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Ação de Formação Graça Lobo

Por dentro do Filme Sessão 1 | Animação

2015/2016


Ação de Formação | Por Dentro do Filme | Sessão 1 | Animação

Título Por dentro do filme Subtítulo Ação de formação Número Sessão 1 Animação Autoria Graça Lobo Edição Data da última revisão Outubro 2015 2


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Conteúdo Textos de apoio .................................................................................................4 Excertos fílmicos ...............................................................................................7 INÍCIO DA ANIMAÇÃO até WALT DISNEY.....................................................7 ESCOLAS e TÉCNICAS ....................................................................................7 Bibliografia .........................................................................................................9

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Textos de apoio

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‘Na base da ilusão de movimento que vemos no filme animado está o modo como o animador manipula a diferença entre as imagens que elabora e regista. O que é (inconscientemente) apreendido pelo espectador é o entre-dois de uma relação de diferença entre duas imagens contíguas na sequência. É a relação de diferença/semelhança gráfica entre cada duas imagens que, na sucessão regular e rápida destas no tempo, produz a impressão de movimento no sistema de percepção visual do espectador. A construção de um filme animado subentende, assim, a existência – absolutamente arbitrária – de dois tipos de manipulação da relação de descontinuidade/continuidade fílmica: uma que sequencia e justapõe segmentos de discurso, habitualmente denominados plano; e outra, que é própria da animação, que sequencia e justapõe fragmentos mínimos de filme, habitualmente denominados fotograma ou imagem. Ambas são procedimentos materiais que asseguram a ilusão de continuidade: a primeira é conscientemente perceptível para o espectador; a segunda não.’ In Marina Estela Graça, Revista Convergências. Revista de Investigação e ensino das Artes, n.º 2.

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Aqui fica, então, a pequena narrativa da vida das representações animadas: No início nada existia. Era o vazio absoluto. Tudo branco ou tudo preto. Indiferenciado, invisível, imóvel. Até que surge um primeiro elemento, um primeiro sinal: um ponto. Quando unido a outros pontos, começamos a falar de uma linha – com linhas podemos traçar contornos. Mas com pontos podemos também criar texturas, juntando-os. Os contornos são o princípio daquilo que aqui designamos por representação esquemática. As texturas são o princípio da representação detalhada. Aos esquemas e aos detalhes falta ainda uma dimensão material, uma massa, um volume. Prosseguindo: se adicionarmos a observação em perspectiva, reparamos que uma sensação de profundidade, ou seja, de tridimensionalidade, se vem acrescentar à nossa percepção dos objectos e dos acontecimentos.

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Deixamos de ver o mundo como algo plano, como uma superfície, para o representarmos como espessura, como algo táctil. Ao ganhar em profundidade, a representação ganha também em rigor das proporções, ou seja, de espessura. Para dar esta sensação de espessura, um dos melhores meios é a luz. É ela que adiciona os atributos de volume. Ao iluminarmos, os jogos de luzes e de sombras tendem a criar uma sensação de relevo. É ainda a luz que assegura uma outra característica dos objectos e demais entes: a cor. A cor é, como bem sabemos, uma primeira forma de dar vida às coisas – um mundo sem cor tende a ser visto como um mundo moribundo, de penumbras e de contornos indiferenciados. E é a luz que cria todas as coisas: fiat lux. Porém, todas estas características nos parecem apresentar os objectos ainda de um ponto de vista estático. E a vida possui uma característica universal e facilmente distintiva: o movimento. Entre outras coisas, a vida é matéria, cor, luz e volume em movimento – daí que uma das formas imediatas para averiguar se algum ser está vivo seja ver se ele se movimenta. A capacidade automotora é fundamental no biomorfismo. E com o movimento surge uma outra característica dos seres e dos eventos: o som, seja ele produzido por personagens (o caminhar, por exemplo) ou por acontecimentos (um choque, por exemplo). Cumprimos assim a primeira etapa fundamental: passar do amorfismo ao biomorfismo, isto é, dar vida às coisas. Mas o movimento está longe de ser a característica mais relevante da vida – pelo menos da vida humana. É então que começamos a falar num género diferente de vida, de uma nova etapa da animação: o antropomorfismo. Como a designação indica, trata-se de dar uma forma humana a outros seres. Desde logo, uma característica básica do ser humano: ele comunica. Temos em primeira instância a forma pré-linguística da comunicação: os gestos. Através destes, podemos exprimir emoções e comunicar conceitos. E podemos ainda provocar acontecimentos, ou seja, realizar acções. Os objectos começam a gesticular. Ainda como modo decisivo de comunicação temos o olhar. São os olhos que procuramos em primeiro lugar quando contactamos com alguém e são eles que nos permitem, da forma mais elaborada, tomar conhecimento do mundo na sua forma mais vasta. De algum modo, podemos assumir a máxima popular de que os olhos são as janelas da alma: para o interior e para o exterior desta. É em redor deles que se concentra muita da comunicação emocional expressa no rosto: daí falarmos de um olhar triste ou de um olhar alegre. E logo que falamos em alegria e em tristeza nos ocorre toda a sinalética mais ou menos codificada de representação dos estados de alma na pintura, no desenho, na escultura ou 5


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no cinema: as máscaras teatrais usadas na tragédia e na comédia clássicas não são mais do que arquétipos ilustrativos das emoções mais extremas. O smiley é a sua representação contemporânea mais abstracta e universal. Rir e chorar: princípios da emoção na animação. Se o riso e o pranto, o sorriso e o choro, são modalidades fundamentais e extremas da emoção humana, quando conjugamos as emoções com as acções, isto é, as causas com os efeitos e os motivos com as intenções, passamos a ter um carácter para as nossas entidades, ou seja, temos personagens que simulam ou emulam pessoas: capazes de agir, de exprimir, de sentir, de pensar. As emoções são necessariamente o culminar do processo de antropomorfização. É o sentimento que assinala a humanidade dos seres e das coisas. É o modo de sentir, de pensar e de agir que define o carácter. Temos assim um processo que passa por diversos acrescentos e atributos: Ponto Linha Contorno Textura Esquema Detalhe Luz Cor Volume Perspectiva Matéria Movimento Som Vida Gesto Olhar Sorriso Choro Acção Emoção Carácter In Luís Nogueira, Manuais de Cinema I Géneros Cinematográficos. Covilhã: LabCom Books, 2010.

