3 minute read

Christiane Couve de Murville

Next Article
Silvia Schmidt

Silvia Schmidt

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL COM A ESCRITORA CHRISTIANE COUVE DE MURVILLE----------------

TREINANDO O DESAPEGO

Advertisement

Christiane Couve de Murville é doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Publicou a trilogia “A Caverna Cristalina“ e o “A vida como ela é”, no Brasil e na França, a série “Até Quando?” e “O Pequeno Príncipe visita São Paulo”. Ela faz as ilustrações de seus livros. www.cmurville.com.br

Impressionante como juntamos coisas ao longo da vida. Outro dia, abri meus armários. Todos abarrotados! Compreendi que era hora de fazer uma boa triagem e doar o que não usava mais ou tinha em excesso.

Comecei o meu exercício de desapego. Separei tudo que poderia agradar ou ser útil para outra pessoa. E quantas blusas, cintos, sapatos, casacos, bolsas, bijus, toalhas, xícaras, pratos, panelas, vasos, quadros, almofadas, livros! Para quê? Eu não precisava de tudo aquilo. Além do mais, se havia tanta coisa sobrando aqui é porque devia estar faltando em outro lugar. O excesso de um lado indica escassez do outro. Muita gente ficaria feliz com um casaco quentinho, um livro interessante ou um tênis usado ainda em bom estado.

Depois da triagem e das doações feitas, me senti mais leve e satisfeita. Mas compreendi que o verdadeiro exercício de desapego não é esse que tinha acabado de realizar.

O verdadeiro exercício de desapego é abrir o armário, pegar aquilo que mais gostamos, amamos de paixão, e oferecê-lo a alguém que eventualmente ficará feliz com o presente. E não podemos querer, ou mesmo esperar, que os outros valorizem tanto quando a gente as coisas que lhes oferecemos.

Também é necessário se desapegar do resultado de nossas ações. Doar sem esperar nada em troca.

E você, já fez o seu exercício de desapego? Experimente! Melhor treinar o desapego quando ainda lúcidos. Pois a vida se torna muito sofrida e pesada quando não queremos abrir mão, de jeito nenhum, de nada do que juntamos. Garanto que se sentirá mais leve e, quando a morte chegar, será mais fácil deixar tudo para trás.

Afinal, chegamos neste mundo sem nada e não levamos absolutamente nada dos bens materiais que acumulamos aqui. Inexoravelmente, um dia teremos que deixar para trás tudo que juntamos.

O “Até Quando? O vai e vem” (Chiado Books) também está disponível em francês - “Jusqu´à Quand? Le va-et-vient” – em formato livro no www.thebookedition. com e em e-book na Amazon BR, Kobo, Google Play, Nook, Livraria Cultura.

Esta é a história do João que vem para o mundo e faz um monte de bobagens, vive reclamando e culpando os outros pelas suas infelicidades. Ele logo morre e se percebe em seu salão de memórias, local à margem do mundo terreno, onde encontra registros de tudo que fez ou não em vida, dos erros e acertos cometidos, das pessoas que magoou, mas também de seu potencial. Insatisfeito com sua atuação recente, João decide voltar à Terra para esclarecer equívocos e provar para si mesmo que tem qualidades.

O maior desafio era perdoar a si mesmo! (...) nada acontece por acaso (...) tudo que se faz ou pensa tem consequências. (...) receberia de volta tudo que semeasse (...) não estamos todos interconectados, intimamente ligados uns aos outros, e também à natureza? (...) o que se percebe no outro é o que se tem dentro de si (...) a intenção é a chave que abre ou fecha portas. (...) afinal os inimigos costumam ser sempre aqueles que estão do lado de lá do muro ou da fronteira. (...) Tinha aprendido que não poderia ficar esperando seus sonhos acontecerem sozinhos.

Em “Até Quando? O vai e vem” acompanhamos as idas e vindas do João e de sua família entre a Terra e seus salões de memórias. É sempre a mesma turma se reencontrando. Mas João, por conta de ter tomado as águas do esquecimento para aquietar memórias incômodas, ainda não reconhece ninguém.

This article is from: