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GALERIA . André - Grupo Projovem Vila Fátima
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Prefeitura Municipal de Belo Horizonte Secretaria Municipal de Políticas Sociais Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social EXPEDIENTE Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social Jornalistas responsáveis: Beatriz Maciel (MG 18503 JP) Mariana Costa (MG 13210 JP) Redação/Edição: Beatriz Maciel / Mariana Costa
Editorial
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Como você vê a sua comunidade? 4 Quando eu te avistei
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I love music
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Bullying
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Políticas para juventudes
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Para além das redes sociais
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Cine de Rolê
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Defender a Alegria com direito
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Microfone Aberto
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colaboradores Alexandre B. de Novaes (Gordão) / Bianca de Sá Heberte Almeida / Júnio Marques (Blitz) Laila Vieira de Oliveira / Luana Costa Pablo Abranches / Rita de Cássia dos Santos Simone Moura. * Demais colaboradores creditados nas suas obras específicas na revista.
A primeira vez de MC Josy
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PJ indica
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Sobe Som
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Perseguindo as antenas da vila
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O traço do meu mapa
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ENTIDADES PARCEIRAS Associação Crepúsculo Arte, Saúde e Educação sem Barreiras Associação Grupo Espírita O Consolador Grupo de Desenvolvimento Comunitário Sociedade Cruz de Malta
Onde se informar
Conselho Editorial: Nelson Soares / Shirley Jacimar Pires / Luana Costa Projeto gráfico: Rodrigo Furtini Fotografia: Acervo oficinas Projovem / Acervo PBH / Youtube Revisão: Claudine Andrada
FALE COM A GENTE Rua Tupis 149 / 15º Bairro Centro Telefones: 31 3277.4570 / 3277.4565 Belo Horizonte - MG comunicacao.smaas@pbh.gov.br Tiragem: 1.000 unidades Gráfica Formato
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Conteúdo
Permitida a reprodução total ou parcial dos materiais desta publicação mediante a autorização dos artistas ou do editor da mesma.
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Editorial Diante de complicados fenômenos, como o trabalho infantil, a exploração e a violência sexuais, as altas taxas de criminalidade e de homicídios a pessoas com menos de 25 anos e as atividades do tráfico de drogas ocorrendo a poucos metros de casa, o poder público brasileiro tem se deparado com desafios cada vez mais complexos no que se refere à efetividade da oferta pública para jovens meninos e meninas de nossas comunidades. Tão importante quanto protegê-los das vulnerabilidades e dos riscos encontrados na cidade, a inclusão de nossos adolescentes em programas, projetos, serviços e ações que consigam envolvê-los e engajálos em uma perspectiva de vida promissora torna-se urgente e fundamental, para que realmente consigamos compreendê-los em sua integralidade. Nesse sentido, a Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social (SMAAS) tem alcançado grandes conquistas, por meio do Projovem Adolescente, que, após passar por uma reformulação no início de 2013, incorporado ao Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, possibilitou maior entrada e adesão por parte desse público no programa. A permanência na escola, a preparação para o mercado de trabalho e emprego adequado à faixa etária em que se encontram, a promoção do desenvolvimento humano, além do foco no fortalecimento das convivências familiar e comunitária são os pontos principais dessa iniciativa que, na capital mineira, tem se capilarizado fortemente, por meio
da arte e da cultura, percebida a partir dos resultados das ofertas de oficinas, como fotografia, vídeo e música, permitida por meio do trabalho realizado por uma equipe multidisciplinar, além de contar com o apoio do projeto Guernica, da Associação Municipal de Assistência Social (AMAS). Diante de uma produção artística de tanta qualidade, lançamos a PJ, com a proposta de apresentar o que temos realizado junto aos 13 coletivos do Projovem Adolescente em Belo Horizonte e de valorizar as peças produzidas pelos mais de 260 participantes do programa. Em nossa primeira edição, trazemos iniciativas que permitiram aos jovens reconhecer a própria comunidade como fonte de inspiração para suas produções, fazendo-os ampliarem seu olhar para o território e possibilidades ao seu redor. Desejamos que essa publicação seja utilizada como uma nova ferramenta de comunicação entre a política de assistência social e os jovens belo-horizontinos e, ainda, que seja um instrumento para ampliarmos as produções do programa, com vistas a incentivar e promover novos adolescentes a aderirem a essa oferta. Desejamos a todos boa leitura e apreciação das peças!
PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social
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Como você vê a sua comunidade? Ruas, becos e esquinas... Oficina de mapeamento incentiva participantes a explorarem, com olhar diferenciado, o território em que vivem
É nas tardes de quartas-feiras que os adolescentes do Projovem Vila Fátima recebem a visita de alguém que alguns chamam, com carinho, de “professora doida”. A energia, a abertura e a descontração de Laila Vieira de Oliveira, arte-educadora de ‘Mapeamento Subjetivo de Território’ da iniciativa, chamam a atenção dos jovens participantes do programa, por conseguir reunir formas de aproximá-los e promover novos conhecimentos, por meio de uma didática muito envolvente. Com uma linguagem solta e liberta de preconceitos de qualquer natureza, a arte-educadora conquista os jovens, ao mesmo tempo em que os fazem olhar de forma diferenciada para a comunidade em que vivem. A proposta de retratar, a partir de uma perspectiva inusitada, o Aglomerado da Serra, partindo do ponto daquilo que cada adolescente identifica como características fundamentais para o dia a dia da vila, permite aos jovens enxergarem a dinâmica do local e a valorizarem suas comunidades. Sentados no chão, em roda, ao ar livre, no pátio do Centro de Referência de Assistência Social Vila Fátima, participantes e “professora” iniciaram o encontro, no dia em que acompanhamos, com a leitura de uma crônica do escritor Luiz Fernando Veríssimo, Irmãos, trazida para discussão, em decorrência de comentários sobre sexualidade e opção sexual vindas dos
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próprios adolescentes no encontro realizado na semana anterior. A partir do texto, questões sobre individualidade, futuro e escolhas de vida foram também usadas como links para abordar como cada um, no território, desenvolve um papel e como esses papéis e locais tinham sido retratados pelos adolescentes nos mapas produzidos. “Acho que a questão da aproximação comigo vem muito pelo fato de eu ser da favela Beira Linha (regional Nordeste); sempre me identifico a partir disso. Dentro do contexto sobre violência, por exemplo, a maioria dos mortos é negra, e quem se identifica como negro, tendo a cor ou não, está junto ao estereótipo do preconceito. Quando você se identifica com essa identidade, essa questão torna-se um caminho para abertura de diálogo. Compartilho as minhas experiências no que se refere às violações de direitos, mas que não são nem um milésimo das que eles vivem todos os dias. Coloco-me junto, marchando com eles na luta. Assim, durante a oficina, abordo temas como localização das bocas de fumo, lugares onde ocorrem os bailes funks e demais temas que já fazem parte do dia a dia desses territórios”, comenta Laila. Diante dos desenhos produzidos pelos adolescentes, é possível perceber como cada um dos participantes enxerga a comunidade e o que salta aos olhos na apreciação do lugar. Campos de futebol,
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casas, becos, ruas, padarias, bares, escolas, postos de saúde, pontos de tráfico... Com a percepção do todo, os adolescentes vão, à sua maneira, expondo como veem a Serra, seu funcionamento e suas particularidades. Questionados a respeito do que só se pode ter naquele local, o jovem Gabriel dos Santos, de 16 anos, comenta: “Aqui tem o Baile Funk do Serrão”. Após a resposta, os outros adolescentes comentam: “Mas
nos outros morros também tem!”. Gabriel retruca: “Nas outras quebradas tem, mas o Baile do Serrão é só aqui”. E, ainda, completa: “Outra coisa que só dá para ter aqui no Aglomerado da Serra sou eu e todos vocês”. Correto! Afinal, como no texto de abertura desse encontro, de todos aqueles espermatozoides, os únicos que vingaram fomos nós, mais ninguém, em nenhum outro lugar.
Dá um Google!
