Em nome da VERDADE
4 Revista de apologética cristã católica - periódico mensal - ano 3 - 2012 d outrina | espir itualidade | t ira-dúv idas | prát ica | polêmica | história do cristianis mo
Uma publicação da Paróquia São João Batista do Brás - São Paulo
www.vozdaigreja.blogspot.com
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BEATO ANGÉLICO, “Anunciação” (detalhe), Museu Diocesano de Cortona, Toscana, Itália.
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MARIA, MODELO DE SANTIDADE
O QUE É A SANTIDADE?
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“São Francisco de Assis em Êxtase”, Caravaggio (1595)
esp i r i t u a l i da de
SANTIDADE
O que leva à santificação? A oração? A penitência? O jejum? A leitura da Bíblia? A adoração? A obediência? É possível ser santo, hoje?
O
Santidade é, mesmo com o coração queimando, perdoar, “deixar para lá”; mesmo com o corpo cansado, prestar serviços conforme as suas capacidades, para o bem de todos, pois a caridade tudo crê, espera, sofre (1Cor 13,4-7). Santidade é ter o coração voltado para o Coração de Cristo, por uma sintonia interior, Dom do Espírito Santo, como escreveu São Paulo: “Tende os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2, 5).
que é ser santo? Somos santos por Graça divina ou através dos nossos esforços e boas obras? Será que algum ser humano neste mundo é capaz de ser perfeitamente santo? Isso pode parecer impossível, mas São Mateus, em seu Evangelho, conta que Jesus falou: “Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito” (Mt 5,48)... Observando as vidas das pessoas santas, e estudando as biografias dos santos canonizados pela Igreja, podemos aprender com eles; isso ajuda a entender melhor essa questão que pode parecer complicada.
Como diz o livro do padre jesuíta Héber Salvador de Lima, santidade é ir “mancando em busca do Reino”, que é o título do seu livro1 sobre a vida de Santo Inácio de Loyola: este grande servo de Deus, por causa de uma fratura mal curada da perna, ficou coxo, e, coxeando, percorreu o caminho da santificação, isto é, da imitação do Salvador, o quanto pôde.
O que significa santidade? A palavra santo (no grego hágios; no hebraico kadosh), significa separado (sagrado), outro, outra coisa. Ser santo, literalmente, é ser separado por Deus e para Deus, é ser uma outra “coisa”, diferente do mundo que nos rodeia. Por isso mesmo, o sentido moral da palavra não pode ser esquecido.
Assim, santidade nem sempre é “perfeição”2, a não ser a perfeição do amor santo, mas não perfeição de fazer tudo sempre “certinho”, tudo segundo “as regras”. Até São Francisco de Assis, este grande modelo de vida cristã, numa ocasião chegou a subir num telhado novinho, erguido pela indústria de São Boaventura, e destelhá-lo, para dar abrigo aos estudantes franciscanos, atirando telhas ao chão e quebrando-as...
Santificar é tornar santo. A vontade de Deus para a sua vida é que você seja santo (Lv 19, 2 / 1 Pd 1, 16 / Hb 12, 14). O cristão foi ressuscitado com Cristo e vive a vida nova em Cristo. Mas a santidade não nos isola do convívio social, ao contrário: deve ser demonstrada no dia a dia e nos relacionamentos cotidianos (1 Pd 1, 15-17). É necessário viver na prática essa nova vida em Cristo (Rm 6, 4)! Não basta despojar-se do “velho homem”; é essencial vestir-se do novo (Ef 4, 22-24). Santificação é viver de acordo com esta nova vida que recebemos.
A diferença é que São Francisco logo caiu em si e pediu desculpas pelos seus “cinco minutos” de ira. Esta imperfeição, porém, não o tirou do caminho seguro da santidade! Por isso, onde Mateus escreveu: “Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito” (Mt 5, 48); Lucas transcreveu: “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso” (Lc 6, 36). Isso nos dá confiança! Fazer tudo sempre “certinho”? Parece impossível! Nem São Francisco conseguiu! Ser misericordioso? Isso parece bem mais ao nosso alcance, não é mesmo? Mãos à obra, então! Tratemos de santificar as nossas vidas, cada um de nós, e demos nosso exemplo ao mundo que nos rodeia!
Cultivar a santidade é o processo de ir crescendo em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2, 40), assim como Jesus em Nazaré, chegando à maturidade de Cristo (Ef 4,13), capaz de tomar decisões prudentes, sábias e iluminadas ao longo da vida.
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1 “Mancando em busca do Reino”, Loyola /SP. 2 “Perfeição ou Santidade e outros textos espirituais”, Loyola / SP Baseado em artigo do Pe. Raul Pache de Paiva, SJ
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re fl exã o
CATÓLICO PRATICANTE?
