Associados”. No auge da carreira passaram a fazer parte do elenco do famoso “Cassino da Urca”, local em que trabalharam até 1946, quando o local foi fechado devido à proibição dos jogos de azar no Brasil. No “Cassino da Urca”, Alvarenga e Ranchinho costumavam fazer sátiras políticas de muito sucesso. Apesar de problemas com a censura oficial, em 1939 foram convidados a cantar no Palácio do Catete no aniversário de Getúlio Vargas. O presidente gostou tanto da atuação da dupla que ordenou a liberação de suas composições em todo o país. No final da década de 1950, participavam dos principais programas de televisão e também das campanhas políticas de Juscelino Kubitschek e Ademar de Barros. Na Rádio Mayrink Veiga receberam o título de “Os Milionários do Riso” em razão de seus muitos sucessos, entre eles “Êh...São Paulo” e “Romance de uma Caveira”. Durante a carreira, muitas vezes Diésis se afastou da dupla. Apesar de engraçado, era boêmio, alcoolista e costumava faltar aos compromissos. Nestas ausências, Alvarenga tinha que trabalhar com outros cantores que continua-
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vam a usar o apelido do artista original. Ao todo, foram três os “Ranchinhos”. Em 1965, Diésis abandonou definitivamente a dupla. Em 1981, pobre, esquecido do público, fumando e bebendo em demasia, morava em Santos quando foi resgatado por Rolando Boldrin para participar do Programa “Som Brasil” na Rede Globo. O “Ranchinho, primeiro e único”, voltou a ser muito elogiado pelo público e pela crítica. Retomou o estrelato e conseguiu superar o vício da bebida. A dependência do tabaco, entretanto, levou-o ao falecimento em 5 de julho de 1991, vítima de câncer no pulmão.
Religiões e seus Templos O principal argumento levado às autoridades para a elevação do povoado à vila em 1653 foi a dificuldade que os moradores encontravam para acudir às obrigações da Igreja. Possivelmente, a primeira das capelas erguida nesta localidade foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição, nome oficial dado ao lugarejo. No decorrer dos tempos, outras capelas foram construídas, quase sempre tendo como referência Nossa Senhora, seja Conceição, Rosário, Carmo, Remédios, Aparecida, Bonsucesso, dentre outras. As igrejas eram o equilíbrio moral da vila e depois cidade. Quase não havendo vida social, nelas se concentravam o lazer e o consolo do povo. Os sinos das igrejas marcavam a passagem do tempo e os acontecimentos, como os falecimentos e nascimentos. As famílias mandavam construir altares e seus membros deixavam em testamento terras, escravos e casas para as igrejas. Pelas esmolas dadas, esperavam ganhar o reino dos céus. Antes da Proclamação da República havia liberdade de crença no Brasil, entretanto a religião oficial era o Catolicismo Romano, sendo os párocos considerados funcionários públicos. Diferentes cultos só podiam ser professados no âmbito dos lares. Isso mudou a partir de um decreto redigido por Rui Barbosa em 1890, quando ocorreu a separação entre o Estado e a Igreja, estendendo-se os direitos à liberdade religiosa. Em Jacareí, a diversidade de religiões pode ser observada pelo censo realizado em 2010 pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os católicos são maioria (63%), seguidos pelos evangélicos (27%) e os espíritas (3%). As
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religiões afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé, representam menos de 1%. Há ainda os que se dizem sem religião, em torno de 6% da população. Os edifícios religiosos podem contar a história de uma cidade. Em Jacareí, podem-se encontram-se igrejas ou templos de quase todas as religiões, afora as sinagógas e mesquitas, que acolhem, respectivamente, os judeus e islamitas. Templos Católicos Jacareí possui duas regiões pastorais que englobam, inclusive, outras cidades. São inúmeras as igrejas e capelas, todas elas ligadas às dez paróquias, cada uma delas possuindo uma igreja Matriz: N. S. Santíssima Trindade, Santa Cecília, N. S. Guadalupe, São José Operário, N. S. Paraíso, Imaculada Conceição, São João Batista, Maria Auxiliadora dos Cristãos, São Silvestre e São Francisco de Assis. - Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição Nossa Senhora da Conceição tornou-se padroeira do Reino de Portugal e de todos os povos de língua portuguesa por uma determinação do rei dom João IV em 25 de março de 1646. Natural, então, que Jacareí fosse fundada em 1653 sob esta inspiração religiosa e denominada Vila de Nossa Senhora da Conceição da Paraíba. O dogma da Imaculada Conceição foi definido pelo papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854. Desde então, este tem sido o nome da Matriz, em cujo Largo são realizadas as festas em homenagem à padroeira da cidade. Os arquivos da Igreja não possuem documentos que comprovem o local onde foi edificada a primeira igreja em invocação a Nossa Senhora da Conceição. Possivelmente, segundo os costumes da época, o núcleo populacional se estabeleceu em um terreno seco, alto e com bons ventos, próximo ao rio para facilitar o transporte de mercadorias. Assim, tudo leva a crer que os primeiros moradores elevaram sua capela nas proximidades onde se encontra a atual igreja, mais conhecida como Matriz. A pequena ermida teria a fachada direcionada para a Rua de Baixo, sendo posteriormente substituída por uma igreja construída ao seu lado. Durante a Colônia e o Império, a Igreja sempre contou com as doações dos governantes e dos devotos, podendo, assim, ser ampliada e reformada. Edificada em taipa em estilo neoclássico, ganhou destaque entre o casario pobre que a circundava. Em 1822, o viajante Auguste de Saint-Hilaire em passagem pelo Vale do Paraíba narrou que a Igreja “era bem grande, mas pouco ornamentada, não caiada por dentro nem por fora”. Na segunda metade do século XIX, a igreja
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passou por uma grande reforma quando foram impressos seus traços atuais, em estilo barroco luso-brasileiro, com detalhes em pedra em sua fachada. O interior do templo, bem dourado, fez a Matriz ser considerada uma das melhores da Província, símbolo político e espiritual da cidade. O altar da Santíssima Trindade foi erigido pela colônia portuguesa da cidade em homenagem ao rei D. Pedro V, logo após sua morte em 1861. Em 1894 recebeu sinos provenientes da Europa. No ano seguinte, a Câmara transferiu para a Matriz seu relógio que fora doado pelo Barão de Santa Branca. Somente em 1910 foi inaugurada a iluminação elétrica no templo. Em 1924, o altar-mor foi substituído pelo atual, em mármore, quebrando a harmonia do conjunto arquitetônico. A nave central da igreja expõe uma cópia não muito fiel de um primitivo Brasão do Império, já que o original foi atacado por cupins.
Igreja Matriz - 2017
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Revista Arquivo Pitoresco de Lisboa – 1862
Interior da Matriz - 1947
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- Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bonsucesso A Irmandade do Bonsucesso foi fundada no começo do século XIX pela família do capitão Custódio Ferreira Braga casado com Ana Joaquina Bittencourt. Um dos seus filhos, José Ferreira Braga, mais conhecido como “Ajudante Braga”, título da Guarda Nacional, casado com Josefina Firmina Braga, mandou erigir uma primitiva capela para abrigar uma imagem encontrada em suas terras em Santa Branca. Anos depois, no mesmo local foi levantada uma igreja para que o Padre Sant’Clair, seu filho adotivo, exercesse a função de pároco. Esta ermida ficava ao lado de sua residência, prédio posteriormente transformado em cinema e que atualmente abriga uma igreja evangélica. Perto da Igreja, os “Ferreira Braga” também instalaram o primeiro cemitério público da cidade e que servia toda a comunidade católica. Apesar da necrópole, como sinal do prestígio que possuiam, o capitão e sua esposa foram sepultados no interior da Igreja do Bonsucesso. O Ajudante Braga, falecido em 1892, apesar dos pedidos feitos ainda em vida, não foi sepultado ao lado dos pais, mas no Cemitério do Avareí. A primeira igreja do Bonsucesso foi demolida no início do século XX. A igreja atual passou a ser erguida de acordo com os recursos doados pela comunidade, sendo as duas torres frontais levantadas em 1924 pelo constru-
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No interior da igreja, no solo e nas paredes internas, existem onze sepulturas, onde jazem, dentre outros, ilustres personagens da história da cidade, como o 1° Barão de Jacareí e Joaquim Miguel Martins de Siqueira. Dentre os vários párocos que atuaram na Matriz, podemos destacar o Padre Ramon Ortiz empossado em 6 de janeiro de 1945 e o Monsenhor Sebastião Faria que assumiu a Paróquia em 1957, fundando a Cruzada de Assistência, a creche “Cantinho da Providência” e o colégio “Maria Imaculada”, recentemente fechado.
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Arquivo Público e Histórico de Jacareí
tor Adolfo Garboci. Entre elas foi colocada uma imagem da santa, doação do benemérito Alfredo Schürig. Origem da Invocação: “Bom Sucesso” era indicado como uma morte feliz, quando Nossa Senhora viria o amparo dos agonizantes. Posteriormente, passou a significar o “Bom Sucesso” em todos os negócios.
- Capela de Nossa Senhora do Rosário Séculos atrás, a Virgem Maria foi utilizada pelos portugueses para cristianizar os africanos, considerados pagãos. No início do período colonial era popular sua devoção entre todas as classes sociais. Entretanto, devido à segregação dos negros, estes acabaram criando irmandades próprias onde tinham maior liberdade de ação. Em Jacareí, o levantamento de uma capela dedicada a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos mostra quão grande era o número de escravos trazidos para a cidade. No século XIX, as Irmandades do Rosário, em sua maioria, eram formadas por negros. A igreja tornara-se um local onde os negros se dirigiam para venerar os santos católicos. Todavia, fora dela poderiam também idolatrar seus orixás. Manifestações culturais diversas, entre elas a Festa do Divino e o Moçambique, eram motivos para a presença dos negros nas festas religiosas.
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Foto: André Junior
Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Muitas cidades e vilas brasileiras já possuíam irmandades do Rosário e igrejas da mesma invocação nos séculos XVIII e XIX. Em Jacareí, a Irmandade de São Benedito teve sua origem na época da escravatura, com referências eclesiásticas em 1838 e 1851, como Irmandade do Rosário e do Glorioso São Benedito. A oficialização veio somente em 1926. Conta-se que os escravos recolhiam as sementes de um capim, cujas contas grossas são denominadas “lágrimas de Nossa Senhora”, e montavam terços para rezar.
A capela de Nossa Senhora do Rosário também é dedicada a São Benedito conforme se observa na sigla na fachada do templo: SBRPN - São Benedito Rogai Por Nós. A antiga ermida já existia na primeira metade do século XIX, levantada por escravos, em estilo colonial-português. Feita em taipa de pilão, ela foi demolida no início do século XX e um novo templo começou a ser construído. Em 1906, o major José Bonifácio de Mattos convidava a população para a colocação da primeira pedra na nova fachada. O obra esteve sob a supervisão do construtor italiano Armando Blois e somente terminada em 1910. A nova igreja mostra uma torre única e centralizada, com cúpula arredondada em estilo bizantino. Em 1928, a família Martins, que exercia comércio no mesmo Largo do Rosário, doou o relógio com algarismos romanos. O altar-mor foi esculpido em 1930 pelo italiano Marino Del Favero. Por várias décadas, a Capela do Rosário foi a preferida pelos noivos na realização de seus casamentos. Há vários anos, entretanto, encontra-se parcialmente fechada para reforma e restauro. Origem da Invocação: cada Ave Maria é uma rosa que se oferece a Nossa Senhora. Um rosário corresponde a 15 Padre-Nossos e 150 Ave-Marias. Tradicionalmente um rosário é dividido em três partes iguais denominadas “Terços”.
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Foto: André Junior
- Capela de São Sebastião A região do Avareí abriga uma das mais antigas igrejas da cidade. A capela dedicada a São Sebastião foi construída em taipa no século XVIII. Anteriormente era denominada Capela de Santa Cruz e tinha a sua frente um cruzeiro de madeira datado de 1728. Na época dos tropeiros, a pequena capela estava localizada à margem da Estrada Geral que ligava São Paulo às Gerais e Rio de Janeiro. Certamente foi ampliada e reformada até atingir o tamanho atual. Nestas obras, dois importantes personagens surgiram em séculos diferentes: Domingos José da Silva, no século XIX, responsável pelos forros, assoalhos, altares e até a colocação dos sinos e também o agrônomo Fernão Paes Leme Zamith, que nas décadas de 1960 e 1970 conseguiu recuperar uma igreja completamente abandonada. O prédio “revela a arte setecentista, com porta no estilo barroco, retábulo simples e quatro falsas colunas”, conforme descrição encontrada no site oficial da Paróquia Imaculada Conceição. A Igreja esteve localizada no terreno da Escola Agrícola até a abertura da Avenida Nove de Julho, com mão dupla de direção. Muitos acreditam que esta capela, mais conhecida como Igreja do Avareí, seria o primeiro templo de nossa cidade. Consideram que o nome provém do tupi-guarani, significando “rio do padre”. José de Anchieta, como preferem alguns entusiastas, seria o pároco, hoje santo, que teria passado por estas bandas. É certo, porém, que os jesuítas ficaram restritos a aldeia de São José. Na Vila de Jacareí, predominavam habitantes vindos de Mogi das Cruzes, ligados a grupos bandeirantes. Estes e os jesuítas
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Religiões e seus Templos
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eram extremamente discordantes quanto ao tipo de colonização. Assim, sendo a Vila de Nossa Senhora da Conceição Paraíba criada em invocação à Imaculada Conceição, padroeira da cidade, a primeira capela da cidade possivelmente foi erguida no local da atual Matriz, logicamente tendo sua dimensão ampliada no correr dos séculos.
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- Santuário de Nossa Senhora do Carmo A antiga igreja foi erguida pela família do capitão Custódio Ferreira Braga em sua fazenda situada no Alto do Carmo, local onde foi iniciada a cultura do café em larga escala em Jacareí. Documentos históricos relatam a existência da pequena igreja já em 1821, sendo demolida na segunda metade do século XX pela empresa da família Seabra que adquiriu o terreno e prometeu uma pronta reconstrução. Entretanto, a atual igreja somente foi projetada em 1987 pela arquiteta Maria Luiza Porto Mello.
- Matriz de São João Batista A Paróquia São João Batista foi criada em 1968, desmembrada da Matriz Imaculada Conceição. Contudo, a primeira igreja localizada na Avenida São João já aparecia em documentos de 1880. Hoje ela é dedicada a Nossa Senhora de Fátima. O Cônego Antonio Borges Serra foi o primeiro pároco da Paróquia São João e esteve a sua frente até 1988. O templo atual, localizado na
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Arquivo Público do Estado de São Paulo
Avenida Santa Helena, teve sua pedra fundamental lançada na década de 1970. A partir de 2005 iniciou-se um processo de reformas e ampliações. Em 2006, foram colocadas no altar as relíquias “ex ossibus” dos Apóstolos São Filipe e São Tiago Menor. No templo também estão sepultados os restos mortais do Cônego Borges.
Capela N.S. Fátima
Pedra Fundamental da nova igreja (Cônego Borges e Laudo Natel)
APHJ
- Capela de Santa Cruz dos Lázaros No início do século XX, o local chamado Água Espraiada era ermo, afastado da cidade e evitado pelas pessoas, uma vez que leprosos vindos de cidades vizinhas ali se instalavam para esmolar, origem do nome da capela fundada por um devoto chamado José Pereira e reformada, muitas décadas depois, pelo Dr. Roland Chedid Habeyche.
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- Capela Nossa Senhora Aparecida Em 1951, a missionária de Jesus Crucificado, Irmã Maria Conceição de Jesus Agonizante, sentiu a necessidade de catequizar os filhos de hansenianos abrigados no Educandário Margarida Galvão. Para isso, auxiliada por Dona Geraldina de Oliveira, buscou construir uma capela em invocação a Nossa Senhora Aparecida do Educandário. Nas proximidades onde a lenda diz que a imagem da Imaculada Conceição foi lançada às águas, ambas receberam em doação um terreno alagadiço às margens do rio Paraíba. A igreja foi inaugurada em 15 de agosto de 1959. A festa de Nossa Senhora Aparecida é realizada no dia 12 de outubro.
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- Capela de Nossa Senhora dos Remédios
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Localizada na confluência das rodovias Jacareí/Guararema e Presidente Dutra, a capela foi supostamente construída no final do século XVIII, em taipa de pilão. É um exemplar típico da arquitetura rural da época do Brasil Colônia. Estando distante do centro urbano, a capela sempre foi alvo de furtos: a imagem de N. S. Remédios Capela de N. S. dos Remédios com a antiga torre foi roubada juntamente com o oratório, bem como a imagem de Santa Maria e do Senhor dos Passos. Até os sinos foram roubados. A obra primitiva teve acréscimos posteriores como a torre em alvenaria de tijolos, eliminada na década de 1980 por
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estar em ruínas. Internamente possui um retábulo com trabalho em madeira policromada talhada. Esta igreja é um dos três prédios localizados na cidade e tombados pelo Condephaat. Infelizmente, a igreja encontra-se novamente em ruínas, tomada por cupins. Capela de Nossa Senhora dos Remédios
- Mosteiro Ain Karim Este mosteiro é conduzido pelo sacerdote católico Antonio Maria, que busca evangelizar através do canto e dos meios de comunicação. Ain Karim era uma aldeia a sete quilômetros de Jerusalém onde nasceu São João Batista. O local é dedicado à oração e devoção a Nossa Senhora do Novo Caminho.
Templos Evangélicos Antes da separação entre o Estado e a Igreja Católica, outros cultos cristãos e estudos religiosos eram realizados nas residências dos adeptos. Jacareí foi a primeira cidade do Vale do Paraíba a receber o Evangelho através da Missionária Anne Marie Andrews e seu marido Dr. Grahan.
Padre Antonio Maria
Igreja Cristã Evangélica em obras – 1961
Site: www.icecentraljacarei.com.br
Mosteiro Ain Karin
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Atualmente, as igrejas são numerosas e diversificadas. Dentre os evangélicos, há diferentes grupos como os tradicionais (Presbiteriana, Batista, Metodista), os pentecostais (Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Evangelho Quadrangular) e os neopentecostais (Universal do Reino de Deus, Internacional de Graça de Deus). Pode-se ainda citar os Adventistas, os Mórmons da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e as Testemunhas de Jeová. O primeiro culto da Igreja Cristã Evangélica foi realizado em 14 de julho de 1907 na Rua Nova. Na ocasião, a igreja católica fazia uma grande oposição aos evangélicos tanto que os protestantes foram responsabilizados pela enorme chuva de granizo que desabou na cidade naquela data.