#irmãos – Um brinde! – Um brinde. – A eles! – Quem? – Aos espermatozoides que não chegaram ao óvulo da mamãe. Aos companheiros. Aos bravos que cumpriram sua missão e não vieram para comemorar. Aos que perderam a viagem. Aos meus irmãos! – Aos meus irmãos! – Meus irmãos. Você não estava lá. – Aos seus irmãos! – Aos milhões, bilhões que se sacrificaram para que eu pudesse viver. – Salve. – Agora me diga uma coisa. – Duas. Digo duas. – Cada espermatozoide é uma pessoa diferente, certo? Quer dizer. Em outras palavras. Se outro espermatozoide tivesse completado a viagem, não seria eu aqui. Ou seria? Luiz Fernando Veríssimo (Irmãos – fragmento, O analista de Bagé, p.19-22)
O Aglomerado da Serra é uma das maiores favelas da capital mineira, com cerca de 46 mil habitantes, e está localizado na regional CentroSul de Belo Horizonte, situado na encosta da Serra do Curral. Formado por seis vilas, Marçola (também conhecida como favela Cabeça de Porco), Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida (conhecida como favela do Pau-Comeu), Nossa Senhora da Conceição, Cafezal e Novo São Lucas, o complexo começou a se formar há cerca de 50 anos, sendo a Vila Aparecida a de mais antiga ocupação (51 anos) e o Novo São Lucas a mais recente (19 anos). As vilas do aglomerado são conhecidas por nomes dados pelos moradores e o local também é famoso por ter criado uma emissora de rádio muito importante na cidade: a Rádio Favela.
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Quando eu te avistei
Inspirado no rapper americano Little Wayne, adolescente compõe música romântica e, junto aos outros jovens do coletivo Vila Biquinhas, grava videoclipe
Não lembra qual foi o primeiro clipe do Projovem BH? Confere lá na página 56.
Ah, o amor! Até ele, com toda sua complexidade, encontra lugar oficial no Projovem Adolescente BH; lugar esse onde tudo cabe. Cada ponto que tem relação com as questões das juventudes, seus dilemas e suas dificuldades possui, neste projeto, espaço aberto para discussão, reflexão e inspiração para a produção artística. Escrita pelo adolescente Nilo Ernesto, participante do coletivo Vila Biquinhas, a música Quando eu te avistei, composição feita tendo como base a canção do rapper americano Little Wayne, How to Love (Como Amar), ganhou destaque nas produções musicais do programa. Após a gravação da canção em estúdio, contando com a participação de todos os jovens do coletivo Biquinhas, a música ganhou a segunda gravação de videoclipe realizada pelo Projovem BH.
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Chegando de mansinho junto ao arteeducador Heberte Almeida, Nilo perguntou ao músico se poderia lhe apresentar uma composição. Depois disso, o romantismo tomou conta do coletivo nos dias de oficina de música. “Ele me mostrou a letra e fomos tomando algumas decisões enquanto equipe e identificando qual parte seria o refrão e em que momento entraria o coro. Já tínhamos a batida a ser seguida e a música tem só as vozes dos adolescentes e o violão. Percebi que os jovens ficaram muito envolvidos com essa produção e também
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os achei muito propositivos com a minha oficina”, comenta Heberte. Durante os registros do vídeo, em meados do mês de abril, os 12 adolescentes que fazem parte das atividades do Vila Biquinhas gravaram tanto no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) como na comunidade local, no Parque Nossa Senhora da Piedade, também conhecido, na região, como Taboca, as cenas de Quando eu te avistei. Com direito a tomadas com os jovens encenando como escritores, dançando e cantando a letra, além de uma tomada com um deles marcando um dos muros do CRAS com um trecho da música, o grupo foi se envolvendo e fazendo com que o vídeo ganhasse personalidade e identidade. Possibilitar novas ofertas, promover a inclusão e o protagonismo juvenis por meio da arte tem sido uma das principais bases do programa. Para o adolescente Jhonata Felipe Santos o que mais o cativa e o faz querer voltar é fazer algo inusitado. “Eu nunca tinha pensado que entraria em um estúdio e que gravaria um clipe. Isso que foi uma surpresa boa. Sempre que posso, falo com meus amigos: Zé, vão no Projovem! Os que não vêm acho que é porque não sabem o que podem ter aqui”, comenta Jhonata. Considerando a lógica de divulgação boca a boca, a iniciativa utiliza o envolvimento
Olho pra você meu irmão, atitudes e sentimentos que vêm do coração. Humildade por favor, peço-a meu amor, se liga na verdade que vem e me apaixonou. Menina, e tu me vê? Menina, como quê? É nóis na verdade, tamo aí pra ver. Atitude? Quê! Atitude é nóis! Sou nego, rei de favela Eu solto a voz.
O medo de um amor que pode machucar, entre emoções, através do olhar. Como amar?
Um segundo que eu penso, dessa vida eu vou levar, a sua humildade, a sua maneira de falar. Como amar?
(É nóis, vem com nóis)
Making off do video clipe QUANDO EU TE AVISTEI
E na viela escura não sei mais o que fazer o meu coração tá tentando te esquecer, coração machucado, dores no sentimento, trago a emoção e a parte do sofrimento.
dos jovens nas produções como forma de incentivá-los a motivar outros adolescentes do território em que vivem. Assim aconteceu com a participante Gabriely Vaz, que, inicialmente, vinha acompanhando a irmã. “Eu via minha irmã participando das atividades e me interessei também. A gente preenche o tempo com coisa boa aqui”, ressalta. Já o jovem compositor e autor da
Vem com nóis... humildade... simplicidade.
Um segundo que eu penso, dessa vida eu vou levar, a sua humildade, a sua maneira de falar. Como amar?
Quando eu te avistei, por você eu me encantei pelo seu olhar logo me apaixonei. Como amar?
Chego na humildade falando só de amor, sentimentos e emoções, o que me marcou, coração pequeno, a dor que me machuca, por você, eu fui à luta.
Quando eu te avistei por você eu me encantei, pelo seu olhar logo me apaixonei. Como amar? O medo de um amor que pode machucar , entre emoções, através do olhar. Como amar?
Amor são lágrimas que machucam
Quando eu te avistei
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versão brasileira de How to Love, Nilo, diz “quando eu entrei no Projovem, eu era um moleque, agora estou saindo daqui com o pensamento de um homem. Aprendi muito, estou levando comigo dois princípios: o respeito e a educação”. O adolescente reforça, dizendo que se prepara para gravar um CD junto a uma das igrejas da comunidade.
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GALERIA . Joรฃo Victor - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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GALERIA . Leandro Lopes - Grupo Projovem Santa Rita de Cรกssia
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GALERIA . Jorge Leite - Grupo Projovem Santa Rita de Cรกssia
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GALERIA . Sam - Grupo Projovem Vila Antena
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GALERIA . Isabela - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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MANTER UNIDOS
Composição coletiva realizada pelo Projovem Adolescente do CRAS Vila Biquinhas / Arte-educador: Gordão
Eu sou da Vila Biquinha e peço união,/venho reivindicar liberdade de expressão./Sociedade atual, o preconceito está em alta,/cada dia que se passa criminalidade, drogas é o que mais mata./Quero que você saiba, que com força de vontade, é claro, você pode tudo,/ Deus é o único que pode mudar o rumo do mundo. Acredite em Deus e invista na sua carreira,/assim, ganha forças pra superar as barreiras./Pra chegar a organização precisamos de ordem,/pra me afastar do crime me inscrevi no Projovem./Lá tem aula de cultura e muita cidadania,/sem nenhum preconceito de menino e menina./Quando eu subo no palco, tu ficas meio abismado:/Microfone na mão, tô armado então.
REFRÃO Muitos se calam com medo de falar,/outros falam e são punidos,/mas através do som, vamos nos manter unidos./ Criminalidade no mundo é ilusão, /chega pra roubar e destruir nossos irmãos./Veio o tráfico e fui despercebido/e nesse mundão já foram vários meninos. /No hospital, perdendo muito sangue,/crimes acontecendo, gente morrendo a todo instante. /Já é embaçado o que sempre acontece,/invadem a favela e ao povo desmerece./Assim eu sigo e digo: a criminalidade por mim não terá incentivo. Na vida bandida, matarão e morrerão/e os “zé povim” a destruir os coração./Assim não dá mais eu sô um ativista do amor e da paz.
REFRÃO Muitos se calam com medo de falar,/outros falam e são punidos,/mas através do som, vamos nos manter unidos. Na Vila Biquinha os guerreiros tão na linha,/as mina não vacila, não queremos picuinhas./Mandando nossas rimas com mensagens positivas, altruístas,/sigo em frente formando a corrente./Juventude coerente, fazendo o bem pra gente, entende?/A vida e suas batalhas, em Deus temos graça./ No crime não entramos, em armas não pegamos,/drogas nós dispensamos e o hip hop amamos. REFRÃO Muitos se calam com medo de falar,/outros falam e são punidos,/mas através do som, vamos nos manter unidos.
