Pelos Caminhos da Filosofia

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Francisco Heitor Simões Gonçalves Filósofo, licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), pós-graduado em Educação Infantil (especialização) pelo IDECC/UVA, poeta, compositor, escritor com 10 livros publicados na área de Filosofia. Autor do projeto educacional H.E.L.P – Hora Especial do Livre Pensar, e da coletânea de filosofia Gente Curiosa e que Pensa. Ex-diretor do CEAF – Centro de Estudos e Atividades Filosóficas do Estado do Ceará. Habilitado em Filosofia pelo CBFC – Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças. Foi chefe do Departamento de Educação Ambiental da Prefeitura Municipal de Fortaleza. Com sua esposa, Mara Calvis, criou a coletânea de Educação Ambiental Falando e Cuidando do Planeta.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia 2a edição volume único Ampliada e não consumível

Ilustração: Bénes, JB e Tchesco Capa: Márcio Magalhães Pesquisa Iconográfica: Feliciano de Magalhães Júnior, Márcio Magalhães e Raíssa Emir Maia

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E d i t o r i a l

Livro de Filosofia para o Ensino Médio Fortaleza – Ceará – Brasil – 2009 2a Edição – 1a impressão


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E d i t o r i a l

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da Smile Editorial, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Direção Editorial: Supervisão Editorial: Coordenação Editorial: Projeto Gráfico: Ilustração: Pesquisa Iconográfica: Capa: Copydesk: Revisão: Impressão:

Clayton Lima Raíssa Emir Maia Feliciano de Magalhães Jr. Márcio Magalhães Bênes, JB e Tchesco Feliciano de Magalhães Jr., Márcio Magalhães e Raíssa Emir Maia Márcio Magalhães Raíssa Emir Maia Renata Rodrigues, Raíssa Emir Maia e Mauri Rodrigues Tecnograf Gráfica e Editora

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária: Camila Stela Pereira Nunes CRB 3a Região 861 G624p

Gonçalves, Francisco Heitor Simões Phylos: pelos caminhos da filosofia: volume único/ Francisco Heitor Simões Gonçalves. – 2a ed. – Fortaleza: Smile Editorial, 2009. 208p Edição ampliada e não consumível. Ortografia atualizada ISBN 978-85-61925-45-1 1. Filosofia. 2. Ciências Filosóficas. I. Título CDD – 101 Índice para catálogo sistemático: 1. Filosofia 101 ANO 2009 Smile Editorial Rua Pereira Filgueiras, 15 - Centro Fortaleza - Ceará - Brasil - CEP: 60.160-150 Fone: 85 3254 2799 / 85 3252 3780 smile@smileeditorial.com.br


Agradecimento A Deus; A minha esposa e filhos; À Editora Smile, pela confiança; Aos amigos professores Clayton Carvalho Pinheiro de Lima, Feliciano de Magalhães Júnior e Manoelito Costa, pela disposição e paciência a mim dedicadas; Ao meu primeiro professor de Filosofia, Lauro Mota, que fez nascer em mim a paixão e o amor por essa Ciência. Heitor Simões



Apresentação Este livro é um aprender a gostar da Filosofia. Quero "tirar" a noção acadêmica contemplativa, muitas vezes fechada em universidades, para trazer à luz uma visão prática e visível ao dia a dia de vocês jovens e, com certeza, futuros amantes da Filosofia. Esta obra não se fecha em conceitos, dando respostas prontas, acabadas ou somente apresentando a história da Filosofia, muito pelo contrário, ela é dinâmica, participativa, interativa e necessita a todo instante do desenvolvimento de suas habilidades para o crescimento forte e sadio do diálogo filosófico investigativo. Por isso, vivencie cada tema, cada atividade, cada dúvida, cada curiosidade e cada situação-problema que possa surgir em sala de aula, pois a verdadeira Filosofia é sempre a busca de novos caminhos e possibilidades na vasta estrada do saber e do conhecimento humano. Que este livro possa ser um passo a mais para um novo olhar e um novo horizonte na vida de vocês, jovens filósofos.

Bons pensamentos!

CONHECENDO AS SEÇÕES DO SEU LIVRO •

Introdução – Apresentação do que vai ser estudado no capítulo.

Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica – Atividade de compreensão textual para ampliar a visão inicial do aluno sobre os assuntos a serem estudados. Sugere atividades indicadas pelas letras minúsculas do alfabeto.

Para Construir o Conhecimento Filosófico – Desenvolvimento dos temas propostos no capítulo. Essa seção remete o aluno para as seções Debater e Refletir, Analisar e Escrever, indicando o número da atividade e a página em que se encontra.

Para Saber Mais: Outras Leituras – Textos e atividades suplementares para o aluno aprofundar o conhecimento. As atividades propostas nessa seção são identificadas através de letras minúsculas do alfabeto.

Para Debater e Refletir – Atividades sugeridas para a sala de aula com o objetivo de motivar o aluno ao debate e ao pensamento crítico. As atividades estão identificadas pela letra “D” e um número cardinal sequencial que cobre todos os tópicos do capítulo.


Para Analisar e Escrever – Atividades propostas para casa que possibilitam ao aluno significar a fundamentação teórica através da compreensão, comparação, análise, síntese e avaliação. As atividades estão identificadas pela letra “A” e número cardinal sequencial que cobre todos os tópicos do capítulo.

Sugestões de filmes e de livros – Como o nome já diz, são sugestões para um melhor entendimento do que foi vivenciado em sala de aula. Muitos desses filmes podem ser exibidos em sala de aula.

Ao final de cada unidade, o aluno deixará um registro sobre o que aprendeu de novo sobre o tema estudado.


Sumário ?

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UNIDADE I: O HOMEM QUESTIONADOR

Capítulo 1 A Importância da Filosofia no Cotidiano das Pessoas Capítulo 2 Do Senso Comum à Consciência Crítica

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UNIDADE II: O HOMEM ÉTICO 37 Capítulo 3 A Importância dos Valores, da Moral e da Ética na Vida do Homem Capítulo 4 O Uso da Liberdade com Responsabilidade

38

47

UNIDADE III: O HOMEM CULTURAL 57 Capítulo 5 O Homem Sabe que Sabe Capítulo 6 A Linguagem Humana

UNIDADE IV: O HOMEM ESTÉTICO 87 Capítulo 7 A Filosofia do Belo

88

Capítulo 8 A Estética Faz o Homem Ético

100

58 73

10


UNIDADE V: A FILOSOFIA DO SER

107

Capítulo 9 As Relações Humanas num Mundo sem Relações? Capítulo 10 Cuidando do Ser

108

116

UNIDADE VI: A FILOSOFIA DA FÉ 129 Capítulo 11 A Necessidade da Fé

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Capítulo 12 O Corpo em Busca da Fé?

150

UNIDADE VII: A FILOSOFIA DA NATUREZA 159 Capítulo 13 Homem e Natureza

160

Capítulo 14 Homem e Meio Ambiente

UNIDADE VIII: A FILOSOFIA

DOS

171

FILÓSOFOS 183

Capítulo 15 Pensando no Pensar (Pensadores Antigos e Medievais) Capítulo 16 Continuando a Pensar no Pensar (Pensadores Modernos e Contemporâneos)

193

184


I

O Homem Questionador • • • • •

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Somente os homens pensam? Ao pensar, questionam? Quando é que pensam? Você se considera uma pessoa questionadora? Você pensa ou "é pensado" pelos outros?

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Registre, no seu caderno, o que você já sabe ou ouviu falar sobre Filosofia.

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Tchesco

Unidade


Capítulo

Tchesco

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A Importância da Filosofia no Cotidiano das Pessoas

Phylosofia... o que é isso? Introdução Com certeza, em algum momento da sua vida você já deve ter ouvido essas frases: ele tem uma filosofia de vida... cada um tem sua filosofia... existem várias filosofias e vários pensamentos... como é complicada a disciplina Filosofia... Enfim, o que realmente seria filosofia? Você saberia dizer? Vamos ao princípio. Ir ao princípio é buscar algo no seu nascimento, em sua origem. Antigamente, as pessoas falavam e davam opiniões. Mas começaram a descobrir que era necessário ir além da opinião, pois só opinar não significava necessariamente se chegar a uma verdade – era preciso buscá-la. Esse foi o caminho para o nascimento da Filosofia: a busca pela verdade. Na busca pela verdade o homem passou a ter a necessidade de compreender as primeiras causas e os primeiros princípios para a origem de tudo que ele via e sentia ao seu redor. Dessa forma, nasceu a verdadeira filosofia. A palavra filosofia é formada por dois termos gregos: phylos, que significa amor, amizade, e sophya, que significa sabedoria. Assim, o sentido da filosofia é amor ao saber, amizade à sabedoria, buscar o saber. Este capítulo nos conduzirá às descobertas, ao amor pela filosofia, à sua origem, aos seus primeiros pensadores, à sua importância em nossas vidas, à consciência reflexiva, pois só seremos seres verdadeiramente livres quando pensarmos e agirmos por nós mesmos. 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

PHYLOS, A CORUJINHA QUE PERGUNTA Heitor Simões

– Como vai, senhor Dogma? O senhor está bem? Perguntou Phylos, a corujinha, ao amigo sapo, que acabara de adentrar a floresta. – Estou muito bem, aliás, mais um dia maravilhoso para continuarmos a ser o que sempre somos. Respondeu o sapo Dogma. Phylos, a corujinha, conhecida por suas famosas indagações, perguntou-lhe: – Para ser o que sempre somos? Quer dizer então que nunca mudamos? Somos sempre os mesmos, sempre do mesmo jeito? 10

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– Exatamente, para ser o que sempre somos.Você é e sempre será uma coruja. Eu sou e sempre serei um sapo. Um eterno sapo. Nasci sapo, criei-me sapo e morrerei sapo. – Eu entendo o que o senhor quer dizer – repondeu Phylos. Eu queria apenas uma explicação melhor. Eu sei que sou uma coruja e sei que o senhor é um sapo. Sei também que na natureza nem tudo é, ou existe, da forma como a vida iniciou. Por exemplo: uma borboleta, para ser borboleta, antes foi uma lagarta. A árvore, antes de ser árvore, foi semente. Assim, muitas vezes, somos e deixamos de ser para existirmos de uma outra forma. Às vezes, é preciso que algo morra para que esse mesmo algo renasça. – Ah! Minha amiga Phylos, você complica demais as coisas. O legal é deixarmos tudo como está. Não precisamos ficar “curiando” tudo, entende? Muitas vezes, não perguntar é o melhor remédio. Além do mais, nem sempre estamos dispostos a ficar pensando o tempo todo. Deve ser muito chato – respondeu o sapo Dogma irritado. – Eu sei que o senhor pensa assim. Isso é um direito que lhe cabe. Mas, o senhor já pensou em pensar de outra forma? Perguntou novamente Phylos, a corujinha que adorava fazer perguntas. – Pensar em pensar de outra forma... Hummm... Não. Só se pensa de um jeito. Isso é o que eu penso. – Pois é, eu queria tanto encontrar amigos que pensassem num pensar diferente! Não só naquilo que estamos acostumados a pensar sem refletir, mas um pensar que nos levasse a entender e compreender melhor o mundo e seus habitantes. Suspirou Phylos. – É, minha amiga. Está cada vez mais difícil conversar com você! Você só quer saber de pensar, de fazer perguntas, de resolver problemas velhos para, no mesmo instante, criar novos. Está ficando muito sem graça ter você como minha amiga. Acho que vou procurar outros animais para me divertir – resmungou o sapo Dogma. – Desculpe-me, sapo Dogma, é que eu pensei que, sendo o senhor um pouco mais velho que eu, pudesse mostrar-me mais coisas e explicar-me outras mais – falou Phylos recolhendo-se em um velho galho de árvore. – Eu sei, até a entendo, minha amiguinha. Vocês, as crianças, gostam de saber de tudo. Querem mudar a lógica das coisas. Mas, isso não é o suficiente. O suficiente é termos apenas o necessário. Para que ficar pensando? Isso dá é dor de cabeça, sabia? Repondeu de forma simples o sapo Dogma. – Queria sinceramente não perder a sua amizade, falou Phylos. Gosto muito de conversar com o senhor. Muito mesmo. Apesar de que tenha notado que o amigo fica um pouco irritado quando começo a fazer perguntas. Faço-as porque sou curiosa. Salvador Dalí, O Contador O meu amigo sapo acha isso errado? Antropomórfico, 1936 Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Banco de imagem/shutterstock

Unidade I O Homem Questionador


Capítulo 1 A Importância da Filosofia no Cotidiano das Pessoas

– Nem errado, muito menos certo. A curiosidade mata, sabia? – respondeu ironicamente o sapo. Sei não. Já disse que não estou gostando muito dessa conversa. Você fala e pergunta demais. Melhor mesmo é procurar outros bichos. – Tudo bem. O senhor sapo sabe que a floresta é enorme e que cada um é livre para pensar e agir da forma que bem entende. Pode procurar outros bichos. Pode até contar sempre as mesmas histórias e dizer que o dia está maravilhoso como sempre. Mas, o senhor tem que aprender a ouvir, pois só falar as coisas sem entendê-las não será de muita utilidade para a vida. Disse a corujinha Phylos com um certo ar de tristeza. – Pelo menos, os outros bichos não deixam a cabeça da gente rodando feito um pião, de tanto fazer perguntas, de tantos porquês. Como sou mais velho, aceitam tudo o que eu digo sem questionar. Repondeu o sapo Dogma com um ar de autoridade. Os dias passavam. A corujinha Phylos estava sempre buscando fazer amigos, pois adorava conhecer novos horizontes, novas ideias, novas realizações. Gostava de ler, de trocar conhecimentos, de pesquisar, enfim, era uma excelente observadora e crítica das coisas que aconteciam ao seu redor e em toda a floresta. – Bom dia, dona Cobra, poderia fazer-lhe uma pergunta? – Sim, Phylos, o que gostaria de saber? – É verdade que vocês, as cobras, mudam sempre de pele? – É sim. À medida que vamos envelhecendo, vamos trocando de pele. – E isso é normal? Perguntou Phylos. – Sim! Para nós, da nossa espécie, sim. – Ah! Agora compreendo melhor. – Olá, amiga Borboleta, tudo bem com você? – Tudo bem, Phy. Hoje o dia está perfeito para voar! – Que bom! Mas, antes de voar, você poderia me responder algo? – Claro que sim, "diga lá". – Quanto tempo você levou para sair do casulo? E lá é quentinho? – Levei alguns dias. Lá dentro, além de ser "quentinho", é um local que nos serve de proteção. No casulo, enquanto nos desenvolvemos, sentimo-nos mais seguras e, no tempo certo, saímos lá de dentro. – Que legal! Gritou Phylos. A cada resposta dada por suas amigas, Phylos encantavase mais e mais. Assim, surgia o interesse em fazer muito mais Edvard Munch, O Assassino de Vereda, 1919 perguntas. Enquanto isso, o sapo Óleo sobre tela, 110 x 138 cm Dogma, ao contrário, já estava Museu Munch, Oslo 12

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Unidade I O Homem Questionador

satisfeito com o que sabia. Apenas, ao encontrar novos bichos, fazia questão de dizer os ditados que aprendera em sua vida e que nunca parara para refletir se os mesmos eram verdadeiros ou não. Apenas os repetia. – Olá, amigo Bodó. Você sabia que "Filho de peixe peixinho é?" Pois bem, isso é uma verdade. – Como vai a senhora Tartaruga, a senhora sabia que "Devagar se vai ao longe"? Como vê, isso é uma verdade inquestionável. – Olá, minha colega Hiena. Sabia que "Quem ri por último, ri melhor"? E de tanto os repetir, acreditava que eles, os ditados, fossem verdadeiros. Pior, fazia com que um montão de bichos acreditassem que tais ditados fossem realmente verdadeiros. Assim, na floresta, entre tantos pensamentos, os bichos continuavam vivendo juntos. Tanto os que refletiam o seu pensar, como aqueles que do pensar não faziam reflexão alguma. Com base no texto, responda: a) Sempre somos do mesmo jeito, todos os dias? Explique sua resposta. b) É possível ser de um jeito e depois não o ser mais? Comente. c) Você conhece algo ou alguém que era de um jeito e depois ficou de outro? Explique sua resposta. d) Todas as pessoas pensam do mesmo jeito? e) A curiosidade é importante para o conhecimento humano? Comente sua resposta. f) É possível que uma criança possa ter mais "conhecimento" que um adulto? Justifique a sua resposta. g) Em sua opinião, o diálogo ou a conversa são pontos importantes para se conhecer algo ou alguém? Por quê? h) Perguntar significa ser curioso? Explique. i) Quando nos dizem algo, significa que esse algo é verdadeiro? Comente. j) Em sua opinião, existem pessoas que já estão satisfeitas com o conhecimento que possuem? Justifique sua resposta.

Para Construir o Conhecimento Filosófico 1.1 O NASCIMENTO DA FILOSOFIA O homem existe! Nesse existir, há todo um processo de se fazer compreender enquanto ser que pensa. E o que nos faz humanos? Cremos que o uso da razão. É através da razão que esse processo se faz presente, ou seja, acontece.

Leo von Klenze, A Acrópole de Atenas, 1846. Óleo sobre tela, 103 x 148 cm Neue Pinakothek, Munich

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Capítulo 1 A Importância da Filosofia no Cotidiano das Pessoas

Para os gregos, existia o Caos, a desordem, pois a realidade era explicada através da mitologia. Com o homem buscando compreender a sua existência, surgiu então uma nova forma de ver e interpretar essa mesma realidade, nascia então o cosmo (a ordem). O homem, vivendo no caos, não se dava conta da realidade em que vivia. Para ele tudo era mítico. Não questionava o seu existir. Vivia e agia instintivamente como os animais. Ora, nós sabemos que o homem é processo – está em constante evolução. Aprende e apreende a realidade a todo instante. O homem também é fruto do seu trabalho e das suas relações sociais, por isso ele evolui. Essa evolução possibilitou ao homem uma nova visão de mundo, ou seja, o homem começou a percorrer novos caminhos, novos horizontes, em busca da sua consciência crítica. Para um melhor entendimento, podemos diferenciar o homem racional do homem animal. O homem animal vive com a natureza, faz parte dela. Vive em função da sua animalidade (instintos, agressividade). O homem racional, não! Por ter uso da razão, ele transcende, vai além do mundo finito, mundo fechado. Rompe este mundo, que parece não ir a lugar algum, e

busca novos rumos, novos caminhos e novas formas de desenvolver a sua racionalidade. O processo mítico foi o ponto de partida para o homem tentar explicar a realidade, buscando a origem das primeiras causas e dos primeiros princípios desse mundo. Estando o homem num mundo onde não possuía respostas para as justificativas míticas, começou a fazer indagações sobre sua própria existência. A busca por verdades, pelo conhecimento, levou o homem a tomar conhecimento de si e da realidade ao seu redor, começando, assim, a tentativa de explicá-la. O momento mítico foi de fundamental importância, pois foi através dele que o homem começou a atribuir, então, aos fenômenos da natureza, as respostas para aquilo que ele mesmo não conseguia explicar. Daí, surgiram as divindades como o Deus Fogo, o Deus Chuva, o Deus Trovão etc. Enfim, atribuições divinas, dadas pelo homem aos fenômenos da natureza, que marcaram o momento da sua consciência mítica. O pensamento grego nasceu a partir desses questionamentos, dessas tentativas de explicar o cosmo. Como a História é processo e a Filosofia é também história, podemos dizer que a Filosofia é também processo, ou seja, vem evoluindo com sua própria história.

Michelangelo Buonarroti, Sexto vão da abóbada. A Criação de Adão, 1510-1511 Fresco, 280 x 570 cm. Uma das mais belas imagens da capela Sistena

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Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade I O Homem Questionador

O homem grego buscava respostas, fazia perguntas para compreender as primeiras causas e os primeiros princípios que mostrassem a origem da vida. O homem como ser que pensa, desde os seus primórdios, está em busca de entender o porquê da sua história, da sua existência. No princípio, como o homem vivia em harmonia com a natureza, era lógico que ele fosse buscar nela as respostas para as suas perguntas. Foi aí que surgiu a figura dos pré-socráticos (pensadores que vieram antes de Sócrates, filósofo grego) tentando explicar a origem do cosmo através dos "fenômenos" da natureza.

Michelangelo Buonarroti, Vitória, 153234. Mármore, altura: 261 cm Pacio Velho, Florença

Tales de Mileto dizia ser a água o princípio de tudo. Anaxímenes dizia ser o ar o princípio vital, o princípio da vida. Anaximandro acreditava que não era somente o ar, a água, ou o fogo, mas sim, um conjunto de situações, a que chamou de "ápeiron", ou seja, o indeterminado. Já Pitágoras dizia que o princípio de tudo eram os números, pois os números estão em toda a natureza. Heráclito afirmava que a origem de tudo era o movimento das coisas, a transformação constante, a mudança. Dizia ele: "não tomamos banho no mesmo rio duas vezes". O fogo era o exemplo dado por ele para significar a transformação. Por sua vez, outro pré-socrático, Parmênedes, dizia que o Ser era imutável, uno, não mudava. Dizia: o Ser é... o não Ser não é! Todos esses questionadores da existência só chegaram a esse momento de consciência reflexiva do pensar exercitando o pensamento mítico e dando origem ao nascimento da Filosofia.

VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 01, página 23. ANALISAR E ESCREVER: Questão 01 a 03, página 26. 1.2 A I M P O R T Â N C I A DA F I L O S O F I A COMPREENSÃO DO MUNDO

PARA A

Muito se fala ou se falou da Filosofia como "mãe de todas as ciências". Foi a partir da Filosofia que nasceram as demais ciências. Discursos, práticas, experiências sempre demonstraram a importância da Filosofia. Porém, no mundo moderno, as pessoas não a entendem nem a compreendem como uma ferramenta essencial para uma vida melhor e mais feliz. Falar da Filosofia é fazer um resgate das ações práticas do ser humano enquanto ser biológico e racional, já que este último o caracteriza como um ser diferente do animal somente biológico. O uso da razão, da consciência é o ponto fundamental para entendermos e compreendermos como se dá o processo do conhecimento e do próprio aparecimento de pessoas tão importantes que marcaram a história do conhecimento. É claro que o conhecimento não se faz somente através da teoria, mas da união entre teoria e prática. O homem é um conjunto biopsicossocial, ou seja, é corpo, é pensamento e é ação e relação. É tudo isso, de várias formas e vários níveis, por exemplo: o homem como Animal (que age por instintos); como SER da Cultura (que produz e reproduz conhecimentos); como SER do Trabalho (que desenvolve através do seu esforço, da sua mão-de-obra novas tecnologias); como SER da Produção (que produz riquezas); como SER da Linguagem (que cria símbolos e se comunica); como SER da Consciência (que“assume”seus atos e faz reflexões diante das mais variadas situações da vida); como SER da Ideologia (que vive e participa como informador e formador de ideias); como SER do Conhecimento (que busca a todo instante conhecer); enfim, como SER que é Criatura (quando

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Capítulo 1 A Importância da Filosofia no Cotidiano das Pessoas

é passivo e dependente, de alguma forma de situações externas a ele) e Criador (quando cria e é sujeito de alguma atividade ou ação). O aparecimento da consciência possibilitou ao homem buscar respostas para as suas indagações, fundamentadas à luz da razão e não mais na mitologia ou em histórias sem explicações lógicas. Esse foi o caminho que percorreram os grandes filósofos, sempre à procura das verdades, dos esclarecimentos, dos fatos, das respostas para suas indagações. Na história da Filosofia, surgiram escolas filosóficas que defendiam a origem das coisas pelo ar, pela água, pelos números, pelo que não é determinado, enfim, tantas e tantas maneiras de mostrar que o homem já caminhava com suas próprias pernas no que se referia ao pensar. Esses homens foram chamados de pré-socráticos. Sócrates foi um marco tão importante para a Filosofia, que ele serve como ponto de referência para a divisão ocidental da Filosofia. Assim se dividiu o pensamento filosófico, antes e depois de Sócrates, tamanha importância deste para o conhecimento humano. Sócrates acreditava que o homem possuía o conhecimento e que esse conhecimento vinha dele mesmo, por isso desenvolveu a "técnica da ironia e da maiêutica", ou seja, ele indagava as pessoas e buscava nelas respostas para as suas perguntas. Essas pessoas eram questionadas até chegarem à conclusão de que não tinham respostas absolutas, aí ele usava a maiêutica, que significa "dar à luz as suas próprias ideias para se chegar a uma verdade". Dessa forma passava às pessoas a importância de terem certeza daquilo que queriam dizer. Dois pensamentos evidenciam seus ensinamentos: "Só sei que nada sei" e o famoso "Conhece-te a ti mesmo". Foi condenado à morte por acharem que ele fazia subversão à juventude. Para Sócrates, a verdade era um ponto básico para chegarmos ao verdadeiro conhecimento. Hoje em dia, não é muito difícil encontrar alguns "Sócrates" em nossa realidade, pois, mesmo estando descaracterizada a Filosofia nos dias de 16

hoje, ainda encontramos pessoas que são condenadas por pensarem à frente do nosso tempo. Seu seguidor foi Platão, assim chamado por possuir ombros largos. Acreditava que o verdadeiro conhecimento estava no mundo das ideias, onde existia tudo o que era perfeito: o verdadeiro Bem, a verdadeira Beleza, a verdadeira Justiça. Aqui na terra só tínhamos a aparência das coisas reais, pois o verdadeiro se encontrava somente no mundo das ideias. Para exemplificar o verdadeiro conhecimento, Platão falou do "mito da caverna", no qual apresenta pessoas acorrentadas, dentro de uma caverna onde só se viam sombras... um dia, uma pessoa, ao sair dessa caverna, vislumbrou a luz, outra realidade. Viu que o Sol produzia a luz e o que eles viam dentro da caverna eram apenas sombras. Essa alegoria de Platão é uma forma interessante de mostrar a questão do conhecimento relativo (aparências) e do conhecimento verdadeiro (a luz, a essência). Outro grande filósofo foi Aristóteles, que de certa forma foi "diferente" dos demais: utilizou a própria natureza como instrumento de pesquisa, ou seja, como sendo um caminho para buscar respostas para a sua realidade. Falou também da virtude, que era o ponto de equilíbrio das pessoas: nem muito nem pouco, mas tudo com equilíbrio. Contribuiu também para compreendermos melhor a questão do uno, tese de Parmênides, e da questão da transformação, tese de Heráclito. Para Parmênedes o ser não muda, é único, imutável. Para Heráclito, o ser está em constante transformação. Baseado na tese de Parmênides e Heráclito, Aristóteles desenvolveu a ideia do ato e da po-

Mike e Ashley Zemans, Amantes, 1998 Óleo sobre tela, 76,3 x 76,3 cm

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Unidade I O Homem Questionador

tência. Para isso, disse que ato é tudo o que é, o que existe (Parmênides). E potência é tudo o que pode vir a ser, a existir (Heráclito). Por exemplo, a semente de uma árvore é ato, pois ela existe, ela é. Mas, ao morrer, para se transformar em árvore, ela é potência, pois está sendo. Assim, meu filho, que é um cantor, é ato, mas a grande carreira que tem pela frente o torna potência. O que nos fez, de certa forma, falar sobre esses filósofos é que não é possível falar de Filosofia se não evidenciarmos esses pensadores que foram de fundamental importância para o conhecimento teórico e prático que possuímos hoje. Portanto, nós somos devedores desses filósofos. Assim, para compreendermos a importância da Filosofia na atualidade, precisamos entender primeiro a importância do pensamento filosófico na Antiguidade. VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 02 a 05, páginas 24 e 25.

E

Como vimos nos tópicos anteriores, a Filosofia não acontece e não se dá por acaso na vida das pessoas. Ela é o fruto de muito pensar, mas não só um pensar por pensar, mas um pensar que nos leva a uma reflexão da nossa existência, enquanto pessoas e seres racionais que possuem consciência das suas ações. Por isso, compreender a Filosofia como uma prática social é ter conhecimento de que, através dela, podemos mudar, influenciar e contribuir para um mundo mais justo e mais humano. Essa prática social (ações que uma pessoa pode executar para provocar uma mudança), é bom que se diga, não será uma prática ditatorial, imposta, mas uma prática de diálogos, que possa facilitar e colaborar com o crescimento pessoal. A Filosofia se desenvolve através da consciência crítico-reflexiva e sempre em função de algum objetivo. Por isso, quando pensamos em desenvolver algo para o bem das pessoas, não só estamos exercitando a verdadeira filosofia, mas colocando-a como possibilidade de mudanças.

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ANALISAR E ESCREVER: Questão 04 a 07, página 26.

1.3 A F ILOSOFIA COMO P RÁTICA S OCIAL POSSIBILIDADE DE MUDANÇAS

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Capítulo 1 A Importância da Filosofia no Cotidiano das Pessoas

Uma dessas possibilidades é a educação transformadora. Devemos compreender que a educação transformadora é também uma prática de vida e uma peça fundamental para as relações humanas e as mudanças sociais. Ora, quando nos relacionamos, exercemos o diálogo, peça fundamental para o desenvolvimento da filosofia, por isso a escola, enquanto espaço mediador de uma educação transformadora, é uma ferramenta que possibilita a construção da cidadania, do diálogo e da prática filosófica. Portanto, ao desenvolvermos a verdadeira Filosofia, a verdadeira busca do conhecimento e do saber, temos um compromisso e uma responsabilidade grandiosa na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e humana. VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questões 06 e 07, páginas 25 e 26. ANALISAR E ESCREVER: Questões 08 e 09, página 26.

essas colocações podem ou não ser verdadeiras. O que nos vão afirmar, comprovar ou não, são os estudos, a coerência científica, a consciência crítica e reflexiva sobre o que nos está sendo mostrado... Filosofar a história não é só ficar dialogando sobre fatos e acontecimentos, é ter uma atitude crítica e reflexiva sobre esses acontecimentos. Quando filosofamos a história, estamos buscando instrumentos para buscar a verdade da história e não apenas nos contentando com o que nos dizem ou nos afirmam. Nem tudo que nos dizem ou nos informam podemos considerar como sendo uma verdade absoluta. É preciso buscar os fatos, os motivos, as situações, pesquisar, comparar, analisar, para se chegar a uma verdade que nos levará a outras verdades. Para tanto, a verdadeira filosofia nos levará a compreender a verdadeira história. Só ouvir não significa dizer que algo é verdadeiro, é preciso buscar racionalmente a verdade, mesmo que essa não seja a que queremos ou desejamos encontrar. Por isso a Filosofia tem um papel muito importante na busca pela verdade e na compreensão da verdadeira história.

1.4 FILOSOFANDO A HISTÓRIA É de fundamental importância não esquecermos que Filosofia e História andam de mãos dadas no caminho da apropriação e produção do conhecimento, ou seja, só podemos ter acesso ao conhecimento pensando, questionando, registrando e produzindo. Não conhecermos a nossa história é não compreendermos a nossa vida, origem, cultura, hábitos e atitudes. A maneira como fomos educados para compreendermos a nossa história muitas vezes não nos coloca na situação de pessoas participativas e críticas. Já ouvimos muito dizer:“O Brasil foi descoberto por... aqui, antigamente as pessoas faziam sacrifícios... dizem que foram enterradas centenas de pessoas nesse local...”. Enfim, todas 18

Thomas Cole, O sonho do arquiteto, 1840 Óleo sobre tela, 136 x 214 cm Museu de Arte, Toledo, Ohio

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 08, página 26. ANALISAR E ESCREVER: Questões 10 e 11, página 26. Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade I O Homem Questionador

Para Saber Mais: Outras Leituras

O MITO DAS CAVERNAS “...dizia Platão que o homem vive preso a uma falsa imagem do real. Para ele, não contemplamos em geral a própria realidade, mas apenas as imagens, que estão para o real como a sombra de um objeto para o próprio objeto. Para caracterizar esse fato, criou a famosa alegoria da caverna: os homens vivem acorrentados, numa caverna, voltados para o seu interior; a luz, que nela penetra, projeta sobre as suas paredes interiores sombras dos objetos reais; dessa forma, vemos as sombras projetadas, e julgamos que essas sombras são a realidade;...” In O mundo Precisa de Filosofia, Eduardo Prado de Mendonça, pág. 195

“Essa alegoria mostra que as pessoas que vivem nas sombras e não conhecem a luz, são pessoas que ainda não descobriram a realidade. O papel do filósofo é possibilitar com o seu questionar e as suas indagações que as pessoas“possam sair das cavernas”,“das sombras”, para contemplarem à luz. É sair das aparências e encontrar a essência verdadeira das coisas.” Heitor Simões

Com base na leitura, responda: a) Você conhece alguém que vive de forma parecida com a descrita no texto? Comente. b) Faça uma comparação da luz mencionada no texto com outro tipo de luz. c) De acordo com a alegoria de Platão, os homens vivem acorrentados. Como você imagina isso? d) Você já conheceu alguém nessa situação? Comente. A GLOBALIZAÇÃO

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Parece-me que falar de globalização é como falar a mesma coisa em todos os lugares... e se fazer entendido e compreendido. Assim, temos o inglês como "língua" global. Mas creio que ser global não significa necessariamente aceitar tudo como se não existisse uma característica individual ou coletiva de cada povo e nação. O mundo atual nos traz palavras e modos de vida como se quisesse impor maneiras e atitudes novas. Ora, romper barreiras não significa somente mudar uma economia, uma língua... romper barreiras e tornar algo global é sentir a necessidade das pessoas e lutar para que essas necessidades se tornem acessíveis social, politíca, economicamente... e assim vai. Diz-se que o mundo hoje é global, que vivemos numa fase de globalização, que somos cidadãos do mundo. Seria essa mais uma maneira, dentre outras, de escravizar o homem diante dos modos de produção? Ou seria uma maneira a mais de trabalhar um capitalismo Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 1 A Importância da Filosofia no Cotidiano das Pessoas

selvagem e desigual? Claro que essas indagações mostram apenas a minha preocupação de não fazermos do mundo algo tão global e ao mesmo tempo tão distante, pois vivemos em um mundo de contradições, e a globalização é apenas uma contradição a mais na nossa maneira de viver e encarar o mundo. Formam-se blocos econômicos: ALCA, MERCOSUL, COMUNIDADE EUROPEIA. Cria-se uma única moeda, e a vida das pessoas muda quase nada! Ah! Isso sim é globalização: A FOME! Realmente em pleno século XXI, ainda existem pessoas que morrem de fome em todas as partes do mundo. Heitor Simões

Com base na leitura, responda: a) Que informações o texto A Globalização nos traz? b) O que é uma coisa global? c) Pesquise o significado da palavra Holístico. d) A globalização é positiva para a humanidade? e) Somos seres globais? f) Como você reagiria: • Ao ver um japonês casado com uma holandesa? • Ao comprar um produto com todas as informações em língua chinesa? • Ao ver coreanos, nas calçadas, vendendo a alguém um par de tênis bem abaixo da metade do preço que encontramos nas lojas? • Ao ver aqui produtos internacionais sendo vendidos mais baratos que os brasileiros? • Ao ver um africano casado com uma sueca?

O PÁSSARO QUE NÃO SABIA VOAR Era uma vez um pássaro que não sabia voar. Na verdade ele até sabia, o que ele tinha mesmo no fundo, no fundo do seu coração, era medo de voar, medo de ser ele mesmo. O medo lhe rondava em tudo: tinha medo do que os outros pássaros e bichos da floresta poderiam pensar se ele não voasse tão alto. Tinha medo de sair para passear, com medo daquilo que os amigos pássaros poderiam dizer das suas penas, que já estavam velhas e que deveriam ser cortadas. Tinha medo de cantar, pois pensava que o seu canto não iria agradar a todos. Tinha medo de comer na frente dos outros pássaros, pois pensava que sua maneira de comer iria ofender os outros. Pobre pássaro, poderia ser feliz, mas não o era devido aos seus medos. Alguns pássaros o observavam. E, de seus postos nas árvores, ficavam intrigados: "Por que ele não voa? Por que não se alimenta como a gente? Por que não compartilha suas ideias conosco?" Mas o que os outros pássaros não sabiam é que o nosso pássaro, que não queria – perdão – que não sabia voar, não voava por conta de seus medos. E o pior, só em pensar que os outros poderiam não gostar dele, ele aproveitava certas ocasiões na floresta, em que estava quase só, para reclamar de quase tudo, principalmente quando pegava alguns pássaros que também não estavam muito contentes com a vida que tinham. Reclamava que o canto daquele não era 20

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade I O Homem Questionador

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belo, que a comida daquele outro era muito ruim, que seus amigos eram amigos falsos... "Vixe Maria", fez do nada uma confusão terrível na floresta. Do nada ou quase nada, criou-se um verdadeiro rebuliço nas grandes árvores. Os outros pássaros começaram a notar essa diferença do pássaro que não queria voar – perdão novamente – que não sabia voar. Assim, fizeram uma reunião e acharam melhor convidálo para um passeio, uma viagem, uma revoada. Estavam meio tristes por saberem que um pássaro igual a eles não voava. Pensavam: "Que história é essa? Pássaro é pássaro e, sendo pássaro, igual a nós, deve voar". Mas esse pássaro não voava. De tanto se preocupar com a vida dos outros pássaros, esqueceu até de si mesmo. Levava a vida a falar dos outros. Até que um belo dia, os outros pássaros se reuniram e lhe deram um empurrão daqueles. Mas foi um empurrão tão grande e ele bateu asas com tanta força, que foi embora. Fugiu na imensidão do horizonte. Não sabemos onde anda o pássaro que não sabia voar. Ele nunca mais voltou. Ou por medo, ou por insegurança, ou até mesmo por falta de amigos que ele nunca soube cativar. Enfim, sumiu, desapareceu. Não sabemos se o aprender para ele foi bom ou não. Se foi, "puxa vida", legal! Se não foi, "puxa vida", que pena! O que ele irá aprontar em outras terras mais distantes, quem saberá dizer? Heitor Simões

Essa fábula nos fala de um pássaro que tinha medo de voar. Pensando nisso, responda: a) É possível um pássaro ter medo de voar? Comente. b) Qual a relação do pássaro da fábula com a vida das pessoas? Explique. c) As pessoas sentem medos? E você, possui algum medo? d) Que outro final você daria para essa história? e) Faça uma pesquisa em sala de aula ou em outro local e relacione quatro tipos de medo que as pessoas possuem.

DESBRAVADORES DO UNIVERSO No início era o mito. Ele explicava toda a existência, todos os fenômenos naturais, toda a vida social na Grécia. Por volta do século VI a.C. surgem, nas colônias gregas da Ásia Menor, mais especificamente na Jônia – hoje Turquia – alguns homens que se tornaram famosos pelo seu saber. Não estamos a negar uma existência anterior de sábios. Eles existiram, sim. E provavelmente esse jônicos não eram diferentes. Possuíam grande conhecimento teórico e prático, e a

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 1 A Importância da Filosofia no Cotidiano das Pessoas

eles foram atribuídos feitos notáveis como prever eclipses (Tales) ou desenhar mapas da Terra (Anaximandro). Para esses feitos, dependiam de sólido conhecimento em matemática, geografia, astronomia. Conhecimento provavelmente apreendido com os babilônios e egípcios. Mas não eram esses efeitos práticos que os tornavam diferentes dos demais sábios. A originalidade desse grupo aparece quando começam a observar as constantes transformações por que passa a natureza (physis). Buscam uma explicação racional para esses fenômenos naturais, não mais aceitando as respostas obtidas por meio dos mitos e dos deuses. Durante todo o século VI a.C., foi sobre a Caspar David Friedrich, O andarilho sobre a physis que a especulação racional dos gregos foi neblina, 1817-18. Óleo sobre , 94,8 x 74,8 cm Kunsthalle, Hamburg exercida. Vale a pena lembrar que, apesar de em nossa língua a palavra física provir de physis, a realidade que os gregos denominavam por esse nome não corresponde exatamente àquela que é objeto da física atual. Physis vem de phyein (emergir, nascer, crescer, fazer nascer, fazer crescer) e designa tudo o que brota, cresce, surge, vem a ser. Esses homens, chamados de pensadores originários, posteriormente denominados pré-socráticos pela temporalidade, preocupavam-se quase que exclusivamente com os problemas cosmológicos, entendendo cosmos na acepção grega de mundo e introduzindo a palavra cosmologia, que na sua composição se apresenta vinda de duas outras: cosmos, que significa mundo ordenado e organizado, e-logia, oriunda da palavra logos, que significa pensamento ou discurso racional, conhecimento. Portanto, a Filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo, da Natureza. Como estudo do mundo exterior, seus elementos, origens e mudanças contínuas. E, principalmente, como busca na natureza do princípio de todas as coisas, com respostas visíveis e racionais. Ou seja, aquilo que está em todos os seres existentes e em tudo o que os cerca. Que é comum e concreto a todo o existir. Foi este o papel desses homens: ver mais do que aparências. O período pré-socrático, do século VII ao século V a.C., é marcado pelos problemas cosmológicos. Pela forma de encarar e resolver as questões a que se propunham, os filósofos são identificados em quatro escolas de pensamento. A primeira foi a Escola Jônica, representada por Tales, Anaximandro e Anaxímenes. A segunda, a Escola Itálica, por Pitágoras. A terceira, Escola Eleática, pelos pensadores Xenófanes, Parmênides e Zenão de Eleia. E a quarta é chamada de Escola Pluralista, onde encontramos os 22

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade I O Homem Questionador

pensadores Leucipo e Demócrito. Desses filósofos, não nos chegou nenhuma obra completa. O que existe na literatura são fragmentos que foram conservados por Aristóteles, Platão e pelos doxógrafos gregos e latinos – do grego doxa (aparência, opinião, juízo, glória) e grafé (escrito, documento). Portanto, grande parte do que chegou aos nossos dias são interpretações sobre conceitos exarados pelos primeiros filósofos. Os filósofos desse período são denominados pré-socráticos porque viveram, em sua maioria, antes da época de Sócrates, investigaram a origem das coisas e as transformações da natureza. Sócrates parte em caminho contrário a de seus antecessores. Passa do estudo da natureza para o estudo do homem na natureza. Torna-se mais importante saber o que é justo e viver dentro do que é justo. A Filosofia é um saber específico e tem uma história que já dura mais de dois mil e quinhentos anos enquanto pensamento metódico. Aqui iremos apresentar alguns dos homens que a iniciaram, em investigações motivadas pelo espanto perante a natureza. Olga Cristina Hack e Márcio José Andrade da Silva Revista Ciência & Vida Pág(s). 36 e 37 – Ano 1 – No 01

O texto nos revela muitas coisas importantes sobre a História da Filosofia. Responda: a) Segundo o texto, como nasceu a Filosofia? b) Por que os pré-socráticos foram chamados, segundo o texto, de pensadores originários?

Para Debater e Refletir

D. 01 Bénes

Observe a figura e responda:

AINDA POSSO PENSAR! HE! HE! HE! HE! HE!

a) O que você vê? b) Relacione a imagem ao texto verbal e comente em sala o que você entende, abrindo um debate filosófico sobre o tema da mensagem. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 1 A Importância da Filosofia no Cotidiano das Pessoas

D. 02 Há diversas classificações para as ciências. Existem as ciências naturais (Física, Química, Biologia...) e as ciências humanas (Sociologia, Psicologia, Antropologia...). Em todas elas se faz necessária a existência de métodos específicos para se chegar ao conhecimento sistematizado. E manter forma original para estudar Filosofia, é necessário um conhecimento sistematizado? Discuta a sua resposta com os colegas.

D. 03

Ei, Marcos, para que você estuda Filosofia?

Para que, a priori Lalá, p o s s a t e r uma visão do mundo mais clara, para fugir do abstrato e para ter um argumento, hermeneuticamente falando, válido.

Bénes

Observe o diálogo abaixo e responda ao que se pede:

MÃIÊÊÊÊÊÊÊ!! O Marquinho ficou maluco!!

a) Você entendeu o que o personagem Marcos quis dizer? b) Você acredita que a linguagem filosófica é assim? Explique o seu ponto de vista para a turma.

D. 04 Leia, responda ou faça o que se pede: AHHHHHHHH QUE HORROR!!

AHHHHHHHH DÁ É MEDO... AHHHHHHHH

NO MUNDO DAS CAVERNAS O QUE VALE e A LUZ...

POR HEITOR SIMÕES

HUMMM...

HUMMM... HUMMM...

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Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade I O Homem Questionador

QUE BARULHEIRA É ESSA?

NOSSA

HUMMM...

GRUUUU!!

AHHH!!!

EI... SAIAM AÍ DE DENTRO

COM CERTEZA... AQUI É REAL!!

SE A GENTE SAIR, A GENTE VAI FICAR CEGO!!!

TEM GENTE LÁ FORA?!

Bénes

PESSOAL, AQUI FORA É MAIS DIVERTIDO... É MUITO MAIS CLARO

AQUI É BEM MELHOR, PESSOAL

ESSA LUZ TÁ MUITO CLARA... TÁ ME INCOMONDANDO..

TAMBÉM QUERO SAIR!!

a) Apresente ao grupo o que você entendeu da história em quadrinhos. b) Em que situação da nossa vida agimos como nessa história? c) O que existe em comum entre a história em quadrinhos e o texto Phylos, a corujinha que pergunta?

D. 05 Em sua opinião, a Filosofia e a Educação podem ser ferramentas de mudanças na sociedade em que vivemos? Discuta com os colegas.

D. 06 Você já vivenciou alguma prática social em sua escola ou em sua casa? Comente em sala de aula. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 1 A Importância da Filosofia no Cotidiano das Pessoas

D. 07 As notícias que aparecem nos meios de comunicação são sempre verdadeiras? Debata em sala de aula.

D. 08 Como comprovar se uma história que nos contam é verdadeira? Discuta em sala de aula.

Para Analisar e Escrever

A. 01 Como você imagina que surgiu a vida no universo? Justifique.

A. 02 Qual deve ser a atitude de quem procura a verdadeira filosofia? Comente.

A. 03 Explique qual a importância dos pré-socráticos para a filosofia.

A. 04 Em sua opinião, qual a importância do filósofo para o mundo atual? Justifique.

A. 05 A Filosofia só poderia "nascer" da busca pela verdade. Explique essa afirmativa.

A. 06 Comente sobre a importância de Sócrates para a história da Filosofia.

A. 07 É possível compreender o mundo sem pensar? Justifique.

A. 08 Elabore, em equipe, uma proposta de prática social e apresente em sala de aula.

A. 09 Qual a importância do diálogo na relação das pessoas?

A. 10 Explique qual a relação da Filosofia com a História.

A. 11 A História sempre é contada da mesma maneira? Comente.

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Francisco Heitor Simões Gonçalves


Capítulo

Tchesco

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Do Senso Comum à Consciência Crítica

Temos consciência de tudo o que fazemos? Introdução Banco de imagem/shutterstock

Que coruja curiosa! Tudo quer saber! A consciência é algo exclusivo do ser humano, mas esse mesmo ser humano, por vezes, não se dá conta desse instrumento valiosíssimo para o seu conhecimento e norteador de suas ações. Não nascemos sabedores e conhecedores dos mais variados tipos de consciências, mas aos poucos, exercitando a habilidade do conhecer, do buscar e do raciocinar, vamos desvendando os diferentes tipos de consciências que podemos adquirir em nossas vidas. Este capítulo nos levará a conhecer os diferentes tipos de consciência e qual delas está enraizada em cada pessoa. Leia e descubra qual das consciências está enraizada em você. Isso contribuirá para você gostar, cada vez mais, desse universo tão curioso e intrigante que é a Filosofia.

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3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

Nasci num lugar tão bonito Lugar onde as pessoas gostavam de pessoas Lugar onde tudo era mágico Lugar onde os sonhos se realizavam... Lugar onde nada precisávamos fazer Lugar onde só se bastava querer Lugar onde se olhava pro céu Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 2 Do Senso Comum à Consciência Crítica

E, se precisasse Da chuva, Ele iria trazer... Fui crescendo... E o lugar já não era tão mágico... Nem era mais um lugar pra se sonhar Mas o que eu queria... outros queriam Eu achava bonito Andava nos cantos e todos pareciam comigo Era de dar inveja, era de se gabar... Mas o que queria, Ele já não podia me dar... Percebi no meu crescimento Que o que era igual Era só invenção Mudava a cada estação E fui percebendo que isso... Isso eu não queria pra mim... Por isso no meu perceber fui crescendo Fui vivendo, buscando, conhecendo... E o que antes Ele me dava por eu merecer (como diziam) Eu mesmo fui conquistando. Heitor Simões

Com base no texto, responda às seguintes questões: a) Em sua opinião, o personagem do texto tem consciência de suas ações? Explique. b) No texto percebe-se mudanças nas atitudes do personagem. Cite-as. c) Você acredita que todas as pessoas tomam consciência da sua existência? Comente. d) Você já vivenciou algum momento parecido com o do texto? Em caso afirmativo, comente. Em caso negativo. Justifique. e) Que título você daria a esse texto? Justifique.