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A Assembleia de Deus é a maior igreja pentecostal na cidade
A Congregação Cristã do Brasil mantém um padrão arquitetônico e cor de seus templos para fácil identificação de seus membros
Igreja Presbiteriana em Jacareí – Fundação: 1969
Primeira Igreja Batista em Jacareí - Fundação: 1966
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Espíritas A maioria dos Centros Espíritas realiza encontros, palestras, cursos para melhor difundir a cultura e a doutrina, além de contribuir para a sociedade. O primeiro Centro Espírita em Jacareí denominado “Amor e Caridade” foi fundado pelo coletor federal e coronel da Guarda Nacional Francisco de Paula Ortiz que o presidiu até sua morte em 1914. Ortiz era conhecedor de homeopatia e utilizava seus conhecimentos para aliviar os sofrimentos dos necessitados. Abraçou a doutrina dos espíritos graças à amizade que mantinha com Henrique de Macedo. Unido aos recursos espíritas, distribuía conforto espiritual e gêneros de primeira necessidade.
Francisco de Paula Ortiz
Centro Espírita “Paula Ortiz”
O Centro Espírita “Paula Ortiz” foi fundado em 7 de agosto de 1921 por amigos do homenageado. Primeiramente era localizada na Rua Municipal e hoje tem sede na rua Olimpio Catão. Em 1948, construiu o Albergue Noturno e ofereceu amparo aos desabrigados que antes recostavam-se no saguão da Estação Ferroviária ou na Cadeia. O Centro Espírita “Amor a Jesus” foi fundado em 15 de novembro de 1932 por Joaquina Eugênia de Carvalho na Rua Alfredo Ramos. Após o desencarne da fundadora, a sede foi transferida para a Rua do Carmo. Em 1945 transferiu-se para as dependências da Associação Humanitária Amor e Caridade aceitando convite formulado pelo Capitão José Neves BicuCentro Espírita “Amor a Jesus” do. Em 1954, na presidência da Sra. Leo-
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nor Máximo, fundou sede própria ao lado do asilo mantido pela Associação. Em 2001 transferiu-se para a sede atual com 650 m², liberando o espaço anterior para o atendimento dos abrigados. Após dois anos recebendo mensagens psicografadas em sua residência, o casal Paulo e Marici Accioly fundou em 19 de março de 1977 a Fraternidade Espírita Batuíra. Com o crescimento do grupo de pessoas dedicadas aos trabalhos da casa, fez-se necessário a construção de uma sede própria, projeto iniciado com a doação de um terreno no Parque Brasil pela D. Julinha Bonnano. A inauguração deu-se em 1978. Em 1991 iniciou-se um trabalho direcionado às mães gestantes carentes, embrião do que viria ser o BPR – Batuíra Projeto Renascer – “Entidade Espírita de Amparo à Mãe Gestante”. Batuíra era o apelido de Antonio Gonçalves da Silva, português nascido em 1839. Em São Paulo, já adulto, ajudava os necessitados e conseguia curas com o tratamento de água fluidificada e passes que ministrava.
Centro Espírita Batuíra
Cultos Afro-Brasileiros
Templo Terra Nascente – Veraneio Ijal
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BPR – Batuíra Projeto Renascer
A umbanda é considerada uma religião totalmente brasileira, criada a partir de características e misturas de crenças do catolicismo, espiritismo e demais religiões de origens africanas e indígenas. Os cultos aos orixás e seus guias são realizados em templos, terreiros
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ou centros, onde as entidades são incorporadas pelos médiuns, fazendo aconselhamentos ou abençoando as pessoas presentes. Em Jacareí, a Tenda Espírita Oxalá, Ogum e Oxóssi, é o terreiro mais longevo, criado na década de 1940 por Serafim e Geraldo, este conhecido por Pancho, ambos vindos do Rio de Janeiro. Originalmente estabelecida na Rua João Parente, desde 1953 a Tenda mantém suas atividades na Rua Antonio Esaú, no Jardim Bela Vista, sempre com o mesmo líder espiritual, o Caboclo Tupi.
Tenda Espírita Oxalá, Ogum e Oxóssi
Em Jacareí podemos encontrar organizações filosóficas comparadas a uma religião:
Seicho-no-ie em Jacareí
A SGI (Soka Gakkai Internacional) é uma associação budista que tem como base o pensamento do monge japonês Nichiren Daishonin, que tem como prática principal a recitação do mantra “Nam-Myoho-Rengue-Kyo” e como livro fundamental, o Sutra do Lótus.
A Seicho-no-ie é uma filosofia de vida de origem japonesa que se caracteriza pelo não-sectarismo, pelo estímulo ao auto-aperfeiçoamento espiritual, pela reverência aos antepassados e pela harmonia entre a humanidade e a natureza.
Sede Regional da Soka Gakkai Internacional
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República
República A República, assim como a Independência, não foi resultado de uma campanha popular. Alguns intelectuais republicanos, jornalistas e advogados encontraram nas casernas, a força para aplicar um golpe militar. Apesar da origem da palavra (rés: coisa; pública: de todos), a República interessava somente à camada dominante e não trazia a ideia de igualdade social. Terminada a Guerra do Paraguai e assinada a Lei Áurea, tanto os barões de café quanto os oficiais e soldados estavam descontentes com a monarquia. Este desgaste permitiu que Benjamin Constant, cérebro da revolução, e Deodoro da Fonseca, símbolo no meio militar, pudessem se unir e derrubar o trono. O Brasil era uma monarquia cercada de repúblicas por todos os lados. Apesar de tentativas frustradas de Tiradentes e Frei Caneca, que morreram pela causa, os republicanos continuaram a defender a mudança do regime. Nem todos, porém, eram radicais. Uns até defendiam aguardar a morte de Dom Pedro II ou então alcançar o poder pela força das urnas. No dia 15 de novembro de 1889, o Imperador Dom Pedro II, 64 anos incompletos, estava em Petrópolis. Ignorava conselhos para que reagisse diante das evidências de uma conspiração contra a Monarquia. Dizia ele: “Conheço os brasileiros, isso não vai dar em nada”. Apesar de Monarca, ele tinha inegáveis simpatias republicanas e tolerava opiniões divergentes. Ligava pouco para o poder. Inclusive, nos últimos meses do Império, Dom Pedro decidiu levar à votação da Câmara dos Deputados o fim da monarquia. Queria ser eleito presidente, abdicando ao trono caso a República fosse aprovada. A idéia, entretanto, não foi levada adiante pelo chefe do Conselho de Ministros. A corrente adversa trazia para ser o líder da proclamação, um Deodoro idoso e doente. Ele não era um republicano. No golpe planejado, ele agiu pressionado por seus companheiros de armas e também por certo ressentimento contra o Governo Imperial. Sem condições sequer para vestir a farda, reuniu forças e foi de charrete para o Campo de Santana. Na praça encontrou seiscentos soldados golpistas armados com espadas e fuzis postados diante do quartel onde estavam os ministros. A grande maioria não estava ciente de que se pretendia derrubar a monarquia. Nem o Marechal, o qual queria somente destituir o ministério. Cambaleante, montou um cavalo e surpreendentemente, com voz firme e decidida, passou a disparar ordens e organizar as tropas. 252
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República
Deodoro em nenhum momento proclamou ou deu vivas à República. O fato acabou sendo consumado pela incapacidade do poder imperial de resistir à própria implosão. Na mesma noite, o Governo Provisório anunciou que o exército e a Armada haviam decretado a deposição da família imperial e o Jornal Correio do Povo de 16 de novembro de 1889 fim da monarquia. Em nenhum momento mencionou-se a palavra “república”. Ao final do glorioso “15 de novembro”, na falta de novos símbolos brasileiros, cantou-se “A Marselhesa”, hino francês. Hasteou-se, também, uma bandeira, parecida com a norte-americana, só trocando as cores para verde e amarelo. A bandeira atual, com a expressão “Ordem e Progresso” foi inspirada no positivismo do filósofo francês Auguste Comte, cujo lema era “o amor por principio, a ordem por base, o progresso por fim”. No interior de São Paulo, a cidade de Itú destacava-se como o berço do mais organizado movimento republicano. Em Jacareí, somente aqueles bem informados, pertencentes à classe média e que detinham certa riqueza, poder e influência política aderiram à causa. Eram republicanos o major Acácio Ferreira, Luiz Simon, Lamartine Delamare, Antonio Gomes de Azevedo Sampaio, coronel Luiz Lima, Antunes da Costa, entre outros. Mais que uma ideologia política, ser republicano era sinal de modernidade. Um Clube Republicano, fundado por Joaquim Miguel Martins de Siqueira, buscava propagandear as novas idéias. Entretanto, a grande massa da população, pobre e analfabeta, não estava preparada para participar do movimento. Desta forma, ninguém esperava nada daquela sexta-feira, 15 de novembro. Os habitantes viviam a costumeira rotina de uma cidade do interior. Até a Câmara Municipal, em sessão ordinária às 14 horas, nada discutiu a respeito do assunto. Por dois dias, o fato não veio ao conhecimento da população e tudo transcorria normalmente. A notícia da queda do Império se espalhou graças ao telégrafo. Mensagens foram disparadas para os presidentes das províncias e para os clubes republicanos. No domingo, dia 17, a Câmara se reuniu em sessão extraordinária para tratar do acontecimento. O telegrama recebido dizia que a
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Revolta do Sal
“dinastia imperial havia sido deposta bem como extinto o sistema monárquico. A instituição de um governo provisório cuidaria de garantir a ordem pública, a liberdade e o direito dos cidadãos.” Lida a mensagem, houve uma sequência intensa e entusiástica de aplausos. Proclamada a República, a nobreza na cidade, representada pelos barões, perderia seus privilégios e favores da Corte. Num ato de lealdade ao antigo Imperador, o 2° Barão de Jacareí renunciaria ao cargo de vereador em 2 de dezembro de 1889. O povo, pego de surpresa, sem saber o que aquilo realmente significava, continuou pouco entusiasmado, tocando a vida. Em janeiro de 1890, a Câmara Municipal foi dissolvida por ordem do Governador do Estado. Um conselho de Intendência, presidido pelo Dr. Joaquim Miguel, assumiu a administração da cidade. Dom Pedro II partiu para o exílio no dia 16 de novembro de 1889. Levou consigo um travesseiro contendo terras das províncias brasileiras com o qual foi sepultado em 1891. A monarquia, sistema que vigorou no país por mais de meio século, caiu sem ter quem morresse por ela. Derrubada a monarquia, o sonho de liberdade se dissipou. Em alguns anos, o país estava mergulhado na ditadura sob o comando de Floriano Peixoto. A República Velha, comandada pela aristocracia rural, durou até 1930. O povo continuaria sem vez e sem voz. Em Jacareí, de maneira a perpetuar a data, logo após a Proclamação da República, a antiga Rua da Ponte foi denominada Rua Quinze de Novembro.
Revolta do Sal Na época do Brasil Colônia, a Coroa Portuguesa exercia o monopólio na produção e comercialização do sal. O preço, elevado e injusto, provocava grande escassez daquele ingrediente indispensável na conservação dos alimentos e na ração do rebanho bovino. Em Jacareí, numa fortaleza no Bairro da Angola, o temido e rico fazendeiro Bartolomeu Fernandes de Faria, casado com Francisca da Cunha, vivia como um verdadeiro senhor feudal, rodeado de filhos legítimos e bastardos. Nascido em São Paulo por volta de 1640, havia exercido os cargos de Juiz Or-
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dinário e de Órfãos e tesoureiro da Casa da Moeda, Minas e Quintos Reais. Em 1670, um grupo de lavradores e criadores de gado havia se queixado à Câmara Municipal de São Paulo acerca dos abusos cometidos pelos comerciantes da cidade de Santos. Diante do descaso do Governo Português, atravessadores costumavam estocar sal para destiná-lo ao mercado europeu. Internamente, o preço só fazia subir. Quarenta anos depois, no final de outubro de 1710, depósitos daquela cidade estavam abarrotados do produto vindos de Cabo Frio. Sabendo disto, Bartolomeu, enfurecido, resolveu fazer justiça com as próprias mãos: arregimentou um exército particular com mais de 200 homens, entre agregados, índios e escravos e partiu em direção ao litoral. Fortemente armados, desafiaram a lei e coagiram o Provedor da Fazenda Real, Timóteo Correia de Góis, a entregar parte do produto. A “multidão de carijós” que acompanhava o “bandeirante” e a tropa de burros carregaram a quantidade de sal requerida, suficiente para atender as necessidades dos “povos da Serra Acima”. Apesar da imposição, o ato não foi violento e tampouco se constituiu em roubo, pois foi pago o preço justo e o imposto devido. Na volta à Vila de Jacareí, temendo a infantaria de Santos e buscando retardar a perseguição, Bartolomeu destruiu a Ponte de São Jorge em São Vicente. Daquela aventura, porém, não saiu ileso, sendo posteriormente processado em 1711. A Coroa, pouco interessada em alimentar a imagem de justiceiro social, procurou realçar outros crimes comuns por ele cometidos. E foram muitos, inclusive assassinatos. Sua prisão e castigo tornaram-se metas perseguidas de forma quase obsessiva pelos administradores da justiça. Diversas diligências foram enviadas para tentar capturá-lo. Ele e seus comandados, entrincheirados em seu forte, a todos recebiam à bala. Em 1713, o homem mais “caçado” da Capitania retirou-se da Vila de Jacareí e refugiou-se no “Sítio Jacira”, propriedade às margens do Rio Ribeira, próximo à Iguape, lugar de difícil acesso para a justiça metropolitana, onde resistiu por alguns anos. Em 1718, o célebre fora-da-lei acabou sendo preso na Vila de Conceição de Itanhaém. Todas as suas posses foram confiscadas, inclusive seus índios, remetidos a diversos aldeamentos de São Paulo. Colocado à ferros, foi enviado a Salvador, Capital da Colônia, para ser julgado no Tribunal da Relação, onde sequer chegou a ser ouvido. Em 1719, acometido pelo desânimo, pela idade e pela “bexiga” (varíola), morreu nas galés*. Seu enterro foi realizado por religiosos através de esmolas doadas pelo consternado povo baiano. Este fato, conhecido como a “Revolta do Sal”, não resolveu o problema, pois a
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carestia do produto permaneceu mesmo depois da extinção do monopólio em 1801. A “figura heróica” de Bartolomeu Fernandes de Faria reflete o caráter dos paulistas da época colonial: independentes, auto-suficientes e, sobretudo, resistentes à autoridade externa. Sua trajetória não foi esquecida: além do brasão da cidade de Jacareí trazer em seu escudo uma referência à muralha de sua casa-forte, uma rua da cidade e outro logradouro em São Paulo homenageiam este notável “sertanista”.
Galés eram trabalhos forçados
Revolução de 1932 São Paulo e Minas Gerais eram os estados mais ricos e influentes durante a República Velha. Seus representantes, numa “política do café com leite”, alternavam-se na Presidência da República. Porém, em 1930, o presidente Washington Luís rompeu a aliança e indicou outro paulista, Júlio Prestes. Este acabou vencendo as eleições, mas não assumiu o cargo. As oligarquias mineiras, articuladas com os estados do Rio Grande do Sul e Paraíba, através de um golpe de estado, colocaram Getúlio Vargas, o candidato derrotado, no Palácio do Catete. O caudilho gaúcho passou a governar de maneira autoritária, anulando a Constituição de 1891 e instaurando um governo provisório. As elites paulistas, representadas pelo Partido Republicano Paulista, o PRP, acabaram perdendo o poder sobre a política brasileira. São Paulo, o estado mais rico da federação, ficou submisso ao novo governo e teve seu governador trocado por um interventor não-paulista. A oposição à Vargas era grande e São Paulo exigia uma nova Constituição além de novas eleições para presidente da República. A maioria da população paulista aprovava as exigências das elites tradi-
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cionais. Entretanto, havia um grupo de tenentes do “Clube Três de Outubro” que apoiava Getúlio. No dia 23 de maio de 1932, estudantes da Faculdade do Largo São Francisco protestavam contra a ditadura e tentaram invadir o clube tenentista. Foram recebidos à bala. Morreram quatro jovens: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Uma quinta vítima, Alvarenga, baleado no conflito, viria a falecer meses depois. Após este incidente, organizou-se um movimento conspiratório denominado MMDC que passou a articular uma luta armada. Em 9 de julho teve início a Revolução Constitucionalista. Alguns historiadores contestam o terAzênio de Azevedo Chaves mo “revolução” já que era um movimento liderado por uma elite derrotada querendo voltar ao poder. O movimento mobilizou 35 mil homens e tinha como lema “Um São Paulo grande dentro de um Brasil maior”. Exceto Mato Grosso, nenhum outro Estado aderiu à causa paulista. Vargas, por seu lado, manipulava a opinião pública dizendo que São Paulo queria separar-se do Brasil. Assim, conseguiu o apoio do restante do país, principalmente sulistas e nordestinos. A luta, desigual, obrigou os paulistas a improvisar um sistema defensivo em suas fronteiras. Na falta de armamentos e munição, inventaram até um artefato denominado “matraca” que imitava o som de metralhadoras. No dia 3 de outubro, após quase três meses de batalha e um saldo oficial de 934 mortos, os constitucionalistas renderam-se às tropas federais na cidade de Cruzeiro. Apesar da derrota, politicamente o movimento atingiu seus objetivos já que algumas das reivindicações foram posteriormente atendidas. Armando de Sales Oliveira, um civil, foi nomeado interventor e em 1934 foi promulgada uma nova Constituição. Jacareí localizada entre São Paulo e Rio de Janeiro sofreu os efeitos da Revolução. A movimentação de tropas pelos trilhos da Estrada de Ferro mobilizava a cidade. Assim como todos os paulistas, os jacareienses, fossem da elite ou operários, procuraram ajudar de alguma forma. Muitas pessoas recolhiam
Acervo de Família
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ferro para auxiliar na fabricação de munição para os soldados. A Prefeitura Municipal tomava as primeiras providências para o alistamento de voluntários. Autoridades, como o Juiz de Direito Dr. Paulo de Oliveira Costa e o Promotor Público Dr. Armando Azevedo, participaram ativamente dos preparativos. Alfaiates confeccionavam fardas, ajudados pela efetiva participação das mulheres no movimento. Ligas pró-soldados cuidavam do abastecimento do exército paulista, recebendo e encaminhando alimentos, agasalhos, medicamentos, munição e armas para os campos de batalha. A Estação Ferroviária, assim como a Escola Coronel Carlos Porto, bem como várias casas e salões, foram adaptados para depósito dos donativos. Para alimentar as tropas e os re-
Reunião na alfaiataria do Sr. Edílio na Praça Conde Frontin. Entre outros: Maria José Loureiro, Eunice de Barros, Ana Costa, Ruth Marcondes, Adelaide Cruz, Maria Cândida Dias, Silvina Freire, Dona Amélia, Dona Adolfina Moreira Almeida, Dona Elvira, Sabrina Miragaia, Prof. Carvalho e Paraguay Zonzini
tirantes provenientes das zonas de batalha, o Educandário foi transformado em cozinha central para mais de 3 mil pessoas. O farmacêutico Odilon Siqueira foi convocado para prestar assistência aos feridos. A Santa Casa prestou inestimáveis serviços, recebendo e tratando aqueles vindos da linha de combate. A população local procurava se proteger. A ponte sobre o Rio Paraíba e um túnel existente entre Jacareí e Guararema eram guardados dia e noite. Casamatas de trincheiras protegiam as cercanias de um pequeno campo de aviação construído para emergências. Muitos voluntários foram lutar na frente de batalha. Entre os 85 combatentes que partiram de Jacareí, três deles tornaram-se heróis por tombar na defesa do Estado: o sargento Acrísio Santana, ferido por uma granada em combate próximo à cidade Areias, falecendo em Silveiras aos 29 anos; o soldado Pedro de Souza Ramos, morto por uma rajada de metralhadora aos 19 anos em São José do Barreiro e Gabriel Soares, voluntário pelo 4° Batalhão de Piracicaba, que
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Fotos: Arquivo Público e Histórico de Jacareí
morreu atingido por uma bala de fuzil aos 28 anos. Benoni Cardoso, Venâncio Ramos e José Amaral Palmeira, nascidos em Jacareí, também morreram pelo ideal paulista. Após a capitulação de São Paulo, iniciou-se a retirada dos combatentes, sendo Jacareí tomada militarmente por tropas federais. Apesar da ocupação pacífica, a população local sentiu-se humilhada pelos soldados de Vargas. Dois anos depois, em 1934, os restos mortais dos heróis jacareienses foram trasladados para a cidade. Após uma cerimônia na Igreja do Rosário, o enterro seguiu para o Cemitério do Avareí onde foram sepultados em um mausoléu doado pela família Schürig. Na mesma ocasião, em torno desta mesma igreja, o prefeito Hélio Navarro da Cruz deu nome a três ruas em homenagem àqueles combatentes.