TODO RESPEITO é pouco
Composição coletiva realizada pelo Projovem Adolescente do CRAS Zilah Spózito / Arte-educador: Blitz
Fazer o quê se aqui é desse jeito: por morar no gueto, nós não temos direito./Na comunidade, sem escola pra estudar, agradeço a Deus por ter casa para morar! Minha família não tem muita condição,/tem que acordar cedo pra correr atrás do pão./Que saudade eu tenho dos meus grandes amigos,/como eu queria que estivessem comigo,/um aperto no peito de lembrar o que nós fazia, era muito bom, meu Deus, só alegria! Eles me perguntam porque sou assim,/não tenho alguém que dê exemplo pra mim./Fala pra mim PJ. 20
cuidá da vida direito,/Que se dane a vida, levo ela do meu jeito. REFRÃO Tem ter respeito pra ser respeitado,/somos um espelho refletindo a todo lado./Respeito é pra quem tem, marque a presença./Seja mais esperto, faça a sua diferença. Aqui na quebrada, cês pensam que sou bobo,/meu respeito termina quando começa o do outro./Moro na favela e quero ser respeitado,/só porque sou pobre me chamam de favelado. Fico lá no morro entre becos e vielas,/você não é ninguém sem respeito na favela./E na eleição,
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temos que ficar espertos,/político roubando, eu não acho correto. Comunidade humilde que tenho muito orgulho./No maior lazer, fazendo muito barulho. Queria ter amigos, só que isso eu não tenho,/só o meu colega que com ele desempenho./Vou finalizando na minha, na moral, no maior respeito que pra mim tá normal. REFRÃO Tem que ter respeito pra ser respeitado,/somos um espelho refletindo a todo lado./Respeito é pra quem tem, marque a presença./Seja mais esperto, faça a sua diferença.
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MUDAR O JOGO Composição coletiva realizada pelo Projovem Adolescente do CRAS Lagoa / Arte-educador: Gordão Na quebrada da Lagoa, minha mente voa,/fazendo com que ecoa somente coisas boas com as pessoas que não ficam à toa./Juventude de atitude, aqui ninguém se ilude,/nós vamos em frente pra que as coisas mudem.
mudar essa versão?/Nada, nada, nada..,/Cada um tem que fazer a sua parte e transformar o Lagoa em obra de arte. REFRÃO Ei, venha junto, vamos mudar o jogo./União, sabedoria é a força do povo.
Violência, que preocupação,/banalização,/aonde chegaremos nessa O que você me diz desse mundo situação?/Córrego do capão, pura infeliz/que a todo instante a vida poluição,/o que você tem feito pra fica por um triz,/prevalece a
pobreza, aumenta a tristeza, não queremos mais essa pura safadeza. Coisas banais se tornam normais, na televisão tanto fez, tanto faz. E na nossa vida influencia demais, desse jeito não dá pra viver mais. Refrão Ei, venha junto, vamos mudar o jogo./União, sabedoria é a força do povo.
COMUNIDADE Composição coletiva realizada pelo Projovem Adolescente do CRAS Coqueiral / Arte-educador: Blitz Tem que ter muita força de vontade/pra viver bem em comunidade. Basta você crer e ter muita fé em Deus/já cansei de perder muitos amigos meus./Nossa vida é cheia de ilusão,/vejo vários ricos na televisão./Aqui na minha área tem muita molecagem,/acham bonito entrar na criminalidade./Tem que fazer de tudo para valer a pena; acredite em si mesmo, esse é o nosso lema./Quero caminhá
sempre na humildade,/vivendo e aprendendo com toda simplicidade./Foco, força e fé para sobreviver;/aqui na quebrada é assim que tem que ser./Jogar um futebol na paz, no astral, com o meu talento, isso é muito legal. Caminhando pelo certo, fazendo por merecer,/com honestidade pra prevalecer./No corre do Projovem aqui do Coqueiral,/jovens reunidos faz um rap na moral./Na minha
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quebrada cresci fora da bandidagem,/mas perdi irmãos que entrou na malandragem./Fique fora dessa, preste atenção:/viva só na paz, humildade e união Refrão A vida tem que ser vivida.../Se você vacilar não encontra a saída/seja mais esperto não caia na viagem/sempre viva bem na sua comunidade.
FAVELA CHIQUE Composição coletiva realizada pelo Projovem A. do CRAS Morro das Pedras / Arte-educador: Blitz Não venha me ofender porque moro na favela,/tenho muito orgulho em fazer parte dela. Lá tem muitas pessoas que só ficam à toa,/tem coisas legais que eu curto numa boa./Vivemos pendurados entre becos e vielas, vi um camarada com um tiro na canela./Caminhou sangrando com o meu primo Evandro,/tomou um esculacho porque tava desandando./Favela tem lazer e tem briga também,/sobra pra bandido, criança e até neném,/pessoas inocentes entra no meio também, a polícia chega e bate sem olhar a quem./Aqui, favela chique bom
RAP
RAP
lugar pra se viver,/se tá duvidando recalcados se irrita./Hoje é só lazer doidin, cê tem que ver, chega de perto pra ver. somos favela chique, um bom lugar pra se viver.../Cheio de gente Refrão Aqui, favela chique, demorou, é nós/Projovem Adoles- ruim e de boas também e pra Deus no céu faço a preço e digo cente chega junto e solta a voz./ amém./Vem com nós neguim, vem Sempre vou cantando o meu laiá com nós de coração,/balance o laiá,/vem curtir com nós deixa o seu corpo e vem comigo no refrão. corpo balançar. Respeite as pessoas que vivem dentro dela,/povo no sofrimento que mora na favela./Lá no nosso morro, varais fita pega,/no fim de semana rola um baile de quebra; no baile da esquina, a galera se agita/se eu chego chegando os
Refrão Aqui, favela chique, demorou é nós /Projovem Adolescente chega junto e solta a voz./ Sempre vou cantando o meu laiá laiá,/vem curtir com nós, deixa o corpo balançar. 21 PJ.
VIOLÊNCIA NÃO (Trecho) Composição coletiva realizada pelo Projovem A. do CRAS Apolônia / Arte-educador: Gordão Injustiças no Brasil infelizmente vão a mil,/não são todos que aboliu para progressar o nosso Brasil./Há mães que choram pelos filhos que partiu,/nos becos das
favelas eles tinham um fuzil. Ainda jovens com o futuro interrompido,/pelo maldito vício, ou dentro do ciclo das guerras e tiros./Dentro do caixão, eles
partem, deixam solidão e muita saudade,/aperto no coração, quatro letras formam amor, cinco formam união.
TEMPOS PASSADOS
Composição coletiva realizada pelo Projovem Adolescente do CRAS Santa Rita de Cássia / Arte-educador: Heberte
Rezo a Deus pra que você volte bem./Fecho os meus olhos, ajoelhado digo amém./Rezo a Deus pra que você volte bem./Fecho os meus olhos, ajoelhado digo amém.
Rezo a Deus pra que você volte bem./Fecho os meus olhos, ajoelhado digo amém./Rezo a Deus pra que você volte bem./Fecho os meus olhos, ajoelhado digo amém.
Sempre o sofrimento vem chegando,/a vida no crime cada dia aumentando./Os irmãos e as famílias vivem chorando.
Cresci sem mãe,/ninguém pode ocupar o lugar./Coração duro,/ sem sentimento,/passei muito tempo sem chorar./Saio de casa procurando o que fazer,/e a vida do crime vem à porta bater./Meu Mas dei a volta por cima, parei de pai se preocupa comigo,/ele disse lamentar,/estou feliz agora vivo que é meu amigo,/mas eu não ligo. a cantar./Hoje eu acordei feliz da vida, não choro mais. Muitos falam sobre o amor sem nem mesmo pensar,/dizem coisas (Desculpa, mãe, por te impedir tão bonitas ao nosso olhar./Pare- de sorrir./Desculpa, mãe, por cem confiantes, sem medo, sem tantas noites em claro, triste, sem pudor,/mas não sabem nem ao dormir). menos o sentido do amor./
Muitos falam sobre o amor sem nem mesmo pensar,/dizem coisas tão bonitas ao nosso olhar./ Parecem confiantes, sem medo, sem pudor,/mas não sabem nem ao menos o sentido do amor./ No mundo lá fora parecem transparecer,/mas nem dentro de casa conseguem conviver.
Rezo a Deus pra que você volte bem./Fecho os meus olhos, ajoelhado digo amém./Rezo a Deus pra que você volte bem./Fecho os meus olhos, ajoelhado digo amém.
Composição coletiva realizada pelo Projovem Adolescente do CRAS Vila Biquinhas / Arte-educador: Heberte
Eu tava ali de boa, na minha quando chegou uma menina querendo conversar comigo. A gente começou a falar de coisas
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que aconteciam,/a gente começou a viver de um jeito que não dá pra entender,/a gente começou a amar de um jeito que não dá pra explicar,/não dá, não dá pra explicar. Idem. Eu adoro essa garota, eu adoro esse garoto,/sei também que ela me ama, sei também que ele me
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No mundo lá fora parecem transparecer,/mas nem dentro de casa conseguem conviver.
IDEM
Eu tava ali de boa, na minha/ quando chegou uma menina/ querendo conversar comigo,/ comigo.