Para Construir o Conhecimento Filosófico 2.1 A CONSCIÊNCIA E OS TIPOS DE CONSCIÊNCIA Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, consciência é o atributo pelo qual o homem pode conhecer e julgar sua própria realidade e também a Faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados. A consciência deve reger nossos atos e as nossas ações, por isso ela é importante. Quando agimos sem consciência, é como se agíssemos irracionalmente. E o homem difere-se do ani28

mal irracional justamente por essa faculdade de estabelecer julgamentos. A consciência deve estar presente em nós, seres racionais, em nossa vida, em qualquer atitude que façamos ou de que venhamos a participar. O homem deve guiar-se sempre por sua razão e, através dela, ter a capacidade de avaliar-se em qualquer ação que venha a praticar ou exercer. A história mostra-nos um grande salto de qualidade no exercício do pensar humano, ou Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade I O Homem Questionador

seja, o quanto o homem evoluiu no aprender a pensar por si só. E pensando por si só, passou a ser mais autônomo. Isso significa dizer que ele não dependia tanto das outras pessoas para pensar por ele, podendo, assim, caminhar na busca de uma vida mais feliz e verdadeira. Veremos agora os três tipos de consciência que, de uma forma ou de outra, fazem parte da vida das pessoas: A Consciência Mítica As pessoas atribuíam tudo o que acontecia ou acontece em suas vidas aos deuses. Atribuíam todos os acontecimentos não explicados por eles (homens) a divindades. Assim, se trovejasse, era porque os deuses estavam zangados ou magoados com algo que os homens fizeram de errado aqui na terra. A Consciência Ingênua As pessoas agem por influência de outras pessoas. Não pensam por si sós. Necessitam da opinião dos outros para terem a sua própria opinião. A Consciência Crítico-Reflexiva O homem julga os fatos ou acontecimentos através da sua razão, da sua própria análise, não se tornando uma pessoa alienada, muito pelo contrário, tornando-se um ser crítico-reflexivo de tudo o que acontece na sociedade, pois é capaz de julgar os fatos pela sua própria racionalidade. VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questões 09 e 10, página 34. ANALISAR E ESCREVER: Questão 12 a 17, páginas 34 e 35. 2.2 SENSO COMUM, MITOLOGIA E IDEOLOGIA. Senso comum A consciência mítica ou ingênua faz com que o senso comum se torne um conhecimento "verdadeiro". O conhecimento de senso comum tem origem em crenças, hábitos, culturas e preconceitos. Daí o termo "comum", porque muitas

pessoas o tem como sendo algo verdadeiro, sem precisar de confirmação científica para a sua comprovação. As pessoas apenas aceitam, sem precisar questionar a sua veracidade. É por isso que existem pessoas que possuem uma visão "fechada" do mundo em que vivem, transformando situações do dia a dia em mitos ou lendas sem valor crítico. Os ditados são exemplos disso quando chegam até nós com "verdades" do tipo: "Devagar se vai ao longe"; "Quem com ferro fere, com ferro será ferido"; "Filho de peixe, peixinho é"; "Em casa de ferreiro o espeto é de pau". O conhecimento, para ser verdadeiro, não deve se basear somente no conhecimento de senso comum (não crítico), mas no conhecimento científico, no qual a observação e a experiência humana sistematizam caminhos na busca da verdade. A ciência não possuiria um conhecimento com bases sólidas e argumentativas se não adotasse a metodologia científica para desvendar a realidade. Imagine a ciência tomando por base somente o senso comum. Será que poderíamos acreditar nas descobertas científicas? Claro que não! Como podemos ver, guiar-se somente por crenças e hábitos não torna o conhecimento crítico – que tem como base a luz da razão e de uma metodologia específica, experimentada e comprovada. Portanto, é necessário, à ciência, comprovações racionais para se estabelecer e se efetivar o verdadeiro conhecimento, não restando, assim, espaço para explicações somente com base no senso comum. Mitologia A mitologia grega pode ser um exemplo de senso comum quando nos mostra, a todo instante, em sua história, o quanto os deuses interferiam na vida dos homens. E seria isso possível nos dias atuais, deuses interferirem na vida das pessoas? Algumas pessoas acham que sim, outras acham que não. O importante aqui é observarmos o quanto a mitologia, desde o tempo grego, ainda está presente no nosso dia a dia. Da mesma forma que

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 2 Do Senso Comum à Consciência Crítica

o senso comum tem como base as crenças e hábitos, os gregos também possuíam seus conjuntos de lendas e crenças que tomavam a forma "real" para explicar a sua realidade. Ao falarmos de mitologia (estudo dos mitos), podemos trazer à luz dos questionamentos e da razão que os mitos não são de exclusividade grega. Existem outros tipos de mitos, como por exemplo: mitos na música (Elvis, Beatles, Legião Urbana), na política (Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek), na religião (Buda, João Paulo II), no esporte (Pelé, Hortência, Ayrton Senna). O mito tem como finalidade mostrar alguma situação que pode ser fantasiosa, ilustrativa, com ingredientes de "verdade" ou não, cabendo às pessoas acreditarem ou não em sua veracidade.

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 11, página 34. ANALISAR E ESCREVER: Questão 18 a 22, página 35.

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Ideologia Instrumento valioso dessas reflexões sobre senso comum e mitologia é a Ideologia. "A ideologia é um conjunto de ideias ou representações articuladas coerentemente sobre as coisas, capaz de provocar ação. Tem origem nas relações históricas de produção e seu objetivo é justificar a ordem estabelecida." Esse conjunto de ideias (ideologia) muitas vezes serve para manter o poder de pessoas ou grupos sociais na sociedade em que vivem. A ideologia pode "camuflar" uma realidade para que as pessoas acreditem nesta como sendo a verda-

de. Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, dizia que uma mentira dita cem vezes se tornava uma realidade. Esse pensamento mostra o quanto isso foi trabalhado na consolidação do nazismo. Há algum tempo a televisão brasileira exibia uma propaganda de cigarros mostrando as pessoas praticando esportes e depois fumando sob o "slogan" de "sucesso". Hoje sabemos que isso é uma propaganda enganosa, pois nenhum cigarro traz saúde e muito menos sucesso. Mas a imagem passada para as pessoas era de homens e mulheres belíssimas para poder atrair as pessoas, sem muita criticidade, ao consumo do cigarro. Essa é apenas uma de milhares de propagandas enganosas que são oferecidas às pessoas todos os dias nos meios de comunicação. Por isso alguns autores afirmam que a ideologia é uma "dissimulação" da realidade. Portanto, ao buscarmos o verdadeiro conhecimento, agora que estamos aprendendo a filosofar, devemos também ficar atentos quando ouvirmos falar de senso comum, mitologia e ideologia.

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Unidade I O Homem Questionador

Para Saber Mais: Outras Leituras

SENSO COMUM E BOM SENSO Banco de imagem/shutterstock

Quando você joga papel no chão e alguém lhe repreende, você pode responder: "Todo mundo faz assim". Quando, no trânsito, a pessoa atravessa fora da faixa de pedestre e você pergunta: "Por que você atravessa fora da faixa?", a resposta pode ser: "Porque é normal a gente passar fora da faixa de pedestres". Numa discussão sobre política, com os amigos, chegamos a um quase consenso quando afirmamos: "Todos os políticos são corruptos". As expressões acima são afirmações ingênuas e de pouca consistência, pois o senso comum é uma forma simples e simplificada de entender ou interpretar uma realidade. Poderíamos afirmar que é a maneira mais prática de aprender. É o primeiro estágio do conhecimento. “Essas atitudes denominam-se senso comum. Senso comum é o conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto de ideias que nos permite interpretar a realidade, bem como um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e, portanto, agir”1. Se não houvesse o senso comum, estaríamos constantemente reaprendendo as coisas e teríamos pouco progresso. O que não podemos é permanecer nesse primeiro estágio. Quantas pessoas ficam aí? Platão diria que são pessoas que ficam nas cavernas e trocam a realidade pelas sombras. O Bom Senso é a elaboração coerente do saber. Gramshi (1891-1937), um filósofo italiano, afirmou que o "bom senso é núcleo sadio do senso comum". O bom senso se desenvolve se for estimulada a capacidade de compreender, de criticar e de formar juízos sábios, que tenham em vista, sobretudo, a pessoa. THOMAL, Alberto. Senso comum e bom senso. In _______ novo espaço filosófico criativo – Investigação sobre o pensar: Florianópolis. 5a Edição. Editora Sophos. 2006. p. 13.

Com base no texto, responda: a) O que é uma afirmação ingênua? b) Você concorda que a maneira mais fácil de aprender é fazendo uso do senso comum? Justifique sua resposta. 1

ARRUDA, Maria Helena. Filosofando, p. 35.

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Capítulo 2 Do Senso Comum à Consciência Crítica

TIPOS DE CONHECIMENTO Banco de imagem/shutterstock

Há dois tipos de conhecimento: o senso comum e o científico. • O conhecimento do senso comum é espontâneo, não especializado, tirado pela evidência dos nossos sentidos. Ex.: “O sol se pôr” é um tipo de conhecimento de senso comum. Assim nos parece. E foi muito difícil convencer o mundo de que não é o sol que se põe, mas a Terra que gira. Galileu Galilei que o diga. • O conhecimento científico é um tipo de conhecimento muito recente, iniciado no século XVII com Galileu. Podemos perguntar:“Antes não havia conhecimento científico?” Mesmo na mais honesta procura de tirar o homem do senso comum, do mito para ter uma sabedoria, a ciência e a filosofia ainda estavam vinculadas e só vieram a se separar na Idade Moderna. Foi quando a ciência determinou uma forma singular de investigação e um método pelo qual se faz o controle desse conhecimento. Sistematicamente, o homem, com esse conhecimento científico, realizou experiências ou provocou um acontecimento, repetidas vezes, chegando ao mesmo resultado. Ele passou a controlar o conhecimento. O homem, com o conhecimento científico, libertou-se de muitos mitos, preconceitos, superstições... Antes ele dependia da água para tocar as indústrias (máquinas a vapor) e hoje não depende mais. Graças ao conhecimento científico, o homem deixou de ser sedentário, passando a se locomover com rapidez (locomotivas, caminhões, aviões). Com base no texto, responda: a) Você concorda que o senso comum é um tipo de conhecimento? Explique. b) O texto diz que o senso comum é o primeiro estágio do conhecimento. Explique essa afirmação. O QUE AINDA FALTA NO CELULAR? Em quatro dias de outubro, Veja fez essa pergunta a usuários da Internet no Brasil e em outros oito países. Confira as respostas. Os celulares ainda podem incorporar novas funções. Ao menos é essa a opinião de usuários da Internet. Ao longo de quatro dias de outubro, Veja lançou na web a seguinte pergunta por meio do serviço Yajoo! Respostas: “Que nova função você desejaria que os fabricantes incluíssem nos celulares?” Além do Brasil, a consulta foi feita em sete países de língua inglesa e espanhola (Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália, Espanha, Argentina e México), além de Cingapura. Quase 1.000 pessoas responderam. 32

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Ao final da enquete on-line, houve uma votação em cada país para escolher a melhor resposta. Seguem algumas sugestões dos participantes, separadas por país.

Tchesco

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Argentina A videoconferência, com a imagem dos participantes da conversa, foi um dos recursos sugeridos. Outros: GPS para localizar, em caso de perda, aparelho que sirva de base para programação de outros eletrônicos usados em casa, massageador e ducha. Austrália Os australianos elegeram a expansão dos serviços de discagem por voz como tema predileto. Mas fizeram um pedido especial: maior duração das baterias. Brasil As brasileiras querem um espelhinho no A inclusão de um tradutor simultâneo foi uma telefone para retocar o visual. das sugestões. Parte das mulheres pediu um sistema especial de GPS para a localização de namorados e espelhinhos nos aparelhos para eventuais retoques no visual. Canadá Os canadenses querem que o celular também tire a pressão e sirva como monitor cardíaco. E ainda que possa ser usado como scanner de mão e indique a temperatura ambiente. Uma usuária propôs a inclusão de um alarme contra assaltos. Cingapura Em vez de novas funções, as respostas criticaram o funcionamento das funções existentes. Um participante pediu mais espaço para mensagens de texto. Espanha O uso de bateria solar, que dure mais que as atuais, foi uma das sugestões dos espanhóis. Outras: programa para edição de músicas e imagens, aparelhos à prova d'água, com conexão USB, e que funcionem como lanterna. México Um dos ítens votados é típico dos antigos seriados de ficção: um recurso de teletransporte; A sério, sugeriram um sistema único tanto para celular como para linha fixa. Reino Unido As ideias incluíram celulares de pulso e aparelhos com projetores de imagem. Um trecho da resposta mais votada destacava:

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Capítulo 2 Do Senso Comum à Consciência Crítica

“Que tal um alarme que dispare quando a pessoa fica ao telefone e ignora a outra que está com ela no restaurante?” (Revista Veja, página, 36, 2006. Veja Especial de dezembro)

Com base no texto, responda: a) O celular é realmente necessário à vida das pessoas? Por quê? b) Quando alguém usa“algo da moda”significa dizer que eu também devo ter? Comente em sala. c) A tecnologia está realmente a serviço da humanidade? Comente com seus colegas de sala.

Para Debater e Refletir

D. 09 Escreva na lousa os 3 tipos de consciência e, juntamente com os demais colegas, diga em que situação se encaixam os fatos seguintes. a) Usar uma roupa porque alguém pediu que você usasse. b) Acreditar que, se chover no dia de São José, é sinal de que haverá um bom inverno. c) Votar em alguém sabendo o porquê do voto. d) Gritar na rua só porque ouviu alguém gritar. e) Usar brincos e pintar os cabelos só porque alguém apareceu assim na televisão.

D. 10 Procure em revistas ou jornais e apresente, em sala de aula, duas situações que possam mostrar os determinados tipos de consciência: a) Mítica: b) Ingênua: c) Crítico-Reflexiva:

D. 11 Discuta em sala quais os tipos de ideologia que as pessoas usam no dia a dia.

Para Analisar e Escrever

A. 12 O que você entende por consciência?

A. 13 Qual a importância da consciência nas ações das pessoas? Comente.

A. 14 Que tipo de consciência você possui neste momento? 34

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Unidade I O Homem Questionador

A. 15 Para exercermos a nossa consciência, precisamos de quê? Explique.

A. 16 Ser consciente nos ajuda em alguma situação? Exemplifique.

A. 17 Volte ao texto da página 27 e identifique os versos que falam dos tipos de consciência, enumerando-os abaixo: a) Mítica: b) Ingênua: c) Crítica-Reflexiva:

A. 18 Podemos dizer que as ideias que temos são ideologias? Explique.

A. 19 O senso comum mostra a verdade? Comente.

A. 20 Todo mito é uma história fantasiosa? Explique o que você pensa sobre isso.

A. 21 Você pode dar exemplos de ditados que são verdadeiros? Enumere-os.

A. 22 Você saberia dizer o que é uma pessoa alienada? Você conhece alguém assim?

Chegamos ao final da unidade I. Exercite aqui a sua habilidade de pensar, raciocinar e comparar, registrando no seu caderno o que você adquiriu de conhecimento novo.

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Capítulo 2 Do Senso Comum à Consciência Crítica

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SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES •

SÁTIRO, Ângela; WUENSCH, Ana Maria. Pensando melhor. 4a ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

THOMAL, Alberto. O desafio do pensar sobre o pensar: investigação sobre a teoria do conhecimento, 5a série. 10a ed. amp. e ren.. Florianópolis: Sophos, 2006.

VOLK, Dora S. A árvore que aprendeu a ser feliz. Araras, SP: IDE, 2003.

ALMEIDA, Assis. Histórias interessantes 2. 2a ed. Fortaleza: Prêmius, 2003.

LIPMAN, Mattew. O pensar na educação. Tradução Ana Luiza Falcome. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da

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filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

O Homem Bicentenário, 1999, Columbia Pictures.

Matrix, 1999, Warner.

Ana e o Rei, 1999, Fox Film.

Procurando Nemo, 2003, Disney.

O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel 2001, As Duas Torres 2002 e O Retorno do Rei 2003), Warner.

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Amor Além da Vida, 1998, Universal Pictures.

A Vida é Bela, 1997, Imagem Filmes.

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade

II

O Homem Ético O que é ética? O que é moral? Ética é o mesmo que moral? Quem é ético? Como ser ético? Você é ético?

Bénes

• • • • • •

Registre, no seu caderno, o que você já sabe ou ouviu falar sobre ética e moral.


Capítulo

Tchesco

3

A Importância dos Valores, da Moral e da Ética na Vida do Homem Vale a pena ser ético? Vale a pena praticar sempre o bem? Introdução

Você saberia dizer quando uma coisa possui valor? A palavra valor está ligada ou relacionada a quê? Ouvimos coisas do tipo: “Esse "cara" não vale nada”; “O valor do carro é muito alto”; “Essa joia não tem valor”; “Qual o valor da pizza?”. As coisas possuem valor ou nós as valorizamos? Em se tratando do ser humano, do valor do ser humano, como refletir sobre isso, como valorizar suas ações? A ética tem sua origem nas indagações sobre o valor das coisas. A Ética, do grego (ethikós), é uma parte da filosofia que busca refletir sobre o valor do comportamento humano, diferentemente da Psicologia, que estuda somente o comportamento humano. Na Ética, os valores criam condições de vida, orientando o homem para que suas ações sejam moralmente corretas. Uma pessoa ética deve estar sempre consciente de suas ações e estas devem estar voltadas para o bem. Um homem ético é um homem que se preocupa com o bem comum. Este capítulo abrirá caminhos para refletirmos sobre o agir humano. Somos seres justos? Verdadeiros? Racionais? Como nos guiamos em um mundo de valores e “contra-valores”? Como devemos agir na sociedade em que vivemos? Como pensar sempre em relação ao outro? 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

AS PALAVRAS MÁGICAS Aconteceu! Ninguém imaginava.Uma grande reunião de palavras. É ... é isso mesmo, uma reunião com todas as palavras e de todas as línguas. Estavam discutindo o porquê do mundo ter ficado do jeito que estava: triste, solitário, enfim, meio ao contrário. – Ei! Gritou a palavra AMOR. E foi logo dizendo: – o mundo ainda tem a mim, mas o problema é que as pessoas só me pronunciam quando desejam algo em troca. Não falam em mim com o coração. 38

Francisco Heitor Simões Gonçalves


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Unidade II O Homem Ético

– É por isso que eu estou assim tão grande. – falou a palavra DESUNIÃO. O mundo anda desunido por falta não do amor que se diz... mas do amor que se sente. – O mundo está sentindo a minha falta – falou a CRIATIVIDADE – Eu estou desaparecendo porque as pessoas estão esquecendo o valor de um grande amigo meu: o PENSAR. Hoje, as pessoas não pensam como deveriam, e por isso não criam nada novo. Sobrevivem apenas refazendo ou copiando o que já foi feito ou dito. – Então por que vocês não se unem para me fazer melhor? – falou a palavra MUNDO. – Como assim? – disse a palavra UNIÃO. – A União, junto com outras palavras, pode passar a fazer parte da vida e das ações das pessoas. – É... legal... muito bom mesmo! Pode ser que, unidas, nós possamos fazer um mundo melhor. – disse a palavra LOVE, que na Língua Inglesa quer dizer "AMOR". – Então está proclamado que, a partir de agora, algumas palavras irão ao encontro da mente e do coração das pessoas. Principalmente das crianças, pois elas têm um grande poder nas mãos, o poder da transformação! – gritou bem alto a palavra SINCERIDADE. Foi uma alegria geral... E, para ajudar o mundo, foram convocadas algumas palavras mágicas como: Amor, Carinho, União, Obrigado, Com Licença, Por Favor, Desculpa, Paz, Sinceridade, Honestidade, Solidariedade... Assim, com a ajuda das palavras ditas mágicas, o mundo voltou a ser mais feliz. Mas... será que elas são mágicas mesmo? O que você acha? Eu acho que... Heitor Simões

Com base no texto, responda: a) Como poderia ser o mundo ao contrário do que ele é hoje? Comente. b) Imagine alguém do seu grupo usando as palavras mágicas. Que atitudes deveria ter essa pessoa? c) A convivência em grupos é importante? Por quê? d) Que palavras do texto são importantes para você? Justifique.

Para Construir o Conhecimento Filosófico

3.1 ÉTICA E MORAL A ética como estudo do valor do comportamento humano gera, em cada um de nós, atitudes e ações de acordo com as mais variadas situações em nossa vida. Faz-nos refletir como agimos, de que forma agimos e como essas ações ou atitudes influenciam outros seres humanos.

Você já se deu conta da importância da ética em nossa vida? Do quanto é importante sermos honestos, justos e humanos? De que cada ação que praticamos pode interferir e mudar também a ação e a vida de outras pessoas? Por isso é que vimos, na unidade anterior, a importância de agirmos com consciência crítica.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 3 A Importância dos Valores, da Moral e da Ética na Vida do Homem

Pois, quando fazemos algo com o uso dessa consciência, tornamo-nos muito mais responsáveis pelos nosso atos. Claro que nem todas as pessoas pensam da mesma forma nem agem de forma igual. Temos a nossa individualidade, a Salvador Dali, Corpus Hypercubus (Crucificação), 1954 nossa subjetividade, ou seja, cada um tem uma maneira de ser, de agir e de pensar. É como a nossa impressão digital, cada ser humano possui a sua impressão, nenhuma outra é igual a nossa. Que bom seria se todas as pessoas pensassem em fazer o uso dessa razão para praticar o bem. Com certeza, teríamos um mundo bem melhor para vivermos. Mas, ao contrário do que queremos, o que vemos são pessoas que matam para roubar um celular, que agridem outras com palavras, que se sentem felizes em praticar o mal, que furam filas, que são desonestas, atitudes que não justificam a frase: o homem é um ser racional. Hoje, o maior predador de todos os animais é o próprio homem. Ele, mesmo com o uso da razão, desmata, polui, mata, é desonesto, desumano, não solidário, não ético. Daí a importância de sermos éticos e termos consciência dos nossos atos e ações. Vejamos outros pensamentos sobre ética e moral: “A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta”. (VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 7ª edição Ed. Brasiliense, 1993, p.7)

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ÉTICA é“o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do 40

bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”. Alguns diferenciam ética e moral de vários modos: 1. Ética é princípio, moral são aspectos de condutas específicas; 2. Ética é permanente, moral é temporal; 3. Ética é universal, moral é cultural; 4. Ética é regra, moral é conduta de regra; 5. Ética é teoria, moral é prática. “A origem da palavra ética vem do grego ethos, que quer dizer o modo de ser, o caráter. Os romanos traduzem o ethos grego para o latim mos (ou no plural mores), que quer dizer costume, de onde vem a palavra moral. Tanto ethos (caráter) como mos (costume) indicam um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é "adquirido ou conquistado por hábito” (VÁZQUEZ). Portanto, ética e moral, pela própria etimologia, dizem respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem. No nosso dia a dia não fazemos distinção entre ética e moral, usamos as duas palavras como sinônimo. Mas os estudiosos da questão fazem uma distinção entre as duas palavras. Assim, a moral é definida como o conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. A moral é normativa, enquanto a ética é definida como a teoria, o conhecimento ou a ciência do comportamento moral, que busca explicar, compreender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma sociedade. A ética é filosófica e científica. Vários pensadores em diferentes épocas abordaram especificamente assuntos sobre a ÉTICA: Os pré-socráticos, Aristóteles, os Estóicos, os pensadores Cristãos (Patrísticos, Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade II O Homem Ético

©Copyright 2002 – Prof. Vanderlei de Barros Rosas – Professor de Filosofia e Teologia.

Concluindo... Afinal, o que é ética e moral?

A vida não escolhe hora ou lugar para nos apresentar as mais variadas situações. Quem sabe, ao sairmos daqui, não precisemos de ajuda e nos deparemos com alguém que nunca tenhamos visto em nossa frente. Banco de imagem/shutterstock

escolásticos e nominalistas), Kant, Espinoza, Nietzsche, Paul Tillich etc.

Ética são as atitudes e ações manifestadas no comportamento humano, baseadas em princípios e que influenciam outras pessoas. “Moral são princípios, normas e valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social.” VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 12, página 45. ANALISAR E ESCREVER: Questão 23, página 46. 3.2 VIVENCIANDO A ÉTICA E A MORAL

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Cooperação e Caridade

Vocês conhecem a letra da música "Um mais um é sempre mais que dois"? Será isso correto? Afeta a linguagem "exata" da matemática? É... tarefa difícil de entender. Mas, no mundo da solidariedade e da boa vontade, tudo é possível. Você pode, nesse exato instante, imaginar um momento de sua vida em que precisou da ajuda de alguém e esse alguém, mesmo sendo um estranho ou desconhecido, tenha-o ajudado?

Quando falamos de viver a vida como se fosse o nosso último dia, não sabemos ao certo o que poderá acontecer nos próximos minutos, nas próximas horas. Mesmo que tenha sido planejado, todos os nossos planos podem cair por terra por causa do inesperado. Você já passou por isso? Então, cooperar não custa nada. Fazer caridade, menos ainda. Mas, ao realizar ações humanitárias, você entenderá o real valor das palavras cooperação e caridade e transbordará de tanta felicidade.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 13, página 45. ANALISAR E ESCREVER: Questão 24, página 46.

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Capítulo 3 A Importância dos Valores, da Moral e da Ética na Vida do Homem

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Receita para ser feliz

Todos nós buscamos a felicidade. Às vezes não entendemos que a felicidade é feita de momentos... de pequenos momentos... de situações... pois somos seres situacionais e, na verdade, usamos muito pouco a nossa razão, a nossa consciência. Desta forma, é impossível ser feliz a todo instante, mas é possível nos aproximar da felicidade a todo instante, desde que tenhamos consciência de cada momento vivido. Tendo uma vida melhor, seremos mais felizes; sendo mais felizes, cativaremos mais as pessoas; cativando mais as pessoas, estaremos dando um enorme passo na construção de um mundo melhor, aprendendo a ser e a conviver. Para que essa receita possa nos trazer a felicidade, é preciso usarmos as palavras mágicas e termos mais respeito ao ser humano. Respeito sim, pois, sem esse ingrediente básico, a receita para ser feliz jamais funcionará com SABOR. Então, vamos lá: 1. Afastem-se do que é mau (comentários, intrigas, fofocas...). 42

2. Plantem felicidade (respeito, sorriso, alegria, paz, serenidade). 3. Se não há o que de bom falar, não fale nada de ruim. 4. Não ajude a prolongar comentário do que não se sabe ou não se tem certeza. 5. Sempre que possível, agradeça a Deus tudo de bom que lhe aconteceu no dia. Caso não tenha acontecido nada de bom, agradeça pelo menos por estar vivo e com saúde. 6. Sorria sempre que possível. Afinal, a alegria sempre contagia as pessoas. 7. Quando esquecer essa receita, tenha a humildade de ler tudo outra vez, a qualquer hora, a qualquer instante e em qualquer lugar. VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 14, página 45. ANALISAR E ESCREVER: Questão 25, página 46. Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade II O Homem Ético

Honoré Daumier, Charles Philipon, cerca de 1833 Unbaked clay, tinted, 16,4 x 13 x 10,6 cm Museu d'Orsay, Paris

O amigo

O amigo se preocupa com a preocupação do amigo. O amigo se sente feliz com a felicidade do amigo. O amigo fica triste com a tristeza do amigo. O amigo sonha junto com os sonhos do amigo. O amigo por vezes é mais que uma casa torna-se um verdadeiro abrigo. Porque amigo que é amigo está sempre por perto Sempre ouvindo, Dizendo, Falando,

Conduzindo, Dividindo, De coração e peito aberto... Nas alegrias, Tristezas, Conquistas, Realizações, Perdas, Vitórias... Porque amigo também não é só pra dizer sim, Às vezes se irrita com as bobagens do amigo. Tem mão de ferro, Pulso forte quando necessário se faz E quase sempre está certo, Porque amigo que é amigo Nunca foge, está sempre por perto. "MESMO QUE A DISTÂNCIA DIGA NÃO" Porque o verdadeiro amigo é mais que um amigo, Mais que um parente, Um aderente, É um irmão. Heitor Simões

VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 15, página 45. ANALISAR E ESCREVER: Questão 26, página 46.

Para Saber Mais: Outras Leituras

PRONUNCIAMENTO À NAÇÃO, 31/10/2006 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi reeleito com 58 295 042 votos – a segunda maior votação que um governante já obteve na história das democracias ocidentais. Além do formidável respaldo popular conquistado nas urnas, o presidente Lula terá a maioria dos governadores do país ao seu lado e sua base parlamentar será mais ampla do que no primeiro mandato. Com esse vasto leque de apoio, o segundo governo Lula pode ter força política para fazer muito, mas isso não o coloca necessariamente no rumo certo para comandar um país moderno, democrático e com uma economia crescentemente globalizada como o Brasil. A boa notícia é que, logo depois de reeleito, Lula desceu do palanque, despiu-se da retórica eleitoral exibida em seus programas na televisão e mostrou que sabe com clareza o Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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http://www.arikah.net/enciclopedia-portuguese/ Marisa_Let%C3%ADcia_Rocco_Casa

Capítulo 3 A Importância dos Valores, da Moral e da Ética na Vida do Homem

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua esposa Marisa Letícia Lula da Silva

que precisa ser feito para entrar para a história como um presidente modernizador – e não como uma versão adocicada do venezuelano Hugo Chávez. Para ganhar a eleição presidencial em 2002, Lula se viu obrigado a lançar a famosa Carta ao Povo Brasileiro, um documento no qual conseguiu espantar os receios de que um governo petista rasgaria contratos e destruiria os pilares da estabilidade econômica tão arduamente postos de pé pela sociedade brasileira. Na carta, comprometia-se a pagar as dívidas internas e externa, garantia manter as metas do superátiv primário e prometia manter a política de controle da inflação. Desta vez, Lula não precisou lançar carta alguma, mas, mesmo assim, em suas intervenções públicas na semana passada, acabou reafirmando uma série de princípios básicos – que, se forem cumpridos nos moldes apontados pelo presidente, proporcionarão um segundo mandato com chances reais de um avanço para o país. “Continuarei empenhado em que os órgãos de investigação e da Justiça apurem todas as denúncias de corrupção e que os verdadeiros culpados sejam exemplarmente punidos.” O assalto indiscriminado aos cofres públicos foi o lamaçal que manchou o primeiro mandato de Lula. Conter a ousadia dos "companheiros" que erram sempre em benefício do próprio bolso e do partido é o grande desafio de Lula nos próximos quatro anos. O presidente tem feito repetidas promessas de empenho na apuração das denúncias e punição dos culpados, mas pouco existe de resultado concreto. A questão ética não se esgota, no entanto, na apuração de escândalos. Ela exige vários desdobramentos. Um deles é a reforma política – uma prioridade a que Lula tem feito referência, embora de forma genérica. Outro é o Orçamento, cuja elaboração envolve um toma-lá-dá-cá entre o Executivo e os partidos que leva em conta tudo, menos os interesses do país. Um terceiro é a fiscalização dos gastos públicos. Conclui o cientista político Murillo de Aragão: "Se o presidente, fiscalizado pela 44

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade II O Homem Ético

imprensa como ele é, mesmo assim se beneficiou da sua condição de presidente como candidato, imagine o que não acontece na máquina pública nos estados periféricos". Revista Veja, Ed. 1981 – ano 39 – Nº 44 (p: 39-41) – 08/11/06

Com base no texto, responda: a) Você acha que o presidente Lula está fazendo o que prometeu nos palanques e nos debates da TV? Comente sua resposta. b) Aquilo que dizemos é o mesmo que praticamos? Justifique sua resposta

Para Debater e Refletir

D. 12 Se fôssemos todos éticos, a vida das pessoas seria melhor. Considerando essa afirmação, debata em sala com seus colegas.

D. 13 Como você agiria ao perceber: a) uma pessoa com deficiência visual atravessando sozinha uma avenida movimentada? b) um carro, em dia de chuva, passando por cima de uma poça d'água e molhando as pessoas que estão em uma parada de ônibus? c) uma pessoa com livros nas duas mãos, precisando abrir uma porta? d) uma senhora gestante, em pé, dentro de um ônibus? e) um grupo de pessoas arrecadando alimentos para doar a vítimas de uma enchente? f) pessoas nos sinais, limpando vidros dos carros? g) crianças nas ruas, pedindo esmolas?

D. 14 Qual seria sua reação: a) ouvindo uma pessoa falar sobre algo importante que aconteceu? b) ouvindo alguém falar mal de um amigo seu? c) ouvindo alguém falar mal de uma pessoa que você não conhece? d) presenciando pessoas discutirem por intrigas sem fundamento? e) convivendo com pessoas que só desejam o mal para os outros? f) convivendo com pessoas que só criticam outras pessoas? g) convivendo com pessoas que sentem prazer em destruir o que foi construído por outras pessoas? h) ouvindo pessoas que falam mal de "Deus" e lastimam suas próprias vidas?

D. 15 Que atitude você tomaria? a) Se você descobrisse que o(a) seu(sua) namorado(a) tem outro(a) namorada(o)? b) Se uma amizade de 10 anos tivesse chegado ao fim? c) Se seu irmão lhe negasse uma quantia em dinheiro? d) Se o seu melhor amigo dissesse não a um pedido seu? Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 3 A Importância dos Valores, da Moral e da Ética na Vida do Homem

Para Analisar e Escrever

A. 23 Como você explica uma pessoa racional agindo de forma irracional?

A. 24 Sobre o texto Cooperação e Caridade, página 48, responda: a) Qual a sua opinião sobre o texto? Comente. b) Para você, o que significa cooperação? c) E caridade? d) Cooperação e Caridade são as mesmas coisas? Comente. e) Quando um mais um é mais que dois? f) O que significa ajudar? g) Você sabe o que é um planejamento? h) Existe necessidade de se planejar tudo o que se vai fazer? Comente. i) Que situações da sua vida exigiram um planejamento? Cite-as. j) O que você entende por uma "coisa" inesperada? Comente. k) Defina o que você entende por felicidade. l) Você se considera uma pessoa feliz? Justifique.

A. 25 Sobre o texto Receita para Ser Feliz, página 49, responda: a) Qual a sua opinião sobre o texto? b) É possível sermos felizes o tempo todo? Justifique. c) É possível se construir um mundo melhor? Justifique seu pensamento. d) Que coisas fazemos com "sabor", com prazer? Enumere-as. e) Em sua opinião, as palavras "mágicas" podem ser esquecidas com o passar do tempo? Por quê? f) Para você, Deus existe? Justifique. g) Quando é que a alegria pode contagiar alguém ou um grupo? h) Para você, o que é ser humilde?

A. 26 Sobre o texto O amigo, página 43, responda: a) Qual a sua opinião sobre o texto? b) Existem verdadeiros amigos? Justifique. c) Quais dos seus amigos você considera como um irmão? d) A amizade está ligada ao tempo, ou seja, quanto mais tempo, mais amigo se é? Comente. e) Há amigos mais amados que um irmão? Justifique. f) Ser irmão é ter o mesmo laço sanguíneo? Comente. g) É possível que seu irmão possa ser o seu melhor amigo? Explique.

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Francisco Heitor Simões Gonçalves


Capítulo

Tchesco

4

O Uso da Liberdade com Responsabilidade

Liberdade e responsabilidade são a mesma coisa?

http://wpedia.search.goo.ne.jp/search/%A5%D9%A1%BC%A5%EB_(%C9%FE%BE %FE)/detail.html?LINK=1&kind=epedia

Introdução Somos seres realmente livres? Temos consciência do que é ser livre? Será que ser livre é fazer sempre o que queremos? Às vezes, o que para nós é liberdade poderá ser uma "prisão" para outros. Quando pensamos e expressamos algo sem sermos "recriminados" por esses atos, isso é liberdade. As passeatas por melhoria de salários e para denunciar a corrupção no governo, o mal uso do dinheiro público, o descaso dos governantes com o menor abandonado também são exemplos de se pensar e agir com liberdade. Essas manifestações são livres e responsáveis, pois surgem de uma consciência política e cidadã coletiva. A Constituição Brasileira nos garante o direito de ir e vir, tanto no espaço físico, como no espaço socio-cultural. Podemos transitar dentro do território brasileiro, ultrapassar fronteiras, manifestar a nossa fé em qualquer religião, compartilhar nossas ideias políticas etc. Entretanto, há paises em que o direito de ir e vir é limitado.Você conhece algum país em que a liberdade de ir e vir é cerceada? Na cultura mulçumana as mulheres não têm a liberdade de escolher o tipo de indumentária como as mulheres do ocidente têm. As mulheres mulçumanas, em parte, usam uma indumentária obrigatória denominada burga ou burca que cobre todo o corpo, inclusive a cabeça. Essas mulheres são conhecidas como as mulheres sem rosto. Esse costume de parte da cultura islâmica obriga as mulheres a usar a burga, de forma impiedosa e rigorosa. Para a cultura ocidental, esse costume representa a não liberdade. Entretanto, para a cultura mulçumana, essa maneira de se vestir é absolutamente normal. Poderíamos então dizer que a liberdade também pode ser relativa, dependendo do referencial cultural, social e político. Saber o que é liberdade, usar a nossa liberdade com responsabilidade, ter consciência das nossas ações, usar o livre-arbítrio para o bem, ser virtuoso para se buscar a felicidade são temas a serem estudados neste capítulo. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 4 O Uso da Liberdade com Responsabilidade

Para Construir o Conhecimento Filosófico

Segundo Aristóteles, o homem tem na atividade racional, no uso da razão, o ato de pensar. Esse ato de pensar é a essência da natureza humana. Para Aristóteles, a vida do homem seria mais feliz se este homem se guiasse sempre pela razão. Se a razão é inerente ao ser humano, saber usá-la de forma ética, respeitando a si e ao próximo, torna o homem um ser feliz. Portanto, viver somente por viver, sem usar a razão, não leva o homem ao encontro da felicidade. Aristóteles afirmava que o homem, tendo controle da sua racionalidade e se guiando pela sua razão, poderia ser um homem virtuoso. Ser um homem virtuoso, para Aristóteles, é não ser um homem de excessos nem de faltas, mas equilibrado.

Portanto, esse ideal, que é o equilíbrio entre a falta e o excesso, é que nos faz virtuosos e nos levará ao encontro da felicidade. Por isso, Aristóteles conclui que a essência fundamental do homem é a sua razão, a sua racionalidade. VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questões 16 e 17, página 55. ANALISAR E ESCREVER: Questão 27, página 56. 4.2 ÉTICA E VIRTUDE A virtude nos conduz à prática do bem, consequentemente à felicidade. A ética é um instrumento valioso para chegarmos à felicidade , já que a ética preocupa-se com o valor das atitudes do homem. A ética busca, através dos valores humanos, o bem da coletividade, o bem comum. Por isso é que, ao sermos virtuosos, fazendo o uso do bem, caminhamos para a felicidade. Não somente para a minha felicidade, mas para a felicidade de todos, pois quem busca o bem comum não se preocupa somente consigo, mas com toda uma coletividade. Banco de imagem/shutterstock

4.1 VIRTUDE E FELICIDADE

Candido Portinari, Futebol,1935 Pintura a óleo/tela, 97 x 130 cm Coleção Particular

Esse equilíbrio entre falta e excesso levará o homem virtuoso ao bem, à felicidade. Exemplificando: um salário mínimo não nos dá condições de vivermos com qualidade de vida nem de sermos felizes (falta). Ganhar na megassena nos torna ricos, milionários, mas não é preciso ganhar tanto dinheiro para sermos felizes (excesso). Um bom salário com que se possa viver bem e sem dificuldades é o ideal (equilíbrio). 48

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade II O Homem Ético

Muitas pessoas se sentem bem em praticar o bem. Em uma passagem bíblica, Jesus convida as pessoas a amarem ao próximo como a si mesmas. Existirá momento de maior doação que esse? Em outra passagem, diz:“Que a tua Henri Matisse, mão direita não veja Assemblage: Ícaro o que a esquerda oferece”. O que Jesus quis dizer com isso? Será que, quando doamos algo ou praticamos o bem, estamos nos tornando pessoas virtuosas e consequentemente felizes? A ética, ao estudar o valor do comportamento humano, requisita também o estudo

da virtude. Ética e virtude são características essenciais do homem que pratica o bem. O homem não pode ser virtuoso sem ser ético, já que a prática do bem exige uma atitude ética. A prática do mal se sustenta nos vícios e se contrapõe aos valores éticos. O homem, diante de situações da vida, pode praticar o bem ou o mal, usando o seu livre arbítrio. Portanto, toda atitude voltada para o bem da coletividade faz o homem virtuoso e feliz.

VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 18, página 55. ANALISAR E ESCREVER: Questões 28 e 29, página 56.

Para Saber Mais: Outras Leituras

EM DEFESA DA VIRTUDE Claudimar Ferreira Lima

A princípio, deve-se compreender o conceito de justiça de forma localizada, de uma cultura que se plasmou na racionalidade, tendo como berço o espaço helênico. Segundo Heráclito, justiça é conflito e tudo vem a ser de acordo com o conflito. Nesse sentido, entende-se como modos opostos de crenças, discussões, debates e, em situações radicais, até mesmo as guerras. O conflito aqui não tem conotação somente divisória, mas também é Kagaya, Balança integrador da vida social e cultural. Assim, podese compreender o sentido dialético do conflito. Portanto, a justiça é dialética, uma vez que ela está de acordo com o conflito. A justiça é parte integradora da história das sociedades. E esta é a história de um extenso conflito de determinados grupos de conflitos. O que ocorre com as sociedades acontece também com as tradições socioculturais, econômicas e religiosas. A importância da tradição aparece no Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 4 O Uso da Liberdade com Responsabilidade

logus racionalis que se trava como discurso desenvolvido ao longo do tempo, onde os acordos são definidos e delineados segundo as necessidades emergentes das comunidades. Nesse contexto, surgem críticos e inimigos da tradição. Emergem antagonismos e até mesmo há possibilidades de reconhecimento dos pontos de vista diferenciados. Entender a tradição significa identificar aspectos fundamentais, tanto de uma parte quanto de outra dentro de determinada cultura, nos conflitos discursivos dentro do processo histórico que o fizeram ser o que de fato são. É nesse sentido que vamos entender se a natureza da justiça e do raciocínio prático é a continuação da história encontrada na ordem social da cultura ateniense nos séculos V e VI a.C. Somos herdeiros dos conflitos da ordem social e cultural da polis ateniense: recebemos uma variedade de tradições e antagonismos no que se refere à justiça e à racionalidade prática. Nesse sentido das formulações que encontramos acerca das tradições, temos em Tucídides e Aristóteles os fundamentos orais e escritos. Na Ilíada e Odisséia encontramos elementos centrais da oralidade e escrita em Homero. Portanto, os atenienses tinham como referência os escritos de Homero. E nós, que reconhecemos nossas origens no que se refere à justiça e racionalidade prática nos conflitos atenienses, não temos outra alternativa a não ser também começar por ele, Homero. Desde a primeira vez que os poemas homéricos foram traduzidos, aparece a palavra diké sendo traduzida por justiça. Para Homero, o uso da palavra diké pressupunha que o universo tinha uma única ordem que estruturava a natureza e a sociedade. Ser dikaiós, "justo", significa conduzir as próprias ações de acordo com a ordem universal. É essa ordem que Zeus, o pai dos deuses e dos seres humanos, preside. O uso da diké na Ilíada se refere a um julgamento por um juiz, em uma disputa ou em uma reivindicação por um participante em uma disputa. Uma diké é reta se está de acordo com timé (honra). Uma diké está errada se estiver em desacordo. Timé e diké são o modo como a natureza cósmica é pressuposta em grande parte do discurso cotidiano. Portanto, sempre que houver privação da ordem cósmica daquilo que é devido, do desempenho do seu papel, isso significa violar a diké e infringir a timé (honra). Então deve haver uma reparação. O justo se quer honrado, não pode haver nenhuma contradição que desarmonizaria a ordem cósmica a ser seguida. A honra pressupõe estar fazendo algo de maneira correta. Aparece também o termo agathos (bom) e areté (excelência ou virtude). Ser agathos é ser bom naquilo que o próprio papel exige. Portanto, tem areté, pois o virtuoso é cheio de qualidades que lhe permitem ser bom naquilo que faz. Por exemplo, ser guerreiro como Ulisses. Na Ilíada, Nestor fala com o propósito de pôr fim às contendas entre Agamemnon e Aquiles. Ele lembra aos outros o que areté e diké exigem: o virtuoso é bom e por isso é justo. Aquele que fala com a virtude e justiça expressa fronesis (sabedoria). A observação de alguns aspectos que os poemas homéricos nos transmitem se faz necessária.Cada concepção está inserida em um contexto: tanto a diké como o raciocínio prático não podem ser compreendidos isoladamente; independentemente do que o termo justiça aponta, que certamente seja uma virtude e que o raciocínio prático exige, é certo que sejam certas virtudes daqueles que praticam e as exibem. Essa é a história da relação entre justiça e raciocínio prático. O estágio homérico exigiu a articulação e elucidação tanto da diké como do discurso sobre areté, que nos mostra que não houve um único momento homérico, mas momentos homéricos. Os poemas homéricos foram compostos durante um longo período, 50

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade II O Homem Ético

o que mostra não apenas o ponto de vista da Ilíada e Odisseia, mas, sim, os diferentes períodos dentro de cada poema. O importante é entender que o modo e os conceitos homéricos contribuíram para o pensamento e a ação dos séculos V e VI atenienses. Tais conteúdos, como justiça e raciocínio prático, eram captados por meio da oralidade e escritos nas vozes homéricas. Fundamentar o conceito de justiça e raciocínio prático é compreender como se forjaram conceitos importantes como diké, areté e agathos no berço da civilização ocidental. Como herdeiros da cultura ateniense, para compreendermos tais termos, faz-se necessário retornar às informações homéricas, assim como nas obras Ilíada e Odisseia. Assim compreenderemos a imagem de homem plasmada no berço da cultura ateniense dos séculos V e VI a.C. e que até nossos dias influenciam nossa cultura. Texto da revista Ciência & Vida – pp. 59 e 60 Ano I – No 1

Com base no texto, responda: a) Você concorda com o pensamento de Heráclito sobre Justiça? Explique. b) Explique a frase do texto: “A honra pressupõe estar fazendo algo de maneira correta”. LILITO, UM AMOR DE CARACOL Sandra Diniz Costa

Lilito era um caracol, daqueles que moram nos jardins e que são chamados de caramujos. Era um caracol muito bonito. Dava até para rimar... Lilito... bonito. Bonito ele era, mas tinha um problema: talvez por causa do peso da casa nas costas, Lilito fazia tudo devagar... bem devagarinho... Andava devagar... Dormia devagar... Vivia devagar. Bem devagarinho... Ele não sabia pular como grilo, nem voar rápido como a Joaninha. Na hora de brincar de esconde-esconde, até ele contar até dez, todos os bichinhos já estavam cansados de esperar. Demorava demais. Mas o pior mesmo era na escola. Como a sua casa ia junto com ele para todos os lugares, Lilito só não chegava atrasado porque morava bem pertinho, no jardim da escola. Mas o resto... A professora era Dona Aranha, muito inteligente. Tinha curso de especialização de Teias, feito nos Estados Unidos, e mestrado em Armadilhas, na Europa. Além disso, era ótima em Matemática e Português. Uma boa professora. Mas, enquanto os colegas já estavam na multiplicação, Lilito começava a adição... Seus colegas já liam e escreviam, Lilito ainda nem sabia a diferença entre "b" e "d"! Escrevia dola, quando era bola, e bebo quando era dedo! Dona Aranha não podia mais esperar, pois atrasaria a turma. Lilito foi ficando para trás... para trás.... Demorava para ler, demorava para copiar, demorava para entender" O que fazer com o Lilito, um caracol tão devagar quanto bonito? Desesperada, Dona Aranha conversou com a diretora, e Lilito foi mandado para outra sala... ficou junto com as lesmas e as tartarugas... Mas aquela sala era chamada por todos os meninos da escola de "a sala dos pamonhas"! Sala dos pamonhas! Sala dos melecas! Salas dos burros! Essa era a triste fama daquela classe, e nenhuma professora queria trabalhar com eles... Trabalhar com aquela classe dava fama ruim para as professoras". Isso era o que elas pensavam. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 4 O Uso da Liberdade com Responsabilidade

Bénes

Até que um dia, chegou àquela escola uma professora diferente. D-I-F-E-R-E-N-TE? Diferente como? Diferente por quê? Bem.... diferente por várias razões. Primeiro, porque era uma minhoca. E minhoca não tem cara de professora. Diferente, porque trazia no rosto um sorriso do tamanho do mundo. Maior que o mundo: um sorriso do tamanho do coração dela! Ela se chamava Dona Lúcia e era a própria luz de alegria, brilhando naquela escola. E ela acreditava que toda criança pode aprender.É só ensinar do jeito certo. E o difícil é descobrir esse jeito! Dona Lúcia fez questão de dar aulas para a sala dos pamonhas! Quando chegou lá, viu que todos estavam desanimados, com cara de sono, só pensavam na merenda. Eles mesmos não acreditavam que podiam aprender! Sabem o que Dona Lúcia fez? Foi logo contando uma história! Histórias acendem olhinhos no mundo inteiro. E lá também! Os bichos ficaram fascinados, porque ela fazia gestos, imitava vozes, cantava! Que beleza! Ela amava histórias de gente que queria encontrar um tesouro. Ele estava escondido num lugar cheio de armadilhas, mas todos foram tentando, juntos, até conseguirem. Quando terminou a história, Dona Lúcia disse: – E vocês: Gostariam de encontrar um tesouro também? – Mas é claro que nós queremos! Responderam todos. – Pois nós vamos procurar um tesouro: O tesouro é ler e escrever. – Mas nós somos burros, pamonhas! – Nós não conseguimos aprender! – Foi fácil para os heróis da história a busca do tesouro? – Não, foi muito difícil! – E eles desistiram? – Não! Eles continuaram procurando. – E conseguiram, não foi? Pois nós – vocês e eu – vamos conseguir também. Eu garanto a vocês. – Nós vamos conseguir! E começou a batalha: Dona Lúcia foi estudar, foi fazer cursos, foi pesquisar... e descobriu uma verdade maravilhosa: seus alunos não eram pamonhas, eles eram apenas lentos! Aprendiam mais devagar, cada um no seu próprio ritmo! E ela lhes contou o que havia descoberto: – Tudo na natureza tem seu ritmo, isto é, sua maneira de ser... Existem as águias, que voam alto e longe, acima das montanhas... E os caracóis, devagar, na sua vidinha... Quem é mais importante? Pergunte a Deus... e ele vai responder que, para ele, os dois são iguais, recebem o mesmo amor. Têm papéis diferentes na vida, só isso. Existem as árvores enormes, que vivem centenas de anos... e a grama, pequena e macia. As duas são tão lindas! Existem os elefantes e os ratos, as onças e as formigas, as jiboias e as minhocas... Todos no seu ritmo, no seu papel diante da vida!! Por isso, a partir de hoje, nesta sala, ninguém vai se comparar com alunos das outras classes, nem das outras escolas. Cada um vai se comparar consigo mesmo... Cada dia, cada um vai perguntar: 52

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Bénes

– Eu melhorei? Em quê? Estou hoje melhor do que ontem? Isso é que vai ser importante! Se levar mais tempo, não tem importância. Cada um faz seu tempo. Combinado? E assim foi. Levou muito tempo. Mas todos aprendenram. Uns mais depressa, Lilito, é claro, foi o último. Mas todos aprenderam. E nunca esqueceram Dona Lúcia. Os anos se passaram... Lilito foi aprendendo... crescendo... E, quando ficou adulto, sabem que profissão escolheu? Lilito foi ser pesquisador... Ele foi estudar mais sobre educação e sobre o ritmo de cada um. Porque, no relógio da vida, a gente é que faz o tempo. Façam um debate sobre o texto, observando: a) Onde a ética e a virtude aparecem? b) De que forma aparece? c) De alguma forma ajudou alguém? MAIS OU MENOS... Heitor Simões

É necessário entender que Tudo na vida exige um referencial, e, dependendo dele, As nossas ações e atitudes tornam-se para mais ou para menos. Assim sendo, É legal ser pra mais quando: Precisamos de amor De carinho De paz. De tranquilidade De sonhos De vida... Pra menos quando: Existe o egoísmo, A falta de tolerância A falta de humildade A falta de paz A falta de amor. Desta forma, como tudo na vida, Existe o lado bom e o lado ruim... O lado positivo e o lado negativo... Por isso, o necessário é, antes de pensar se para mais ou para menos, Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 4 O Uso da Liberdade com Responsabilidade

Saber se... se é feliz! A felicidade pode ser para mais ou para menos... Depende do referencial, das referências e, principalmente, das pessoas. Assim, Nunca perca o seu referencial. Com base no texto lido, responda: a) As coisas que acontecem em nossas vidas são para mais ou para menos? b) Façam um grupo de no máximo 3 amigos de sala e elaborem situações para mais e situações para menos com que vocês convivem no dia a dia. MINHAS TURMAS TÊM 66 ALUNOS “Adoro o meu trabalho, que faço com perfeição, dedicação e amor, como a professora me inspirou.” Augusta Manuela Kanhanga Francisco, Angola

"Eu ainda era uma criança quando decidi ser professora. E essa decisão se deve muito à minha professora primária. Suas aulas chegavam a me emocionar. Passar aos outros o conhecimento que se tem, com amor, é mesmo algo especial. Até que eu também pudesse me dedicar a essa função foram 18 anos de estudo. Tenho 37 anos e ainda sou aluna. Faço faculdade de ciência da educação, na especialidade de língua portuguesa, a disciplina que leciono. Dou aulas em duas escolas públicas, em Luanda, a capital de meu país. Em uma delas, tenho duas classes de 27 alunos, mas na outra são sete turmas de 66 estudantes! Nenhuma possui biblioteca ou laboratório de ciências e de informática. Minha rotina é pesada. Saio de casa às 7 horas da manhã e volto ao meio-dia para o almoço. Saio novamente às 2 horas da tarde e só volto às 10 da noite. Nas minhas poucas horas de lazer, a leitura me entretém. Leio livros de formação e também de literatura, como os de Jorge Amado – sou coordenadora pedagógica da Casa de Cultura Brasil-Angola e conheço o escritor brasileiro e a história dos quilombos. Também gosto de assitir a filmes e de ir à igreja. Moro em uma casa alugada com mais seis pessoas: três sobrinhas, duas filhas e meu marido, que é engenheiro de telecomunicações. Não temos carro nem computador. O meu rendimento mensal é de 25 mil kwanzas, equivalente a cerca de 300 dólares, parte gasta com serviços de saúde, segurança e educação, que não são oferecidos pelo Estado. Apesar de me considerar mal-remunerada, sinto-me valorizada profissionalmente, já que pais, alunos e colegas de magistério sempre me elogiam. Adoro o meu trabalho, que faço com perfeição, dedicação e amor, como a professora que me inspirou." Nova Escola – Edição 176, outubro de 2004

Com base no texto, responda: a) Qual a relação do texto com o assunto estudado (Ética e Virtude)? b) Tendo como referência a lição de vida observada no texto, como podemos ajudar as pessoas? Dê exemplos. c) Em casa, com seus familiares, relacione em seu caderno situações que em suas vidas foram para mais ou para menos.