1934 - Cortejo das cinzas dos soldados
Mausoléu no Cemitério Campo da Saudade
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Rio Paraíba do Sul
Rio Paraíba do Sul
Foto: Roberto Cambusano
Estudiosos da língua tupi-guarani dizem que “Paraíba” significa “rio ruim” (pará, rio grande + aíb, ruim) talvez se referindo a algum trecho onde a navegação fosse prejudicada por causas naturais como corredeiras ou forte declividade. Deve-se lembrar que Paraíba é nome de Estado brasileiro onde também corre um rio chamado Paraíba, que banha a cidade de João Pessoa. O rio Paraíba do Sul já foi navegável desde a Freguesia da Escada até Cachoeira de Lorena, numa época em que se transportavam tábuas, cerâmica e toucinho. Quando o café se tornou a principal mercadoria da região, pequenos vapores mantidos por fazendeiros ligavam algumas cidades e vilas do Vale.
Rio Paraíba do Sul
O rio Paraíba do Sul foi fundamental na penetração do sertão pelos primeiros desbravadores e sua importância se reflete no nome da região e da cidade: “Vale do Paraíba” e “Vila de Nossa Senhora da Conceição da Paraíba”. Na história da cidade, o rio muitas vezes aparece em destaque: Dom Pedro o atravessou a cavalo a caminho da Proclamação da Independência e décadas depois, quase no centro urbano da cidade, houve o desvio de seu leito, fato que ficou conhecido como “abertura do furado”. Para os brasileiros católicos, o Paraíba é um rio abençoado já que em 1717 uma imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada por pescadores em Guaratinguetá. A imagem “aparecida” em suas 262
Rio Paraíba do Sul
Acervo: Cláudio Cambusano
águas se tornou a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. O rio Paraíba do Sul é formado pelo encontro de outros dois rios no lago da barragem da hidrelétrica de Paraibuna: o Paraitinga é o mais extenso, tendo nascente no município paulista de Areias, na Serra da Bocaina, a cerca de 1.800 metros de altitude, numa região conhecida como Várzea da Lagoa. Na cidade de Cunha nasce o outro rio, o Paraibuna. O rio Paraíba, após atravessar os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, deságua na Praia de Atafona, na cidade fluminense de São João da Barra, quase na divisa com o Estado do Espírito do Santo. Tem um percurso total de 1.120 km, considerando-se a nascente do rio Paraitinga até a foz no Atlântico. Se não fosse sinuoso, em linha reta teria menos de 400 km. Inicialmente, ele corre em direção ao sul. No entanto, ao chegar à Guararema faz uma volta e ruma desta vez para o norte. Passa por 162 municípios e suas águas recebem inúmeras barragens e represas que garantem o suprimento de água e energia para milhões de pessoas. Em seu trajeto, recebe água de vários pequenos rios. Em Jacareí, seu principal afluente é o Rio Comprido.
Enchente no Jardim Liberdade
Atualmente, uma parte do rio Paraíba do Sul encontra-se em estado ecológico crítico. Até chegar à barragem de Paraibuna ele preserva não só a vazão como também a paisagem. A partir dali, ao chegar às grandes e médias cidades, tem suas margens desmatadas e suas águas assoreadas e poluídas por efluentes tóxicos.
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Rotary Club
Além do rio Paraíba do Sul, os rios Parateí, Jaguari e Turi também cortam a cidade de Jacareí, este último servindo como canal de drenagem natural das águas pluviais e emissário dos esgotos urbanos, atualmente envolvido em custosa obra de saneamento.
Rotary Club O primeiro Rotary Club foi fundado na cidade de Chicago em 23 de fevereiro de 1905 pelo advogado Paul Percy Harris, que buscava a interação de profissionais de diferentes setores e o fortalecimento de seus vínculos de amizade com o objetivo de contribuir com diferentes comunidades. O Rotary é definido como um clube de serviços, sem fins lucrativos, filantrópico e social. É a maior Organização Não Governamental do mundo, encontrando-se representada em 207 países. Sua denominação e seu logotipo remetem a uma roda dentada já que o local onde os sócios reuniam-se era originalmente rotativo. Seu lema principal é: “Dar de si antes de pensar em si”. Os rotarianos exercem serviços voluntários não remunerados, usando um pequeno broche (pin) como forma de se identificarem. Pelo mundo, vários membros do clube tiveram destaque em suas áreas como Albert Sabin, George W. Bush e Ronald Reagan, dentre outros. Mundialmente, o Rotary possui dois programas dedicados aos jovens: o Interact (14/18 anos) e o Rotaract (18/30 anos) que funcionam sob a supervisão e liderança dos Rotary Clubs patrocinadores, onde os membros têm a oportunidade de prestar serviços às comunidades, além de desenvolver a capacidade de liderança. Paul Harris, fundador do Rotary Club Muitos deles utilizam de um amplo programa 264
Acervo: Rotary Club Jacareí
Rotary Club
de intercâmbio para viajar para diferentes países com o objetivo de estreitar os laços de amizade e fraternidade entre as diversas nações em todo o mundo. O primeiro clube no Brasil foi fundado no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1922. Atualmente, são mais de 2 mil clubes, autônomos por si e que respeitam a hierarquia e as normas básicas emanadas da direção geral que é comandada por um Presidente Mundial. Assim, utilizando o vasto conhecimento de sua rede de voluntários, todos os clubes participam da Campanha Mundial de Erradicação da Poliomielite idealizada pelo Rotary International em 1985. Em Jacareí, existem seis clubes rotarianos: Rotary Club Jacareí, Jacareí Oeste, Jacareí Avarehy, Jacareí Flórida - 3 de Abril, Jacareí Athenas Paulista e Jacareí Empreendedorismo. O primeiro deles foi criado em 7 de junho de 1956 no prédio da Associação Comercial, tendo como presidente Hildebrando Passanezi. Dentre os sócios fundadores podemos destacar Odilon Augusto de Siqueira, Thelmo de Almeida Cruz, Aureliano Sales de Oliveira, Caio Santos, Jued Nader, Orlando Felipe Bonanno e Jucy Madid. A instalação oficial e solene deu-se em 30 de setembro daquele ano em cerimônia prestigiada pelo prefeito João Vitor Lamanna e outras autoridades. Na ocasião, buscando simbolizar a “Amizade”, foi plantada uma muda de ipê na Praça do Rosário. Um grande almoço comemorativo para 250 pessoas foi oferecido no Trianon Clube. Ao longo dos anos, vários serviços foram realizados pela fraterna família rotária podendo-se destacar a arborização de logradouros públicos, instalação de parques infantis em bairros carentes, campanhas de Natal para asilados, construção de uma escola Rotary rural e a doação de um monumento à bandeira erigido em frente ao Paço Inauguração da Escola Rotary Rural Municipal. Além disso, foram constantes os auxílios à Santa Casa, à Cruzada de Assistência, à JAM – Jacareí Ampara Menores e a todos os asilos da cidade. O Rotary Clube em Jacareí foi reconhecido pela Assembleia Legislativa Estadual e pela Câmara de Vereadores local como de utilidade pública tendo em vista sua efetiva representação na vida pública, social e profissional da cidade.
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Ruas e Praças
Ruas e Praças O povoado que deu origem à cidade de Jacareí não recebeu qualquer planejamento no traçado das ruas. As famílias iam chegando, cada qual levantando sua casa nos lotes de terra doados pela Câmara ou simplesmente avançando sobre terrenos devolutos. Enquanto a movimentação principal se dava na roça, na parte urbana, os caminhos e trilhas iam nascendo espontaneamente. Estreitos e tortuosos, muitas vezes levavam os habitantes ao rio ou simplesmente ligavam uma casa a outra. O crescimento da população obrigava a criação de novos espaços. Cada abertura de rua estimulava o aparecimento de outra. Primeiramente apareceram apertados quarteirões no entorno da Matriz. A seguir, as ruas foram avançando pelos morros e também pelos terrenos outrora alagadiços.
“Villa de Jacarahy” – 1821 - Desenho do álbum de Arnaud Julien Pallière - Instituto de Estudos Brasileiros da USP-
Os primeiros alinhamentos de ruas e travessas deram-se atrás do Largo do Bonsucesso. Estacas foram fincadas e terrenos foram demarcados. Sem calçamento, as ruas se enchiam de pó que se levantava na hora da varrição. Aos poucos, as ruas foram recebendo guias, calçadas e cascalhos. Inicialmente as ruas e as casas não recebiam nomes oficiais ou números. 266
Ruas e Praças
Os logradouros eram conhecidos por alguma particularidade especial e as casas eram identificadas por quem nela morava ou pelo comércio exercido. Somente a partir de 1809 surgiu a necessidade de numerar as casas e registrar os logradouros públicos. Até a década de 1920 bastava somente o nome na correspondência para que as cartas chegassem aos destinatários. No decorrer dos tempos, os nomes originais passaram a receber alterações e as designações populares foram substituídas por nomes de personalidades, geralmente locais. Entretanto, alguns apelidos se mantiveram e outros surgiram pelo uso comum da população.
Foto: Luiz Cesar Siqueira
Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Praça Anchieta Outrora: Largo da Matriz A “Vila de Nossa Senhora da Conceição da Paraíba” possivelmente se originou nessa região da cidade, local onde foi erigida a igreja dedicada à Imaculada Conceição. A “quitanda” era realizada nesta praça até 1863 quando foi transferida para as cercanias após reclamação dos moradores. Neste largo residiram o Cônego José Bento e os Barões de Santa Branca. Durante muitos anos era um pátio de chão batido, não possuindo qualquer adorno ou vegetação, somente um coreto devidamente coberto. O jardim e o novo coreto foram projetados pelo prefeito Odilon Augusto de Siqueira.
Rua Antonio Afonso Outrora: Rua do Capim e Rua Direita Uma das principais ruas da cidade recebe a denominação atual desde 1940. As designações anteriores também eram encontradas em ruas do Rio de Janeiro e São Paulo. “Capim” por ser local de venda de forragem para os animais de montaria e tração de veículos. “Direita” seria uma tradição portuguesa
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de denominar a rua à direita da porta principal do templo religioso. Esta rua tem ladeiras em ambas as pontas: começa no Jardim Liberdade, onde anteriormente passava o Rio Paraíba e termina no antigo Largo da Quitanda. No século XIX esta rua já se destacava das demais pelo grande número de sobrados. Nela residiram o 1° e o 2º Barão de Jacareí . A Santa Casa de Misericórdia, os clubes Trianon, Elvira e Ponte Preta, como também alguns dos primeiros cinemas, nesta rua também se estabeleceram.
Quem é o garoto da família Cambusano? Confira na página 150
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Rua Luiz Simon Outrora: Rua das Flores, Rua 11 de Junho e Rua de Baixo O antigo curso do Rio Paraíba passava em seu ponto inicial, possivelmente a entrada daqueles que vinham da Freguesia da Escada. Na outra ponta, ficava o “Largo do Rossio” ou “Largo da Forca”. Durante muitos anos foi o principal ponto comercial da cidade, local da “quitanda velha” e também da primeira fábrica de meias da América Latina.
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Foto: Jussara Domene Gehrke
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Rua Quinze de Novembro Outrora: Rua do Cruzeiro e Rua da Ponte No início era uma rua que dava nas águas do Paraíba, ganhando real importância após a construção da primeira ponte de madeira com cabeceiras e pilares de pedra. O nome atual foi indicado em 17 de janeiro de 1890 pelo intendente José Pinto Bastos.
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Rua Lamartine Delamare Outrora: Rua da Prainha Esta rua ligava a Rua Direita a um pequeno porto no Rio Paraíba. Após a travessia, as pessoas seguiam por uma estrada que ia para Mogi das Cruzes. Aqui esteve estabelecido o famoso Ginásio Nogueira da Gama, havendo inclusive um pequeno viaduto que ligava a escola aos dormitórios dos alunos em um casarão do outro lado da rua.
Rua Corneteiro Jesus Outrora: Rua Nova e Rua da Misericórdia A abertura desta rua tinha o intuito de ligar a Rua do Rosário à Santa Casa de Misericórdia e ainda no início do século XX era praticamente despovoada. Em 1940, o jornalista João Batista Denis Neto, o Jobanito, através de uma crônica requereu uma rua em homenagem ao soldado João José de
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Jesus, morto na Guerra do Paraguai, pleito prontamente atendido pelo prefeito Odilon Augusto de Siqueira.
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Rua Treze de Maio Outrora: Rua da Cadeia Um pouco antes da Lei Áurea, Jacareí já não tinha escravos. Os líderes do movimento abolicionistas solicitaram que uma praça no bairro do São João fosse denominada “Liberdade”. As autoridades, porém, não atenderam ao pedido, nomeando esta rua central somente após a abolição oficializada em 13 de maio de 1888.
Largo do Riachuelo Outrora: Largo da Quitanda Antes da inauguração do mercado municipal, este era o ponto central do comércio da cidade, contando com armazéns de secos e molhados e um ponto de feira livre, repleta de bancas improvisadas. Durante anos, a área
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Foto: Roberto Martins
descampada também serviu para receber os circos e parque de diversões que passavam pela região. Esta praça, único “largo” da área central, margeia a Rua Luiz Simon, anteriormente “Rua 11 de Junho”, data da Batalha do Riachuelo travada em 1865.
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Rua Alfredo Schürig Outrora: Rua do Rosário O antigo nome devia-se a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito localizada em seu trajeto. Antes da abertura da Rodovia Presidente Dutra, esta rua fazia parte da Estrada Velha Rio - São Paulo. Foi a primeira rua a ser calçada com paralelepípedos na administração do Coronel João Ferraz.
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Rua Alfredo Ramos Outrora: Rua das Pitas Esta rua era parte de um trecho da Estrada Velha para Santa Branca. O nome anterior era devido a abundante quantidade de piteiras ou gravataí-açu existente no local.
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Rua Barão de Jacareí Outrora: Rua do Cemitério Anteriormente localizada nos arrabaldes da cidade, portanto afastada da zona urbana, foi escolhida para receber o cemitério público. Assim foi até 1870 quando da inauguração do cemitério no Avareí. A atual denominação é controversa, não se sabendo qual dos Barões de Jacareí foi realmente homenageado. Entretanto, Lícinio Lopes Chaves somente recebeu o título de 2° Barão de Jacareí nos últimos meses do Império, em 1889. Teria a rua ficado quase vinte anos sendo designada como “Rua do Cemitério Velho”?
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Rua Rui Barbosa Outrora: Rua do Bonsucesso e Rua do Meio Esta rua foi aberta em 1857 entre as Ruas do Cemitério e a Rua do Carmo. Naquele ano, para que a nova rua se alinhasse com a Igreja do Bom Sucesso, foi determinado que se cortasse parte dos quintais que ficavam atrás do antigo cemitério. Possivelmente as primeiras casas foram construídas em seu lado direito, tendo em vista que do outro lado ficava o muro de taipa da velha necrópole.
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Rua Dr. Pompílio Mercadante Outrora: Rua do Carmo Esta rua era o início da antiga Estrada que ia para Santa Branca. Seu ponto mais alto terminava na Capela de Nossa Senhora do Carmo. Recebeu a atual denominação em 1950, logo após o falecimento do ilustre médico jacareiense.
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Rua Dr. Lúcio Malta Outrora: Rua da Vala, Rua do Pastinho, Rua do Teatro, Rua do Mercado Esta rua servia de ligação entre a região comercial e a Estação de Trens, iniciando, pois, na atual Rua Luiz Simon. Havia muito mato e um “pastinho” que pertencia ao senhor Benedito Ribeiro. Antigamente, toda a região era um charco, contendo, inclusive, lagoas. Era um foco de pernilongos, tanto que os entulhos da demolição da Cadeia Velha foram transportados para aterrar alguns quintais. Eram tantas valas que algumas casas comerciais ficavam abaixo do nível da rua, precisando descer vários degraus para acessá-las. Apesar dos terrenos alagadiços, possuía um “teatro” onde hoje está o “Promovale”. Décadas depois, foi a segunda rua da cidade a receber calçamento.