RAP
ama,/eu quero viver com ela eternamente./Eterno, eternamente. Idem. Eu adoro essa garota, eu adoro esse garoto,/sei também que ela me ama, sei também que ele me ama,/eu quero viver com ela eternamente./Eterno, eternamente. Idem.
pagode
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Bullying Autora: Nathália / Arte-educador: Gordão. São sete da manhã já estou na escola, tem coisas que doem dentro da alma. Todos os dias a mesma discussão, a mesma zuação, que situação, sair correndo pelos corredores a fugir da zombação. Chego em casa toda machucada, às perguntas da minha mãe, dou a resposta errada: -Nada mãe, foi só um machucado. Não suporto mais. Menti. Tá tudo errado. Sempre peço a Deus pra me abençoar e me proteger, no cotidiano, sempre me erguer. Joelho no chão, pedindo a Ele livrar de todo mal e tudo que acontece não pode ser normal. Todos os dias, choro, por que me humilham, não sei o que fazer, mas tenho que conter. Aqui tiro um pouco da tristeza do meu coração, expressando no poema, texto ou canção.
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Defender a alegria como direito - Trabalho desenvolvido pelo Grupo Projovem da Pedreira Prado Lopes
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POLÍTICAS PARA JUVENTUDES
Capacitação profissional Carteira na mão! Você tem achado que chegou a hora de começar a trabalhar? Então se liga nessa! Mais de 40 opções de cursos voltados para a área alimentícia são ofertadas por meio do Mercado Popular da Lagoinha (MPL), capacitações profissionalizantes voltadas para pessoas com idade acima de 16 anos. Panificação, pizzaiolo, cozinha brasileira, auxiliar de cozinha, salgados tradicionais e pastéis, churrasqueiro, biscoitos caseiros, confeiteiro, panificação industrial, organização de festas e eventos, bolos decorados, frango desossado/linguiça e massas caseiras, garçom, cozinha internacional, salgados finos, doces de festas/bombons e trufas, comida de boteco e confeitaria caseira são
algumas das oficinas disponibilizadas pelo local, por meio do Programa Municipal de Qualificação Emprego e Renda (PMQER), uma parceria entre as Secretarias Municipais de Políticas Sociais (SMPS) e Educação (SMED) e as Adjuntas de Segurança Alimentar e Nutricional (SMASAN) e de Trabalho e Emprego (SMATE). Os cursos são gratuitos e os participantes recebem, ainda, vale-transporte para deslocamento até o local. Ficou com água na boca e interessado? Cadastre-se nos postos do Sine Centro Niat (Rua Espírito Santo, nº 505) ou no Sine Venda Nova (Avenida Padre Pedro Pinto, nº 1055). As atividades serão realizadas no Mercado da Lagoinha, na Avenida Antônio Carlos, nº 821, no bairro São Cristóvão.
valores de minas Vem que aqui tem também! O programa Valores de Minas, do Governo de Minas, realiza oficinas de teatro, circo, música, dança e artes plásticas, com o objetivo de promover a participação cidadã e o crescimento pessoal de jovens. Para ingressar no programa, é preciso estar estudando! Alunos com idade entre 14 e 24 anos interessados em participar são inscritos por meio de escolas que fazem parte do projeto
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Escola Viva, Comunidade Ativa, a partir de um convênio entre o Servas e a Secretaria de Estado de Educação. Os cursos duram, em média, oito meses e, no final do ano, os talentos e os aprendizados são apresentados em um espetáculo multidisciplinar. Procure a direção da sua escola e saiba se a mesma faz parte do Escola Viva, Comunidade Ativa para entrar nessa turma!
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Arena da Cultura Cultura nunca é D+! Esse projeto tem quase a idade da maior parte dos adolescentes do Projovem. Criado há 16 anos, o Arena da Cultura prevê um ciclo de formação de até quatro anos, em quatro linguagens artísticas: artes plásticas, dança, música e teatro. Organizado em três etapas – iniciação, aprofundamento e especialização – realizadas em módulos que variam de um a quatro semestres, de acordo com a linguagem artística e o nível de cada turma, a iniciativa tem como objetivos fomentar a produção artística na cidade
e promover a cultura em Belo Horizonte, de forma acessível a moradores das nove regionais da capital. Se arte é a sua pegada, fique ligado, porque no segundo semestre deste ano haverá novas inscrições. Busque no site www.bhfazcultura.pbh.gov.br ou pesquise no facebook por Arena da Cultura Belo Horizonte e confira mais informações. Lembrou-se de algum amigo que possa curtir essa informação? #Compartilha!
Coordenadoria da juventude Especialistas no assunto Você sabia que Belo Horizonte tem um órgão voltado especialmente para pensar políticas públicas para os jovens? A Coordenadoria da Juventude da cidade atua de forma a desenvolver ações voltadas ao público com idade entre 15 e 29 anos que promovam a articulação intersetorial dentro da administração municipal no que se refere às políticas para juventude. Cultura, educação, lazer, esporte, trabalho, educação e saúde são algumas das áreas-foco da interlocução realizada pela Coordenadoria
para uma oferta que atenda ao público jovem em todas as suas vertentes. Fique ligado! Um importante espaço para discutir políticas públicas para a juventude é o Conselho Municipal da Juventude. Para saber mais, acesse www.pbh.gov.br/ juventude e se informe sobre as ações e os órgãos públicos que pensam a política voltada para você! Sua contribuição e seu engajamento são fundamentais para que aquilo que você considera importante seja colocado em prática!
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GALERIA . CLeyton - Grupo Projovem Santa Rita de Cรกssia
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Para além das redes sociais
Inspirados em artistas contemporâneos como Banksy, adolescentes produzem arte urbana para discutir preconceito e racismo
A primeira etapa foi de mapeamento. Depois, de análise. A terceira parte foi de ação! Os adolescentes dos coletivos dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) Vila Biquinhas e Santa Rita de Cássia têm discutido, na oficina Redes Sociais em Debate, temas como racismo e preconceito, iniciando essa reflexão a partir do conteúdo que os próprios jovens curtem e compartilham no Facebook. Questões como Quem sou eu na internet e ao vivo?, O que carac-
teriza uma publicação racista ou preconceituosa? e Quais são as diferenças entre o real e o virtual? fazem parte das conversas e das trocas entre os participantes no dia da oficina do arte-educador Pablo Abranches. Durante os seis encontros realizados para essa atividade em cada um dos dois coletivos, os adolescentes também foram instigados a pensar em como representar fotograficamente os pontos discutidos. Mãos acima da cabeça, em pé diante de
Parte doParte trabalho do trabalho de Oficinas deRedes Oficinas Sociais Redes emSociais Debate em Debate
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muros, sentados no chão e com o rosto escondido foram algumas das formas encontradas pelos jovens para representar o preconceito e o racismo ainda corrente em nosso país. Após a sessão de fotos, as imagens, impressas em papel A4, em formato ampliado, foram montadas e ganharam unidade, na medida em que em cada folha constava apenas parte da fotografia. Além das discussões em conjunto, o arte-edu-
cador responsável pela iniciativa também trouxe para os coletivos grandes exemplos de artistas urbanos da contemporaneidade, como Banksy. Finalizado o processo de montagem, era a hora de “botar o bloco na rua”. Juntos, os participantes saíram às comunidades Vila Biquinhas e Santa Rita de Cássia para colar os enormes cartazes nos muros do território.
“Quando eu era pequininha eu queria, porque queria ser branca. Eu não gostava muito de gente preta. Mas agora eu gosto da minha cor e tenho orgulho dela”! (Ana Paula Mendes Santos – Projovem Adolescente Vila Biquinhas)
pode fazer as pessoas pensarem sobre isso! O negro sofre desprezo! A gente tentou representar um preso agachado e pessoas inocentes negras em pé, em frente a um muro, e a polícia abordando eles à toa!” (Lucas Cardoso de Sena – Projovem Adolescente Vila Biquinhas)
“Seja a pessoa branca ou preta, todo mundo é humano. Todo mundo é igual. Tem perna, braço...” (Victória dos Reis– Projovem Adolescente Vila Biquinhas) “Eu espero que as pessoas parem para ver os cartazes que a gente colocou nos muros e pensem no objetivo que a gente teve; que foi de falar sobre preconceito e racismo. Também espero que ninguém arranque! Compartilhar no Facebook essas coisas
Victória dos Reis: - Ontem mesmo eu vi um menino perguntando em um post quem dançava com mais gingando: o branco ou o preto. As respostas foram que o negro dança melhor. Será? Ana Paula Mendes Santos: - Não! É tudo igual. Porque se não, o Barack Obama seria dançarino e não presidente.