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Unidade II O Homem Ético

Para Debater e Refletir

D. 16 Pesquise e leve para a sala de aula desenhos, fotos ou entrevistas que retratem atitudes que você considera éticas. Debata em sala com os colegas e o professor sobre o material pesquisado.

D. 17 É verdade o que está representado na história em quadrinhos abaixo? Em grupo, comente com seus amigos e depois faça um debate sobre o que é valor. Em seguida, apresente um exemplo de algo que possui valor na sua vida.

Quino, Toda Mafalda. São Paulo, Martins Fontes, 1995, pg. 253

D. 18 O que você compreendeu da história em quadrinhos abaixo? Na vida, as coisas são sempre assim? Discuta isso em sala com os seus colegas e o seu professor.

Quino, Toda Mafalda. São Paulo, Martins Fontes, 1995, pg. 120

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 4 O Uso da Liberdade com Responsabilidade

Para Analisar e Escrever

A. 27 Pesquise em livros, dicionários ou internet o que significa: a) Consciência: b) Virtude: c) Liberdade: d) Responsabilidade:

A. 28 Você se considera uma pessoa virtuosa? Se sua resposta for positiva, enumere algumas de suas virtudes. Caso seja uma resposta negativa, enumere situações da sua vida que fazem com que você não seja virtuoso.

A. 29 Escreva no seu caderno as ações que você praticou em um dia (24h). Depois, faça uma análise dessas ações para saber se você agiu de forma mais virtuosa ou menos virtuosa. Chegamos ao final de mais uma unidade. Cremos que agora você está sabendo muito mais coisas. Registre no seu caderno o que você aprendeu de novo.

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SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES • • • •

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ALMEIDA, Assis. As melhores fábulas de Esopo. Fortaleza: Prêmius, 2004. SIMÕES, Heitor. A comunidade. Fortaleza: Conviver, 1999. ___________. As palavras mágicas. Fortaleza: Conviver, 2005. ___________. O pássaro que não sabia voar. Fortaleza: Conviver, 2006. WONSOVICZ, Silvio. Aprendendo a viver juntos: investigação sobre a ética, 7a série. 10. ed. amp. e ren. Florianópolis: Sophos. 2006. Inteligência Artificial, 2001, Warner Bros. Como se Fosse a Primeira Vez, 2004, Columbia Pictures. Mestre das Armas, 2006, Imagem Filmes. A Caminho de El dourado, 2000, DreamWorks. O Planeta do Tesouro, 2002, Walt Disney. O Clube do Imperador, 2002, Universal Pictures. As Férias da Minha Vida, 2006, Paramount Pictures/UIP. Os Vigaristas, 2003, Warner Bros. Conquista de Reis, 2006, Imagem Filmes. Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade

III

O Homem Cultural O que significa conhecer? Todas as pessoas têm algum tipo de conhecimento? É possível conhecermos tudo? Conhecimento e Ciência são coisas parecidas? Podemos dizer que o animal tem conhecimento?

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Registre, no seu caderno, o que você já sabe ou ouviu falar sobre o conhecimento.


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O Homem Sabe que Sabe Tchesco

Capítulo

Por que o conhecimento é tão importante para a vida das pessoas? Introdução Banco de imagem/shutterstock

Conhecimento e linguagem fazem parte do conhecimento humano. Quando se trata de aprender e apreender, de buscar, de investigar e de significar algo ou alguma coisa, o conhecimento e a linguagem aparecem de imediato. A ligação entre conhecimento e linguagem nos possibilita conhecer e compreender o mundo em que vivemos. Quando nascemos, não possuímos nenhuma forma de conhecimento, ou seja, o conhecimento do mundo é exterior a nós. À medida que o indivíduo cresce e se desenvolve, o conhecimento começa a ser apreendido, experimentado, posto em dúvida, fazendo parte do nosso aprendizado. John Locke estava certo ao dizer que nada chega ao intelecto sem antes ter passado pelos sentidos. É pelos sentidos (olfato, paladar, visão, audição e tato) que entramos em contato com o mundo e expressamos esse contato através da linguagem, falando, escrevendo ou registrando o que sentimos. Ao estudarmos o conhecimento, sempre chegamos a uma verdade. Essa verdade nos levará a buscar outras verdades e assim sucessivamente. Isso significa dizer que o conhecimento pode não ser absoluto, e sim relativo. O que sabemos hoje como verdade, amanhã pode não ser. A busca das verdades acontece desde as primeiras especulações filosóficas – oriundas da Grécia, com os pré-socráticos, até o que chamamos hoje de Ciência. Mesmo com todo o avanço tecnológico, as especulações filosóficas persistem ainda na busca de saber qual a nossa verdadeira origem, se é possível chegar ao conhecimento verdadeiro, se o conhecimento é absoluto ou relativo. Maria Lúcia Aranha diz que a história da busca do conhecimento é a própria história da verdade. Neste capítulo, iremos aprender noções sobre o conhecimento humano e suas principais teorias. 58

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Unidade III O Homem Cultural

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3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

O JOÃOZINHO DA MARÉ

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Era uma vez um moleque chamado Joãozinho, que morava na favela da Maré, no Rio de Janeiro. Essa favela de casebres que se equilibram sobre palafitas espetadas no lodo das margens da baía de Guanabara. Do fundo da miséria em que vivia, Joãozinho podia ver, não muito distantes, algumas das conquistas de nossa civilização "em vias de desenvolvimento" (para uma minoria). Dali de sua favela ele podia ver uma das grandes UniversiVista de uma favela de Salvador dades onde, segundo lhe contavam, existiam uns verdadeiros "crânios" e onde se fazia Ciência. Naturalmente essa Ciência nada tinha a ver com os muitos milhões de Joãozinhos que perambulam pelas ruas, caminhos e estradas do Brasil. Além de perambular por toda a cidade, Joãozinho, de sua favela, podia ver o aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Isso oferecia ao menino a oportunidade de ver imensos aviões chegando e saindo. Era o que mais fascinava os olhos do moleque. Aqueles monstros metálicos que subiam rugindo pareciam rachar os céus. Talvez por frequentar pouco a escola, por observar aviões e o mundo que o rodeia, Joãozinho seja um sobrevivente de nosso sistema educacional. Ele ainda não perdera aquela curiosidade de todas as crianças; aquela vontade de saber os "comos" e os "porquês", especialmente em relação às coisas da Natureza. O moleque ainda tinha e sentia aquele gosto de descobrir e de saber, que se vão extinguindo, quase sempre, à medida que se vai frenquentando a escola. Também, não há curiosidade que aguente aquela decoreba sobre corpo humano, por exemplo, e apresentada como CIÊNCIA. Além da chatice da aula sobre "cabeça, tronco e membros", Joãozinho andava meio arisco com sua professora e com as aulas de Ciências. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 5 O Homem Sabe que Sabe

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Conforme "manda o programa", a professora havia ensinado coisas como a Terra, o Sol, Pontos Cardeais etc. Ela havia dito que era importante que eles soubessem os Pontos Cardeais: ...se um dia vocês se perderem na floresta, como escoteiros, vocês podem se orientar pelos Pontos Cardeais, que são quatro: Norte, Sul, Leste e Oeste. Em seguida, a professora ditara o "ponto" com as definições e características de cada um dos pontos, acrescentando: – A gente acha esses pontos fazendo assim: estendem-se bem os dois braços, horizontalmente para o lado. Depois a gente vira o braço direito para o ponto em que o Sol nasce no horizonte. Esse ponto é o ponto Leste. O braço esquerdo estará apontando para o ponto Oeste. Bem em frente fica o ponto Norte e atrás de nós estará o ponto Sul". De assuntos como esse, até que o Joãozinho gostava. Ele morava num barraco sem janelas, ou melhor, com aberturas que só eram tapadas provisoriamente quando chovia. Quando não chovia, todas as "janelas" do barraco permaneciam abertas. Isso fazia com que Joãozinho e os irmãos fossem, todos os dias, acordados com o Sol entrando pelo barraco, iluminando suas caras logo de manhãzinha. Para o nosso herói estava na cara que o Sol, ao longo do ano, vai mudando o lugar em que aparece no horizonte. Joãozinho também já tinha percebido que essa diferença é enorme. Essa grande diferença ainda mais fácil de ser percebida devido às montanhas detrás das quais o Sol parecia sair. Por volta do fim do ano, o Sol aparecia mais para as bandas do Pão de Açúcar. No meio do ano, o Sol nascia mais para as bandas do Dedo de Deus (Serra dos Órgãos). Era uma diferença bem grande (quase 50 graus). A diferença dos pontos em que nasce o Sol, vistos de seu barraco, era evidente e familiar. – Fessora. – Que é, Joãozinho? – Qualé o ponto Leste que a gente devemos usar? – Ponto Leste só tem um, Joãozinho. – A Sinhora num falô qui é o lugar onde o Sol sai? – Falei, e daí, Joãozinho? – É que a gente vemos o Sol nascê sempre em lugar diferente. Se ponto Leste é onde sai o Sol, então ele (ponto Leste) tá mudando, num tá Fessora? – Joãozinho, você está atrapalhando minha aula. Desse jeito não posso dar o meu programa. É assim como já ensinei. Trate de estudar mais e atrapalhar menos. Joãozinho, moleque esperto e observador, ficou meio frustrado com o episódio, mas não lhe deu maior importância. Num outro dia, depois de pensar com seus botões e num papo com seus amigos sobre o assunto, chegou à seguinte conclusão: "... ou o ponto Leste não é o ponto em que o Sol nasce... ou então o ponto Leste não serve pra nada..." Na mesma série de aulas sobre esses temas obrigatórios do programa, a professora havia "ensinado" outro assunto: os dias e as noites (fusos horários). – Meio-dia é quando o sol passa a pino. – Fessora, quié sol a pino? – É quando o Sol passa bem em cima das nossas cabeças. É quando a sombra da gente fica embaixo dos nossos próprios pés. 60

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade III O Homem Cultural

Joãozinho achara interessante o assunto. Até lhe ocorrera a ideia de acertar o relógio quando o sol passasse a pino. Ao sair da sala, no fim da aula, como já era quase meio-dia, valia a pena observar o que a professora acabara de "ensinar". Joãozinho e os amigos se postaram ao sol para vê-lo passar a pino, mesmo com a escola já fechada e abandonada por quase todos. A sombra ainda estava grande. Também, ainda não era meio-dia. Era preciso esperar a sombra encurtar. Chega meio-dia. Os guris conferem com os relógios das pessoas que passam. Já era meio-dia. A sombra ainda estava grande. A turma percebe que, em lugar de encurtar a sombra começa a aumentar de comprimento e mudar de direção... No dia seguinte, Joãozinho e seus amigos resolvem acompanhar a sombra desde cedo para não perder o momento em que ela deveria passar por baixo de seus pés. Era preciso faltar à aula. Sempre um dos amigos ficaria de plantão para não perder o momento do sol a pino. Eles haviam combinado observar também a sombra de um grande poste próximo à favela. ... as sombras não deixaram de existir...? ... então o Sol não passou a pino...? (... e isso...? ... em pelo Rio de Janeiro...?) Depois de vários dias de tentativas frustradas de ver o Sol a pino ou, o que é a mesma coisa, ver as sombras desaparecerem sob os próprios pés, os guris desistem. Alguns dias depois, Joãozinho e seus amigos voltam à escola. Desta vez não era por causa da merenda. Eles haviam ficado intrigados com o caso do Sol a pino ou sem pino. – Fessora. – Que é, Joãozinho? – A gente não conseguimos ver o sol a pino não. – Vai ver vocês não olharam bem. – Fessora, mostra pra gente esse negócio. A gente queria vê. – Eu não tenho tempo pra isso, meninos. Tenho que sair correndo pra dar outra aula na escola de Irajá. E tem outra coisa. Faz 15 anos que eu dou essa aula e nunca ninguém me amolou tanto quanto você e seus amigos, Joãozinho. – Num tem nada não, Fessora, a gente só queríamos intendê. ................... Alguns meses depois. Já se aproximava o fim do ano. Eram as últimas aulas. Joãozinho e seus amigos já haviam esquecido o episódio do Sol a pino. A aula terminara. Faltava pouco para o meiodia. Os garotos saem e, de repente, Joãozinho, que dera uma topada, numa pedra, olha para os pés... – Ei, turma, vem vê! – A sombra tá quase sumindo embaixo da gente! – O Sol tá quase a pino! – Vamo esperá mais um pouco! – Vamo vê o Sol a pino! Dentro de mais alguns instantes, os moleques irrompem num grito de entusiasmo. A sombra desaparecera. O Sol estava bem a pino, no meio do céu. Todos olharam pressurosos para o relógio da professora, que também acorrera... ... não era meio-dia... que decepção. Num outro dia, sabendo por seus colegas que haveria merenda, quase único atrativo da escola para o menino, ele resolve ir à aula. Nesse dia sua professora iria dar uma aula de Ciências, coisa de que o menino ainda gostava. Ela então se dispunha a falar sobre coisas como o Sol, a Terra, seus movimento e as Estações. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 5 O Homem Sabe que Sabe

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A aula começa com as definições ditadas para "ponto". – O VERÃO é o tempo do... calor. – O INVERNO é o tempo do... frio. – A PRIMAVERA é o tempo das... flores. – O OUTONO é o tempo das... frutas. Em sua favela, no Rio de Janeiro, Joãozinho conhece duas estações: época de calor e época de mais calor ainda; um verdadeiro sufoco de calor, às vezes. Graças a isso, o moleque sobrevivia com uns trapos que um dia devem ter sido de algum garoto da zona Sul. Flores, Joãozinho via durante todo o ano em cortejos fúnebres e casamentos. E não havia mais enterros em determinada época do ano. Casamentos havia mais em maio, mês das rosas (?), mês das noivas (?). Joãozinho também ajudava no mísero orçamento de sua família de mais seis irmãos e a mãe. Ele ajudava seu irmão mais velho a vender frutas na zona Sul da cidade: figos de Valinhos, uvas de Jundiaí, mangas do Rio, cajus e abacaxis do Nordeste, Felizmente esse negócio era maior depois do fim de suas aulas até o Carnaval. Então outono deve ser nessa época...? Joãozinho, observador e curioso, queria saber por que acontecem essas coisas. Por que existem VERÃO, INVERNO etc? – Eu já disse a vocês, numa aula anterior, que a Terra é uma grande bola solta no espaço e que essa bola está rodando sobre si mesma. É sua rotação que provoca os dias e as noites. Acontece que, enquanto a Terra está girando, ela também está fazendo uma grande volta ao redor do Sol. Essa volta se faz em um ano. O caminho é uma órbita alongada chamada elipse. Além dessa curva ser assim achatada ou alongada, o Sol não está no centro. Isso quer dizer que em seu movimento a Terra às vezes passa perto, às vezes passa longe do Sol. – Quando passa mais perto do Sol é mais quente: É VERÃO. – Quando passa mais longe do Sol recebe menos calor: É INVERNO. Os olhos do Joãozinho brilhavam de curiosidade diante de um assunto novo e tão interessante. – Fessora, a senhora não disse antes que a Terra é uma bola e que tá girando enquanto faz a volta em torno do Sol? – Sim, eu disse, responde a professora com segurança. – Mas, se a Terra é uma bola e está girando todo dia perto do Sol, não deve ser verão em toda a Terra? – É, Joãozinho, é isso mesmo. – Então é mesmo verão em todo lugar e inverno em todo lugar, ao mesmo tempo, Fessora? – Acho que é, Joãozinho, mas vamos mudar de assunto. A essa altura a professora já não se sentia tão segura do que havia dito. A insistência, natural para o Joãozinho, já começava a provocar uma certa insegurança na professora. – Mas, Fessora, insiste o garoto, enquanto a gente está ensaiando a escola de samba, na época do Natal, a gente sente o maior calor, não é mesmo? 62

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Unidade III O Homem Cultural

– É mesmo, Joãozinho. – Então nesse tempo é verão aqui, Fessora? – É, Joãozinho. – E o Papai Noel no meio da neve com roupa de frio e botas. A gente vê nas vitrinas até as árvores de Natal com algodão. Não é para imitar neve (a 40ºC no Rio), Fessora? – É, Joãozinho, na terra do Papai Noel faz frio. – Então na terra do Papai Noel, no Natal, faz frio, Fessora? – Faz, Joãozinho. – Mas então tem frio e calor ao mesmo tempo? Quer dizer que existe verão e inverno ao mesmo tempo? – É, Joãozinho, mas vamos mudar de assunto. Você já está atrapalhando a aula e eu tenho um programa a cumprir. Mas Joãozinho ainda não havia sido "domado" pela escola. Ele ainda não havia perdido o hábito e a iniciativa de fazer perguntas e querer entender as coisas. Por isso, apesar do jeito visivelmente contrariado da professora, ele insiste. – Fessora, como é que pode ser verão e inverno ao mesmo tempo em lugares diferentes, se a Terra, que é uma bola, deve estar perto ou longe do Sol? Uma das duas coisas não tá errada? – Como você se atreve, Joãozinho, a dizer que a professora está errada? Quem andou pondo essas ideias em sua cabeça? – Ninguém não, Fessora. Eu só tava pensando. Se tem verão e inverno ao mesmo tempo, então isso não pode acontecer porque a Terra tá perto ou tá longe do Sol. Não é mesmo, Fessora? A professora, já irritada com a insistência atrevida do menino, assume uma postura de autoridade científica e pontifica: Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 5 O Homem Sabe que Sabe

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– Está nos livros que a Terra descreve uma curva, que se chama elipse, ao redor do Sol, que este ocupa um dos focos e portanto ela se aproxima e se afasta do Sol. Logo, deve ser por isso que existe verão e inverno. Sem se dar conta da irritação da professora, nosso Joãozinho lembra-se da sua experiência diária e acrescenta: – Fessora, a melhor coisa que a gente tem aqui na favela é poder ver avião o dia inteiro. – E daí, Joãozinho? O que isso tem a ver com o verão e o inverno? – Sabe, Fessora, eu achei que tem. A gente sabe que um avião tá chegando perto quando ele vai ficando maior. Quando ele vai ficando pequeno é porque ele tá ficando mais longe. – E o que isso tem a ver com a órbita da Terra, Joãozinho? – É que eu achei que se a Terra chegasse mais perto do Sol, a gente devia ver ele maior. Quando a Terra tivesse mais longe do Sol, ele devia aparecê menor. Não é, Fessora? – E daí, menino? – A gente vê o Sol sempre do mesmo tamanho. Isso não quer dizer que ele tá sempre na mesma distância? Então verão e inverno não pode sê por causa da distância. – Como você se atreve a contradizer sua professora? Quem anda pondo essas "minhocas" na sua cabeça? Faz 15 anos que eu sou professora. É a primeira vez que alguém quer mostrar que a professora está errada. A essa altura, já a classe se havia tumultuado. Um grupo de outros garotos já havia percebido a lógica arrasadora do que o Joãozinho dissera. Alguns continuaram indiferentes. A maioria achou mais prudente ficar do lado da "autoridade". Outros aproveitaram a confusão para aumentála. A professora havia perdido o controle da classe e já não conseguia reprimir a bagunça nem com ameaças de castigo e de dar "zero" para os mais rebeldes. Em meio àquela confusão, tocou o sinal para o fim da aula, "salvando" a professora de um caos maior. Não houve aparentemente nenhuma definição de vencedores e vencidos nesse confronto. Indo para casa, a professora ainda agitada e contrariada se lembrava do Joãozinho que lhe estragara a aula e também o dia. Além de Joãozinho, com seus argumentos ingênuos, mas lógicos, despertar muitos para o seu lado. – Imagine se a moda pega, pensa a professora. O pior é que não me ocorreu qualquer argumento que pudesse "enfrentar" o questionamento do garoto. Mas foi assim que me ensinaram. É assim mesmo que eu também ensino, pensa a professora. Faz tantos anos que dou essa aula, sobre esse mesmo assunto..." À noite, já mais calma, ela pensa com seus botões: – Os argumentos do Joãozinho foram tão claros e ingênuos. Se o inverno e o verão fossem provocados pelo maior ou menor afastamento da Terra em relação ao Sol, deveria 64

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade III O Homem Cultural

CANIATO, Rodolpho. Ato de fé ou conquista do conhecimento. Publicado no boletim da Sociedade Astronômica Brasileira, ano 6, nº 2 abril/junho de 1983. página 31 a 37. Disponível em: www.dm.ufscar.br

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ser inverno ou verão em toda a Terra. Eu sempre soube que enquanto é inverno em um hemisfério, é verão no outro. Então tem mesmo razão o Joãozinho. Não pode ser essa a causa de calor ou frio na Terra. Também é absolutamente claro e lógico que, se a Terra se aproxima e se afasta do Sol, este deveria mudar de tamanho aparente. Deveria ser maior quando mais próximo e menor quando mais distante. – Como eu não havia pensado nisso antes? Como posso eu estar durante tantos anos 'ensinando' uma coisa? Como nunca me ocorreu, sequer, alguma dúvida sobre isso? Como posso eu estar durante tantos anos 'ensinando' uma coisa que eu julgava Ciências e que, de repente, pôde ser totalmente demolida pelo raciocínio ingênuo de um garoto, sem nenhum outro conhecimento científico?" Remoendo essas ideias, a professora se põe a pensar em outras tantas coisas que poderiam ser tão falsas e inconsistentes como as "causas" para o verão e o inverno. "Por que tantas outras crianças aceitam sem resistência o que eu disse? Por que apenas o Joãozinho resistiu e não 'engoliu' o que eu disse? No caso do verão e do inverno, a inconsistência foi facilmente verificada. Era só pensar. Se 'engolimos' coisas tão evidentemente erradas, como devemos estar 'engolindo' outras mais erradas, mais sérias e menos evidentes! Podemos estar tão habituados a repetir as mesmas coisas que já nem nos damos conta de que muitas delas podem ser simples ‘atos de fé’ ou crendices que nós passamos adiante como verdades científicas ou históricas”. – E eu que ia me ofendendo com a atitude lógica e ingenuamente destemida do Joãozinho, pensa a professora. Talvez a maioria dos alunos já esteja "domada" pela escola. Sem perceber, a professora pode estar fazendo exatamente o contrário do que ela pensa ou deseja fazer. Talvez o papel da escola tenha muito a ver com a nossa passividade e com os problemas do mundo que nos rodeia. Não terá isso a ver também com outros problemas do nosso dia a dia? Todas as crianças têm uma natural curiosidade para saber os “comos” e os “porquês” das coisas, especialmente da natureza. À medida que a escola vai “ensinando”, o gosto e a curiosidade vão se extinguindo, chegando frequentemente à aversão. Quantas vezes nossas escolas, não só a do Joãozinho, pensam estar tratando da Ciência por falar em coisas como átomos, órbitas, núcleos, elétrons etc... Não são palavras difíceis que conferem à nossa fala o caráter ou o "status" de coisa científica. Podemos falar das coisas mais rebuscadas e complicadas e, sem querer, estamos impingindo, a nossos alunos, grosseiros “atos de fé”, que não são mais que uma crendice, como tantas outras. Não é à toa que se diz da escola (ou “excola”?): um lugar onde as cabecinhas entram “redondinhas”, e saem todas“quadradinhas”.

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Capítulo 5 O Homem Sabe que Sabe

Com base no texto, responda: a) Em sua opinião, Joãozinho "atrapalhava" as aulas de Ciências? Explique. b) Nas escolas, existem muitos "Joãozinhos" iguais a este? Comente. c) Transcreva do texto os pensamentos de Joãozinho se contrapondo às verdades afirmadas pela professora. d) Você concorda com a postura dessa professora? Por quê? e) Apresente uma síntese da mensagem do texto. f) Considerando o texto, que lição podemos tirar para as nossas vidas? Cite-a.

Para Construir o Conhecimento Filosófico

O conhecimento se dá desde o aparecimento do homem enquanto ser pensante. Para o homem conhecer é necessário que ele possua consciência do seu próprio pensar. Só se pode conhecer algo, conhecendo primeiro a si mesmo e tendo consciência da realidade em que vive. O conhecimento acontece devido à relação existente entre sujeito e objeto. Sujeito é o ser que conhece ou quer conhecer. Objeto é o ser que será conhecido. Portanto, só pode existir o conhecimento se existir imprescindivelmente o sujeito e o objeto. Sem o ser pensante não há possibilidade alguma de se conhecer algo. O mundo pode ser o objeto a ser conhecido pelo homem, como também, o próprio homem pode ser objeto do conhecimento, já que ele faz parte desse mundo.Tudo depende de um referencial. A existência dessa relação (homem e mundo; sujeito e objeto) faz o conhecimento, adquirido pelo homem, ser questionado. Como todo conhecimento depende do referencial analisado, podemos dizer que o conhecimento tanto pode ser absoluto quanto relativo. Essa relatividade do conhecimento nos é evidenciada no decorrer da história da Humanidade. Muitas teorias formuladas em uma determinada época, tidas como verdades absolutas e inquestionáveis, já “caíram por terra”, como por exemplo: a teoria de que o Sol girava 66

em torno da Terra; teoria de que o átomo era uma partícula indivisível; e tantas outras teorias tidas como verdades absolutas que o tempo e o estudo constante – em busca de verdades – fizeram com que fossem melhor esclarecidas. Banco de imagem/shutterstock

5.1 O CONHECIMENTO

A busca pelo conhecimento verdadeiro e a necessidade de conhecê-lo de forma integral, fez surgir duas correntes muito importantes na história da Filosofia: o Ceticismo e o Dogmatismo. Neste capítulo, não iremos estudar os pensadores dessas correntes, mas evidenciar que o Ceticismo é uma corrente do conhecimento que acredita que o homem não é capaz de chegar à verdade. Enquanto o Dogmatismo acredita que o homem pode chegar ao conhecimento da verdade. Francisco Heitor Simões Gonçalves


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O importante agora, nos caminhos da Filosofia, é percebermos que o homem, de forma racional, pode buscar o conhecimento verdadeiro. A seguir, apresentaremos de forma resumida as teorias do conhecimento que mostram as investigações do homem para conhecer a verdade e de como ela acontece. 5.2 AS TEORIAS DO CONHECIMENTO

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O Conhecimento na Antiguidade

Na antiga Grécia, os primeiros "pensadores", chamados de pré-socráticos, não tinham a pretensão de buscar o conhecimento como verdade absoluta, preocupando-se tão-somente com respostas imediatas e relacionadas aos problemas da natureza. As suas indagações sobre a origem do mundo, sobre as primeiras causas e os primeiros princípios da natureza e da vida não tinham como pretensão chegar à verdade, mas apenas buscar respostas para as suas dúvidas existenciais: De onde viemos? Como surgimos? Para onde vamos? Quem somos nós? Surge, após esses questionamentos existenciais, a figura de Sócrates. Sócrates, como filósofo, desempenhou um papel fundamental na busca pelo verdadeiro conhecimento, o qual se acreditava, estar centrado no homem. Sócrates estabelece no diálogo a manifestação filosófica na busca pela verdade. Cria o método socrático que induz as pessoas a refletirem sobre os seus próprios conhecimentos. Esse

método se divide em duas fases: a Ironia, em que Sócrates faz perguntas às pessoas até elas“descobrirem” ou admitirem a sua própria ignorância. E depois a Maiêutica (que significa“dar à luz”), em que as pessoas, depois de admitirem a sua ignorância sobre determinado assunto, buscam, com base na razão, argumentos sólidos e verdadeiros para justificar o que afirmavam antes. Platão, discípulo de Sócrates, também na busca pelo conhecimento verdadeiro, com o objetivo de compreender a verdadeira realidade, trouxe para o debate filosófico o que ele chamava de mundo das ideias. Esse mundo das ideias seria para ele o mundo das verdades. Platão fez surgir, também, a ideia do mundo sensível, que é o mundo em que vivemos (mundo das aparências), onde as coisas podem existir hoje e não mais amanhã. E trouxe também a ideia do mundo inteligível, que é o mundo verdadeiro, onde as coisas não mudam; onde existe a essência de tudo: da verdadeira justiça; do verdadeiro bem; da verdadeira política; do verdadeiro conhecimento. Aristóteles diverge do pensamento platônico, pois concebe na observação e na experiência o caminho para se chegar à verdade. Para Aristóteles, o conhecimento vai sendo formado e enriquecido pelo acúmulo de informações trazidas por todos os graus de conhecimento, de modo que, em lugar de uma ruptura entre conhecimento sensível e intelectual, há uma continuidade entre esses dois conhecimentos. Aristóteles acreditava não que o homem, para conhecer, precisasse abandonar um conhecimento para buscar outro, mas que, no somatório desses conhecimentos, este mesmo homem se enriquecia de sabedoria. Para Aristóteles, a observação do que é real nos mostra uma grande variedade de indivíduos, cada um com a sua forma de pensar. Partindo somente da observação individual, não se pode ter um conhecimento geral, universal. Assim, esse conhecimento individual não pode ser objeto da

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Capítulo 5 O Homem Sabe que Sabe

Ciência, pois a Ciência é muito mais abrangente. No entanto, é preciso partir desse conhecimento individual, de senso comum, para se chegar a conclusões científicas e universais.

http://traumwerk.stanford.edu/philolog/Justinian2.jpg

O Conhecimento Medieval Muitos livros trazem a Idade Média como a “Idade das Trevas". Assim a denominam por acreditarem que o conhecimento ficou estagnado nesse período. No entanto, sabemos que o conhecimento continuou a ser desvendado e "desbravado" por pensadores da Igreja. Mesmo dentro dos mosteiros, a Filosofia Clássica (grega) ainda era lida. Também houve o surgimento de várias escolas e universidades.

A História registrou o aparecimento de dois movimentos muito importantes para a compreensão do pensamento filosófico medieval: A Patrística e a Escolástica. A igreja, com o pensamento teocêntrico (Deus como o centro de tudo), guiava-se na fé para justificar a razão de tudo, inclusive o próprio co68

nhecimento. As verdades filosóficas jamais poderiam contrariar as“verdades da fé”. Na tentativa de conciliar fé e razão, surgiu a Patrística e a Escolástica. O pensamento dos filósofos gregos continuou a ser estudado pelos padres, dentro dos mosteiros, juntamente com os escritos sobre as revelações cristãs, originando assim o termo Patrística. Santo Agostinho foi o expoente dessa corrente. Dizia que era necessário compreender para crer, e crer para compreender. Ao ler Platão, chegou à conclusão de que as teorias das ideias do filósofo grego nada mais eram que a tentativa de explicar o céu cristão. Para ele, esse mundo das ideias de Platão era o mundo perfeito, a representação do céu cristão. E o mundo sensível de Platão seria o mundo real, o mundo das imperfeições, dos erros e dos pecados. O termo Escolástica surgiu em função de várias escolas terem sido fundadas por Carlos Magno no século VIII. Refere-se também ao "conjunto de doutrinas teológico-filosóficas da Idade Média, caracterizadas, sobretudo, pelo problema da relação entre fé e razão". A corrente Escolástica fez com que a cultura greco-romana voltasse a ser discutida e estudada nas universidades existentes na época. Seu expoente foi São Tomás de Aquino que, com a difusão do aristotelismo, passou a explicar e dar continuidade na tentativa de conciliar fé e razão, “cristianizando” o pensamento do filósofo grego Aristóteles ao pensamento cristão. Por isso se diz que Tomás de Aquino cristianizou Aristóteles. Através de um pensamento aristotélico que afirmava existir uma força motora em torno da qual tudo se movia e que não precisava de nada para ser movida, Tomás de Aquino tentou provar a existência de Deus, comparando esse pensamento com as revelações cristãs (Deus é o criador do mundo e de tudo o que nele habita). Tomás de Aquino entendeu que esse primeiro motor, o qual se referia Aristóteles, era o Deus cristão, criador do mundo e de todas as coisas. É o Ser que move, mas não precisa de nada para ser movido. Francisco Heitor Simões Gonçalves


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O pensamento medieval guiou-se pela tentativa de conciliar fé e razão: o conhecimento, para ser aceito como verdadeiro, não estava no homem, mas nas revelações dadas a esse homem por Deus. O Conhecimento na Idade Moderna A Revolução Científica e o Renascimento trouxeram grandes mudanças para o pensamento da Humanidade. Saímos de uma visão teocêntrica, em que Deus era o centro do universo e das preocupações terrenas, e partimos para um retorno ao antropocentrismo, o homem como ser da razão e sujeito de seus atos. Surgem assim duas tentativas de se chegar ao conhecimento verdadeiro com base no homem, na razão, e não nas "verdades" reveladas pelo pensamento cristão. Surge o Racionalismo e o Empirismo.

Quem melhor representou o racionalismo foi René Descartes. Ao buscar o conhecimento verdadeiro, René Descartes pôs em dúvida todos os conhecimentos existentes. E, partindo da dúvida, analisou os aspectos sensoriais, os sentidos, e viu que esses são falhos. Ao fazer análise do que era conhecido por ele, chegou à confirmação de que o pensar existe, é verdadeiro. Por isso concluiu: “Penso, logo existo!” Esse pensar tornou-se para ele, Descartes, uma verdade absoluta, um conhecimento verdadeiro. E passou a ser esse pensar o primeiro passo para se chegar à verdade. A Matemática, por dar explicações verdadeiras e racionais, passou a ter um grande valor em seus estudos, pois, segundo ele, possibilitava a compreensão da realidade, consequentemente, um conhecimento verdadeiro.

Frans Hals, René Descartes, cerca de 1649 Óleo sobre tela, 19 x 14 cm Statens Museum for Kunst, Copenhagen

Leonardo da Vinci, Estudos das pernas do homem e do cavalo, 1506-07 Caneta, tinta, giz vermelho em um papel vermelho preparado. 285 x 205 mm Royal Library, Windsor

Ao contrário do pensamento racionalista de Descartes, surge o Empirismo, corrente que valoriza a experiência para se chegar ao conhecimento verdadeiro, tendo como seu expoente John Locke.

Tanto o Racionalismo como o Empirismo buscavam um método para explicar de forma racional o verdadeiro conhecimento. É preciso se chegar à verdade ou às verdades, mas não uma verdade revelada por Deus, e sim uma verdade vivenciada pela razão humana. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

Godfrey Kneller, John Locke

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Capítulo 5 O Homem Sabe que Sabe

deiro conhecimento. Partimos para um mundo individual não coletivo.

O Conhecimento Contemporâneo Não poderíamos falar do pensamento contemporâneo sem lembrar o filósofo Kant. Mesmo que as suas ideias não sejam alvo de debates filosóficos nos dias de hoje, Kant se preocupou muito com a questão do conhecimento. A Idade Contemporânea era o momento de entender de forma clara, objetiva e racional a razão. Kant buscou compreender e explicar essa razão através de sua obra A crítica da Razão Pura. Nessa obra, distinguiu duas formas de se chegar ao conhecimento: o conhecimento empírico, que chega até nós pelos sentidos, e o conhecimento puro, que não depende dos sentidos, mas vem antes de qualquer experiência. Não vamos aqui fazer um estudo à crítica da razão pura, mesmo porque o conhecimento contemporâneo se baseia na existência. Porém, esse momento de criticar a razão é de fundamental importância para ver que rumo a razão estudada pelos filósofos antigos tomou no decorrer da história da Humanidade. No século XX, surgiu o movimento pósmodernista, que faz uma crítica à razão, considerada uma forma de repressão e não mais de liberdade. Somos seres ditos racionais, mas não fazemos o bom uso da razão nem a usamos como uma forma de buscar o verda-

Nesse cenário, surge Habermas, filósofo alemão difundindo a ideia de que o homem, no mundo contemporâneo, deveria fugir do irracionalismo e se conduzir pela verdadeira razão. Segundo ele, o irracionalismo leva as pessoas a não buscar a verdade e, consequentemente, ao conformismo. Vimos que, no decorrer da história da Humanidade, os homens buscaram e sempre buscarão o conhecimento. Muitos conhecimentos trouxeram avanços para a vida dos homens e para as sociedades em que viveram. Conhecimentos por vezes absolutos, por vezes relativos, mas sempre trazendo o homem como um ser capaz de conhecer. Enfim, a busca por verdades é a busca por compreender a própria razão humana.

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Para Locke, as ideias surgem da experiência e não somente do ato de pensar. Acreditava ele que o homem nasce como uma "tábula rasa" e, à medida que cresce, vai registrando os acontecimentos na mente. Logicamente, esse registro se dá por conta da experiência humana. Afirmava que nada chegava ao intelecto humano sem antes ter passado pelos sentidos. Daí serem os sentidos os responsáveis pelas nossas primeiras impressões do mundo, que, associadas à reflexão, nos levam a novas reflexões. Para Locke, essas reflexões geram o nosso sentido interno, que é a nossa reflexão com base na experiência sensível.

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questões 19 e 20, página 72. ANALISAR E ESCREVER: Questão 30 a 32, página 72. Francisco Heitor Simões Gonçalves


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Para Saber Mais: Outras Leituras

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DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA E DAS ESTRUTURAS COGNITIVAS

Associacionismo Empirista A primeira, fiel às antigas tradições anglo-saxônicas, orientou-se para um associacionismo empirista: todo conhecimento ficaria reduzido a uma aquisição exógena, a partir da experiência ou das apresentações verbais ou audiovisuais dirigidas pelo adulto. Inatismo A segunda caracteriza-se por um retorno imprevisto aos fatores inatos e de amadurecimento interno (esta, em grande parte, sob a influência do linguista Chomsky, apesar dos processos de transformação e, portanto, em parte, psicogenéticos, reconhece as gramáticas, acredita na existência de um núcleo fixo inato que determina as estruturas da origem da linguagem, tais como a relação de sujeito e predicado), neste caso, a educação dever-se-ia, em grande parte, ao exercício de uma “razão” já pré-formada. Construtivismo A terceira direção, que é voluntariamente a nossa e à qual atribuímos as origens de linguagem às estruturas construídas pela inteligência sensorial-motriz prévia, é de natureza construtivista, isto é, sem pré-formação, não é exógena (empirista), nem endógena (inata), mas por contínuo desenvolvimento das elaborações sucessivas. Essa tese conduz, no plano pedagógico, a dedicar grande importância às atividades, em parte espontâneas, da criança e do jovem. (PIAGET, Jean, Educar Para o Futuro, tradução Rui B. Dias. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1974, página 13 e 14.)

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Capítulo 5 O Homem Sabe que Sabe

Com base no texto, responda. a) Qual das 3 estruturas do conhecimento você acha mais importante? Comente. b) Com suas palavras, explique o que é: • Inatismo: • Empirismo: • Construtivismo:

Para Debater e Refletir

D. 19 Observe em sua sala os objetos que a compõem. Depois, juntamente com os seus colegas e professor, procure analisar tudo sobre o que está sendo observado. Exemplo, considerando o objeto cadeira. Do que é feito? Quem pensou na ideia? Qual a forma? Comente depois na própria sala o que aprenderam.

D. 20 Elabore uma teoria sobre alguma observação sua. Em sala de aula, verifique com os colegas se ela é verdadeira ou falsa.

Para Analisar e Escrever

A. 30 Faça uma relação de nomes de "coisas" que estão presentes na realidade em que você vive. Depois, classifique as coisas que podem ser conhecidas em sua aparência e coisas que só podem ser conhecidas em sua essência.

A. 31 Exercite em casa a observação de algum alimento. Primeiro, pegue uma fruta ou legume que não esteja maduro. Segundo, coloque esse alimento em algum lugar e observe-o por um período de duas semanas. Terceiro, registre, diariamente, o que você observou. Quarto, ao completar as duas semanas, analise os dados observados e registrados, avaliando e concluindo a sua observação. Obs: Faça as anotações no caderno e a conclusão, no livro.

A. 32 Pesquise em livros de metodologia científica como se elabora uma teoria, passo a passo, e transcreva-a para o seu caderno. Depois, apresente para os seus colegas os passos a serem dados na elaboração de uma teoria.

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Francisco Heitor Simões Gonçalves


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A Linguagem Humana Tchesco

Capítulo

Falando em linguagem... Que tipos de linguagem você conhece? Introdução

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Da relação entre sujeito e objeto nasce ou se dá o conhecimento e este se manifesta ou é manifestado pelo pensar. Quando pensamos, articulamos símbolos (signos) e unimos esses símbolos (signos) em forma de cadeia, para representá-los em forma de linguagem. A linguagem verbal é um sistema de símbolos que, representada de forma escrita, faz a gente compreender e entender melhor o mundo e as coisas que nos rodeiam. Mas será que só existe a linguagem verbal? Este capítulo irá ajudá-lo a entender melhor esse tema tão importante. 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

ESTÁ TUDO ERRADO Um dos objetivos educacionais da Pedagogia Moderna é estimular no aluno o pensamento crítico. Para que a escola atinja esse objetivo, é necessário que o professor tenha desenvolvido o seu senso crítico. A insistência em agarrar-se aos destroços da educação tradicional é, todavia, um dos traços característicos da maioria dos professores. Não sabemos construir uma ponte entre a escola e a realidade. Tudo o que fazemos é transferir toda e qualquer informação dos livros para o caderno dos alunos, sem uma prévia análise crítica. Mas, afinal, é preciso ter formação pedagógica para perceber o que está errado no ensino? O cantor e compositor de música popular que citamos abaixo esteve na escola e percebeu que estava – e ainda está – tudo errado. Toda crítica que ele faz em sua composição é justa. E como a verdade dói... Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 6 A Linguagem Humana

ESTUDO ERRADO Gabriel, o Pensador

– "Breno?" – "Aqui". – "Carol?" – "Presente". – "Dougras?" – "Alô". – "Fernandinho?". – "Tô aqui". – "Geraldo?" – "Eu", – "Itamarzinho?" – "Faltou". – "Juquinha?" Eu tô aqui pra quê? Será que é pra aprender? Ou será que é pra aceitar, me acomodar e obedecer? Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater. Sem recreio, de saco cheio, porque eu fiz o dever. A professora já tá de marcação. Porque sempre me pega disfarçando Espiando e colando toda a prova dos colegas. E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo. E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo. Eu quero jogar botão, video-game, bola-de-gude. Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula" e "estude" Então desta vez eu vou estudar até decorar, "cumpádi" Pra me dar bem E minha mãe deixar eu ficar acordado até mais tarde Ou quem sabe aumentar minha mesada Pra eu comprar mais revistinha do "Cascão". Não. De mulher pelada. A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada. E a entrada do cinema é censurada. (Vai pra casa, pirralhada!) A rua é perigosa. Então eu vejo televisão (Tá lá mais um corpo estendido no chão) Na hora do jornal desligo Porque eu nem sei o que é inflação – "Ué, não te ensinaram?" – "Não." A maioria das matérias que eles dão Eu acho inútil, em vão, pouco interessantes. Eu fico pu... Tô cansado de estudar, de madrugar. Que sacrilégio (vai pro colégio!) Então eu fui relendo tudo até a prova começar 74

Francisco Heitor Simões Gonçalves


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Voltei louco pra contar: Manhê! Tirei um dez na prova Me dei bem, tirei um cem E eu quero ver quem me reprova Decorei toda a lição. Não errei nenhuma questão. Não aprendi nada de bom mas tirei um dez. (– Boa, filhão!) Quase tudo que aprendi. Amanhã já esqueci. Decorei, recopiei, memorizei, mas não entendi. Decoreba: este é o método de ensino. Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino. Não aprendo as causas e consequências. Só decoro os fatos. Desse jeito até história fica chato. Mas os velhos me disseram que o "porquê" é o segredo. Então quando eu não entendo nada eu levanto o dedo. Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente. Eu sei que ainda num sou gente grande. Mas eu já sou gente e sei que o estudo é uma coisa boa. O problema é que sem motivação a gente enjoa. O sistema bota um monte de "abobrinha" no programa Mas pra aprender a ser ingnorante "hum... hum". Ah, um ignorante. Por mim eu nem saía da minha cama. (Ah, deixa eu dormir) Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste O que é a corrupção? Pra que serve o deputado? Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso Ou que a minhoca é hermafrodita ou sobre a tênia-solitária. Não me faça decorar as capitanias hereditárias! Vamos fugir dessa jaula! – "Hoje eu tô feliz". – "Matou o presidente?" – "Não. A aula. Matei a aula, porque num dava. Eu não aguentava mais E fui escutar o "Pensador", escondido dos meus pais. Mas se eles fossem da minha idade, eles entenderiam (Esse num é o valor que um aluno merecia! Ih, sujô! (–"Hein?) – "O inspetor! (Acabou a farra. Já pra sala do Coordenador!) Achei que ia ser suspenso. Mas era só pra conversar. E me disseram que a escola era o meu segundo lar. E é verdade. Eu aprendo muita coisa realmente. Faço amigos, conheço gente. Mas não quero estudar pra sempre. Então eu vou passar de ano. Não tenho outra saída. Mas o ideal é que a escola me prepara para a vida. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 6 A Linguagem Humana

Discutindo e ensinando os problemas atuais. E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais. Com matérias das quais eles nem lembram mais nada. E quando eu tiro dez, é sempre a mesma palhaçada. Manhê, tirei dez na prova. Me dei bem, tirei cem. Quero ver quem me reprova. Decorei toda a lição Não errei nem uma questão. Não aprendi nada de bom, mas tirei dez. (– "Boa, filhão!). Encarem as crianças com mais seriedade. Pois na escola é onde formamos nossa personalidade. Vocês tratam a educação como um negócio Onde a ganância, a exploração e a indiferença são os sócios. Quem devia lucrar só é prejudicado. Assim cês vão criar uma geração de revoltados. Tá tudo errado. E eu já tô de saco cheio. Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio. – "Juquinha, você tá falando demais. Assim eu vou ter que te deixar sem recreio". – "Mas é só a verdade, fessôra". – "Eu sei, mas colabora, senão eu perco meu emprego". Internet – www.google.com.br

Com base no texto, responda: a) Você concorda com a afirmação de que o estudo está errado? Justifique sua resposta. b) Como podemos vivenciar uma educação de qualidade? Comente sua resposta.