Praça Conde Frontin Outrora: Largo do Bonsucesso, Praça João Pessoa Antes era um terreno baixo, baldio e esburacado, onde na década de 1860 o mato era tão alto que cobria uma enorme quantidade de formigueiros. Muitos anos depois o espaço foi aterrado para receber os trilhos da nova ferrovia, ocasião em que o engenheiro Paulo de Frontin era diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil. Durante muito tempo, sua função foi meramente residencial, onde casas de taipas rodeavam a igreja. No século XX recebeu várias intervenções paisagísticas, primeiramente em 1914 quando o prefeito Pompilio Mercadante mandou realizar obras de drenagem e implantar jardins com arbustos e gramados utilizando mão-de-obra operária ociosa diante da crise enfrentada pelas fábricas de meias. Posteriormente, na administração Hélio Navarro da Cruz recebeu piso de pedras portuguesas e uma bela pérgula central. Em 1945, quando o prefeito era Antonio Alves de Carvalho Rosas, a praça recebeu o monumento em homenagem aos expedicionários. Em 2004, no primeiro mandato do prefeito Marco Aurélio de Souza, houve uma grande reformulação naquele espaço, principalmente pela reti-
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Fotos: Arquivo Público e Histórico de Jacareí
rada dos trilhos da Rede Ferroviária. Nela localiza-se a Igreja do Bonsucesso, razão de sua primeira designação. Em 1930, devido ao assassinato do candidato a vice-presidente da República, recebeu o nome de João Pessoa, assim permanecendo até 1948, quando voltou a ter a denominação atual.
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Praça Barão do Rio Branco Outrora: Largo do Rosário A denominação anterior devia-se a presença da capela com invocação a Nossa Senhora do Rosário. Houve época em que aquele espaço era um lamaçal e foco de mosquitos. No ano de 1907 recebeu o primeiro ajardinamento com três canteiros e um coreto. Na segunda década do século XX, neste largo foi inaugurada a rede de água. Quando a água jorrou e molhou todos os presentes, houve uma festa com direito a banda de música e foguetório.
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Rua Alzira Sales de Siqueira Outrora: Travessa da Liberdade, Beco do Caranguejo, Beco do Marrelli Antigamente era simplesmente uma travessa da Rua da Liberdade. “Caranguejo” era o apelido de um comerciante natural do litoral, que tinha comércio em uma das esquinas, sendo que o lado oposto, durante anos foi residência e consultório do Dr. Nelson da Costa Marrelli. O atual nome foi oficializado em 1954 e homenageia a esposa do Senador Joaquim Miguel Martins de Siqueira.
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Praça dos Três Poderes Outrora: Aterrado da Ponte, Esmaga-Sapo, Praça Santos Dumont A atual denominação deu-se em 1971 após a construção da Câmara Municipal, ficando concentrados na mesma praça os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Antes de 1850, por ali passava o Rio Paraíba. Após o “furado” que desviou o curso das águas, formou-se ali um grande terreno constantemente alagado. Era um lugar fétido onde as pessoas depositavam lixo e temido em virtude da escuridão, precisando receber muitos aterros para servir às construções.
Praça Padre Christophe Six Outrora: Largo do Cruzeiro, Largo do Rossio, Largo da Forca Antigamente era o ponto final da “Rua das Flores” que aglomerava a vida comercial da cidade. Durante muito tempo, sendo um terreno amplo e roçado, um rossio, era usado para pastagem de animais ou recolhimento de lenha.
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Padre Christophe Six
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Conta-se, também, que por volta de 1800 no local havia uma frondosa paineira em cujos galhos eram realizados enforcamentos.
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Avenida Avareí Outrora: Caminho ou Estrada do Cemitério Avareí em tupi-guarani significa “rio do padre”. O antigo nome foi utilizado após a construção do cemitério público em 1870.
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Avenida Antunes da Costa Outrora: Morro do Ramalho, Morro da Caixa d’Água Antunes da Costa foi prefeito em Jacareí na primeira década do século XX e construiu o primitivo local para tratamento da água encanada. O pequeno logradouro aberto nos “morros” da cidade foi considerado uma avenida já que inicialmente não tinha saída, sendo uma espécie de vila residencial, com entrada pela Rua da Liberdade e localizada em terras de uma fazenda da família Ramalho.
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Rua João Américo da Silva Outrora: Rua da Biquinha, Rua da Liberdade A rua localizada entre a ferrovia e o “Morro do Ramalho” tinha uma bica d’água na casa n° 208, justamente onde residia a família do expedicionário João Américo da Silva, homenageado em 1946.
Casa de onde João Américo partiu para a II Guerra Mundial
Rua Sargento Acrísio Santana Outrora: Travessa do Mercado, Beco do Roberto Martins A estreita rua central homenageia um combatente jacareiense morto na Revolução Constitucionalista de 1932. Entretanto, pontos comerciais próximos sempre foram motivo para designar o pequeno logradouro: as Casas Roberto Martins e o Mercado Municipal. Atualmente é mais conhecida como a “Rua do Correio”. Rua Moisés Ruston e Rua J.B. Duarte Outrora: Caminho do Gado Ambas as ruas interligadas serviam de passagem às boiadas vindas de Santa Branca com destino ao matadouro ou a vizinha cidade de São José dos Campos.
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Rua José Bonifácio Outrora: Rua do Cubatão A rua localizada atrás da Igreja Matriz tem em seu final uma pequena ladeira que antes do desvio do rio chegava perto das águas do Paraíba. Existem duas versões para o antigo nome: cubatão pode significar uma pequena elevação no relevo ou simplesmente um porto fluvial.
Fotos: Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Praça Raul Chaves Outrora: Largo da Estação A praça homenageia o coronel e fazendeiro falecido em 1918, aos 43 anos, filho do 2° Barão de Santa Branca. O largo existiu até a metade do século XX, sendo aos poucos ocupado por prédios públicos como o antigo Posto de Puericultura e o Banco do Estado de São Paulo, sobrando somente um pequeno espaço, bem arborizado, resgatado na administração do prefeito Telmo de Almeida Cruz.
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Ladeira Benedito Prado Outrora: Ladeira Porto Geral, Ladeira do Porto A ladeira localizada bem atrás da Igreja Matriz era um simples barranco que descia até um pequeno porto localizado nas águas do Rio Paraíba, antes do curso ser desviado pelo “furado”. Coincidentemente na esquina da ladeira com a Rua do Cubatão residia o coronel Custódio Moreira Porto. Rua João Ferraz Outrora: Rua Municipal João Ferraz foi prefeito de Jacareí e fundador da Fábrica de Meia Filhinha. Conta-se que usava recursos próprios para custear serviços públicos, inclusive adquirindo e doando à cidade o prédio do antigo Colégio Antonio Afonso. Diz-se que morreu na pobreza. A rua recebeu a atual denominação em 1942.
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Avenida Senador Joaquim Miguel Martins de Siqueira A avenida foi aberta na década de 1960 já com pista dupla, sendo necessárias várias desapropriações e aterros. Originariamente seria denominada “Avenida Nova Jacareí”.
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Rua Voluntário Gabriel Soares Outrora: Beco do Onofre A rua era considerada um beco, sem passagem de veículos para a Rua Antonio Afonso, havendo em seu afunilado final, uma corrente ligada a dois trilhos ferroviários fincados no chão que obstruíam o trânsito. Ali residia o coronel da Guarda Nacional, Onofre de Oliveira Ramos. Atualmente é conhecida como a Rua do Luiz José em razão da tradicional loja de roupas masculinas.
Rua Padre Juca Outrora: Rua da Palha A rua ligava a capela de Santa Helena, na antiga Rodovia Jacareí – Mogi das Cruzes, até a fazenda de Antonio Ferreira Diniz, o Tonico Mineiro, no bairro Porto Velho. Em 1950, a rua homenageou o padre José Alves de Moura.
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Rua Coronel Carlos Porto Outrora: Beco do Pastinho Pastinho era o nome popular da Rua Dr. Lúcio Malta. Este beco foi urbanizado para ligar o Largo da Matriz até o Mercado Municipal.
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Ladeira Rodolfo Siqueira Outrora: Ladeira de Santa Cruz, Ladeira do Avareí A rua homenageia o farmacêutico que tinha ali estabelecido o seu ofício. Registra-se que em determinada época seus moradores reclamavam das escandalosas “horizontais” (orgias) promovidas no local por mulheres que “abusavam da moral pública”.
Acervo de Família
Rua Lucinda Pires Outrora: Beco Sujo Lucinda Pires foi uma benemérita jacareiense. Muitos anos antes, o local recebeu o não honroso apelido por ser um ponto de prostituição. A rua foi remodelada após o comerciante Jorge Madid construir algumas casas no local.
Lucinda Pires
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Acervo de Família
Rua Aparício Lorena Outrora: Rua do Elevatório, Rua da Bomba d’Água A rua homenageia um jornalista jacareiense. Os nomes populares estavam ligados a captação e elevação das águas do Paraíba para a estação de tratamento.
José Teodoro de Siqueira
Rua João Teodoro
Algumas ruas dos morros José Teodoro de Siqueira, casado com Rosália de Oliveira Branco, comprou uma chácara de um padre de São Paulo. A área era plantada com vários tipos de uvas, além de ameixas, manga e abacate. Após seus vizinhos Manoel Teixeira e Joaquim Cachuté lotearem seus terrenos, José Teodoro também resolveu abrir ruas em 1940, homenageando seu irmão João Teodoro, seu pai Francisco Teodoro e sua mãe Rosalina de Siqueira.
Rua Rosalina de Siqueira e Rua Francisco Teodoro
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O “Quatro Cantos”, esquina das ruas Quinze de Novembro, Antonio Afonso e Alfredo Schürig, é um dos traçados urbanos mais conhecidos da cidade. A designação não é uma exclusividade jacareiense, sendo anteriormente utilizada para nomear o cruzamento da Rua São Bento com a Rua Direita na cidade de São Paulo. O local certamente recebeu este apelido pela existência de quatro casarões de tradicionais famílias da cidade: - Mansão na Rua Direita construída pelo Coronel Fabiano Martins Alves Porto Júnior em 1901, demolido parcialmente na década de 1970. - Armazém de secos e molhados de Rinaldo Zonzini. Em 1950, o antigo prédio de taipa foi demolido para a construção de moderno edifício onde se instalou a farmácia do Joel Barreto. - Um imponente sobrado e comércio da família Tarantino foi demolido em 1931 e erguido um novo prédio pelo belga Eduardo Denis. - Casarão que abrigava o pastifício dos Irmãos Lencioni demolido na década de 1940 para a construção das novas instalações da “Casa Maria Toledo”. Curiosidade: O “Quatro Cantos” recebeu em 1959 o primeiro semáforo da cidade.
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Quatro Cantos
S Santa Casa de Misericórdia
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As primeiras instituições de assistência no Brasil, as Misericórdias, tinham um mesmo modelo: a religiosidade e a execução de obras em benefício dos doentes e miseráveis. Na teoria, gozariam da proteção dos poderes públicos. Viveram, entretanto, por muito tempo, das benesses de poucos benfeitores, que as consideravam uma obra de caridade (não um hospital), destinadas aos “desfavorecidos de fortuna” (pobres) e forasteiros que a elas recorriam como último recurso. Ricos e remediados nem passavam perto, pois até o século XVIII as Santas Casas serviram tanto para a assistência como também para a exclusão, separando os doentes das pessoas sãs da sociedade. Os pacientes não estavam destinados à cura, mas à morte.
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Na Jacareí do século XIX, a situação também era precária. As pessoas de posses eram atendidas em suas casas ou recorriam aos grandes centros. Alguns viajantes eram tratados na cadeia por falta de lugar mais salubre. Os “pobres, necessitados e escravos”, a maior parcela da população, procuravam socorro com boticários ou “curandeiros”. Em 1850, Jacareí tinha menos de dez mil habitantes, entre eles um idealista, o médico Joaquim Moutinho dos Santos, de 39 anos, português natural de Parada, Freguesia de Águas Santas. No Consistório da Igreja Matriz ele reuniu-se com a nata da sociedade, entre eles o Barão de Jacareí e o Barão de Santa Branca, além do Padre Manoel Joaquim Rodrigues da Silva e juntos, “tomaram a pesada tarefa de fundar uma casa de amparo aos enfermos pobres”: estava instalada a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Jacareí. Por onde começar? Onde conseguir dinheiro para tal obra? Naquela época, as verbas vinham exclusivamente do Governo Provincial A Câmara local possuía um único poder: pedir. Na ocasião, outra grande obra local também buscava recursos e obtinha mais sucesso no recebimento de donativos: a reforma e ampliação da Igreja Matriz. A primeira grande contribuição saiu dos bolsos dos principais líderes políticos locais: João da Costa Gomes Leitão e Barão de Jacareí. Eles “racharam” uma conta de 1.200$000 (um conto e duzentos mil réis), adquiriram um terreno de Ignácio Siqueira Cardozo, no final da Rua Direita do Capim e doaram à Irmandade. O projeto do futuro hospital foi elaborado pelo Dr. Moutinho que por doze anos acompanhou as obras da Santa Casa, retornando à Portugal em 1862. O primeiro provedor foi o Comendador Francisco de Paula Machado, contudo o Barão de Santa Branca exerceu o cargo interinamente até a primeira eleição. Estes eram escolhidos entre as pessoas idôneas da localidade que tivessem posses, uma vez que seu dinheiro e prestígio eram usados a favor da obra assistencial. Entretanto, para participar da Irmandade os homens não precisavam ser ricos, devendo somente “ter as primeiras letras” além de serem declaradamente católicos. Apesar dos trabalhos preliminares terem iniciado em 1850, por falta de recursos a obra somente tomou impulso após três anos. Para angariar fundos, a Irmandade realizava “loterias”, recebia donativos, inclusive jóias das damas da sociedade local. Muitos cidadãos contribuíam indiretamente, fornecendo mão-de-obra de seus escravos para aplainar o terreno, cavar valas e compactar as taipas.
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O prédio, lentamente, foi sendo erguido. Em 1854, com o recebimento da primeira subvenção do poder público provincial, compraram-se telhas e madeiras para o telhado. Entre 1857/1858 foram construídas a escada e a calçada interna, feitas em pedra, bem como adquiridos o portão de ferro e a grade frontal. Em 1861 a Santa Casa foi oficialmente inaugurada sob a proteção de sua majestade, a Imperatriz Teresa Cristina. Neste ano foi contratado o primeiro enfermeiro, Claudio José Franco, que passou a morar no hospital com sua esposa e Escadarias de entrada para a Santa Casa domésticos, cuidando dos doentes, além de lavar e costurar roupas. O primeiro médico, como não podia deixar de ser, foi o idealizador do hospital, o Dr. Joaquim Moutinho dos Santos. Em 1863, a Santa Casa ainda não funcionava regularmente. O prédio, apesar de grande, não tinha reboco: nem dentro, nem fora. Por muitos anos improvisaram-se panos como forros. Assim, na penúria, foram os primeiros anos do hospital. A primeira subvenção da Câmara local (não havia Prefeitura) só viria em 1894, 44 anos depois da fundação. Os donativos eram escassos, bem como eram irrisórias as diárias pagas pelos senhores de escravos no internamento dos negros. As comarcas vizinhas, São José dos Campos, Santa Branca e Santa Isabel, constantemente enviavam doentes para Jacareí, mas pouco ou nunca contribuíram com o hospital. Para piorar a situação, questões políticas tumultuavam e prejudicavam a rotina da Santa Casa. Em 1856, em razão do “Furado” (transposição do Rio Paraíba), o Barão de Jacareí retirou-se da Irmandade após uma desavença com Gomes Leitão. O povo, observando as divergências entre os Irmãos, passou a negar apoio a Instituição. Em 1887, a situação ficou tão crítica que o hospital deixou de receber doentes, dando alta aos pacientes internados. Trancaram-se as portas e as chaves foram entregues ao Juiz que, àquela época, acertadamen-
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te, pediu o banimento completo da política da Instituição. Em 1889, o provedor Francisco Antunes da Costa reabriu o hospital, conseguindo em 1895 uma fonte apreciável de rendimentos para sua manutenção: a exclusividade dos serviços fúnebres em Jacareí. Interessante mencionar que inicialmente os indigentes mortos na Santa Casa eram transportados em redes até o sepulcro. Posteriormente, foi comprado um caixão, que era “emprestado” para o transporte do defunto até o cemitério. No início do século XX novas rixas políticas dividiram a Irmandade. Um grupo dissidente, liderado pelo chefe político local, apoderou-se das chaves do hospital e destituiu a mesa diretora legalmente eleita. Somente muitos anos depois a ordem foi restituída. Diante de tantas dificuldades, em 1907 iniciaram as tentativas para trazer irmãs de caridade para a direção dos serviços de enfermagem, fato que somente se consumou em 1929 quando irmãs franciscanas vieram de Pindamonhangaba. Importante ressaltar que até 1910, quando foi instituído um ordenado, todos os médicos trabalhavam gratuitamente. Em 1946, foi criado o corpo clínico do hospital composto por oito médicos comandados pelo Dr. Pompílio Mercadante. Neste mesmo ano foi inaugurado o edifício da Maternidade, projeto de Arlindo Scavone, levantado com o auxílio de jacareienses “bem de vida” que moravam em São Paulo. As Indústrias Matarazzo doaram todos os azulejos. Já em Jacareí, a campanha de arrecadação de fundos foi um fracasso. Ninguém queria contribuir.
Edifício da Maternidade
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Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Em 1950, com a presença de inúmeras autoridades civis e eclesiásticas, comemorou-se o primeiro centenário da Santa Casa. Em memória das lutas da instituição, um obelisco foi colocado à entrada do hospital. Nele, placas de bronze eternizam os nomes de vários de seus administradores. Membros das famílias Máximo e Schürig, grandes benfeitores do hospital, também foram homenageados em várias alas e salas do hospital.
1950 - Comemoração dos 100 anos da Santa Casa
Progressivamente, a Santa Casa foi se organizando e obtendo boa reputação e confiabilidade. Muitas crises afetaram o hospital, bem como várias outras entidades filantrópicas, muitas vezes preteridas em suas necessidades pelos sucessivos governos. No mais recente capitulo, em 2003, a Prefeitura Municipal considerando que o hospital beirava um estado de “calamidade pública”, decretou sua intervenção. Deste então, a Santa Casa vem lutando para manter suas portas abertas à população, sempre necessitada deste primordial serviço público.