Mas quem é Banksy? Pseudônimo de um grafiteiro, pintor, ativista político e diretor de cinema inglês, Banksy combina humor negro e grafite em suas produções de artes e intervenções de rua. Suas obras, normalmente, têm caráter social e político e podem se encontradas em várias cidades do mundo. Conhecido pelo seu desprezo pelo governo que rotula grafite como vandalismo, Banksi expõe sua arte em locais públicos como paredes e ruas, e chega a usar objetos para expô-las. (Fonte: Wikipédia)
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Cine de Rolê
Itinerante, o cine clube do Projovem Adolescente utiliza produções inusitadas para debater temáticas que fazem parte do cotidiano dos jovens
O escurinho bem típico do cinema, sala cheia, toda a gente esperando a exibição, muito burburinho, risos, ‘zoeira’ e paquera. “Oh ‘fessora’ não começa não?”. Do lado de fora, a câmera ligada pronta para gravar a ideia que viesse à cabeça. Uma transmissão simultânea* aumentava as expectativas. De repente, um trio mandou um funk. Do lado de dentro, os colegas apareciam grandes no telão. Risos, aplausos e um pouquinho de problemas técnicos... “Oi, vocês estão me ouvindo?” Entre nãos e sins, tudo preparado para a primeira sessão. Estreia do Cine de Rolê para dois coletivos do Projovem Adolescente, dia em que o Arthur de Sá recebeu o Coqueiral. Dentre as cerca de
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vinte pessoas presentes, a grande maioria pertencia ao coletivo do CRAS anfitrião. Warley Pereira, de 17 anos, parte do pequeno grupo visitante, ficou um pouco intimidado. “No início, achei um pouco bagunçado: muita gente falando ao mesmo tempo; mas, eu vim mais para conhecer a galera, porque gosto de conhecer outros Projovens. No final, acabei surpreendido com os filmes. O que eu mais gostei foi do último, sabe? A menina que comandava o tráfico de bonecas. Foi muito engraçado: em vez de armas, eles usavam bananas. Eu achei legal quando a professora falou que foi feito por jovens; achei muito criativo e gostaria de fazer um assim, se pudesse”.
*A transmissão simultânea é uma dinâmica que ocorre durante o Cine de Rolê em que os adolescentes podem mandar seu recado, exibido aao vivo na sala de projeção.
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Na verdade, Warley e todos os outros adolescentes que frequentam o Projovem Adolescente não só podem como, também, já estão fazendo cinema. Essa é a defesa da equipe idealizadora do projeto Cine de Rolê, que estimula o contato e o debate sobre a sétima arte e oportuniza que os jovens coloquem a mão na massa, por meio das transmissões simultâneas. A ideia de realizar um cine clube itinerante foi das arte-educadoras Laila Oliveira e Simone Moura, que já desenvolviam outras oficinas e que pensaram em um modelo que trouxesse toda a riqueza da plataforma audiovisual para contribuir com o desenvolvimento dos jovens e a integração entre os grupos. Para contribuir com esse processo, elas convidaram a psicóloga e também arte-educadora Rita de Cássia dos Santos, responsável pela produção das sessões, que já atuava com cineclubismo em uma ONG da capital, no Morro do Papagaio. Contudo, o apoio de Rita vai além do auxílio para escolha dos filmes e organização dos encontros. Com sua história pessoal marcada pelo cinema, ela é um estímulo para meninos e meninas que também se apaixonam pelas telonas. A moça se aproximou do audiovisual enquanto ainda era adolescente e participava do projeto ‘Agente Jovem’, uma versão anterior do Projovem Adolescente tal qual se conhece hoje. “Há dez anos, fiz uma oficina de cinema enquanto ainda era Agente Jovem, algum tempo depois fui utilizar essa produção em um projeto da ONG Oficina de Imagens; a partir daí, fui adentrando esse caminho. Venho do Santa Rita ou Morro do Papagaio, onde hoje atuo com cineclube através da ONG Casa do Beco e participo do projeto independente Vivendo Imagens, em que fazemos projeções para o ensino regular e Educação de Jovens e Adultos (EJA) de uma escola estadual. A partir dessa minha experiência, retorno ao Projovem para produzir o Cine de Rolê”, conta Rita de Cássia.
O formato construído pelo trio que realiza o Cine de Rolê (Laila, Simone e Rita) propõe sempre a exibição de três curtas, buscando variar os gêneros que passam por animação, documentário e produções de outros adolescentes. “Queremos que o espaço não seja apenas para a visualização dos filmes, mas, também, para a reflexão. Buscamos trazer curtas que ainda não são tão acessíveis e que proporcionam um tempo para a reflexão. Outro ponto interessante é fazer com que os jovens transitem. Os coletivos visitam uns aos outros, são seis sessões itinerantes no mês e uma grande sessão, reunindo todos os Projovens em uma sala de cinema”, explica Rita. Na estreia do projeto, foram exibidos três curtas que tinham em comum o próprio cinema como elemento marcante. Na animação Os Olhos do Pianista, do diretor Frederico Pinto, um pianista cego executa trilhas ao vivo em um cinema mudo, com a ajuda de sua neta. Já o documentário Zagati, de Edu Felistoque e Nereu Cerdeira, conta a história de um catador de materiais recicláveis apaixonado por cinema que, com muita criatividade, consegue levar a sétima arte para sua comunidade. Na ficção Bibica, realizada em 2007 por adolescentes do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Mariano de Abreu, foi feita uma divertida releitura de famosos filmes nacionais que abordam as guerras do tráfico de drogas em favelas brasileiras, trazendo uma guerra de bananas entre contrabandistas de bonecas. Ele foi o mais aplaudido pelos expectadores. Sibele Luiza Oliveira, de 16 anos, participante do coletivo do Projovem Arthur de Sá, achou o final surpreendente. “Gostei muito do filme, principalmente do final. Imaginei que a Bibica tivesse tomado um tiro, ela estava sangrando, mas a guerra era de bananas. É normal toda menina ficar menstruada”, comenta ela entre risos, entregando o desfecho da história.
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Defender a alegria como direito Trabalho desenvolvido pelo Coletivo do Projovem Adolescente do CRAS Pedreira Prado Lopes
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Visibilidades Os adolescentes do Projovem das comunidades Providência e Pedreira Prado Lopes realizaram, no primeiro semestre de 2013, uma produção de imagens dos próprios participantes em cartazes fotográficos, com o objetivo de dar voz e visibilidade aos jovens daquelas comunidades. A ação, que rendeu 21 cartazes, foi desenvolvida a partir de duas temáticas, que discutiam as questões ‘Eu sou livre pra expressar o quê?’ e ‘Defender a alegria como direito’, surgidas a partir do interesse dos próprios jovens em registrar imagens de si mesmos e refletir sobre os assuntos que já haviam discutido em rodas de conversa nos coletivos. O projeto, desenvolvido pela arteeducadora Luana Costa, fez parte da Maratona Fotográfica do Festival Internacional de Fotografia (FIF), promovido em Belo Horizonte em julho do ano passado. A exibição das mostras selecionadas para a maratona foi projetada em prédios da região central da cidade. As fotos entre as páginas 40 e 48 fizeram parte do ensaio ‘Defender a alegria como direito’, realizada no Projovem Pedreira Prado Lopes, por meio do qual o grupo, motivado inclusive pelas discussões da campanha do Fórum das Juventudes da Grande BH – ‘Juventudes contra a violência’, discutiu e expressou a representação de jovens, negros e moradores de periferia na mídia, revelando lindos sorrisos até então invisíveis para a cidade. Além disso, o desenvolvimento desse trabalho inspirou o nome da exposição das obras produzidas pelos 13 coletivos do Projovem Adolescente em maio deste ano, realizada no CentoeQuatro: Visibilidades.
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– Quem vai cantar? Ninguém queria. Eu disse: –Eu canto! – Nossa, mas você é a ‘maior’ calada! – E aí eu falei: –Eu canto! Na batida da música só se ouvia a minha voz. – Você canta muito bem, quer mesmo cantar? – Quero!