Para Construir o Conhecimento Filosófico 6.1 A LINGUAGEM Muitas são as considerações sobre a palavra linguagem. Segundo o dicionário SOARES AMORA, linguagem é a expressão do pensamento por meio da palavra, fala, idioma, língua; qualquer meio de se exprimir o que se sente ou pensa. Também podemos entender a linguagem como uma forma de representação simbólica, oral, gestual ou escrita, que os homens usam para se comunicar. Segundo Heidegger, filósofo alemão, "a língua é o solo comum da cultura de um povo. Pode-se falar assim, pois a língua representa, até certa forma, uma manifestação cultural". Os animais ditos irracionais também podem se "comunicar", mas só o homem é capaz 76

de se fazer entender em forma de palavras. A palavra é exclusivamente humana. Então, podemos dizer que o homem é o ser da fala, o ser do diálogo, o ser do entendimento.

Gustave Courbet, Bonjour, Monsieur Courbet, 1854

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade III O Homem Cultural

VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 21, página 81. ANALISAR E ESCREVER: Questão 33, página 83. 6.2 A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM

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O ato de comunicar, tendo consciência dessa comunicação, é exclusivo do ser humano. Podemos dizer que a linguagem é de fundamental importância para o homem e, consequentemente, para o seu progresso no mundo.

O homem se comunica pela fala (língua), pelos gestos (linguagem dos surdos) e pela escrita (códigos simbólicos). O principal elemento da linguagem é a possibilidade que ela oferece aos humanos de poderem se comunicar e de estabelecerem relações com os seus semelhantes através da fala. Imagine uma pessoa que não sabe ler nem escrever. Como ela conseguiria sobreviver numa cidade grande? Ela conseguiria se integrar plenamente num grupo ou viveria isolada?

A linguagem é um instrumento muito importante para o homem se realizar enquanto pessoa e enquanto ser social. Através da linguagem, o homem pode expressar os seus sentimentos e os seus pensamentos. Sem a linguagem, ficaria muito difícil a comunicação entre as pessoas. No processo de comunicação, existe o emissor e o receptor. Para que haja a compreensão da mensagem, é preciso que o receptor compreenda o que foi dito pelo emissor. Sem a compreensão daquilo que é dito, fica quase impossível dialogar. O diálogo é uma forma de comunicação entre duas ou mais pessoas. O ato de falar e de ter consciência sobre o que é falado, como já foi mencionado anteriormente, é de exclusividade humana. É preciso, no entanto, entender o que se diz, pois caso não haja esse entendimento, a linguagem fica comprometida. Um bom exemplo disso é colocarmos um russo conversando em sua língua de origem com um árabe, também conversando em sua língua natural. Nessa situação existirá a fala, mas não a compreensão do que se diz. Portanto, é necessária a compreensão da linguagem, seja ela falada, gestual ou escrita, por aqueles que dialogam e conversam. A linguagem nasce por uma necessidade humana de comunicar ao outro o que ele, homem, sente. Os homens se comunicam para poder transmitir vários sentimentos, como: alegria, tristeza, raiva, dor, fome, felicidade, desejos, poder. Para isso, existem várias formas de linguagem, várias formas de se estabelecer relações com os outros. Dizem até que o corpo fala. Encontramos pessoas que só com o olhar já expressam o que querem dizer, mesmo sem palavras. Existe também a linguagem universal da matemática. Os números foram convencionados a terem o mesmo valor e a mesma função em todo o mundo. A linguagem científica também existe. Ela serve para explicar os fatos, as pesquisas e as experiências que são desenvolvidas pelo homem. Você conhece mais algum tipo de linguagem?

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Hoje, existem instrumentos para facilitar os mais diferentes tipos de linguagens. Temos, como exemplo, o alfabeto das Libras, que é a linguagem dos surdos. Há, também, a escrita Brylle, que ajuda as pessoas que não possuem visão a“lerem” e perceberem o que acontece no mundo. A linguagem é cultural. O homem não nasce falando. Aprende a falar convivendo com as pessoas do seu grupo e na sociedade da qual faz parte ou em que está inserido. Cada povo possui, de forma elaborada, a sua linguagem. Os índios, os negros, os brancos, os europeus, os asiáticos, cada um possui uma forma de vivenciar seus códigos, sejam eles escritos, falados ou expressos através de gestos. São exemplos de códigos escritos registrados na história da evolução da humanidade a escrita pictográfica, utilizada pelos homens pré-históricos para representar as mais variadas situações do

Escrita Pictográfica – Touros representados em cavernas de Lascaux, França.

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seu dia a dia, através de desenhos gravados nas paredes das cavernas; a escrita ideográfica, desenvolvida na China em que dois ou mais conjuntos de desenhos são usados para representar uma palavra; a escrita hieroglífica, símbolos em forma de desenho, difundida pelo povo egípcio para representar fatos ou acontecimentos vivenciados na sociedade egípcia e tantos outros tipos de linguagens que fazem parte de cada cultura de cada povo. Quando dizemos que a linguagem é um importante instrumento na vida do homem é porque sem ela a vida social seria um "caos", uma desordem. Imagine, por exemplo, as ruas de hoje sem as devidas sinalizações, os livros sem o registro escrito da história, cada pessoa criando a sua própria linguagem. A linguagem possui poder, enquanto fala, escrita, registro ou expressão dos sentimentos, pois influencia o próprio conhecimento humano. Nessa ótica, a linguagem, como instrumento humano de relação e entendimento das pessoas, deve ser sempre utilizada para o bem, para o que é certo e para o que é verdadeiro.

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questões 22 e 23, página 82. ANALISAR E ESCREVER: Questão 34 a 37, página 83 a 85.

felicidade

fidelidade

verdade

amigo

Escrita Ideográfica

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Capítulo 6 A Linguagem Humana

Escrita hieroglífica

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade III O Homem Cultural

Para Saber Mais: Outras Leituras

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A NATUREZA SOCIAL DA LINGUAGEM Para maior precisão de termos, procuramos esclarecer o significado exato da palavra “linguagem” – o seu sentido de dicionário. Encontramos, nas fontes consultadas, uma variedade de sentidos, dos quais selecionamos o significado principal e técnico do vocábulo. Linguagem é um sistema de símbolos verbais – as palavras – elaborado e utilizado por uma comunidade humana, para exprimir e comunicar sentimentos e pensamentos. Esta definição, ou qualquer outra equivalente, salienta à primeira vista três elementos importantes: • o sistema de símbolos; • elaborado e utilizado por uma sociedade humana; • para exprimir e comunicar sentimentos e pensamentos.

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As palavras não são meros sons articulados (aspecto fonético), mas sons articulados que se destinam a evocar ou representar significados (aspecto simbólico). Assim, por exemplo, diante de uma palavra nova – digamos a palavra solvic – o leitor não apenas reproduz os sons evocados pelas letras, mas pergunta naturalmente: o que quer dizer solvic? A menos que seja portador de um sentido, que corresponda a um significado, o símbolo verbal não tem utilidade. Nada transmite. Nada comunica. Se o leitor relacionar o presente parágrafo com o que foi dito sobre a simbolização no capítulo III deste trabalho, estará pronto a compreender que não é possível falar em “símbolos” sem subentender uma comunidade humana a elaborá-lo. O símbolo verbal é, essencialmente, uma convenção social. Existe porque uma sociedade chegou a reunir recursos suficientes para elaborá-lo. Existe para atender a necessidades geradas pelo convívio social.“Comunicação”significa uma relação recíproca entre pessoas. As pessoas, para se comunicarem entre si, precisam participar do mesmo sistema de símbolos verbais. A aprendizagem de símbolos verbais não é um mero processo de imitar os sons emitidos por outras pessoas, mas implica na elaboração pessoal de significados e conceitos organizados por uma cultura. As pessoas que falam um mesmo idioma são participantes

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 6 A Linguagem Humana

de um convênio social. A aprendizagem de uma língua é um processo de aculturação: através da linguagem, o indivíduo aprende categorias, distinções, valores, etc., peculiares a cada sociedade. (FERREIRA, M. L. A. C. de. Formação e Desenvolvimento de Conceitos. pág. 130 e 131. Ed. Nacional de Direito 1967.)

Com base no texto, responda: a) Comente a frase: “A linguagem é um sistema de símbolos verbais – as palavras – elaborada e utilizada por uma comunidade humana, para exprimir e comunicar sentimentos e pensamentos. b) Justifique a frase: “Comunicação significa uma relação recíproca entre pessoas”. O HOMEM E A COMUNICAÇÃO Você já pensou como é importante saber falar? Falando, a gente pode explicar o que quer, o que pensa, o que sente. Muitos, muitos anos atrás, o bicho que foi antepassado do homem não falava. Ele se comunicava, como os outros bichos, por gestos, por berros, por grunhidos. Não se sabe bem quando, onde ou como esse bicho começou a se modificar. E pouco a pouco foi se tornando um animal diferente. Uma das coisas mais importantes que aconteceram com ele foi aprender a falar. O que será que as pessoas falaram primeiro? Será que foram palavras de queixa ou dor, como “Ai e Ui”? Ou será que foram exclamações de medo, para chamar a atenção dos outros, num momento de perigo, como “Socorro!”? Será que as pessoas começaram a imitar o som das coisas, como alguns índios americanos que até hoje chamam o coração de “tum-tum”? Ou ainda, será que as pessoas começaram a falar imitando os bichos, como as crianças pequenas, que chamam os cachorros de “au-au” e os passarinhos de “piu-piu”? Nós nunca vamos saber disso com certeza, mas podemos afirmar que essa invenção foi um grande sucesso... Os grupos de homens viviam isolados uns dos outros. Cada um inventou uma língua diferente, que só o outro grupo compreendia. Mas os homens, naquele tempo, mudavam muito de lugar, à procura de comida, ou fugindo do frio. E levavam sua língua para outros grupos e aprendiam novas palavras com eles. As pessoas que estudam como as línguas se formaram e se espalharam dizem que na Terra já existiram mais de dez mil línguas diferentes. Ainda hoje existem mais de três mil línguas. (ROCHA, Ruth e ROTH, Otávio. O Livro das Línguas. Companhia Melhoramentos de São Paulo, pp. 4, 7 e 8. Indústria de Papel.)

Com base no texto, responda: a) Por que a fala é importante? b) Só os homens falam? Explique. c) Como você imagina o começo da fala humana? 80

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade III O Homem Cultural

Você conhece esses símbolos?

Com base nas figuras, responda, então: a) Existem outros símbolos? b) Onde eles estão? c) Alguém pensou como você? d) Quais os nomes mais citados? e) Você achou a atividade diferente? Comente.

Para Debater e Refletir

D. 21 Observe os quadrinhos a seguir e diga o que você entendeu. Dê a sua opinião em sala, exercitando a sua habilidade de observação. DIÁLOGO Heitor Simões

SÓ! SÓ!

BELEZA! BELEZA!

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Capítulo 6 A Linguagem Humana

É MASSA! É MASSA!

É SIM!

Bénes

PENSAR, CARA!!!

É SIM!

PUXA!!

D. 22 É possível responder rapidamente ou só com pesquisa? Debata em sala. a) A escrita é descoberta ou invenção? b) A língua se transforma porque o homem cria regras? c) Encontramos a escrita em qualquer lugar do mundo? d) A escola "ensina" apenas uma forma de escrita?

D. 23 Crie dois símbolos visuais. Tente, em sala de aula, comunicar-se sem fazer uso da linguagem falada. Logo após a atividade, debata com a turma sobre a atividade.

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Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade III O Homem Cultural

Para Analisar e Escrever

A. 33 Pesquise em livros, dicionários ou internet definições para sujeito e objeto.

A. 34 Escreva em seu caderno o nome de: a) b) c) d) e) f) g)

Uma marca de um carro Um grupo musical Um "point" Uma loja Um“shopping” Um plano de saúde Uma casa de “show”

h) i) j) k) l) m) n)

Uma empresa aérea Uma empresa de ônibus Um jornal Uma rádio Uma revista Uma cantora Um cantor

o) p) q) r) s) t) u)

Um número Um signo de horóscopo Uma marca de refrigerante Uma pessoa ilustre Um país Uma comida Um sonho

A. 35 Que tipo de linguagem se apresenta nas gravuras a seguir?

A. 36 Observe a história em quadrinhos e tente recontá-la, desenhando do seu jeito. Antes, porém, observe e faça a leitura das imagens.

JB

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Capítulo 6 A Linguagem Humana

JB

02

JB

03

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Unidade III O Homem Cultural

A. 37 taimour.wordpress.com/page/2/

www.leawood.org/.../ Rescue%2033.JPG

Exercite agora a sua habilidade de observar e de sentir, respondendo o que se pede no seu caderno: d) a)

Ambulancia

O que você vê? O que você sente?

Osama Bin Laden

http://pt.wikipedia.org

O que você vê? O que você sente? e)

Ayrton Senna no Grand Prix de San Marino, 1989

Candido Portinari, Retirantes, 1944 Museu de Arte de São Paulo, São Paulo (Brasil)

O que você vê? O que você sente? www.med.ubc.ca

c)

O que você vê? O que você sente? www.ladomenicadivicenza.it

b)

f)

Academia de ginástica

O que você vê? O que você sente?

Médico

O que você vê? O que você sente?

Chegamos ao final de mais uma unidade. Registre no seu caderno o que você aprendeu de novo. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 6 A Linguagem Humana

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SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES • •

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INCONTRI, Dora. Estação terra: comunicação no tempo e no espaço. São Paulo: Moderna, 1991. (Coleção Desafios) ROCHA, Ruth; ROTH, Otávio. O livro das línguas. São Paulo: Melhoramentos, 1990. (O Homem e a comunicação) SIMÕES, Heitor. Aquino, o menino que adora dinossauro. Fortaleza: Conviver, 2005.

Harry Potter 1 (2001), Harry Potter 2 (2002), Harry Potter 3 (2004), Harry Potter 4 (2005), Harry Potter 5 (2007), Harry Potter 6 (2008), todos produzidos pela Warner.

O Código da Vinci, 2006, Sony Pictures/Colombia Pictures e Buena Vista Internacional.

Jornada nas Estrelas 1 (1979), Jornada nas Estrelas 2 (1982), Jornada nas Estrelas 3 (1984), Jornada nas Estrelas 4 (1986), Jornada nas Estrelas 5 (1989), Jornada nas Estrelas 6 (1991), todos produzidos pela Paramount Pictures.

A Casa do Lago, 2006, Warner Bros.

O Ilusionista, 2006, Focus Film.

A Lenda do Tesouro Perdido 1, 2004, Buena Vista Pictures.

Indiana Jones 1 (1981), Indiana Jones 2 (1984), Indiana Jones 3 (1989), todos produzidos pela Paramount Pictures.

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade

IV

O Homem Estético • • • • • •

O que é o Belo? Como identificar o Belo? O que é Estética? Estética e Ética ajudam as pessoas a serem mais humanas? Como interpretar uma obra de arte? Só o homem pode conceber a beleza?

Registre, no seu caderno, o que você sabe ou já ouviu falar de estética, belo ou beleza.


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A Filosofia do Belo Tchesco

Capítulo

Só o ser humano tem consciência da sua beleza?

Você sabe dizer quando uma coisa é bela? Que critério você usaria para dizer se isso ou aquilo é belo? Seria a beleza relativa, ou seja, ela depende dos olhos de quem a vê? A Filosofia, em sua busca pelo conhecimento, também estuda o belo. Segundo Gilberto Cotrim, o conhecimento de mundo não se expressa apenas em conceitos abstratos, fórmulas matemáticas ou equações geométricas. Para ele, existe também uma forma de perceber a organização das coisas – de como elas se apresentam, de forma imediata e sensível, sem passar necessariamente pela sistematização do conhecimento. Essa percepção imediata do que é sensível, de como as coisas se apresentam, acontece por meio da experiência estética. A percepção do belo acontece quando nos dispomos a mostrar que o conhecimento do belo nasce e se fundamenta através dos sentidos. Ao cuidarmos da estética, das coisas que podem ser percebidas pelos sentidos, estamos também falando de Filosofia (aisthetiké), a ciência que "cuida" da teoria do belo. A estética estuda o belo de forma racional como também estuda os sentimentos que despertam no ser humano. Um instrumento muito importante para essa percepção do que é belo são os valores, no caso da arte, os valores estéticos. A maneira como percebemos as coisas e como as sentimos é que possibilita a valorização da criatividade e do fazer artístico. Este capítulo conduzirá você a refletir sobre o que é beleza, sobre a importância da arte e sobre os mais variados tipos de arte. 88

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Introdução


Unidade IV O Homem Estético

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3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

A NECESSIDADE DA ARTE

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Na verdade, o homem sempre quererá ser mais do que é, sempre se revoltará contra as limitações da sua natureza, sempre lutará pela imortalidade. Se alguma vez se desvanecesse o anseio de tudo conhecer e tudo poder, o homem já não seria mais homem. Assim, ele sempre necessitará da ciência, para desvendar todos os possíveis segredos da natureza e dominá-la. E sempre necessitará da arte para se familiarizar com a sua própria vida e com aquela parte do real que a sua imaginação lhe diz ainda não ter sido devassada. (...) Sendo mortal e, por conseguinte, imperfeito, o homem sempre se verá como parte de uma realidade infinita que o circunda e sempre se achará em luta contra ela. Volta e meia se defrontará com a contradição constituída pelo fato de ser ele um “eu” limitado e, ao mesmo tempo, fazer parte de um todo ilimitado (...) Assim como a linguagem representa em cada indivíduo a acumulação de milênios de experência coletiva, assim como a ciência equipa cada indivíduo com o conhecimento adquirido pelo conjunto de humanidade, da mesma forma a função permanente da arte é recriar para a experiência de cada indivíduo a plenitude daquilo que ele não é, isto é, a experiência da humanidade em geral. A magia da arte está em que, nesse processo de recriação, ele mostra a realidade como passível de ser transformada, dominada e tornada brinquedo.

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Capítulo 7 A Filosofia do Belo

Toda arte se liga a essa identificação, a essa capacidade infinita do homem para se metamorfosear, de modo que, como Proteu, ele pode assumir qualquer forma e viver mil vidas diferentes se se destruir pela multiplicidade da sua experiência. Balzac costumava imitar o andar e os gestos das pessoas que caminhavam adiante dele na rua, com a finalidade de absorvê-las a seu próprio ser, ainda que fossem pessoas estranhas. Apaixonava-se tão obsessivamente por seus romances que os personagens destes se lhe tornavam mais reais do que a realidade exterior que o cercava. Aqueles que, entre nós, limitamse a consumir a arte como entretenimento não correm semelhante risco: porém o nosso "eu" limitado sofre uma ampliação maravilhosa pela experiência de uma obra de arte. Realiza-se dentro de nós um processo de identificação, de modo que podemos sentir, quase sem esforço, que não somos meras testemunhas da criação, que somos um pouco, também, criadores daquelas obras que estendem os nossos horizontes e nos elevam acima da superfície a que estamos pegados. Desse modo, não deixa de haver uma verdade na ideia de que a arte é uma substituta da vida. (...) A arte – como meio de identificação do homem com a natureza, com os outros homens e com o mundo, como meio de fazer o homem sentir e conviver com os demais, com tudo o que é e com o que está para ser – está fadada a crescer na mesma medida em que cresce o homem. (...) O homem, que se tornou homem pelo trabalho, que superou os limites da animalidade transformando o natural em artificial, o homem, que se tornou um mágico, o criador da realidade social será sempre o mágico supremo, será sempre Prometeu trazendo o fogo do céu para a Terra, será sempre Orfeu enfeitiçando a natureza com a sua música. Enquanto a própria humanidade não morrer, a arte não morrerá. FISCHER, Ernst. A necessidade da arte, Editora Zahar, 1979. p. 247-54.

Com base no texto, responda: a) Você concorda com a 1ª frase do texto? Justifique a sua resposta. b) Você acredita que toda arte é um processo de criação do ARTISTA? Justifique sua resposta. c) Explique a frase do texto com suas palavras: "Enquanto a própria humanidade não morrer, a arte não morrerá".

Para Construir o Conhecimento Filosófico 7.1 O QUE É ARTE? Uma atividade artística produzida pelo homem, para ser considerada obra de arte e também expressão do que é belo, necessariamente deve expressar os sentimentos e as emoções do artista. A obra de arte de Leonardo da Vinci – Mona Lisa, conhecida mundialmente, expressa os sentimentos e as emoções do seu criador. Entretanto, existem muitas cópias dessa obra de arte que a retratam com fidelidade, transmitindo os sentimentos e as emoções de Leonardo da Vinci, mesmo não tendo 90

sido feito por ele. Podemos dizer que é uma obra de arte, diferenciando-se da original apenas pela questão de valor, ou seja, a tela original tem um grande valor artístico e financeiro, porém as cópias não expressam o sentimento do artista que a copiou, apenas reproduzem as emoções e sentimentos da obra original. Para ser uma obra de arte, é preciso ter originalidade, expressar os sentimentos do criador. A simples reprodução de uma obra de arte não traduz o verdadeiro sentido da arte. A arte só pode Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade IV O Homem Estético

Ao ouvir uma música, ao ler um livro, ao recitar uma poesia, ao cantar uma canção, ao ver um filme, ao dançar, enfim, no existir desse encantamento, o homem manifesta as suas expressões do sentir, em forma de alegria e prazer. VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 24, página 95. ANALISAR E ESCREVER: Questão 38 , página 97. 7.2 TIPOS DE ARTE

Leonardo da Vinci, Retrato de Lisa de Giocondo (Mona Lisa), Museu do Louvre, Paris

existir de forma verdadeira se nela estiver contida a verdadeira expressão de quem a criou. A arte é uma obra de criação e não de reprodução. Ao analisarmos o parágrafo acima, iremos notar que a arte é expressão. Se é expressão, é filosofia. Mas não somente expressão e filosofia, mas também linguagem, busca, sentimento, emoção e atitude. A arte é manifestada por meio da experiência estética e da percepção do belo. A arte manifesta-se em nós de várias formas. A arte plástica, a arte musical, a arte cênica, a arte literária são exemplos dessas manifestações. Não é à toa que somos "arrebatados" para aquilo que é belo, que é bonito, para aquilo que nos chama a atenção. É como se, ao vermos algo que nos parece bonito, belo, isso despertasse em nós os sentidos, muito mais que a própria razão. A palavra que mais traduziria esse sentimento seria fascínio. Do minidicionário Aurélio, a palavra fascinação significa deslumbramento, uma grande atração. Em vários momentos da vida e da história humana, sentimos a arte conduzindo os pensamentos e ações dos homens por conta desses deslumbramentos.

A arte pode ser estática ou dinâmica. Estática: pintura, literatura, desenho, fotografia, escultura etc. Dinâmica: dança, música, teatro, fantoche etc. Enfim, a arte é sempre uma forma de manifestação do ser humano em todas as suas potencialidades. Quando dizemos que a arte pode ser estática e dinâmica, não siginifica dizer que a arte é parada porque é estática ou está em movimento constante por ser dinâmica, mas queremos dizer que ela pode alcançar essas dimensões dentro do olhar humano sem que uma seja superior a outra. Por isso se diz que a arte, ou a obra de arte, está nos olhos de quem a vê. O homem, desde o tempo da caverna, já registrava os acontecimentos do seu dia a dia através da arte rupestre (pintura nas paredes de cavernas ou rochas). Gregos e romanos faziam obras belíssimas na escultura, literatura, teatro etc. Os povos indígenas, como ninguém, traduziam na dança uma forma viva e alegre de agradecer aos deuses por tudo de bom que lhes aconteciam. Hoje, temos várias formas de expressar o que sentimos, das mais variadas maneiras: a literatura de cordel, o hiphop, o grafitismo, a pichação, a fotografia, a colagem, o uso de recicláveis. Enfim, as manifestações do sentir estão em todos os lugares e "cantos" de nossa vida... É só pararmos para ver e ouvir com os nossos sentidos que a arte aparecerá.

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Capítulo 7 A Filosofia do Belo

Pintura

Desenho

Literatura

Fotografia

Michelangelo

www.photokonkurs.com

Leonardo da Vinci

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Adriaen Jansz van Ostade

ARTE ESTÁTICA

Escultura

Heitor Simões www.opalco.com.br

Jan van Bijlert

www.lunasauditorio.com

ARTE DINÂMICA

Música

Dança

Teatro

Fantoche

PICHAÇÃO Os elementos utilizados por essas duas formas de expressão também diferem. O grafite trabalha com imagens e a pichação com letras, símbolos ou palavras. Embora a pichação seja considerada ilegal, tem se difundido muito e é bastante utilizada como forma de demonstrar descontentamento com algumas situações, como falta de trabalho, moradia, segurança e educação. O SIGNIFICADO DA PALAVRA

Grafite

Vários são os significados da pichação: ação ou efeito de pichar; escrever em muros e paredes; aplicar piche em; sujar com piche; falar mal de acordo com esse último conceito, não há quem não tenha pichado uma vez na vida... GITAHY, Celso. O que é grafite. São Paulo: Brasiliense, 1999, p. 19.

Pichaçao em Uppsala, Suécia

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Unidade IV O Homem Estético

VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 25 , página 95. ANALISAR E ESCREVER: Questão 39, página 97. 7.3 A EXPRESSÃO ARTÍSTICA

http://www.saoluis.ma.gov.br/.../ 18_Carnaval2007_foto_MauricioAlexandre.jpg

Todas as formas de comunicação e expressão fazem parte da expressão artística. Só o homem é capaz de expressar algo de forma artística e, ao mesmo tempo, perceber essa expressão. A linguagem é uma forma de comunicação e expressão da arte, podendo se manifestar de diversas maneiras: através da música, da dança, do teatro etc. As diversas formas de comunicação e expressão da linguagem fazem parte da expressão artística. Essas expressões estão presentes nas diversas situações da vida, por isso, não devem ser vistas apenas como algo que se aprende e se reproduz, mas como um saber que pode ser construído e vivenciado através dos sentidos. Integradas ao contexto educacional, a música, o teatro e a dança despertam, estimulam e desenvolvem habilidades de formação de hipóteses, elaborações de conceitos nas diversas áreas de estudo. Além disso, propiciam a integração social através do desenvolvimento da expressão e da autoestima.

Foliões nas ruas de São Luís, foto de Maurício Alexandre

Evidenciar essas formas de expressões artísticas é uma tentativa de mostrar o valor que elas ocupam em nossas vidas, desde o nascimento, onde o bebê e a criança pequena incorporam, como por exemplo, a música como um "brincar"

prazeroso, até o movimento saudável que o teatro e a dança nos trazem como forma de entender e compreender melhor o mundo que nos cerca. A dança, o teatro, a música, a poesia são formas de o homem expressar o que sente. Essas manifestações também possibilitam ao homem uma maior interação e socialização no mundo em que ele vive. VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 26 , página 95. ANALISAR E ESCREVER: Questão 40 , página 97. 7.4 A ARTE MUSICAL A música faz parte da vida do ser humano. Não somente o que ouvimos hoje em dia: rock, pagode, samba, rap. Enfim, a música vai mais além, ela está em todos os cantos e lugares e, como linguagem, aproxima as pessoas. Existe todo um processo na composição musical, principalmente porque a música não se dá ou acontece sozinha. Esse processo varia de pessoa para pessoa. Uns escrevem primeiro a letra da música para só depois colocar a melodia. Outros fazem em primeiro lugar a melodia para só depois colocarem uma letra. Ainda há os que primeiro pensam no que vão escrever e que tipo de pessoas vão ouvir as músicas. Mas você poderá dizer: “E a música instrumental? Ela não precisa de letra nem de alguém para cantá-la”. Isso é bem verdade, mas também tem todo um processo na sua elaboração. Ela necessita dos acordes, das notas, da melodia e daqueles que vão executá-la. É preciso o homem ouvi-la para que ela exista. Para se ter uma ideia, desde cedo, nas escolas, ela é ferramenta importante para as crianças na construção da linguagem musical, de ouvir, de estabelecer regras de condutas, regras de higiene etc. Para o homem vivenciar a arte musical, não se faz necessário ter instrumentos. Muitas vezes, o som de uma cachoeira, o canto dos pássaros, o som do mar já se tornam música para os nossos ouvidos.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 7 A Filosofia do Belo

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 29, página 96.

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ANALISAR E ESCREVER: Questão 41, página 97.

Vivenciar a arte musical é, antes de tudo, estar aberto às sensações e às emoções que a arte pode nos propiciar – na busca por uma vida feliz. A música é arte! Traduzir algo que se quer expressar em som é fazer uma grande viagem dentro de nós mesmos. Quem de nós não tem uma música ou cantor preferido? Quem de nós, pelo menos uma vez na vida, não se emocionou ao ouvir uma bela canção ou hino? Enfim, a música é também arte em movimento, ela está presente nos rituais militares, religiosos e festas. Hoje em dia, ela é tão importante para a vida das pessoas que já existe a musicoterapia. MUSICOTERAPIA Musicoterapia é a utilização da música e/ou de seus elementos constituintes (ritmo, melodia e harmonia), por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, em um processo destinado a facilitar e promover comunicação, relacionamento, aprendizado, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, a fim de atender às necessidades físicas, mentais, sociais e cognitivas... (Definição oficial da Federação Mundial de Musicoterapia).

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7.5 A ARTE LITERÁRIA A Poesia, como expressão do sentir, também expressa em palavras o que a mente e o coração querem dizer. É uma forma de sair do nosso mundo individual e subjetivo e nos colocar à disposição do olhar crítico dos outros. Não devemos nos envergonhar de escrever ou achar que aquilo que escrevemos é para nos tornarmos grandes escritores. Não! Devemos escrever para expressarmos com palavras, rimas ou sonhos aquilo que expressamos com a fala. Cada pessoa pensa de uma forma, por isso a poesia é um registro pessoal ou coletivo, mas sempre um registro do que sentimos. A construção da poesia é feita com palavras que expressam os sentimentos e as percepções de quem a escreve, pois não teria sentido escrever sobre algo que não se conhece. A forma com que colocamos as palavras em um "papel" é que nos faz chegar a qualquer pessoa com algo novo. Muitas vezes, lemos coisas que em determinado momento de nossa vida não fazem sentido, não entendemos. E, em outros momentos, com um outro olhar, passamos a entender com mais clareza o que antes não havíamos percebido pelos sentidos. O poeta cria! E, no ato da criação, sempre há o desejo de ser entendido por suas palavras.

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E ESCREVER: Questões 27 e 28, página 96. ANALISAR E ESCREVER: Questão 42, página 97. Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade IV O Homem Estético

Para Saber Mais: Outras Leituras ARTE E CIÊNCIAS

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“[...] Podemos dizer que a arte é uma forma de conhecimento que tem semelhanças e diferenças em relação à ciência. Ambas são formas de compreensão do mundo, sendo que, na ciência, predominam a análise, a pesquisa e o raciocínio lógico, além de exigir um pouco de imaginação, pois o cientista procura o que ninguém ainda sabe. Para isso, ele usa uma boa dose de criatividade ao estabelecer suas hipóteses. As duas formas de conhecimento transformam o mundo, antecipam o futuro, pois são inovadoras e descortinam uma nova maneira de ver. As manifestações artísticas e o modo como compreendemos e representamos a vida sofrem influência das descobertas e invenções científicas. Tudo transforma a arte, desde a invenção de novas tintas, de novas técnicas (fotografia, cinema, televisão, vídeo, computador...) até a de novas formas de fabricação de materiais. Todas as formas de acontecimento influenciam as pessoas e sua maneira de ver o mundo e, portanto, interferem na expressão do artista.” (OLIVEIRA, Jô e GARCEZ, Lucília. Explicando a arte: uma iniciação para entender e apreciar as Artes Visuais. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001, p. 18.)

Com base no texto, responda: a) Arte e ciência são coisas diferentes? Justifique sua resposta. b) Você concorda ou não com a passagem destacada no texto? Comente sua resposta.

Para Debater e Refletir

D. 24 Leve para a sala de aula um objeto que você considera como sendo uma obra de arte. Apresente para a turma e justifique o porquê do objeto apresentado ter sido considerado por você como obra de arte.

D. 25 Debata em sala de aula qual o tipo de arte mais importante (a Arte Dinâmica ou a Arte Estática)

D. 26 Em sala, abra uma discussão sobre a importância das aulas de Educação Artística nas escolas, citando essa importância.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 7 A Filosofia do Belo

D. 27 Em sala, escreva na lousa (cada aluno) uma palavra. Depois escolha 4 palavras e faça uma poesia do seu modo.

D. 28 Observando o gibi abaixo, o que você faria nessa situação? Como reagiria? Comente com a turma e o professor. SENTINDO A ARTE Bénes

Heitor Simões

QUE QUADRO LINDO!!

A BORBOLETA ESTÁ PERFEITA!!!

ERA TÃO PERFEITA... QUE VOOU!!! AH,AH,AH

D. 29 A atividade abaixo permitirá que você, além de debater e refletir, tenha a oportunidade de vivenciar uma prática musical. a) Formem grupos de 6 alunos. Falem sobre os gostos musicais de cada um (rock, rap, samba, pagode, mpb etc)e elejam o estilo musical que seja mais comum ao grupo. b) Tragam para a sala um aparelho de som portátil e o cd ou dvd da música escolhida pelo grupo. Argumentem sobre o motivo da escolha e escutem a música juntamente com o professor e os colegas dos outros grupos. c) Caso toquem algum instrumento, combinem com o professor o dia certo para fazer uma pequena apresentação em sala. Demonstrem sua habilidade musical! Quem sabe, dentro da sua sala possa surgir uma banda ou um concurso de música? 96

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade IV O Homem Estético

Para Analisar e Escrever

A. 38 Como a arte se manifesta em nós? Explique.

A. 39 Em seu livro escreva os pontos positivos e negativos dos dois tipos de arte – a Arte Estática e a Arte Dinâmica.

A. 40 Na fundamentação teórica deste capítulo, foi dada muita ênfase à dança, ao teatro e à música. Explique o porquê.

A. 41 Faça uma lista de três músicos e três músicas preferidas por você. Escreva o porquê do seu gosto musical.

A. 42 Na sequência, são apresentadas várias poesias (arte literária), com as quais você terá a oportunidade de vivenciar a criação artística. Tendo como referência cada texto poético, use a sua habilidade de reflexão e de produção escrita, apresentando uma nova poesia com a mesma temática. a) Texto 1 MINHA PÁTRIA Essa ainda é a minha pátria Cheia de contradições é bem claro Mas ainda é a minha pátria De tristezas e alegrias De sonhos e fantasias De carnaval e de violência nos jornais Essa ainda é a minha pátria De emoção no Hino Nacional Não como um hino de todo um povo ... mas o hino do futebol do vôlei do tênis... essa ainda é a minha pátria

pátria que sonho um dia ver-se livre dos interesses financeiros rir... de todos os banqueiros onde a educação não é mais promessa o emprego... sem essa... do trabalho diário e de todo dia sempre... mais e mais trabalho não do riso dos desdentados nem da miséria dos descamisados mas uma pátria de verdade onde a gente possa ser mais gente onde o povo possa ser feliz... Heitor Simões

• Registre, no seu caderno, a sua reflexão e a reconstrução do texto. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 7 A Filosofia do Belo

b) Texto 2 SE PENSAS Que esqueci de ti... engana-te por mim despercebido. Não há uma só manhã que o teu riso passe Diante das incertezas da vida por mim... despercebido O que tenho de mais certo e verdadeiro é o Diante de tudo teu riso Das atribulações da vida De todas Do dia corrido De quase todas... Do barulho dos carros Mas uma coisa é certa: Dos gritos Não há uma manhã que o teu riso passe Da fome... por mim despercebido Heitor Simões Não há uma manhã que o teu riso passe • Registre, no seu caderno, a sua reflexão e a reconstrução do texto. c) Texto 3 ANO NOVO Com vida nova Com sonhos novos Com pés no chão Com força e luz Com amor e carinho Com fé e dedicação Com sorriso na boca Com os braços abertos Sem sofreguidão... Encarando os desafios

Os desafetos As "malquerenças" Sem dizer muito não Aproveitando o sim da vida Fortalecendo laços... Criando a cada dia mais espaço Ficando feliz com o riso do palhaço E espalhando a sinceridade de criança De cada criança Que nasce sempre dentro de você. Heitor Simões

• Registre, no seu caderno, a sua reflexão e a reconstrução do texto. d) Texto 4 PAIXÃO Não escolhe hora, data ou lugar Não se prepara para o que vai chegar Não avisa, não diz, não telefona Apenas se instala... Dona dos corações dos amantes Amantes que sabem verdadeiramente amar E se te pego de surpresa agora Se faço tua racionalidade se perder em devaneios

É porque a hora não existe A data não se observa E o melhor lugar É o coração... O coração dos que amam Dos que se fazem amar Heitor Simões

• Registre, no seu caderno, a sua reflexão e a reconstrução do texto. 98

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade IV O Homem Estético

e) Texto 5 OS DIAS Passam como se não estivéssemos por aqui Apesar de tudo, dor, sofrimento, alegrias, fantasias Os dias chegam e vão-se Sem saber Sem perceber Até mesmo sem notar A beleza do lugar Os sonhos dos mais humildes Os desejos dos mortais...

Mas o que nos anima O que nos dá força É saber que eles sempre virão Mais fracos Com menos ou mais intensidade Mas sempre virão... E que os dias sejam realmente bons Para mim Para você Para todos nós. Heitor Simões

• Registre, no seu caderno, a sua reflexão e a reconstrução do texto. f) Texto 6 O QUE ME FAZ TE AMAR É sempre esse sorriso É sempre o gesto meigo É sempre o carinho e a delicadeza da sua voz Pois mil coisas fazem a gente amar alguém...

E como se diz na palavra dos anjos... "sem amor eu nada seria"... Pois as manhãs ficariam tristes Se você não estivesse sempre por perto... Heitor Simões

• Registre, no seu caderno, a sua reflexão e a reconstrução do texto. g) Texto 7 PALAVRAS Palavras eu não teria Pra te dizer todo dia Mas sim A minha eterna poesia Poesia do riso que acolhe Das mãos que afagam Dos gestos mais simples Do eterno... Do príncipe desencantado Pois o encanto é da poesia... E como do mar vem a maresia

De ti quero, de volta, a eterna alegria. Não uma alegria qualquer, de cada instante, cada hora, cada minuto. A alegria de que falo é a de agora... Pois aqui estou a te falar de poesia... Da minha eterna alegria, Pois palavras eu não teria Pra te dizer todo dia Mas sim, sim... A minha eterna poesia. Heitor Simões

• Registre, no seu caderno, a sua reflexão e a reconstrução do texto. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo

Tchesco

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A Estética Faz o Homem Ético

Beleza e ética têm algo em comum? Introdução

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O belo na arte nem sempre se mostra de forma viva, de forma alegre, mas com certeza o belo nos provoca emoções. Mexe com os sentidos,“arrebata-nos" para algo que muitas vezes não sabemos explicar: ora sentimos, ora choramos, ora ficamos espantados.. A beleza, o belo, é um caminho a ser seguido pelo homem, e este homem é um ser social, expressa sentimentos e emoções, portanto também possui a capacidade de julgar o que vê. Na Antiguidade, os gregos achavam que as qualidades que tornavam algo belo estavam no próprio objeto. Não dependiam do olhar humano. Por volta do século XVIII, a beleza é vista ao contrário do que pensavam os antigos gregos. Os empiristas olhavam a beleza de forma relativa. Como depende do olhar humano, cada um poderia ter a sua visão do que é belo ou feio. Desta forma, o belo para os empiristas não estava no objeto, mas no sujeito que pensa. Portanto, quando buscamos dar beleza às nossas ações e atitudes como um ser que pensa, trazemos, para perto de nós, seres sociáveis com atitudes de valores éticos. A forma como nos mostramos aos outros, como cuidamos dos outros, torna-nos mais éticos, mais humanos. Neste capítulo, veremos como beleza e ética podem e devem andar sempre juntas. 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

MINIRREALIDADE A pequena grande favela do Rio

Os garotos da favela do Pereirão, num morro entre Laranjeiras e Santa Teresa, no Rio de Janeiro, decidiram há três anos reinventar a própria realidade – só que em miniatura e bem mais divertida. Reciclando tijolos e outros materiais, Nelcirlan de Oliveira, hoje com 17 anos, e amigos começaram a montar nas encostas vazias do morro uma imensa maquete de uma favela. Batizada 100

Francisco Heitor Simões Gonçalves


www.favelinha.com

Unidade IV O Homem Estético

de Morrinho, a obra cresce sem parar. Com uma impressionante escala de proporção, reconstitui quadras de baile funk, vielas, escadarias, biroscas, delegacias e demais lugares de referência do imaginário do jovem suburbano carioca. Bonecos representam os personagens mais emblemáticos dos morros. O dia a dia ali é uma forma que os garotos encontraram de idealizar a favela, num microcosmo onde ela – e a vida deles, por extensão – seja melhor. “Assim como a favela real, o Morrinho é um espaço em permanente movimento”, analisa Fábio Gavião, videomaker que produz um documentário sobre a iniciativa. GOIFMAN, Felipe – National Geographic, p. 16. Janeiro 2002.

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Texto do Editor Será que o diamante que você cobiçou na vitrine daquela joalheria ajudou a financiar o terrorismo? Isso não é nada improvável. Diamantes "de guerra", vendidos ou contrabandeados em locais como Angola ou República Democrática do Congo por grupos rebeldes, estão financiando a violência corriqueira em seus países e no exterior. Segundo o FBI, nos últimos anos o comércio de diamantes produzidos em Serra Leoa foi uma milionária fonte de recurso para a rede Al Qaeda, de Osama Bin Laden. A despeito das sanções da ONU contra esse tráfico, os militantes da Al Qaeda conseguiram ampliar as compras dessas pedras em meados do ano passado, talvez reforçando o caixa da organização antes dos ataques de 11 de setembro. "Compradores, cuidado!" diz o fotógrafo Cary Wolinsky. Ele fez as fotos dos quatro diamantes – lapidados de uma única pedra com 265,82 quilates – apresentados pelo negociante William Goldberg, mas ele próprio limitou-se a gastar 90 dólares na Índia, onde adquiriu 110 diamantes cortados de forma a realçar seu brilho. “ Bill Allen National Geographic, pág. 17. Março 2002 – Adaptado

Com base nos textos, responda: a) Na sua opinião, qual dos dois textos mostra a estética a serviço da ética? Explique. b) Quando idealizamos algo, tornamos esse algo real? Comente. c) Quando uma coisa bonita pode se tornar feia? Justifique sua resposta.

Para Construir o Conhecimento Filosófico

8.1 A ESTÉTICA E A SOCIEDADE DOS HOMENS Podemos começar com a análise desta frase: “em primeiro lugar, pensemos um pouco sobre a arte como forma de o ser humano mar-

car sua presença no mundo, criando objetos (quadros, filmes, músicas, esculturas, vídeos etc)”. Ao observarmos essas palavras, notamos que a arte apresenta-se como conhecimento

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 8 A Estética Faz o Homem Ético

do que é sensível, sendo mostrada e evidenciada por seus “artistas”, seu leitores de mundo. Claro que cada um pode fazer a sua leitura e a sua interpretação, mas uma coisa é certa: a arte e a estética fazem parte da sociedade humana. O meu livre pensar me dá também a possibilidade das minhas expressões e ações serem livres. Assim, o que faço esteticamente não precisa da apreciação dos outros para que eu me sinta feliz. A simples ação de pintar um quadro, fazer uma poesia, criar uma escultura pode me deixar feliz e de bem com a vida, sem a preocupação do juizo de valor do que os outros irão pensar sobre mim, para dizerem se o que fiz foi bonito, bom ou não. Ao desenvolver o meu ato de liberdade e ao expressar-me, torno-me feliz e isso me basta. Ao exercer a minha liberdade, a minha individualidade de ser feliz, torno o mundo, ao meu

tecer, é necessário que o outro respeite a minha liberdade de expressão. Assim, a estética de pintar meus cabelos de várias cores ou usar“piercing”, ou gostar de usar roupas de várias formas, inclui-me num mundo onde faço valer a minha liberdade e a hierarquia dos meus valores. Como diz o ditado popular, gosto não se discute. O que é belo ou bom para mim pode não ser bom e belo para outras pessoas. Mas, vivendo em sociedade, é necessário que o homem aprenda a respeitar o limite do outro, ou seja, “a minha liberdade termina onde começa a do outro”. VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questões 30 e 31, páginas 104 e 105. ANALISAR E ESCREVER: Questão 43, página 105.

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ver, mais feliz também. Claro que, para isso acon-

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Unidade IV O Homem Estético

8.2 A EDUCAÇÃO PRECISA DA SENSIBILIDADE

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É interessante observar como Estética e Ética andam juntas no campo da vida, consequentemente, no campo filosófico também, já que a Filosofia é vida, é prática e também sentimentos. Não é que tudo deva ou tenha que ser belo, bonito, de valor... Não! No entanto, as coisas boas necessitam da ajuda ética para se fortalecerem. É comum, no tocante à Educação, ouvirmos pais, mães, tias ou avós dizendo: “Não faça isso... isso é“feio””... ou “Que coisa mais feia, fazendo isso desse tamanho...”. Esse "feio" a que as pessoas se referem, com certeza está ligado às

ações éticas. Ao dizermos que isso ou aquilo é feio, é porque queremos dizer: ISSO NÃO ESTÁ CORRETO. Quando praticamos ou fazemos coisas boas em nossas ações, somos admirados pelas pessoas. Ex: João é um menino muito bonito... ele é especial, só faz coisas boas. Quando nos tornamos sensíveis a essas ações boas, com certeza estamos nos educando para uma sensibilidade ética e estética. Estamos aprendendo a tomar gosto e a nos familiarizarmos com a arte em todos os sentidos. Essa familiarização com a arte é que vai possibilitar ao homem buscar novas formas e novas maneiras de vivenciar a sua sensibilidade. Para o escritor alemão Schiller, o caminho da estética deve ser buscado sempre, pois é da beleza que nós homens chegamos à liberdade. A Educação Artística é, portanto, uma forma de possibilitar ao homem uma vivência da sua sensibilidade enquanto ser que deve pensar e refletir sobre os seus atos. VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 32, página 105. ANALISAR E ESCREVER: Questões 44 e 45, páginas 105 e 106.

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Capítulo 8 A Estética Faz o Homem Ético

Para Saber Mais: Outras Leituras

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IDEAL DE BELEZA – A ARTE ESTÁ SEMPRE PRESENTE "Na Grécia Antiga, por volta do século V antes de Cristo, a beleza era considerada um caminho para o bem e para a verdade. Uma estátua grega traduzia um ideal – ao mesmo tempo artístico, moral e espiritual – de perfeição humana. Esse conceito foi retomado durante o Renascimento, em meados do século XV, depois de superada a tese dominante na Idade Média, quando a beleza pertencia exclusivamente a Deus e só se manifestava nas coisas da natureza para revelar a sabedoria divina. Desde então, aceita-se uma divisão entre beleza natural e beleza artística. Um crepúsculo, por exemplo, pode ser muito belo. Pode comover-nos e extasiar-nos, mas não é uma obra de arte. A natureza é bela, mas não é artística. Fornece a matéria-prima, não o produto da ação criadora do homem." Coleção Arte nos Séculos. São Paulo: Abril.

a) Existe uma beleza ideal? Explique sua resposta. b) Cite outros exemplos de beleza natural e de beleza artística.

Para Debater e Refletir

D. 30 Observe e diga o que você entendeu do desenho abaixo. Quem está demonstrando ser livre, agindo com liberdade, o menino ou a menina? Debata com a turma. EXPRESSÃO DE LIBERDADE Heitor Simões

É... MAS SOU FELIZ ASSIM!!

COMO ESTOU? UM CARNAVAL!!

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Unidade IV O Homem Estético

D. 31 Faça de conta que você é o menino. Como reagiria à resposta da menina? Comente em sala. Exercite a sua habilidade de argumentação.

D. 32 Simulem, em sala de aula, um júri (tribunal) sobre o tema: A educação precisa de sensibilidade.

Para Analisar e Escrever

A. 43 Analise e explique, em seguida, a frase do texto: "O meu livre pensar me dá a possibilidade de também ser livre nas minhas expressões".

A. 44 Exercite a sua habilidade de observação e de sentir, respondendo no seu caderno: c)

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a)

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b)

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O que vejo? O que sinto?

O que vejo? O que sinto? d)

O que vejo? O que sinto? Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

O que vejo? O que sinto? 105


Capítulo 8 A Estética Faz o Homem Ético

A. 45 Explique as linhas que estão negritadas no texto Ideal de beleza – A arte está sempre presente. Chegamos ao final de mais uma unidade. Creio que agora você está sabendo muito mais coisas. Registre no seu caderno o que você aprendeu de novo.

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MATTOS, Paula Belfort; Editora Antonio Belline. A arte de educar. Brasília: 2003.

VENTRELLA, Roseli; ARRUDA, Jacqueline. Projeto educacional para o século XXI: arte, 5a a 8a série. São Paulo: Escala Educacional, 2006.

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SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES

O Diário de uma Paixão, 2004, Playart.

Um Amor para Recordar, 2002, Sony.

O Sorriso de Mona Lisa, 2003, Columbia Pictures/Sony pictures.

Flashdance, 1983, Paramount.

Perfume de Mulher, 1992, Universal Pictures.

Stardust, 2007, Paramount Pictures.

A Fantástica Fábrica de Chocolates, 1a versão, 1971, Warner Bros.