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uando, num encontro social, a conversa gira em torno de assuntos religiosos, é comum alguém declarar, com a maior naturalidade: “Sou católico mas não pratico”... Interessante é que a maioria parece achar muito normal e lógica essa afirmação: raramente alguém contesta. Assim, dias depois, numa outra oportunidade, numa outra discussão sobre assuntos religiosos, é possível que alguém volte a fazer a mesma afirmação. Mas, como pode alguém “ser” e não “praticar”? Essa ideia de que se pode acreditar na Igreja, sem colocar em prática a sua fé, infelizmente, é tão comum que já se tornou a mentalidade predominante em muitos ambientes. A justificativa desse comportamento varia de pessoa para pessoa: existem aquelas que deixaram de lado a prática religiosa pela decepção com um líder ou administrador da sua comunidade: o padre fez ou falou alguma coisa que aquela pessoa não gostou e pronto, já é motivo para abandonar Jesus Cristo e a Igreja, como um todo. Alguns outros, meio sem perceber, foram abandonando pouco a pouco a vida de fé: deixaram de ir à Missa um dia, depois outro... Quando perceberam, não estavam indo mais à igreja. Depois vão deixando de rezar com regularidade, deixando de ler a Bíblia Sagrada, e,
quando notam, já organizaram suas vidas de tal maneira que não há mais espaço para a religião, para a Comunhão com Deus... Outros, ainda, têm um conhecimento tão superficial da sua religião que, sem refletir muito, a renegam. Quando alguém critica a Igreja, essas pessoas ajudam a criticar, ao invés de defender a sua Fé, a sua Casa, a sua Família. Lembram-se que a Igreja existe apenas em ocasiões como a celebração de um batizado, casamento ou Missa de sétimo dia de algum querido falecido, como se a Igreja fosse somente um lugar para encontros sociais. Algumas pessoas também deixam a prática religiosa com o argumento de que não gostam de normas e ritos: preferem fazer a sua própria religião, do “seu jeito”. Não querem dogmas, regras morais, ritos... Esquecem que somos seres humanos, e não anjos elevados: os anjos não precisam de gestos, sinais e palavras para se relacionar com Deus, pois são seres espirituais. Nós, ao contrário, precisamos desses recursos como meio de comunicação. A Fé nos torna participantes da Família de Deus e membros da Igreja, e é através dela que seguimos o Caminho da Salvação, que é Jesus Cristo. Nossa família cristã, a Igreja do Senhor, tem uma história de dois milênios, uma rica tradição e belíssima Liturgia, que se reflete nas belas
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celebrações. Pode ser que algumas pessoas não as entendam, mas, antes de simplesmente ignorá-las, ou pior, desprezá-las, seria mais prudente procurar conhecê-las, entender os seus significados e descobrir os seus valores. O principal, muitas vezes, é invisível aos olhos. O próprio Jesus Cristo, mesmo sendo Deus, quando assumiu a natureza humana observou os ritos: foi batizado, passou noites em oração, foi ao Templo de Jerusalém, frequentava as sinagogas, lia as Escrituras... Não se pode dizer que tem fé e não demonstrá-la nos gestos, na postura, na prática. A fé e o modo de vida não vivem separados. A Bíblia diz que a fé sem obras é morta (Tg 2, 14-26). Conta-se que certo empresário muito rico, mesmo sendo ateu, em viagem à Índia fez questão de ir conhecer Madre Teresa de Calcutá: ele tinha muita admiração por sua vida e obra. Chegando à casa das missionárias, onde Madre Teresa vivia, encontrou-a em meio a um mar de crianças miseráveis, muitas doentes, num quadro desolador. Viu uma velha senhora, que poderia estar descansando e aproveitando tranquilamente seus últimos anos de vida, sacrificando-se, literalmente, pelo bem do próximo. Comovido, o homem aproximou-se e se apresentou, declarando sua admiração pela religiosa. Madre Teresa foi gentil, mas não deixou de fazer o seu trabalho. Os dois conversaram por alguns minutos, até que e o rico empresário, prestando atenção ao grande crucifixo pendurado ao pescoço de Madre Teresa, comentou: “Admiro muito o seu trabalho e o seu exemplo, mesmo não acreditando neste símbolo que a senhora usa”. Ouvindo issso, Madre Teresa respondeu: “Meu filho, tudo que eu sou e faço, todas as coisas pelas quais você me admira... É tudo por causa do que este símbolo representa. Se não fosse pela minha fé e amor a Cristo Crucificado e Ressuscitado, você nem saberia que eu existo!”... Henrique Sebastião
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IMITAÇÃO DE CRISTO DOUTRINA SOCIAL DA
IGREJA - DCI
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odo cristão católico deve conhecer o pensamento e ensinamento social da Igreja, que decorrem sempre do Evangelho. Um dos princípios básicos é a “dignidade e centralidade da pessoa humana”. Cada pessoa é criatura e imagem de Deus, unidade de corpo e alma, único e irrepetível merecedor de respeito, portanto, desde a concepção até a morte. Só Deus é o Senhor da vida. Ninguém tem autoridade de impedi-la ou abreviá-la. Dessa luta a Igreja Católica jamais desistirá, seja qual for o pretexto ou justificativa. O católico deve ser firme na fé e fiel aos ensinamentos evangélicos e aos seus princípios. Não deve se curvar. Esse princípio, contido na doutrina social da Igreja (DSI), é “pétreo”: é imutável, não se subordina. A dignidade da pessoa humana é inalienável; é reflexo de Deus. Não existem quaisquer políticas públicas a serem apoiadas pelos católicos, se este princípio for contrariado. Nós lutamos contra a cultura da morte. Somos sempre pela vida. A política, em seu correto conceito, busca satisfazer o bem comum, que tem a ver com a dignidade e o tratamento respeitoso a que todos temos direito. Outro princípio básico da DSI é o da “destinação universal dos bens”. Que fique bem claro: os bens propiciados por Deus não são privilégios de poucos, mas devem servir ao usufruto de todos. Não prosperem as ações governamentais que cerceiem esse princípio. Respeite-se o direito à propriedade, porém não se desconsidere a importância da função social que atende ao princípio da justa divisão. Não sejam os políticos cristãos coniventes com quaisquer práticas que afrontem os direitos das pessoas. Aliás, em relação a político cristão, um critério de avaliação para votar em alguém é verificar se a vida dele reflete um verdadeiro cristianismo; se o exemplo na comunidade é bom, se possui sólida formação ética e moral e se tem preparo para o exercício do cargo que pleiteia.