MC Josy
Microfone aberto Criada para dar oportunidade aos novos talentos do rap, a Festa dos MCs, produzida e idealizada desde outubro de 2013 pelo músico e arte-educador, Júnio Marques, o ‘Blitz’, representa um espaço onde jovens MCs podem expressar sua arte diante de profissionais e iniciantes da cultura hip hop. O baile, que acontece uma vez a cada mês, sempre aos sábados, das 13h às 18h, no Centro Cultural Alto Vera Cruz, recebe cerca de 150 pessoas. Muitas delas sobem ao palco pela primeira vez para soltar a voz e a poesia, normalmente de autoria própria. A curadoria do evento fica por conta da equipe do Coletivo Trem Loco que convida MCs já conhecidos para participarem da festa em que os alunos das oficinas do Projovem Adolescente podem se apresentar sem passar pelo crivo da produção. “O espaço é aberto e a entrada é franca, a circulação de pessoas ocorre a todo momento. O propósito da festa é exatamente dar chance aos novos MCs que, muitas vezes, por não terem uma carreira sólida, chegam ao
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evento e são desacreditados por organizadores. É uma oportunidade para desinibir, incentivar, empolgar, dar a eles espaço para manifestarem sua música e sua escrita”, define Blitz. Durante as oficinas de criação musical no Projovem Adolescente, o foco do arte-educador não é, necessariamente, formar novos músicos, mas segundo ele, estimular a reflexão, utilizando as ferramentas da cultura hip hop. “A minha função é assegurar que os meninos saiam da oficina sabendo, de fato, o que é hip hop, e isso vai além do fazer artístico. Alguns cantam, outros escrevem, alguns só tocam ou só grafitam, mas o principal é protagonizar dentro da sua comunidade, circular e ter oportunidade para levantar a fala sobre a própria juventude, conseguir ver ao redor e se fazer ouvir na comunidade”.
A Festa dos MCs rola na Rua Padre Júlio Maria, nº 1.577, no bairro Alto Vera Cruz.
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A primeira vez de MC Josy
“Fiquei meio nervosa, fui a primeira a me apresentar, eu tinha decorado a letra toda e minha colega só sabia o refrão. Acho que fomos em um grupo de seis alunos: só um menino e cinco meninas. Mas só eu quis cantar. No final, todo mundo batendo palma, o pessoal dizendo: ‘–Você canta pra caramba’, gente para tirar fotos comigo, ganhei até um CD do grupo Guerreiros da Luz, de Itaúna, que também se apresentou no dia. Foi a primeira vez que uma menina cantou rap na Festa; isso não é muito comum, normalmente a maioria canta funk”. No dia em que foi convidada para cantar, Josyane Francisca da Silva, a MC Josy, surpreendeu até mesmo o seu incentivador. “Quando a apresentei, achei que MC Josy teria vergonha, mas depois que passei o microfone, ela se apresentou novamente, se soltou e teve uma performance no palco que superou minhas expectativas”, lembra Blitz. A garota defendeu a música: Tá Faltando Amor, de autoria coletiva, produzida durante as oficinas do Projovem. “Cada um montou um verso e fomos ligando as partes; ela fala de como os adolescentes vêem o mundo”, explicou a nova cantora que nem imaginava a chance que teria quando foi ao Centro de Referência de Assistência Social – CRAS Ziláh Spósito, em busca de encaminhamento para emprego. Aos 17 anos à época, Josy ainda não frequentava o Projovem Adolescente e foi convidada
pela coordenadora da unidade a conhecer o Programa. No dia, estava acontecendo justamente a oficina de rap. A menina tímida que sonhava em cantar e mostrar suas poesias entrou e permaneceu no Projovem até completar 18 anos. Foram seis meses aprendendo sobre hip hop, dança, fotografia e realizando diversas atividades junto a jovens da mesma faixa etária. Hoje, Josyane se prepara para fazer curso técnico em Logística, quer trabalhar, fazer faculdade de Administração ou Ciências Contábeis, mas pretende conciliar a carreira formal com a música. Depois da primeira vez, MC Josy teve a oportunidade de se apresentar também em uma festa no CRAS Ziláh Spósito. “Fiquei satisfeita em poder cantar para as pessoas da comunidade onde vivo. Estava até a diretora da Escola Municipal Professor Daniel Alvarenga, onde minha mãe fazia o EJA (Educação de Jovens e Adultos). Acho que minha mãe sentiu orgulho de mim quando ficou sabendo”, comenta. Agora, ela se prepara para fazer um show junto com os amigos que fez no Projovem, durante a Mostra Visibilidades, uma grande exposição artística que exibe trabalhos desenvolvidos por jovens ligados ao programa, que ocorrerá nos dias 29, 30 e 31 de maio e 1º de junho, no espaço cultural CentoeQuatro.
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Ficou curioso? Confira a letra da música composta pelo Coletivo do Projovem Zilah Spósito:
Tá faltando amor O que seria o mundo sem amor, humanidade fria, cheia de ódio e rancor, muito sofrimento, mentes cheias de maldade, sangue e muita morte, essa é a realidade. As minas da quebrada só pensa em terror, não faz por onde ter o seu devido valor. A minha mente é ruim, um vazio no ar, sou aquele louco que não pode errar, na minha rotina, não pude pensar. Queria voltar no tempo, pôr as coisas no lugar, pra muitas pessoas eu fiz muito mal, fazia covardias e achava tudo normal; minha mãe disse: trabalha vagabundo, que eu não daria nada nesse mundo. Refrão: Aonde estou, está faltando amor, vivemos em um mundo que tá cheio de rancor. Antes de dormir, sempre peço em oração que semeia a vida, leva a paz pro coração. Quero ser como eles, cheio de din din e não ser aquele que só fica afim.
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Tenho que trabalhar, falaram pra mim, com dignidade, tem que ser assim. Em alguns momentos, paro, fico a pensar que pra ter dinheiro, não preciso traficar, vivendo de esquina, essa era minha a minha luta, quem tá nessa vida, tem que ter muita conduta. Mas o que adianta ter o bolso cheio, se o amor que é bom, tá faltando em nosso meio. Pra mim conquistar tudo o que eu quero, com muito suor e muita luta, eu espero, temos que aprender a valorizar as coisas que, com o tempo, demoramos a conquistar. Com muita alegria, eu vivo a cantar pra espantar a dor que sempre aqui está. Refrão: Aonde estou, está faltando amor, vivemos em um mundo que tá cheio de rancor. Antes de dormir, sempre peço em oração que semeia a vida, leva a paz pro coração.
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tnb.art.br/rede/dokttorbhueshabe
youtube/douglasdin
PJ INDICA MC DOUGLAS DIN O rapper Douglas Din, da quebrada da Serra, campeão do Duelo Nacional de MCs, lançou recentemente o CD Causa Mor, disponível no Youtube. Confere lá!
DOKTTOR BHU E SHABÊ A dupla de cantores Dokttor Bhu e Shabê faz um som com um conteúdo que engloba política, amor e setentismo. Para saber mais, acesse http://tnb.art.br/rede/dokttorbhueshabe.
EDUARDO DW Já o rapper Eduardo DW, da região do Vale do Jatobá, também manda um rap de ‘responsa’, além de promover há muitos anos o sarau de poesia Coletivoz! Músicas para download no link http://acorte.tnb.art.br/.
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GALERIA . Aida Camile Alvarenga - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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Sobe som
Latidos, buzinas, brincadeiras de criança, vendedores ambulantes... Em uma busca pelos sons da vila, integrantes do Projovem Adolescente na comunidade Santa Rita de Cássia, região Centro-Sul de Belo Horizonte, encontraram resistência, cotidiano, história e muita poesia transformada na música O Som da Memória, que também virou clipe, ambos gravados com a participação dos próprios adolescentes.
Antes da conversa: “A gente já deu um monte de entrevistas”. (risos desconfiados) Durante: “As pessoas me param nos lugares: – Ou, você é o menino do vídeo: ‘Aleluia, Casa Branca...’, daquela música, não é?” “Fica na cabeça. Eles falam: - Ficou legal demais aquele vídeo que você fez!” “Foi muito legal mesmo, no dia da gravação a gente repetiu um tanto de vezes, ninguém sabe o trabalho que dá para fazer aquele pedacinho...” “Na escola, ninguém sabia que eu tocava guitarra. Ninguém acreditava: – Você tocou mesmo a guitarra no vídeo?” Os primos Leandro Lopes, de 16 anos, e Wender Vitor Cardoso, de 17, jamais tinham se imaginado tocando e cantando em um clipe, mas o maior espanto foi o reconhecimento de pessoas conhecidas e, às vezes, até mesmo, desconhecidas, que tiveram acesso ao Som da Memória, através de redes sociais. Netos de Dona Maria Cardoso, eles também não pensaram que a casa da avó pudesse ser um das principais “locações” para a gravação do clipe. Quando eram crianças, a casa era outra, já foi demolida e deu lugar a uma rua. Wender sempre passa por lá para avivar a memória. Os dois “racharam os bico”, contando as travessuras infantis para jogar bola na PJ. 58
quadra antiga e nadar de madrugada na lagoa da Barragem Santa Lúcia, sempre escondidos das mães. Apesar da pouca idade, há muita memória no relato deles e dos demais jovens participantes desse robusto projeto que despertou tanto deslumbramento, interesse e curiosidade e que partiu do ato simples de parar para ouvir. “O que os sons da Vila têm a nos dizer?” Esse era o questionamento da arte-educadora e jornalista, Luana Costa, responsável pela oficina que deu origem a esse trabalho, feito aos adolescentes, participantes do Projovem daquela comunidade. O projeto deu continuidade a uma oficina anterior que trabalhou os mapas subjetivos da vila (confira na matéria Como você Vê a Sua Comunidade? Página 4), a partir da visão e da vivência de cada jovem. “A minha oficina era de comunicação, tinha uma categorização enquanto inclusão digital, a ideia inicial era de discutirmos a temática das redes sociais. Entretanto, a Laila (arte-educadora do Projovem) tinha realizado um trabalho anterior com o mesmo grupo, discutindo a memória da Vila Santa Rita que estava assumindo uma nova configuração espacial, em função do Programa Viva Vila, o que gerou impacto na vida dos meninos. Para aproveitar a riqueza gerada por esse trabalho, resolvi propor uma outra linguagem que também valorizasse aquele espaço”, conta Luana.