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Unidade

V

A Filosofia do Ser

Tchesco

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• Qual o sentido da palavra SER? • Somos que tipo de SER? • Você é um SER?

Registre, no seu caderno, o que você já sabe ou ouviu falar sobre a palavra SER.


Capítulo

Tchesco

9

As Relações Humanas num Mundo sem Relações?

O que entendemos por ser? Introdução

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A princípio, um tema paradoxal, pois, como é possível o homem, que é todo relação (animais, coisas, pessoas, sentimentos, modos de produção, línguas...), viver em um mundo sem relações? Despertemos para o seguinte eixo ou a seguinte questão: se somos seres relacionais, o que está havendo de errado para que essas relações do ser humano não estejam se efetivando na prática? Sendo mais claro ainda: vivemos em um mundo onde é necessário e fundamental estabelecermos relações, mesmo que essas relações em nossas vidas tenham sido voltadas de forma positiva ou negativa. Então, por que essas relações não nos chegam de forma clara e objetiva?

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Unidade V A Filosofia do Ser

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Ora, sabemos da necessidade que o ser humano possui de se mostrar como sujeito, como fazedor e construtor dos seus atos e ações. Assim sendo, o que está acontecendo para que o ser humano, enquanto construtor do seu próprio caminho, não esteja vivendo em plenitude as suas relações? Alguns questionamentos podem elucidar esta pergunta: – Como nos relacionamos? – Com quem nos relacionamos? – O que queremos com essas relações? – Que tipo de diálogo existe nessas relações? – Como é a nossa comunicação? – Como nos mostramos aos outros? – Em que situações nos relacionamos? É bom sempre lembrar que, em qualquer tipo de relação que estejamos, nunca deixaremos de ser nós mesmos, enquanto SER individual e coletivo. É bem certo que algumas pessoas não se mostram aos outros de forma verdadeira. Assim, se "mascaram" para se relacionarem ou conseguirem algum tipo de "engajamento" social e afetivo. Esse capítulo nos levará a um mundo de descobertas, pois a todo instante estamos aprendendo, enquanto SER que somos, a nos conhecermos cada vez melhor. 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

A ARTE DO ENCONTRO

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Quando se quer achar e se encontra, que bom... valeu a procura. Quando se quer viver e se vive, que legal... valeu a disposição. Quando se quer rir e se permite sorrir, que maravilha... valeu a alegria. Quando se quer sonhar e se vive o sonho, fantástico... valeu a intensidade. Quando se quer amar e se ama, bárbaro... valeu a doação. Buscas, Encontros, Sonhos, Vida, Amor, Palavras mágicas de encontro, De autoajuda, De nada adiantam Se o SER que as constroe Não acreditar que só ele é capaz de realizar toda e qualquer mudança... Seja ela pequena ou grande. A arte do encontro nada mais é do que saber onde se está e para onde se quer ir. Você saberia dizer, hoje, em apenas uma palavra, o que mais gostaria de encontrar? Heitor Simões

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 9 As Relações Humanas num Mundo sem Relações?

Com base no texto, responda: a) Qual a importância do SER no texto anterior? Comente. b) Você acha importante as pessoas se encontrarem? Justifique sua resposta.

Para Construir o Conhecimento Filosófico

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A bem da verdade, se é que concordamos com a existência dela, da verdade, a palavra SER pode figurar como uma das palavras mais importantes do nosso dicionário comum, como também do mundo filosófico. No dicionário comum, SER significa: estar, ficar, tornar-se, causar, produzir, ser motivo de, achar-se, encontrar-se, consistir em, ter o título, o cargo, a função de, pertencer a, ente humano, criatura, pessoa, existência, vida. O termo SER pode, também, assumir outras formas de entendimento e de comunicação, como por exemplo: “ele é um SER da igreja”, “você tem que SER homem”, “você deve SER elegante”, “o que você vai SER quando crescer?”, “você tem que SER melhor do que os outros”. Como vemos, a palavra SER aparece em nossa comunicação e em nossa sociedade de várias formas, de várias maneiras e com vários sentidos. Cabe a nós, amantes da Filosofia e curiosos por natureza, entendermos de forma ampla, significativa e filosófica o termo SER.

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Agora, ao enveredarmos pelos caminhos da Filosofia, é muito importante compreendermos e entendermos, de forma clara e objetiva, o que as palavras nos oferecem em termos de sentido e de significação. A palavra SER, filosoficamente falando, traduz em sua essência o próprio significado da existência. As coisas do mundo só existem se existe um SER que possa identificá-las e dar sentido a elas. Quando estudamos o conhecimento, suas teorias e suas práticas, visualizamos sempre dois fatores de fundamental importância: o sujeito, como aquele que conhece, e o objeto, como aquele ou aquilo que é conhecido, ou seja, o SER cognoscente e o SER cognoscível. O ser humano traz em si a característica que lhe define como animal racional, portanto, é somente dado ao homem, racionalmente falando, o direito de se afirmar como ser “pensante”. A humanidade, em seus mais variados conceitos, é definida pelos tipos de culturas existentes. Assim, temos culturas altamente tradicionais como, também, modelos de culturas que trazem em si o conceito mais amplo de liberdade. Por assim dizer, temos culturas que não são permitidas às mulheres mostrarem o próprio rosto, como, também, modelos de cultura em que as pessoas vivem nuas em pleno contato com a natureza. A antropologia, termo originado do grego que significa anthropos (homem) e logos (ciência), é uma ciência que busca dar resposta a pergunta do que é SER humano. Shutterstock

9.1 O QUE É O SER?

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Ao longo do processo evolutivo da humanidade, surgiram duas correntes ou pensamentos filosóficos que tentaram explicar o homem em sua humanidade. A primeira corrente é a dos essencialistas, que admitiam ao ser humano ter uma natureza que lhe é inerente, sempre, e por assim dizer, universal. Platão e Aristóteles são filósofos que defendem essa postura. Por outro lado, temos a corrente existencialista pregando a explicação da origem da humanidade não somente através da essência, mas através, também, das relações sociais, pois é no mundo em que vivemos que criamos valores, desejos e vontades, além de desenvolvemos a existência humana. Esse pensamento era bem aceito por Karl Marx, pensador alemão do século XIX. Marx dizia que a essência do ser humano era o trabalho. O trabalho constitui o ser humano ao mesmo tempo em que é construído por ele dentro das relações sociais. O ser humano, para Marx, é histórico. Outro pensador existencialista muito conhecido por suas ideias foi Sartre. Para Sartre, só as coisas e os animais são “em si”, isto é, teriam uma essência. O ser humano, dotado de consciência, é “um ser para si”, ou seja, é também consciência de si. Isto significa que é um ser aberto a construir, ele próprio, a sua existência. Podemos entender esse pensamento da seguinte forma: é possível vermos a essência de uma cadeira, de uma mesa e até de um animal, como o próprio homem, mas não podemos dizer que a essência de todos os homens é igual, pois o ser humano se constitui de seus atos, de suas atividades e de suas relações. Podemos concluir, sinteticamente, que o ser humano manifesta-se ativo: quando trabalha e modifica o meio ambiente para atender as suas necessidades; quando é construído por sua atividade (enquanto ele age e se autoconstrói); quando ele está den-

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Unidade V A Filosofia do Ser

tro e age nas relações sociais determinadas (que são os condicionantes que atuam sobre ele); e quando é construtor da própria sociedade (utilizando-se das contradições desta). VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questões 33 e 34, página 115. ANALISAR E ESCREVER: Questões 46 e 47, página 115. 9.2 O SER PARA O OUTRO Diz-se que vivemos sempre em função de um ou de alguns projetos. Esses projetos, que muitas vezes chamamos de projetos de vida, só serão alcançados com muito esforço, empenho e determinação. Muitas pessoas acham que a sorte ou o azar de não conquistarem os seus objetivos se dá porque não chegou ainda o momento de poder alcançálos. Na Filosofia, atribuir os acontecimentos da nossa realidade a Deus ou ao destino mostra-nos, ainda, fragmentos de uma consciência mítica. A consciência mítica é aquela em que atribuímos às divindades tudo o que acontece aos homens de bom ou de ruim. Parmênides, pré-socrático, foi um dos primeiros a falar do SER. Dizia ele: o SER é, o não SER não é. Parece muito simples esta afirmação. Para nós, esta afirmação pode parecer boba, descabida a um filósofo, no entanto, afirmar que uma coisa é, é de fundamental

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 9 As Relações Humanas num Mundo sem Relações?

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importância para podermos identificá-la, buscá-la em sua origem, em sua essência. Não se busca essência naquilo que não existe. Portanto, buscar a essência do SER é de fundamental importância para compreendê-lo melhor. Para Parmênides, o não ser é capturado pelos sentidos, mas o sentido, segundo ele, é ilusório, é o que não existe. Então, pela razão, buscamos o ser que é uno, imutável. Buscar a essência do SER é também buscar a vida. Buscar a vida é um ato de escolha. Devemos buscar aquilo que acreditamos. Devemos escolher, acreditar e buscar, sempre e a cada instante, a nossa essência enquanto ser para nós e para os outros. O pequeno texto a seguir, do grande filósofo Léo Buscáglia, nos revela a importância de sermos o que somos para não mudarmos a nossa forma de ver e de enxergar o mundo por causa dos outros, principalmente quando esse(s) outro(s) não busca(m) nos entender.

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“Não posso ser feliz quando mudo só para satisfazer o seu egoísmo. Nem posso me sentir contente quando você me critica por não ter os seus pensamentos, ou por ver como você vê. Você me chama de rebelde. No entanto, cada vez que rejeitei as suas crenças você se rebelou contra as minhas. Não procuro moldar a sua mente Sei que você está se esforçando muito para ser só você. E não posso permitir que me diga o que ser... Pois estou me concentrando em ser eu.” O grande segredo é que, ao buscarmos a nossa verdadeira essência, quem sabe nos encontremos com o nosso verdadeiro eu. Quantas e quantas pessoas vivem com máscaras, mostrando para os outros aquilo que não são verdadeiramente? Quantas e quantas pessoas vivem vidas que não lhes pertence para satisfazerem outras pessoas? Quantas esposas se deixam escravizar por seus maridos? Quantos relacionamentos são de “fachada” para satisfazer algum tipo de sociedade hipócrita? Talvez seja importante entender que às vezes é preferível “se perder” a ter que “se achar” dentro de uma sociedade pós-moderna, que não valoriza o ser, mas sim o ter. A infinidade do tema é assustador. Quanto mais nos aprofundamos nesta pequena palavra, o SER, mais caminhos nos enveredamos. Aliás, o ser humano foi e sempre será o melhor caminho. Não podemos viver sozinhos. A raça humana, em seus instintos, animalidades e razões, não nasceu para o isolamento. A palavra SER pode ser “desdobrada” em temas universais e dialógicos, como “os cuidados do ser”,“o ser da saúde”,“o ser da razão”,“o ser da comunicação”, “o ser da política”, “o ser da ecocidadania”. Enfim, diante de tanta importância, poderíamos até valorarmos: Quanto vale o SER? Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade V A Filosofia do Ser

um “ser que não pode”. Você já deve ter vivenciado, em algum momento da sua vida, pessoas que sempre e a todo instante só sabem dizer não. Nunca estão abertas para uma nova possibilidade ou um novo aprender. Essas pessoas precisam muito da sua ajuda, pois ainda não aprenderam o sentido da valorização do próprio ser humano. São pessoas ainda fechadas em seus mundos e que só se preocupam com o seu EU e não com o NÓS. Um ser para o outro é um ser sempre em potência, como afirmava Heráclito, pois somos seres em constantes transformações e mudanças. Essas mudanças servem para a nossa própria construção, desenvolvimento e evolução. VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questões 35 e 36, página 115. ANALISAR E ESCREVER: Questão 48 a 51, página 115.

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Mas o tema central é o ser para o outro. O filósofo Léo Buscáglia também disse: “Devemos ser pontes e não barreiras”. Esta afirmação nos devolve em cheio ao tema do capítulo: um ser para o outro. Jesus Cristo nos deu imensas e inúmeras “amostras” de como ser um ser para o outro. Um desses primeiros princípios, que era o do respeito e da ética por cada pessoa, valorizava por demais as nossas ações morais. No entanto, como podemos cuidar dos outros se não cuidamos de nós mesmos? Por vezes queremos salvar o planeta e não salvamos nem a nós mesmos. Um ser para o outro deve se guiar pelo logos, por sua razão. Ser ponte para o outro é um sinal de respeito e de humildade. Não há quem conheça tudo e que não possa aprender coisas novas. Assim, diante de conhecimentos e ignorâncias, estar aberto ao outro é o primeiro passo para uma convivência fraterna e feliz. Um ser para o outro é o significado mais nobre de devoção e de respeito pelo próprio ser humano. Um “ser para” é bem melhor do que

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 9 As Relações Humanas num Mundo sem Relações?

Para Saber Mais: Outras Leituras PONTES E NÃO BARREIRAS

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Não há muitas escolas que ensinam o respeito por si. Não há muitos modelos que possam se levantar e dizer: “Gosto de mim, mesmo. Gosto não só daquilo que sou, mas gosto da magia e do potencial em mim”. Porque, sabe você não é só a realidade: você é muito mais a potencialidade. Há muito mais de você. De alguma maneira, temos que dizer às crianças: “Há mais do que um simples leitor. Há mais do que um simples ser que percebe. Você é ilimitado”. Precisamos de pessoas para ensinar isso, que acreditem nisso. Senão é falso, e não vai dar resultado. Um dos momentos mais incríveis de minha carreira de magistério foi quando comecei a ensinar na Universidade da Califórnia do Sul. Eu nunca tinha estado diante de uma turma universitária. Tinha ensinado no curso primário e ginásio, e adorava isso, mas depois fui passar dois anos na Ásia. Depois que voltei, resolvi que gostaria de experimentar o nível universitário. Quando me vi diante daquela grande turma universitária pela primeira vez, descobri que tínhamos criado um bando de pessoas apáticas, pessoas tão fartas do estudo que, quando você entrava na sala de aula, entusiasmado com o que tinha a partilhar, só encontrava os topos das cabeças deles – e, se não isso, pessoas que escreviam maquinalmente tudo o que você dizia. Com medo de haver uma pergunta traiçoeira no exame. Às vezes tenho que dizer: “Larguem os malditos lápis e escutem!” (Sou um verdadeiro orientador não dirigente. Já houve casos em que joguei laranjas nos meus alunos. É preciso despertá-los de algum modo!) Muitos de vocês sabem que tenho essa mania de globos oculares, e isso não é muito popular na nossa cultura. Quando a gente olha alguém nos olhos, vê logo a expressão:“O que é que ele quer, afinal?” Eu não quero nada. Só quero fazer contato humano. Vocês nunca precisam ter medo de mim. Faço festas, abraço. Experimente-me. Quando alguém tem medo de aparecer em público, aconselho: “Espere um minuto e procure o que chamo de globos oculares simpáticos. Você ficará espantado ao ver quantos existem, e, quando encontrar um par, agarre-se a ele porque, se você estiver dizendo uma burrice, ou se a sua sintaxe se atrapalhar, pode olhar para esses globos oculares e eles estarão dizendo que está tudo bem, para você continuar”. A primeira coisa que fiz na minha turma universitária foi procurar globos oculares simpáticos, e não vi muitos. Topos de cabeças, sim. Lápis se movendo, sim. Mas globos oculares, não. Vi, sim, um par de belos globos oculares de uma moça na quinta fila, e vi que eram o meu tipo de globos oculares, pois ela reagia a tudo o que eu dizia. Eu sabia que me estava comunicando pelo menos com uma pessoa, o que já era um começo. Amei aquela garota. BUSCÁGLIA, Léo. Vivendo, Amando e Aprendendo; 7ª Edição, Record Editora; Rio de Janeiro, 1982.

Com base no texto, responda: a) Qual a importância de sermos “pontes”? b) O que seriam as “barreiras”, segundo o texto?

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Unidade V A Filosofia do Ser

Para Debater e Refletir

D. 33 Toda essência necessita da existência? Comente sua resposta.

D. 34 É possível um SER ser somente essência e não possuir a sua existência? Comente sua resposta.

D. 35 A afirmação de Parmênides foi importante para o entendimento do que é o SER? Comente.

D. 36 A afirmação “não se busca essência naquilo que não existe” pode ser considerada uma afirmação coerente? Comente em sala.

Para Analisar e Escrever

A. 46 Essência e existência são a mesma coisa? Explique.

A. 47 Segundo o seu ponto de vista, o homem constrói a sua essência ou é construído pela sua existência? Justifique sua resposta.

A. 48 A palavra SER e a palavra VIDA são inerentes ao ser humano? Justifique sua resposta.

A. 49 Buscar a verdadeira essência é buscar o verdadeiro eu? Justifique sua resposta.

A. 50 Um ser para o outro é um ser que age socialmente de forma harmoniosa? Comente sua resposta.

A. 51 Justifique a frase: “Sejamos pontes e não barreiras”.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Cuidando do Ser Tchesco

Capítulo

O ser humano precisa ser cuidado? Introdução

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Este capítulo é um aprofundamento do capítulo anterior. Falar do“ser para o outro”nos dá possibilidade de falarmos do cuidado que devemos ter com as pessoas e com o mundo em que vivemos. Os tipos de relações, maneiras de agir, maneiras de se comunicar, de pensar e de cuidar podem fazer crescer em nós o desejo e a vontade de efetivarmos uma prática bem significativa em nossas vidas. Cuidar do ser não é somente falar de forma aparente ou superficial. Cuidar do ser vai mais além, vai ao encontro de respostas para perguntas simples, mas de grande relevância. A palavra cuidar, que no dicionário significa “ocupar-se de”,“tratar de”,“precaver-se de”,“zelar”, talvez seja uma das palavras menos utilizadas por nós e de maior importância no trato das nossas relações com as coisas e com os outros seres humanos. Sartre, em suas convicções, afirmou: “O homem não é, mas se faz”. É com base nessa construção que precisamos cuidar do próprio homem, antes que ele se destrua por atos, palavras e omissões. 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

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A FILOSOFIA DO SER Faço parte do que existe. Critico, coloco em dúvida, faço perguntas inoportunas. Abro os portais das possibilidades. Minha filosofia incomoda porque questiona o modo de ser das coisas.

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Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade V A Filosofia do Ser

As vivas e as inertes. E as que esperam. Não há área onde minha curiosidade não se meta, não indague. Sou perigosa. Subversiva, até. Pois viro a ordem estabelecida de cabeça para baixo. E conceitos frágeis se esparramam no meu piso frio de carrara e lucidez. Ideias pré-eleitas não se sustentam. São estruturas de areia que não resistem às minhas marés pensantes. Pode dizer que sou “desligada” do mundo. Que seja exatamente essa a sua defesa contra o perigo que represento.

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No meu refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela, redescubro seus significados mais profundos. E mais largos e constantes são os meus sorrisos. Mais afiados meus olhos-punhais. Não controlo o que estou fazendo. Tenho ascendência animal. – minha alma ainda uiva à visão da Lua – Mas a razão é plácida e dominante. Não controlo isso. Apenas respondo a uma exigência da própria natureza humana e imersa do real evolutivo. Vivo a necessidade de encontrar uma razão de ser para o mundo, para os enigmas de minha existência. Por isso balanço os cabelos. E deixo o vento conduzir respostas. Polinizar outras mentes... E quem sabe novas verdades produzirão frutos suculentos e exatos. Enquanto isso prossigo na jornada. Busco meu arkhé, o princípio absoluto (primeiro e último) O princípio substancial, o que se estabeleceu antes de tudo, O fundamento, o fundo imutável e incorruptível de todas as coisas, Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 10 Cuidando do Ser

que as faz surgir e as governa. Mas não algo que ficou no passado, e sim aquilo que dá origem a tudo. Procuro a gênese que se explica permanente E a revelo através da separação dos contrários. Sigo dissecando a matéria – corpo da vida. Resultante do movimento eterno... Claudia Gadini Fonte: www.recantodasletras.uol.com.br (publicado em 10.09.05)

Com base no texto, responda: a) O que a frase “ideias pré-eleitas não se sustentam” quer dizer? Comente sua resposta. b) No texto, o que significa “busco meu arkhé”?

Para Construir o Conhecimento Filosófico

www.parbeszed.com

Falar do SER para a vida, o que é e o que pensa é, de certa forma, buscar a origem da alma humana. Não a alma humana no sentido das provações religiosas ou ideológicas, mas uma alma humana como consciência da sua própria ação, da sua própria racionalidade. São Tomás de Aquino, em sua compreensão de alma, mostra-nos que uma das causas que constituem o ser é a forma. Para ele, existem duas causas constitutivas do SER: a matéria

São Tomás de Aquino

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e a forma; essa, a forma, é a mais importante e fundamental. Essa causa básica é denominada por ele como a alma racional. Cada indivíduo possui uma alma. Para ele, o homem possui uma alma espiritual que está unida ao corpo (que é matéria), conferindo-lhe uma vida com funções vegetativas e sensitivas. A alma, porém, transcende essa vida vegetativa. Ao afirmar isso, Tomás de Aquino, cristão, nos concebe a ideia da vida após a morte, tornando o ser, dentro da sua razão, imortal. Platão, filósofo grego, muito antes de Tomás de Aquino, colocava um pensamento muito parecido, havendo apenas um ponto de divergência: Platão era grego e vivia em uma sociedade Fotógrafo: Jastrow (2006)

10.1 O SER PARA A VIDA

Platão

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politeísta, cheia de vários deuses, já Aquino vivia em uma sociedade teocêntrica, em que Deus era o centro de tudo. Mesmo vivendo em épocas diferentes, com estilos de pensamentos diferentes, Platão trazia a ideia dos dois mundos: um mundo do que é sensível e um mundo inteligível. O mundo sensível é um mundo baseado nos sentidos e, por isso, falho. O mundo inteligível, o verdadeiro mundo, em que tudo o que existe é verdadeiro, não é um mundo de impressões, muito pelo contrário, é lá onde há o verdadeiro bem, a verdadeira justiça e todas as verdades. Quem mais fez uso das ideias de Platão foi Santo Agostinho. É muito interessante também observar que o pensamento de Tomás de Aquino é uma “suposta reprodução” do pensamento grego. Muitas das ideias de Tomás foram“buscadas”em Aristóteles, filósofo grego. No entanto, era dada uma “cara” nova aos pensamentos e teorias, já que a Igreja não permitia a leitura das produções gregas. Tomás de Aquino ficou também conhecido por “cristianizar”Aristóteles, ou seja, dar uma forma cristã aos pensamentos desse filósofo. A teoria das ideias, mesmo sendo de Platão, serve também para fazermos um paralelo e nos mostrar a questão da alma em Tomás de Aquino, se entendermos que o mundo da matéria é o mundo sensível e que o mundo das ideias é o mundo do espírito, da alma. Somos seres voltados para a vida. Vida esta a ser vivida em plenitude e em equilíbrio. Ter uma vida de forma equilibrada deve ser, se não o princípio básico, pelo menos o princípio maior. Aristóteles, filósofo grego, já “pregava” esse equilíbrio através da virtude. Para ele o homem virtuoso era um ser equilibrado e, portanto, feliz. Nem tanto ao excesso, nem tão pouco a falta, mas, sim, um meio termo, que leva ao equilíbrio. Trazendo esse pensamento para os dias de hoje, numa sociedade pós-moderna, em que o ser muitas vezes é deixado de lado pelo desejo do vil metal para dar nascimento ao famoso

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Unidade V A Filosofia do Ser

Aristóteles

ter, é que podemos refletir: Mais vale ter do que ser? Podemos ser, tendo? Até quando o ter é mais importante e necessário do que o ser? Claro que a existência humana se baseia primeiro no princípio do existir, depois no do ter, mas em que momento esse processo foi invertido? Você saberia dizer? Enfim, SER, TER: Que variáveis podemos dar ao ser humano para a boa convivência ou para o bem comum, quando colocamos como eixo central da questão o SER para o outro? Será que o outro é sempre um ser estranho a nós ou será que o ser para o outro muitas vezes acaba em nós mesmos? Os pensamentos dos filósofos servem para nós como guia, como experiência, como pensamento adquirido e pensado de forma racional. No entanto, o que realmente importa nos dias de hoje é pensar ou agir? É falar ou praticar? É ser um SER para si mesmo de forma individual ou ser um SER que está disposto a ir ao encontro do outro? Meras perguntas para meras respostas ou para respostas verdadeiras e significativas?

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 37 a 39, página 126. ANALISAR E ESCREVER: Questão 52 a 54, página 126.

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Capítulo 10 Cuidando do Ser

10.2 CUIDANDO DO SER Como cuidar do SER? É uma pergunta de cunho fácil, mas de uma reflexão grandiosa. Talvez pudéssemos começar a reflexão de outra forma: Por que o ser humano não cuida de si? A racionalidade posta aos seres humanos é a melhor forma de evidenciar a sua negligência para consigo. Como pode um homem racional agir por muitas vezes de forma totalmente irracional? Assim sendo, será que podemos continuar pensando que a única coisa que nos difere dos seres irracionais é justamente o uso dessa racionalidade, que muitas vezes nos “foge” ao controle? Esse uso da razão, do logos, é peça fundamental para a vida. O ser que usa sabiamente a sua racionalidade é um ser também equilibrado. Portanto, um dos princípios básicos para o cuidar do ser é o cuidar da razão. Os primeiros filósofos chamados de pré-socráticos buscavam a origem das primeiras causas e dos primeiros princípios da origem do homem, do universo. Buscavam respostas para as suas perguntas. Enfim, buscavam saber mais e mais sobre a origem de tudo. Podemos entender que o primeiro cuidado que devemos ter com o ser humano é o princípio básico do respeito. É preciso respeitar para criar vínculos, pois os vínculos é que vão nos assegurar um processo dialético chamado confiança. Como diz a oração de São Francisco, “É dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado”. Esse princípio de doação do eu é, com certeza, um princípio de respeito. Quando me respeito enquanto ser, estou cuidando de mim. Ao cuidar de mim de forma ética, harmoniosa e humana, cuido automaticamente daqueles que estão a minha volta. Quando transmito alegria, encadeio uma ação positiva ao meu redor e tenho quase sempre um retorno positivo dessa minha ação. Por isso, cuidar do ser parte primeiro do cuidar de mim. Esse cuidar individual que transcende para o coletivo é o primeiro passo na constru120

ção de um mundo melhor. Irradiar pensamentos e ações positivas com certeza irá trazer uma melhor saúde para o corpo físico e “espiritual”. Como dizem os gregos,“corpo são, mente sã”. Vejamos a poesia a seguir: “Aprendo a ser Quando sou Quando vivo... Aprendo a fazer Quando faço Quando construo... Aprendo a conhecer Quando olho, quando vejo E quando descubro no outro, o outro. Com o olhar sempre aberto voltado para mim.” Heitor Simões

O texto traduz uma realidade. Pode uma pessoa cuidar de outra em forma de poesia, em forma de palavras? Poderia ser a poesia do poeta um bálsamo aos corações que necessitam de Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade V A Filosofia do Ser

mos amar ao próximo como a nós mesmos. Ao afirmar isso, podemos observar o quanto de importância e significado foi dado ao ser humano. Amar ao outro como a nós mesmos significa querer sempre o melhor para todos. Não há quem, de bom uso de suas faculdades mentais, deseje o mal a si próprio. Assim sendo, apenas desejar o bem já é, também, por assim dizer, uma forma de cuidar. Várias são as formas de entender essa significação do cuidar, mas a maior de todas é vivenciada pela ação do amor. O ser romântico que evidencia o seu cuidar de alguém e o seu doar por amor. O ser saudável que, ao se amar, cuida de si e transmite “saúde” aos outros na forma como se conduz. O ser racional que ama todas as coisas, entendendo que essas mesmas coisas são importantes para a sua vida e para a vida dos outros. O ser ecocidadão que valoriza o seu meio ambiente, tendo consciência de que a vida sustentável é a melhor forma de amar o planeta. Enfim, cuidar do ser é cuidar do coletivo. O homem que ama é um homem que cuida. Shutterstock

uma palavra, de uma luz? Será que o poeta transcende a ele próprio quando necessita ver no outro as pessoas? Tantas e tantas perguntas. Tantas e tantas formas e maneiras de cuidar. Quando pensamos em cuidar de alguém, geralmente pensamos de que forma? Na maioria das vezes, ao falarmos em cuidar, explicitamos o desejo de tomar conta, ou seja, estamos falando de proteção, de alguém que, de uma forma ou de outra, precisa de nós. Mas, quando falamos de cuidar do SER, nos referimos a que tipo de cuidado? Este SER é o ser humano ou somente o espírito? O fato é que, seja qual for o tipo desse cuidar, material ou espiritual, é preciso que ambos estejam bem para refletirem o ser em sua plenitude. Um não existe sem o outro. Cuidar, segundo o dicionário, também tem o sentido de doação. Ao cuidar de alguém ou de algo, disponibilizamos o nosso tempo, atenção, dedicação, carinho e afetividade. Disponibilizar um sorriso, um bom dia e um abraço também é ter cuidado com o outro. Segundo Jesus Cristo, deve-

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Capítulo 10 Cuidando do Ser

Para cuidar é preciso conhecer. Para conhecer é preciso buscar, mas só se busca o que de alguma forma se necessita. Por isso é importante e urgente a necessidade de sermos seres autênticos e éticos, a fim de proporcionarmos para nós mesmos e para os outros um mundo melhor. Um mundo mais humano. Um mundo de mais cuidados. VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 40 a 42, página 126. ANALISAR E ESCREVER: Questão 55 a 60, página 127. 10.3 AS VÁRIAS FORMAS DE SER Existe por parte das pessoas uma grande facilidade de falar das coisas. Entretanto, quando essas coisas se dão enquanto vida, mais 122

precisamente enquanto ser humano, não se torna tão fácil a tarefa de explicá-las. Não é fácil falar de um ser que possui infinitas características. Não é tão simples explicá-lo também, mas é possível analisarmos as mais variadas formas de compreensão dele, enquanto ser humano. Podemos começar por sua natureza humana, citando sua origem ou nascimento. Assim, fica mais fácil entendê-lo enquanto ser que se legitima em ações e atitudes. O ser não nasce só. Não vem ao mundo de forma solitária. É necessário o nascimento para existir a vida. A vida não se constrói no abstrato, mas em função de um objetivo maior. O ser humano é, por sua essência, social. A sociedade é uma forma de parceria para os homens. Os homens não seriam nada sem esse movimento social chamado sociedade. Não é à toa que Aristóteles dizia que o homem é um ser social e político. É necessário esse dualismo“sociedade e homem” para que ambos possam existir. Francisco Heitor Simões Gonçalves


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Unidade V A Filosofia do Ser

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Voltando para esse homem que nasce em uma família, torna-se mais simples identificar, através deste primeiro núcleo social, algumas ações e atitudes tomadas no decorrer de sua vida. Ora, o nascimento não traz em si somente a nossa forma de ser, mas, dependendo do lugar e tipos de pessoas com quem convivemos, podemos nos mostrar de uma determinada maneira e até assumir determinada forma ou postura. Esse SER pode ser chamado de ser social. Um ser que terá em sua vida direitos e deveres e que, de acordo com a situação, agirá de uma determinada forma, mesmo em momentos distintos, pois o ser humano é um ser situacional. Dentre os vários momentos do SER, não podemos deixar de lembrar que esse ser finito enquanto matéria traz, ou deve trazer ao longo de sua vida, o seu próprio pensar. Em nossa socieda-

de damos muito valor ao livre-arbítrio, sendo ele a forma de contemplar os nossos atos e a nossa consciência. Esse livre-arbítrio é muito importante, pois é através dele que podemos evidenciar o nosso verdadeiro eu. Obviamente que esse livre-arbítrio só terá valor se não for imposto por outras pessoas, senão não é livre-arbítrio, é imposição. A sociedade pós-moderna e contemporânea mostra-nos várias formas de SER tentando, em cada forma, mostrar um tipo de mensagem ou defendendo posturas de expressão. Hoje ouvimos muito falar da liberdade de expressão. Seria essa liberdade de expressão uma maneira de impor determinadas ideologias sobre a justificativa de ser o livre-arbítrio? Será que ao falarmos de discriminação, falamos somente sobre a cor das pessoas? Sobre negros e brancos? Não seria discriminação, no entanto, ser contra os direitos e deveres dos indígenas, estrangeiros, sem-terra, sem-teto, homossexuais, deficientes, analfabetos, pobres, catadores de lixo? Num mundo de inclusão, o livre-arbítrio tem papel fundamental na construção de uma sociedade humana e justa. Poderíamos até colocar também a palavra igualitária, mas observamos que este termo é um sonho muito distante, principalmente quando as condições de vida, de conhecimento e de acesso às necessidades básicas estão a quilômetros de distância da vida e dos corações de algumas pessoas que, com base no seu livre-arbítrio, excluem. Outra forma também de perceber esta exclusão se dá enquanto a disputa de gênero: homem e mulher. Cada um

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Capítulo 10 Cuidando do Ser

querendo ser mais do que o outro e se afirmar em nossa sociedade “machista”. Entretanto, é importante ressaltarmos que o sucesso e a prosperidade de cada um depende, principalmente, de suas habilidades e competências, e não porque um é mais forte do que o outro. No mundo da inclusão, aceitar o outro do seu jeito e com a sua maneira de pensar já é um bom passo.

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 43 a 46, página 126. ANALISAR E ESCREVER: Questão 61 a 64, página 127.

Para Saber Mais: Outras Leituras O SER A reflexão em torno do ser constitui um dos temas centrais da tradição filosófica ocidental. Os diferentes significados que se atribuem a esse conceito, no entanto, levaram seus estudiosos a adotarem os mais variados enfoques. Do ponto de vista gramatical, o termo “ser” pode ser entendido como verbo ou como substantivo. A forma verbal tem dois sentidos possíveis: de existência, como em “algo é”, ou de ligação, como em “algo é x”. O substantivo refere-se a uma essência, ao ser intrínseco de 124

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade V A Filosofia do Ser

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algo. Ainda que esses significados tenham estreitas relações entre si, a filosofia tende a privilegiar a última acepção e a definir o ser de modo geral como o princípio constitutivo único e a razão fundamental da realidade. O filósofo grego Parmênides, no final do século VI a.C., formulou pela primeira vez a noção de um ser único, homogêneo, infinito e imutável, que conteria em si tanto a ordem ideal quanto a material. Com base nesse conceito, ele negou a existência do “não-ser” – o nada – e do movimento ou da transformação dos fenômenos tais como percebidos pelos sentidos. Essa tese foi combatida pelos atomistas, que defenderam a existência de um “não-ser” e postularam uma concepção dinâmica da realidade. Platão retomou-a no século V a.C. Embora tenha admitido a existência de movimento no plano dos sentidos, Platão considerou o mundo sensível uma cópia imperfeita da ordem imutável das ideias ou essências transcendentes, partícipes da natureza do ser. Parmênides A fim de resolver essa controvérsia, fundamentalmente centrada em torno da oposição entre “permanência” e “transformação”, Aristóteles enfatizou a dupla natureza do significado do ser: por um lado, o fato de ser é a única característica comum a todas as coisas; por outro, concebe-se o ser como princípio essencial da realidade, sua própria“razão de ser”. De acordo com o primeiro aspecto, só é cognoscível aquilo que se manifesta no existente; de acordo com o segundo, o ser é imutável e eterno. Tal concepção foi resgatada pela escolástica medieval mediante a distinção entre ens (“ente”, em latim) e esse (“ser”, em latim). O primeiro termo alude ao que a realidade é, e o segundo à causa do que a realidade seja. A partir do século XVII, a polêmica sobre a natureza do ser assumiu outro enfoque e passou a se concentrar na afirmação ou na negação da existência real de uma substância, ou princípio fundamental da realidade. Assim, os filósofos racionalistas e idealistas tenderam a postular tal existência, enquanto os pensadores empiristas, positivistas e, em geral, todos aqueles que se filiaram a abordagens materialistas, consideraram que noções como “ser” ou “substância” eram meras especulações abstratas. No século XX, a progressiva rejeição às postulações metafísicas fez com que esse problema fosse aos poucos abandonado. Várias correntes passaram a considerar a chamada “pergunta pelo ser” como uma falsa questão. O filósofo alemão Martin Heidegger, no entanto, resgatou-a na década de 1920, ao considerar o ser como o problema central de toda filosofia e ponto de partida para a compreensão plena da existência humana. Fonte: www.recantodasletras.uol.com.br/ensaios/49268 http://br.geocities.com/sidereusnunciusdasilva/ser.htm

Com base no texto, responda: a) Qual a diferença do SER do ponto de vista gramatical para o do ponto de vista filosófico? b) O que é SER imutável e eterno, segundo o texto? Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 10 Cuidando do Ser

Para Debater e Refletir

D. 37 Viver significa apenas estar vivo? Comente.

D. 38 O que é essencial para a vida? Comente.

D. 39 O que o autor quer dizer com “somos seres voltados para a vida”? Comente.

D. 40 É possível, ao cuidar de si, o ser humano cuidar dos outros? Explique.

D. 41 Existem várias formas de cuidar de alguém? Justifique as formas que você citou.

D. 42 Cuidar do ser é cuidar do coletivo? Você concorda ou discorda do autor? Comente com a turma a sua reflexão.

D. 43 O mundo em que vivemos hoje faz de você um SER melhor? Comente.

D. 44 O mundo em que vivemos hoje exclui ou inclui as pessoas nos locais em que vivem, trabalham e se divertem? Justifique sua resposta.

D. 45 Com o avanço das mulheres na sociedade, o mundo ficou mais humano? Comente.

D. 46 Você acha que a mulher tem mais habilidades do que o homem? Justifique sua resposta.

Para Analisar e Escrever

A. 52 Como você vive a sua vida? Explique.

A. 53 Um ser equilibrado é realmente um ser virtuoso? Comente.

A. 54 Como uma sociedade pode valorizar mais o ter do que o ser? Comente. 126

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Unidade V A Filosofia do Ser

A. 55 Zelar é o mesmo que cuidar? Explique.

A. 56 Em sua opinião, qual a melhor forma de cuidar de alguém? Justifique sua resposta.

A. 57 O que você compreendeu da poesia anteriormente citada? Comente.

A. 58 Dê dois exemplos de como cuidar do nosso corpo e dois exemplos de como cuidar do nosso espírito.

A. 59 Faça uma poesia criada por você sobre o tema: Vida, como cuidá-la.

A. 60 Usando a sua habilidade de raciocinar, elabore uma questão sobre o que foi estudado em sala de aula e peça a algum colega para responder.

A. 61 Você acredita que todas as pessoas devam ter os mesmos direitos? Justifique sua resposta.

A. 62 Você acha que, com todo o avanço que a sociedade passou até os dias de hoje, é possível que não haja mais exclusões sociais? Comente.

A. 63 O que é livre-arbítrio para você? Explique.

A. 64 Você poderia citar outros tipos de SER que não foram citados no item 10.3? Enumere-os.

Chegamos ao final da unidade V. Exercite aqui a sua habilidade de pensar, raciocinar e comparar, registrando o que você adquiriu de conhecimento novo.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 10 Cuidando do Ser

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SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES

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BUSCÁGLIA, Léo. Vivendo, amando e aprendendo; 7a Edição, Record Editora; Rio de Janeiro, 1982.

CHAUÍ, Marelena. O que é ideologia. Coleção Primeiros Passos, Vol. 13. Ed. Brasiliense, 12a ed. 1983.

KIERKEGAARD, Soren. O desespero humano. Coleção obra-prima de cada autor. Ed. Martin Claret. São Paulo, 2001.

PRECHT, Richard David. Quem sou eu? E, se sou, quantos sou?: uma aventura na filosofia. 1a edição. Ediouro. Rio de Janeiro. 2008.

VALADÃO, Laura. Economia, política e mudança social. EDUSP Martins Fontes editora.

Uma Mente Brilhante – Dreamworks.

Em Busca da Terra do Nunca – Imagem Filmes.

Sete Anos no Tibet – Spectra Nova.

O Jardineiro Fiel – Universal.

Cold Mountain – Buena Vista Home Entertainment.

Um Sonho de Liberdade – Warner Bros.

Antes de Partir – Warner Bros Pictures.

O Som do Coração – Warner Bros.

Noites de Tormenta – Warner Bros.

Annapolis – Touchstone Pictures.

Juntos pela Vida – HBO Filmes.

As Férias da Minha Vida – Paramount Pictures.

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade

VI

A Filosofia da Fé

Registre, no seu caderno, o que você já sabe ou ouviu falar sobre a fé.

Bénes

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• O que é fé? • Só os seres racionais a possuem? • Todos os homens possuem algum tipo de religião ou doutrina? • A fé é um gesto particular ou coletivo?


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A Necessidade da Fé Tchesco

Capítulo

A fé vem de dentro da pessoa ou a adquirimos pelos hábitos e costumes de um determinado lugar? Introdução Shutterstock

É muito comum, em todos os lugares do planeta, pessoas professarem algum tipo de fé ou religiosidade. Existem muitas religiões como, também, muitas formas de cultos e divindades. Esse exercício constante da fé é a marca de todas as religiões e doutrinas. O homem busca em um ser supremo um apoio, um consolo, uma palavra, uma salvação para a sua vida e para os seus males físicos e espirituais. Isso não significa dizer que todas as pessoas participem de religiões ou doutrinas, muito pelo contrário, existem aqueles que não possuem ou dizem não possuir nenhum tipo de fé em um ser supremo: são os ateus. Estudar ou professar a fé de maneira racional é uma maneira de mostrar o quanto é possível se ter uma vida harmoniosa. Para alguns, a fé é mero instrumento de dominação. Para outros, é o caminho, a luz e a salvação. Este capítulo tem como objetivo clarear algumas ideias, obscuras ou não, no tocante à fé e à religiosidade das pessoas. 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

A LEI DO PROGRESSO Como a evolução do Universo e da Humanidade começa pelo esforço de cada um.

“Parece que se considera a Humanidade em seu estado primitivo e em seu estado atual, quando sua primeira aparição na Terra marcava seu ponto de partida e agora, que percorreu uma parte do caminho que leva à perfeição, parece, dizia eu, que todo bem, todo progresso, toda filosofia, enfim, não possa nascer senão do que lhe é contrário”. 130

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Unidade VI A Filosofia da Fé

Com efeito, toda formação é produto de uma reação, assim como todo efeito é gerado por uma causa. Todos os fenômenos morais, todas as formações inteligentes são devidos a uma momentânea perturbação da inteligência mesma. Apenas na inteligência dois princípios devem ser considerados: um imutável, essencialmente bom, eterno com tudo o que é infinito; outro temporário, momentâneo, simples agente empregado para produzir a reação de onde sai cada vez a progressão dos homens. O progresso abraça o Universo durante a eternidade e jamais é tão espalhado como quando se concentra num ponto qualquer. Vós não podeis abraçar com o olhar da imensidade do que vive, consequentemente do que progride. Mas olhai em redor de vós: o que é que vedes? Em certas épocas – pode se dizer em momentos previstos, designados – surge um homem que abre uma vida nova, que escarpa os rochedos áridos de que se acha semeado o mundo conhecido da inteligência. Por vezes, tal homem é o último entre os humildes, entre os pequenos; contudo penetra nas altas esferas do desconhecido. Arma-se de coragem, pois esta lhe é preciso para lutar corpo a corpo com os preconceitos, com os usos herdados; é-lhe necessário para vencer os obstáculos que a má fé semeia sob seus passos, porque enquanto restarem preconceitos a derrubar, restarão abusos e interesses nos abusos; é-lhe necessário porque deve lutar ao mesmo tempo, contra as necessidades materiais de sua personalidade, e sua vitória, neste caso, é a melhor prova de sua missão e de sua destinação. Chegado a esse ponto, em que a luz se escapa forte do círculo do qual é o centro, todos os olhares se voltam para ele; ele assimila todo princípio inteligente e bom; reforma e regenera o princípio contrário, a despeito dos preconceitos, da má fé, das necessidades; chega ao seu objetivo, faz a Humanidade transpor um grau e conhecer o que não era conhecido. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 11 A Necessidade da Fé

Tal fato já se repetiu muitas vezes e repetir-se-á muitas outras, antes que a Terra tenha atingido o grau de perfeição que convém à sua natureza. Mas, tantas vezes quantas forem necessárias, Deus fornecerá a semente e o trabalhador. Este trabalhador é cada homem em particular, como cada um dos gênios que a ilustram por uma ciência às vezes sobre-humana. Em todos os tempos houve esses centros de luz, pontos de ligação; e o dever de todos é aproximar-se, ajudar e proteger os apóstolos da verdade. É o que o Espiritismo vem dizer ainda. Apressai-vos, pois, vós todos que sois irmãos pela caridade. “Apressai-vos e a felicidade prometida à perfeição vos será concedida muito mais cedo.” Espírito Protetor – Lyon, 17 de setembro de 1862 – Médium: Sr. Émile V. em sessão geral, presidida por Allan Kardec – Revista Espírita (janeiro de 1983) – Edicel. Fonte: A Lei do Progresso: como a evolução do universo e da humanidade começam pelo esforço de cada um. Revista: Espiritismo, Filosofia, Ciência e Religião, ano 2, n 5, págs.12 e 13, 2008.

Com base no texto, responda: a) Explique a frase: “Todo efeito é gerado por uma causa”. b) A lei do progresso pode atingir a todos?

Para Construir o Conhecimento Filosófico

No decorrer da história, sempre existiram manifestações humanas no sentido de um caminhar para Deus. Mesmo sem a efetivação do processo de consciência crítica, agindo até de forma mítica, os primitivos atribuíam às divindades a origem do mundo e os fenômenos que aconteciam na natureza. Tudo o que acontecia e não possuía uma explicação racional era dado como ação ou intervenção divina, ou seja, o homem, na tentativa de explicar o “não explicável”, atribuía a Deus ou aos deuses do lugar essas ações. A história é um bom espaço social para se fazer sempre e a cada instante uma análise de conjuntura. Não podemos dizer, é claro, que tudo o que acontece em nossas vidas já é pré-determinado ou já estava escrito para acontecer. Caso a vida acontecesse dessa forma, qual seria o mérito de vivê-la? Por assim dizer, uma vida aceita dessa forma não seria vida, mas apenas um completar de espaço e de tempo. 132

O homem sempre encontrou uma maneira de se relacionar com Deus, admirando-o, valorizando-o, buscando-o, sentindo-o, necessitando-o e, até mesmo, usando-o. Essa relação é dada à medida e na forma de como esse relacionamento existe. Buscar Deus em nossas ações é buscar a perfeição divina que se transforma em perfeição humana. Poderia o homem ser humano e divino? Como significar ou identificar esse tipo de homem? Jesus Cristo foi exemplo dessa dualidade. Foi humano e divino. Viveu como homem com Shutterstock

11.1 O HOMEM DE FÉ (HOMEM VOLTADO PARA DEUS)

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Unidade VI A Filosofia da Fé

seus desejos e necessidades, como também transcendeu essa humanidade ao ser instrumento de Deus, seu pai, que“está no céu”. Vivenciou e experimentou da alegria, da tristeza, das vontades, das abnegações, das traições, dos milagres, da fé, das amizades. Enfim, ao cumprir sua missão terrena, divulgando a mensagem de Deus através da pregação do amor, ele cumpriu o seu papel como homem e filho de Deus. Aos apóstolos, seus seguidores, pessoas simples do povo, coube-lhes a missão de continuar os ensinamentos do mestre Jesus. Até hoje, milhões e milhões de pessoas seguem seus ensinamentos. Ensinamentos esses que trazem de forma clara e objetiva as seguintes mensagens:“Amem uns aos outros como eu vos amei”; “Amem a Deus sobre todas as coisas”; “Revide o mal com o bem”; “Se alguém bater em tua face esquerda, oferece a tua face direita para que também possam bater”. A força da palavra em Cristo Jesus foi tão marcante, tão forte e tão verdadeira, que ele nada escreveu. No entanto, suas ações estavam tão impregnadas de valores morais e espirituais, que a força das palavras transcenderam o próprio tempo. Hoje, seus ensinamentos ainda continuam vivos, sendo marcantes e transformadores de mentes. Cada religião ou doutrina tem a sua divindade e o seu ser ou seres divinos a serem respeitados. Aqui, cabe-nos as seguintes reflexões: O respeito pode ser transformado em idolatria? A necessidade da fé nos faz perder, enquanto homens, a consciência crítica e reflexiva? É possível crer sem a existência da fé? Por que temos a necessidade da crença em um ser divino e superior? Seria a necessidade da fé um conformismo para “legitimar” a vida que cada um de nós tem e leva? O que é bem sabido é que, independente da religião ou doutrina que sigamos, não podemos dissociar a fé da moral. Um homem moralmente reto é um homem que, no mínimo, anda pelo caminho do Bem.