CAPÍTULO 6
DOS DESEJOS
DESORDENADOS
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odas as vezes que o homem deseja alguma coisa desordenadamente, torna-se logo inquieto. O soberbo e o avarento nunca sossegam; entretanto, o pobre e o humilde de espírito vivem em muita paz. O homem que não é perfeitamente mortificado em si, facilmente é tentado, e facilmente é vencido, até em coisas pequenas e insignificantes. O fraco de espírito, ainda carnal e inclinado à sensualidade, só a muito custo poderá desprender-se de todos os desejos terrenos. Daí a sua frequente tristeza, quando deles se abstém, e fácil irritação, quando alguém o contraria.
Antes do engajamento a favor de qualquer candidato político, é imprescindível um engajamento em defesa dos valores profundos plantados por Deus, compromisso que direcionará a sua vida em todas as esferas de atuação. A responsabilidade de colocar nas mãos de pessoas o poder temporal é de cada um de nós. Dessa incumbência não podemos fugir. Que possamos eleger pessoas realmente comprometidas com o Evangelho e que jamais se deixem corromper por outros interesses que contrariem o bem comum.
Se, porém, alcança o que desejava, sente logo o remorso da consciência, porque obedeceu à sua paixão, que nada vale para alcançar a paz que almejava. Em resistir às paixões, se acha a verdadeira paz do coração, e não em segui-las. Não há, portanto, paz no coração do homem carnal, nem no do homem entregue às coisas exteriores, mas somente no daquele que é fervoroso e espiritual.
Por Irineu Uebara, advogado, ministro extraordinário da Eucaristia e da Palavra e estudante de Teologia (PUC-SP)
KEMPIS, Tomás. A Imitação de Cristo, São Paulo: Vozes, 2006, pp. 37-38.
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PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS
Rezemos para que a liberdade religiosa seja de fato um direito de todo ser humano, respeitado em todas as nações da Terra.
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este exato momento, mais de 200 milhões de cristãos sofrem intensa perseguição em todo o mundo1. Outros 250 milhões enfrentam discriminação, sobretudo em países socialistas/comunistas ou governados por regimes islâmicos1. Cristãos estão sendo massacrados, torturados e mortos na Nigéria, Indonésia, Iraque, Sudão e outros. Para não abandonar sua fé, veem-se obrigados a fugir da China, Egito, Índia, Afeganistão, Coreia do Norte, Etiópia, Uganda e pelo menos outros 50 países1. Em diversos pronunciamentos públicos, o Papa lamenta os episódios de violência contra os cristãos, da parte de regimes que tentam impor uma religião majoritária. Em alguns Estados da Índia, por exemplo, onde os cristãos são minoria, a Igreja dispõe de vocações sacerdotais; religiosos(as) empenham-se trabalhando árduamente, por meio de obras educativas e assistenciais em favor dos mais pobres. Esse trabalho, porém, encontra resistência e até a perseguição de certos grupos hinduístas radicais! Outra forma de perseguição, mais sutil, acontece nos países mais desenvolvidos. Não se trata de perseguição violenta, mas, como disse o Papa, de um “escárnio cultural sistemático”, que ridiculariza as crenças religiosas cristãs e católicas. Uma religiosa que trabalha no Movimento Eucarístico Juvenil, no Canadá, testemunha que, em determinados ambientes, os jovens católicos são criticados e alvos da zombaria dos colegas. Na escola e na universidade, alguns professores ridicularizam a religião. Nesse contexto, o jovem cristão é excluído, afrontado, desrespeitado. Na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do ano passado, na Espanha, os jovens peregrinos católicos foram afrontados por movimentos de ateus ativistas. Houve tumulto e agressões da parte de manifestantes favoráveis ao Estado laico e contra a visita do Papa e a JMJ. Com o protesto, que contou com a presença de milhares de pessoas, a polícia precisou desalojar parte do centro da cidade. Em diversos países da Europa, como Itália e Espanha, movimentos ateístas radicais organizam-se contra a religião, especialmente contra a Igreja, com manifestações como a ocorrida na “Marcha dos Indignados” de 2011, quando, em alguns locais, igrejas foram invadidas e depredadas, e imagens cristãs foram estraçalhadas e pisoteadas em praça pública2. O crucifixo também é alvo desses grupos, que o entendem como “ofensivo” ao sentimento dos não cristãos e dos que não têm religião. Segundo estes, o Estado, por ser laico, deveria proibir toda manifestação religiosa externa ou pública. Confundem “laico” com “ateu”...