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A arte-educadora decidiu trabalhar o que chamou de “paisagens sonoras” da vila e propôs que os adolescentes saíssem para registrar os sons que ouviam, buscando, inicialmente, traçar uma rota que se desdobrou em outras diversas graças ao “caminho do som”. Os instrumentos utilizados para esse trabalho foram gravadores comuns, entregues a duplas que caminhavam por becos, espaços públicos, ruas e vielas, buscando peculiaridades e semelhanças entre os ruídos, as canções ouvidas pelas pessoas, suas vozes, dentre outros barulhos. Em três encontros, o grupo capturou os sons ouvidos naquele lugar. De acordo com Luana Costa, “a partir da percepção acerca do material coletado, os jovens tiveram mais interesse em compreender a história do lugar em que vivem”. Além dos registros, o coletivo realizou um jogo da memória com os sons e as histórias relatadas por “Seu” Mateus, um antigo morador da Vila Santa Rita, convidado pelo coletivo para contar sobre as coisas que via e ouvia no morro. Uma história surpreendente, que faz parte da letra da música O Som da Memória foi a do “vacão” – “É o mais velho ladrão da nossa comunidade...” (ouça e veja no DVD que você ganhou com a revista PJ). O “vacão” é uma bomba de ferro que, desde a primeira ocupação que originou o aglomerado, servia para puxar a
água dos bairros vizinhos; a coincidência é que o nome apelidou também um traficante ex-morador da vila. Essa e todas as histórias coletadas por meio de relatos e captadas por áudio teriam como resultado um texto para a internet, por meio das redes sociais, mas, quando o grupo começou a mesclar os registros, foram introduzidas rimas e nasceu uma poesia coletiva. “Quando peguei o material todo, percebi que merecia mais destaque do que teria no Facebook. Resolvi mostrar para o Heberte, (arte-educador do Projovem que dá oficinas de criação musical) e ele viu que resultaria em música. Propus mais quatro encontros para experimentarmos e fizemos pílulas de paisagens sonoras. Daí, o Heberte resolveu gravar”, explica Luana. Com mais quatro encontros, a música tomou corpo, os jovens que tocavam emprestaram seus conhecimentos e levaram seus instrumentos; depois, eles foram para um estúdio finalizar o trabalho coletivo. Leandro e Wender compuseram as vozes principais junto com a Aninha (Ana Carolina), os demais colegas fizeram o coro. O resultado deu à arte-educadora o estímulo para buscar também a produção de um clipe. Para o novo projeto, eles contaram com Dokttor Bhu, artista, produtor visual e musical, que anos antes tinha sido educador de Luana em uma oficina para adolescentes. O artista
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viu muito potencial no trabalho e, ao entrar no processo, diz ter tratado o coletivo com muito profissionalismo, para tirar o melhor do que eles tinham a oferecer. “Quando um trabalho se refere à favela, muitos pensam que não precisa ter bom gosto, que reflete um lugar desorganizado. Tenho uma visão que vai além do cuidado estético, prezo pelo primor no trabalho desenvolvido, além da estética, muito importante para dar qualidade ao produto; o mais significativo é a busca pela verdade, trabalhar com sentimento, gravar um sorriso que realmente
aconteceu, um sorriso espontâneo”. O processo das oficinas, da gravação da música e do clipe durou cerca de cinco meses e envolveu diversos jovens e profissionais que participaram das mais diversas formas. Refletir sobre a memória e o som deu ao grupo condições para repensar o espaço em que vivem, abordar questões comuns em seu cotidiano e, principalmente, tornarse protagonistas, valorizando o próprio saber e o lugar em que vivem. Eles pararam para ouvir os sons da Vila e, agora, é a Vila que ouve com orgulho o som feito por eles.
Entre no youtube.com e procure O SOM DA MEMÓRIA: Ficha técnica do Vídeo: Direção -- Dokttor Bhu / Assistente de Direção -- Luana Costa / Direção Musical -- Heberte Almeida / Fotografia -- Dokttor Bhu e Bianca de Sá / Câmera e Edição -- Dokttor Bhu / Voz, Guitarra e Letra -- Leandro Lopes / Voz, Bateria e Letra -- Wender Vitor / Voz, Violão, Guitarra e Letra -- Jorge Neto / Voz e Letra -- Ana Carolina Martins / Colaboração | Letra -- Matias Koelho / Coro -- Ana Carolina Martins, André dos Santos, Cleiton Soares, Elisângela Aparecida, Jorge Neto e Maria Pauliana.
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Agora o mundo digital vai ficar pequeno para as divulgações do Projovem Adolescente BH. Na rede social Facebook, desde outubro de 2013, o perfil do programa tem divulgado diariamente o que rola nos coletivos para deixar você ainda mais antenado às novidades. Participantes, orientadores, oficineiros e toda a comunidade digital agora podem ver e dividir no espaço cibernético as experiências vivenciadas nos coletivos, compartilhando com amigos e familiares os posts divulgados na página. A ideia é fazer com que o Facebook possibilite uma maior conexão entre os jovens de um mesmo coletivo e, principalmente, promova uma integração entre adolescentes de comunidades diferentes. A expectativa é de que, aos poucos, os adolescentes se apropriem da fun page para divulgarem o que têm vivenciado durante as oficinas, fazendo com que os mesmos não sejam apenas os personagens relatados nos posts, mas os sujeitos que alimentam a página, dizendo, de dentro, o que acontece no Programa. Desde a abertura da página na rede social, os posts tiveram mais de 1.500 visualizações. A mais popular foi referente ao videoclipe da música O Som da Memória, produzido no final de 2013 pelo coletivo do Centro de Referência de Assistência
Social (CRAS) Santa Rita de Cássia. “Foram mais de 300 visualizações, mas ainda acho pouco. Eu quero é mais! Eu mostrei esse vídeo pra várias pessoas e todas gostaram. Falaram que foi um trabalho muito bem feito. Inclusive, ao mostrar pras minhas tias, elas fizeram questão de mandar pra todo mundo que elas conhecem”, conta Leandro Lopes, participante do coletivo Santa Rita de Cássia e um dos cantores da música. Para conferir e curtir as publicações da fun page no Facebook, dê uma busca em Projovem Adolescente BH!
Igor Salles > As aulas começaram ótimas, eu ‘tô’ adorando.
Agatha Cristina > Hoje foi muito bom, pois aprendi mais coisas e espero ter logo um passeio para o Parque Municipal.
Mateus Vinicius > O Projovem é ótimo. O lanche daqui é bastante gostoso.
Jhonata Felipe > Os dois primeiro dias foram muito bons, conheci muitos amigos e está muito bom. Espero que esse ano seja melhor do que ano passado, tem muitas oficinas boas.
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GALERIA . Simone Moura - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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GALERIA . Aninha Martins - Grupo Projovem Santa Rita de Cรกssia
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GALERIA . André - Grupo Projovem Vila Fátima
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GALERIA . Vit贸ria - Grupo Projovem Vila F谩tima
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GALERIA . Samara - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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Perseguindo as antenas da Vila
Antena: dispositivo que consiste em uma haste ou fios metálicos que montado em mastro ou torre, no alto de edifícios, em automóveis etc. serve para transmissão ou recepção de ondas de rádio ou televisão; antena aérea, antena exterior; antena livre.