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Sítios Arqueológicos
Sítios Arqueológicos Arqueologia é uma palavra de origem grega que significa o “estudo do que é antigo”: archaios (antigo) + logos (estudo). “Sítios arqueológicos” são lugares onde se buscam artefatos de antigas ocupações, permitindo, assim, o estudo dos hábitos e costumes daqueles que viveram naquele espaço físico. Atualmente, na realização de grandes empreendimentos e obras, o passado acaba se revelando. Leis passaram a obrigar o trabalho de arqueologia (levantamento, prospecção, resgate e monitoramento) procurando impedir que sítios arqueológicos sejam destruídos ou impactados. Os artefatos porventura encontrados são recolhidos, limpos, catalogados, analisados e guardados em locais apropriados. O Vale do Paraíba possui um grande potencial para estudos arqueológicos. Os estudos desenvolvidos em Jacareí servem de referência no país, sendo temas em vários congressos nacionais e internacionais. Os primeiros indícios vieram de vestígios cerâmicos encontrados durante as obras de uma estrada na década de 1970. Desde aquele período, foram estudados cinco sítios arqueológicos pré-coloniais (antes de 1500) e quatro sítios históricos, trazendo um acervo permanente superior a 100 mil peças para o Núcleo de Arqueologia da Fundação Cultural de Jacarehy, que detém, ainda, a guarda de outras coleções e acervos. 1 – Sítio Jacareí 1 Situado na Fazenda Mercedes, a área estava implantada sobre encosta de colina entre o Rio Paraíba e o córrego Baixinho. Apesar de já bastante comprometido no momento da pesquisa, apresentou um conjunto de estruturas construtivas contemporâneas, onde se destacaram os vestígios de uma antiga capela de tijolos. Acervo: matérias em cerâmica, louça, metal e vidro Pesquisas: Ano: Início da década de 1990 Empresa Scientia – Arqueóloga Solange Caldarelli
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2 – Sítio Jacareí 2 Localizado na Fazenda Boa Vista, próxima ao Rio Comprido, o sítio encontrava-se também bastante comprometido. Através da identificação de uma área terraplanada, foi possível a revelação de um assentamento e de concentrações de material arqueológico relacionado à fazenda do período cafeeiro distribuído ao redor de um antigo caminho, provavelmente de tropeiros. Pesquisas: Ano: Início da década de 1990 Empresa Scientia – Arqueóloga Solange Caldarelli
Acervo: Cláudia Moreira Queiroz
3 – Sítio Santa Marina
Localizado no topo de meia encosta de um platô, próximo ao córrego Guatinga, foi ocupado por um grupo indígena Tupi-Guarani. É um sítio do tipo aldeia, formado por diferentes manchas mais escuras de solo, provavelmente áreas de cabanas. Ali foram encontrados sobras dos materiais da ocupação, como fragmentos cerâmicos, material lítico e restos de fogueira. Testes
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de Carbono 14 definem o século XV como o período de ocupação, próximo, portanto, do primeiro contato com o colonizador europeu. Acervo: Coleção com mais de 14 mil peças, em sua maioria fragmentos cerâmicos, alguns apresentando decoração plástica ou pintada com figuras geométricas em vermelho sobre engobo* branco. O material lítico é composto de lâminas de machado e lascas. Localização: Av. José Ribeiro Moreira – Jardim Santa Marina Pesquisas: 1991 - Prof. Oldemar Blasi e Miguel Gaissler 1997/1998 – Profª. Dra. Érika Marion R. Gonzalez e Prof. Ms. Paulo Eduardo Zanettini
Engobo é a camada terrosa com que se disfarça a cor natural do barro
4 – Sítio Pedregulho Localizado nas proximidades do Sítio Santa Marina, foi encontrado descaracterizado pela intensa movimentação de solo ocorrida anteriormente. Entretanto, constatou-se que a área fora ocupada pelo grupo Tupi-Guarani. Acervo: Coleção com mais de 7 mil peças, a maior parte fragmentos cerâmicos, algumas pintadas tendo como padrão linhas retas horizontais e verticais e também linhas curvas com pigmento vermelho sobre branco associados ao preto. Neste sítio também foram encontradas lascas de pedra. Localização: Estrada Municipal do Pedregulho - Condomínio Villa D’Itália. Pesquisas: 1998 – Maria Cristina Mineiro Scatamacchia
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Acervo: Cláudia Moreira Queiroz
5 – Sítio Villa Branca
Localizado aproximadamente a 2 km do Sítio Santa Marina, ocupa a parte superior de um extenso platô, nas proximidades do córrego Guatinga. A área fazia parte da Fazenda Villa Branca e até a década de 1960 foi utilizada para a agricultura, comprometendo a disposição das peças que estavam mais próximas à superfície. Ocupada nos primórdios por grupos Tupi-Guarani, que eram agricultores e canoeiros, no local foram diagnosticadas oito manchas de cabanas com grande concentração de fragmentos cerâmicos e material lítico lascado e polido. Acervo: Coleção com mais de 30 mil peças, principalmente materiais cerâmicos (antigas tigelas, assadeiras, potes e urnas funerárias), alguns identificados com decorações nas cores vermelho e branco, com traços formando motivos geométricos. O material lítico é representado por lâminas de machado, lascas e tembetás (adorno labial). Os fragmentos de louças e vidros correspondem a antigos objetos domésticos como pratos, xícaras, garrafas de bebidas, perfumes etc. Localização: Rodovia Geraldo Scavone SP – 76, Bairro Villa Branca Pesquisas: 1997/1998/2000/2002 – Profª. Dra. Érika Marion R. Gonzalez e Prof. Ms. Paulo Eduardo Zanettini 2001 – Plácido Cali
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6 – Sítio Rio Comprido O sítio está localizado em um grande platô, cerca de 1 km do Sítio Villa Branca, tendo como vizinhos os córregos Guatinga e Comprido. Acervo: Coleção constituída basicamente por fragmentos de material cerâmico e louça, não totalizando duas centenas de peças. Localização: Estrada do Rio Comprido - Condomínio Mirante do Vale. Pesquisas: 1998 – Plácido Cali
Acervo: Cláudia Moreira Queiroz
7 – Sítio Light
Localizado junto à represa de Santa Branca, próximo ao Rio Paraíba do Sul, passou a ser estudado quando foi encontrada uma grande quantidade de fragmentos cerâmicos na superfície do terreno. No local foi identificada a presença de outro grupo indígena no município, o Aratu, que buscava assentar suas aldeias em encostas e topos de colinas. Foram identificadas antigas manchas de cabanas, bem como cinco pontos marcados por grandes pedras, indicando local de sepultamento. O sítio apresenta alto grau de preservação por
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encontrar-se em área protegida. Acervo: Coleção com mais de 20 mil fragmentos cerâmicos e artefatos líticos, entre tigelas, potes, urnas funerárias e lâminas de machado. Foi encontrado também um cachimbo. Localização: Represa de Santa Branca Pesquisas: 2000/2002 - Wagner Gomes Bornal e Claudia Moreira Queiroz
Acervo: Cláudia Moreira Queiroz
8 – Sítio Chácara Xavier
Localizado na região central de Jacareí, num terreno plano, com pequena declividade em direção ao Rio Paraíba do Sul, corresponde a uma chácara do século XIX e que pertenceu a Francisco Rodrigues, Bartolo Cappellini, Francisco Leitão, Miguel Luis de Almeida até ser adquirida por João Gomes Xavier, momento marcado por várias modificações na propriedade. Além da importância como patrimônio histórico e arquitetônico, foi também o primeiro sítio histórico trabalhado na cidade. Além da residência da propriedade, construída em taipa de pilão entre 1850/1860, o local apresentou vários materiais arqueológicos distribuídos pela chácara, principalmente nas áreas de depósito de lixo e antigas cozinhas externas. Os itens recuperados permitiram obter informações significativas quanto às rotas de circulação comercial, principalmente aqueles em que o modo de vida europeu acabou influenciando na transformação de toda uma sociedade tipicamente cafeeira. Acervo: Coleção com mais de duas mil peças, principalmente fragmentos
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cerâmicos (potes, tigelas, cachimbos), fragmentos de louças inglesas e nacionais (pratos, xícaras, tigelas), fragmentos vítreos (copos, frascos de perfume e medicamentos), objetos de metal (colheres, ferraduras, fivelas, munição) como também restos de material construtivo (telhas, pregos) e ossos de animais (restos de alimentação). Durante as escavações foi encontrada uma calçada de pedra junto à residência bem como duas áreas de terreiros de café. Localização: -Bairro São João – Condomínio das Palmeiras Pesquisas: 2005/2006 – Claudia Moreira Queiroz 9 – Sítio Estação Jacareí I
Este sítio está relacionado a uma residência datada da década de 1920 e situada na antiga área da Rede Ferroviária Federal, local onde atualmente encontra-se o Parque da Cidade. O imóvel conserva ainda traços importantes da época em que foi construída como vãos de portas e janelas, ladrilhos hidráulicos e telhas importadas de Marselha (telhas francesas), constituindo um bem de grande valor histórico, arqueológico e arquitetônico. Acervo: Pequena coleção de material representado principalmente por louça do início do século XX. Localização: Parque da Cidade Pesquisas: 2008 - Wagner Gomes Bornal 2009 – Claudia Moreira Queiroz
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Sociedade
Sociedade Atualmente traçar um perfil da sociedade jacareiense é uma tarefa complexa. A diversidade de traços culturais, raciais, religiosos, ideológicos e muitas vezes financeiro fizeram da sociedade um verdadeiro caleidoscópio humano. Entretanto, nem sempre foi assim. Por pouco mais de um século, a diferença social quase não existia e a pobreza dos habitantes era a característica comum. No período colonial, assim como em outras vilas e povoados, em Jacareí quase não havia dinheiro e mesmo que houvesse, não havia o que comprar. A vida era dura e o único objetivo de seus habitantes era garantir a sobrevivência, plantando e criando animais na área rural, local onde a maioria habitava. Vistos atualmente, os relatos dos viajantes, que por aqui passaram eram desanimadores. Jacareí era bem miserável, com poucas casas, quase todas de palha. Nos casebres viviam tanto os escravos quanto seus senhores, que trabalhavam e comiam juntos. Brancos, negros e índios conviviam intimamente, num caldeirão de etnias onde vingou a mestiçagem. Já no Império, houve muitas transformações, sendo o indígena eliminado do meio social. Surgiu uma pirâmide social: no topo, os fazendeiros que mantinham o poder político e econômico. Logo abaixo, vinham os pequenos proprietários e comerciantes. Na base da pirâmide ficava a classe que sustentava todos os outros: os escravos. Novas tecnologias, como a luz elétrica e os trens alteraram as paisagens e os comportamentos. O café fez a cidade se desenvolver. O comércio prosperou e sobrados e palacetes foram construídos. O retrovisor da história mostra como a sociedade jacareiense evoluiu através dos tempos. Apesar da modernização, pode-se observar que manteve sempre um pé no passado e uma série de tradições e costumes. Crianças Os documentos históricos jacareienses trazem poucas informações sobre as crianças. Os “infantes e ingênuos” aparecem geralmente nos testamentos que envolviam escravos. Apesar dos poucos relatos, é de se supor que entre os séculos XVIII e XIX as crianças viviam de acordo com os núcleos sociais a que pertenciam. 297
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Sociedade
Em épocas mais recentes, as senhoras Zulmira e Elvira Lopes da Costa eram as parteiras mais conhecidas e responsáveis por trazer ao mundo os bebês que deveriam ser batizados em oito dias, segundo os ditames da Igreja Católica. A mortalidade infantil era elevada e as crianças não poderiam morrer sem o sacramento. As mães, procurando fortificar as crianças, além do aleitamento materno, ofereciam leite de vaca engrossado com farinha. O “mal dos sete dias” era uma doença grave e os frasquinhos milagrosos do farmacêutico Jarbas Mattos curavam os maElvira Lopes da Costa les mais comuns. Benzimentos resolviam os casos corriqueiros de quebrantos e procurando prevenir outros malefícios, o cordão umbilical era cuidadosamente enterrado no quintal. As crianças cresciam livres e brincavam juntas apesar das diferenças sociais. A molecada se divertia em banhos de rio, principalmente no “toco” existente no atual Jardim Liberdade. Brincadeiras com bolas, pipas, bolinhas de gude, piões, carrinhos de rolimã sobreviveram por várias décadas. Entretanto, caçar passarinhos deixou de ser aceito pela sociedade. As meninas geralmente brincavam de panelinhas e bonecas de pano, muitas vezes confeccionadas em casa. Brinquedos comprados em lojas eram raros, sendo comum ver crianças brincando nas ruas, diferetemente dos dias atuais.
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Brincadeiras de Criança
Rita Montagna Barbieri - 1º de maio de 1969
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Artur e Davi Ferreira - 2017
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Foto: Uberto Marino - 1918
A educação, para a maior parte das crianças, se resumia aos primeiros anos escolares. As classes escolares não eram mistas: meninas eram separadas dos meninos. O principal objetivo almejado pelos professores era formar indivíduos responsáveis seguindo a velha tradição: “é de pequenino que se torce o pepino”. Além de frequentar a escola pública, a baixa condição social da criança poderia levá-la a desenvolver atividades remuneradas, como engraxates ou carregadores de compras. Voltando da Escola
Alunos da Escola Carlos Porto – 2017 (Pedro Henrique e Laura Cristina)
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Foto: Carlos Bueno Guedes
Crianças no Trabalho
Pais e filhos não eram tão próximos, cabendo a estes o dever da obediência. O relacionamento era rígido e carinho era considerado “coisa de mulher”. A boa educação implicava em castigos físicos, principalmente palmadas e surras de “varas de marmelo”.
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Atualmente, muita coisa mudou. As famílias ficaram menores. As brincadeiras já não são as mesmas e a mortalidade infantil em 2017 foi de 10,4 em cada mil nascidos vivos. O ensino se tornou obrigatório dos 4 aos 17 anos. Os pais participam da vida dos filhos e os castigos imoderados e cruéis tornaram-se proibidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Família Durante séculos, a estrutura familiar era patriarcal, isto é, o homem era o provedor e comandava o lar, estando esposa e filhos sujeitos a sua autoridade dominadora. As mulheres, geralmente educadas para serem boas mães de família, eram submissas e reclusas, tendo como principal tarefa a procriação. O sexo no casamento era um débito conjugal e os filhos não deveriam ser evitados. Perante a sociedade, a mulher deveria ter um comportamento discreto e a aparência era controlada pelos ditames da igreja: cabelos longos e presos, pouquíssima maquiagem e vestidos com tecidos volumosos. O corpo não deveria ser exposto para não haver semelhança com as “mulheres fáceis”, alvos naturais de investidas sexuais. Entre os casais até pequenos gestos de afeto e carinho eram raros.
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Famílias através dos Tempos
João Bonocchi, esposa e filhos
Camila, Felipe e José Ribeiro Neto
Quanto aos filhos, ao tempo de seus casamentos quase sempre havia o interesse econômico ou familiar a unir parentes, principalmente primos. Matrimônios entre membros da elite também eram recomendados, aumentando, assim, suas terras e bens. Algumas uniões eram arranjadas pelos pais dos noivos, podendo constituir-se num estado de amizade independente de atração física ou paixão, bastando que a noiva fosse casta e pura. As mulheres que se
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descuidavam e perdiam a virgindade antes do casamento, “caiam no mundo”, sendo expulsas de casa para não cobrirem a família de vergonha. Após o casamento, a traição era tratada de maneira distinta entre homens e mulheres: o marido traído que matasse a adúltera não tinha qualquer punição sendo o crime considerado “legítima defesa da honra”.
Casamentos: Elvira e Pompilio Mercadante (1923) e Silvia e Andre Kawamura (2011)
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Durante muitos anos, até meados do século XX, o casamento geralmente seguia o padrão endogâmico: brancos com brancos, negros com negros. As uniões entre etnias diferentes eram menos comuns.
Mudança na Sociedade: Os Oliveiras se auto-intitulam uma verdadeira “Filial da ONU”: Vicentina e Benedito de Oliveira; a filha Suzana e Ricardo Hashimoto e a neta Silvana e Sebastião Virgilino Rodrigues
Tudo isso mudou. A mulher conquistou seu espaço na sociedade e nos últimos anos a família clássica se diversificou totalmente. O reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal - STF das uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo abriu caminho para a legalização do casamento homoafetivo. No
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Brasil, a cidade de Jacareí foi pioneira no casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Em 28 de junho de 2011, Dia Mundial do Orgulho LGBT, o cabeleireiro José Sérgio Santos de Sousa e o comerciante André Luiz Rezende Moresi tornaram-se os primeiros gays oficialmente casados no país após decisão do juiz Fernando Henrique Pinto, que homologou a conversão da união estável em casamento civil. Dois anos depois, casais homossexuais já podiam casar-se diretamente nos cartórios independente de decisões judiciais.
Luiz André Moresi e Serginho Kauffmam
Jacareí também saiu na frente em outras questões referentes aos direitos dos homoafetivos quando duas mulheres conseguiram ter seus nomes na certidão de nascimento do filho que tiveram por inseminação artificial. Numa prova cabal que a família tradicional deixou de existir, a criança oficialmente tem duas mães e quatro avós maternos. Estilo Visual Afora os primeiros tempos, a classe social de uma pessoa era demarcada pela parte visível de seus hábitos e gostos. Além do local onde moravam ou pela profissão que exerciam, a história mostra que as pessoas sempre foram categorizadas de acordo com sua aparência. Os primeiros desbravadores não exibiam uma imagem tão nobre como é costume descrevê-los. Geralmente caminhavam descalços, usavam chapelões de abas largas, camisas e ceroulas. Os roceiros vestiam calça e camisa feitas de
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pano de algodão mais grosso. Alguns vestiam calções estreitos até os joelhos. As mulheres vestiam saias de tecidos rústicos, nem sempre enfeitadas e em suas casas, cuidando das atividades domésticas, geralmente vestiam camisolões brancos de tecido leve. Só se adornavam para irem às ruas. Antes mesmo das roupas definirem a condição social ou grupo a que pertenciam, entre os escravos, sinais no corpo ou cortes de cabelo, marcavam sua identidade e origem. Mesmo naquele ambiente de grande precariedade e pobreza, as pessoas buscavam, quando podiam, vestir-se com apuro, não medindo esforços para demonstrar aquilo que realmente não eram. A roupa definia o nível social: a que era usada dentro de casa raramente saia à rua e vice-versa. Os mais ricos não podiam ser confundidos com aqueles das “camadas emergentes”. O corpo feminino tinha que ser coberto, escondido. Recatadas, as mulheres não deviam jamais chamar a atenção e vestiam-se adequadamente para irem à igreja. Tão vaidosos quanto às mulheres, os homens usavam paletó, gravata e chapéu buscando demonstrar fidalguia. Os doutores geralmente usavam óculos sobre o nariz para se fazerem respeitar.
Acervo de Família
Foto: Edna Medici
Estilos Femininos
Família Pires de Campos (1924)
Andrea Turíbio (2014)
Hoje, a aparência ainda tem grande influência na determinação do status social. Principalmente entre os jovens, o estilo nas vestimentas, roupas de grife, cortes de cabelo e tatuagens no corpo buscam mostrar os grupos sociais ao qual pertencem.