Ideológico: é ocaso de países com governos socialistas/comunistas (como a China continental e o Vietnã); Religioso: nos países que professam uma religião oficial e temem que os cristãos queiram converter os cidadãos. É o caso dos governos islâmicos e de alguns Estados da Índia, dominados por hinduístas fundamentalistas. O Secretário-geral do Apostolado da Oração na Indonésia nos conta que, naquele país, um cristão não pode ser funcionário público nem lecionar em uma universidade do Estado. Na Malásia, o governo chegou a proibir que “o Deus dos cristãos” fosse chamado de “Alá”, que significa Deus na língua árabe. Essas discriminações tornam a vida dos cristãos, nesses países, muito difícil. Na Indonésia, de 2004 a 2010, foram fechadas ou destruídas 2.442 Igrejas! Há um ano, houve um ataque massivo contra igrejas em Temanggung (Java central). Em Bagdá, capital do Iraque, a catedral sírio-católica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi atacada durante a celebração da Missa, causando a morte de dois sacerdotes e de mais de 50 fiéis. Os cristãos, nesses países, vivem amedrontados. Naquele país, cristãos são regularmente assassinados e sequestrados; igrejas são destruídas e centenas de milhares de cristãos são obrigados a fugir. Cristãos estão sendo martirizados no mundo, mas poucos cidadãos das nações livres sabem disso. Mídia e governos poderiam falar mais sobre o assunto e atuar contra estes abusos, mas geralmente se recusam, por motivos políticos.
A perseguição contra os cristãos ocorre, principalmente, por dois motivos:
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1. Instituto Humanitas Unisinos, por John L. Allen Jr., publicada no site National Catholic Reporter, em 13-01-2012 <http://www.ihu.unisinos. br/noticias/505846-cinco-mitos-sobre-a-perseguicao-anticrista> 2. Rádio Vaticana, em: http://www.radiovaticana.org/por/index.asp. acesso outubro 2011. 25/06/2012 17:32:39
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Túmulo do Apóstolo S. Pedro, Basílica de São Pedro, Roma
A GLORIOSA HISTÓRIA DA IGREJA - V
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A Didaqué também fala dos sacerdotes ou presbíteros, bispos e diáconos da Igreja, e adverte contra os “falsos profetas e corruptores”, e contra o anticristo que virá quando o fim estiver próximo.
que mais impressiona no estudo das primeiras comunidades cristãs é o fervor e a coragem dos fiéis. Diante das autoridades romanas e dos líderes religiosos judaicos daquele tempo, os fiéis cristãos não tinham medo de confessar a fé em Jesus. A presença do Espírito Santo é muito viva. Em cada comunidade local da Igreja havia ministros, presbíteros, diáconos... Todo fiel colocava sua vida, literalmente, à disposição da Igreja .
Os primeiros cristãos, geralmente, eram gente simples. Exteriormente não se distinguiam das outras pessoas do seu tempo, mas viviam de modo honesto e digno. Não eram revolucionários, procuravam ser obedientes às autoridades e rezavam pelos governantes. Tanto os epíscopos (bispos) como os presbíteros e diáconos eram ordenados através da imposição de mãos. Esta estrutura ministerial deu origem à hierarquia da Igreja tal como a conhecemos hoje.
A atuação feminina era muito importante e expressiva, mas não havia confusão entre o papel do homem e o da mulher. As grandes sociedades da antiguidade, e aí se incluem tanto a romana quanto a judaica, eram machistas: a mulher era vista como propriedade do marido, e as crianças também podiam ser rejeitadas ou abandonadas pelos pais. Mas os cristãos tinham valores completamente diferentes. Em Cristo não há diferença de dignidade entre grego e judeu, homem e mulher, escravo e livre.
Sto. Inácio de Antioquia, já no primeiro século, declarou: “Que todos reverenciem os diáconos, o bispo e os presbíteros (padres), que são o Senado de Deus, a Assembleia dos Apóstolos”1. Desde os seus primórdios, a Igreja possui uma hierarquia, primeiro formada pelos Apóstolos e por S. Pedro, e esta constituição foi transmitida ininterruptamente através do Sacramento da Ordem.
Todos se reuniam para celebrar a Eucaristia, especialmente no domingo (que substituiu o sábado como o sétimo dia dos cristãos, por causa da ressurreição do Senhor), rezavam juntos, partilhavam seus bens... O rito de iniciação cristã era o batismo, no qual os efeitos da morte redentora de Cristo eram aplicados sobre o fiel. Havia ainda a imposição das mãos, ou Crisma, através da qual o fiel confirmava o seu compromisso com a Fé e com a comunidade, e a unção dos enfermos, para curar e confortar os doentes.