A necessidade da fé ou da crença em algo acontece num primeiro momento de forma interior. O meu SER e a minha vontade de caminhar para o bem são o primeiro passo para a minha relação de fé com Deus, com a minha religião ou com a minha doutrina. A fé pode ser medida ou explicada? Podemos observar que, em alguns casos, a fé pode ser explicada sim, mas medida não. A fé não pode ser tocada, dada, exposta, já que ela é sentida. Não podemos dar a nossa fé ou entregá-la a alguém, porque a fé é um sentimento individual. Ela pode até ser experimentada coletivamente, quando os outros também professam e a sentem da mesma forma ou maneira. Essa fé externalizada é encontrada em rituais, missas, cultos, pregações, manifestações, enfim, no encontro de seres que pensam e agem da mesma forma. Muitas pessoas, ao participarem desses encontros de fé, experimentando-os, também passam a sentir uma paz, uma tranquilidade que se externa aos seus olhos, tornando-as divulgadoras das mudanças acontecidas com elas. Dizem alguns que esse foi um momento de encontro com Deus. É por isso que muitas pessoas, ao se despojarem de uma vida de vícios para entrarem em uma nova maneira de viver, passam a“pregar”de uma hora para outra os ensinamentos de Jesus Cristo ou de outros líderes religiosos? VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 47 a 50, página 148. ANALISAR E ESCREVER: Questão 65 a 68, página 149. 11.2 RELIGIÕES E DOUTRINAS – UMA QUESTÃO DE FÉ Continuando a desvendar, elucidar e compreender os caminhos que nos levam a Deus é que começaremos uma grande leitura sobre esse vasto e grande tema chamado religião. Muitos dizem que doutrina não é religião,

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os padrões normais da sociedade, ela é logo taxada de “falsa”, hipócrita e mentirosa. Dizem até a seguinte frase: “Andam como pessoas santas dentro dos templos e igrejas, mas, fora deles, não fazem nada que Deus ou que o santo Evangelho manda”. É importante percebermos que é justamente aí onde entra a questão da moralidade. Como um ser que vive falando e pregando as palavras de Deus pode não praticá-las? O próprio Evangelho diz: “Vedes um cisco no olho do outro e não vedes um argueiro no teu próprio olho”, ou seja, vedes o mal ou as coisas ruins feitas pelos outros e não olhai para os próprios erros. A princípio a religião se torna valorosa por fazer essa ligação terrena com Deus, que “está no céu”. A palavra religião é originada do latim e significa re-ligare, ou seja, uma (re)ligação com o divino. É importante observarmos que esta definição traz de forma bem ampla qualquer aspecto ligado às religiões e doutrinas, pois a religação evidencia sempre um caráter metafísico, ou seja, uma forma de transcender o mundo físico, material. Shutterstock

que ela, a doutrina, está dentro de uma religião, pois não existem religiões sem um sistema doutrinário. Então, começamos numa tentativa de elucidar o que é religião e o que é doutrina. Segundo o dicionário Melhoramentos, religião é crença ou doutrina religiosa, veneração às coisas sagradas, devoção, fé, piedade. Já a palavra doutrina é descrita como um conjunto de princípios de um sistema religioso, político ou filosófico; instrução cristã. Pelas significações dos termos do dicionário, podemos compreender que um sistema religioso é bem mais amplo que um sistema doutrinário. Assim, fica muito mais fácil entender porque, ao sairmos de nossas casas, encontramos quase que, em cada esquina, templos de diversas doutrinas, professando algum tipo de religião. Como a religião é mais ampla, algumas pessoas retiram princípios religiosos voltados para o bem comum e, de certa forma,“criam”suas religiões. Assim, retalham os ensinamentos de Jesus Cristo e em qualquer espaço que comportem algumas dezenas de cadeiras, evidenciam a sua“fé”. É bem verdade que a fé, como falamos anteriormente, é algo inerente a cada ser. Portanto, não estamos aqui a questionar a fé das pessoas ou os lugares os quais elas frequentam para se sentirem confortadas espiritualmente. Muito pelo contrário, esse capítulo nos ajuda a entender melhor as ações das pessoas de fé. É muito comum observarmos que a nossa conduta moral está intrinsecamente ligada a conduta da religião ou doutrina professada. Isso porque observamos que grande parte das religiões ou doutrinas possuem um código moral muito parecido com a conduta dos seus líderes religiosos. Eles são exemplos e, sendo exemplos, são seres que tentam exibir uma perfeição. Nos dias atuais, é bem comum as pessoas rotularem as outras por conta da religião que seguem. Assim, caso uma pessoa de determinada religião faça algo de “errado” para

É interessante dizer que, ao longo do pensamento humano, vários filósofos e pensadores também deixaram uma contribuição a respeito do que pensavam sobre Deus e sobre a religião. Um deles foi Karl Marx, alemão, considerado o pai do comunismo, que afirmou: “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições deFrancisco Heitor Simões Gonçalves


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salmadas. É o ópio do povo”. Esta frase, “a religião é o ópio do povo”, tornou-se célebre. O que podemos, no entanto, entender por esse pensamento de Karl Marx? Em pesquisa feita em livros, pode-se verificar que o ópio era um narcótico que a companhia britânica das índias orientais contrabandeavam para a Índia e a China. O que teria a ver a comparação do ópio com a religião? Seria porque o narcótico entorpece as pessoas? Assim, a religião teria, para Marx, esse sentido de entorpecer, alienar? A religião seria uma forma de se apegar a algo divino, no sentido de esquecer as dores e o sofrimento gerado pelo sistema capitalista,

desigual e desumano? Será que o sofrimento religioso chegaria a compensar o sofrimento da vida real? Enfim, questionamentos que você poderá descobrir conhecendo e pesquisando um pouco mais da vida, história e pensamento desse grande filósofo. VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 51 a 56, página 148. ANALISAR E ESCREVER: Questão 69 a 73, página 149.

Para Saber Mais: Outras Leituras

Texto 1 RELIGIÃO: EM BUSCA DA TRANSCENDÊNCIA O que é religião? Qual a diferença de seita? Mitologia é religião? O que é heresia?

Religião deriva do termo latino “Re-Ligare”, que significa “religação” com o divino. Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo metafísico, ou seja, além do mundo físico. Sendo assim o hábito, geralmente por parte de grupos religiosos de taxarem tal ou qual grupo religioso rival de seita, não tem apoio na definição do termo. Seita, derivado da palavra latina “Secta”, nada mais é do que um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas como tal também é religião. Heresia é outro termo mal compreendido. Significa simplesmente um conteúdo que vai contra a estrutura teórica de uma religião dominante. Sendo assim o Cristianismo foi uma Heresia Judaica, assim como o Protestantismo uma Heresia Católica, ou o Budismo uma Heresia Hinduísta. A Mitologia é uma coleção de contos e lendas com uma concepção mística em comum, sendo parte integrante da maioria das religiões, mas suas formas variam grandemente dependendo da estrutura fundamental da crença religiosa. Não há religião sem mitos, mas podem existir mitos que não participem de uma religião. Mística pode ser entendida como qualquer coisa que diga respeito a um plano sobre material. Um “Mistério”. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Presença da religião em toda a cultura humana

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Não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra “ciência” social, de um grupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são então um fenômeno inerente a cultura humana, assim como as artes e técnicas. Grande parte de todos os movimentos humanos significativos tiveram a religião como impulsor, diversas guerras, geralmente as mais terríveis, tiveram legitimação religiosa, estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento científico, “filosófico” e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder político e social. Hoje em dia, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteveram seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a Religião continua a promover diversos movimentos humanos, mantendo estatutos políticos e sociais. Tal como a Ciência, a Arte e a Filosofia, a Religião é parte integrante e inseparável da cultura humana e muito provavelmente sempre continuará sendo. Tipos de religiões Há várias formas de religião, e são muitos os modos que vários estudiosos utilizam para classificá-las. Porém há características comuns às religiões que aparecem com maior ou menor destaque em praticamente todas as divisões. A primeira destas características é cronológica, pois as formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos nos sucessivos estágios culturais de qualquer sociedade. Outro modo é classificá-las de acordo com sua solidez de princípios e sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões “com” e “sem” Livros Sagrados. Pessoalmente como um estudioso no assunto, prefiro uma classificação que leva em conta essas duas características, e divide as religiões nos seguintes 4 grandes grupos distintos: Panteístas

Politeístas

Monoteístas

Ateístas

Nessa divisão há uma ordem cronológica. As Religiões panteístas são as mais antigas, dominando em sociedades menores e mais “primitivas”. Tanto nos primórdios da civilização mesopotâmica, europeia e asiática, quanto nas culturas das Américas, África e Oceania. As Religiões politeístas por vezes se confundem com as Panteístas, mas surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto mais a sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai se tornando Politeísmo.

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Já as monoteístas são mais recentes, e atualmente as mais disseminadas, o Monoteísmo quantitativamente ainda domina mais da metade da humanidade. E embora possa parecer estranho, existem religiões ateístas, que negam a existência de um ser supremo central, embora possam admitir a existência de entidades espirituais diversas. Essas religiões geralmente surgem como uma reação a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta, e em muitos aspectos se confunde com o Panteísmo, embora possua características exclusivas. Essa divisão também traça uma hierarquia de rebuscamento filosófico nas religiões. As Panteístas, por serem as mais antigas, não têm Livros Sagrados ou qualquer estabelecimento mais sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o renascimento panteísta esteja mudando isso. Já as politeístas muitas vezes possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas nenhuma possui uma revelação propriamente dita. Isto é um privilégio do Monoteísmo. Todas as grandes religiões monoteístas possuem sua Revelação Divina em forma de Livro Sagrado. As Ateístas também possuem seus livros guias, mas por não acreditarem num Deus pessoal, não têm o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas em geral como tratados filosóficos. Panteísmo – Deus é tudo Politeísmo – Deus é plural Monoteísmo – Deus é um Ateísmo – Deus é nada FONTE: http://www.xr.pro.br/Religiao.html, pesquisado no dia 01/04/2009.

Com base no texto, responda: a) Cite como são classificadas as religiões. b) Você concorda com a afirmação de que “todas as grandes religiões monoteístas possuem sua Revelação Divina em forma de Livro Sagrado”? Justifique sua resposta. Texto 2 O QUE É RELIGIÃO Houve um tempo em que os descrentes, sem amor a Deus e sem religião, eram raros. Todos eram educados para ver e ouvir as coisas do mundo religioso e a conversa cotidiana confirmava que este é um universo encantado que esconde e revela um poder espiritual. A exigência de um sentido para a vida trazia às religiões uma certa identidade e lhes dava vida. Apesar do encanto ter sido quebrado, a religião não desapareceu. Mudou de foco e de moradia. Enquanto no mundo sagrado, a experiência religiosa era parte integrante de cada um, no mundo das ciências fora colocada para fora. No entanto, ela resistiu, surge forte quando se esgotam os recursos diante de um coração arrasado pela dor e insegurança. A religião surge na vida humana como tentativa de transubstanciar a natureza e dar espaço aos seus desejos em busca dos horizontes. Enquanto o animal é o seu corpo, sempre Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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produzindo a mesma coisa, os homens se recusaram a ser aquilo que o passado lhes propunha. Na sua inquietação e busca, produziram cultura e educaram. Criaram mundos imaginários e passaram de geração em geração através da cultura que se estruturou a partir de seu desejo. Sendo o desejo sintoma de privação, a cultura cria exatamente o objeto desejado na busca de um mundo que possa ser amado. No entanto, a cultura não é garantia de que o desejo foi alcançado, mas é externalização do desejo em meio à sua ausência. Enquanto o desejo não se realiza, resta cantá-lo, dizê-lo, celebrá-lo. Nascem então os símbolos, testemunha das coisas ainda ausentes, saudade de coisas que não nasceram, no ponto em que a cultura fracassou, como horizontes direcionadores. Nenhum fato, coisa, ou gesto, entretanto, é encontrado já com as marcas do sagrado. Eles se tornam religiosos quando os homens os batizam como tais. A religião nasce quando os homens dão nomes às coisas, atribuindo-lhes valores e dependurando neles o seu destino. Ela não está preocupada com os fatos, mas com os objetos que a imaginação pode construir em busca do esperado. As entidades religiosas se identificam com as imaginárias que tornam o mundo humano uma realidade. A natureza não depende da vontade humana para existir. Mas a cultura é diferente. Tudo que surgiu com a atividade humana (adornos, linguagem etc.) quando o homem desaparecer desaparecerá. As coisas culturais foram inventadas, no entanto, aparecem aos nossos olhos como se fossem naturais pelo processo de reificação, ou, como prefere Rubem Alves, coisificação. Isso se aplica de maneira peculiar aos símbolos. De tanto serem repetidos e compartilhados com sucesso nós os reificamos, passamos a tratá-los como se fossem coisas. Os símbolos que se mantêm vitoriosos recebem o nome de verdade, enquanto os derrotados são ridicularizados como superstições ou perseguidos como heresias. O universo religioso encantado não poderia ser manipulado ou controlado pela burguesia que encontrou na previsibilidade da matemática, instrumento ideal para a construção de um mundo vazio de mistérios e dominado pela razão. O mundo religioso e seus símbolos foram lançados nas chamas. Alinhada aos interesses da burguesia, a ciência se apresenta vitoriosa. Determina que o conhecimento só pode ser alcançado através do método científico. E o discurso religioso? Só pode ser classificado como engodo consciente. Estabeleceu-se um quadro simbólico no qual não havia lugar para a religião. Deus ficou confinado aos céus, dividindo-se áreas de influência: aos comerciantes e políticos foram entregues a terra, os mares, as fábricas e até os corpos das pessoas. A religião foi aquinhoada com a administração do mundo invisível, o cuidado da salvação, a cura das almas aflitas. No entanto, os julgamentos de verdade e de falsidade não podem ser aplicados à religião, pois no mundo dos homens podem ser encontrados dois tipos de coisas: as coisas/símbolo, aquelas que significam outras e as coisas que são elas mesmas, não significam outras. Enquanto os símbolos carecem de comprovação, as coisas são elas mesmas e não precisam passar pelo crivo de falso ou verdadeiro. A religião se apresenta como coisa e sua realidade não pode ser negada. As religiões se estabelecem e subsistem a partir da divisão bipartida do universo entre o sagrado e o profano. Sagrado e profano não são propriedades das coisas. Eles se estabelecem pelas atitudes dos homens perante coisas, espaços, tempos, pessoas, ações. Enquanto o 138

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mundo profano se resume ao círculo do utilitário, o sagrado avança para o ideal. Se o homem é senhor do mundo utilitário, no sagrado ele é servo. O sagrado é apresentado como centro do mundo, a origem da ordem, a fonte das normas, a garantia da harmonia que se manifesta na e pela sociedade. A religião como fato social não está completamente à mercê da análise sociológica, pois os sentimentos religiosos se encontram numa esfera de experiência indiferente à análise sociológica, por ser íntima, subjetiva e existencial. A religião é o clamor daqueles que sofrem e sonham para acalentar a alma, definindo o mundo sagrado como um grito que ecoa a essência humana. A religião tem um caráter ambivalente: ela pode prestar a objetivos opostos, tudo dependendo daqueles que manipulam os símbolos sagrados. Ela pode ser usada para iluminar ou para cegar. Mas, na figura dos mártires tem sido expressão das dores e das esperanças dos que não têm poder, apresenta um Deus que é o protesto e o poder dos oprimidos dando o toque e o sentido para a vida, declarando que vale a pena viver. ALVES, Rubem. O que é religião?, 2007. Resenha de: CAMPOS, Rev. Disponível em: http://pt.shvoong.com/social-sciences.

Com base no texto, responda: a) Como você explica a frase do autor “Houve um tempo em que os descrentes, sem amor a Deus e sem religião, eram raros”? b) Você concorda com o autor quando ele diz “Enquanto o mundo profano se resume ao círculo do utilitário, o sagrado avança para o ideal”? Justifique sua resposta. Texto 3 O PROTESTANTISMO E AS IGREJAS DA REFORMA O Protestantismo e as igrejas da reforma Origem e significado do termo

O uso do termo “protestante” pode indicar, numa primeira e superficial interpretação, os cristãos que se separam da Igreja de Roma. Se, por um lado, isso pode sugerir uma conotação negativa, por outro, há todo um embasamento histórico que não pode ser desconsiderado. Assim “protestante” deriva de um fato histórico, isto é, da grande manifestação feita por alguns Estados e príncipes alemães, em 1529, em protesto contra decisões de caráter religioso, mas de motivação também política.

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O termo ainda foi utilizado em referência aos movimentos reformados que se seguiram. No entanto, procurando evitar a acentuação crítica contra a Igreja de Roma, muitos preferem empregar o termo “evangélico”, certamente menos polêmico e que lembra uma das características positivas de todo o movimento reformador: a volta à mensagem evangélica original. Muitas Igrejas surgidas desse movimento também se denominaram “Igrejas reformadas”, evocando o propósito de uma permanente disponibilidade à conversão e à renovação. Um pouco de história http://www.albertmohler.com/wp-content/ blogs.dir/40/files/2009/08/martin-luther-1532.jpg

O surgimento da Reforma Protestante foi e continua sendo considerado um dos mais importantes acontecimentos da história, pois suas consequências, ainda hoje, permanecem vivas em nível religioso, político, econômico e cultural. Para entender esse fenômeno, devemos enquadrá-lo no contexto da época e, sobretudo, evidenciar as causas que o determinaram. Antes de mais nada, é necessário limpar o terreno da interpretação preconcebida, muito difundida no passado entre protestantes e católicos e que ainda encontra seguidores nas obras de divulgação e nos meios de comunicação social e esclarecer que a causa da Reforma protestante não foram apeMartinho Lutero,1532 nas os abusos e desordens tão comuns na Igreja de então, sobretudo na cúria romana. O próprio Lutero desmente tal causa: “A vida é má entre nós como entre os papistas, mas nós não os condenamos por sua vida prática. A questão é outra: se eles seguem a verdade”. Causas da Reforma

• Causas político-religiosas A partir do século XIV, a autoridade dos papas sofreu um forte declínio: de um lado, perderam a força política com que, embora em meio a lutas e resistências, nos séculos anteriores conseguiram erigir-se como supremos moderadores nas controvérsias políticas. No século XIV, na Europa, começou a afirmar-se o nacionalismo com os soberanos locais, que se desvinculavam da submissão ao imperador e ao papa. Do outro lado, o exílio de Avinhão (1309-1376), com a dependência do papa ao rei da França, e o Cisma do Ocidente (1378-1417), durante o qual houve até três papas ao mesmo tempo, abalaram muito a autoridade e o prestígio do pontífice romano diante do povo. Nesse contexto, surgiram teorias chamadas conciliaristas, que sustentavam a superioridade do concílio sobre o papa, chegando a propor modelos de Igreja de tipo“democrático”. Como consequência de tudo isso, afirmou-se a tendência para formação de Igrejas nacionais (na França, Alemanha e Inglaterra), o que constitui uma das principais causas da revolução protestante. 140

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• Causas culturais Um vento de novidade percorreu a Europa a partir do século XV: era o Renascimento que, reagindo à fuga do mundo e à subordinação direta de tudo à religião, típicas da Idade Média, reivindicava a necessidade da autonomia das atividades humanas, com risco, porém, de chegar à separação. Era o início do caminho que levou o homem ocidental ao progressivo afastamento e até negação de Deus. Característicos das épocas moderna e contemporânea. Ao mesmo tempo, a teologia perdera o contato com a reflexão dos grandes autores medievais (Tomás de Aquino, Boaventura) para reduzir-se a discussões vazias, longe da realidade (nominalismo). Occam, que exerceu grande influência sobre Lutero, reduzia muito a capacidade da mente humana de atingir a realidade, enquanto exacerbava a onipotência divina. Em geral,“a teologia”, como dizia o próprio Lutero,“está reduzida a meras opiniões... sem mais certeza alguma”. Wycleff, Hus e Wessel, fundadores de movimentos reformadores nos séculos XIV e XV, contrapunham à Igreja visível uma Igreja espiritual e pobre, sem poderes nem estruturas. Nesses mesmos séculos, difundiram-se correntes espirituais e místicas, que acentuavam a dimensão íntima e subjetiva na experiência com Deus ou que evidenciavam unilateralmente a onipotência da graça divina, chegando até a considerar inúteis as obras do cristão para sua salvação. Essas ideias terão lugar fundamental na doutrina luterana. • Causas religiosas

Sobretudo na Alemanha, duas classes sofriam com a crise econômica surgida após a descoberta da América: os cavaleiros e os camponeses. Os primeiros tinham perdido seu antigo poder e procuravam o meio para recuperá-lo: assim, a posse dos bens da Igreja poderia oferecer-lhes uma cômoda e fácil oportunidade. Entre os camPhylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

Trecho das 95 teses de Lutero.

• Causas sociais

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Além daquelas que apareceram anteriormente, há uma causa que já lembramos: a corrupção da Igreja. Dissemos que esta não pode ser considerada a causa principal da Reforma Protestante, mas é inegável que ela tornou mais fácil a difusão da revolta. Os bispos provinham exclusivamente da nobreza, levavam uma vida mundana, ocupados em ficar cada vez mais ricos, sem se preocupar com sua responsabilidade pastoral. Os sacerdotes eram numerosos, mas constituíam, sobretudo no campo, o proletariado clerical: pobres, pouco instruídos, em sua grande maioria não observavam o celibato. Também nos conventos, masculinos e femininos, a situação muitas vezes era lamentável. Isso, porém, não deve fazer esquecer que, já antes de Lutero, havia notáveis iniciativas de reforma em toda a Igreja por parte de religiosos, bispos e leigos.

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poneses, ainda na condição de escravos, há muito estava incubado o fermento revolucionário, que já havia explodido com violência em revoltas que, periodicamente, sacudiam a Alemanha, desde o final do século XV. Eles esperavam a hora da própria libertação. Todo esse conjunto de fatores religiosos, culturais, políticos e sociais constituía um imenso material explosivo. Bastava uma centelha para fazê-lo estourar. Lutero foi o estopim, com sua personalidade forte e inspirada. A data exata do começo desse processo foi estabelecida a partir das 95 teses de Lutero, publicadas em novembro de 1517 (e não fixadas no dia 31 de outubro nas portas da Igreja de Wittenberg, como tradicionalmente se pensava). Fonte: BRADANINI, Sérgio. O Protestantismo e as Igrejas da Reforma. Revista Mundo e Visão. Disponível em <www.pime.org.br/mundoevisao>

Com base no texto, responda: a) No texto, o termo “protestante” está usado de forma correta? b) Em sua opinião, a reforma protestante foi importante para a História? Justifique sua resposta. Texto 4 SERMÃO DA MONTANHA (5 – 7) As bem-aventuranças (= Lc 6,20-49)

5 1 Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaramse dele. 2 Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo: 3 “Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus! 4 Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! 5 Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra! 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! 8 Bem-aventurados os puros de coração, porCarl Bloch, O Sermão da Montanha que verão Deus! 9 Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! 10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! 11 Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo mal contra vocês por causa de mim. 12 Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.” 142

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Sal da terra e luz do mundo (Mc 9,50; 4,21 = Lc 14,34s)

13 “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens. 14 “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha 15 nem se acende uma luz para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. 16 Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está no céus.” Fonte: Novo Testamento, Mt 5: 1-16

Com base no texto, responda: a) Quem são os bem-aventurados? b) Quem é o “sal da terra”? Texto 5 OS INFORTÚNIOS OCULTOS dialogos.wordpress.com/2009/10/03/reverenciando-kardec

Nas grandes calamidades, a caridade de manifesta, e veem-se generosos impulsos para reparar os desastres; mas, ao lado desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares que passam despercebidos, de pessoas que jazem sobre um catre sem se lamentarem. São a esses infortúnios discretos e ocultos que a verdadeira generosidade sabe ir descobrir, sem esperar que eles venham pedir assistência. Quem é esta mulher de ar distinto, vestida de maneira simples, mas cuidada, seguida de uma jovem vestida também modestamente? Entra numa casa de sórdida aparência, onde é conhecida, sem dúvida, porque, à porta, a saúdam com respeito. Aonde vai ela? Sobe até a mansarda: lá mora uma mãe de família cercada de filhos pequenos; à sua chegada, a alegria brilha nesses semblanAllan Kardec tes emagrecidos; é que ela vem acalmar todas essas dores; traz o necessário, temperado com doces e consoladoras palavras, que fazem aceitar o benefício sem corar, porque esses infortunados não são mendigos profissionais; o pai está no hospital e, durante esse tempo, a mãe não pode bastar às necessidades. Graças a ela, essas pobres crianças não suportarão nem o frio, nem a fome; irão à escola agasalhadas e o seio da mãe não secará para as criancinhas. Se há um doente entre eles, nenhum cuidado material a repugnará. De lá, ela se dirige ao hospital, para levar ao pai algum consolo e tranquilizá-lo sobre a sorte da família. No canto da rua a espera uma viatura, verdadeira loja de tudo o que

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leva aos seus protegidos, que visita assim sucessivamente; não lhes pergunta sem sua crença, nem sua opinião, porque, para ela, todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Terminada a excursão, ela se diz: Comecei bem o meu dia. Qual é seu nome? Onde mora? Ninguém o sabe; para os infelizes, é um nome que não revela nada; mas é o anjo de consolação; e, à noite, uma sintonia de bênçãos se eleva para ela até o Criador: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem. Por que ela se veste de maneira tão simples? É que não quer insultar a miséria com o seu luxo. Por que se faz acompanhar da filha adolescente? É para ensinar-lhe como se deve praticar a beneficência. A filha também quer trazer a caridade, mas sua mãe lhe diz: “Que podes dar, minha criança, uma vez que nada tens de ti? Se eu te entregar alguma coisa para passá-lo aos outros, que mérito terás? Em realidade, eu é que farei a caridade, e tu que dela terás o mérito; isso não é justo. Quando vamos visitar os enfermos, tu me ajudas a cuidar; ora, dar cuidados é dar alguma coisa. Isso não parece bastante? Nada é mais simples; aprende a fazer obras úteis, e tu confeccionarás roupinhas para essas criancinhas; deste modo, darás alguma coisa vinda de ti”. É assim que essa mãe, verdadeiramente cristã, forma sua filha na prática das virtudes ensinadas pelo Cristo. É espírita? Que importa! No seu lar, é a mulher do mundo, porque a sua posição o exige; mas ignora-se o que ela faz, porque não quer outra aprovação senão a de Deus e da sua consciência. Um dia, porém, uma circunstância imprevista conduziu até ela uma das suas protegidas, que lhe produzia obras; esta a reconheceu e quis abençoar a sua benfeitora: Silêncio!disse-lhe; não o digas a ninguém. Assim falava Jesus. KARDEC,Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. 1978, Instituto de Difusão Espírita, 245ª edição. São Paulo.

Com base no texto, responda: a) Em que situações a caridade se manifesta? b) O que você entendeu do texto lido? Texto 6

O Budismo, como ficou conhecido o Buda Dharma no ocidente, é um conjunto de ensinamentos emitidos e vividos por um grande homem conhecido por Buda (Buda não é um nome, mas uma condição ou estado de pleno desenvolvimento espiritual – a iluminação. Significa “O Desperto”). Os seguidores dessa filosofia de vida não o têm como um Deus, mas como um guia espiritual que os ensina como se libertar do ciclo da morte e reencarnação, alcançando a iluminação, um estado de pureza espiritual completamente livre das preocupações mundanas e do ciclo da reencarnação. Para Buda, o ser humano é escravizado por uma série de renascimentos, impulsionados pelo carma. Escapar do carma sig-

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O BUDISMO

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Unidade VI A Filosofia da Fé

nifica encerrar o ciclo de reencarnações, atingirem a iluminação e encontrar a passagem para o nirvana. Para esse fim, Buda ensinou aos discípulos As Quatro Nobres Verdades e os Oito Caminhos, que combinam ensinamento moral com regras básicas de meditação e concentração. Os ensinamentos do Buda se direcionaram principal e quase exclusivamente à liberação de todos os seres cientes de seus sofrimentos. Fonte: DHARMANET. O Livro das Religiões. Centro de Estudos do Budismo e Centro de estudos buddhistas chungtao. O Budismo. Disponível em <http://www.amaivos.uol.com.br>

Com base no texto, responda: a) O que é o Budismo? b) Para Buda, o que é o carma? Texto 7 O VALE DO AMANHECER Heitor Simões

O movimento doutrinário e religioso, conhecido como “Vale do Amanhecer”, tem dois aspectos distintos, duas maneiras de ser visto: a primeira é em sua origem remota, o caminho percorrido pelos espíritos que o compõem; a das circunstâncias que presidiram sua formação atual. Em primeira instância, trata-se de um grupo de espíritos veteranos deste planeta, todos com 19 ou mais encarnações, juramentados ao Cristo e que se especializaram no trabalho de socorro, em períodos de confusão e insegurança. Tais situações surgem, sempre, no fim dos ciclos civilizatórios, quando a Humanidade passa de uma fase planetária para a seguinte. Esses ciclos, embora variáveis em termos de contagem do tempo, se apresentam à visão intelectual da História como tendo mais ou menos 2.000 anos. A cada dois milênios termina uma etapa e começa outra. Porém, por alguns séculos, as duas fases coexistem. Podemos tomar como exemplo, o período que antecedeu o nascimento de Jesus e os três ou quatro séculos que se seguiram. Um exame acurado dos acontecimentos históricos registrados explica essa mistura de duas etapas. O mesmo está acontecendo em nossa época, desde o Século XVIII, em que o mundo como que explodiu em fantásticas conquistas socioeconômicas, ao mesmo tempo em que começou a declinar no que poderia se chamar de “humanismo”. Esse fenômeno é particularmente verificável nesta Segunda metade do Século XX, no qual as conquistas científicas, por exemplo, coexistem com a desvalorização progressiva do ser humano. As características de nossa civilização atual são a descrença e a desesperança nas instituições, nos marcos civilizatórios que regem nossas atitudes. Num paradoxo aparente, essa “morte civilizatória” produz na mente do Homem a ansiedade por bases mentais mais firmes, mais calcadas na imortalidade da civilização. A descrença

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Capítulo 11 A Necessidade da Fé

nas instituições regentes leva à busca de instituições mais biológicas, seguras, mais transcendentais. Isso pode ser facilmente percebido pela procura atual de soluções religiosas e de novas formas do encontro com o espírito. Atender a essa necessidade é exatamente a finalidade e a missão desse grupo de espíritos que aparecem sob a égide do “Vale do Amanhecer”. Sua missão é oferecer ao Homem angustiado e inseguro uma explicação de si mesmo e um roteiro para sua vida imediata. Para que isso fosse possível, e a missão cumprida com autenticidade, o trabalho não poderia ser feito seguindo-se as velhas fórmulas de religiosidade, considerando-se “velhas fórmulas” os documentos escritos, as revelações de iluminados, de profetas, das tradições, das doutrinas secretas e da dogmática de modo geral, empregada na base da fé e do medo. O Homem só adquire segurança quando o equacionamento de sua vida se apresenta verificável, para ele individualmente, qualquer que seja sua posição socioeconômica. Se num primeiro momento as instituições lhe oferecem proteção e segurança, isso logo se desfaz na vivência dentro das mesmas, quando seu próprio juízo entra em contradição com elas. Nesse ponto, ele poderá não se afastar, por medo ou por falta de algo melhor, mas sempre, inevitavelmente, ele viverá em angústia. Por esse motivo fundamental, o movimento “Vale do Amanhecer” foi calcado na existência de um espírito clarividente, cujas afirmações e ensinamentos pudessem ser testados e verificados, individualmente, pela experiência de cada participante, sem jamais dar margens a dúvidas ou incertezas. Essa é a origem atual do Vale do Amanhecer, ou seja, a existência da Clarividência de Tia Neiva. Em 1959, ela era uma cidadã comum, embora com traços de personalidade incomum. Viúva, com quatro filhos, dedicou-se à estranha profissão, para uma mulher, de motorista, dirigindo seu próprio caminhão e competindo com outros profissionais. Sem nenhuma tendência religiosa, nunca, até 1959, quando completou 33 anos de idade, revelou propósitos de liderança de espécie alguma. A partir dessa data, começaram a suceder, com ela, estranhos fenômenos na área do paranormal, da percepção extrassensorial, para os quais nem a ciência nem a religião locais forneceram explicação. O único amparo razoável foi encontrado na área do espiritismo, uma vez que as manifestações se pareciam com a fenomenologia habitual dessa doutrina. Os problemas foram se acentuando contra a sua vontade, e o acanhamento das concepções doutrinárias que a cercavam a levaram a uma inevitável solidão. Não havia realmente quem a entendesse, e isso a obrigou à aceitação das manifestações de sua clarividência. Incompreendida pelos Homens, ela teve que se voltar para o que lhe diziam os espíritos. Só neles ela começou a encontrar a coerência necessária para não perder o juízo e ter se tornado apenas mais uma doida a ser internada. A partir daí ela deixou de obedecer aos “entendidos” e se tornou dócil às instruções dos seres invisíveis aos olhos comuns, mas para ela não só visíveis como também audíveis. Desde então, ela teve que abandonar parcialmente sua vida profissional e se dedicar à implantação do sistema que hoje se chama Vale do Amanhecer. A primeira fase foi de adap146

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Unidade VI A Filosofia da Fé

tação e aprendizado, embora, desde o começo, seu fenômeno obrigasse a uma atitude prática de prestação de serviços. Isso garantiu, sempre, a autenticidade da Doutrina do Amanhecer, desde seus primórdios. Tudo o que foi e é recebido dos planos espirituais se traduz em aplicações imediatas e é testado na prática. Logo que Neiva dominou a técnica do transporte consciente, isto é, a capacidade de sair do corpo conscientemente, deixá-lo em estado de suspensão, semelhante ao sono natural, e se deslocar em outros planos vibratórios, ela começou seu aprendizado iniciático. O transporte é um fenômeno natural – todos os seres humanos o fazem quando dormem – mas o que há de diferente na clarividência de Tia Neiva é o registro claro do que acontece, durante o fenômeno, na sua consciência normal. Todos nos transportamos durante o sono, mas as coisas que vemos ou fazemos só irão se traduzir na ação em nossas vidas inconscientemente, ou seja, nós não sabemos que fazemos coisas em nossa vida com base nesse fenômeno. Nesse período, que durou de 1959 até 1964, ela se deslocava diariamente até o Tibete e lá recebia as instruções iniciáticas de um mestre tibetano. Esse mestre, que ainda está vivo, chama-se, traduzido em nossa linguagem, HUMAHÀ. Dadas as condições específicas que isso exigia de seu organismo físico, ela contraiu uma deficiência respiratória que, em 1963, a levou quase em estado de coma para um sanatório de tuberculosos, em Belo Horizonte. Três meses depois, ela teve alta e deu prosseguimento à sua missão, embora portadora de menor área respiratória, que limita sua vida física até hoje. Esse, entretanto, é apenas um aspecto das manifestações de sua clarividência. Ela se transporta para vários planos, toma conhecimento do passado remoto dela e do grupo espiritual a que pertence, recebe instruções de Seta Branca e de seus Ministros e as transmite praticamente para as ações do grupo. A comunidade da Serra do Ouro chamava-se “União Espiritualista Seta Branca” (UESB). Na UESB, no plano físico, o que existia era, apenas, um grupo de médiuns atendendo a pessoas doentes e angustiadas, tendo sempre à frente a figura de Tia Neiva. Havia um templo iniciático e algumas construções rústicas, tudo feito em madeira e palha. Existiam e existem, pois, dois aspectos distintos, que são necessários compreender para explicar o atual fenômeno “Vale do Amanhecer”: o humano, como grupamento de pessoas dedicadas à assistência espiritual a outras pessoas, mediante as normas trazidas pela Clarividente Neiva do plano espiritual; e essas mesmas normas, que foram constituindo a Doutrina, ou seja, um conjunto doutrinário. Na proporção em que o conjunto humano cresce, ele aumenta seu poder de obtenção, controle e manipulação de energias, ou seja, sua força cresce e amplia sua base doutrinária. Por isso a Doutrina do Amanhecer apresenta um aspecto dinâmico, de contínuo fazimento, que se adapta, a cada momento, às necessidades dos seres humanos que são atendidos. Todas as instruções para as atitudes, construções, rituais e planos de trabalho continuam vindo por intermédio de Tia Neiva. Com relação ao futuro, quando ela desencarnar, haverá, naturalmente, algum outro processo de instruções. Isso, entretanto, está fora de nossas cogitações, uma vez que não nos compete decidir. O ciclo atual está prestes a terminar, o mundo irá passar por grandes transPhylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 11 A Necessidade da Fé

formações, que já se tornam evidentes ao senso comum e, naturalmente, os responsáveis pelo comando da missão do Vale do Amanhecer – Pai Seta Branca e seus Ministros –, já terão planos prontos para funcionar. Fonte: O que é o Vale do Amanhecer. Disponível em <www.valedoamanhecer.com.br/oqueeovale>

Com base no texto, responda. a) Segundo o texto, qual a missão do vale do amanhecer? b) Que técnica foi dominada por tia Neiva e como é explicada?

Para Debater e Refletir

D.47 Toda religião ou doutrina leva as pessoas à salvação? Comente.

D. 48 O homem que não professa uma doutrina ou religião é um homem sem Deus? Comente.

D. 49 Pode o homem ser humano e divino? Comente.

D. 50 A fé pode ser explicada? Comente.

D. 51 Todas as religiões encaminham as pessoas para Deus? Comente sua resposta.

D. 52 É necessário seguir uma religião ou uma doutrina para encontrarmos a felicidade? Comente.

D. 53 Todas as religiões ou doutrinas são perfeitas aos “olhos” da fé? Comente.

D. 54 É possível as pessoas de religiões ou doutrinas diferentes conversarem sobre religião? Justifique sua resposta.

D. 55 Você acha que a fé pode fazer a vida das pessoas melhorar? Comente.

D. 56 Você concorda com a afirmação de Karl Marx quando diz que “a religião é o ópio do povo”? Justifique sua resposta.

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Unidade VI A Filosofia da Fé

Para Analisar e Escrever

A. 65 Você acredita que as religiões ou doutrinas possuem algum tipo de ideologia? Justifique sua resposta.

A. 66 Qual a importância das palavras e dos escritos na propagação da fé? Explique.

A. 67 É possível ter fé sem crer? Explique.

A. 68 As pessoas professam a sua fé de forma diferente, mesmo participando da mesma religião ou doutrina? Comente sua resposta.

A. 69 Cite os nomes de religiões e doutrinas que você conhece ou já ouviu falar.

A. 70 Você professa alguma doutrina ou religião? Se sim, descreva como é a sua. Se não, como você imagina que deva ser “participar” de uma?

A. 71 Você tem fé em algum ser superior ou divindade? Justifique a sua resposta.

A. 72 Você já viu ou já ouviu alguém testemunhando um milagre? Comente a sua resposta.

A. 73 O que você acha de pessoas que se aproveitam da fé dos outros para venderem objetos de cunho religioso? Comente a sua resposta.

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O Corpo em Busca da Fé? Tchesco

Capítulo

Somente o corpo humano pode ter fé?

Introdução Este capítulo tem como objetivo mostrar que o homem possui a sua materialidade composta por um corpo, como também possui a sua alma, que lhe possibilita a vida. Assim, corpo e alma, juntos, somados, completam-se e formam o SER. Esse SER, de posse e conhecimento do uso de sua racionalidade, pode ser um SER que caminhe para a busca de uma entidade divina ou para um SER supremo. É um capítulo para ser bem lido, bem compreendido, pois traz concepções sobre a dimensão corpórea e humana do homem. O entendimento dessas concepções tornará mais fácil o entendimento do porquê o homem pode ser um SER voltado para Deus. 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

A LEI DA REENCARNAÇÃO E A JUSTIÇA DIVINA Como explicar a miséria, as eficiências inatas, as doenças e a justiça de Deus? “Todos os homens são submissos às mesmas leis naturais, todos nascem com a mesma fraqueza, sujeito às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Portanto, Deus não deu a nenhum homem superioridade natural nem pelo nascimento, nem pela morte; todos são iguais diante Dele.”

Sabemos, pela nota do livro dos espíritos, que Deus nos fez simples e ignorantes, porém, nos deu o livrearbítrio, a condição de decidir que caminho escolher, tanto no plano carnal quanto no plano espiritual. Mas, se cada de um nós é responsável pelos nossos atos, porque responsabilizamos Deus quando nos defrontamos com nossas fraquezas e ineficiência? Por que culpá-lo pelas diferenças que há no mundo? 150

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Allan Kardec – Questão 803 de O Livro dos Espíritos.

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Unidade VI A Filosofia da Fé

Por quê? “Deus não nos faz sofrer!” assim define o escritor Jorge Andrea, quando fala sobre a lei da reencarnação e os sofrimentos que o homem enfrenta em sua caminhada evolutiva. E conclui; “Mas, sofrer faz parte do aprendizado, e viver é aprender!” Mas como explicar as diferenças entre as pessoas? Por que alguns nascem com deficiências físicas e mentais, enquanto outros gozam de um físico perfeito e senhores de sua consciência? Por que alguns nascem em regiões inóspitas sem condições de vida, enquanto outros em países ricos e civilizados? Qual motivo de nascerem gênios, que, em tenra idade, são mestres nas ciências e doutores nas artes, enquanto outros homens são privados de qualquer grau de conhecimento e formação intelectual? Por que homens nobres e bons trabalham arduamente e nunca conseguem sair da miséria, enquanto homens maus e egoístas encontram facilidades em toda a sua vida, angariando riquezas e bens? Para responder estas perguntas precisamos entender a lei da reencarnação. Ela explica todas as anomalias físicas pré-existentes e as diferenças de condições que existem no planeta. Assistimos no dia-a-dia, pessoas e situações completamente diferentes. De um lado, fartos banquetes, e, ao mesmo tempo, assistimos pessoas morrendo de fome pedindo migalhas nas ruas. Podemos citar exemplos de quem, em existência anterior, teve uma vida repleta de facilidades, riquezas e luxos, mas, por ignorância ou resistência, tenha negligenciado a lei de amor e respeito ao próximo, perdendo a oportunidade de elevar-se moralmente em detrimento dos prazeres terrenos. Nova chance Aqueles que não souberam usar a riqueza e o conhecimento, apenas se deleitando em seus próprios benefícios, trazendo dor aos demais, e esbanjando sem construção nenhuma para seu adiantamento moral, esquivando do trabalho no bem, um dia tem que retornar à pátria espiritual, e será neste momento que se fará presente a máxima do Cristo “A cada um segundo suas obras” (Mt 16,27). É quando o espírito, percebendo sua falha, tem a oportunidade de reaver o tempo perdido através de uma nova chance, pela misericórdia divina, de retornar à carne. Visando reparar seus erros, muitas vezes pede para ser colocado novamente à prova e ser testado justamente naquele ponto onde falhou. De forma, que possa exercitar a calma, a humildade, a caridade e o amor ao próximo, além, é claro de conquistas em benefício próprio. Poderá vir numa condição inferior à vida anterior. Conforme ensina Divaldo Pereira Franco: “Não estamos aqui para ganhar, mas para aprender, de forma consciente ou inconscientemente, qual escolhemos!” Marcas do Passado “Se vosso olho vos é motivo de escândalo, arranque-o e lançai-o longe de vós; é melhor para vós que entreis na vida não tendo senão um olho, que terdes os dois e serdes precipitados no fogo do inferno e se vossa mão é motivo de escândalo, cortai-a e atirai longe de vós; é bem melhor para vós que entreis na vida não tendo senão uma só mão, do que terdes dois e serdes lançados no fogo eterno”. (citação do Evangelho – Mateus, 5: 29 e 30). Analisando a citação bíblica, mas sem levar ao pé da letra a mensagem, entendemos que devemos destruir em nós a causa do mal, ainda que, para isso, nos privemos voluntariamente. As informações sobre as necessidades de aprendizado ficam gravadas no perispírito; o corpo atual Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 12 O Corpo em Busca da Fé?

transcreve em limitações físicas ou mentais as causas comportamentais do passado, como informa Kardec em O Livro dos Espíritos; “assim como nas sementes o germe do fruto é envolvido pelo perisperma... do mesmo modo o espírito propriamente dito, é revertido de um envoltório que, por comparação, pode se chamar de perispírito”. Lá ficam registradas as informações referentes às encarnações do espírito. Aqueles que, em certo momento de suas existências anteriores, não fizeram bom proveito da inteligência, provocando males extensos, ou pessoas que usam o sexo de modo vicioso, hoje podem se ver em um corpo preso ao leito em deformidades que o limitam na correta proporção de seus desajustes e excessos. Quem prejudica alguém e não percebe pelo entendimento que não se deve fazer ao outro o que não se queira que façam para si, fato análogo acontecerá a esta pessoa, programado em seu espírito, para que aprenda a lei cósmica de amor que permeia o universo. O que devemos perceber é que Deus não pune ninguém e que segundo as palavras de Jesus, “o amor cobre uma multidão de pecados”. Por isto, aquele que tem algum tipo de limitação do corpo físico, deve pensar em praticar sempre o bem e assim, por acréscimo da bondade do Pai, ter o seu merecimento para que a deficiência regrida ou, se não for possível, que supere a limitação com o desenvolvimento de outras habilidades. Percebemos então a grandeza da justiça divina que possibilita ao devedor quitar o seu débito com a moeda do amor, se preferir, ou para o seu próprio bem com a moeda da dor, que é nada mais que a consequência pela via da lei natural da recusa ao entendimento e do reparo dos erros em atos pretéritos. É a Lei de Causa e Efeito, que explica o porquê de muitos nascerem nessas condições que aos olhos dos homens parecem justiça ou castigo. Nada fica sem resposta para os que creem na justiça de Deus. Não existe o acaso. O homem colhe o que semeou, sejam bons ou maus frutos. A Terra é um mundo de expiação e provas, querendo ou não, a prevalência da felicidade faz parte de mundos mais nobres e elevados, que um dia a Terra se tornará.“O que pensar dos que abusam da superioridade de sua posição social para oprimir o fraco em seu proveito? – Esses se lamentarão; infelizes deles! Serão por sua vez oprimidos; renascerão numa existência em que suportarão tudo o que fizeram os outros suportar”. Allan Kardec – Questão 807 de O Livro dos Espíritos.

Saiba Mais: Deficiente Mental – Por que fui um? – Psicografado por Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho – Espíritos diversos – Petit Editora. Você encontrará respostas para essa e outras perguntas neste belíssimo livro em que vários espíritos que passaram pela deficiência mental relatam sua experiência durante a encarnação num corpo doente, seu desencarne e o porquê de terem nascido com suas limitações. “Muitos Espíritos, de corpo em corpo, permanecem na Terra com as mesmas recapitulações durante milênios. A semeadura prejudicial condicionou-os à chamada “morte no pecado”. Atravessam os dias resgatando débitos escalabrosos e caindo de novo pela renovação da sementeira indesejável. A existência dele constitui largo círculo vicioso, porque o mal os enraíza ao solo ardente e árido das paixões ingratas.” Emmanuel – Psicografia de Chico Xavier – Livro Caminho, Verdade e Vida – FEB Editora FONTE: A Lei da Reencarnação e a Justiça Divina. Revista: Espiritismo, Filosofia, Ciência e Religião. Ano 2, no 5, PP. 32 e 33, 2008.

Com base no texto, responda: a) Explique a afirmação: “Deus não nos faz sofrer”. b) O que explica a lei de reencarnação? 152

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Unidade VI A Filosofia da Fé

Para Construir o Conhecimento Filosófico

Estamos falando constantemente de fé. É claro que o objetivo desta unidade é colocar esse assunto em evidência, posto à compreensão e à racionalidade humana. No entanto, é importante trazer à tona ou despertar um pensamento para esse homem que por vezes racionaliza a fé, por vezes crê sem precisar ver ou tocar, por vezes até ignora a fé dos outros, enfim, mostrar que o homem que sente e que busca entender está dentro de uma dimensão corpórea. Partindo da ideia de que o homem é um conjunto de partes e que estas partes formam um todo, podemos começar a entendê-lo melhor, mas, entendê-lo melhor, não significa conhecê-lo em sua totalidade. Alguns autores diferenciam o homem de duas formas: o psíquico e o somático. Assim sendo, podemos observar a complexidade que é o ser humano, mente e corpo. Ele não age apenas de uma forma, mas age da interação e construção das duas para ser uma só. Claro que esses posicionamentos existiram e existem por conta dos pensamentos, estudos e culturas existentes durante o processo de “humanização” do próprio homem. Importante salientar que esse homem dotado de racionalidade vai contribuir de forma valorosa para o conhecimento científico, cultural, afetivo e religioso. Para dar uma nova visão do ser humano e tratando ainda dessa corporeidade, alguns pensadores como Dilthey, Husser, Scheler e Marleau Ponty expõem a consideração do tema abordado, a dimensão corpórea do homem, através da seguinte ideia: a aplicação da distinção entre método científico e método experimental para o estudo do corpo deu origem a duas considerações diferentes sobre o fenômeno da corporeidade. Uma é a consideração científica, a qual estuda o corpo-coisa, o corpo objeto, o

corpo como se manifesta aos outros, aquilo a que os alemães chamam de korper; e a outra é a consideração fenomenológica, que estuda o próprio corpo, como é sentido, experimentado, vivido. A essa modalidade do corpo, os alemães chamam de leib. Imaginamos ser esta uma questão fundamental. O homem não é só espaço ou um corpo que ocupa lugar neste espaço, o homem também é espírito. O homem possui o ânima, a alma, a vida. E é justamente nesta relação, pois, como já vimos, o homem é um ser de relações, que nos achamos e nos compreendemos como um todo. É unindo consciência (alma/espírito/subjetividade) e corpo (matéria que nasce, cresce, desenvolve-se e morre) que teremos um conjunto das relações ao qual chamamos de ser humano. O homem é um ser da racionalidade (mesmo que não a use), e é justamente essa razão que o torna diferente do animal. Esse uso da razão faz com que o corpo não tenha privilégio somente pelo uso da força, como em alguns animais, mas o possibilite desenvolver sua subjetividade. Usar a razão é um grande instrumento para se chegar a Deus e, para se chegar a Ele, é necessário o entendimento da fé. A fé, para ser verdadeira, necessita ser compreendida, ser vibrante, pois uma fé contagiante “contamina” o coração de outras pessoas e, por sua vez, cresce a cada instante.

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12.1 A DIMENSÃO CORPÓREA DO HOMEM

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Capítulo 12 O Corpo em Busca da Fé?