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Sociedade
Acervo de Família
Estilos Masculinos
Acervo de Família
Acervo de Família
Almoço com a presença de Alfredo Schurig, Zeca Moreira, Manoel Máximo, Octávio Martins, Dr. João Lamana e Odilon Siqueira, entre outros (1944)
Hélio Lima Prado (década de 1950)
Cláudio Koca (2017)
Diversão No início, Jacareí, uma pequena sociedade comunitária, delimitada em um pequeno espaço geográfico, quase não oferecia momentos de descontração e diversão. A busca pela subsistência tomava quase o tempo todo. Às vezes a rotina diária era interrompida por alguma festa familiar ou religiosa. Já no início do século XIX, o local da passagem do rio era muito frequentada e a diversão principal era o banho no Paraíba. A área central era pouco iluminada e às 21 horas havia o toque de recolher para os habitantes. Posteriormente, a chegada dos trens levava muitas pessoas à Estação Ferroviária para verem os viajantes a caminho do Rio de Janeiro ou São Paulo. O local
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Sociedade
Acervo: Cláudio Cambusano
propiciava, inclusive, o início de pequenos flertes. Na pequena cidade das primeiras décadas do século seguinte, havia um hipódromo atrás do mercado e touradas eram realizadas em um fazenda na Rua do Carmo. Pequenos parques e circos eram armados no Largo do Riachuelo. Inclusive, Jacareí foi a cidade onde o imigrante húngaro Franz Czeisler fundou o Circo Mágico Tihany em 1954, atualmente um dos maiores do mundo.
Largo Riachuelo – 1964
Acervo: Cláudio Cambusano
Todos eram conhecidos, formando, com certo exagero, uma única família. As pessoas se reuniam em “pontos de cadeiradas” nas calçadas. A prática da conversação entre vizinhos e conhecidos ia até o anoitecer. Sim, o mexerico, era uma forma de entretenimento.
Rua Pompílio Mercadante – 1962
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Sociedade
Acervo Eliceu Máximo Filho
A principal distração era ir ao cinema. Antes das sessões no Cine Rio Branco, havia o “footing” na praça, quando os rapazes andavam para um lado e as moças, em duplas e de braços dados, passavam em sentido contrário, formando dois círculos, um externo e outro interno. Desta singela distração coletiva surgiram namoros e casamentos. Os serviços de alto-falante animavam o ambiente com músicas e anúncios das casas comerciais. Entretanto, quase no final do século XX, acabaram os cinemas de rua. As pessoas, até por questões de segurança, passaram a se reunir em bares e no Shopping Center. Mais recentemente, sem opções de lazer, muitos jovens passaram a se reunir em pontos centrais da cidade. Os “rolezinhos” ou “fluxo”, como são chamados, provocam uma ampla discussão da sociedade, umas vez que o local é utilizado também para o uso e comercialização de drogas ilícitas.
Lazer através dos Tempos: Passeio na Praça Conde Frontin e Fluxo na Rua Olímpio Catão
Moradias Quando as vilas surgiram na região, os valeparaibanos eram invariavelmente pobres. As casas eram marcadas pela simplicidade e penúria, normalmente choupanas de pau-a-pique cobertas de palha, posteriormente substituídas por taipa de pilão e telhados. As habitações eram construídas quase sempre em solos úmidos, próximas ao rio ou de charcos. O interior das casas, fossem de pobres ou de ricos, costumava não ser asseado. Os móveis eram raros até o século XVIII, variando de acordo com a condição dos proprietários. As redes, transportáveis e frescas, retardaram a utilização das camas. As esteiras e bancos serviam para sentar ou comer. No final do século seguinte, a decoração vitoriana com móveis estofados, espelhos, tapetes e porcelanas européias passou a fazer parte da residência dos grandes cafeicultores, introduzindo uma nova maneira de morar e viver. No século XX ganharam destaque a vitrola e o rádio e, sem dúvida, a chegada da televisão nos anos 1950 trouxe a maior
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Sociedade
Acervo: Cláudio Cambusano
alteração na ordenação do espaço doméstico, em torno da qual tudo se convergia, se transformando no núcleo de divertimento em família.
Marilene Cambusano, família e vizinhos, todos reunidos para assistir ao último capítulo da novela Beto Rockfeller – 1969
Arquivo Público e Histórico de Jacareí
APHJ
Quanto ao estilo das residências, no final do século XIX Jacareí se mostrava próspera diante da riqueza trazida pelo café. A opulência dos ricos fazendeiros era exibida em suas propriedades urbanas. A construção de casas assobradadas com muitas janelas, além de alguns palacetes modificava a fisionomia da pequena cidade.
Palacete do Barão de Santa Branca / Construção do CECAP – Companhia Estadual de Casas Populares / Condomínio Residencial de Luxo
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Sociedade
Arquivo Público Histórico de Jacareí
No entanto, estas moradias eram secas, sem abastecimento interno de água, sem pias ou banheiros internos. “Casinhas” eram construídas sobre uma fossa nos quintais. Os penicos também estavam em toda parte e seu conteúdo, sempre fresco, era acondicionado em tinas que recebiam os refugos da casa. Toda aquela imundície era recolhida a noite por escravos denominados “tigres” que despejavam o conteúdo em terrenos baldios ou no Paraíba. Quando chovia, os tonéis eram esvaziados nas ruas, deixando que a natureza fizesse o duro trabalho. Além disso, com sabão feito de gordura animal, as roupas eram lavadas e enxaguadas na água corrente do rio. Os tecidos eram batidos nas pedras e esfregados com areia para tirar as manchas mais difíceis. Por conta disso, naqueles tempos as roupas não eram lavadas com tanta assiduidade. A água encanada só se fez presente com o emprego de tubulações e demais acessórios importados da Europa. Em meados do século XX, os melhoramentos nos serviços básicos de saneamento já atendiam grande parte das residências.
Lavadeiras no Rio Paraíba
Morte Alguns séculos atrás, as vidas eram mais curtas. Teriam os jacareienses daquela época medo de morrer? Decerto que sim, mas tinham mais receio da pós-morte e desta forma se preparavam dispondo seus bens através de testamentos que contavam com o “dedo do confessor” que podia fazer sugestões, já que esmolas, ajudas à Santa Casa e igrejas eram atitudes sempre bem-vindas.
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Sociedade
Aqueles que não contemplassem a instituição religiosa se arriscavam a não receber a extrema unção e não ser enterrado em solo sagrado. Desta forma, os moribundos, quando a morte se fazia presente, deixavam doações e encomendavam várias missas em benefício de suas almas, todas “religiosamente” pagas. Assim, os bons “iriam para o céu” e os maus arderiam no fogo do inferno. As crianças que morressem sem batismo, partiriam para o limbo. Os sinos das igrejas costumavam anunciar o falecimento dos membros da irmandade chamando os fiéis para acompanhar o velório. Os defuntos geralmente não eram enterrados com roupa comum. Os mortos do sexo masculino usavam ternos e as senhoras eram enterradas com mortalhas que não podiam ser costuradas a máqcuina. Por baixo delas, uma camisola azul lembrando Nossa Senhora. O enterro variava em suntuosidade de acordo com a condição do morto. O cortejo fúnebre iniciava na casa do defunto e dali para a igreja e sepultura. Aqueles que pertenciam a alguma Irmandade poderiam ser sepultados nos pisos ou em catacumbas abertas nas paredes nas igrejas. Quando morria alguém importante, o enterro era acompanhado de uma banda que executava a marcha fúnebre
Túmulo no interior da Igreja Matriz da Imaculada Conceição
O serviço funerário em Jacareí foi realizado pela Santa Casa de dezembro de 1894 até meados dos anos 1960. Durante anos, os cadáveres indigentes seguiam dentro de redes, envoltos em folhas de bananeira. Os falecidos pobres
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Sociedade
eram transportados em um caixão e no cemitério eram retirados e sepultados no solo, envoltos em um pano branco ou cobertos por jornais. O caixão voltava para a Santa Casa para novos sepultamentos. O transporte foi feito à mão até 1889, depois foi comprado um carrinho próprio para o uso. Em 1927 havia uma carruagem fúnebre puxada por dois cavalos brancos. Posteriormente foi autorizada a compra de um automóvel já que as despesas com a manutenção dos animais eram altas. Atualmente, de certa forma, os hábitos também mudaram e raramente os mortos são velados em suas residências. Empresas particulares se especializaram e realizam o serviço funerário, desde o velório até o transporte até os cemitérios. A cremação dos corpos também vem sendo amplamente utilizada, submetendo os cadáveres a temperaturas superiores a 1.000 ° C, restando apenas resíduos que compõem as cinzas que sobram como lembrança dos restos mortais da pessoa falecida, depois acondicionadas em urnas e entregues às famílias.
Divulgação
Desenhp de Clovis Graciano
Cortejos Fúnebres através dos tempos: da rede à limousine
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T A maioria das cidades possui seus tipos característicos. Pessoas que por serem diferentes das demais ficam marcadas na memória popular, tornando-se figuras referenciais. Muitas delas acabam sendo escorraçadas e às vezes ridicularizadas, terminando por viver à margem da sociedade. Assim, foram o alcoolista Baque-Duro, o travesti Maísa e o violeiro apelidado Tinguera. Justino Ribeiro de Oliveira nasceu em Santa Branca em 29 de maio de 1923. Único sobrevivente dos 16 partos de gêmeos de sua mãe Dona Margarida, foi criado na roça em Jacareí, sempre ajudando no sustento da casa. Herdou o gosto musical do pai, Seu Inácio, católico fervoroso e rezador nas FesJustino Ribeiro de Oliveira tas de São Gonçalo. Após o suicídio do pai, ele e sua mãe deixaram o campo e compraram um terreno no bairro do Campo Grande, onde levantaram um pequeno quartinho para morar. Enquanto Dona Margarida vendia bananas pela cidade e realizava trabalhos como parteira, Justino fazia trabalhos junto à Central do Brasil. Absolutamente sozinho após a morte da mãe, vivia pelas redondezas tocando sua viola e bandolim. Entretanto, uma tragédia ocorreu enquanto ele estava trabalhando na linha ferroviária entre Mogi das Cruzes e São Paulo. Após o al-
Acervo de Família
Tinguera
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Divulgação
moço, junto a colegas de trabalho, deitou-se para descansar na sombra de um vagão. Adormeceu e acidentalmente colocou sua perna esquerda sobre um dos trilhos da estrada de ferro, tendo-a amputada após a manobra de uma locomotiva. Justino teve uma vida dura. Trabalhou poucos anos como vigia na loja “Ao Rei dos Móveis” e aposentou-se por invalidez. No íntimo, era um homem inocente que foi se tornando ranzinza e bravo diante das inúmeras provocações da molecada que deu a ele um apelido que o tirava do sério: Tinguera. Na verdade o termo correto é “tiguera”, palavra de origem tupi que nas regiões sul e sudeste designa um resto de colheita ou planta, um mato inútil que não serve para nada. Justino era constantemente provocado pelas pessoas enquanto tocava sua viola em alguns pontos da região central da cidade. Quando era xingado também de “arroz marinheiro ou tatu”, empunhando sua velha muleta costumava desferir os mais terríveis palavrões. Ostentando uma estrela de xerife na parte interna do paletó, exigia o devido respeito como “autoridade que era”. O violeiro humilde, mas autêntico, foi ganhando importância, tornando-se um importante personagem folclórico. Tanto é verdade que em 2013 a produtora Edna Cassal lançou um documentário “Seu Justino, o Ribeirinho de Jacareí” e uma animação “Tinguera, o Violeiro Errante”, ambos retratando sua vida e seu “jeito quixotesco”. Antes ainda, nos anos 1990, foi capa de CD e participou de um clipe da Banda Dotô Jeka.
Justino Ribeiro de Oliveira no Pátio dos Trilhos
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Acervo: Tinguera Produções
Tinguera
Tiro de Guerra
Na velhice, Justino passou por muitas dificuldades. Os vizinhos procuravam ajudá-lo, limpando o terreno de sua casa, servindo café e até dando banho. Acostumado a comer somente pão com água, deliciava-se quando os amigos ofereciam uma saborosa macarronada, seu prato predileto. Doente, após muitas idas e vindas da Santa Casa de Misericórdia, foi levado ao “Asilo Amor e Caridade” em 2004. Lá permaneceu por quatro anos, falecendo em 29 de abril de 2008. A lenda diz que na rua onde ele morava ainda se ouve o toc-toc de sua muleta.
Tiro de Guerra O Tiro de Guerra (TG) é uma instituição militar do Exército Brasileiro encarregada de formar atiradores e/ou cabos de segunda categoria. A palavra “tiro” vem do latim, usada para descrever um soldado jovem ou recruta. A instalação do TG em uma cidade ocorre após um convênio entre a Prefeitura Municipal, que disponibiliza as instalações, e o Exército que fornece os instrutores, fardamento Brasão do Tiro de Guerra e equipamentos Uma grande vantagem dos municípios que possuem TG é poderem contar com apoio em casos de calamidades públicas e na garantia da Lei e da Ordem. Diante desta parceria, geralmente o prefeito se torna o diretor do Tiro de Guerra. A origem dos Tiros de Guerra remonta ao ano de 1902 com o nome de ”linha de tiro”, fundada no Rio Grande do Sul como uma sociedade de tiro ao alvo com finalidades militares. Objetivava, ainda, a formação de cidadãos cientes de seus direitos e deveres perante a sociedade, atuando em ações nas áreas da saúde, defesa civil e meio ambiente. Em Jacareí, o diretor do Grupo Escolar Coronel Carlos Porto, professor Augusto Ribeiro de Carvalho, que na Revista de Ensino escreveu vários artigos sobre o tema da instrução militar, incentivou a criação das primeiras “linhas de tiro” com voluntários a paisana, inicialmente comandados por Benedito Diniz. Em 1918, os atiradores passaram a receber fardas e outros equipamentos. O primeiro instrutor foi o sargento José Peixoto Jatobá. 313
Sargento José Peixoto Jatobá
APHJ
Acervo TG 02-051
Tiro de Guerra
Turma de 1918
Acervo TG 02-051
A “linha de tiro” foi desativada na década de 1920, só ressurgindo como “Tiro de Guerra” em 1935, recebendo várias denominações: TG 411 (1935/1949), TG 133 (1949/1979) e desde então TG 02-051. Também foram várias as sedes, inicialmente no prédio do Ginásio Nogueira da Gama, passando pelo “Santa Helena”, na antiga Câmara Municipal, em um barracão no aterro do Esmaga Sapo, na Praça Raul Chaves, no Largo da Cadeia Velha, na Av. Siqueira Campos e atualmente no Residencial São Paulo. A Lei n° 5.371/2009 instituiu o “Dia Municipal do Atirador do Tiro de Guerra” a ser comemorado anualmente em 10 de novembro, integrando o calendário oficial da cidade
Sede do Tiro de Guerra em Jacareí
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Tráfico Negreiro
Tráfico Negreiro O tráfico de escravos vindos da África foi o maior deslocamento forçado de pessoas à longa distância ocorrido na história. No decorrer de quase quatro séculos foi considerado uma transação normal, já que o cultivo do açúcar, do fumo e do café, além da exploração do ouro, sempre demandaram muita mão-de-obra. Esta operação comercial transatlântica sempre trouxe mais homens que mulheres, tornando diminuto o crescimento vegetativo da população escrava. A “produção” e geração de “crias” eram pequenas e a região passou a ser dependente do tráfico de escravos de várias localidades africanas. No Vale do Paraíba, para trabalhar na lavoura cafeeira, chegaram principalmente negros provenientes dos portos da África centro-ocidental e de Moçambique. A travessia entre os continentes era feita nos porões dos navios negreiros, com os cativos empilhados da maneira mais insalubre e desumana possível, sendo que muitos deles sequer chegavam vivos, vítimas, inclusive, de suicídio. Os traficantes, cientes da situação, já previam certa perda de “mercadoria”.
Disposição dos escravos em um navio negreiro
“Navio Negreiro” (Tela de Rugendas - 1830)
Apesar da escravidão ter sido um sistema monstruoso, era um ato legal. Deste modo, se faz necessário distinguir entre os fazendeiros que detinham escravos, fazendo fortuna com suas lavouras de café, e os escravocratas cuja riqueza resultou do comércio do braço escravo. Além dessas classes poderosas, havia pequenos lavradores e até negros libertos, que se tornaram proprietários de escravos. Estudos de Francisco Vidal de Luna mostram que Jacareí não ficou à margem de tal processo, principalmente quando a localidade cresceu pela expansão da lavoura cafeeira. Entre o final do século XVIII e início do XIX, 315
Tráfico Negreiro
o número de escravos multiplicou-se por quatro, sendo 80% deles do sexo masculino. Em 1839, a maioria dos cativos era africana e somente 36% era crioula (negros nascidos no Brasil). A cidade servia como depósito de africanos, um centro de grandes traficantes, com destaque para o homem mais rico e poderoso da região, o alferes João da Costa Gomes Leitão, que esteve envolvido num caso emblemático envolvendo o tráfico transatlântico de escravos, considerado ilegal desde 1831. Naqueles anos, muitos cativos eram vendidos entre as regiões do Brasil, principalmente vindos do Nordeste devido ao declínio da lavoura açucareira. Este comércio legal fez com que os traficantes brasileiros se acreditassem imunes à interferência britânica que patrulhava os mares à procura de navios negreiros com “cargas humanas” ilegais. Em 25 de julho de 1851 o brigue brasileiro Piratinim, uma embarcação à vela que vinha da Bahia para São Sebastião, foi apresado pelo vapor de guerra britânico “Sharpshooter” perto do Rio de Janeiro, com 102 escravos a bordo, entre eles 90 africanos recém-chegados, além de crioulos e africanos ladinos*.