Os Apóstolos fundaram comunidades e ordenaram pessoas para presidi-las. Estas, por sua vez, ordenaram suas sucessoras, e o processo prosseguiu continuamente, de tal modo que permite ligar cada bispo, cada padre, cada diácono da Igreja de hoje aos Apóstolos e, dos Apóstolos, ao próprio Jesus Cristo. De modo particular, o bispo de Roma é o sucessor do Apóstolo S. Pedro e, portanto, responsável por garantir a unidade e a integridade da fé da Igreja. Outra característica importante dos primeiros cristãos era a ansiedade pela Volta do Senhor Jesus Cristo, a Parusia. Pelas cartas de S. Paulo, notamos que a volta próxima de Jesus era a crença comum. Nas assembleias litúrgicas ouvia-se a exclamação cheia de esperança: “Maranatha!” (Vem, Senhor!) Com o tempo, percebeu-se que a vinda de Jesus não era para aquelas primeiras gerações.
Uma fonte importante sobre a vida das comunidades cristãs nos séculos I e II é a Didaqué, a Instrução dos Doze Apóstolos, uma espécie de Catecismo primitivo, que foi escrito no primeiro século, ainda antes do Evangelho segundo S. João e do Apocalipse. A primeira parte da Didaqué apresenta os dois caminhos que o homem pode escolher: o da vida e o da morte. Tem orientações para a conduta dos fiéis e exortações. Na segunda parte há uma descrição da vida sacramental e da oração. O batismo é feito em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e, quando a imersão não é possível, a água pode ser simplesmente derramada três vezes sobre a cabeça de quem vai receber o Sacramento. A celebração dominical da Missa é o Sacrifício Verdadeiro, e cumpre a profecia de Ml 1,10s.
O cristianismo usou a imensa rede de estradas que interligava o Império Romano. Desenvolveu-se principalmente nas cidades. De boca em boca, através de mercadores, viajantes, judeus helenizados, artesãos e escravos, a Boa-Nova do Evangelho ia chegando aos lugares mais distantes. O Império de Roma tornou-se, afinal, a “Pátria do Cristianismo”.
1. COMBY, Jean. Para ler a História da Igreja - vol 1, 3ª ed. São Paulo: Loyola , 2001, p. 60. Bíblia Católica Online, disponível em: http://bibliacatolica.com.br/historia_igreja/4.php#ixzz1kxrG6Dea, acesso em 17 jun 2012.
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COMPÊNDIO
DA IGREJA
DO CATECISMO
CATÓLICA
II Seção - Capítulo 2º
104. Que ensinamento nos oferece a vida oculta de Jesus em Nazaré?
CRISTO,
ESPERANÇA PARA A ÁFRICA
S
egundo a antropologia moderna, foi na África que surgiram os seres humanos. A atividade cristã na África também é antiga. Muitos dos primeiros padres da Igreja eram africanos, entre eles Sto. Agostinho, Orígenes e Tertuliano. Foram encontrados muitos manuscritos antigos da Bíblia no norte da África. No século VII, com a expansão islâmica, o cristianismo perdeu espaço: os muçulmanos, zelosos em converter os povos à sua religião, espalharam-se rapidamente da Arábia para o norte da África. Como consequência, a atividade missionária cristã centralizou-se na Europa. Ao contrário do que houve no continente europeu, a África tornou-se o continente mais pobre do planeta. Atualmente fornece recursos naturais ao mundo, como diamantes e outras riquezas, e compra armas do mercado negro, que infelizmente dão continuidade aos seus intermináveis conflitos internos. Enquanto isso, a população de muitos países africanos sofre terrivelmente o flagelo da AIDS e outras doenças, da fome, da falta de saneamento básico... Nesse quadro tão negativo, a Igreja se volta para o continente africano e tenta mostrar o olhar compassivo do Bom Pastor. João Paulo II visitou, e Bento XVI continua visitando continuamente a África, incentivando a ação das missões. Em novembro de 2011, o Papa visitou Benin, África ocidental. Sem ignorar os problemas e dificuldades, exaltou seus valores: “Tenho profunda convicção de que a África é terra de esperança”, declarou. Na Missa celebrada em Cotonou, capital de Benim, o Papa entregou aos bispos africanos a “Exortação Apostólica Africae Munus” (Compromisso da África), resultado da Segunda Assembleia Especial para a África, do Sínodo dos Bispos, realizada em Roma em 2009. Hoje, padres e religiosos(as) vão aos países africanos colaborar em tudo que é possível, material e espiritualmente. Rezemos para que os países africanos encontrem em Cristo Ressuscitado a perfeita Fonte de Esperança.
Referência bibliográfica: SESBOUE, Bernard & WOLINSKI, J. O Deus da Salvação. São Paulo: Loyola, 1996, pp.478-501.