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 57 a 60, página 156.

nestamente, sem cometer injustiças, nem mesmo em retribuição a uma injustiça recebida”. No pensamento socrático, vemos nascer o que deveria ser a máxima de todas as religiões, doutrinas ou crenças particulares: o valor pelo outro. O valor pelo outro, pelo semelhante, diz respeito a uma ética comunitária e não a uma ética individualista. Essa ética comunitária seria uma ação que podemos chamar de ação compartilhada em cadeia, pois a minha ação e os meus gestos envolveriam outras pessoas, que envolveriam outros grupos, que poderiam envolver outras situações. Situações estas que poderiam envolver grandes atitudes, grandes responsabilidades e grandes tomadas de decisões. Shutterstock

Ter compreensão dessa dimensão corpórea do homem é de grande valia, pois essa compreensão é um instrumento a mais no entendimento da fé. Nesse sentido, podemos evidenciar que o nosso espaço ocupado enquanto corpo é indiferente, pois o uso da razão pode nos levar a viver mais e a valorizar mais o lado espiritual. O corpo é apenas uma moradia, pois a razão transcende a materialidade do próprio corpo. E é essa transcendência que nos possibilita, a qualquer instante, um contato com “um SER divino” ou com outras divindades.

ANALISAR E ESCREVER: Questão 74 a 76, página 157. 12.2 ÉTICA, DIVINDADE... A BUSCA DA PERFEIÇÃO A Ética, como estudo do valor do comportamento humano, nos remete a uma grande e crucial reflexão. Não a reflexão do que é ser ético, pois somente isso não seria significativo, mas de como ser ético. Assim, poderíamos nos perguntar: Como ser ético dentro de um sistema capitalista que é desigual, desumano e individualista? Como ser ético nos dias de hoje com relação ao outro e com relação às minhas crenças e valores? Como ser ético diante do verdadeiro Bem, da verdadeira justiça, da verdadeira fome e do verdadeiro poder? Questões relevantes para o ser humano enquanto teoria e enquanto prática. Observamos, então, que o homem deve fazer uma tentativa de retomar o seu modo de agir e que esse agir seja de modo justo em favor do bem comum. As primeiras comunidades cristãs agiam dessa forma, priorizando o bem comum. A ética existe quando existe uma confiabilidade entre as pessoas. Segundo o grande filósofo Sócrates,“A única coisa que importa é viver ho154

A ética que estuda o valor do comportamento humano em sua conduta pode ser, por assim dizer, uma possibilidade bem real e prática de conduzir este mesmo homem a uma “divindade” terrena. Não só no campo das religiões ou da religiosidade, mas numa verdadeira reviravolta no que diz respeito à moral humana. Essa reviravolta pode ser entendida como uma tentativa de ver no outro uma extensão de mim... do meu eu... do meu nós... da divindade. O maior problema é o próprio homem que, dialeticamente, é também a solução. Só ele pode se conduzir eticamente perfeito. Só ele, com o seu livre-arbítrio, pode agir de forma correta. Mas esse homem, por carregar consigo a sua“humanidade”, muitas vezes “irracional”, se perde no olhar com relação aos defeitos dos Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade VI A Filosofia da Fé

outros, esquecendo-se de si mesmo e dos seus próprios defeitos. “Por que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, vós que não vedes uma trave no vosso olho? Ou como dizei ao vosso irmão: deixai-me tirar um argueiro do vosso olho vós que tendes uma trave no vosso? Hipócritas, tirai primeiramente a trave do vosso olho e, então, vereis como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão”. (São Mateus, capítulo VII, versículo 3 a 5) Assim, concluímos o capítulo com a seguinte reflexão: Um dos defeitos da humanidade é ver o mal do outro antes de ver o seu próprio. O orgulho fere a lei de Deus, porque foge da verdadeira caridade, e, se o orgulho é o pai de muitos vícios, é também a negação de muitas virtudes e da busca da divindade. Assim, amados irmãos na fé em Cristo e no espírito da cristandade, não atiremos

a primeira pedra, visto que não somos e nunca seremos perfeitos como o Pai que está no céu, pois só a Cristo cabe o julgamento. Mas, a ti, cabe a busca constante da perfeição e da divindade. Que estas palavras possam entrar nos corações das pessoas de boa fé. Caso tu não tenhas fé, entendas estas palavras como uma ajuda ao teu crescimento moral e espiritual, pois Deus, que tudo pode e vê, sempre estará contigo, mesmo que tu não possas vê-lo. Busca, a teu tempo, o teu aperfeiçoamento moral e espiritual, esse sim, o melhor caminho para se alcançar a paz, a felicidade e a Deus. VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 61 a 63, páginas 156 e 157. ANALISAR E ESCREVER: Questão 77 a 80, página 157.

Para Saber Mais: Outras Leituras

COMO LER AS CITAÇÕES BÍBLICAS As frequentes citações de textos bíblicos são apresentadas da seguinte maneira: título do livro (ver abreviaturas no índice), seguido do capítulo e do versículo em questão. Muito importante, porém, é saber distinguir o valor dos diversos sinais de pontuação. A vírgula [,] separa o capítulo do versículo. O ponto [.] indica um salto entre os versículos: ler somente o número que precede e o que segue. O hífen [-] é o contrário do anterior: ler desde um versículo até o outro, sem omitir os versículos intermediários. O ponto-e-vírgula [;] separa citações, dentro do mesmo livro ou de um livro para o outro. Os parênteses [( )] cercam textos praticamente iguais à citação anterior, como acontece amiúde, por exemplo, com citações dos três primeiros Evangelhos. Um [s] indica o versículo imediatamente seguinte ao número que o precede: portanto, o total de dois versículos. Dois [ss] designam os dois versículos imediatamente seguintes: portanto, o total de três versículos. Para mais de três, usa-se o hífen [-] que, aliás, pode ser usado mesmo nos dois casos anteriores [s, ss]. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 12 O Corpo em Busca da Fé?

Quando não se indica o versículo, é sinal de que se trata do capítulo inteiro ou quase inteiro. Nesse caso nunca se usa a vírgula [,] e os outros sinais continuam com o mesmo significado, porém com relação a capítulos e não a versículos. Citações extensas, que ultrapassem o capítulo, adotam o traço maior, isto é, o travessão [“]. Exemplos: • 1Cor 4, 6-13 significa: 1a carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 4, versículos 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13. • Jr 32, 17-22.27ss significa: Livro do profeta Jeremias, capítulo 32, versículos 17, 18, 19, 20, 21,22, 27, 28, 29. (Não entram na citação os versículos 23, 24, 25, 26). • Pr 1,7 (9,10; Sl 110,10; Eclo 1,16) significa:Livro dos Provérbios, capítulo 1o, versículo 7 – ideia ou palavra que se lê também no mesmo livro, capítulo 9; também no Salmo 110 e no Eclesiastes, capítulo 1o, precisamente nos versículos citados. • Is 40-55 significa: Isaías, capítulos 40 até 55 inclusive, isto é, 16 capítulos inteiros! • Jo 11 significa: Evangelho segundo São João, capítulo 11 inteiro! • Tb 5s ou Tb 5-6 significa: Livro de Tobias, capítulos 5 e 6 (apenas). • Sl 95ss ou Sl 95-97 significa: Salmos 95, 96, 97 (apenas). • Tb 5,5-12, 22 significa: quase oito capítulos do livro de Tobias, desde o capítulo 5, versículo 5, até o fim do capítulo 12 (= existência dos Anjos)! • Rm 12, 14. 17.20s significa: somente os versículos isolados 14, 17, 20 e 21 do capítulo 12 da Carta aos Romanos (= amor aos inimigos). Novo Testamento – Projeto Educando e Evangelizando. São Paulo: Editora Ave-Maria, 2004.

Com base no texto, responda: a) Como se apresentam as citações bíblicas? b) Cite dois exemplos do texto de como demonstrar as citações bíblicas.

Para Debater e Refletir

D. 57 Pode um SER existir sem um corpo? Justifique.

D. 58 Você acha que a alma pode transcender a um corpo? Justifique sua resposta.

D. 59 Só quando conheço a minha existência é que estou preparado para conhecer Deus? Comente.

D. 60 Você concorda com o autor quando ele afirma que “O corpo é apenas uma moradia, pois a razão transcende a materialidade do próprio corpo”? Justifique sua resposta.

D. 61 Ser ético significa ser perfeito? Comente sua resposta. 156

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Unidade VI A Filosofia da Fé

D. 62 É possível se buscar a perfeição? Justifique sua resposta.

D. 63 Você acredita que a vida em comunidade faz com que as pessoas possam desenvolver suas habilidades de ser humano? Comente.

Para Analisar e Escrever

A. 74 Você acredita que um SER pode transcender, ou seja, ir além do corpo físico e material? Justifique sua resposta.

A. 75 Segundo o texto, você poderia explicar o que significa corporeidade?

A. 76 Desenvolva a sua habilidade do pensar e re-escreva com suas palavras a frase do texto: É unindo consciência (alma/espírito/subjetividade) e corpo (matéria que nasce, cresce, desenvolve-se e morre) que teremos um conjunto das relações ao qual chamamos ser humano.

A. 77 Você acredita que um ser humano, que sempre agiu de forma má, pode melhorar através da busca da perfeição? Justifique sua resposta.

A. 78 Existem, nos dias de hoje, pessoas de boa fé? Explique sua resposta.

A. 79 O que significa dizer que o homem busca uma divindade terrena? Comente.

A. 80 Comente a frase do autor: “A ética existe quando existe uma confiabilidade entre as pessoas”.

Chegamos ao final da unidade VI. Exercite aqui a sua habilidade de pensar, raciocinar e comparar, registrando o que você adquiriu de conhecimento novo.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 12 O Corpo em Busca da Fé?

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SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES •

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CARRIERE, Jean-Claude. Contos filosóficos do mundo inteiro. 1a edição. Ediouro, 2008. GASPARETO, Zíbia; O amanhã a Deus pertence. Editora Vida e Consciência. 2006. KARDEC, Allan. O ceú e o inferno. 53a edição. Editora FEB. 2004 KARDEC, Allan; O evangelho segundo o espiritismo; Ed. Vida e Consciência. 1a edição, 2006. LIMA, Ronie. A vida além da vida. 1a edição. Editora Mauadx, 2005. Novo Testamento, Mt 5: 1-16. ROUSSEAU, Jean-Jacques. A origem da desigualdade entre os homens. Editora Escala, 2007. ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. 4a edição. Editora Martins Fontes, 1960. SIMÕES. M.C. Liberdade utilitária. Editora Zahar Editor. UBALDI, Pietro. Deus e universo. Editora Lake, 1957.

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Ponte para Terabítia – Imagem Filmes. A Virada – Sherowood Films. À Prova de Fogo – Sherowood Films. O Mistério da Libélula – Universal Pictures. Os Outros – Miramax Internacional. 12 Homens e 1 Sentença – United Artists. Ghost – Paramont Pictures. A Lista de Shindler – Universal Studios. Cruzada – Twentieth Century Fox. Anjos e Demônios – Sony Pictures.

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Unidade

VII

A Filosofia da Natureza O que você entende por natureza? Meio ambiente e natureza são a mesma coisa? Somos seres da natureza? O que as pessoas entendem por meio ambiente?

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Registre, no seu caderno, o que você já sabe ou ouviu falar sobre a natureza.


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Homem e Natureza Tchesco

Capítulo

O homem faz parte da natureza ou a natureza é que faz parte do homem?

É bem provável que o homem seja o único animal do mundo que, ao nascer, se deixado sozinho, venha a morrer por falta de uma assistência. O homem talvez seja esse ser da natureza que mais precise dela, mas, também, mesmo usando a sua racionalidade com o passar da sua existência, seja o ser que, além de precisar, se manifeste, muitas vezes, como o seu maior destruidor. Esse paradoxo acontece porque à medida em que interage com a natureza, passa, o homem, a achar-se dono dela. Portanto, ao se “apropriar” da natureza, pensa ser o seu dono e, muitas vezes, acredita até ser o seu criador. Esse capítulo talvez seja um dos mais importantes da filosofia pragmática hoje em dia, pois iremos pensar constantemente sobre o homem e a sua relação com a natureza, gerando em nós reflexões sobre o caminho da nossa existência. Fazer uma reflexão sobre o mundo em que vivemos hoje, em pleno século XXI, não seria, de certa forma, um retorno ao pensamento filosófico original dos velhos gregos? Enfim, pensem, analisem e reflitam com seus amigos a importância da natureza para a vida do ser humano. Certamente vocês encontrarão muitas respostas como, também, muitas dúvidas e questionamentos novos virão. Bons pensamentos... 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

O QUE É QUE FEZ PROGREDIR A HUMANIDADE? O trabalho do Homem. O Homem tinha um cérebro mais desenvolvido que o dos outros animais e andava sobre os pés, o que lhe permitia servir-se melhor das mãos. Com o trabalho, as mãos foram servindo de instrumento, foram-se aperfeiçoando e o cérebro também. Com as mãos, 160

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Introdução


Unidade VII A Filosofia da Natureza

o Homem começou a fabricar instrumentos para poder arranjar mais alimentos. Depois começou a guardar os alimentos e começou a conhecer pouco a pouco a Natureza. O trabalho é a base da vida social. O Homem não poderia existir sem trabalhar. Os homens, com o seu trabalho, transformam as coisas na Natureza para melhorar a sua vida. Por exemplo: para fabricar uma faca, uma enxada ou uma máquina, os homens extraem da terra o minério de ferro, fundem-no, tratam-no e moldam-no depois. Os homens trabalham para produzir bens materiais. Vamos ver como a produção dos bens materiais é a causa fundamental da evolução social, ou seja, do progresso da sociedade.

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A base da produção são as forças produtivas. O que são forças produtivas? Forças produtivas são o conjunto dos meios de produção criados pela sociedade e mais os Homens que produzem os bens materiais. Forças produtivas = meios de produção + homens. Vamos ver melhor o que são forças produtivas. Para haver produção, é preciso que o Homem encontre na Natureza coisas que lhe possam ser úteis: a terra com as suas plantas, as águas, o subsolo com os seus minérios; tudo isso são objetos de trabalho, quer dizer, aquilo com que o Homem pode trabalhar. Para aproveitar os objetos de trabalho, os homens servem-se de várias coisas que os ajudam: os instrumentos, as ferramentas, as máquinas, os meios de transporte, as pontes, os rios etc. Estes são os meios de trabalho. Os objetos de trabalho e os meios de trabalho formam os meios de produção, ou seja, os meios de que o Homem dispõe para produzir bens materiais e aumentar a sua produção. Portanto, objetos de trabalho + meios de trabalho = meios de produção. Mas para que haja produção é preciso que o Homem, além de fabricar os bens materiais, saiba aproveitá-los, conservá-los, aperfeiçoá-los. Só o Homem é capaz de servir-se dos instrumentos, é capaz de organizar a produção. Por isso, para haver produção é preciso haver o trabalho do Homem, os meios de trabalho e os objetos de trabalho. É por isso que as forças produtivas são o conjunto dos meios de produção criados pela sociedade e os Homens que produzem os bens materiais. O estado das forças produtivas dá aos Homens o poder sobre a Natureza. Se as forças produtivas são muito desenvolvidas, o Homem domina bastante a Natureza. Se as forças produtivas são pouco desenvolvidas, o Homem tem muito pouco poder sobre a Natureza e é dominado por ela. O Homem é o elemento mais importante das forças produtivas. O trabalho criador dos Homens põe a trabalhar os instrumentos que vão produzir uma quantidade enorme de objetos, de coisas indispensáveis à vida. As massas trabalhadoras são, pois, o elemento mais importante das forças produtivas porque são elas que fazem produzir. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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As forças produtivas


Capítulo 13 Homem e Natureza

Para produzir os bens materiais os Homens estabelecem relações entre si. Hoje vemos que há homens que se ajudam uns aos outros no trabalho; há homens que vendem produtos e outros os compram, há patrões e há trabalhadores; uns homens ficam ricos à custa do trabalho dos outros; estes são obrigados a vender a sua força de trabalho para poderem viver miseravelmente. Em outras palavras, os homens não podem produzir cada um por si; uns precisam dos outros. Na produção, os homens estão ligados entre si e dependem uns dos outros. O trabalho foi e será sempre social, quer dizer, feito dentro da sociedade. As relações que se formam entre os homens na produção na troca e distribuição dos bens materiais são as relações de produção. Modo de produção As forças produtivas mais as relações de produção formam o modo de produção de uma sociedade. O modo de produção representa, pois, a maneira como a sociedade produz os bens materiais; como os utiliza, como os distribui. Quer dizer, numa determinada época histórica, uma sociedade humana tem uma certa maneira de produzir (um certo avanço técnico), e uma certa maneira de se organizar para produzir e distribuir produção. Portanto, o modo de produção de uma sociedade é a unidade das forças produtivas e das relações de produção correspondentes. Modo de produção = forças produtivas + relações de produção. (CENTRO DE ESTUDOS ANGOLANOS. O que é que fez progredir a humanidade; IN: O que é a história da sociedade humana. Coleção Universidade popular. São Paulo: Global Editora. 3ª edição 1985.)

Com base no texto, responda: a) Você concorda com o autor do texto quando afirma que “o trabalho fez o homem realmente progredir”? b) Explique a frase: O trabalho é a base da vida social. 162

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Relações de produção


Unidade VII A Filosofia da Natureza

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Para Construir o Conhecimento Filosófico 13.1 O HOMEM: UM SER DA NATUREZA Há muitos e muitos anos, o homem apareceu no planeta terra. Até hoje, buscamos compreender e entender seus hábitos e suas formas de agir no decorrer da evolução da sua própria humanidade. Ao “surgir”, com o passar dos anos, começou a se diferenciar dos outros animais pelo formato da mão, o que lhe possibilitava segurar as coisas com mais facilidade. Neste início, o homem não dominava a natureza, muito pelo contrário, era dominado por ela. Caso tivesse o que comer, comia. Não tendo, passava fome. Não tinha nenhuma noção do que se passava ao seu redor, pois não exercitava a habilidade do pensar. Com o passar dos tempos, esse mesmo homem começou a progredir e, com a sua evolução, começou a usar o seu conhecimento para melhor “aproveitar” o que a natureza lhe oferecia em abundância. O homem começou a cuidar da terra, a fazer construções, a fabricar instrumentos, enfim, começou a conhecer a natureza e a produzir bens materiais para melhor servir-se dela. Ao invés de ficar à espera da natureza para lhe fornecer o que não tinha, o homem foi buscar nela tudo o que precisava. Até hoje as coisas acontecem dessa forma: o homem retira da natureza o que precisa. Entretanto, na evolução e progresso da humanidade, uma coisa começou a surgir com bastante intensidade: a exploração constante dos bens que a natureza tem. O homem não se contentou apenas em usar esses bens para o seu usufruto, mas, sim, pelo desejo de satisfazer constantemente às suas vontades. Com o “surgimento” do trabalho, o homem, ao mesmo tempo em que explorava, também começava a destruir. É bem certo que o trabalho fez o homem progredir, visto ser a base da vida social

da humanidade. Trabalhar para melhorar a vida, enriquecer, obter bens materiais, produzir, enfim, todo trabalho é digno e deve ser próspero. O problema é que de tanto retirar da natureza as suas riquezas para melhorar sua vida, o homem se esqueceu de repor o que retirava. Pensava que os recursos eram infinitos, e esse pensar é que nos faz entender hoje a preocupação mundial com assuntos muito importantes como o aquecimento global e o consumismo. Em toda produção, as pessoas, para produzirem bens materiais, estabelecem uma relação entre si. Hoje em dia temos os patrões e os empregados, os donos e os servidores, os que pagam pela mão-de-obra e os que recebem esse valor pago. O nome dessa forma de trabalho é conhecido como relações de produção. No decorrer do processo evolutivo do homem, existiram e ainda existem muitas formas do homem produzir os seus bens materiais.

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Capítulo 13 Homem e Natureza

Um dos maiores problemas que observamos hoje é o desespero pelo ter e o apelo constante ao consumo. Produz-se tanto que, se todas as pessoas tivessem condições financeiras para obter tudo o que quisessem, o planeta não suportaria. Desta forma, pensar o homem como um ser que faz parte desse imenso mundo chamado Terra é pensar também na possibilidade deste mesmo homem desaparecer por consequência dos seus atos impensados e irracionais em relação a sua própria morada universal. Não existem dois planetas Terra. Por isso é urgente voltarmos, não à pré-história, mas voltarmos a ter a noção e a consciência de que devemos usar somente o necessário para termos uma vida humana, justa e feliz. Shutterstock

Esses modos de produção são a forma como a sociedade representa ou produz os seus bens. No início, a produção dos homens era feita dentro do comunismo primitivo, então, eles tinham uma relação harmoniosa com a natureza, pois só usufruíam daquilo de que precisavam: “Nesta época da humanidade, como eram fracos os instrumentos de produção, os homens só podiam resistir às forças da natureza se agissem em conjunto. Na sociedade primitiva os homens formavam grupos coletivos chamados de clãs. Eles cultivavam em comum a terra, com utensílios comuns; as habitações, que os protegiam do mau tempo e dos animais ferozes, eram comuns. Os produtos dos seus trabalhos eram distribuídos em partes iguais”. (A História da Sociedade Humana. Centro de Estudos Angolanos).

Daí surgiu o nome dessa forma ou maneira que os homens encontraram para produzirem, que é o comunismo primitivo. Outras formas de produção apareceram na história da humanidade, como o escravismo, o feudalismo, o capitalismo, o socialismo e o neoliberalismo. Enfim, cabe a cada um de nós buscarmos entender se o tão falado progresso da humanidade fez realmente bem a própria humanidade ou somente a alguns grupos de pessoas que detêm o poder sobre os instrumentos de trabalho e, consequentemente, sobre a mão-de-obra escrava ou assalariada. No capitalismo é muito importante entender que essa relação de patrão e empregado se dá no instante em que o patrão compra a força de trabalho do empregado: “Força de trabalho é o esforço (manual e intelectual) despendido pelo trabalhador na produção. A força de trabalho é uma mercadoria que o capitalista compra e que o operário vende. É explorando a força de trabalho que o capitalista enriquece”. (A História da Sociedade Humana. Centro de Estudos Angolanos)

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VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 64 a 66, página 169. ANALISAR E ESCREVER: Questão 81 a 86, página 170. 13.2 HOMEM, JUSTIÇA E NATUREZA: UM CONTRATO DE RISCO? Não vamos tratar aqui de questões históricas sobre as formas de contratos que os homens já criaram, nem de afirmações, definições ou perspectivas filosóficas desde Platão, perpassando por grandes pensadores como Aristóteles, Hobbes, Locke, Rousseau e Tugendhat, no tocante às priFrancisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade VII A Filosofia da Natureza

cer garantias, entendendo que, além de garantias, devem ser estabelecidos direitos e deveres. É muito comum hoje em dia as pessoas, mesmo tendo assinado qualquer tipo de contrato, ao se julgarem “sem os seus direitos respeitados”, quebrarem o acordo assinado. No desenvolvimento da produção humana de manufaturas e de alimentos para subsistência, as pessoas não precisavam de assinaturas para fechar um contrato, pois bastava a simples fala, uma simples palavra. A palavra já se bastava, uma vez que existia uma relação de confiança entre as pessoas; o confiar era uma assinatura, por assim dizer. Alguns pensadores colocam o contrato social como uma forma de garantir a justiça. Tanto de forma individual como de maneira a garantir seus direitos de forma coletiva, neste caso de forma coletiva, o estado assume o papel de garantir esses direitos. O que não é correto é o estado garantir esses direitos agindo de forma coercitiva ou retirando os direitos do próprio cidadão. De certa forma, em uma afirShutterstock

meiras noções ou pensamentos sobre as mais variadas formas de contrato social. Não vamos, tampouco, traçar paralelos ou comparações com as novas teorias contratualistas modernas de Galthier ou Rawls, em A Teoria da Justiça. O que iremos debater, de forma clara e objetiva, é sobre a importância de estabelecermos “contratos”, sejam eles de perspectivas históricas ou morais, para um bem viver ou um viver sem injustiças, já que o contrato nasce basicamente na questão central da valorização do indivíduo. Basicamente, podemos também entender o contrato sob a ótica de um pacto social. No decorrer da história da humanidade, vimos as mais variadas formas, nos mais variados momentos sociais, de pactos ou contratos: os 10 mandamentos trazidos por Moisés; os juramentos de coroações na Idade Média; as eternas declarações de amor dos mais lindos poemas etc. Todos esses “pactos”, de uma maneira ou de outra, podem ser traduzidos como contratos. Em nosso estudo, o contrato serve para se estabele-

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Capítulo 13 Homem e Natureza

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irredutível, de onde emergem as capacidades de se chegar à noção de justiça e de bem. A posição original, por fim, procura colocar os participantes da negociação numa situação razoável na qual nenhuma tenha vantagens sobre os demais.” É muito provável que um contrato elaborado de forma racional e razoável atinja um grau muito grande de comprometimento e aceitação de ambas as partes, pela satisfação de como foi elaborado. A grande verdade é que qualquer contrato estabelecido entre qualquer pessoa ou entidade, seja ela civil ou jurídica, deveria obedecer ao critério da ética e da justiça, por isso é que a palavra fundamental a ser explicitada é “confiança”. Em tudo na vida, independente de contratos ou pactos, o ato de confiar é um ato humano de depositar no outro uma responsabilidade participativa. A pergunta agora é: Shutterstock

mação de Hobbes, isso se dá de outra forma, ao definir o contrato como “a transferência mútua de direitos, cujo cumprimento seria imposto por um estado civil com poderes para coagir quem violasse a sua fiança”. Não cabe dizer se correta ou errada a análise de Hobbes, pois isso implicaria em uma análise de conjuntura mais profunda da época em que ele viveu, mas, de uma forma reflexiva, garantir direitos também inclui a realização de deveres. Nas teorias éticas contemporâneas aparece sempre, de forma fundamental que, para um contrato ou um “pacto” ter uma vida saudável, é necessária a cooperação. Reaparece, então, a noção da moral em Platão, vivenciada em A República, na qual o personagem Glaucon diz ser do senso comum as pessoas terem necessidades de estabelecerem leis através de um acordo mútuo para evitarem ações injustas. Ficam, então, muito claras na contemporaneidade as significativas reflexões sobre os princípios morais e a cooperação entre as pessoas racionais e razoáveis. Em A Teoria da Justiça, de Rawls, observa-se: “Como equidade, o razoável e o racional são características distintas e complementares das pessoas. Uma não pode ser extraída sem a outra. A razoabilidade motiva as pessoas a cooperarem umas com as outras sob normas que todas aceitam como justificáveis e suficientemente razoáveis, proporcionando o sentido comunitário às ações humanas, o que falta nas decisões racionais puras. Assim, a razoabilidade é uma virtude da pessoa voltada para o domínio público, motivando cada um a cooperar de modo recíproco. Embora distintas, razoabilidade e racionalidade são ideias que não poderiam existir isoladamente, pois a pessoa apenas razoável perde os objetivos particulares que a levariam à interação, enquanto os racionais puros não possuiriam o sentido da justiça. Numa cooperação justa, esses dois fatores constituem cada qual um elemento fundamental

E quando o outro não é humano? E quando o “não humano” também depende do outro para existir e se perpetuar enquanto “doador” das necessidades dos próprios homens? Referimo-nos às questões simples do pacto que devemos ter com o nosso meio ambiente. Diante de tantos pactos humanos de cooperação e satisfação pessoal e coletiva, onde é que estão os contratos que possam nos garantir uma vida digna, justa e saudável? O homem, em sua busca desenfreada pelo ter, assinando acordos de várias formas e maneiras, tem se esquecido do seu início, da sua Francisco Heitor Simões Gonçalves


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Unidade VII A Filosofia da Natureza

história, de como chegou até aqui. A natureza (fauna e flora), que não é humana por não ter o uso da razão, mas, muitas vezes, muito mais sábia nas respostas que dá ao próprio homem todos os dias, mostra-nos as enchentes, as mudanças climáticas, as secas, os alagamentos, os lixos invadindo os oceanos, as casas etc., remetendo-nos a uma pergunta fundamental: Teria feito o homem, no intuito de desenvolver a sociedade a qualquer custo, um contrato de risco com a própria natureza,

com a sua própria morada? Cabe a cada um de nós, no uso da racionalidade e razoabilidade, buscarmos a(s) resposta(s). VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 67 a 72, página 169. ANALISAR E ESCREVER: Questão 87 a 93, página 170.

Para Saber Mais: Outras Leituras CIDADANIA, DEMOCRACIA E JUSTIÇA AMBIENTAL A Constituição Federal Brasileira fala sobre o direito de todos a ter um meio ambiente sadio e o dever dos bens ambientais serem utilizados por toda a sociedade de forma equitativa, igualitária e justa. Mas até que ponto isto é suficiente, quando a realidade socioeconômica demonstra o oposto? Nós somos o reflexo de nossa consciência e organização social. O ambiente em que vivemos, a água, o alimento e os demais seres vivos sofrem as consequências de nossas Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 13 Homem e Natureza

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atitudes enquanto cidadãos. Se olharmos ao redor, encontramos desigualdade, pobreza, preconceitos, exclusão, ou seja, consequências do sistema exploratório. A injustiça ambiental não parece ser tão distante quando vemos fábricas jogando resíduos tóxicos em áreas residenciais ou indústrias funcionando em locais de preservação ambiental ou mesmo comunidades desprovidas de saneamento básico. Igualmente, quando vemos o descaso do cidadão que joga seu lixo em rios e lagos ou que se omite ao ver prática semelhante ser executada por outra pessoa, por exemplo. Mas o que é cidadania? Ser cidadão não é somente possuir direitos, mas é também possuir deveres. Todos temos direito a um ambiente saudável, à igualdade, à liberdade, à moradia digna, à informação, à educação, a trabalho etc. Da mesma forma, é direito do cidadão discutir com o Poder Público local as políticas públicas ambientais para o seu município. Quanto aos deveres, todo cidadão deve proteger o meio ambiente. Cabe a cada pessoa construir um meio ambiente equilibrado, preocupar-se com as consequências das suas ações e com o destino da sua cidade. Isto porque o meio ambiente é um bem de uso comum do povo, ou seja, seu uso é coletivo, ele não pertence a ninguém em particular, mas a todos de forma equitativa. Ser cidadão é, então, ser responsável por suas ações e pelo meio em que habita. É ser agente de mudanças, capaz de intervir e de transformar. Por sua vez, deve ser assegurado aos cidadãos o direito de participar na elaboração das políticas públicas para sua cidade. Cabe ao Poder Público garantir o acesso à informação e ao diálogo, ampliando os espaços de participação popular. Já a sociedade deve lutar para que esses espaços democráticos sejam efetivados, posto que o cidadão é quem sabe qual problema mais lhe afeta e que política deve ser priorizada para se obter, na realidade, a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável. Retirado da Cartilha de Justiça Ambiental da SEMAM (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano de Fortaleza), ano 2007.

Com base no texto, responda: a) Explique a frase: Nós somos o reflexo de nossa consciência e organização social. b) Você concorda ou discorda da afirmação de que “cabe ao Poder Público garantir o acesso à informação e ao diálogo, ampliando os espaços de participação popular”?

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Unidade VII A Filosofia da Natureza

Para Debater e Refletir

D. 64 Você acredita que os recursos naturais do nosso planeta nunca irão se acabar? Comente.

D. 65 É possível, nos dias de hoje, voltarmos a agir como na época do comunismo primitivo? Justifique sua resposta.

D. 66 Pesquise o valor do salário mínimo atual. Vá a um supermercado e faça uma pesquisa de preços de coisas que você necessitaria para sobreviver numa casa com 4 pessoas. Compare o valor das coisas com o valor do salário mínimo e responda: a) É possível viver com apenas um salário mínimo? b) Diante do que foi pesquisado, para você, qual seria o valor ideal para o salário mínimo? c) Existem países em que o salário mínimo é maior que o do Brasil? d) Explique a expressão SALÁRIO MÍNIMO. e) É possível termos tudo o que queremos? Justifique sua resposta. f) Sempre irão existir exploradores e explorados? Comente sua resposta. g) Consumo tem a ver com necessidade ou com vontade? Justifique sua resposta.

D. 67 Todos os contratos são iguais? Comente.

D. 68 Por que, desde a antiguidade, o homem sente necessidade de firmar algum tipo de pacto ou contrato com outras pessoas? Comente.

D. 69 Você conhece algum contrato social que na prática tenha dado certo ou esteja dando certo? Explique.

D. 70 O homem conseguiria, hoje, voltar ao seu estado primitivo? Comente.

D. 71 Experimente por um dia: não assistir televisão, não ligar o computador nem acessar a internet, não comer enlatados, chocolates, bombons, chicletes, produtos industrializados, não acender as luzes, não andar de carro ou qualquer outro tipo de transporte, não utilizar dinheiro. Comente em sala o que você sentiu ao viver dessa forma por apenas um dia.

D. 72 Contratos são necessários para a vida das pessoas? Comente.

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Capítulo 13 Homem e Natureza

Para Analisar e Escrever

A. 81 Pesquise e faça um pequeno resumo de 10 linhas sobre o que Karl Marx pensava a respeito do capitalismo.

A. 82 O que você acha que fez o homem progredir?

A. 83 Todo progresso da humanidade significa, necessariamente, uma evolução do homem? Justifique sua resposta.

A. 84 Consumir significa gastar? Explique sua resposta.

A. 85 O planeta Terra é realmente a nossa casa? Explique a sua resposta.

A. 86 Pesquise em livros a evolução de algumas máquinas que o homem criou ou adaptou para melhor satisfazer as suas necessidades e responda: A evolução desses instrumentos fez o homem trabalhar menos, tornando-o mais feliz? Comente sua resposta.

A. 87 Você já fez algum tipo de pacto ou contrato com alguém? Se a resposta for sim, o que você achou de ter feito? Caso a resposta seja negativa, por que você nunca fez um?

A. 88 Como você se sentiria se alguém tivesse feito um acordo com você e quebrasse esse acordo?

A. 89 Como você reagiria a esta situação?

A. 90 O que você acha das pessoas que fazem contratos ou pactos? Comente sua resposta.

A. 91 Atualmente tem-se falado muito sobre acordos ou tratados ambientais. Um dos mais famosos é o tratado de Kioto. Pesquise sobre este assunto e faça um breve comentário.

A. 92 No início da unidade, falamos que antes o homem era “dominado” pela natureza. Hoje, ele ainda continua sendo dominado por ela ou ele a domina? Justifique sua resposta.

A. 93 Elabore, de forma simples, um contrato social tendo como temas os seguintes assuntos: inclusão social, diversidade sexual, pluralidade das raças e meio ambiente. Pesquise em livros, internet ou com pessoas que trabalhem com contratos. 170

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14

Homem e Meio Ambiente Tchesco

Capítulo

Preservar o meio ambiente para quê?

Introdução

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Muito se fala ou se tem falado nos últimos anos sobre a questão ambiental. A natureza está pedindo de volta o que os homens, muitas vezes, por suas inconsequentes ações, tiraram dela. O “pedir de volta” talvez seja um sinal de que é preciso repensar as nossas ações e atitudes de forma urgente a respeito e com respeito a nossa mãe natureza e ao nosso planeta. Às vezes, temos a impressão de que as pessoas que poluem o meio ambiente, utilizando-se de suas riquezas até se acabar, pensam que existe um outro lugar que, num fechar e abrir dos olhos, possam se mudar e deixar para traz todo o rastro de destruição, egoísmo e desumanidade. O que fazer? O que buscar? O que compreender? Como viver? Perguntas filosóficas, éticas, existenciais... E nossas atitudes? Por vezes não basta saber o que fazer, mas como fazer. Em um mundo mecanicista e desigual, onde os modos de produção servem para manter seus sistemas, qual seria a melhor saída para voltarmos a ter um meio ambiente harmônico? Qual o melhor modo de produção para fazer o homem respeitar a sua própria humanidade? Qual a melhor forma de agir para que o homem volte a ser o SER da razão? Esse capítulo nos levará a várias reflexões sobre o nosso planeta, sobre a nossa vida e sobre a nossa razão de existir. Mãos à obra, o planeta precisa de você. 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

A natureza pede paz E nós, o que pedimos? A natureza pede paz E nós, o que fazemos? Por vezes não pedimos Por vezes não dizemos Por vezes não amamos

Por vezes ou na maioria das vezes nem ouvimos Nem olhamos Não compreendemos... Por vezes sonhamos, mas não sentimos Então, o que fazemos? O que realmente queremos? A natureza pede paz

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Edição não Consumível

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Capítulo 14 Homem e Meio Ambiente

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Continua querendo paz... Por isso pedimos aos homens, mulheres, crianças Que transformem o mundo mudando a si mesmos Para que, com a mudança de cada um, A casa A rua O bairro A cidade O estado O país O continente O mundo Sejam bem melhores para os que irão chegar... E que cheguem, Com toda a felicidade do mundo. Heitor Simões

Com base no texto, responda: a) É possível transformarmos o mundo mudando a nós mesmos? Justifique sua resposta. b) Por que, no texto, o autor diz que a natureza pede paz? Comente a sua opinião.

Para Construir o Conhecimento Filosófico

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14.1 A NATUREZA COM VIDA Tudo na vida é preciso conhecer para cuidar. Tudo na vida é preciso entender para participar. O que não devemos é perder a vida para, só depois, valorizá-la. Assim está a vida do planeta: escorrendo pelas nossas mãos. É preciso mudar urgentemente a nossa maneira de ver, de pensar e de agir sobre o planeta Terra. Ele é a nossa casa. Ele é a nossa vida. Ele é o nosso melhor caminho para termos uma vida realmente de qualidade. Cuidar do planeta é, realmente, algo imprescindível e urgente. Hoje em dia existe uma preocupação mundial com a questão ambiental. Algumas empresas trazem em suas atividades a responsabilidade social, que é uma forma de“devolver” à comunidade algum serviço prestado por ela no âmbito social. A educação ambiental já vem 172

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade VII A Filosofia da Natureza

também sendo “carro chefe” de muitas empresas e indústrias. O importante, filosoficamente falando, é: Será que essas empresas se preocupam realmente com o meio ambiente, com a natureza, ou será que isso é somente uma questão de marketing? Reflexões e questionamentos à parte, o importante é identificarmos se essas ações possuem realmente um indicador de sustentabilidade para o planeta. No capítulo anterior, ao falarmos de contratos e pactos, tocamos em um assunto primordial do nosso estudo: a natureza. Seria o homem, ao ver todo esse processo de degradação ambiental, ingênuo, a ponto de continuar destruindo o seu próprio lar ou o seu próprio“sustento”? Seria o homem “irracional”, a ponto de não ser pelo menos razoável? Ora, a natureza sempre esteve presente. O homem é que se instalou e se apropriou de suas riquezas naturais, esquecendo-se apenas de entender que essas riquezas não duram para sempre, pois são finitas. Observamos que o homem ainda não acordou desse sonho de somente consumir, gastar e ter. É muito comum chegarmos em qualquer bom fast food e nos deliciarmos com os produtos por eles vendidos. No entanto, não nos damos o trabalho de verificar com atenção que, em um sanduíche e um suco servido a nós, somos abastecidos também de um “monte” de embalagens desnecessárias e que, aos poucos, serão descartadas. Vejamos que, ao recebermos o sanduíche, ele vem dentro de um saco, que possui uma caixinha, com um papel para cobri-lo. O canudinho vem dentro de uma embalagem de papel. O mesmo acontece com o palito e o sal. Embaixo de tudo isso, um papel grande para não sujar a bandeja, que já é própria para ser“sujada”. Isso em apenas um sanduíche. Você já pensou na grande quantidade de lixo que produzimos diariamente e que, a cada lixo produzido, mais e mais será retirado do planeta para mais produções? Interessante seria, dentro de uma única embalagem, já vir tudo o que se quer vender.

A sociedade capitalista impregnou em nós o hábito do consumo, mas não nos explica que o consumo exagerado de tudo causa um enfraquecimento em nossas riquezas naturais. O homem, de tanto consumir bens, por vezes supérfluos, está deixando o planeta sufocado. Por isso é que as palavras “ética” e “atitude” são de fundamental importância para uma mudança de postura em relação ao tipo de qualidade de vida que queremos para nós, para nossos filhos e netos. A vida humana depende da natureza. Não é à toa que hoje a educação ambiental é item fundamental em todas as escolas, empresas ou indústrias, sejam elas de gestão pública ou particular. O que importa não é quem faz, mas quem vai continuar fazendo. É comum vermos muitas atividades extremamente pontuais em todos os níveis, como: semana da natureza, dia internacional do meio ambiente, dia da limpeza das praias, passeatas etc. Enfim, tudo muito válido, mas não passam, muitas vezes, de ações isoladas e que ficam esquecidas nas mentes das pessoas até o ano seguinte, em que, novamente, tudo volta a acontecer. Entender a preservação do meio ambiente é também entender a necessidade da cidadania exercida em sua prática. Cidadania exercida é garantia de direitos e deveres cumpridos. No tocante ao meio ambiente, garantir a vida sustentável do planeta é dar possibilidades às futuras gerações de poderem viver significativamente bem. É dar possibilidades de frequentarem praças, parques, rios, matas, cachoeiras e mares limpos. É poder viver de forma harmoniosa, com saúde e alegria. No entanto, para que isso possa acontecer, é necessário um eterno e constante despertar da consciência crítica de cada cidadão. Mudando diariamente, em pequenos gestos, nossas atitudes e hábitos em relação aos cuidados com a natureza, poderemos ser seguidos por outras pessoas. Usar um copo não descartável em nossa bolsa ou mochila faz com que não necessitemos de copos descartáveis e, não necessitando deles, estaremos contribuindo de alguma forma para o planeta

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Capítulo 14 Homem e Meio Ambiente

porque, a cada copo descartável que não utilizamos, muitas e muitas árvores não são desmatadas. Uma das formas de se preservar o planeta é trabalhar com a questão dos 5 R’s: reduzir, reutilizar, reciclar, respeitar e responsabilizar. A natureza nos convida a sermos simplesmente responsáveis por nossas atitudes e ações. Por isso é muito importante a consciência reflexiva e o papel da filosofia nesta luta por um mundo melhor. Não vivemos isoladamente. Precisamos do outro, pois somos seres sociais, e a sociedade precisa aceitar esse convite da natureza para podermos viver de forma sadia. Entender esse convite é aceitar a própria vida. É saber viver, amar, cuidar e preservar. VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 73 a 77, página 180. ANALISAR E ESCREVER: Questão 94 a 97, página 181. 174

14.2 POR UMA ÉTICA PLANETÁRIA SUSTENTÁVEL Antes de entrarmos nesse vasto e grandioso tema, a sustentabilidade planetária, tomada hoje em uma proporção mundial e necessária, observaremos um pouco da filosofia que se instala na razão das pessoas e por onde passam grandes temas e assuntos vivenciais, pois o ser humano é pura relação. No início dos tempos existia uma preocupação das pessoas em saberem a origem das coisas e do mundo, e a relação vivida entre o homem e a natureza era, por assim dizer, harmoniosa. O grande filósofo grego Aristóteles foi um dos primeiros a buscar na physis, na natureza, a explicação racional para a origem de tudo. Suas verdades e seus conhecimentos viriam desse estudo detalhado da mesma. O homem sempre buscou uma forma de se relacionar com o mundo. Essa relação pode se dá como sujeito ou como objeto. O homem, Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade VII A Filosofia da Natureza

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enquanto conhecedor e enquanto aquele que quer conhecer, é sujeito. O homem passivo, que apenas assiste à mudança e às transformações da vida, é objeto. Ao colocarmos essa afirmação, vemos a ação do ser humano mediante o seu mundo como um dos eixos centrais do tema Por uma Ética Planetária Sustentável. A Ética, como estudo do valor do comportamento humano, traz em si uma grande reflexão sobre a noção do valor. Do grego Ethos, que se mostra como ação e atitude humanas, nos encaminha para uma pergunta crucial: Como ser ético em um mundo onde não são valorizadas as pequenas ações ou as pequenas formas de agir? Como ser ético diante do planeta, onde o que vale dentro de um sistema capitalista, desumano, desigual e não “pensante” é o TER em detrimento do SER? Como ser ético em relação à natureza, quando a maioria das pessoas se esquece dos valores fundamentais experimentados por uma educação significativa e de qualidade? O livro Lixo no Lugar Certo, Planeta Vivo e Esperto, de Mara Calvis e Heitor Simões, mostra-nos o quanto a educação ambiental vivenciada nas escolas com as crianças pode ser um valioso instrumento de educação. A criança entende as ações mais primordiais, como por exemplo: não jogar papel de bombom no chão; não pregar chiclete mascado nas cadeiras; colocar o lixo na lixeira etc. “Miro era um menino muito esperto. O problema era que ele não se preocupava com a natureza e, muito menos, com o meio ambiente... enfim, Miro não sabia o que era educação ambiental. Até que um dia, chegaram à sua escola pessoas que se preocupavam com esses tipos de ações e atitudes. Explicaram para Miro e seus amigos a im-

portância de termos um mundo mais humano, saudável e ecologicamente correto...” Enfim, ações simples, mas que trazem em si uma grande contribuição para todos. Observamos, às vezes, que as pessoas acham lindas essas ações, mas não as colocam em prática. A prática é outro eixo fundamental para termos um planeta mais saudável e sustentável. O não fazer a nossa parte, esperando sempre pelo outro, nos leva a um nível não ético, a um nível de acomodação. O processo de acomodação é degenerativo e quase sempre vem impregnado de ações negativas. Quando “gritamos” por uma ética planetária e sustentável não estamos pedindo ao mundo que pare com o consumo, mas que as pessoas desenvolvam a habilidade e capacidade de refletirem sobre seus gestos e ações em relação à nossa morada maior: o planeta Terra. É bem verdade que grandes ações estão se efetivando em bairros, cidades, estados e países, pois a cada dia o nível de informação que nos chega é bem maior. Seria maravilhoso, porém, que o nível de consciência crítico-reflexiva das pessoas também alcançassem a mesma velocidade e o mesmo grau de entendimento com que as informações chegam até nós. Ao andarmos em qualquer cidade, encontramos folderes, cartilhas e cartazes falando de assuntos importantes para o ser humano. Uma dessas cartilhas é encontrada na Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano, a SEMAM. A cartilha do programa de coleta seletiva de Fortaleza, oVIDA, que em seu bojo e essência traz um nome amoroso e coletivo, explica-se por si só: Vamos Inovar Doando Amor. É realmente essa doação no sentido humano que está faltando para que possamos ter uma vida mais humana, justa e saudável. Doar amor, seja em que circunstância for, é o primeiro passo para a construção de algo maior. Ao informarem às pessoas sobre o que é o lixo, do que é composto, dos problemas causados pelo lixo, do tempo de decomposição, do que recicla e não recicla, de como reduzir, reaproveitar e reciclar, os construtores da cartilha estarão contribuindo

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Capítulo 14 Homem e Meio Ambiente

de forma ímpar na tentativa de conscientização das pessoas. Assim se explica o programa VIDA: “O programa VIDA – Vamos Inovar Doando Amor é uma ação da prefeitura municipal de Fortaleza resultante de diversas ideias, discussões e iniciativas construídas em conjunto com os vários segmentos da sociedade civil em torno da coleta seletiva com inclusão social de catadores (as) e da educação ambiental. Este programa busca abranger um dos principais desafios da cidade de Fortaleza e do mundo, que é a gestão ambientalmente adequada dos resíduos. Tem como objetivo a implantação de forma participativa, de um sistema sustentável de coleta seletiva em conjunto com diversos segmentos sociais, com cidadãos (ãs) que compõem a cidade de Fortaleza e, especialmente, com as organizações de catadores (as) de materiais recicláveis. Esta iniciativa reforça a atribuição legal do município em definir políticas e estratégias de gestão de resíduos sólidos da cidade e pretende ampliar o compromisso ambiental e solidário de todos (as), através de uma ampla campanha de sensibilização, a fim de transformar um problema em potencialidade. Para que isso ocorra, se faz necessário o apoio da sociedade no repensar dos seus hábitos e atitudes, promovendo e estimulando a redução, a reutilização e a reciclagem nos ambientes de moradia, trabalho, lazer e circulação”. Como podemos observar, a explicação do que é o programa VIDA já contempla uma ética planetária sustentável. No entanto, é necessário que as pessoas possam realmente mudar seus hábitos e atitudes, a fim de transformarem todas essas mudanças em realizações permanentes e diárias. Não importa se o outro não faz a sua parte, é importante que façamos a nossa. A educação também se mostra e se evidencia quando damos o exemplo. Em casa, na escola, no trabalho e em qualquer meio ambiente. 176

Um desses exemplos aconteceu na General Electric, como mostrou a revista Exame, edição especial: Negócios e Sustentabilidade: “A mais recente e significativa mudança estratégica da centenária General Electric, um colosso com faturamento de 172 bilhões de dólares no ano passado, teve início numa reunião com seus 40 principais executivos, em dezembro de 2004. No encontro, o presidente mundial da GE, Jeffrey Immelt, determinou que todas as áreas da empresa – da fabricação de turbinas aos serviços financeiros – deveriam se engajar na criação de produtos ambientalmente corretos. Segundo Immelt, apenas 20% dos executivos presentes na reunião acharam aquela uma boa ideia. Os demais ficaram, segundo sua própria descrição, com uma expressão que poderia ser traduzida como “você não pode estar falando sério”. Mesmo sem o apoio inicial da maioria, Immelt seguiu em frente e construiu uma das marcas mais visíveis de sua gestão desde que assumiu a presidência da GE, no lugar do lendário Jack Welch, em setembro de 2001.” Ao ver esse exemplo, podemos ficar bem à vontade para entender que as mudanças podem acontecer, e em todos os níveis: desde deixar de jogar um simples papel de bombom no chão até mesmo à atitude de mudança de uma empresa mundialmente famosa. O planeta já debate as mudanças climáticas, causadas também pela ação humana. Atitude individual, esta sim, a melhor forma de manter um planeta eticamente sustentável. VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 78 a 82, páginas 180 e 181. ANALISAR E ESCREVER: Questão 98 a 102, páginas 181 e 182. Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade VII A Filosofia da Natureza

Para Saber Mais: Outras Leituras

Tombam árvores Morrem índios Rios secam Ninguém quer ver O futuro está pedindo Uma chance que não vai ter Não vai ter... Pense em Deus Alerte o mundo Pra floresta não morrer... A devastação é um monstro que a natureza atropela Essa mancha de queimadas que hoje vemos sobre a tela São feridas que o homem fez No corpo, no corpo, no corpo dela. Pense em Deus Alerte o mundo Regue e faça nascer um pomar Ouça a voz dos passarinhos A floresta chora pra ninguém matar... Quando os galhos vão caindo dão a impressão De que os estalos são gemidos implorando compaixão, Mas quando Deus pedir de volta aquilo que Ele deixou Não tem choro, não tem reza, nem pedidos de perdão.