Ladinos eram negros já aculturados
Os escravos e a tripulação (nove africanos) foram transferidos para o navio-hospital “Crescent” e posteriormente remetidos livres para uma colônia inglesa. A Coroa Britânica negou todos os pedidos de devolução dos escravos apreendidos feitos pelas autoridades brasileiras, inclusive por Dom Pedro II. O Imperador, inclusive, escreveu à Rainha Victória reclamando da intromissão inglesa na soberania nacional. O escravocrata Gomes Leitão, proprietário dos escravos, seguiu as vias diplomáticas usuais e também acionou a Justiça requerendo a reparação das perdas, tanto da “carga” quanto da embarcação que fora incendiada. A contenda durou muitos anos e nenhum direito foi concedido ao proprietário residente em Jacareí. Fim do Tráfico – O Império Britânico, maior traficante de escravos até o século XVIII, extinguiu o comércio negreiro em 1807 e passou a forçar as nações do Atlântico a tomar a mesma posição. O lucro obtido com o tráfico havia gerado um grande acúmulo de capital que acabaria por consolidar o 316
Transportes
incipiente capitalismo industrial. A abolição da escravatura na Inglaterra, contudo, dar-se-ia somente em 1833, resultado de uma inédita participação popular, cuja origem foi muito mais ideológica que econômica como defendem muitos historiadores. Voltando no tempo, quando o Brasil tornou-se independente em 1822, uma das condições imposta para seu reconhecimento como nação foi o compromisso formal de coibir o tráfico africano. Em 1831, foi sancionada a primeira lei nacional proibindo a entrada de africanos no país. Era uma lei “para inglês ver”, já que neste período a demanda por braços escravos era muito grande em razão da expansão da lavoura cafeeira. Os traficantes continuaram agindo e nos poucos carregamentos apreendidos, os acusados eram absolvidos e os africanos livres distribuídos para o serviço público e de particulares, o que facilitava a re-escravização. Em 1845, o Parlamento inglês declarou ser legal o apresamento de qualquer navio brasileiro empregado no tráfico negreiro, mesmo em águas territoriais do Império. Vários foram os incidentes entre as autoridades britânicas e os navios nacionais, como aquele que se deu com o “Piratinim”. Mesmo que alguns episódios provocassem prejuízos aos comerciantes, o tráfico seguiu lucrativo já que o preço do escravo havia triplicado. O contrabando de negros, apoiado até pela população em geral, continuou até 1850 quando a Lei Euzébio de Queiróz finalmente extinguiu o tráfico de escravos. A entrada de cativos tornou-se praticamente nula a partir de 1856, ano do último carregamento apreendido Os traficantes afortunados passaram a aplicar os capitais ilegalmente amealhados em outros investimentos. O tráfico entre províncias, porém, perdurou até a abolição da escravatura em 1888.
Transportes No século XVII, época da fundação de Jacareí, o transporte de vários produtos, desde tábuas até peças de toucinho, era usualmente realizado em canoas pelo Rio Paraíba. Por terra, velhas trilhas e picadas eram usadas por animais de carga e também por índios que carregavam nas costas toda espécie de mercadoria. Afora os bens destinados a negócios, passageiros eram carregados em redes. Tempos depois, os tropeiros se tornaram indispensáveis para a circulação 317
Transportes
Acervo de Família
de produtos e até pelas informações, já que o serviço dos correios era realizado em lombo de mulas, chegando somente duas vezes por semana a Jacareí, sendo necessário esperar o mensageiro em algum trecho da Estrada Geral. Os muares, mais firmes e seguros, suplantavam os cavalos no carregamento de cargas, sendo resistentes às variações climáticas e capazes de avançar pelas serras e montanhas do sertão. O vaivém das tropas acabou alargando os caminhos e os trajetos passaram a receber carroças e carros de boi, muito utilizados pelos produtores rurais. Os meios de transporte tiveram uma lenta e contínua evolução procurando atender as necessidades de cada tempo. Assim, a cada inovação de mercado, surgia certo temor pela concorrência. A ferrovia trouxe enorme prejuízo para os tropeiros e criadores de muares. A adesão do país ao transporte rodoviário praticamente dizimou a utilização dos trens de carga e de passageiros. Empresários como Nicola Capucci destacaram-se no cenário local com grande frota de caminhões. Os ônibus já transportavam passageiros pelas estradas de terra desde a segunda década do século XX. Apelidados de “Cata Jecas” ou “Mamãe me Leva”, as jardineiras da Malerba tinham agência no Bar Sul América na Praça Conde Frontin. Empresas como a Pássaro Marron, que fazia o transporte entre Rio de Janeiro e São Paulo, tinham parada no Bar Brasil. Somente em 1964 foi construído o Terminal Rodoviário Presidente Kennedy nas antigas instalações da Fábrica de Meias Elvira. Em 2011 foi inaugurada a atual rodoviária da cidade, saindo da área central e instalando-se no Jardim Marcondes.
Empresa de Ônibus Irmãos Cabrillana
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Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Transportes
Divulgação/PMJ
APHJ
Parada de ônibus na Praça Conde Frontin
Terminal Rodoviário Pres. Kennedy
Inauguração da Rodoviária de Jacareí - 2011
Acervo: Cláldio Cambusano
Quanto aos primeiros automóveis particulares, estes não eram preparados para trajetos de longa distância e estavam restritos a uma elegante minoria. João Scaraloti, Rinaldo Zonzini e Benedito Mário estavam entre os primeiros jacareienses proprietários de carros de passeio da cidade, os antigos Ford Modelo T, popularmente conhecidos como Ford Bigode, com luz de carbureto.
O Estado de São Paulo – 19/07/1911
Roberto Cambusano entre familiares e amigos.
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Transportes
Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Arquivo Público e Histórico de Jacareí
Na área urbana de Jacareí, o transporte particular de passageiros era realizado por charretes que tinham ponto no Largo da Estação. As carroças continuavam a fazer a baldeação de pequenas cargas que chegavam pela Estrada de Ferro.
Acervo: JTU
O transporte público municipal foi instituído em 1969 com a contratação da empresa “Auto Comercial Jacareí”, atual JTU – Jacareí Transporte Urbano.
Auto Comercial Jacareí
Os táxis, também conhecidos como “carros de praça”, já eram utilizados nos anos 1920, com ponto no Largo da Matriz. Naquela época os choferes precisavam que um ajudante virasse a manivela para dar partida no motor. Entre os primeiros taxistas da cidade estavam Antonio Cachuté e Antonio Salgado Bicudo. Eduardo Denis, empresário do setor, era dono de três automóveis. A evolução dos meios de transporte é contínua e os atuais profissionais taxistas
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Transportes
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vêm contestando a legalidade ou normatização de empresas que funcionam através de programas de computador, como o aplicativo oferecido pela empresa norte-americana Uber.
Ponto de Carros de Praça no Largo do Rosário – 1955
Divulgação
Tantos veículos circulando pelas ruas e avenidas da cidade fizeram as autoridades introduzirem meios para disciplinar o trânsito. Em 1906, jornais já noticiavam os abusos e atropelamentos cometidos por bicicletas que “voavam pelas ruas como em um velódromo”. Em 1959 foi instalado o primeiro semáforo em Jacareí, no cruzamento da Rua Quinze de Novembro com Rua Antonio Afonso. Nos últimos anos, a segurança no trânsito e a mobilidade urbana é assunto amplamente discutido. Diversas vias de grande circulação receberam radares fiscalizadores e lombadas controladoras de velocidade. Ciclovias foram criadas permitindo a integração da bicicleta no espaço antes exclusivo dos veículos motorizados.
Ciclofaixa ligando o Jardim Paraíso ao Parque da Cidade
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Trianon Clube
Acervo: Luiz José Navarro da Cruz
Trianon Clube
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Nos idos da década de 1930 havia poucas opções de diversão em Jacareí além do footing na praça central. O vazio deixado pelo fim das atividades do Grêmio Literário fez que um grupo de senhores da sociedade se reunissem e após muitos debates decidissem fundar um clube. À frente daquela importante decisão estiveram João Baptista Marcondes, João Baptista Machado, Waldemar Scavone, Eliceu Máximo, Álvaro Piovesan, Jessé Silva, Júlio Cândido Alves, José Cândido Porto, Dorothoveo Gaspar Vianna, Hélio Navarro da Cruz e João Leite. Além destes, compondo a primeira diretoria estavam o presidente Ozório Paris, o presidente honorário Raul Quina de Siqueira e orador oficial, o professor Mário de Moraes. No entanto, outros três nomes tiveram uma especial importância: Ana Rosa da Costa, Antonio Nogueira Amorim e Antonio Pereira Alves, mais conhecido como Antonio do Bar, reunidos num banco de jardim escolheram o nome do clube inspirados no Parque Trianon, em São Paulo. Em forma de triângulo, o símbolo do Trianon representa estes três fundadores. Ana, funcionária da Coletoria Estadual em Jacareí, foi considerada a madrinha do novo clube. Assim, na noite de 14 de dezembro de 1934, numa sala alugada em um velho casarão na Rua José Bonifácio, atrás da Matriz, num ambiente de alegria e muita festa, sob o espocar dos fogos Caramuru, nascia o tradicional clube jacareiense. Entretanto, já naquela época o dinheiro era curto e a contribuição dos sócios não fazia frente às despesas. As primeiras reuniões se limitavam a jogos de carteado e brincadeiras dançantes animadas pelo conjunto musical “Fila Bóia”. Diretoria do Trianon - 1934
Muitas vezes os casais simplesmente dançavam ao som de discos no saguão do bar. À medida que as atividades recreativas cresciam, o clube precisou buscar novos espaços para seus associados, tendo mudado algumas vezes de endereço. O Trianon teve sedes sociais na Rua Antonio Afonso (Cruzada de Assistência) e na Praça Conde Frontin (Clube Elvira). No ano de 1940 adquiriu do comerciante judeu Gregório Kotler um prédio na rua Alfredo Schürig, antiga sede do Clube Esperança e onde funcionava o Cine Paratodos. Naquele local, ao longo dos anos, o clube construiu um ginásio poliesportivo e duas piscinas. Na década de 1960, o Trianon adquiriu o Clube de Campo do Vale do Paraíba, passando a contar com uma grande área de 32 mil m², que fazia parte da antiga chácara Santa Inês, construindo ali campos de futebol, diversas quadras de esporte, playground infantil e um Fachada do clube na década de 1940 conjunto aquático. Vários presidentes comandaram o clube desde sua fundação: Ubirajara Mercadante Loureiro, Jarbas Porto Mattos, Nelson da Costa Marreli, Gil Milício de Souza e José Abrahão, dentre outros. Destaque, porém, deve ser dado ao empresário Biagino Chieffi. Amigo de vários artistas, sócio desde 1935, o “General da Banda” foi eleito em 1957 e passou a trazer para Jacareí os mais famosos shows do Rio de Janeiro e São Paulo. A partir de então, todos os eventos realizados pelo Trianon tornaram-se grandes acontecimentos sociais, sejam os bailes de carnaval, de debutantes ou o tradicional Baile do Hawai.
Acervo de Família
Acervo: Luiz José Navarro da Cruz
Trianon Clube
Baile de Debutantes – Ao centro: Alba e Jarbas Porto Mattos
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Acervo: Trianon Clube
Trianon Clube
Bem freqüentando, o Trianon sempre foi considerado um clube de elite. Um dos livros do professor Benedicto Sérgio Lencioni relata que inicialmente havia uma discreta discriminação racial que impedia o ingresso de negros em seu quadro associativo. Estes eram “tolerados” somente na parte esportiva. Nesta área o clube teve importante destaque, principalmente no basquete, contando com craques como Osíris Médici, Avelino Polzin, Pinga e Cissa, dentre outros. Nos anos 1972 / 1973 o clube foi vice-campeão estadual e em 1973 foi vice-campeão da Taça do Brasil, tendo em seus quadros nomes consagrados como Edvar Simões e Ubiratan Maciel. Aos poucos, porém, o número de sócios foi diminuindo. A sociedade havia mudado, as pessoas deixaram de freqüentar os bailes e eventos. Assim como outros clubes, o Trianon também passou por uma grande crise financeira. Em 2005 a sede social foi adquirida pela Prefeitura Municipal e a publicidade oficial da época fazia questão de divulgar que “o clube de elite antes acessível apenas às classes mais abastadas, a partir de então teria as portas abertas a toda população através do EducaMais Centro”. O Trianon, entretanto, sobreviveu e cresceu. Através de boas Fachada da Sede Social na Rua Alfredo Schürig gestões e várias parcerias com indústrias da cidade, conseguiu manter seu “clube de campo” no Jardim Siesta, transformando-o num belíssimo espaço de esporte e lazer para seus associados.
Trianon Clube - 2017
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U Ubiratan Pereira Maciel nasceu em São Paulo em 18 de janeiro de 1944. Apesar de ter feito fama no basquete, inicialmente queria ser jogador de futebol. Após ser reprovado na Portuguesa de Desportos, passou a treinar salto em altura no Clube Floresta, atual Espéria, onde um treinador o convidou a praticar “bola ao cesto”. Bira, como era conhecido, jogou pelo Corinthians quando tinha apenas 17 anos. Posteriormente, atuou também pelo Palmeiras, Sírio e Tênis Clube de São José. Aos 19 anos foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira, onde suas princiUbiratan Pereira Maciel pais conquistas foram o campeonato mundial de basquete em 1963 (na reserva) e a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964. Ubiratan residiu em Jacareí por 25 anos, recebendo o título de Cidadão Jacareiense em 1971. Na cidade defendeu as cores do Trianon Clube e conquistou os Vices-Campeonatos Paulista de 1972/73 e também o título de Vice-Campeão Brasileiro de 1973. Ubiratan foi um dos melhores pivôs que já passaram pelas quadras do
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mundo. Detentor de um sem-número de medalhas em Campeonatos Mundiais, Sul-Americanos, Jogos Pan-Americanos, Taças-Brasil e Campeonatos Paulistas, ele fez parte de uma das gerações mais vencedoras do nosso basquetebol. Pioneiro, foi o primeiro jogador brasileiro a atuar no exterior, especificamente no Splügen Reyer Venezia, Itália, em 1970. No ano seguinte, conquistou o título de “melhor jogador estrangeiro na Europa”. Com 1,99 metros de altura, embora não fosse tão habilidoso como outros atletas, tinha uma enorme força física. Apelidado de “Cavalo de Aço” e o “Rei do Tapinha”, Bira também ganhou destaque por seus ganchos de canhota. Com grande impulsão, era imbatível nos rebotes e tomava conta do garrafão. Ubiratan relutou muito em largar as quadras, despedindo-se profissionalmente em 1982 atuando pelo Tênis Clube de São José dos Campos, equipe que passou a treinar. Em 1985 voltou à Jacareí para comandar o time do Trianon. Após sua aposentadoria das quadras, tornou-se professor de educaUbiratan no Splügen ção física. Em 1990, aprovado em concurso público, transferiu-se para Brasília para atuar como Técnico em Assuntos Educacionais no Ministério do Esporte e Turismo. Numa carreira longeva e dedicada exclusivamente ao basquetebol, fez em 2001 sua última atuação defendendo o Brasil no Mundial Sênior na Iugoslávia, onde foi ovacionado pela torcida local. Ubiratan faleceu no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, em 17 de julho de 2002, aos 58 anos, após sofrer uma parada cardíaca e permanecer em coma por alguns meses. Seu corpo foi sepultado em São José dos Campos. O atleta deixou a esposa Deuscreide Gonçalves Pereira (Deusa) e sua filha Ana Rita, além de Ubiratan Júnior, Luciano e Paula, filhos de seu primeiro casamento em 1964 com Orlandina Ferraz de Lima Maciel. A trajetória profissional de Ubiratan foi coroada postumamente. Em 2009 ele foi eleito para o Hall da Fama da Federação Internacional de Basquete (FIBA) e no ano seguinte para o Hall da Fama da NBA. Foi homenageado também com nome de rua em São Paulo, centro comunitário na Vila Zezé, em Jacareí, e ginásio poliesportivo em São José dos Campos.
V Viajantes e seus Relatos Muitos detalhes sobre a vida e costumes do Brasil nos séculos XVIII e XIX puderam ser conhecidos através de relatos deixados por vários viajantes estrangeiros. Muitos deles não compreendiam os conflitos de culturas e por vezes desqualificavam os moradores e os lugares por que passavam, vendo com desalento as paupérrimas vilas, as casas de pau-a-pique e seus mamelucos. Outros, porém, admiravam as paisagens, a fauna e a flora brasileira, enaltecendo o país e seus habitantes. Durante as viagens, diante das longas distâncias entre os núcleos urbanos, as pernoites tornavam-se necessárias. Naquela época as hospedarias eram poucas e desconfortáveis, sendo quase uma obrigação social conceder pousada a viajantes, mesmo que desconhecidos. Por vezes, dependendo da hospitalidade, as pernoites se estendiam por vários dias, permitindo relatos mais consistentes. Alguns destes viajantes, entre autoridades, naturalistas e artistas, passaram pelo Vale do Paraíba e deixaram suas impressões também sobre a Vila de Jacareí.
Conde de Assumar
Viagem do 3° Conde de Assumar - 1717 Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal, o Conde de Assumar, chegou ao Brasil em julho de 1717, desembarcando no Rio de Janeiro. Dois meses depois, tomou posse da Capitania de São Paulo e em outubro partiu em viagem para inspecionar Minas Gerais. Em determinado trecho da viagem, acompanhado do Capitão-Mor da Vila de Mogi, “em cadeirinha” percorreu cinco léguas por um caminho mui-
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to ruim. Passaram por sete montes, conhecidos como “Sete Pecados Mortais”, chegando a Nossa Senhora da Escada, uma aldeia de índios, onde o vigário de Jacareí o aguardava. Ambos embarcaram pelo rio Paraíba enquanto os cavalos da comitiva foram por terra, percorrendo outras quatro léguas. Em Jacareí, o Conde foi padrinho de uns noivos, viúvos ambos, e passou o restante do dia fazendo nomeações e confirmando algumas patentes. Observou que a vila era bem miserável, tendo poucas casas, quase todas de palha. Em certa ocasião, em um sítio das vizinhanças, o conde foi recebido para uma refeição a base de “umas poucas formigas acompanhadas de meio macaco”, sendo-lhe assegurado que as “formigas convenientemente tostadas eram comparáveis a melhor manteiga de Flandres”. Saindo de Jacareí, partiu em direção a Taubaté. Logo a seguir, em Guaratinguetá, ficou registrada na história a festa que o povo decidiu fazer em sua homenagem. Intencionando oferecer peixes ao Conde, pescadores lançaram suas redes nas águas do Rio Paraíba do Sul. A princípio, não tiverem sucesso. Entretanto, após encontrarem uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, a pesca foi farta. O fato foi considerado um milagre, começando ali o culto a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Viagem do Conde de Azambuja – 1751 Dois anos. Este foi o tempo da viagem entre Lisboa e a Vila Real do Bom Jesus do Cuiabá, local onde Antonio Rolim de Moura Tavares, o Conde de Azambuja, tomou posse como primeiro governador e capitão-general do Mato Grosso. Durante o percurso, escrevia a seu primo, o rei de Portugal, “oferecendo ao destinatário algum divertimento pelas novidades contadas”. A narrativa acabou se tornando seu diário de viagem. São Paulo foi seu ponto de partida. Passando por caminhos maltratados, encontrou pobres povoações compostas de um punhado Conde de Azambuja de casebres em torno da Matriz e do pelourinho. Em Mogi, a maior parte dos moradores morava em sítios. Vestidos ordinariamente em camisolas e ceroulas, passavam o tempo a cachimbar e das
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redes de dormir davam ordens a seus carijós. Após passar a noite em uma fazenda dos padres do Carmo, retornou à viagem percorrendo um caminho “por morros muito altos, muito a pique” e “de uma qualidade de barro como sabão como chove” que a cada passo os cavalos escorregavam. Jacareí pareceu-lhe ter “meia dúzia de casas” sendo “mal falando, uma Vila”. Na continuação de sua viagem, considerou Taubaté “a melhor vila que viu naquele caminho” e Guaratinguetá “a mais rica entre as outras”. Viagem de Spix e Martius – 1817 O cientista e zoólogo Johann Baptist von Spix juntamente com o médico e botânico Carl Friedrich Philipp von Martius foram convidados a realizar uma expedição ao Brasil com o objetivo de descrever sua fauna e flora. Os alemães viriam com a Missão Artística Austro-Alemã que acompanhava a arquiduquesa Leopoldina, futura imperatriz do Brasil. Após Spix contrair uma doença tropical, eles retornaram à Alemanha em 1820. Seus relatos foram publicados no livro Reise in Brasilien Carl Friedrich Philipp von Martius (Viagem pelo Brasil), obra em três volumes. Vindos de Taubaté, os viajantes resolveram parar em Jacareí para descansar. Transpuseram o rio em canoa e os animais, obviamente, a nado. Naquela época, ideias eugenistas predominavam no mundo civilizado e deste modo seus relatos mostram muitos preconceitos com os habitantes da região. A Vila de Jacareí era predominantemente composta de negros, mulatos e mamelucos. Muitos habitantes, principalmente as mulheres, possuíam um abscesso no pescoço. Um papo, propriamente dito, que deixava aquela “gente na Johan Baptist von Spix maioria de cor, com uma aparência horrível”. Entretanto, chamou-lhes a atenção que o bócio era considerado mais embelezamento do que deformação, não sendo raro encontrarem mulheres a se exibirem com o “monstruoso” papo enfeitado de correntes de ouro e prata.