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Durante a vida oculta em Nazaré, Jesus permanece no silêncio de uma existência comum. Permite-nos assim estar em comunhão com ele na santidade de uma vida cotidiana feita de oração, de simplicidade, de trabalho, 1e amor filial. A sua submissão a Maria e a José, seu pai terreno, é uma imagem da sua obediência filial ao Pai. Maria e José, com sua fé, acolhem o Mistério de Jesus, embora sem o compreender sempre. 105. Por que Jesus recebe de João o “batismo de conversão para o perdão dos pecados” (Lc 3,3)? Para dar início à sua vida pública e antecipar o “Batismo” da sua morte: aceita assim, embora estivesse sem pecado, ser contado entre os pecadores, ele, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). O Pai o proclama seu “Filho amado” (Mt 3,17) e o Espírito desce sobre ele. O batismo de Jesus é a prefiguração do nosso batismo. 106. O que revelam as tentações de Jesus no deserto? As tentações de Jesus no deserto recapitulam a de Adão no paraíso e as de Israel no deserto. Satanás tenta Jesus na obediência dele à missão que o Pai lhe confiara. Cristo, novo Adão, resiste e a sua vitória anuncia a da sua paixão, suprema obediência do seu amor filial. A Igreja se une em particular a esse Mistério no tempo litúrgico da Quaresma. 107. Quem é convidado a fazer parte do Reino de Deus, anunciado e realizado por Jesus? Jesus convida todos os homens a fazerem parte do Reino de Deus. Também o pior pecador é chamado a se converter e a aceitar a infinita misericórdia do Pai. O Reino pertence, já aqui na terra, aos que o acolhem com coração humilde. É a eles que são revelados os seus Mistérios.
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“Jim Kaviezel as Jesus”, por Kareen Hinson - divulgação
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As coisas já começam a ficar mais claras... Se estamos falando de cristianismo, sim, Deus criou religião, e a verdadeira religião é fundamental para nos aproximarmos dEle. Religião, no sentido original, vem do latim religare, que significa “religação”, no caso, com Deus. O ser humano, por seu egoísmo, ignorância, fraquezas e apegos (pecado) encontra-se separado, desligado do seu Criador. Religião é, portanto, retomar essa ligação sagrada, e foi exatamente isso que Cristo veio trazer. Jesus ensinou que o caminho da salvação está nEle, sim. E é exatamente por isso que nós precisamos ouvir o que Ele diz, seguir o que Ele ensinou, observar o seu exemplo. Fazer isso é praticar a religião! Então, a separação entre seguir Jesus e a verdadeira religião simplesmente não existe! Vejamos alguns exemplos: Jesus, entre outras coisas, mandou a Igreja batizar todo aquele que crê; celebrou e mandou celebrar a Eucaristia, em sua memória; mandou-nos observar certas regras morais; designou os apóstolos e deu-lhes autoridade sobre a doutrina; mandou que confessássemos os nossos pecados... Bem, são exatamente essas coisas que a Igreja faz e ensina a fazer, obedecendo ao que ensinou o Cristo: tudo isso é a prática da religião, ou seja, a Igreja nos leva à religação com Deus!
JESUS ESUS EE AA RELIGIÃO ELIGIÃO
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Imagens na Igreja, de novo...
m 28 de maio último, um leitor do blog Voz da Igreja, identificado com o nome “Volnei”, enviou-nos um longo comentário, do qual constavam as seguintes afirmações: “Deus não tem religião. Deus não criou nenhuma religião. E a prova de que a religião não salva ninguém é que Jesus Cristo nasceu no meio de uma família judaica, e sendo judeu nos ensinou que o caminho da salvação está nele. O problema de católicos, protestantes, espíritas, etc, é que colocam a religião acima de Deus. Com relação à adoração de imagens, a Bíblia é bem clara com relação a isso, e mostra que Deus não admite adoração às imagens.”.
Desde que o blog Voz da Igreja existe, possivelmente mais de uma centena de “evangélicos” entraram e comentaram condenando a Igreja Católica por conta das imagens... E nós já respondemos a isso umas cem vezes também! O estranho, porém, é alguém dizer que religião não importa, mas logo depois mencionar a Bíblia! Ora, se você crê na Bíblia, então você tem religião, sim. E, pelo teor do argumento, a sua religião é a religião do livro, aquela que ensina que Deus se resume a um livro. E que Bíblia seria essa, que você está citando? A nossa Bíblia diz que Deus mesmo ordena a confecção de imagens, em diversas situações: manda esculpir e instalar querubins sobre a Arca da Aliança, o objeto mais sagrado do Antigo Testamento. Manda Moisés esculpir uma serpente de bronze, através da qual o povo foi curado. Manda Salomão construir Seu Templo repleto de imagens, esculturas de anjos, de bois, de leões, de querubins de duas cabeças, de seres alados, etc, etc... Está tudo na Bíblia, nos livros do Êxodo, de Números, no Deuteronômio e outros!
Achamos interessante publicar essa pergunta, pois muitas pessoas parecem acreditar nesse argumento, que diz que “Deus não tem religião, Deus não criou religião, religião não salva”... No entanto, o mínimo que você precisa fazer, pelo bem da verdade, é admitir que essa afirmação depende direta e completamente do ponto de vista. Deus não criou religião na opinião de quem? Baseado em quê, exatamente, você afirma isso?