As antenas compõem o desenho das cidades, dos centros urbanos; necessárias, elas nos conectam. Também são pontos de referência. Na antena tem Cine Parede, tem varal de fotografias. “A antena ficava de frente pra o bar do Zico”, mas quem se mudou foi ele, ela continua lá. Juntas, as antenas serviram de inspiração para batizar a Vila na Regional Oeste de BH e não se sabe se elas vieram antes ou depois dos primeiros moradores. A maior suspeita (quase certeza de uns pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto) é de que algumas famílias estabeleceram suas moradas antes das hastes metálicas. Ouvi dizer que faz uns 50 anos que chegaram ali. Muito tempo depois, veio o tal Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), construindo ‘predinhos’ que ocupam o lugar dos barracos. Isso é certo que começou em 2007. Muita gente já se foi, como é o caso da família do ‘Seu’ Zico. A companhia de energia disse que é perigoso viver debaixo da rede de fios; aos poucos, as famílias têm sido removidas, mas uma coisa que instiga é que tem gente que não deixa a Antena. Ouvi falar da Dona Benvinda, mas isso é conversa longa. O caso é que há muita história para se transmitir fio a fio, foto a foto, boca a boca, e jovens “antenados” levaram outros, pouca coisa mais novos, a olharem para elas.
Chegando ali, a menina Simone apontou pras antenas com uma câmera; queria ela mostrar a beleza daquele lugar, estranhava que os adolescentes desconhecessem os ângulos pelos quais podiam ver a Antena, seu papel foi o de questionar. Já Marcus Paulo conhecia todos os enquadramentos, sabia sobre as histórias, conhecia as famílias, contava o que via por meio dos varais que estendia com as fotos do morro. Acostumado a conviver com as mudanças na paisagem, projetava as imagens em movimento nas noites de Cine Parede; sua angústia era preservar a memória, recontar a história das Donas Benvidas, dos “Seus” Zicos, da sua família. Ele, sim, se criara correndo pra cima e pra baixo, enrolando as ideias embaixo dos fios. Os dois levaram os meninos e as meninas a brincar no labirinto, viam eles através de lentes, de baixo pra cima, de longe e muito de perto, descobriram o que havia além da eletricidade. E o que era? Para João Vitor, não havia nada de diferente, com exceção do caminhão do lixo, que ali quase não passava, e em sua rua, sim, passava sempre. Da janela de casa, João avistava as antenas, desde cedo, ouvia histórias sobre o lugar que se esvaziava à medida que o perigo da energia elétrica ameaçava velhos homens e
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GALERIA . Sam - Grupo Projovem Vila Antena
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mulheres cujo teto de amianto pairava debaixo daquele campo magnético. Esvaziava também com a construção dos edifícios iguais, iguaizinhos, onde se esperava ao menos visitar um amigo. De repente, aos olhos dos jovens da Vila, aquele lugar cresceu, iluminou-se do azul anil cruzado pelos fios metálicos, mastros e hastes. De repente, suas histórias ficaram muito mais bonitas e dignas de serem ampliadas, coladas coloridas e bem grandes para todo mundo ver a beleza, às vezes escondida por detrás da ausência. Ainda se ouviam tiros, ainda se comentava sobre prisões, ainda faltava passar o caminhão de lixo, mas agora alguns jovens daquele lugar finalmente haviam descoberto o valor de viver na Antena e o poder de representá-la por meio de uma câmera na mão.
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GALERIA . Thaís - Grupo Projovem Vila Fátima
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GALERIA . Thaiane - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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GALERIA . Ana Beatriz - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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GALERIA . Bianca de Sรก - Grupo Projovem Santa Rita de Cรกssia
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GALERIA . Ana Maria - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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O traço do meu mapa Laila Vieira de Oliveira O mapa oficial da minha cidade cabe apenas num papel, mas o meu cabe no peito, é feito de outro jeito e o faço sem pincel! O mapa do poder na minha cidade é multicolorido e o vermelho ganhou desatrevido tons de branco e azul, porém, o que guardo na memória é um desenho da minha história sem mentira e sem cartel O mapa que eu faço é de esperança, tem que caber velho, mulher e criança e se der, um pedaço do céu!
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mapeamento Subjetivo A oficina proposta pela arte-educadora Laila Vieira de Oliveira iniciou-se no CRAS Santa Rita de Cássia e foi replicada em diferentes coletivos do Projovem Adolescente. De acordo com a educadora, no CRAS Santa Rita, a iniciativa foi realizada juntamente com o projeto de extensão universitária da Faculdade de Arquitetura do UNIBH – Cidades e Continente – coordenado pela Professora Ana Paula Assis que propôs uma articulação entre os estudantes de arquite-
tura e os adolescentes do Projovem. Ocorreram discussões em relação a território, violação de direitos, circulação e acesso a cidade, dentre outros temas. Durante a oficina da Laila, o grupo foi brincar na Barragem Santa Lúcia, fez algumas fotografias e, depois, cada adolescente, individualmente, desenhou um mapa, expressando o que lhe pareceu mais interessante e a forma como via o seu próprio espaço.
Mapa de Aguinson Tales Martins 85 PJ.
Observe que, em seu mapa, o adolescente Leandro Lopes desenha os equipamentos públicos, CRAS, Escola, Centro de Saúde, como castelos, enquanto que sua casa é representada por uma construção simples, menor e afastada quanto à localização, remetendo-nos à importância de cada elemento representado dentro do território. O ilustrador faz uma legenda para conduzir a interpretação de quem contempla a obra. O que chama a atenção na ilustração de Aguinson Tales Martins é a dimensão que ele dá para o Pátio Savassi, que é um lugar de diversão e lazer que, provavelmente, ele gosta. Os demais espaços são menores. Outra curiosidade é a localização do Projovem no centro do mapa, sugerindo uma acolhida e uma boa relação do adolescente com o programa naquele momento. Como você interpreta os dois trabalhos? Já pensou em fazer seu próprio mapa? Como ele seria? Na página 4 você leu uma matéria completa sobre a oficina de mapeamento subjetivo.
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Mapa de Leandro Lopes
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GALERIA . Wender Vitor - Grupo Projovem Santa Rita de Cรกssia
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GALERIA . Sabrina - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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GALERIA . Wesley Felipe - Grupo Projovem Santa Rita de Cรกssia
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GALERIA . Rodrigo - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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GALERIA . Raine - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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GALERIA . Natanel Ferreira Moreira - Grupo Projovem Vila Fรกtima
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GALERIA . Miriam Teixeira Muniz - Grupo Projovem Zilah Sp贸sito
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ONDE SE INFORMAR BARREIRO CRAS Independência . (31) 3277-5977 CRAS Petrópolis . (31) 3277-5973 CRAS Vila Cemig . (31) 3277-1356 CENTRO-SUL CRAS Vila Fátima . (31) 3277-5351 / 3277-9913 CRAS Vila Marçola . (31) 3246-5003 / 3246-5004 CRAS Santa Rita de Cássia . (31) 3277-9415 LESTE CRAS Alto Vera Cruz . (31) 3277-5730 / 3277-1106 CRAS Granja de Freitas . (31) 3246-8515 CRAS Mariano de Abreu . (31) 3277- 5643 CRAS Taquaril . (31) 3277-9010 NORDESTE CRAS Arthur de Sá . (31) 3277-9155 / 3277.9159 CRAS Paulo VI . (31) 3277-6840 / 3277-6636 CRAS Vila Maria . (31) 3246-8024 / 3246.8025 NOROESTE CRAS Califórnia . (31) 3246.3045 CRAS Coqueiral . (31) 3277-7179 CRAS Pedreira Prado Lopes . (31) 3277-6032 CRAS Senhor dos Passos . (31) 3277-6119
NORTE CRAS Aarão Reis . (31) 3277-1327 CRAS Jardim Felicidade . (31) 3246-9503 CRAS Providência . (31) 3277-7394 CRAS Vila Biquinhas . (31) 3246-8004 / 3246-8006 CRAS Zilah Spósito . (31) 3277-1848 / 3277-5441 OESTE CRAS Havaí Ventosa . (31) 3277-9616 / 3277-7054 CRAS Morro das Pedras . (31) 3277-7091 CRAS Vila Antena . (31) 3246-6509 CRAS Vista Alegre I . (31) 3246-2011 / 3246-2008 PAMPULHA CRAS Confisco . (31) 3277-7146 / 3277-7147 CRAS Novo Ouro Preto . (31) 3277-7964 CRAS Santa Rosa . (31) 3277-6698 CRAS São José . (31) 3277-7149 VENDA NOVA CRAS Apolônia . (31) 3277-1816 / 3277.9488 CRAS Lagoa . (31) 3246-9016 / 3277.1836 CRAS Mantiqueira . (31) 3277.1826 / 3277-1895
COLETIVOS Você encontra coletivos do Projovem Adolescente nos CRAS Santa Rita de Cássia e Vila Fátima (Centro-Sul), Arthur de Sá e Vila Maria (Nordeste), Ziláh Spósito e Vila Biquinhas (Norte), Apolônia e Lagoa (Venda Nova), Morro das Pedras e Vila Antena (Oeste), Confisco (Pampulha), Coqueiral e Pedreira Padro Lopes (Noroeste). FACEBOOK
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