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Texto 1

Heitor Simões

Com base no texto, responda: a) Como você interpreta o pensamento do autor “A devastação é um monstro que a natureza atropela / Essa mancha de queimadas que hoje vemos sobre a tela / São feridas que o homem fez / No corpo, no corpo, no corpo dela”? b) Você concorda com a ideia do texto de que Deus venha a “pedir de volta o que Ele deixou”? Comente sua resposta. Texto 2 PARA O SEU CONHECIMENTO Sobre o tempo de decomposição: – O papel leva de 3 a 6 meses para se decompor. – O pano leva de 6 meses a um ano para se decompor. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 14 Homem e Meio Ambiente

– A ponta de cigarro leva de 1 ano e 6 meses para se decompor. – O chiclete leva 5 anos para se decompor. – O plástico leva mais de 100 anos para se decompor. – As fraldas descartáveis levam mais de 450 anos para se decompor. – Os pneus e os vidros levam mais de 1 milhão de anos para se decompor. Sobre o que recicla e o que não recicla: RECICLA: papéis, revistas, papelão, embalagens longa vida, latinhas de metal, pet’s, vidros etc. NÃO RECICLA: papel higiênico, madeiras, espelho, isopor, esponja, tubo de TV etc. As doenças causadas pelo acúmulo de lixo e armazenamento incorreto: – Leptospirose, peste bubônica, cólera, malária, febre amarela, toxoplasmose, dengue, leishmaniose etc. Sobre como reduzir a quantidade de lixo: – Economizando energia, reduzindo o consumo, evitando desperdício de alimento e trabalhando os 5 R’s: reduzir, reutilizar, reciclar, respeitar e responsabilizar. Sobre as cores da coleta seletiva: – amarelo: metal – azul: papel e papelão – vermelho: plástico – verde: vidro – roxo: resíduos radioativos – marrom: resíduo orgânico – cinza: resíduos não-recicláveis – preto: madeira – laranja: resíduos perigosos – branco: resíduos de serviços de saúde. Com base no texto, responda: a) O que recicla? b) O que não recicla? Texto 3 ARTIGO 225 DA CONSTITUIÇÃO Do Meio Ambiente Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 178

Francisco Heitor Simões Gonçalves


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Unidade VII A Filosofia da Natureza

1 o . Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: I. preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II. preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III. definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV. exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio do impacto ambiental, a que se dará publicidade; V. controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI. promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII. proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. 2 o . Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. 3 o . As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 14 Homem e Meio Ambiente

4 o . A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal MatoGrossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e a sua utilização far-se-á, na forma de lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. 5 o . São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. Fonte: http://www.lei.adv.br/225-88.htm

Com base no texto, responda: a) Todos têm realmente direito ao meio ambiente ecologicamente correto? b) Dê sua opinião sobre a seguinte afirmativa: O poder público e a coletividade têm o dever de preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

Para Debater e Refletir

D. 73 Parar de consumir é a melhor saída para a saúde do planeta Terra? Comente.

D. 74 O consumo exagerado das pessoas pode ser um tipo de “doença”? Comente.

D. 75 Quando dizemos que o ser humano consome o lixo produzido, significa dizer que ele “come” lixo? Comente.

D. 76 Ter uma cidade arborizada significa dizer que esta cidade é saudável? Comente sua resposta.

D. 77 Como é possível à natureza, que é irracional, nos convidar para uma vida com mais qualidade? Comente.

D. 78 É possível, hoje em dia, termos um planeta sustentável? Comente.

D. 79 A ética é realmente importante no processo de sustentabilidade de um planeta? Justifique sua resposta.

D. 80 Pequenas ações de educação ambiental podem mudar o planeta? Comente sua resposta.

D. 81 O autor coloca que as crianças têm a capacidade de mudar o mundo. Isso é possível? 180

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade VII A Filosofia da Natureza

D. 82 É possível uma pessoa mudar a sua atitude pensando no bem comum de outras pessoas? Comente sua resposta.

Para Analisar e Escrever

A. 94 É possível mudarmos os hábitos das pessoas com relação ao meio ambiente? Justifique sua resposta.

A. 95 Descreva em poucas linhas o roteiro“verde”da ida de sua casa até a sua escola. Comente se as ruas e avenidas são limpas, se são arborizadas, se possuem coletores de lixo, se as pessoas colocam lixo nas calçadas etc.

A. 96 Faça uma observação de sua casa e depois comente em sala o que você achou de interessante sobre esses assuntos: a) Quantos sacos de lixo em sua casa são preenchidos em um dia? b) Diga mais ou menos quanto você acha que pesa cada lixo. c) Multiplique a quantidade de lixo produzida por sua família pela quantidade de habitantes de sua cidade. Veja o quanto é produzido por dia em forma de estimativa. d) Você sabe para onde vai o lixo produzido pelas pessoas? e) Em sua cidade, existem os “catadores” que recolhem o seu lixo para a reciclagem? f) Sua família separa o lixo? g) Você saberia dizer se sua cidade possui algum tipo de programa de coleta seletiva?

A. 97 Por que quando falamos em natureza e meio ambiente, o lixo é um dos assuntos mais importantes a ser debatido? Comente sua resposta.

A. 98 “Você já parou para pensar que o mundo é a casa de todos nós? Agora imagine como seria a sua casa se você jogasse o lixo no chão da sala, no quarto, colocasse chiclete nas paredes e ninguém se preocupasse com isso? Horrível, não seria? Mais cedo ou mais tarde iria chegar o dia em que você e sua família não teriam mais condições de viver ali e correriam o risco de pegar muitas doenças. É exatamente isso que pode acontecer”. Com base nesse pequeno texto de Guilherme Sampaio, que conclusões você pode tirar para a melhoria de vida no planeta Terra? Comente sua resposta.

A. 99 Você acredita que a educação ambiental é uma saída para a falta de educação das pessoas com relação aos cuidados que devemos ter com o planeta? Justifique sua resposta.

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Capítulo 14 Homem e Meio Ambiente

A. 100 Que atitudes você tomaria caso fosse o prefeito ou prefeita de sua cidade em relação às questões ambientais? Cite-as.

A. 101 O que você acha do tema “Lixo no lugar certo, planeta vivo e esperto”? Comente.

A. 102 Como você imagina o planeta Terra daqui a 30 anos? Justifique sua resposta. Chegamos ao final da unidade VII. Exercite aqui a sua habilidade de pensar, raciocinar, observar e comparar, registrando o que você adquiriu de conhecimento novo.

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SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES • •

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ABREU. Maria de Fátima. Do lixo à cidadania – estratégias para a ação; 2a Ed, Brasília, 2001. Almanaque Brasil socioambiental – uma nova perspectiva para entender a situação do Brasil e a nossa contribuição para a crise planetária, São Paulo, 2007, editores gerais: Beto Ricardo e Maura Campanili. RABELO, L. Indicadores de Sustentabilidade – a possibilidade da mensuração do desenvolvimento sustentável. Revista eletrônica do Prodema, UFC. Fortaleza, v. 1, no 1, 2008. Disponível em: www.prodema.ufc.br/revista. SIMÕES, Heitor; CALVIS, Mara. Lixo no lugar certo, planeta vivo e esperto. 1a ed., 2008, Fortaleza. Uma Verdade Inconveniente – Paramount Pictures Brasil. Impacto Final – Focus Filmes. O Dia Depois de Amanhã – 20th Century Fox Film. Sinais – Touchstone Pictures / Buena Vista Internacional. Reação em Cadeia – 20th Century Fox Film. Os Mosconautas – Iluminata Pictures.

Francisco Heitor Simões Gonçalves


A Filosofia dos VIII Filósofos

Unidade

O que é ser filósofo? Qual a importância dos filósofos? Ser filósofo é ser questionador? Você se acha filósofo?

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Registre, no seu caderno, o que você sabe ou já ouviu falar sobre filósofos.


Capítulo

Tchesco

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Pensando no Pensar (Pensadores Antigos e Medievais)

Para que pensar?

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É comum dizer que o homem é o único ser pensante da natureza. É comum dizer que o que nos diferencia do animal irracional é o uso da razão. Seria verdade dizer que somente cabe ao homem o direito de pensar? É claro que ao enveredarmos por esse tema tão “discutível”, estamos nos colocando à disposição de compreendermos ou de repensarmos o que seria esse uso da razão dado ao homem. Se esse uso da razão se coloca no sentido de que o homem retém na memória as suas atividades, guardando-as para depois, com consciência para repeti-las, é muito provável que só ele a possua. O homem é um ser da construção. A cada dia ele se refaz, mas como entender que o homem, dotado de consciência, e supostamente consciente dos seus atos, roube, mate, violente pessoas, tire a sua própria vida? Enfim, posicionamentos que nos levam a refletir sobre pensamentos de alguns filósofos para melhor entendermos o nosso próprio pensar e o nosso próprio agir. Este capítulo tem como objetivo refletir sobre o pensar de alguns filósofos da Antiguidade até a Idade Média. Claro que sempre de uma forma simples e objetiva, pois caberá a você se posicionar criticamente e reflexivamente sobre o que vamos comentar nas linhas a seguir. Muitos desses pensamentos foram feitos por pessoas simples e pensantes, como vocês que agora leem. Bons pensamentos e ótimas reflexões! 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

“Quem pode medir os tempos passados que já não existem ou os futuros que ainda não chegaram? Só se alguém se atrever a dizer que pode medir o que não existe! Quando está decorrendo o tempo, pode percebê-lo e medi-lo. Quando, porém, já tiver decorrido, não o pode perceber nem medir, porque esse tempo já não existe.” 184

Francisco Heitor Simões Gonçalves

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Introdução


Unidade VIII A Filosofia dos Filósofos

SANTO AGOSTINHO, POR HEITOR SIMÕES

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A beleza de se ler Agostinho nos faz compreender e entender a importância do ser verdadeiro, de não enganar a Deus para não enganar aos outros e, consequentemente, a nós mesmos. Essa ação torna-nos, por inteiro, pessoas moralmente retas. Suas reflexões e angústias sobre a explicação racional, sobre o tempo, sobre a alma, sobre Deus e, sobretudo, sobre a construção do EU, nos remete a um ponto básico e fundamental do pensamento e reflexão filosófica: o eterno pensar. Embora tenha sido um pensador medieval, os seus questionamentos e angústias em suas reflexões sobre o tempo até hoje marcam a história da filosofia contemporânea, pois transcendem a sua “pessoalidade” e nos evidenciam um pensar ainda longe de ser desvendado. Passado, presente, futuro... dimensões exatas? Percepções do tempo? Constituições do pensar? Construções da nossa memória? As angústias e preocupações de Agostinho sobre o tempo se deparam, em sua própria percepção, em três momentos: no passado, que se coloca como um tempo distante, afastado de nós; no presente, constituído St Augustine, 1480 no agora, no tempo exato em que as coisas acontecem; Fresco, 152 x 112 cm Ognissanti, Florence e no futuro, conjunto de todas as atividades concretizadas no passado e presente, independente do seu tempo de duração. Essas conclusões sobre os períodos que constituem o tempo, de alguma forma, também nos remete a alguns questionamentos: será o tempo capaz de ter significado e ser explicado em sua totalidade? É possível medir o tempo em cada período de nossas vidas? Será que nós, seres supostamente racionais e pensantes, que o “medimos” por fase experimentada em nossas vidas, poderemos dizer com toda a certeza o que é o passado, o presente e o futuro na relação com o outro? O meu tempo é o mesmo tempo de outra pessoa? Para dar mostras dessa importância do pensar sobre o tempo, Agostinho agrega novas maneiras de pensar, refletir e entender esse mesmo tempo, quando traz não somente a forma espacial, mas ao dizer que a linguagem é também um valioso instrumento para o entendimento do tempo. De certa forma podemos conceber que a linguagem é articulada pelo próprio Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 15 Pensando no Pensar (Pensadores Antigos e Medievais)

tempo, por nossas atividades e compreensões. Para tanto, nesse agregar de entendimentos e compreensões, junta-se à linguagem outro instrumento de valiosa contribuição: a memória. O que percebemos é o mesmo que vemos e sentimos? Indagações estas que os convido a refletir... lendo, percebendo e aprendendo com Agostinho. Com base no texto, responda: a) Como são definidos o presente, o passado e o futuro? b) Você concorda com o autor quando ele diz que o pensamento de Agostinho, em suas reflexões sobre o tempo, são reflexões atuais? Justifique sua resposta.

Para Construir o Conhecimento Filosófico

Antigamente, e isso não faz muito tempo, dizia-se que existiam meninos“gênios”. Isso se dava ao fato desses meninos terem grande aproveitamento em suas escolas, de forma a conhecerem quase tudo das disciplinas e da grade escolar, principalmente se essas disciplinas eram as tão “famigeradas” disciplinas voltadas para os cálculos. Hoje, através do conhecimento das teorias das inteligências múltiplas de Howard Gardner, entendemos melhor que cada pessoa, dentro das suas potencialidades, desenvolve as suas habilidades da melhor maneira possível. Por exemplo: Existem pessoas que têm uma excelente aptidão para tocar violão, mesmo não conhecendo ou decifrando as partituras. Tocam “de ouvido”, como se diz. Outras não tocam violão, mas possuem excelente coordenação motora e tocam bateria. Uns não têm aptidão para a música, mas são excelentes oradores. Outras pessoas adoram física. Enfim, podemos saber de tudo um pouco, mas saber tudo é algo muito difícil. Por isso é que hoje em dia damos uma importância fundamental ao ato de pensar. Pensar, todos nós pensamos, mas o pensar bem é que deve ser colocado em prática. Não devemos pensar de qualquer maneira, pois cairemos no senso comum. Devemos pensar de forma a va186

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15.1 A IMPORTÂNCIA DO PENSAR

lorizar as nossas ações e os nossos atos. Foi assim que, desde o início da humanidade, algumas pessoas tiveram uma grande preocupação com a nossa origem e com a nossa existência. O que somos? Para onde vamos? O que queremos ser? Foram perguntas adotadas por muitos e muitos pensadores, pois, para ser filósofo, não precisa, necessariamente, ter um diploma fornecido por uma universidade. Pensar, ser pensador, buscar a origem das coisas, ser curioso e buscar respostas para as nossas perguntas também nos fazem filósofos. Algumas pessoas, por não se contentarem com o que era óbvio, foram buscar respostas para a origem do mundo e, consequentemente, busFrancisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade VIII A Filosofia dos Filósofos

nossa existência. Ao pensar que a água era a fonte de vida e a origem de tudo, Tales procurou, em seus estudos e reflexões, identificar que ela era o princípio vital. O princípio da vida, do anima, foi uma busca constante dos primeiros pensadores, mas, se a água era fundamental, mais fundamental ainda seria o ar, como pensou Anaxímenes. Não vivemos sem respirar. E como não identificar outros fatores também importantes? Outras possibilidades? Outras circunstâncias? Foi assim que Anaximandro, por não saber qual seria realmente esse fator vital, chamou todas essas “circunstâncias” de o apeirom, do indeterminado. E assim, de pensar em pensar, as pessoas foram criando e cuidando desse hábito e dessa habilidade, para o bem de todos nós. Muitas vezes deixamos de dizer algo por vergonha ou por não acreditarmos naquilo em que realmente pensamos. Isso é uma grande bobagem, pois, se o que queremos dizer é fruto de um pensar realmente reflexivo que traz um bom argumento, não devemos privar as outras pessoas de conhecerem o nosso pensar. Shutterstock

car respostas para a sua própria origem. Essas pessoas foram chamadas pelo mundo ocidental de pré-socráticos. Lembram no início do livro? Falamos deles e o que são. No entanto, agora estamos a valorizar as suas ações e não somente as suas descobertas. Valorizar as ações dos pré-socráticos significa dizer que o pensamento ocidental foi nascido e construído basicamente por essas pessoas que dedicaram o seu tempo à atividade do pensar. Você já parou para pensar nisso? Através do pensar de algumas pessoas, o nosso pensar sobre o mundo e sobre as coisas que nos rodeiam são muito importantes. Quando pensamos, sobre o que pensamos? Quando estamos numa aula que não gostamos muito, o que fazemos? Quando olhamos para nós mesmos em um espelho, o que vemos? Onde o pensar pode nos ajudar a transformar um mundo? Tantas perguntas, tantas respostas! Você já parou para pensar o quanto o pensar é importante? Quantas vidas são salvas por um simples pensar de forma rápida? Pois é, há muitos e muitos anos, pessoas pensam de forma reflexiva para entender a

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Capítulo 15 Pensando no Pensar (Pensadores Antigos e Medievais)

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 83 a 89, páginas 191 e 192. ANALISAR E ESCREVER: Questão 103 a 106, página 192. POR

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15.2 U M PENSAR SOBRE J OÃO P AULO II, MARA CALVIS.

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Uma coisa é dizer desta forma, outra coisa é, levado pela emoção, dizer tudo o que vem à cabeça. Um bom exemplo disso são as discussões que vemos quase todos os dias nos noticiários quando nos mostram os políticos. Muitos deles não sabem fazer política, pois gritam, xingam, enganam os colegas e a população com falácias, pensando somente no seu próprio bem, esquecendo do Bem comum, que é, ou deveria ser, o bem de todos. O pensar é uma atividade bem legal. Vejamos essa afirmativa: A CASA É MAL-ASSOMBRADA”. Foi assim que aprendemos quando falam para nós de uma casa que nos dá medo. No entanto, se analisarmos e pensarmos de forma racional, essa casa não deveria fazer medo a ninguém, já que ela é MAL-assombrada. Para fazer medo, ela deveria ser BEM-assombrada, mas ninguém escuta essa expressão. Notou a importância do pensar? Por isso, a partir de agora, com calma, pense sempre antes de agir ou de dizer algo a alguém.

Papa João Paulo II, em oração

“Só a liberdade que se submete à verdade conduz a pessoa humana a seu verdadeiro bem. O bem da pessoa consiste em estar na verdade e em realizar a verdade.” Karol Wojtyla, polonês, mais conhecido como João Paulo II, sumo pontífice da Igreja Católica, foi o primeiro papa não nascido na Itália desde o ano de 1523. Talvez tenha sido o papa que mais se identificou com a missão cristã e com a bandeira de evangelização do verdadeiro cristianismo. Entenda-se por cristianismo a doutrina de seguimento aos ensinamentos de Jesus Cristo. 188

Francisco Heitor Simões Gonçalves


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Unidade VIII A Filosofia dos Filósofos

João Paulo II, a cada lugar que visitava, beijava o chão em sinal de humildade e de respeito ao povo visitado. Foi realmente um missionário da igreja e um dos maiores nomes na arte literária cristã, autor de peças teatrais, poesias e encíclicas. Além disso, deixou inúmeras obras escritas sobre vários assuntos importantes que falam e dizem respeito à vida humana. Foi defensor da vida e da liberdade, do direito ao que é justo e eticamente correto. Como papa, pediu perdão à humanidade pelos erros cometidos pela Igreja Católica Romana. Em sua missão evangelizadora, percorreu os continentes levando a palavra de fé, humildade, amor, fraternidade e ecumenismo. Amante das escrituras, com certeza foi um dos maiores filósofos e pensadores da humanidade, mais precisamente do século XX. A Igreja, sob sua Égide, sob sua “administração”, cresceu em popularidade, principalmente no que diz respeito aos jovens. Como Agostinho e Tomás de Aquino, Karol Wojtyla deu uma enorme contribuição à Igreja e à humanidade, no sentido de expor suas ideias e atitudes como eterno defensor da liberdade humana. Dizia João Paulo II: “A liberdade, em todos os seus aspectos, deve se basear na verdade. Quero repetir aqui as palavras do senhor Jesus: E a verdade vos libertará (Jô 8,32). É, pois, meu desejo que vosso senso de liberdade possa estar sempre de mãos dadas

com um profundo senso de verdade e honestidade sobre vós mesmos e das realidades de vossa sociedade”. Essa estreita relação de liberdade e de verdade pode nos mostrar, eticamente, como se chegar ao verdadeiro bem, que é o bem comum. A pessoa humana que é conduzida pela verdade, com certeza, alcançará o bem. Alcançando esse bem, alcançará ou vivenciará a verdadeira liberdade. O homem livre, que vive ou é conduzido pela verdade, terá uma vida digna, uma vida humana socialmente justa. João Paulo II encontra nessa liberdade o verdadeiro conhecimento. E essa liberdade, de forma autêntica, se dá em Jesus Cristo, exemplo maior de liberdade, amor e justiça. A liberdade age nesse processo de consciência das minhas atitudes e das minhas ações. Um homem livre, tendo como alicerce a verdade, é um homem valoroso, é um homem de bem. Com base no texto, responda: a) Onde, no texto, a autora compara João Paulo II aos grandes pensadores da Igreja? Escreva essa citação em seu caderno. b) Através de uma reflexão consciente e crítica do texto, comente esta frase: “A liberdade, em todos os seus aspectos, deve se basear na verdade. Quero repetir aqui as palavras do senhor Jesus: E a verdade vos libertará (Jô 8,32). É, pois, meu desejo que vosso senso de liberdade possa estar sempre de mãos dadas como um profundo senso de verdade e honestidade sobre vós mesmos e das realidades de vossa sociedade”.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questões 90 e 91, página 192. ANALISAR E ESCREVER: Questões 107 e 108, página 192. 189


Capítulo 15 Pensando no Pensar (Pensadores Antigos e Medievais)

Para Saber Mais: Outras Leituras A DEFESA DO DIREITO DE PENSAR “Morrer deve ser como não haver nascido e a morte talvez seja até melhor que a vida de dor e mágoas, pois não sofre quem não tem a sensação dos males.” Eurípedes, As Troianas

”Não morrerei de todo.” Horácio, Odes

SÓCRATES OU A DEFESA DO DIREITO DE PENSAR Supondo que alguém perguntasse ao condenado a morte Sócrates se ele não se arrependia de ter dedicado sua vida inteira a uma prática que agora o conduzia a um trágico fim, é provável que o mesmo respondesse: Estás enganado se pensas que um homem de bem deve ficar pesando, ao praticar seus atos, sobre as possibilidades de vida ou de morte. O homem de valor moral deve considerar apenas, em seus atos, se eles são justos ou injustos, corajosos ou covardes.

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(PLATÃO, 2007, p. 63)

Sócrates

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Assim era e pensava o homem-marco divisor da história da filosofia clássica. Nascido em Atenas (469-399 a.C.), era filho de um escultor e de uma parteira. Talvez por isso tenha sabido tão bem esculpir homens e ideias, e fazer da sua maiêutica (literalmente “arte de trazer à luz”, em grego), tantas consciências obscurecidas nas trevas cavernosas da consciência. Sócrates aprendeu com os sofistas a se concentrar nas questões que diziam respeito diretamente ao homem, ao invés de, como os chamados présocráticos, tentar explicar a natureza. Mas, diferente dos sofistas, abriu mão do relativismo das ideias e valores e da retórica como arte de atingir interesses pequenos. Preocupou-se com a busca da Essência do homem e de ideias como Bem,Verdade, Justiça, Amor e Belo. Ultrapassava assim a notação do meramente empírico, para tentar compreender o homem em sua anima, alma, eu-consciente. Por isso o “conhece-te a Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade VIII A Filosofia dos Filósofos

ti mesmo” tornado lema e leme, numa clara opção pelo humano e seus labirintos. Apesar de não ter deixado nada escrito, deixou marcas de texto e textura em seus discípulos (Xenofonte, Platão) e adversários (Aristófanes, por exemplo), que o imortalizaram. O método filosófico de Sócrates era de uma coerência e artimanha aracnídeas: consistia em usar, de maneira estratégica, dois recursos complementares: a Ironia e a Maiêutica. No primeiro momento, interrogava seus interlocutores sobre o que estes pensavam saber, daí atacava de maneira lúcida (e, em geral, brilhante) suas respostas, até destronar seus “conceitos” e, é claro, a empáfia de sua arrogância. Costumava ser uma luta injusta, em que as “reflexões” eram sutilmente desmascaradas como ideias sem substância. Demolidos em seu orgulho de saber, era hora de Sócrates dar o segundo passo: reconstruir. Uma nova série de questionamentos ajudava os discípulos a tocar os nervos reais de suas ideias, concebendo conceitos mais profundos e universais. Como sua mãe, Sócrates habilmente ajudava a filosofia a nascer daquelas consciências e, rapidamente respirar. Mas, eis a questão. Sua profunda concepção de liberdade e pensamento o fazia questionar tudo, e não apenas isso, ensinar outros a questionar também. Dos poderes constituídos aos deuses, tudo era esquadrinhado, medido, pesado, num esforço dialético épico. Os valores dogmáticos da sociedade ateniense foram postos em xeque, e Sócrates aplicava livremente sua arte de fazer pensar em homens “livres” e “escravos”, ricos e pobres, mulheres e estrangeiros, comportamento de todo inaceitável para a cultura aristocrática da época. Some-se a isso a inveja que provocava e temos um coquetel molotov (ou será de cicuta?) pronto para transformar-se em acusação, processo, julgamento e condenação. Porque, diz Voltaire: Sim, Sócrates tem razão, mas está errado em ter razão tão publicamente. Disponível em: RONAI, A defesa do direito de pensar. Acessado em: http://www.webartigos.com/articles/1835/1/socrates/pagina1.html 13 de setembro de 2009-09-13

Com base no texto, responda: a) Comente a frase do texto: “Morrer deve ser como não haver nascido e a morte talvez seja até melhor que a vida de dor e mágoas, pois não sofre quem não tem a sensação dos males”. b) Cite onde, no texto, se evidencia a importância do verdadeiro pensar para Sócrates.

Para Debater e Refletir

D. 83 Pensar vale a pena? Por quê?

D. 84 Todos os nossos atos devem ser pensados? Justifique sua resposta.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

191


Capítulo 15 Pensando no Pensar (Pensadores Antigos e Medievais)

D. 85 Quando pensamos, pensamos sempre em coisas boas? Comente a sua resposta.

D. 86 As pessoas que pensam podem ser consideradas pensadores? Comente.

D. 87 Você acredita que só o ser humano pensa? Justifique sua resposta.

D. 88 Quando dormirmos, pensamos?

D. 89 Um pensador pode ser considerado filósofo? Justifique o seu sim ou o seu não.

D. 90 João Paulo II pode ser considerado, mesmo sendo um padre, um grande filósofo nos tempos de hoje?

D. 91 Por suas ações e seus pensamentos, você acha que João Paulo II pode ser considerado um dos maiores pensadores da história da Igreja?

Para Analisar e Escrever

A. 103 Qual a importância do pensar? Justifique sua resposta.

A. 104 Falamos muito dos pensadores ocidentais. Pesquise e escreva em seu caderno nomes e pensamentos de pensadores orientais. Mínimo de 4 pensadores e pensamentos.

A. 105 Políticos podem ser exemplos de pensadores? Justifique o seu sim ou o seu não.

A. 106 Escolha um pensamento de algum filósofo e faça uma dissertação sobre o pensamento escolhido.

A. 107 A Igreja, em toda a sua história, esteve sempre ao lado dos mais humildes e pensadores do povo?

A. 108 Todos os papas sempre tiveram uma “abertura” no sentido de compreender as atitudes do seu “rebanho” e seus “devotos”? 192

Francisco Heitor Simões Gonçalves


Capítulo

Tchesco

16

Continuando a Pensar no Pensar (Pensadores Modernos e Contemporâneos)

O homem necessita sempre das atividades e da habilidade de pensar? Introdução Estamos concluindo o nosso livro, pois este é o último capítulo. Dizemos nosso porque um escritor não escreve somente para si. Se assim o fizer, não existirá o mérito da comunicação e do conhecimento. O que será visto neste último capítulo nada mais é do que a continuação do capítulo anterior: um pensar sobre o pensar de alguns filósofos que contribuíram de forma significativa para a evolução do conhecimento da humanidade. Esse pensar acontece na visão de outros filósofos e pensadores que acreditam nas mudanças e nas grandes possibilidades do entendimento humano. 12 6

3 Para Pensar e Repensar: Uma Leitura Filosófica

A BELEZA DA MONOTONIA Dia após dia, a vida passa Como um filme rebobinado Repetindo fatídicas cenas, Mais impedindo que cada um veja Como é bela a monotonia. Rápidos momentos, pequenos detalhes Coisas que a atenção só passa desatenta E apenas dia após dia Rebobinando o fatídico filme de nossa vida É possível perceber como é bela a monotonia. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Edição não Consumível

193


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Capítulo 16 Continuando a Pensar no Pensar (Pensadores Modernos e Contemporâneos)

Um instante em um vago pensamento Permite que a mente vá para longe E nesse momento de calvo devaneio É possível perceber como é bela a monotonia. Aline Maria de Lacerda Rodrigues

Com base no texto, responda: a) É possível a monotonia ser bela? b) Cite, no texto, onde a autora faz uma comparação do filme com a própria vida.

Para Construir o Conhecimento Filosófico 16.1 SOREN KIERKEGAARD – “ENCONTRAR UMA IDEIA PELA QUAL EU POSSA VIVER E MORRER”, POR MARGARETH CASTRO DE OLIVEIRA. Soren kierkegaard, filósofo dinamarquês, que chama a atenção por sua vida ser uma busca constante de uma verdade nos diz que: “...uma verdade que seja pra mim, encontrar uma ideia pela qual eu possa viver e morrer”. Uma luta que levou uma vida, a qual ele chamou de existência, entre o viver e o morrer, uma 194

ideia na qual iria repousar suas escolhas e possibilidades de existir. Escolhas essas que não poderiam ser feitas por mais ninguém. Essa tomada de consciência de sua vida, de sua existência, este “salto para a vida”, esse mergulho em uma vida autêntica, vivida, experienciada, em que, no momento em que se escolhe algo, abre-se mão de todas as outras possibilidades e vivencia-se a angústia e o desespero de viver nesse mundo de riscos. A busca por um existir, Francisco Heitor Simões Gonçalves


Unidade VIII A Filosofia dos Filósofos

16.2 UM PASSADO SEMPRE CARLOS WILKE.

Søren Kierkegaard

por uma verdade que se possa viver, e essa verdade, essa ideia é particular e pessoal, é o que é verdadeiro para cada um. A compreensão da vida para Kierkegaard não vai fazer as escolhas que só o ser humano pode fazer para viver a vida: “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente!”Verdade essa que dá o sentido de existir e viver, para que o ser humano possa ousar viver, com tudo de bom e de ruim, pois“não ousar é perder-se”, é não viver a vida, passar por uma vida não vivida. O pensamento de Kierkegaard nos conduz a reflexões que são presentes nos dias de hoje, porque o ser humano não mudou, continua na sua busca por conhecer a si mesmo e o sentido da sua existência. Acessado em: http://blogs.evolutivo.com.br

VOCÊ JÁ É CAPAZ DE DEBATER E REFLETIR: Questão 92 a 94, página 200. ANALISAR E ESCREVER: Questões 109 e 110, página 200.

PRESENTE , POR

JOSÉ

Este é o desafio. Nos dias de hoje onde a tecnologia de ponta supera “quase” tudo, temos que aprender a visionar as incríveis e múltiplas diferenças que existem, mas entre os seres humanos, que sempre existiram desde os tempos remotos; entre o bem viver e a sagacidade que produzem os maus exemplos de pessoas com a responsabilidade voltada para o interesse próprio, nem se preocupam com nada a sua volta. Conheci pessoas nestes meus sessenta e tantos anos já vividos dos dois lados. Sou testemunha presente de um cidadão com a honra do prêmio Córpule de Medicina, que atendia por livre e espontânea vontade, no turno da manhã, aos necessitados por sentir-se gratificado em conseguir ajudar essas pessoas. Seu pagamento era a alegria que tinha em poder aliviar o sofrimento do ser humano. Ia mais adiante; nos fins de semana, se dirigia às vilas pobres quando visitava doentes e idosos levando a eles a esperança e o alívio de suas dores e aflições. Fazendo-lhes ver o valor do bem material e o valor do bem espiritual. Quando morreu, no seu velório, podia-se notar a naturalidade de sua expressão dando a impressão que tinha um sorriso nos lábios. Nesta filosofia, apesar de rara, podemos encontrar o seu testemunho em um médico que vive entre nós hoje trabalhando na Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza que pratica todo o tipo de ajuda ao próximo atendendo a todos que são inúmeros com carinho e atenção ajudando-os a criarem força e assim criando condições para que sua melhora seja mais rápida o que nos faz acreditar de um nascer do sol maravilhoso terminando o dia com um luar preponderantemente suave sobre o mar formando em nossa mente uma imensidão de alegria e bons pensamentos. Este ser humano chama-se Dr. Saraiva. Aquele círculo de pessoas influentes que o queriam sempre

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Capítulo 16 Continuando a Pensar no Pensar (Pensadores Modernos e Contemporâneos)

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presente na alta sociedade, não acompanham este seu modo de pensar e de agir. Devido seus avançados conhecimentos científicos, teria a oportunidade de aparecer em jornais, colunas sociais etc. o que não é o seu objetivo de vida. Para as pessoas influentes da sociedade que tem outra filosofia de vida não é possível entendê-lo bem. Para entender esta linha de vida, podemos citar um exemplo explicável: modo de criação dos pais na infância e na adolescência que é quando se forma a personalidade do indivíduo. Com isto devemos aprender que apesar dos sofrimentos espirituais e materiais dos seres humanos, a porcentagem desse modo de agir na existência humana é infelizmente preponderantemente pequena, mas acredito eu que é o que ainda sustenta o equilíbrio da vida neste planeta.

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questão 95 a 97, página 200. ANALISAR E ESCREVER: Questões 111 e 112, página 200. 196

16.3 O PLANETA DOS PRIMATAS, POR FRANCISCO VLADIMIR CASTRO DE OLIVEIRA. Será que nós, seres humanos, seríamos produto de uma raça superior que teria temporariamente habitado o nosso planeta? Seres extraterrestres estariam frequentemente nos visitando e acompanhando nosso desenvolvimento? E Deus, onde estaria? O desenvolvimento humano, no que se refere à ciência, suas conquistas, tanto nas áreas filosófica e humanas, bem como nas ciências exatas e tecnológicas, não tem fornecido respostas a alguns destes questionamentos, porém, sempre persiste a dúvida inicial sobre a origem do universo, a existência de Deus e de outras civilizações em outras galáxias. As respostas mais simples parecem ser as mais aceitáveis. A existência ou não de Deus não deveria interferir na ordem e na evolução do nosso universo. Se Deus criou o universo, Ele o criou suficientemente perfeito para evoluir por si só, segundo as leis que atualmente conhecemos. Para Deus, que é infinito e onipotente, o tempo não existe, pois este é uma propriedade específica do nosso universo supostamente em expansão. Para Deus, nunca houve um começo e nunca haverá um fim. Esses conceitos só existem no nosso dia-adia, pois nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. O universo que conhecemos surgiu a partir do Big Bang e está se expandindo a mais de 15 bilhões de anos, tempo suficiente para surgimento e morte de muitos mundos e civilizações, galáxias, sistemas estelares e planetários, com características favoráveis ao surgimento e desenvolvimento da vida da forma como conhecemos ou de outra forma desconhecida. O universo atual é imenso, as distâncias são enormes. Há mais espaço vazio do que matéria propriamente dita e, em cada ponto longínquo desse universo em expansão, em algum momento dessa história poderia haver Francisco Heitor Simões Gonçalves


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Unidade VIII A Filosofia dos Filósofos

algum tipo de proliferação de “vida”. Vale ressaltar que entende-se por vida uma entidade composta de matéria que pode, a partir de si mesma, formar novas entidades e assim sucessivamente, ou seja, se reproduzir e transmitir seus caracteres a seus descendentes. A vida estaria, portanto, borbulhando em muitas partes do Cosmos e poderia evoluir de diversas formas em mundos totalmente distintos e em intervalos de tempo variando do milésimo do segundo a bilhões de anos. Então, seria Deus a balançar esse fantástico berço cósmico, ou estaríamos diante de um questionamento que ainda não temos a capacidade intelectual de responder com a precisão que a ciência busca? E pelo nosso planeta, perdido num canto da galáxia, quem vai responder? Seria o homem o ser mais capaz e “evoluído” que teria essa honra? Seria a própria mão do homem a balançar o nosso berço cósmico? Durante os 5 últimos milhões de anos de evolução do homem a partir dos primatas, um questionamento sempre me vem a mente: em que período dessa evolução e o que realmente aconteceu para fazer com que hoje eu estivesse nesse momento sentado diante de um computador, maquinando a esse respeito e, ao contrário,

todas as outras espécies de primatas estivessem buscando apenas a sobrevivência em uma dessas florestas tropicais, num jardim zoológico, servindo de exposição para os seres humanos ou ainda em algum circo divertindo crianças em uma ensolarada tarde de domingo? Na realidade eu prefiro ir mais além... Os estudos antropológicos apontam para diversas espécies de hominídeos com características bem mais similares aos humanos modernos e que habitaram o nosso planeta por milhares de anos, mas que por algum motivo não conseguiram chegar até os nossos dias ou, se conseguiram, estão cuidadosamente disfarçados... O que nos torna, então, verdadeiramente humanos? As características anatômicas como a postura bípede e ereta, o tamanho da caixa craniana, a estrutura genética, as mudanças na alimentação ao longo de sua evolução, a organização e o comportamento social nos tornam distintos de outras espécies de primatas. Porém, existiria uma dessas características que realmente fez a diferença em um determinado momento da nossa evolução? Por que somente uma espécie de hominídeo, dentre diversas outras com características também humanas, se sobressaiu em detrimento das demais?

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Capítulo 16 Continuando a Pensar no Pensar (Pensadores Modernos e Contemporâneos)

VOCÊ JÁ É

CAPAZ DE

DEBATER E REFLETIR: Questões 98 e 99, página 200. ANALISAR E ESCREVER: Questão 113 a 115, páginas 200 e 201. Shutterstock

A partir do momento em que uma determinada espécie de hominídeo desenvolveu uma surpreendente capacidade para o uso das mãos, tanto para a confecção de ferramentas e utensílios, como para manufatura de armas e o domínio do fogo, a distância evolutiva para os demais primatas aumentou consideravelmente. Quanto maior essa habilidade manual, maior a capacidade de sobrevivência e concorrência com outras espécies. Uma habilidade que associada a uma grande capacidade intelectual permitiria o acúmulo de experiências e o repasse das mesmas para as gerações futuras. Sem essa habilidade manual, até onde chegaríamos? Inteligência e capacidade de comunicação estão presentes em muitas espécies, muitos outros animais desenvolveram ao longo

de sua evolução alguns dos sentidos como a visão, a audição e o olfato de forma bem mais aguçada que os seres humanos. No entanto, dentre todas as espécies de seres vivos existentes no planeta, qual a que possui maior capacidade de uso das mãos? Sem dúvida somos nós. Sem dúvida foi o ser humano que, através dessa habilidade, foi capaz de registrar através das primeiras pinturas rupestres suas experiências e, dessa forma, poder evoluir mais tarde para um tipo de comunicação capaz de transpor barreiras como a distância e o próprio tempo, levando o conhecimento adquirido para o futuro. Quando olhar novamente para a sua mão, imagine não só como uma parte integrante do seu corpo, mas também como motor principal da evolução humana. Sem as mutações genéticas que as tornaram tão minuciosas e tão precisas para tantos trabalhos, uma comunicação escrita dificilmente teria sido inventada de forma a proporcionar saltos substanciais na nossa evolução sociocultural.

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Unidade VIII A Filosofia dos Filósofos

Para Saber Mais: Outras Leituras A SURPRESA DO FILHO ÚNICO Shutterstock

(Karol Wojtyla)

A Luz penetrando, gradualmente, nos acontecimentos cotidianos; Um olhar de mulher, mãos, acostumadas a eles desde a infância. Então brilhou muito mais para um simples dia, e as mãos apertaram quando as palavras se perdiam no espaço. Naquela pequena cidade, meu filho onde eles nos conheceram, você me chamou de mãe; mas ninguém teve olhos para ver os acontecimentos espantosos que aconteciam dia a dia. Sua vida se tornou a vida do pobre no desejo de estar com eles através do trabalho de suas mãos. Eu sabia: a luz que tardava nas coisas comuns, como uma centelha protegida sob a pele dos nossos dias a luz era você; não vinha de mim. E eu tive mais de você naquele luminoso silêncio Do que de você como fruto de meu corpo, e do meu sangue. Disponível em: WOJTYLA, Karol. A surpresa do filho único. Acessado em: http://www.cancaonova.com/portal/canais/especial/jp2004/papa10.php

Com base no texto, responda: a) Em“a Luz penetrando, gradualmente, nos acontecimentos cotidianos...”estaria João Paulo II falando sobre algum tipo de amor maternal? Comente sua resposta. b) “Sua vida se tornou a vida do pobre no desejo de estar com eles através do trabalho de suas mãos”. Comente a frase de acordo com a sua opinião.

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Capítulo 16 Continuando a Pensar no Pensar (Pensadores Modernos e Contemporâneos)

Para Debater e Refletir

D. 92 Vivemos por causa de uma ideia? Comente sua resposta.

D. 93 Uma ideia pode dizer como nós somos? Comente.

D. 94 Apesar de toda evolução, o homem continua o mesmo? Comente sua resposta.

D. 95 Pode o passado ser sempre presente? Comente sua resposta.

D. 96 A vida possui valor? Comente sua resposta.

D. 97 A família é importante na formação do caráter das pessoas? Comente sua resposta.

D. 98 Só o homem evolui? Comente sua resposta.

D. 99 Seria mesmo o uso das mãos que teria causado a grande evolução da raça humana? Comente sua resposta.

Para Analisar e Escrever

A. 109 Como podemos realmente viver a vida? Cite exemplos.

A. 110 Você acha que só o ser humano pode fazer escolhas? Comente sua resposta.

A. 111 Cite 2 valores materiais e 2 valores espirituais.

A. 112 Você conhece alguém parecido com a personagem do texto? Caso conheça, comente um pouco da sua história. Caso não conheça, faça um breve comentário sobre a personagem.

A. 113 Faça um comentário sobre o posicionamento do autor, concordando, discordando, acrescentando algo. 200

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Unidade VIII A Filosofia dos Filósofos

A. 114 Enumere alguns avanços tecnológicos que você conhece, explicando a importância de cada um deles.

A. 115 Elabore uma cruzadinha com a seguinte palavra na vertical: DESENVOLVIMENTO

Chegamos ao final da unidade VIII. Exercite aqui a sua habilidade de pensar, raciocinar, observar e comparar, registrando o que você adquiriu de conhecimento novo.

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SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES • • •

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Coleção Os Pensadores. 1a edição. Ed. Abril Cultural, 46 vols. GIACÓIA, Oswaldo. Labirintos da alma: Nietzsche e a auto-supressão da moral. Editora da UNICAMP. HEIDEGGER, Martin. Sobre a questão do pensamento. Coleção Textos Filosóficos, tradução de Ernildo Stew. Vozes, 2009. JACQUARD, Albert. Filosofia para não filósofos. 2a edição, editora Campus-elsevier. NIETZSCHE, F. A visão dionisíaca do mundo. Tradução de Marcos Sinésio P. Fernandes e Maria Cristina dos S. de Souza. São Paulo: Martins Fontes, 2005. NIETZSCHE, F. Além do bem e do mal. 1a edição, Editora Escala, São Paulo, 2008. Anjos e Demônios – Sony Pictures. Sociedade dos Poetas Mortos – Touchstone Pictures. Seven, os Sete Crimes Capitais – New Line Cinema.

Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Volume único

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Conclusão

Conclusão??? Caro aluno, • • •

Você gostou do livro? Ele foi realmente o que você esperava? Você, hoje, sabe se posicionar mais crítica e reflexivamente sobre assuntos do dia a dia? E sobre os assuntos da Filosofia? É importante aprender Filosofia?

De coração, espero que o livro tenha sido um “bom instrumento” na busca pelo saber que, a partir de agora, só está começando. Um grande abraço do autor Contato: tioheitorsimoes@bol.com.br

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Francisco Heitor Simões Gonçalves


Glossário

Glossário Glossário pesquisado na internet http://www.ceismael.com.br/filosofia/filosofia013.htm

"A Posteriori" – Aquilo que é estabelecido e afirmado em virtude da experiência. "A Priori" – Independente da experiência sensível. Antropocentrismo – Doutrina que coloca o homem no centro do universo e medida de todas as coisas. Belo – No sentido objetivo, é o esplendor do ser. No sentido subjetivo, é aquilo cuja contemplação causa prazer. Bem – Aquilo que possui um valor moral positivo, constituindo o objeto ou o fim da ação humana. Consciência – Em moral, é a faculdade que o homem tem de julgar o valor moral dos seus atos. Dialética – Arte de discutir; tensão entre os opostos. Dogma – Em filosofia, doutrina ou opinião filosófica transmitida de modo impositivo e sem contestação por uma escola ou corrente filosófica. Em religião, doutrina religiosa fundada numa verdade revelada e que exige o acatamento e a aceitação dos fiéis. No catolicismo, o dogma possui duas fontes: as Escrituras e a autoridade da Igreja. Doxa – Em grego significa opinião, juízo, ponto de vista, crença filosófica e também a fama, a glória humana. Empirismo – Caráter comum dos sistemas filosóficos que consideram a experiência como único critério de verdade. Escolástica – Escola filosófica da Idade Média, cujo principal representante é Santo Tomás de Aquino. No sentido pejorativo, que decorre da escolástica decadente, o termo escolástico se refere a todo pensamento formal, verbal, estagnado nos quadros tradicionais. Essência – Aquilo que a coisa é ou que faz dela aquilo que ela é. Ética e Moral – Curiosamente, a palavra "ética" é, hoje em dia, bem aceita nos discursos, enquanto o termo "moral" é rejeitado em nome de uma conotação vagamente religiosa ou bem-pensante. No entanto, tratam-se de dois sinônimos, derivados um do grego e o outro do latim, evocando a arte de escolher um comportamento, distinguir o bem do mal. (JACQUARD, A. Filosofia para não Filósofos, p. 37.) Existencialismo – Conjunto de doutrinas que se opõem ao racionalismo e ao idealismo e que admitem que o objeto próprio da filosofia é a realidade existencial, isto é, existência concreta e vivida, e que o único meio que possuímos para entrar em contato com ela consiste no sentimento ou emoção. Filosofia – Sistema de conhecimentos naturais, metodicamente adquiridos e ordenados que tende a explicar todas as coisas por seus primeiros princípios e suas razões fundamentais. Hermenêutica – Parte da crítica histórica que consiste em decifrar, traduzir e interpretar os textos antigos. Phylos Pelos Caminhos da Filosofia Edição não Consumível

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Glossário

Ideia – Representação intelectual de um objeto. Instinto – Atividade automática, existente sobretudo no animal, caracterizada por um conjunto de reações bem determinadas, hereditárias, específicas, idênticas na espécie. Não confundir com intuição. Livre-Arbítrio – Quer dizer juízo livre. É a capacidade de escolha pela vontade humana entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, conscientemente conhecidos. Maiêutica – Método socrático de interrogação, como a parteira dá à luz os corpos, procura "dar à luz" os espíritos para levar seus interlocutores a descobrirem a verdade que eles trazem em si sem o saber. Por extensão, método pedagógico que permite ao mestre apenas dirigir a pesquisa do aluno, este devendo encontrar a verdade por sua própria reflexão. Metafísica – Parte da filosofia que procura os princípios e as causas primeiras e que estuda o ser enquanto ser. Mito – Relato fabuloso contando uma história que serve ao mesmo tempo de origem e justificação de um grupo social. Paradoxo – (Do grego para e doxa, opinião). Estado de coisas (ou declaração que se faça sobre elas), que aparentemente implica alguma contradição, pois uma análise mais profunda faz desvanecê-la. Pensar – Na significação etimológica do termo, quer dizer sopesar, pôr na balança para avaliar o peso de alguma coisa, ponderar. (BUZZI, A. R. Introdução ao Pensar, p.11.) Pragmatismo – Sistema filosófico de William James, que subordina a verdade à utilidade e reconhece a primazia da ação sobre o pensamento. Práxis – Os gregos chamavam práxis à ação de levar a cabo alguma coisa; também serve para designar a ação moral; significa ainda o conjunto de ações que o homem pode realizar e, neste sentido, a práxis se contrapõe à teoria. No marxismo significa união dialética da teoria e da prática. Racionalismo – Doutrina filosófica moderna (séc. XVII) que admite a razão como única fonte de conhecimento válido; a superestima do poder da razão. Principais representantes: Descartes, Leibniz. Doutrina oposta ao empirismo. Ser – Designa aquela perfeição, pela qual alguma coisa é um ente. Síntese – Significa etimologicamente "composição". Em linguagem filosófica, síntese designa a união de vários conteúdos cognoscitivos num produto global de conhecimento, união que constitui uma das mais importantes funções da consciência. Sujeito – (Do latim subjectus, a, um = posto debaixo) significa etimologicamente "o que foi posto debaixo", "o que se encontra na base". Ontologicamente, denota essencialmente uma relação a outra realidade que "descanse sobre ele", que é "sustida" por ele. Teologia – É a ciência que tem Deus por objeto. Utopia – (U-topos, "nenhum lugar"): que não existe em nenhum lugar; descrição de uma sociedade ideal; refere-se a um ideal de vida proposto. No sentido pejorativo, refere-se a um ideal irrealizável. Virtude – Equivale a capacidade, aptidão, e significa a habilidade, facilidade e disposição para levar a efeito determinadas ações adequadas ao homem. 204

Francisco Heitor Simões Gonçalves


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