Entenda que idolatria não é usar imagem no culto: isso sempre aconteceu, desde os tempos de Moisés. O problema eram as imagens dos ídolos, as imagens dos deuses pagãos. Idolatria seria adorar uma imagem como se fosse um deus, achando que aquela imagem é um deus. Nós, católicos, não somos ignorantes a ponto de achar que imagens são deuses! Entendemos que uma pessoa que pensa assim teve uma formação equivocada e foi induzida a pensar absurdos ao nosso respeito.
Antes de qualquer coisa, para saber se Deus criou religião ou não, se religião salva ou não, precisamos saber o que é religião. Como é possível fazer qualquer afirmação a respeito de uma determinada coisa, sem saber o que essa coisa é, antes de tudo? Para emitir opinião sobre qualquer assunto, é preciso conhecer o assunto! Sem isso, você estará simplesmente impondo um “achismo” como verdade absoluta. Isso posto, vamos começar do começo: o que é religião? Depende. No dicionário Michaelis, por exemplo, constam as seguintes definições: “Sentimento consciente de dependência ou submissão que liga a criatura humana ao Criador; culto externo ou interno prestado à divindade; Fé; Prática dos preceitos divinos ou revelados...”.
Vivemos num país livre. Todos têm o direito de escolher a sua religião. Mas ninguém tem o direito de divulgar mentiras sobre a fé do outro. Rezemos pelos nossos caluniadores, e pelo fim da propagação de mentiras sobre a Igreja Católica. veja o comentário e a resposta na íntegra:
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p r á t i ca
A qualquer momento, você pode fazer uma pausa na agitação do seu dia e sussurar uma oração espontânea, em seu coração: “meu Senhor, meu PAI, eu vos adoro e agradeço...”
3 CHAVES PARA A
ORAÇÃO FRUTUOSA
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caminho da oração é maravilhoso quando nos deixamos conduzir por Deus e aceitamos com humildade os seus desígnios, tão diferentes dos nossos. O ser humano que não se entrega a Deus e não crê no seu Amor é como alguém que não sabe nadar e se debate na água, sem conseguir se manter na superfície, e afunda! Bastaria se deixar levar pelas águas... Quantos morrem afogados por não saber nadar e por medo. Mas quem reza nunca tem medo, pois sabe que ao seu lado está Jesus, estendendo sua Mão poderosa.
A primeira chave da oração é a Fé. Ela abre uma porta es-
treita, pela qual é preciso se curvar, se encolher, “diminuir” um pouco para poder entrar. Uma das manifestações mais belas da oração se dá quando a pessoa, com fé, tocada pela grandeza e luminosidade de Deus, nada pode fazer senão ajoelhar-se e adorar, tocando o chão, de onde veio. Não é escravidão, mas um gesto de profundíssimo amor e admiração!
A terceira chave é a mais importante: o Amor-
Caridade. Não é difícil compreender que o Amor é fonte da oração, a fonte de todo o diálogo com Deus e com nossos irmãos. Aprendemos, no Catecismo da Igreja Católica: “Meu Deus, eu vos amo, e meu único desejo é amar-vos até o último suspiro de minha vida. Meu Deus infinitamente amável, eu vos amo e preferiria morrer amando-vos a viver sem vos amar. Senhor, eu vos amo, e a única graça que vos peço é amar-vos eternamente... Meu Deus, se minha língua não pode dizer a cada instante que eu vos amo, quero que meu coração o repita tantas vezes quantas eu respiro!” (CIC 2658). Experimente usar essas três chaves para abrir as portas que conduzem à beleza e ao doce sabor da oração. As portas não se abrem de uma vez, mas lenta e silenciosamente. É preciso entrar na ponta dos pés, sem fazer barulho para poder contemplar e ser contemplado pelo Amado Deus.
A segunda chave é a Esperança. A Esperança não é ilusão
nem droga que adormece nossos sofrimentos e nos faz sonhar com o irreal. Nada disso! Uma pessoa de Esperança sabe que só em Deus pode confiar e que só quando se consagram a Ele nossas esperanças é que elas se transformam em certezas!