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Viagem de Saint Hilaire – 1822 Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire era um botânico e naturalista francês que com a aprovação do Museu de História Natural de Paris e financiamento do Ministério do Interior, veio para o Brasil em 1816 acompanhando uma missão diplomática. Durante anos, viajou pelo país em lombo de burro, percorrendo milhares de quilômetros e comentando sobre os costumes e paisagens brasileiras no século XIX. Passando pela região do Vale do Saint Hilaire Paraíba, deixou a Vila de São José, uma “mísera aldeia, composta de casas pequenas, baixas e mal mantidas” rumando para Jacareí onde na entrada da vila arrumou dois quartinhos para passar a noite. No dia seguinte passou a descrever a Vila de Jacareí: “seria mais importante que Pindamonhangaba e São José, porém pouco habitada”. A existência de poucas casas térreas e grande número de prédios muito pequenos demonstrava a miséria do lugar. Quanto às igrejas, descreveu somente a Matriz que “seria bem grande, construída em taipa, pouca ornamentada e sem caiação, nem por dentro, nem por fora”. Outras duas igrejas eram tão pequenas que não mereciam qualquer menção. Assim como os viajantes alemães, Saint-Hilaire também encontrou em Jacareí muitos habitantes com bócio “como em nenhum outro lugar do Brasil”. Muitos indivíduos tinham o pescoço sobrecarregado por “uma massa de carne tão grande quanto à cabeça”, prejudicando os movimentos e fazendo com que a voz tomasse um timbre surdo. Além disso, teriam “limitada inteligência”, sendo mais “apáticos e estúpidos àqueles que não têm a doença”, alguns nem sabendo o nome do lugar que habitavam. O francês observou que muitos jacareienses tinham pronunciados traços indígenas. Os descendentes de brancos e índios apresentavam uma “tez pálida, os olhos mais estreitos que aqueles de origem europeia, o nariz achatado e os malares proeminentes”. As fisionomias eram sempre inexpressivas. Os homens, tardos de movimento, eram menos educados que os de Minas
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Gerais. As falas eram “moles” com entonações pouco variadas e com “qualquer coisa de infantil que lembrava a língua dos índios”. Os mulatos eram raros tendo em vista que os descendentes de índios eram muito pobres para comprar escravos. Quanto às mulheres brancas ou aquelas que assim pareciam, não “tinham real formosura”, sendo “tão fáceis quanto as negras”. Saint-Hilarie portava um documento oficial que o isentava de pagar dois vinténs para atravessar de canoa o rio Paraíba. Os burros e cavalos atravessavam o rio a nado e mesmo assim eram tarifados em quatro vinténs pela travessia. A carga transportada também deveria recolher a devida taxa. Os relatos do viajante mostravam que os habitantes da Vila pareciam indiferentes a tudo, falavam pouco e não mostravam curiosidade acerca das revoluções que ocorriam em Portugal e no Rio de Janeiro. Também não sentiam qualquer entusiasmo quanto à mudança de governo, exceto quanto ao prejuízo que poderia ocorrer caso o sistema colonial fosse restabelecido, visto que limitaria aos portugueses a compra do açúcar e do café e o consequente barateamento da mercadoria. Apesar da indiferença, professavam o respeito à autoridade do Rei, como árbitro supremo de suas existências. Resta a pergunta: em que dia da semana teria o viajante passado pela vila para não ter encontrado qualquer autoridade? Onde estaria o capitão-mor Cláudio José Machado? E os escravos? Estariam todos nas roças? Manoel Elpídio Pereira de Queiroz – 1854 Na viagem empreendida entre Jundiaí e Rio de Janeiro, o fazendeiro de Campinas fez um diário publicado como apêndice à obra “Um fazendeiro paulista no século XIX” de autoria de sua neta Carlota Pereira de Queiroz. O viajante relatou que Jacareí era bem inferior a sua cidade, apesar de ter maior número de sobrados. Só na Rua Direita havia nove. Além de mencionar a localização geográfica da cidade, limitou-se a citar as igrejas da Matriz, Rosário e Bom Sucesso e uma “capela nova” de invocação à Santa Cruz localizada na Estrada Geral que levava ao Rio de Janeiro. Passando pela Vila de São José, considerou que Matriz possuía melhor aparência que aquela de Jacareí, possuindo uma torre para sinos. O povo também era “mais vistoso” possivelmente pela proximidade com as serras. No geral, a Vila de São José era “mais ordinária” se comparada aos demais núcleos valeparaibanos.
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Augusto Emílio Zaluar - 1861 Na obra “Peregrinação pela Província de São Paulo (1860-1861)”, o escritor e jornalista português, brasileiro naturalizado, Augusto Emílio Zaluar, somente teceu elogios à Jacareí. Em sua rápida passagem pela cidade, recebeu a hospitalidade do comerciante Júlio Guimarães, o qual certamente informou muito dos detalhes mencionados nos relatos. Diante das poucas ruas da cidade, o viajante ficou encantado com o Largo principal, onde a “magnífica” Matriz acabava de ser “novamente Augusto Emílio Zaluar reparada e aumentada”, sendo, porém, menor e de “gosto arquitetônico” inferior àquela de Pindamonhangaba. Mereceu destaque, também, o palacete do Barão de Santa Branca. Apesar de não dar maiores detalhes, enaltece a instituição da Santa Casa de Misericórdia, que ainda não estava concluída. A elegante casa do Alferes Gomes Leitão merece especial atenção pois era “acabada com todo o esmero e cujos pintados e dourados salões poderiam receber com orgulho a sociedade mais seleta da capital do Império”. A Casa de Câmara e a cadeia eram similares àquelas que observara durante a viagem. O jornalista passou por Jacareí 12 anos após a vila ter sido elevada à cidade. Ele concluiu que este fato estaria relacionado com o desenvolvimento da lavoura do café e do tabaco. Em consequência, o comércio também teria crescido, bem como o número de habitantes, em torno de “18 mil almas”. Além dos escritores supracitados, alguns artistas também passaram por Jacareí e fizeram seus registros. Thomas Ender foi um pintor austríaco formado pela Academia de Belas Artes de Viena e que veio ao Brasil aos 24 anos em 1817, acompanhando a expedição científica de história natural de Spix e Martius. Permanceu somente dez meses no Brasil, produzindo em torno de 700 obras, principalmente imagens do Rio de Janeiro e São Paulo.
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Viajantes e seus Relatos
Thomas Ender
Gravura de Thomas Ender - Jacareí no século XIX
Jean-Baptiste Debret foi um pintor francês que integrou a Missão Artística Francesa em 1817 e permanceu no Brasil até 1831. Em 1827, viajando entre o Rio de Janeiro para São Paulo, documentou a paisagem, as vilas, flora e também os habitantes da região valeparaibana.
Jean-Baptiste Debret
Pintura de Jean-Baptiste Debret
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Vila de Jacareí
Vila de Jacareí O Brasil era um território desconhecido. Portugal não tinha recursos para explorá-lo e deste modo criou o sistema das Capitanias Hereditárias: 14 faixas de terras entregues a 12 donatários da pequena nobreza que teriam a obrigação de nelas investirem, realizando sua colonização. Coube a Martim Afonso de Souza fundar a Capitania de São Vicente que envolvia não só as terras do atual Estado de São Paulo, mas também Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e até Goiás. Como cuidar de tudo aquilo? O monarca português, D. João III, permitiu ao donatário conceder “cartas de sesmarias” aos colonos que tivessem interesse em explorar as terras, tornando-as produtivas e gerando riqueza. Inicialmente foram ocupadas as terras do litoral e só depois os colonos passaram a requerer terras “serra acima”, adentrando o sertão seguindo as trilhas dos índios e dos animais. E assim correram os anos. Em 1645, segundo relato de Pedro Taques, Antonio Afonso e seus filhos requereram uma sesmaria na região. Possivelmente a família chegou com seus agregados e desenvolveu uma lavoura de subsistência em um ponto alto, seco e arejado, perto do Rio Paraíba. A casa de moradia era de pau-a-pique e chão de terra batida. Em volta dessa propriedade, os primeiros desbravadores assentaram suas roças e o que sobrava da alimentação era vendido aos viajantes que passavam pelo caminho. As profissões eram raras, talvez houvesse uns ferreiros, uns seleiros. Deste modo o povoado foi crescendo. Alguns anos depois, em 21 de novembro de 1653, na casa do Capitão Diogo de Fontes, na “Vila de Santa Anna das Cruzes de Boigi Mirim”, ele e outros “moradores da Paraíba” resolveram solicitar ao Capitão-Mor Bento Ferrão Castelo Branco a criação de uma nova Vila. Alegavam que seus familiares tinham dificuldades em assistir missa e receber os sacramentos católicos. Além disso, o local onde moravam era muito distante, o caminho era ruim, por morros muito altos, o que tornava a viagem arriscada. Interessante ressaltar que o requerimento foi assinado por 35 moradores, sendo que o segundo da lista era um tal Domingos Afonço. Seria um descendente de Antonio Afonso? No dia seguinte, todos se dirigiram até a localidade e na casa de Antonio Agostim, o Capitão-Mor pode constatar que o “sítio” tinha largueza, recursos e gente suficiente, autorizando o requerimento dos moradores. A Vila foi intitulada Nossa Senhora da Conceição da Paraíba. Foi mandado levantar um pe334
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lourinho, possivelmente de madeira, símbolo da autoridade e da justiça, além da cadeia e a Casa de Câmara. Os limites da vila foram declarados. Entre os “mais suficientes”, foram eleitos o Juiz Ordinário, os Vereadores e o Procurador da Câmara que prestaram juramento de obediência ao Donatário da Capitania, o Marquês de Cascais, bisneto de Martim Afonso de Souza. Transcorria o dia 24 de novembro de 1653, uma segunda-feira, quando foi lavrada a ata de criação da Vila. Esta data é considerada por muitos historiadores como a real fundação de Jacareí, 3° núcleo do Vale do Paraíba e 13° do Estado de São Paulo.
Onde estaria Antonio Afonso?
Resposta: Antonio Afonso está na página 22 335
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W A endocrinologia é um ramo da medicina que trata dos transtornos que ocorrem nas glândulas endócrinas. A palavra endocrinologia vem do grego: “endo” (interno) e “krino” (separar, secretar), uma forma de mencionar os hormônios secretados pelas glândulas e que são responsáveis, por exemplo, pela nossa reprodução, pelo funcionamento do metabolismo, pelo nosso crescimento e também pelo nosso desenvolvimento. Estando desregulados no organismo, os hormônios podem causar uma série de transtornos e doenças, como a obesidade, a diabetes mellitus e o hipotireoidismo. O jacareiense Waldemar Berardinelli, filho dos italianos Afonso Berardinelli e Anita Molica Berardinelli, nasceu na residência dos pais do Largo da Matriz em 27 de janeiro de 1903, sendo registrado somente em 27 de junho. Em 1930, casou-se com Marília, filha do cientista e professor Rocha Vaz. Prematuramente, faleceu no Rio de Janeiro, aos 52 anos, no dia 26 de janeiro de 1956. Mesmo diante desta breve existência, este médico endocrinologista é considerado pioneiro nesta área no Brasil, sendo o fundador do Instituto de Endocrinologia da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, dos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e MetaboWaldemar Berardinelli
Revista Fon Fon - 1926
Waldemar Berardinelli
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logia (ABE&M) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia além de primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, diretor do Hospital Escola São Francisco de Assis e membro titular da Academia Nacional de Medicina. Seus estudos estão reunidos no “Tratado de Biotipologia e Patologia Constitucional”, o primeiro livro escrito sobre o assunto no Brasil. Em 1931 defendeu a tese sobre a “Periarterite nodosa”, vencendo o concurso para ocupar a cátedra de Clínica Médica da Faculdade Nacional de Medicina. Era um professor de espírito curioso, dinâmico, de profunda cultura humanística e de humor contagiante, Marília, esposa de Waldemar Berardinelli sempre fazendo ameno o assunto mais árido. Escreveu artigos com muito senso de humor, como “O Fígado Nacional”, no qual ele demonstra que o povo brasileiro é o que mais diz sofrer do fígado em todo o mundo. Além dos trabalhos médicos reunidos em quatro tomos seriados, Dr. Berardinelli publicou outros livros no campo literário, dentre outros “Medicina e Médicos”, no qual reúne estudos sobre a obra de Machado de Assis, “Silentiarus” e“Medicina e Médicos”.
Revista Vida Doméstica - 1943
Revista Vida Doméstica - 1930
Waldemar Berardinelli
Professor Waldemar Berardinelli como catedrático da Universidade de Brasil
Em 1953, efetuou estudos sobre a “doença da arranhadura do gato”, também chamada de doença de Debré. No entanto, a pesquisa que o consagrou no universo médico foi a descrição de “uma nova síndrome endócrino-metabólica para a qual foi propostaa denominação de Síndrome de Berardinelli”, também
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Acervo de Família
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conhecida como Lipodistrofia Generalizada Congênita. Esta doença rara que atinge milhares de pessoas no mundo se caracteriza pela ausência total ou parcial de células de gordura no corpo provocada por herança genética, doenças autoimunes ou até por uso de algumas medicações. A síndrome faz com que a gordura ingerida se acumule em órgãos internos como fígado e músculos, podendo provocar a diabetes, a esteatose hepática ou problemas cardíacos. A falta de gordura corporal e a ausência do hormônio que regula a saciedade, faz com que os pacientes comam descontroladamente. Hoje, no Brasil, a região do Seridó no Estado do Rio Grande do Norte é a que registra o maior número de pessoas portadoras desta doença no mundo, existindo inclusive uma Associação de Pais e Pessoas com Síndrome de Berardinelli do Rio Grande do Norte (ASPOSBERN). Naquela localidade, a doença ocorre principalmente diante dos entrelaçamentos entre casais consanguíneos. Este médico jacareiense ganhou variadas homenagens: é nome de rua em sua cidade natal e nome da Clínica da Família que atende mais de 38 mil pessoas na região da Mangueira no Rio de Janeiro. Anualmente, os melhores trabalhos originais publicados nos ABE&M recebem o “Prêmio ABE&M Prof. Waldemar Berardinelli”. Este ilustre jacareiense que teve os primeiros estudos no tradicional Ginásio Nogueira da Gama em Jacareí, tinha a seguinte frase escrita à entrada de seu laboratório: “Os olhos no microscópio, as mãos nas provetas; no doente, os olhos, as mãos, os ouvidos, o ‘faro’, o cérebro e o coração”. Waldemar Berardinelli
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Agradecimentos Adilson Pereira de Brito Alberto Capucci Filho Amós Cohen Ana Elisa Bittencourt Pereira Anacleto José Mendes Antonio Luciano Neto Antonio Nunes de Moraes Neto Azenio R. A. Chaves Biosia e Luiz Gonzaga Lencioni Cesira Papera Cláudia Moreira Queiroz Claudio e Maria Lucia Scavone Cristiana M. Berthoud Cristina Demetrio Cristina Gimenes Edson Anibal de Aquino Guedes Edson Cardoso Edson de Oliveira Andrade Eliana Homem de Mello Prado Emerson Tersigni Emidio Marques de Mesquita Eneida Mesquita Fabio Bertoncello Gilmar Pinto de Oliveira Giovanni Sciammarella Gueiby Elizabeth Galatti Médici Indalécio Villar Neto João Bosco Lencioni João Luis Landin Cassal Jocilene Ferreira Pontes José Carlos Zandonadi de Oliveira
José de Souza Pereira José Pereira Júnior (Jota Júnior) Julinho Martins Tosi Jussara Domene Gehrke Leonidas Maffili Máximo Leopoldo José Rodrigues Ludmila Saharovsky Luiz José Navarro da Cruz Luiz Oliveira Marcelo Solaroli de Oliveira Margarida de Lourdes Luciano Maria Ilka Egydio Antunes Lara Marina Martins Merkx Mário Sérgio de Moraes Maurício Pedro Cãndia da Silva Myriam Labaki Pupo Newton Oliveira Norma Lippi Ocleris Ortega Osmar Almeida Osvaldo de Lima Soares Roberta Schürig Machado Rogéria Ap. Azevedo de Moraes Sérgio Henrique Nassif Silva Sérgio Rodrigues Junior Silvana Conterno Sonia Regina Ferraz Pereira Suzana Mara de Oliveira Hashimoto Suzana Moreira Esper Tatiana Aparecida Pontes Ferreira Zélia Quintino da Rocha Simplicio
Aos Cambusanos, Cláudio, André, Cida e Roberto. Sem vocês, este dicionário não poderia ser ilustrado. À Juliana, Ieda e Ana Lúcia, servidoras do Arquivo Público, pela paciência e ajuda nas pesquisas. 350