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Excertos fílmicos INÍCIO DA ANIMAÇÃO até WALT DISNEY J. Stuart BLACKTON. 1906. Humorous Phases Of Funny Faces. USA. Técnica: Lightning sketches (animação ao vivo) Émile COHL. 1908. Fantasmagorie. FR. Técnica: Desenho Winstor MCCAY. 1911. Little Nemo. USA. Técnica: Desenho Winstor MCCAY. 1911.Gertie A Dinossaura. USA. Técnica: Desenho Quirino CRISTIANI. 1917. O Apóstolo. AR. Técnica: Desenho (o filme considerado a primeira longa-metragem, ardeu e só se conserva aquela imagem) Walt DISNEY. 1928. Steamboat Willie. USA. Técnica: Desenho Max FLEISHER. 1933. Betty Boop em Branca de Neve. USA. Técnica: Desenho Walt DISNEY. 1937. Branca de Neve e os 7 Anões. USA. Técnica: Desenho Dave FLEISHER. 1939. As Viagens de Gulliver. USA. Técnica: Desenho Fritz FRELENG. 1947. Empada de Tweetie. USA. Técnica: Desenho (N.B. autor da maioria Tex Avery e de Looney Toons)

ESCOLAS e TÉCNICAS Norman MCLAREN. 1940. Pontos. CAN Técnica: Desenho/pintura na película Norman MCLAREN. 1952, Vizinhos. CAN Técnica: Pixilação ALEXEÏEFF / PARKER. 1963. Nariz. FR Técnica: Ecrã de pinos Jiri TRNKA. 1965. Mão. Rep. CHECA Técnica: Stop Motion 7


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Jan SVANKMAJER. 1983. Dimensões do Diálogo. Rep. CHECA Técnica: Stop Motion Georges SCHWIZGEBEL. 1986. 78 Rotações. SUI Técnica: Pintura em acetato Joan GRATZ. 1992. Mona Lisa descendo uma escadaria. EUA Técnica: Pintura com plasticina Alexander PETROV. 2000. O Velho e o Mar. RUS Técnica: Pintura sobre vidro NicK PARK (Estúdios Aardman). 1989. Creature Comforts. ING Técnica: Stop Motion Sledgehammer, 1986, ING (videoclip de música de Peter Gabriel) Técnica: Stop Motion Osamu TEZUKA. 1984. Saltando. JAP Técnica: Desenho Hayao MIYAZAKI. 2001. A Viagem de Chihiro. JAP Técnica: Desenho Abi FEIJÓ. 2000. Clandestino. PT Técnica: Areia Ferenc CAKO. 2000. Pedras. HUN Técnica: Areia (animação ao vivo) Peter FOLDES. 1974. Fome. CAN Técnica: Computador Streven LISBERGER. 1982. Tron. EUA Técnica: Computador John LASSETER (Estúdios Pixar). 1986. Luxo Jr. EUA Técnica: Computador John LASSETER (Estúdios Pixar). 1995. Toy Story: Os Rivais. EUA Técnica: Computador

VIDE Marcos Magalhães, Animando. BR, 1983. 13’ Helena Pinto, A arte de animar. PT, 2012. 48’ Making off : Branca de Neve e os 7 anões

Para trabalhar em Animação aconselha‐se: http://pt.scribd.com/doc/25558742/Guia‐e‐Manual‐Teaching‐With‐Animation

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Bibliografia a.a.v.v., O Cinema de Animação e o Cinema Romântico. Lisboa: Publicações Alfa, 1973. Bakedano, José J., Norman McLaren - Obra Completa 1932-1985. Bilbao: Museo de Bellas Artes de Bilbao, 1987. Beck, Jerry e Friedwald, Will, Warner Bros. Animation Art: The Characters, The Creators, The Limited Editions. S.L.: Hugh Lauter Levin Associates, 1997. Bendazzi, Giannalberto, Alexeieff - Itinéraire d'un Maître. Paris: Dreamland / Cinémathèque Française, 2001. Bendazzi, Giannalberto, Cartoons: One Hundred Years Of Cinema Animation. Bloomington: Indiana University Press, 2001. Borges, Carlos, Filme Animado: Arte do Movimento. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. Brion, Patrick, Les Dessins Animés de la Metro-Goldwyn-Mayer. Paris: Éditions de la Martinière, 1999. Casa da Animação (Coord.), Animanostra - Retrospectiva do Estúdio. Porto: Casa da Animação, 2001. Casa da Animação, Retrospectiva Canadiana de Cinema de Animação. Porto: Casa da Animação, 2001. Cholodenko, Alan (Ed.), the Illusion of Life: Essays on Animation. Sidney: Power Publications, 1991. Crafton, Donald, Before Mickey: the Animated Film 1898-1928. Cambridge: MIT Press, 1987. Crafton, Donald, Emile Cohl, Caricature and Film. New Jersey: Princeton University Press, 1990. Denis, Sébastien, O Cinema de Animação. Lisboa: Edições Texto e Grafia, 2010. Faber, Liz et Walters, Helen, Animation Unlimited - Innovative Short Films Since 1940. Londres: Laurence King Publishing, 2004.

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