Baseado no texto de Frei Patrício Sciadini, OCD - Boletim Mensageiro do Coração de Jesus nº 1288, março 2011
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a p a ri ç õ e s mari an as
NOSSA SENHORA
DE SALETE
C
om este, damos prosseguimento à série de artigos da revista Voz da Igreja sobre as principais aparições da Virgem Maria, reconhecidas pela Igreja. As aparições marianas são entendidas como sinais da Promessa divina de Salvação. Entretanto, a maioria desconhece que os relatos das visitas especiais da Virgem Maria a este mundo remontam, no mínimo, ao século III, quando Gregório, o Taumaturgo, atestou que Maria lhe aparecera, uma noite, acompanhada de São João Batista, para introduzi-lo no Mistério da Piedade. Na era moderna, as aparições da Virgem Maria começaram no Convento das Irmãs de Caridade da Rue du Bac, em Paris, França, com as aparições de Nossa Senhora das Graças, que vimos em nossa 23ª edição. A primeira aparição mariana em que segredos proféticos foram revelados ocorreu em 1846, no pequeno povoado de Salete, nos Alpes franceses. Os videntes de Salete eram dois jovens pastores: Melânia Calvat, de 14 anos de idade, e Maximino Giraud, de 11 anos. Em 19 de setembro de 1846, um sábado, bem cedo, as duas crianças sobem a encosta do monte Planeau, cada uma com seu rebanho de quatro vacas, sendo que Maximino leva também uma cabra e o cão, Lulu. Ao meio dia, no fundo do vale, o sino da igreja da aldeia toca a hora do Angelus. Os pastores conduzem as vacas até a “fonte dos animais”, uma poça de água formada pelo regato que desce pelo vale do Sézia. A seguir, conduzem os rebanhos à pradaria, nas encostas do Monte Gargas. Faz calor. Maximino e Melânia tornam a subir pelo vale até a “fonte dos homens”. Junto à fonte, tomam a refeição: pão e um pedaço de queijo da Sabóia. Outros pastorinhos juntam-se aos dois. Depois deles partirem, Maximino e Melânia atravessam o regato e descem alguns passos até dois bancos de pedras empilhadas, junto à poça seca de uma fonte sem água: é a “pequena fonte”. As duas crianças estendem-se na relva e adormecem. O tempo está agradável, não há nuvem no céu. O murmúrio do regato acalma, e, no silêncio da montanha, e o tempo passa... Repentinamente, Melânia acorda e sacode Maximino: “Maximino, vem depressa, vamos ver as nossas vacas! Onde andarão?!” Rapidamente sobem a encosta. Voltando-se, têm diante de si todo o verde dos Alpes: as vacas lá estão, ruminando calmamente. Os dois tranquilizam-se, e começam a descer.
O clarão se move, roda sobre si mesmo. Faltam palavras às duas crianças para exprimir a impressão de vida que irradia desse globo de fogo. E então, uma mulher aparece nele, sentada, a cabeça entre as mãos, os cotovelos sobre os joelhos, a chorar, numa atitude de profunda tristeza. Esta bela senhora ergue-se, então, e diz-lhes, em francês: “Aproximai-vos, meus filhos, não tenhais medo, estou aqui para vos contar uma grande novidade!”... As crianças descem para junto dela, e a olham mais de perto. A Bela Senhora é alta e toda de luz, e não para de chorar. Veste-se como as mulheres da região: vestido comprido, grande avental à cintura, lenço cruzado e amarrado às costas, touca de camponesa. Rosas coroamlhe a cabeça, bordam-lhe o lenço e ornamentam-lhe o calçado. Na fronte, a luz brilha, como um diadema. Sobre os ombros carrega um pesado colar, e outro colar mais leve prende sobre o peito um crucifixo resplandecente, com um martelo em um braço e um torquês em outro. Saberiam depois que a pesada corrente sobre seus ombros simboliza a miséria e o pecado do povo, como se ela estivesse acorrentada por aquilo que aprisiona seus filhos. A corrente menor, ao redor do pescoço, com o Crucifixo resplandecente de luz, era o ponto mais luminoso do globo de fogo que as crianças viram, luz que não produzia sombra alguma. Os braços do crucifixo carregam os instrumentos da Paixão: o martelo, símbolo do pecado, que serviu para pregar seu Filho à cruz, e a torquês, símbolo da conversão e da libertação, que serviu para arrancar os pregos e tirar Jesus da Cruz!
De súbito, ela pára, espantada, e deixa cair o cajado: “Maximino, olha aquele clarão!”: junto à pequena fonte, sobre um dos bancos de pedra, ela via um brilhante globo de fogo! “Era como se o sol tivesse caído ali” - explicaria ela, mais tarde. Maximino corre, gritando: “Onde? Onde?” Melânia aponta para o fundo do vale, onde haviam dormido. Maximo coloca-se junto dela, muito assustado, e diz: “Dou-lhe uma cajadada se nos fizer alguma coisa”...
Continua no próximo número... Fontes e bibliografia: BÖING, Mafalda Pereira. La Salette - A Mãe chora por seus filhos. São Paulo: Loyola, 2007. SANTOS, Lúcia. Nossa Senhora, rogai por nós. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, pp. 59-61.
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EDITOR IAL
Paróquia São João Batista do Brás:
Horários das Missas
Domingo: 08h - 10h - 18h Segunda-feira: 15h Terça-feira: 19h Quarta-feira: 7h - 19h Quinta-feira: 12h10 - 19h Sexta-feira: 7h (primeiras sextas do mês também às 19h) Sábado: 17h
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Oração de Santo Inácio de Loyola
+ Alma de C risto +
Alma de Cristo, santificai-me. Corpo de Cristo, salvai-me. Sangue de Cristo,
inebriai-me. Água do lado de Cristo, purificai-me. Paixão de Cristo, confortaime. Ó bom Jesus, ouvi-me. Dentro de vossas Chagas, escondei-me. Não permitais que eu me separe de vós. Do inimigo maligno, defendei-me. Na hora de minha morte, chamai-me. E mandai-me ir para vós, para que eu, com vossos Santos, vos louve por todos os séculos dos séculos. Amém. VozdaIgreja-26.indd 12
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